Prévia do material em texto
Curso de Inflamação e Reparo Tecidual MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 1 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO I CURSO DE INFLAMAÇÃO E REPARO TECIDUAL SUMÁRIO MÓDULO I 1. MECANISMOS DA INFLAMAÇÃO 1.1. Introdução à inflamação 1.2. Células inflamatórias 1.3. Fases do processo inflamatório 1.4. Processo de fagocitose MÓDULO II 1. MEDIADORES QUÍMICOS DA INFLAMAÇÃO 1.1. Aminas vaso ativas: histamina e serotonina 1.2. Sistemas plasmáticos 1.3. Metabólitos do ácido aracdônico 1.4. Fator ativador de plaquetas 1.5. Citocinas MÓDULO III 1. INFLAMAÇÃO AGUDA 1.1. Classificação das inflamações 1.2. Evolução das inflamações agudas 1.3. Fatores que alteram a resposta inflamatória 1.4. Farmacologia da inflamação MÓDULO IV 1. INFLAMAÇÃO CRÔNICA 2 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1.1. Conceito e características da inflamação crônica 1.2. Classificação das inflamações crônicas 1.3. Agentes etiológicos 1.4. Formação dos granulomas MÓDULO V 1. REPARO TECIDUAL 1.1. Células lábeis, estáveis e permanentes 1.2. Regeneração 1.3. Cicatrização 1.4. Fatores que interferem no processo de reparação 1.5. Reparo dos tecidos especializados 2. Bibliografia Consultada 3 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1. MECANISMOS DA INFLAMAÇÃO 1.1. Introdução à inflamação A inflamação ou flogose (derivado de "flogístico" que, em grego, significa "queimar") é a reação local dos tecidos a uma agressão, que, portanto, perderam sua homeostase e morfostase. Ela ocorre como uma resposta inespecífica, caracterizada por uma série de alterações que tendem a limitar os efeitos da agressão. A inflamação pode ser conceituada, portanto, como uma resposta local do tecido vascularizado agredido, caracterizada por alterações do sistema vascular, dos componentes líquidos e celulares, bem como por adaptações do tecido conjuntivo vizinho. Desta forma, pode ser considerada uma reação de defesa local. Inúmeras são as causas ou os agentes responsáveis pelas alterações encontradas na inflamação, sendo divididos em grupos conforme a natureza do agente. Assim, têm-se os agentes químicos, para designar o grupo das substâncias químicas, endógenas ou exógenas, que causam injúrias às células (ex.: tetracloreto de carbono, álcool); os agentes físicos, que agrupam as causas de natureza mecânica, elétrica, radioativa, de mudanças na temperatura etc.; e os agentes biológicos, englobando todos os seres vivos capazes de alterar a função celular (ex.: vírus, bactérias, fungos). Para tornar-se um agente inflamatório, ou seja, um estímulo que desencadeie esses fenômenos de transformação nos tecidos, o agente lesivo tem que ser suficientemente intenso para provocar tais reações e ultrapassar as barreiras de defesa externas (como a derme, por exemplo), sem contudo alterar a vitalidade do tecido em que atua. Por muito tempo, a inflamação foi considerada uma doença, e somente a partir do século XVIII é que Hunter propôs que a mesma fosse uma resposta benéfica. Desde Celsus (contemporâneo de Cristo) que se caracteriza a inflamação por quatro sinais "cardinais": rubor, calor, tumor e dor. Virchow, no século XIX, acrescentou um quinto sinal: a perda da função. 4 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 1. Esquema mostrando os sinais cardinais da inflamação. Fonte: http://www.biomaterial.com.br/ inflama/Image120.gif O rubor e o calor são o resultado de um aumento da circulação na área inflamada. O tumor é a conseqüência do aumento local do líquido intersticial e a dor depende do acúmulo, no local, de substâncias biológicas que atuam sobre as terminações nervosas. A perda da função é a conseqüência do somatório de vários fatores, especialmente do edema e da dor. Os sinais cardinais referem- se a inflamações da superfície corpórea ou das articulações, porém, inflamações com as mesmas características ocorrem em todos os tecidos e órgãos agredidos. Dependendo de sua duração, as inflamações são divididas em agudas e crônicas. Assim, inflamações que duram desde poucos minutos até poucos dias são chamadas de agudas, enquanto que as que persistem por semanas e meses são chamadas de crônicas. Do ponto de vista funcional e morfológico, as inflamações agudas se caracterizam pelo predomínio de fenômenos exsudativos, ou seja, conseqüentes a alterações da permeabilidade vascular, permitindo o acúmulo na região inflamada de líquido (edema), fibrina, leucócitos, especialmente os neutrófilos, e 5 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores hemácias. Nas inflamações crônicas, além destes elementos, ocorrem, no local, fenômenos produtivos, ou seja, proliferação de vasos, fibroblastos (com conseqüente deposição de colágeno), como também migração e proliferação local de monócitos e linfócitos. 1.2. Células inflamatórias As células que participam da reação inflamatória foram classificadas por Spector (1980), da seguinte forma: Células endoteliais; Células próprias do tecido (mastócitos, fibroblastos e macrófagos fixos); Células migratórias (leucócitos sangüíneos). Os leucócitos são as células sangüíneas de maior importância no processo inflamatório. Podem ser divididos em dois grupos: um primeiro grupo das células que possuem granulações específicas visíveis por ação de corantes especiais em seu citoplasma (denominadas de leucócitos granulócitos) ou com várias formas de núcleo (polimorfonucleares). E um segundo grupo das células que possuem granulações, porém essas não são visíveis com o auxílio desses corantes, denominadas de leucócitos agranulócitos. No primeiro grupo temos neutrófilos, eosinófilos e basófilos e, no segundo, linfócitos e monócitos. Esses últimos são também considerados mononucleares, ou seja, seus núcleos possuem forma constante, invariável. Além dos leucócitos, muitas outras células do tecido conjuntivo estão envolvidas em diferentes etapas do processo inflamatório. 6 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 2. Ilustração esquemática dos componentes das respostas inflamatórias agudas e crônicas: células e proteínas circulantes, células dos vasos sangüíneos e células e proteínas da matriz extracelular. Fonte: http://www.elseviermedicina.com.br/downloads/PartesProduto/sample_robbins.pdf I. Células endoteliais Há poucos anos ainda se considerava a célula endotelial como uma membrana celular passiva, que forma a interface entre o sangue e os tecidos, dado a sua estrutura simples, com escassez de organelas celulares quando vista ao microscópio de luz. Na atualidade, nosso conceito de endotélio foi radicalmente mudado, pois ficou claro que a célula endotelialé um componente funcionalmente ativo da parede vascular, capaz de mostrar diversas propriedades metabólicas, de síntese e regenerativas, estando implicada na regulação de vários fenômenos, tais como: fluxo sangüíneo, coagulação, proliferação de células da parede vascular, reatividade imunológica, resposta do organismo a estímulos patogênicos. O endotélio é formado por um epitélio pavimentoso simples. A célula endotelial é pobre em mitocôndrias e lisossomas, mas possui uma quantidade regular de retículo endoplasmático rugoso (RER), complexo de Golgi proeminente e citomembrana rica em sistemas enzimáticos. É importante ressaltar a presença de 7 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores miofibrilas e de proteínas no citoplasma, como actina e miosina, relacionadas com sua capacidade contrátil. Fig. 3. Detalhe das células endoteliais (1) de pequenos capilares no tecido conjuntivo (2) Fonte: http://www.micron.uerj.br/atlas/celula/cel10.htm Entre as funções do endotélio podemos citar: limitada capacidade fagocitária, síntese de colágeno tipo IV, elastina, laminina, fibronectina e glucosaminoglicanos e, talvez, outros componentes da membrana basal. Participam da formação de elementos da cascata da coagulação e do fenômeno da aderência leucocitária, graças à secreção da molécula de adesão do endotélio a leucócitos (ELAM). Estes, por sua vez, contribuem com o mesmo fenômeno, secretando moléculas de adesão intracitoplasmática (ICAM). II. Neutrófilos São leucócitos granulócitos polimorfonucleares (PMN), formados na medula óssea, e como o próprio nome diz, possuem núcleo pleomórfico, multilobulado, citoplasma granuloso e medem cerca de 10 µm de diâmetro. Os neutrófilos jovens 8 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores apresentam núcleo em forma de ferradura (neutrófilo bastonete), enquanto os mais adultos, maduros, mostram núcleo bastante lobulado (neutrófilo segmentado). Fig. 4. Detalhe microscópico do neutrófilo. Fonte: http://www.virtual.epm.br O citoplasma dos neutrófilos é rico em granulações, que não se coram pelos métodos usuais de coloração, pois não possuem afinidade por tais corantes – por isso são denominados neutrófilos. Estes grânulos, que são classificados em primários, secundários e terciários, de acordo com suas características de eletrodensidade à microscopia eletrônica, são ricos em enzimas digestivas, como hidrolases, peroxidases e fosfatases ácidas, lisozima, etc. Fig. 5. Detalhe da microscopia eletrônica do neutrófilo. Fonte: http://www.sbi.org.br/sbinarede/ SBInarede35/index.html 9 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os grânulos azurófilos ou primários são os mais densos e contêm mieloperoxidase, lisozima, elastases, catepsinas, proteinases, colagenase, N- acetil- glucoronidase e glicerofosfatase. Os grânulos secundários contêm lisozima, colagenase, gelatinase, fosfatase alcalina, lactoferrina, citocromo b- 245 e receptores para laminina. Todas estas enzimas são essenciais para lisar as substâncias fagocitadas, porém, não só quando da fagocitose, como também quando o neutrófilo é ativado, ou quando se desintegra, são elas liberadas no interstício, onde agem agredindo os tecidos inflamados. Os neutrófilos se originam de células da medula óssea e levam cerca de seis dias para atingir a maturação. Quando maduros, poderão continuar na medula por alguns dias antes de passar à circulação. Na circulação, permanecem cerca de 6h a 7h e, a seguir, deixam os vasos e se instalam no interstício. Fora dos vasos vivem pouco, morrendo após o máximo de dois dias. Logo, é necessário que a produção de neutrófilos pela medula seja capaz de compensar a sua contínua destruição para manter o número fisiológico circulante. O fato de serem células com uma vida média curta e extremamente móvel, explica, em parte, porque predominam nas fases iniciais do processo inflamatório em relação às demais células. Denomina-se de neutrofilia e neutropenia, respectivamente, o aumento e a diminuição do número de neutrófilos na circulação periférica. 10 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 6. Microscopia de um caso de neutrofilia. Fonte: http://library.med.utah.edu/WebPath/ INFLHTML/INFL001.html Os polimorfonucleares neutrófilos constituem a primeira onda de migração. Nos tecidos inflamados, o neutrófilo se movimenta e aparentemente se locomove melhor, quando pode se apoiar em estruturas pré-formadas. A fibrina conseqüente à polimerização de fibrinogênio exsudado dos vasos pode servir de apoio a esta movimentação. Tanto substâncias exógenas quanto endógenas podem ser quimiotáticas. Dentre as mais importantes estão: produtos bacterianos, compo- nentes do complemento, especialmente o C5a, produtos da lipoxigenação do ácido araquidônico, especialmente o leucotrieno B4. Além de seu papel na quimiotaxia, os agentes quimiotáticos exercem outras funções, entre as quais a de ativação dos leucócitos. Esta ativação se acompanha de ativação de fosfolipases, com conseqüente produção dos metabólitos do ácido araquidônico, degranulação com liberação para o interstício de enzimas, além de modulação das moléculas de adesão da membrana do leucócito. 11 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores III. Eosinófilos Como os neutrófilos, os eosinófilos são células fagocitárias que se originam na medula óssea. Na circulação, permanecem por 6h a 12h, passando a seguir para os interstícios, onde desagregam após alguns dias. Os grânulos dos eosinófilos são lisossomas especiais; contêm algumas enzimas semelhantes às dos neutrófilos, porém possuem maior quantidade de peroxidases que, aparentemente, são as responsáveis pelo aspecto cristalino do conteúdo de alguns dos grânulos. Na sua membrana, há receptores para IgE e frações do complemento. Fig. 7. Detalhe microscópico do eosinófilo. Fonte: http://www.virtual.epm.br Os eosinófilos maduros desenvolvem receptores para imunoglobulinas e complemento, e podem ser ativados por muitos fatores como IL-2, fatores derivados de linfócitos T, de macrófagos, do endotélio, PAF, TNF, interferons e fatores derivados de parasitas. Uma vez ativados se degranulam e liberam seus produtos. Diferentemente dos neutrófilos, têm vida longa (vários dias e mesmo semanas) e, desta forma, agem por muito mais tempo. O papel dos eosinófilos, na inflamação, vem sendo esclarecido. Eles estão relacionados com a destruição de complexos antígeno-anticorpo, sendo 12 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores muito encontrados em reações de hipersensibilidade, especialmente naquelas relacionadas a anticorpos de tipo IgE. Os eosinófilos contêm substâncias bloqueadoras da ação da histamina, e substâncias bloqueadoras de leucotrienos liberados pelos mastócitos. Assim sendo, desempenham papel nas fases tardias de algumas das inflamações, colaborando para a recuperação da área lesada e na modulação das reações alérgicas. IV. Basófilos e Mastócitos Os basófilos e os mastócitos originam-se dos mesmos precursores da medula óssea. Não são propriamente elementos do exsudato inflamatório, mas desempenham funçõesimportantes na inflamação. Os basófilos são células circulantes, enquanto os mastócitos só vão se diferenciar quando saem dos vasos e se localizam nos interstícios dos órgãos e tecidos. Os basófilos são as células brancas menos numerosas no sangue circulante, correspondendo a 0,5 a 1,5% do total de leucócitos nas espécies animais. Medem de 10 a 12 µm de diâmetro, possuem um núcleo bilobulado ou de formato irregular e citoplasma com grânulos basofílicos, cuja tonalidade varia do azul escuro ao roxo. São, portanto, classificados como granulócitos PMN. Fig 8. Basófilo em detalhe http://www.fcf.usp.br/Ensino/Graduacao/Disciplinas/Exclusivo/Inserir/Anexos/ LinkAnexos/C%C3%A9lulas%20sangu%C3%ADneas.pdf Assim como os mastócitos, armazena uma rica bateria de mediadores 13 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores químicos, como a histamina e a serotonina. E, à semelhança dos mastócitos, são caracterizados por receptores que se ligam com grande afinidade à porção Fc da IgE. Apesar das semelhanças, não são idênticos àquelas células. Têm sido relacionados a reações de hipersensibilidade tardia. Os mastócitos de diferentes tecidos assumem características próprias destes tecidos, que se definem por diferenças na sua secreção e nos seus receptores. Assim, os mastócitos da mucosa intestinal diferem daqueles da pele ou do interstício pulmonar. Tanto os mastócitos quanto os basófilos têm receptores com grande afinidade para IgE e são ativados por poucas moléculas desta imunoglobulina. Ambos desempenham papel importante em reações de hipersensibilidade. Fig. 9. Ilustração esquemática dos mastócitos liberando histamina. Fonte: http://pwp.netcabo.pt/ sistema.imune/mastocitos2.jpg V. Linfócitos e Plasmócitos Os linfócitos e plasmócitos constituem a população de células associadas à resposta imune. Eles se originam na medula óssea e posteriormente colonizam os órgãos do sistema linfóide, onde se reproduzem. 14 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Desempenham importante papel não só nas inflamações relacionadas à resposta imunológica, como também pelos seus numerosos produtos, as linfocinas (secretadas pelos linfócitos T) e as imunoglobulinas (secretadas pelos linfócitos B, plasmócitos). Participam também das reações inflamatórias ori- ginariamente não imunes. Existem três grupos diferentes de linfócitos: os linfócitos B relacionados à produção de imunoglobulinas, os linfócitos T e suas diferentes subpopulações (T auxiliares e T supressores-citotóxicos), e os linfócitos NK (natural Killer) que são citotóxicos independentemente de estimulação antigênica. Os linfócitos B são derivados de uma célula-tronco (célula-mãe) da medula óssea, e amadurecem até transformarem-se em plasmócitos, os quais secretam anticorpos. Os linfócitos T são formados quando as células-tronco migram da medula óssea até a glândula timo, onde eles se dividem e amadurecem. Os linfócitos T aprendem como diferenciar o que é próprio do organismo do que não o é, no timo. Os linfócitos T maduros deixam o timo e entram no sistema linfático, onde eles atuam como parte do sistema imune de vigilância. Os linfócitos NK, discretamente maiores que os linfócitos T e B, são assim denominados por atacarem determinados microorganismos e células cancerosas. O “natural” de seu nome indica que elas estão prontas para destruir uma variedade de células-alvo, assim que são formadas, em vez de exigirem a maturação e o processo educativo que os linfócitos B e T necessitam. As células assassinas naturais também produzem algumas citocinas, substâncias mensageiras que regulam algumas das funções dos linfócitos T, dos linfócitos B e dos macrófagos. 15 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 10. Figura mostrando quatro linfócitos NK atacando uma célula neoplásica. Fonte: http://www.ciencianews.com.br/universo.htm Os linfócitos apresentam grande heterogeneidade morfológica e funcional, visto serem extremamente plásticos, e possuem considerável capacidade para mudar de tamanho e formato. Possuem núcleo esférico, oval ou denteado, mas não lobulado, e são destituídos de grânulos específicos citoplasmáticos; por isso são classificados como agranulócitos mononucleares (MN). Fig. 11. Detalhe microscópico dos linfócitos. Fonte: http://www.ff.ul.pt/paginas/jvitor/Labio/a_h_foto3.jpg Ao contrário dos leucócitos PMN, não são células terminais, uma vez que os linfócitos B podem se diferenciar em plasmócitos, células produtoras de anticorpos (imunoglobulinas). Estes possuem um núcleo excêntrico ou periférico e um citoplasma bem acidófilo, associado a uma intensa síntese protéica; à microscopia eletrônica de transmissão mostram no citoplasma RER bem desenvolvido. 16 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig.12. Desenho que demonstra as características ultra-estruturais dos plasmócitos. Observe a imensa quantidade de retículo endoplasmático rugoso e o complexo de Golgi desenvolvido no citoplasma. O núcleo possui cromatina condensada na periferia dando um aspecto de roda de carroça. As mitocôndrias estão aumentadas e desenvolvidas (muitas cristas alongadas). Fonte: http://ioh.medstudents.com.br/imuno2.htm VI. Macrófagos Os macrófagos, como a maioria das células que participam da inflamação, originam-se na medula óssea. A célula precursora do macrófago dos tecidos é o monócito do sangue, o qual se origina na medula óssea a partir de monoblastos. Fig. 13. Detalhe microscópico do monócito. Fonte: http://www.fo.usp.br/lido/patoartegeral/ patoarteinfl7.htm 17 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Diferentemente do que acontece com neutrófilos e eosinófilos, quando o monócito cai na circulação, ainda não é uma célula perfeitamente amadurecida; mantém a capacidade de se reproduzir e pode sobreviver por longo tempo nos tecidos. Da medula óssea, os monócitos passam à circulação, e desta para os tecidos, onde recebem a denominação de histiócitos ou macrófagos. Fig. 14. Ilustração esquemática mostrando o fenômeno de diapedese do monócito e migração para o interstício, resultando na diferenciação do macrófago. Fonte: http://cristiana7.blogspot.com Embora desempenhem funções importantes de defesa, suas atividades são muito variadas, indo da apresentação de antígenos até a produção de várias citocinas essenciais, não só na inflamação, como também nos fenômenos imunológicos. São especialmente preparados para a fagocitose, apresentando receptores para o segmento Fc de imunoglobulinas, para frações de complemento e para muitas outras substâncias, inclusive carboidratos; sua membrana apresenta vários antígenos, entre eles os antígenos de histocompatibilidade do grupo II (MCA lI-Major histocompatibility antigens), essenciais na apresentação de antígenos aos linfócitos T. Os macrófagos são encontrados em praticamente todos os órgãos e tecidos e, como os mastócitos, têm características diferentes conforme o órgão em que se situam. São exemplos de macrófagos fixos: as células de Kupffer do fígado, a micróglia do tecido nervoso, os osteoclastos e as células de 18 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditosdeste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Langerhans da pele. Nem todos os macrófagos teciduais são iguais. Alguns deles são estimulados e se diferenciam em células exclusivamente fagocitárias; estas possuem um sistema de lisossomas que contêm numerosas enzimas hidro- líticas, algumas das quais com importante ação microbicida. Outros macrófagos podem se diferenciar em células capazes de agir sobre células neoplásicas, ou ainda, exercer outros tipos de atividade lítica. Sob a ação de determinados estímulos, podem se transformar em células epitelióides, que têm a capacidade de se unir umas às outras formando estruturas nodulares, os granulomas. Nestes, as células epitelióides podem fundir seus citoplasmas formando células gigantes. As células epitelióides são células especiais que perdem parte de sua capacidade fagocitária, adquirindo o poder de produzir e excretar enzimas líticas para o interstício. MACROFAGOS (Células gigantes) MACROFAGOS (Células gigantes) Fig. 15. Detalhe microscópico dos macrófagos formando células gigantes. Fonte:http://torre.fffcmpa.tche.br/Volumes/Prof.+Claudio/inflama%C3%A7%C3%A3o+1.ppt#348,88, Slide 88 Os macrófagos secretam várias substâncias que podem ter papel importante na defesa ou na destruição dos tecidos, tais como a lisozima (um potente agente bactericida), o fator ativador do plasminogênio, fatores estimuladores da proliferação de fibroblastos e de vasos, colagenase, elastase, 19 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores além de metabólitos derivados de oxigênio e araquidonatos. Secretam ainda fatores do complemento (C2, C3, C4, C5), interferon e pirogênio. Podem também ter imunoglobulinas presas à membrana, o que aumenta o seu poder para destruir microrganismos. VII. Fibroblastos É a célula mais comum do tecido conjuntivo frouxo e seu formato depende essencialmente de sua localização. De um modo geral, é uma célula fusiforme ou estrelada, com núcleo alongado e hipocrômico nas células jovens (fibroblastos) ou fusiforme e hipercrômico nas adultas (fibrócitos). O desenvolvimento de seu RER e a existência de um nucléolo muito evidente, indicam uma capacidade de síntese protéica intensa. Seu papel principal é a síntese de colágeno para a reparação de tecidos; um tipo especial desta linhagem celular, o miofibroblasto, é fundamental para a retração cicatricial. À microscopia eletrônica, as fibrilas de colágeno apresentam uma periodicidade com bandas transversais, à semelhança de fibras musculares estriadas. Fig. 16. Detalhe de microscopia eletrônica do fibroblasto (1) envolto por fibras colágenas (2) em corte transversal e (3) em corte longitudinal. Fonte: http://www.micron.uerj.br/atlas/Conjuntivo/conjem.htm 20 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 17. Detalhe de microscopia eletrônica das fibras de colágeno (1) com as estriações típicas Fonte: http://www.micron.uerj.br/atlas/Conjuntivo/conjem.htm 1.3. Fases do processo inflamatório Classicamente, existem alguns fenômenos básicos comuns a qualquer tipo de inflamação, que independem do agente inflamatório. Esses momentos ou fases caracterizam a inflamação do tipo aguda, a qual sempre antecede a inflamação do tipo crônica. A divisão desses momentos em cinco itens, a seguir explicitados, é meramente didática. Todos eles acontecem como um processo único e concomitante, o que caracteriza a inflamação como um processo dinâmico. I. Fenômenos irritativos O primeiro momento do processo inflamatório se caracteriza pela agressão (o tecido destruído por uma queimadura, por exemplo), que resultará em importantes modificações morfológicas e funcionais dos tecidos agredidos, promovendo a liberação de mediadores químicos, que irão desencadear as demais fases inflamatórias. Essas substâncias atuam principalmente na microcirculação do local inflamado, provocando, dentre outras modificações, o aumento da permeabilidade vascular. Vale dizer que em qualquer fase da inflamação observa-se a fase irritativa; em cada uma delas, há liberação de mediadores químicos diferentes. 21 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores II. Fenômenos vasculares Os fenômenos vasculares ocorrem como alterações hemodinâmicas da circulação e de permeabilidade vascular no local da agressão. Isso acontece após alguns minutos do início da ação do agente flogístico, intervalo em que se processa a liberação dos mediadores químicos. A primeira alteração que se observa, é uma fugaz vasoconstrição arterial, que logo é seguida por dilatação ativa e intensa de arteríolas, capilares e veias do local. Os esfíncteres pré-capilares se relaxam e, como conseqüência, numerosos capilares, que estavam fechados, em repouso, se abrem, aumentando significativamente o número de capilares funcionantes. Em toda a área se observa um grande número de capilares dilatados e ingurgitados. Diz-se que a área ficou hiperemiada, que representa a observação microscópica do "rubor" e do "calor", há séculos conhecidos como características da inflamação. Fig. 18. Ilustração esquemática da anatomia da microcirculação normal e na inflamação aguda, quando ocorre vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular. 22 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores VASODILATAÇÃO Vaso VASODILATAÇÃO Vaso Fig. 19. Detalhe microscópico da vasodilatação. Fonte:http://torre.fffcmpa.tche.br/Volumes/Prof.+Claudio/ inflama%C3%A7%C3%A3o+1.ppt#346,40,Slide 40 II. Fenômenos exsudativos Os fenômenos exsudativos são uma das principais características do processo inflamatório. O fenômeno ocorre devido a um aumento da permeabilidade dos capilares e vênulas e se caracteriza pela migração, para o foco inflamatório, de líquidos e células. Distinguem-se dois tipos de exsudação nessa fase: a exsudação plasmática, composta essencialmente por líquidos, e a exsudação celular. Fig. 20. Detalhe microscópico dos espaços alveolares do pulmão, apresentando vasodilatação com exsudação plasmática e de PMN. Fonte: http://library.med.utah.edu/WebPath/INFLHTML/INFL005.html 23 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O aumento da permeabilidade vascular pode ser originado de mecanismos diretos, em que o próprio agente agressor atua sobre a parede vascular, ou indiretos, em que há a ação de mediadores químicos. Nesse caso, o aumento da permeabilidade pode ser devido ao surgimento de fendas na parede, isto é, surgem poros entre as células endoteliais. Os capilares e vênulas têm paredes muito finas, constituídas principalmente pelo endotélio, membrana basal e alguns pericitos. As células endoteliais (endoteliócitos) e os pericitos contêm em seu citoplasma, actina e miosina, sendo contráteis. Devido a sua contração, podem modificar as junções intercelulares, ampliando-as. A exsudação plasmática é a responsável pela formação do edema inflamatório. Fig. 21. Ilustração esquemática mostrando o fenômeno exsudativo, resultante da contração das células endoteliais e vasodilatação, o que normalmente é mais acentuado nas vênulas. Fonte: http://library.med.utah.edu/WebPath/INFLHTML/INFL071.html Fig. 22. Aspecto clínico do edema inflamatório resultante de abscesso mandibular, associado à hiperemia da região. Fonte: http://www.fo.usp.br/lido/patoartegeral/patoarteinfl3.htm24 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Na inflamação, existe um aumento da permeabilidade vascular, que pode variar com o tipo de agressor e sua intensidade. O aumento imediato e de curta duração da permeabilidade vascular inicia-se rapidamente após a agressão, atinge o máximo após 10min a 35min, e termina em 30min a 45min. Este tipo de resposta ocorre após agressões leves e de pouca duração e pode ser produzido pela injeção de histamina. Depende de aumento de permeabi- lidade das vênulas e ocorre como conseqüência da abertura das junções entre as células endoteliais. O aumento imediato e prolongado ocorre quando a agressão é mais intensa e depende de alterações graves da parede vascular, com necrose do endotélio, tanto de capilares quanto de vênuIas, o que explica a rápida e prolongada passagem do conteúdo dos vasos para o interstício. O aumento retardado pode ocorrer até dias após a agressão, e envolve os capilares e as vênulas. Um exemplo conhecido de todos é a exposição ao sol. Somente após várias horas de exposição é que vamos notar o rubor, calor e dor e eventualmente o edema (bolhas). A permeabilidade au- menta em conseqüência de alterações do endotélio dos capilares, levando a "vazamentos", pelas áreas de endotélio lesado, assim como pelas junções intercelulares. Fig. 23. Aspecto clínico da inflamação da pele (queimadura) por exposição excessiva à radiação solar. Fonte: http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/riscos.htm Na inflamação, como conseqüência do aumento da permeabilidade vascular, ocorre o aumento da concentração dos elementos figurados do sangue, isto é, ocorre uma hemoconcentração, o que aumenta a viscosidade sangüínea. Como conseqüência disso, há lentificação da circulação (estase) e, depois, marginação leucocitária. As hemácias têm fluxo axial; os leucócitos, fluxo 25 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores mais marginal. Esta alteração aumenta o contato das células com o endotélio, facilitando sua saída dos vasos. Por outro lado, com a progressiva queda da velocidade da circulação, a área inflamada passa a ser mal oxigenada, o que traz vários tipos de conseqüências, inclusive a própria morte dos tecidos envolvidos na inflamação. Os fenômenos celulares da inflamação envolvem o acionamento das capacidades celulares de movimentação, de adesão e de englobamento de partículas. O principal fenômeno é à saída de leucócitos da luz vascular e sua migração para o local agredido. Esse fenômeno segue algumas fases: 1) Marginação: compreende a aproximação das células do sangue ao endotélio. Ou seja, os leucócitos saem da porção central do fluxo sangüíneo (local onde são comumente encontrados) e vão para a periferia do fluxo. Isso é possível graças à diminuição da velocidade do fluxo (estase sangüínea), decorrente dos fenômenos vasculares. Fig. 24. Aspecto microscópico da marginação leucocitária numa vênula. Percebe-se como um leucócito neutrófilo aproxima-se do endoteliócito (setas), praticamente aderindo-se nessa célula. A marginação leucocitária é uma das etapas da leucodiapedese; fora do vaso já se notam alguns leucócitos que já completaram a leucodiapese. Em algumas situações, os leucócitos do tipo 26 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores macrófagos (quando estão no interior dos vasos são denominados de monócitos) podem se unir e formar as chamadas células gigantes (G). Fonte: http://www.fo.usp.br/lido/patoartegeral/Banco_de_imagens/patoarteimages1Infltext10.htm 2) Pavimentação: adesão dos leucócitos ao endotélio. Ultimamente, têm sido descritas proteínas, as adesinas, que são induzidas ou ativadas pelos mediadores químicos e participam da pavimentação. Algumas destas adesinas são próprias dos leucócitos, outras do endotélio, outras ainda existem nas duas células. Nos leucócitos normais não-estimulados, as adesinas encontram-se em vesículas do citoplasma e na superfície; sob ação de vários fatores quimiotáticos, além de frações do complemento, elas aumentam em quantidade, favorecendo a adesão. Existem casos em que há deficiência genética destas proteínas e os pacientes sofrem de infecções bacterianas freqüentes, por falta de resposta inflamatória adequada. As moléculas de adesão são representadas por três famílias: selectinas (principalmente no endotélio) E, P e L, integrinas e imunoglobulinas. MolMolééculas de adesão envolvidasculas de adesão envolvidas Na migraNa migraçção ão leucocitleucocitááriaria Selectinas Integrinas Superfamília das imunoglobulinas algumas são constitutivas e outras são induzidas Fig. 25. Adesinas. Fonte: http://www.lia.ufsc.br/Inata_Inflama2.ppt#562,33,Slide 33 27 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Selectinas: O aumento de aderência entre o leucócito e o endotélio gerado pelas selectinas, é importante no fenômeno de rolamento. Algumas das selectinas, como a selectina P, são restritas ao endotélio e existem pré-formadas na membrana da célula endotelial e no interior dos corpúsculos de Weibel-Palade, característicos da célula endotelial. Quando o endotélio é estimulado, ele aumenta a expressão da selectina P na sua membrana, aumentando a adesi- vidade do endotélio aos leucócitos, explicando as primeiras fases da marginação e pavimentação. A selectina E, também chamada de ELAM (endotheliaI-Ieukocyte-adhesion- moIecuIe), é produzida pelas células endoteliais e pelas plaquetas, porém, deverá ser sintetizada após estímulo por mediadores como a histamina, a trombina e o PAF (pIateIet-activation-factor). Sua síntese leva algum tempo e é mantida enquanto o estímulo persistir - o que assegura a permanência do au- mento de adesividade do endotélio. As selectinas L são produzidas pela maioria dos leucócitos. SELECTINAS Componentes Distribuição Ligantes L-selectina Maioria dos leucócitos Endotélio E-selectina Células endoteliais Granulócitos P-selectina Células endoteliais e plaquetas Neutrófilos Integrinas: A segunda família de adesinas é composta pelas integrinas, que são glicoproteínas transmembrana dos leucócitos, e que, além de interagir com as moléculas de adesão do endotélio, também se comportam como receptores para componentes da matriz extracelular. Elas estão presentes em forma inativa na membrana dos leucócitos e, na presença dos mediadores, são ativadas. Imunoglobulinas: A família das imunoglobulinas é composta pelas ICAMs (intercelluIar-adhesion-moIecuIes) e pelas VCAMs (vascuIar-celluIar- 28 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores adhesion-moIecuIes). Como no caso da selectina "P", elas não estão pré- formadas, sendo necessário estímulo para que se desencadeie sua síntese, o que, como já referido, exige certo tempo. Logo no início da resposta inflamatória, como conseqüência das alterações do padrão circulatório, os leucócitos aproximam-se e aderem ao endotélio de forma frouxa (selectina "P"). Porém, à medida que mediadores se liberam, ou são sintetizados, a adesão torna-se mais forte (ICAM-VCAM- integrinas ativadas dos leucócitos). 3) Diapedese: fenômeno em que os leucócitos, por meio de seus movimentos, atravessam a parede vascular e o fazem passando pelas junções intercelulares alargadas. Uma vez aderidos ao endotélio, os leucócitos emitem pseudópodos, que se introduzemnas junções intercelulares e vão se espremendo, de forma a passar para fora do endotélio. São momentaneamente contidos pela membrana basal. Como produzem proteases, com facilidade lesam a membrana basal e acabam saindo para o interstício. Juntamente com o leucócito, podem passar passivamente eritrócitos. Denomina-se de leucodiapedese os movimentos diapedéticos dos leucócitos; dos eritrócitos, são denominados de eritrodiapedese. 29 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 26. Aspecto microscópico da leucodiapedese. Observa-se o momento em que o leucócito sai do vaso (leucodiapedese) por poros (P) ou fendas que se abrem na parede vascular. As células endoteliais (setas) se separam, permitindo a passagem dos leucócitos. Veja que, fora do vaso, já existem células inflamatórias do tipo neutrófilos e linfócitos (cabeças de seta). Líquido plasmático (L) também é visível, mostrando que, juntamente com as células, há exsudação plasmática. No círculo cinza (parte superior da figura), vemos um leucócito na transição entre o meio intra e extravascular. Fonte: http://www.fo.usp.br/lido/patoartegeral/ Banco_de_imagens/patoarteimages1Infltext11.htm 30 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Inflamação •• Fases da reacFases da reacçção ão InflamatInflamatóóriaria 1- aumento de fluxo sanguíneo à área afectada 2- aumento da permeabilidade capilar local 3- migração de células da via sanguínea para a área afectada Fig. 27. Resumo das primeiras fases da inflamação. Fonte: http://imunologia.ufp.pt/Imuno_MED/ TeoricasImunologia2006/Teorica07.ppt#258,5,Slide 5 Fig. 28. Nesse corte histológico, temos um resumo das etapas de exsudação celular da inflamação. Os leucócitos saem da região central do fluxo sangüíneo e migram para a região da parede vascular 31 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores (M); depois, ocorre pavimentação dessas células (P), ou seja, elas se aderem às células endoteliais para poderem sair pela fenda aberta na parede vascular, migrando para o interstício (MI); por fim, a leucodiapedese se completa, quando a célula atinge o interstício (CI). Veja que as células elegem uma via preferencial de saída, como se nota pelo acúmulo de leucócitos em uma determinada região da parede vascular (no caso dessa figura, próximo à letra P). Fonte: http://www.fo.usp.br/lido/patoartegeral/ Banco_de_imagens/patoarteimages1Infltext12.htm 4) Quimiotaxia: Uma vez fora dos vasos, os leucócitos migram pelo interstício em uma direção predominante, dirigindo-se para o foco da agressão. Esta migração dirigida é a conseqüência da presença de substâncias quimiotáticas no foco inflamatório. A célula possui, em sua membrana plasmática, receptores para algumas substâncias e parece existir um mecanismo, baseado na mudança conformacional do receptor, que faz com que a célula "perceba" a existência de maior quantidade dessa substância em locais específicos. Percebendo essa maior quantidade, a célula migra para o local. A migração das células, da luz do vaso ao foco inflamatório, não se faz de modo aleatório. De fato, os polimorfonucleares neutrófilos (PMNs) são as células dominantes nas primeiras 24h a 48h após a agressão. A seguir, começam a migrar os monócitos do sangue que, ativados nos tecidos, recebem a denominação de macrófagos; seguem-se os eosinófilos, e as células imunologicamente ativas como os linfócitos. As hemácias migram em menor número, porém, quando a agressão é muito grave, levando a comprometimento grave dos vasos, podem vir a serem as células dominantes. O exsudato inflamatório, conseqüente do aumento da permeabilidade vascular, é importante na contenção e limitação da agressão, pois dilui o agente agressor, facilita a sua retirada do local e traz para o interstício anticorpos, complemento e outras macromoléculas envolvidas na inibição. Ou mesmo destruição de certos agressores, assim como na modulação da própria resposta inflamatória. Outro elemento que sai do vaso é o fibrinogênio que, em contato com o interstício, se polimeriza, constituindo a fibrina, importante elemento nas inflamações agudas. 32 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Mais recentemente, os mecanismos responsáveis pelas diferentes fases do processo inflamatório vêm sendo esclarecidos. Assim, substâncias farmacologicamente ativas são liberadas ou sintetizadas como conseqüência da agressão. Elas são conhecidas como os mediadores químicos da inflamação e serão consideradas mais adiante. III. Fenômenos reparativos e produtivos Os últimos fenômenos do processo inflamatório estão relacionados aos aumentos de quantidade dos elementos teciduais - principalmente de células -, resultado das fases anteriores do processo inflamatório. Há uma grande formação de vasos sangüíneos (angiogênese) e uma substituição do parênquima (a parte funcional do órgão) por fibras colágenas (fibrose). Essas fases da reação inflamatória visam destruir o agente agressor e reparar o tecido injuriado e serão estudadas em outro módulo. 33 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 29. Resumo das fases da inflamação aguda. Fonte: http://www.biologymad.com/ Immunology/inflammation.jpg 1.4. Processo de fagocitose Uma das principais funções dos PMNs e dos macrófagos é a fagocitose. Atraídos para o foco inflamatório, estes fagócitos procuram englo- bar os agentes da agressão ou outras estruturas anômalas ali encontradas. 34 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 30. Processo de fagocitose. Fonte: http://medicina.med.up.pt/bcm/20042005/trabalhos/2005/ mediadoresinflamacao.pdf O fagócito reconhece às estruturas que serão fagocitadas, quando elas têm certas características como estarem recobertas por fatores do soro, as opsoninas. Entre as opsoninas mais importantes estão as IgGs e o fragmento C3b do complemento. Fig. 31. Ilustração esquemática mostrando a opsonização dos microorganismos antes da fagocitose pelos macrófagos. Fonte: http://cristiana7.blogspot.com 35 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores As partículas opsonizadas prendem-se a receptores específicos da membrana dos fagócitos. Uma vez aderidas, elas desencadeiam reações no citoplasma do fagócito, que promovem o englobamento da partícula e sua internalização, Assim se forma uma estrutura intracitoplasmática revestida por membrana, o fagolisossoma. Fig. 32. Processo de fagocitose. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/28/ Fagocitose.png Lisossomas do fagócito aderem-se à superfície do fagossoma e se abrem, liberando enzimas para o seu interior. Uma vez destruída ou neutraliza- da a partícula, os receptores são reciclados para a membrana celular e pode sobrar do fagossoma um "corpo residual". A ligação da partícula opsonizada ao receptor para IgG é suficiente para desencadear a fagocitose. A ligação com o receptor de C3b requer a ligação simultânea com a fibronectina e a laminina dos tecidos ou ainda com produtos solúveis de linfócitosT. A internalização da partícula pela célula se inicia pela formação de pseudópodos a sua volta, que acabam por envolvê-la, com a formação do fagossoma. Segue-se a fusão da membrana do fagossoma com a membrana dos lisossomas, formando-se os fagolisossomas. Os lisossomas descarregam sua bateria de grânulos na luz do fagolisossomas. Durante este processo, há vazamento de produtos metabólicos e enzimas para fora do fagócito. O fenômeno da fagocitose é regulado pelos mesmos processos que regulam a formação de pseudópodos na movimentação celular. 36 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A morte do agente ou a degradação da partícula fagocitada depende de dois tipos de fenômenos: um dependente de oxigênio e outro não. Mecanismo dependente de O2 - a fagocitose é um mecanismo dependente de oxigênio que estimula numerosos eventos intracelulares, incluindo uma explosão respiratória (“burst”), glicogenólise, oxidação de glicose aumentada via ciclo da hexose-monofosfato e produção de metabólitos reativos de oxigênio (radicais livres). A geração dos metabólitos do oxigênio é atribuída à rápida ativação de uma oxidase (NADPH oxidase), que oxida o NADPH (dinucleotídeonicotinamida adenina); no processo reduz o oxigênio ao íon superóxido (O 2 - ), de acordo com a seguinte equação química: O íon superóxido (2 O 2 ) é então convertido em água oxigenada ou peróxido de hidrogênio (H 2 O 2 ), principalmente por desmutação espontânea. A oxidase NADPH está presente na membrana ou, quando a membrana está invaginada, no fagolisossoma. Assim, o peróxido de hidrogênio é produzido no lisossoma. Esses metabólitos do oxigênio são as principais armas matadoras de bactérias. Nos grânulos dos neutrófilos, existe outra enzima, a mieloperoxidase que, em presença de cloro, converte o H2O2 em HOCl, um poderoso oxidante com maior poder microbicida. A mieloperoxidase também é encontrada nos grânulos dos macrófagos, que se valem do mesmo sistema. Mecanismo independente de O2 – a morte bacteriana pode também ocorrer na ausência de uma explosão oxidativa, por substâncias presentes nos grânulos dos leucócitos. Estas incluem: 1. proteína aumentadora da permeabilidade bacteriana (BPI), uma proteína altamente catiônica associada ao grânulo e que causa alterações na permeabilidade da membrana mais externa de microorganismos; 37 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 2. lisozima, que hidroliza as ligações ácido-N-acetil-glucosamina murâmica, presentes no revestimento glicopeptídeo de todas as bactérias; 3. lactoferrina, uma proteína fixadora de ferro presente em grânulos específicos; 4. proteína básica principal, uma proteína catiônica de eosinófilos, que possui uma ação bactericida limitada, mas que é citotóxica para muitos parasitas. Após a morte bacteriana, hidrolases ácidas presentes em grânulos azurófilos degradam a bactéria no interior do fagolisossoma. O pH do fagolisossoma diminui para 4 a 5 após a fagocitose, sendo este o pH ótimo para a ação dessas enzimas. A atividade de muitas destas enzimas é controlada por antienzimas, um bom exemplo sendo a alfa-1-antitripsina, produzida pelo fígado, que inibe a ação da elastase. Na sua falta, ocorre aumento da atividade da elastase com sérias conseqüências, como, por exemplo, nos pulmões, em que a progressiva degradação das fibras elásticas (causada pelas freqüentes e passageiras infecções pulmonares, acompanhadas de migração e degranulação de fagócitos) leva ao desenvolvimento do enfisema. Fig. 33. Processo de fagocitose. Fonte: http://kepler.uag.mx/uagwbt/microbiologia/ciencias/ imagenes.cfm ---------------------------------FIM DO MÓDULO I------------------------ Curso de Inflamação e Reparo Tecidual MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 39 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO II 1. MEDIADORES QUÍMICOS DA INFLAMAÇÃO Os mediadores químicos podem ser definidos como substâncias endógenas ou exógenas que, uma vez ativadas, participam da resposta inflamatória, desencadeando, mantendo e amplificando seus processos. Esses mediadores podem ser detectados no plasma, sob a forma de pré-enzimas, estocados no interior de células, ou sintetizados durante o processo inflamatório. MEDIADORES QUÍMICOS 40 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A seguir, serão relacionados os principais grupos de mediadores químicos que atuam na inflamação. Eles são divididos em dois grupos, segundo o tempo de contato dos tecidos com o agente inflamatório: mediadores de ação rápida e mediadores de ação prolongada. Mediadores de ação rápida: liberados imediatamente após a ação do estímulo agressor. Têm ação principalmente sobre os vasos e envolvem o grupo das aminas vasoativas. Incluem as aminas vasoativas. Mediadores de ação prolongada: liberados mais tardiamente, diante da persistência do agente flogístico. Atuam nos vasos e, principalmente, nos mecanismos de quimiotaxia celular, contribuindo para a exsudação celular. Compreendem substâncias plasmáticas e lipídios ácidos. Fig. 1. Gráfico mostrando a ação de alguns mediadores químicos e a sua influência, no decorrer do tempo, em relação à quantidade de líquido de edema (exsudação plasmática) que extravasa a parede vascular. Veja que a histamina e a serotonina atuam nas primeiras horas, sendo de mediação rápida. Já as cininas atuam mais tardiamente, mas não provocam tanto aumento da permeabilidade vascular (há diminuição da quantidade de edema). Fonte: http://www.fo.usp.br/lido/patoartegeral/patoarteintr.htm 1.1. Aminas vasoativas: histamina e serotonina Acredita-se que a vasodilatação e o aumento da permeabilidade vascular, que ocorre na fase imediata do processo inflamatório, são mediados pela histamina e serotonina. No ser humano, a histamina é armazenada nos 41 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores mastócitos, basófilos e plaquetas, e a serotonina, nas plaquetas. Em roedores (ratos e camundongos), a serotonina é estocada também nos mastócitos. Estes mediadores se encontram estocados no interior dos lisossomas, e são liberados em decorrência de estímulo apropriado. A liberação de histamina no foco inflamatório pode ser desencadeada por injúria tecidual, complexo antígeno-anticorpo, sendo esse anticorpo da classe IgE, e pelos componentes C3a e C5a do sistema complemento. Esses fatores promovem a degranulação dos mastócitos e basófilos, com posterior liberação da histamina no meio extracelular. A histamina exerce suas funções interagindo com receptores, que podem ser de três tipos: H1, H2 e H3. A interação com receptores do tipo H1 desencadeia aumento de permeabilidade vascular no nível de vênulas pós- capilares. Além disso, o receptor H1 está envolvido com contração de músculo liso em brônquios, intestino e útero, aumento da secreção de muconasal, pro- dução de prostaglandinas pelo tecido pulmonar, aumento da quimiotaxia de leucócitos, etc. A ativação de receptores H2 inibe a quimiotaxia de leucócitos e estimula linfócitos T supressores, entre outras funções. A estimulação concomitante de receptores H1 e H2 promove vasodilatação máxima. Finalmente, a interação com receptores H3, a qual tem sido melhor estudada no sistema nervoso central, promove inibição da síntese e secreção de histamina. HISTAMINA • Vasodilatação • Aumento da permeabilidade vascular • Contração da musculatura lisa • Estimulação da secreção gástrica • Estimulação cardíaca • Dor 42 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A detecção das várias atividades biológicas da histamina, só foi possível através do emprego de anti-histamínicos específicos para cada tipo de receptor. As drogas anti-histamínicas empregadas nos processos inflamatórios, como por exemplo, nas alergias, bloqueiam especificamente os receptores do tipo H1. A serotonina é quimicamente representada pela 5-hidroxitriptamina (5-HT), sendo também frequentemente designada por este nome. É encontrada nas plaquetas, na mucosa intestinal e no SNC e tem uma provável ação vasodilatadora e de aumento da permeabilidade vascular. 43 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1.2. Sistemas plasmáticos A resposta inflamatória é parcialmente mediada pelos componentes de alguns dos maiores sistemas enzimáticos dos fluidos corpóreos. Quatro deles participam da reação inflamatória: sistema de coagulação, sistema fibrinolítico, sistema de cininas e sistema complemento. Esses quatro sistemas são constituídos por vários componentes que se encontram presentes no sangue na forma inativa, e são ativados seqüencialmente em processo denominado ativação em cascata. Além disso, os quatro sistemas apresentam pontos de interação entre si. Talvez o ponto de interação mais importante seja o fator Hageman que, uma vez ativado, inicia a ativação seqüencial do sistema de coagulação, das cininas e do sistema fibrinolítico. Este último, por sua vez, estimula o sistema complemento. 44 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Sistemas Plasmáticos FatorFator HagemanHageman Sistema de coagulação Sistema fibrinolítico Sistema de cininas Sistema complemento O fator Hageman é uma proteína globular, uma betaglobulina, que é encontrado no plasma na forma inativa. Em sua forma inativa, conhecida como pré-fator Hageman, não apresenta atividade enzimática. Sua ativação é o resultado de contato com superfícies estranhas como, por exemplo, colágeno, complexos imunes, polissacarídeos da parede bacteriana e, talvez, a membrana basal da parede vascular. Essa ativação por contato não parece requerer clivagem, e provavelmente é resultante da exposição de sítios ativos através de modificação estrutural na molécula. Um segundo mecanismo de ativação envolve clivagem do fator Hageman através de enzimas proteolíticas como plasmina e calicreína. 45 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fator Hageman (XII) • Betaglobulina- forma inativa no plasma • Ativação: contato com superfícies estranhas • exposição de sítios ativos: colágeno, complexos imunes, LPS, membrana basal da parede vascular • clivagem: plasmina e calicreína a) Sistema da coagulação A função final do sistema de coagulação é a produção de fibrina, elemento essencial para a formação de trombo sangüíneo. Como ilustrado na Fig. 6.4, a ativação do sistema de coagulação pode ser desencadeada pelo fator Hageman ativado, o qual atua em um conjunto de enzimas plasmáticas, denominado tromboplastina. Esta, por sua vez, converte a protrombina em trombina, que transforma o fibrinogênio em monômeros de fibrina, os quais se organizam em filamentos, originando polímeros. 46 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Sistema de Coagulação Superfície de contato Fator de Hageman ativado Dano tecidual Fator tecidual Cascata enzimática que leva à ativação da tromboplastina Protrombina Trombina Fibrinogênio Fibrina Os produtos gerados na ativação do Sistema de Coagulação apresentam propriedades pró-inflamatórias. No processo de formação da fibri- na, a molécula de fibrinogênio perde peptídeos, fibrinopeptídeos A e B, os quais são quimiotáticos e aumentam a permeabilidade vascular. Além disso, a trombina gerada neste sistema promove aumento na adesão de leucócitos e na proliferação de fibroblastos. Fig. 2. Desenho esquemático mostrando a formação do coágulo Fonte: http://www.ameo.org.br/ interna2.php?id=4 47 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores b) Sistema fibrinolítico Uma função óbvia deste sistema é dissolver os trombos formados por polímeros de fibrina, e deste modo manter o sangue em fluxo contínuo. Este sistema também é ativado pelo fator Hageman, o qual catalisa a conversão do pré-ativador de plasminogênio, dando origem à formação de plasmina. Esta é enzima proteolítica, que cliva a fibrina em produtos solúveis. Uma segunda via de formação de plasmina é decorrente de dano tecidual, a qual estimula a liberação do fator ativador de plasminogênio das paredes dos pequenos vasos sangüíneos. A participação da plasmina na resposta inflamatória envolve a ativação da via alternada do sistema complemento. Além disso, a degradação da fibrina e do fibrinogênio pela pIasmina, gera produtos com capacidade de aumentar a permeabilidade vascular. A pIasmina promove ainda a ativação do fator Hageman, promovendo a amplificação na ativação dos sistemas enzimáticos envolvidos no processo inflamatório. Sistema Fibrinolítico Superfície de contato Fator Hageman ativado Ativador de plasminogênio Pró-ativador de plasminogênio Plasminogênio Dano tecidual Fator ativador de plasminogênio tecidual Plasmina Fibrina Produto solúveis c) Sistema de cininas A geração de cininas no plasma é obtida pela seqüência de três reações enzimáticas: ativação do fator Hageman, ativação de pré-calicreína em calicreína, e clivagem do cininogênio em cininas, usualmente a 48 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores bradicinina. A ativação deste sistema durante a reação inflamatória promove o aumento da permeabilidade vascular, uma vez que a bradicinina é potente agente vasoativo. A bradicinina induz também vasodilatação, contração de musculatura lisa e produz dor. Além disso, a calicreína apresenta atividade quimiotática para neutrófilos. Sistema de Cininas Fator Hageman Fator Hageman ativado Cininases Calicreína Cininogênio Cininas Pré-calicreína Produtos inativos d) Sistema complemento O sistema complemento (SC) é o principal mediador humoral do processo inflamatório junto aos anticorpos. Está constituído por um conjunto de proteínas, tanto solúveis no plasma como expressas na membrana celular, e é ativado por diversos mecanismos por duas vias, a clássica e a alternativa. Os componentes da via clássica, assim como da via terminal, são designados como símbolo “C” seguidos com o número correspondente (C1, C3, etc.). Já os componentes da via alternativa, exceto C3, são designados com nomes convencionais ou símbolos diferentes (exemplo: fator D, fator B, properdina). Os produtos da clivagem enzimática são designados por letras minúsculas, que seguem o símbolo de determinado componente (exemplo: C5a, C5b). Quando o componente ou fragmento é inativado, é adicionada a letra “i” (exemplo: C3bi, Bbi). 49 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Tabela 1. Componentes plasmáticos da cascata do sistema complemento. Adaptado de ITURRY- YAMAMOTO & PORTINHO, 2001. As proteínas do SC são sintetizadas principalmente nos hepatócitos e macrófagos/monócitos, além de outros tecidos. As proteínas reguladoras ligadas à membrana celular são sintetizadas nas células sobre as quais estão expressas. O SC participa dos seguintes processos biológicos: fagocitose, opsonização, quimiotaxia de leucócitos, liberação de histamina dos mastócitos e basófilos, e de espécies ativas de oxigênio pelos leucócitos, vasoconstrição, contração da musculatura lisa, aumento da permeabilidade dos vasos, agregação plaquetária e citólise. 50 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Para que o SC exerça as suas funções, deve ser ativado, originando assim uma série de fragmentos com diferentes características e funções especificas. Esta ativação ocorre por duas vias: a clássica e a alternativa. Cada uma delas é desencadeada por fatores diversos, sendo o início da ativação diferente para cada uma, mas que convergem em uma via comum a partir da formação de C3b. Sua ativação, tanto pela via clássica como pela via alternativa, leva à formação do complexo lítico de membrana (CLM), que destrói as células. FUNÇÕES DO SISTEMA COMPLEMENTO FUNÇÕES DO SISTEMA COMPLEMENTO Fig. 3. Funções do sistema complemento. Fonte: http://www.labimuno.org.br/aulas/ SISTEMA%20COMPLEMENTO-AULA.ppt A via clássica é ativada principalmente por complexos antígeno-anticorpo e imunoglobulinas agregadas. As imunoglobulinas humanas que iniciam a ativação do complemento pela via clássica, pertencem às classes IgM e às subclasses IgG1, IgG2, IgG3. A ativação da via clássica inicia-se com a ativação de C1. A reação entre o antígeno e o anticorpo forma um imunocomplexo criando um sítio na porção Fc da imunoglobulina acessível à ligação com C1q, iniciando-se assim a ativação de C1. 51 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores ATIVAÇÃO DA VIA CLÁSSICA I C1: a primeira proteina da via clássica do Sistema complemento ATIVAÇÃO DA VIA CLÁSSICA I C1: a primeira proteina da via clássica do Sistema complemento Fig. 4. Ativação da via clássica do sistema complemento. Fonte: http://www.labimuno.org.br/aulas/ SISTEMA%20COMPLEMENTO-AULA.ppt Após a geração seqüencial de diferentes sítios enzimáticos em C1r, é exposto um novo sítio enzimático em C1s transformando-se em uma enzima proteolítica, a C1-esterase. A C1-esterase cliva dois outros componentes do complemento: C4 e C2, formando C4b que se adere à membrana celular através de sua ligação tioéster, e C2a que permanece ligado a C4b na presença de íons Mg, formando assim C4b2a, chamada também de C3-convertase da via clássica, a qual por sua vez cliva C3 em C3a e C3b. Seqüencialmente, o C3b se liga à C3-convertase, formando o C4b2a3b; este novo complexo molecular pode agora clivar C5, sendo por isso chamado de C5- convertase da via clássica, formando-se C5a e C5b. Este último inicia a formação do CLM. As moléculas de C3b, formadas através da via clássica, podem servir de substrato para a ativação da via alternativa. Este mecanismo é chamado de alça de amplificação. A presença de certos agentes como determinados fungos e bactérias, alguns tipos de vírus, e helmintos com determinadas características, especialmente a ausência de ácido siálico na membrana, são suficientes para ativar a via 52 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores alternativa, através da ligação de uma ou mais moléculas de C3b na sua superfície. A via alternativa pode também ser ativada por lipopolissacarídeos presentes em membranas de várias bactérias, proteínas da superfície viral e de parasitas, enzimas tipo tripsina, alguns imunocomplexos e o fator de veneno de cobra. Há evidências de que alguns constituintes subcelulares do músculo cardíaco podem ativar a via alternativa. O C3 é também ativado continuamente em pouca intensidade na fase fluída. Isto ocorre através de proteases séricas, moléculas nucleofílicas ou água, que atacam a ligação tioéster. Quando esta ligação é hidrolisada, forma-se C3(H2O). A molécula de C3(H2O) formada, com uma conformação similar a C3b, na presença de íons Mg, interage com o fator B formando C3(H2O)B, sobre o qual atua o fator D para formar C3(H2O)Bb, complexo chamado de C3-convertase de iniciação. Esta enzima, por sua vez, cliva novas moléculas de C3 em C3a e C3b. A ligação tioéster das moléculas de C3b sofre hidrólise, depositando-se sobre receptores da superfície celular das partículas ativadoras da via alternativa, como células infectadas por vírus, células tumorais, bactérias gram-negativas, fungos, protozoários. Na presença de íons Mg, o C3b pode também se ligar ao fator B para formar C3bB. O fator D que circula como enzima ativa e não é consumido na reação, atua então na porção B da molécula, para formar C3bBb, molécula lábil, sendo porém estabilizada pela agregação de uma molécula de properdina (P). A enzima C3bBbP resultante é denominada de C3-convertase de amplificação da via alternativa, clivando a seguir novas moléculas de C3 em C3a e C3b, sendo que este último pode ingressar na chamada “alça de amplificação”, oferecendo mais C3b para a fase inicial desta via, ou se ligar ao complexo molecular C3bBb para formar C3bBb(C3b), denominada de C5-convertase da via alternativa que, assim como C4b2a3b da via clássica, cliva C5 em C5a e C5b. Esta última molécula inicia a formação do CLM (C5b6789). Esse complexo liga-se à membrana das células-alvo e provoca a formação de “poros”, que permitem um influxo descontrolado de água e íons, com turgência e lise celular subseqüentes. Para controlar a atividade do SC, há inibidores endógenos 53 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores regulados pela própria citólise. Essa regulação protege as células autólogas do ataque do SC. Fig. 5. Cascata do sistema complemento. As vias clássica e alternativa terminam na via efetora comum, que gera o complexo lítico de membrana. Adaptado de ITURRY-YAMAMOTO & PORTINHO, 2001. 1.3. Metabólitos do ácido aracdônico Os produtos do metabolismo do ácido araquidônico compõem um conjunto de mediadores que modulam a resposta inflamatória e imunológica. Esses mediadores só aparecem após a estimulação das células, e são decorrentes da oxidação do ácido araquidônico, o qual é gerado pela ação da enzima fosfolipase A2 sobre fosfolipídios da membrana celular. A oxidação do ácido araquidônico pode ser realizada por duas vias enzimáticas: via da PGH sintetase (anteriormente conhecida como cicloxigenase) e via da lipoxigenase. A ação do sistema enzimático da PGH sintetase sobre fosfolipídios de membrana, leva à formação de prostaglandinas da série E 2 ,F 2 e D 2 (PGE 2 , 54 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores PGF 2 , PGD 2 ), prostaciclina (PGI2) ou tromboxano A2 (TXA2). A outra via de metabolização do ácido araquidônico, pela lipoxigenase, leva à produção de um conjunto de mediadores denominados leucotrienos. Os quatro principais leucotrienos (LT) conhecidos até o momento são: LTB4, LTC4, LTD4, LTE4. Esse conjunto de leucotrienos é denominado de substância anafilática (SRS-A), por ser liberado durante a reação anafilática em pulmão, promovendo a contração lenta em preparações em músculo liso isolado. Fig. 6. Desenho esquemático da síntese de prostaglandinas e leucotrienos. Fonte: http://www.ufrgs.br/laprotox/eicosanoids.htm As prostaglandinas (PGs), por terem sido primeiramente descobertas e isoladas de líquido seminal, como secreção da próstata, foram assim denominadas, sendo o sufixo “glandinas” associado à glândula. Atualmente sabe-se que as PGs estão presentes em todos os tecidos animais, exercendo várias funções. As prostaglandinas (assim como os leucotrienos) têm sua síntese desencadeada por estímulos nas membranas celulares, que podem ser de natureza 55 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores fisiológica, farmacológica ou patológica. Por ação da fosfolipase A2, o ácido araquidônico, constituinte normal dos fosfolipídios das membranas, é então convertido. Tais estímulos ativam receptores de membrana, acoplados a uma proteína reguladora, ligada a um nucleotídeo guanínico (proteína “G”). A partir desta ligação, ativa-se a fosfolipase A2 específica. Faz parte deste complexo ainda, uma elevação da concentração de cálcio (Ca ++ ) no meio intracelular. A fosfolipase A2 hidrolisa fosfolipídios da membrana, particularmente fosfatidilcolina e fosfatidiletanolamina, liberando assim o ácido araquidônico. Este ácido liberado é, então, substrato para duas vias enzimáticas, a das cicloxigenases (COX), que desencadeiam a síntese das prostaglandinas e dos tromboxanos, e a via das lipoxigenases, responsável pela síntese dos leucotrienos. Fig. 7. Desenho esquemático do metabolismo do ácido aracdônico. Fonte: http://www.sistemanervoso.com/ images/pgc/iac_09.jpg 56 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Estas PGs primárias, por assim dizer, têm pouca atividade, mas são substratos para formação das diversas PGs com atividade, como PGD 2 , PGE 2 , PGF 2 , prostaciclinas (PGI 2 ) e também dos tromboxanos (TX). As prostaglandinas promovem vasodilatação, potencializam a dor promovida pela bradicinina, modulam a função de macrófagos e células NK, estimulando-as quando em baixa concentração e inibindo-as quando em altas concentrações. São substâncias que agem como hormônios locais, são ácidos graxos produzidos por quase todas as células do corpo. Sua ação varia de acordo com a célula alvo, sendo sua vida útil muito curta. Os tromboxanos promovem a vasoconstrição e a agregação plaquetária. Os leucotrienos promovem a liberação de citocinas, quimiotaxia para eosinófilos e neutrófilos, broncoconstrição, edema e aumento da produção de muco. Metabolização do ácido araquidônico fosfolipase A2 Lipoxigenase LTE4 aum permeabilidade vascular LTD4 LTC4 Vasoconstrictor Leucotrienos LTA4 5HPETE Ácido araquidônico Fosfolípideos de membrana mastócitos,basófilos e neutrófilos 5HETE-quimiot. LTB4-quimiot. 1.4. Fator ativador de plaquetas Outro fosfolipídio que participa da resposta inflamatória é o fator ativador de plaquetas. Esse fator foi obtido pela primeira vez a partir de leucócitos sensibilizados incubados com antígeno, tendo sido observado que ele induzia a 57 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores liberação de aminas vasoativas, pelas plaquetas. Apesar dos leucócitos terem sido identificados como basófilos, sabe-se atualmente que eosinófilos, neutrófilos, mastócitos, monócitos e macrófagos, também podem liberar PAF, após estimulação adequada. FATOR ATIVADOR DE PLAQUETAS • Mastócitos • Basófilos • Plaquetas • Neutrófilos • Monócitos • Células endoteliais • Eosinófilos Síntese na membrana plasmática O PAF é um fosfolipídio de membrana sensível a fosfolipase A2 (PLA2) caracterizado quimicamente como alquil-acetil-glicerofosfocolina. O PAF não é estocado na célula, mas está presente na forma de precursor inativo ligado à membrana. A ativação da PLA2 converte esse precursor em liso-PAF, o qual sob ação da acetil coenzima A dá origem ao PAF-aceter. O PAF no meio extracelular apresenta vida média muito curta, sendo rapidamente convertido a liso-PAF, perdendo suas atividades biológicas. 58 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores FATOR ATIVADOR DE PLAQUETAS Acil-PAF Liso-PAF PAF Acetil-hidrolase Acetil-transferase Fosfolipase A2 O PAF promove os seguintes efeitos durante a resposta inflamatória: FATOR ATIVADOR DE PLAQUETAS • Vasodilatação arteriolar • Aumento da permeabilidade vascular • Promove a broncoconstrição • Produz agregação plaquetária • Estimula a liberação de mediadores plaquetários • Adesão e quimiotaxia leucocitárias • Estimula a síntese de metabólitos do ácido aracdônico • Hiperalgesia 1.5. Citocinas As citocinas são proteínas de baixo peso molecular secretadas pelos leucócitos e várias outras células no organismo, em resposta a inúmeros estímulos. De um modo geral, as citocinas estão envolvidas em vários processos celulares, 59 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores incluindo: ativação celular; fatores de crescimento; proliferação celular; diferenciação celular; maturação celular; migração celular; secreção de anticorpos. Dentre as várias citocinas descritas, a interleucina 1 (1L-1) e o fator de necrose tumoral (TNF) participam ativamente da resposta inflamatória e, por isso, serão detalhadas. Fig. 9. Desenho esquemático da ação das citocinas. Fonte: http://library.med.utah.edu/WebPath/ INFLHTML/INFL066.html A 1L-1 é uma proteína que pode ocorrer em duas formas moleculares: 1L-1α e 1L-1β. Embora exista alguma controvérsia, dados experimentais demonstram que 1L-1β age como mediador solúvel, enquanto que a 1L-1α permanece associada à célula, tendo sua ação potencializada no contato célula-célula. A 1L-1 pode ser produzida por todas as células nucleadas. No foco inflamatório, é sintetizada por macrófagos, neutrófilos, células endoteliais, fibroblastos e linfócitos. A 1L-1, em suas duas formas moleculares, apresenta efeito pleiotrópico, ativando a própria célula que o produziu (efeito autócrino), células circunvizinhas (efeito parácrino), e atuando em outros órgãos de forma sistêmica (efeito endócrino). 60 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O mecanismo de ação da 1L-1 envolve a presença de receptores específicos na superfície da célula-alvo; entretanto, o mecanismo que leva à ativação celular ainda não foi esclarecido. A atividade da 1L-1 pode ser controlada por fatores endógenos que modulam a expressão de receptores na membrana, ou interferem no metabolismo celular, impedindoque ocorra a transmissão de sinais de transdução após estímulo no receptor. Fig. 10. Esquema ilustrativo mostrando a ação da IL-1. Fonte: http://bvs.sld.cu/revistas/mil/vol28_1_99/mil09199.htm As prostaglandinas, particularmente as PGE2, inibem a síntese de liberação de 1L-1, enquanto que os leucotrienos estimulam sua produção. Outro mediador que pode modular a síntese de 1L-1 é o PAF. Experimentos in 61 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores vitro demonstram que baixas concentrações de PAF (<10nM) estimulam a produção de 1L-1 por monócitos humanos, enquanto que altas concentrações (>10nM) inibem a síntese de 1L-1. Além disso, o fator de crescimento transformante beta (TGF-) e corticoesteróides, também apresentam efeito antagonista sobre a IL-1. O TNF foi descrito pela primeira vez como sendo uma substância com capacidade de induzir necrose hemorrágica in vivo em certos tumores, e posteriormente como responsável pelo emagrecimento durante infecções parasitárias. Atualmente, sabe-se que o TNF é um mediador que apresenta múltiplas atividades, no nível de resposta inflamatória e imune, promovendo efeitos locais e a distância. O TNF é uma proteína que ocorre em duas formas moleculares distintas: TNFα e TNFβ. O TNFα é produzido principalmente por macrófagos, mas muitas células podem também produzí-Io, como por exemplo: célula endotelial, fibroblasto, linfócitos T e B (em baixas quantidades). O TNFβ, também conhecido como linfotoxina, é sintetizado por linfócitos T auxiliares (TH1). À semelhança do que ocorre com a IL-1, o TNF atua sobre a célula- alvo, mediante interação com receptores de membrana. Vários mediadores endógenos podem estimular a liberação de TNF (leucotrieno B4, IL-1, PAF, interferon-gama; IL-3 produzida por mastócitos; o próprio TNF, etc.) promovendo aumento na expressão de receptores de membrana. 62 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 11. Esquema ilustrativo mostrando a ação da IL-1. Fonte: http://www.australianprescriber.com/magazine/27/2/43/6/ Tanto a IL-1 quanto o TNF podem apresentar efeitos sistêmicos, induzindo: • Febre: estes mediadores agem no nível de centro termorregulador no hipotálamo, promovendo aumento da temperatura corporal; • Hematopoese: por estimulação de fatores estimuladores de colônia (CSF), que induzem proliferação de células precursoras em medula óssea; • Lipólise: por aumento na atividade da lipoproteína-lipase em adipócitos, isso explicaria o emagrecimento observado em indivíduos com infecções crônicas; • Proteínas de fase aguda: síntese estimulada em nível de células hepáticas. Um fato importante é que ao mesmo tempo em que a IL-1 e TNF estão envolvidas com a inflamação aguda e crônica, elas também iniciam o processo de reparação tecidual. Pode-se concluir que todos os mediadores envolvidos na resposta inflamatória agem de forma integrada, e que os mecanismos fisiológicos se encarregam de mantê-Ios em equilíbrio. Além disso, vários mediadores apresentam a mesma atividade biológica, de forma que um mesmo fenômeno 63 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores pode ser decorrente da ação de mais de um mediador. Tabela 2. Principais mediadores endógenos da inflamação. Adaptado de ANDRADE, 2002. 64 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Efeitos inflamatórios dos componentes do sistemas enzimáticos Deposição de fibrina Degranul mastócito Aum permeabil vascular vasodilatação Lise celular Neutrófilo- ativação quimiotaxia fagocitose Dor- bradicinina C3a-C5a trombina C5a, C3a, plasmina Bradicinina Histamina Compl. Histamina bradicinina C5a, C3a Além disso, a intensidade e a evolução de um processo inflamatório serão determinadas por vários fatores relacionados ao tipo de agente agressor, tecido onde o processo está se desenvolvendo, e às condições gerais do hospedeiro. --------------------------FIM DO MÓDULO II--------------------------- Curso de Inflamação e Reparo Tecidual MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 66 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO III 1. INFLAMAÇÃO AGUDA 1.1. Classificação das inflamações O processo inflamatório, de um modo geral, pode ser classificado de acordo com diferentes variáveis. TEMPO (Duração) Superaguda: horas a dias. Aguda: dias a semanas. Subaguda: semanas a meses. Crônica: meses (Segundo BOGLIOLO, 1978, acima de três meses a anos). Em relação à duração do processo, a classificação muitas vezes é baseada em aspectos clínicos e é feita de forma arbitrária, pois nem sempre corresponde ao quadro histológico encontrado. Quanto ao quadro histológico, os critérios para a classificação das inflamações são os seguintes: Aguda: Predomina fenômenos vasculares - exsudativos (hiperemia ativa patológica, edema, e infiltrado de PMN, principalmente neutrófilos). A exceção ocorre na hepatite viral aguda, na qual o infiltrado é sempre de mononucleares. Crônica: Predomina fenômenos proliferativos (Proliferação fibroblástica e angioblástica, e infiltrado de células mononucleares, principalmente de linfócitos, plasmócitos e macrófagos). Uma exceção acontece na osteomielite crônica, na qual o infiltrado é sempre de PMN. 67 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Subaguda: Caracteriza-se por fenômenos tanto vasculares - exsudativos quanto proliferativos, ocorrendo hiperemia, edema, proliferação fibroblástica e angioblástica, com infiltrado de PMN - principalmente eosinófilos, e também de MN - linfócitos, plasmócitos e macrófagos. Crônica Ativa: Trata-se da inflamação crônica reagudizada, isto é, com superposição de fenômenos vasculares exsudativos em área inflamada cronicamente. As inflamações agudas são classificadas de acordo com as características do exsudato. Conforme o tipo, a intensidade e a duração da agressão, haverá maior ou menor alteração da permeabilidade vascular e, como conseqüência, haverá variação na proporção dos elementos do exsudato. Quando o exsudato é predominantemente constituído por líquido, as inflamações são denominadas inflamações serosas. As inflamações serosas são principalmente observadas nas cavidades pré-formadas como a pleura, o pericárdio, o peritônio e as cavidades articulares. Nestes casos, o líquido que se acumula contém macromoléculas (albumina) e algumas células, especial- mente neutrófilos e hemácias. Desta forma, é possível distingui-lo dos transudatos, que podem se formar nas cavidades em condições de aumento da pressão hidrostática, como na insuficiência cardíaca; neste caso, o líquido acumulado é muito pobre em células e praticamente não contém macromoléculas. Outro exemplo de inflamaçãoserosa são as bolhas que podem se formar na pele, como conseqüência de agressões leves, como queimaduras ou traumatismos. O líquido, com macromoléculas e poucas células, se acumula logo abaixo da epiderme. 68 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 1. Histológico de bolha intra-epitelial, característica da inflamação serosa. Fonte: http://www.fcm.unicamp.br/deptos/anatomia/lampele1a.html Fig. 2. Conteúdo da bolha intra-epitelial. Fonte: http://www.fcm.unicamp.br/deptos/ anatomia/lampele1a.html 69 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Na verdade, as primeiras fases de quase todas as inflamações, são constituídas por acúmulo de líquido nos interstícios. As Inflamações do tipo fibrinosas são aquelas em que o exsudato contém grande quantidade de proteínas plasmáticas, inclusive fibrinogênio. Este, em contato com o interstício, se polimeriza em fibrilas de fibrina que se depositam sobre as superfícies serosas e mucosas. Nas superfícies, a fibrina se deposita formando camadas, conferindo- lhes um aspecto característico, o que permite o diagnóstico macroscópico seguro de inflamação fibrinosa. Na pleura e no pericárdio, a fibrina se deposita nos dois folhetos, promovendo sua aderência (aspecto em pão com manteiga). Caso o processo não ceda e não haja fibrinólise, estas aderências poderão se organizar e se transformar em aderências fibrosas, com fusão dos folhetos parietal e visceral e conseqüente desaparecimento do espaço pleural ou pericárdico. A inflamação fibrinosa é também chamada de "inflamação pseudomembranosa", quando presente nas mucosas, pois apresenta uma camada superficial esbranquiçada sobre a área inflamada, como se fosse uma membrana. Ela ocorre quando a agressão promove a necrose de segmentos mais ou menos profundos da mucosa e, como conseqüência, a parte líquida do exsudato que se forma, cai para a luz e a fibrina se deposita na superfície necrótica da mucosa, formando a chamada "pseudomembrana”. As in- flamações pseudomembranosas são freqüentemente observadas na faringe e no tubo digestivo. 70 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 3. Pericardite fibrinosa (origem traumática). Observa-se o grande acúmulo de exsudado fibrinoso que se acumulou entre o saco pericárdico e a parede cardíaca. Fonte:http://www.fmv.utl.pt/atlas/coracao/corac_013.htm Quando o comprometimento vascular é muito grave, com destruição das paredes, as hemácias passam a constituir o elemento dominante do exsudato; estas inflamações são chamadas de hemorrágicas. Quando o exsudato contém grande número de neutrófilos, a inflamação é denominada de purulenta ou supurativa. Certos agentes agressores, como bactérias (estafilococos, neisserias) ou substâncias quí- micas (terebintina), produzem grandes quantidades de fatores quimiotáticos para neutrófilos. Durante o processo de fagocitose, os neutrófilos liberam parte de suas enzimas para o interstício e, além disso, têm vida curta. A presença de grande número de neutrófilos, portanto, resulta na liberação local de grande quantidade de enzimas líticas, o que determina a liquefação do centro da área inflamada e dos tecidos circunvizinhos. A necrose liquefativa resultante da digestão dos agentes e dos tecidos infectados, como também das próprias 71 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores células inflamatórias, chama-se de pus e confere o nome de supurativa ou purulenta à inflamação. Fig. 4. Pancreatite supurativa aguda. Fonte: http://www.ufrgs.br/patologia/patologia/images/ Canino.%20Pâncreas.%20Pancreatite%20supurativa%20aguda%20acentuada%201a.JPG O exemplo mais corriqueiro de inflamação supurativa é a "espinha", tão freqüentemente observada na pele do rosto dos adolescentes. Ela é o resultado da invasão dos folículos pilosos por bactérias piogênicas (produtoras de pus). Uma vez no fundo do folículo, as bactérias desencadeiam a seqüência já conhecida de alterações, que se iniciam por congestão e discreto edema da pele envolvente, às vezes acompanhada de dor. Logo a seguir, a parte central da pequena lesão vai ficando amarela e saliente, o que corres- ponde ao acúmulo de pus no fundo do folículo. Em pouco tempo a pele que recobre o abscesso se rompe, o pus e as bactérias são eliminados e ocorre a reparação da lesão. 72 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 5. Aspecto clínico da espinha. Fonte: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/furunculo/ As cavidades cheias de pus resultantes da maioria das inflamações purulentas são chamadas de abscessos. Um abscesso é uma coleção localizada de pus e pode ser encontrado em variadas situações. Quando a inflamação supurativa se desenvolve em tecidos frouxos, em vez de se localizar, ela tem tendência a se difundir ao longo de espaços pré- formados, como as fáscias dos membros ou do pescoço, ou ainda espaços entre os feixes musculares do apêndice. Nestes casos, em que a inflamação supurativa é difusa e se estende pelos interstícios, ela é chamada de flegmonosa. Flegmão, portanto, é uma inflamação purulenta sem limites precisos. Quando o pus se coleta em uma cavidade pré-formada (cavidade pleural, articulação, vesícula biliar), falamos em empiema. 73 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 6. Radiografia de tórax mostrando paciente com empiema à esquerda. Fonte: http://www.fisiorespiratoria.com.br/galeria_do_x_mostra.asp?cod_caso=14. A úlcera é uma forma de inflamação caracterizada pela perda de tecido em uma superfície da pele ou das mucosas. No caso das mucosas, quando a perda não atinge o cório, o termo erosão é às vezes empregado. As úlceras podem ser a conseqüência de traumatismos, ou ainda de outros tipos de agressão como, por exemplo, da ação de toxinas bacterianas, ou ainda pela ação de substâncias químicas como, por exemplo, um ácido. A inflamação, nestes casos, origina-se do tecido sadio ao redor da área lesada. O exsudato inflamatório se acumula no fundo da úlcera, removendo o tecido necrótico. 74 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 7. Histológico de úlcera péptica. Fonte: http://anatpat.unicamp.br/lamtgi1.html As inflamações também podem ser classificadas de acordo com sua distribuição nos tecidos. Fig. 8. Classificação das inflamações. Fonte: http://www.biomaterial.com.br/inflama/classinfl.html De acordo com a intensidade do processo inflamatório, o mesmo pode ainda ser classificado em: leve, moderado ou severo. 75 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Leve ou discreto: Quando o tecido ou órgão afetado tem sua função alterada levemente, de modo a não comprometer seriamente o organismo como um todo; Moderado: Quando o tecido ou órgão afetado tem sua função alterada, de modo a comprometer razoavelmente o organismo como um todo, ainda que não signifique por si só risco de vida; Graveou severo: Quando o tecido ou órgão afetado tem sua função muito alterada, comprometendo seriamente o organismo como um todo, inclusive pondo em risco a vida. Dependendo do autor, podem existir inúmeras classificações diferentes. As classificações das inflamações crônicas serão descritas no módulo seguinte. Fig. 9. Quadro esquemático das inúmeras classificações do processo inflamatório. Fonte: http://www.biomaterial.com.br/inflama/classinfl.html 76 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1.2. Evolução das Inflamações Agudas A inflamação aguda é uma forma eficiente de o organismo neutralizar, inativar ou eliminar o agente agressor. Dependendo dos fatores do agente agressor, fatores do hospedeiro, e fatores locais, o processo pode evoluir para o processo de reparo. Entretanto, a inflamação pode ocorrer com formação de abscesso, ou mesmo evoluir para uma inflamação crônica de difícil reparo. Quando há supuração e, portanto, destruição de tecido, ou quando a própria agressão destrói o tecido, é necessário eliminar o pus e reparar o dano causado. O pus pode ser eliminado pela drenagem natural ou cirúrgica do abscesso. Neste caso, ou quando a agressão determina perda de tecidos, é necessário preencher o espaço à custa de tecido conjuntivo-vascular neoformado. Posteriormente, para haver a reparação tecidual, é obrigatório o desaparecimento do infiltrado, dos vasos, e a deposição de fibrilas colágenas. Forma-se, ao fim de algum tempo, uma cicatriz fibrosa no local da lesão. A porção parenquimatosa do órgão, se formada por células capazes de FORMAÇÃO DE ABSCESSO Mediadores químicos INFLAMAÇÃO CRÔNICA INFLAMAÇÃO AGUDA Agente irritativo persistente Injúria tecidual PROCESSO DE REPARO Regeneração Cicatrização 77 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores regeneração, pode se refazer em parte ou totalmente, dependendo da extensão da lesão inicial. 1.3. Fatores que alteram a resposta inflamatória Os fatores que alteram a inflamação estão relacionados com o agente agressor e com o hospedeiro. Esses dois elementos (agressor e hospedeiro) estabelecem uma inter-relação que assume características particulares, ou seja, cada hospedeiro, dependendo de suas características próprias e da relação com as características do agente agressor, manifestará um quadro inflamatório peculiar a seu estado pessoal. FATORES DO AGENTE AGRESSORFATORES DO AGENTE AGRESSOR • Tipo biológico • Patogenicidade • Tempo de exposição • Capacidade de invasão • Resistência à fagocitose Tipo do agente: além do tipo de agente, suas características também determinam reações inflamatórias típicas. Essas características envolvem principalmente a fonte geradora, no caso dos agentes físicos, o composto ativo, no caso dos agentes químicos, e a família, o gênero e a espécie, no caso dos agentes biológicos. Por exemplo, inflamações purulentas ou supurativas são originadas das chamadas bactérias piogênicas (estafilococos); já alguns bacilos, podem originar inflamações granulomatosas. Da mesma forma, existem agentes químicos que causam necrose liquefativa, logo que entram em contato com o tecido, e existem 78 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores outros que atuam mais nas outras fases da inflamação, não exacerbando a degenerativo-necrótica. Patogenicidade do agente: em termos gerais, quanto maior for a patogenicidade do agente, mais exacerbada será a resposta inflamatória. Além da patogenicidade, que é determinada especificamente para os agentes biológicos, podemos considerar a palavra "intensidade" para os agentes físicos; e para os agentes químicos, a intensidade deve ser entendida pela concentração do agente. Tempo de exposição: em termos gerais, quanto maior o tempo de exposição ao agente, mais exacerbada é a resposta inflamatória. A inflamação crônica, por exemplo, forma-se devido à maior permanência do agente agressor em contato com o hospedeiro. Logicamente que os demais fatores devem sempre ser considerados (como, por exemplo, características do agente e intensidade). Capacidade de invasão: a capacidade de invasão diz respeito às propriedades que o agente possui de ultrapassar as barreiras de defesa do organismo, principalmente as barreiras externas. Por exemplo, existem bactérias com maior capacidade de penetração do que outras, favorecendo a disseminação do quadro inflamatório; as que possuem baixa invasividade podem originar, por sua vez, quadros inflamatórios mais localizados. O mesmo acontece com agentes físicos e químicos; por exemplo, alguns adesivos empregados no processo de restauração dentária possuem maior capacidade de penetrar na dentina do que outros, podendo causar inflamações pulpares com mais freqüência. Outro exemplo seriam os raios X, que possuem maior penentrância do que os raios β. Resistência à fagocitose: os agentes agressores resistem à fagocitose e à digestão de formas diferentes. Por exemplo, algumas bactérias são facilmente fagocitadas e digeridas, o que faz com que o processo inflamatório tenha curta duração; já alguns bacilos, como o M. tuberculosis, possuem alta resistência à fagocitose, sendo a inflamação da tuberculose do tipo crônica. Balas de projéteis também são de difícil fagocitose, assim como a partícula de restaurações de amálgama (originando a tatuagem por amálgama). 79 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores FATORES DO HOSPEDEIROFATORES DO HOSPEDEIRO • Aspectos fisiológicos • Saúde geral • Aspectos nutricionais • Aspectos hormonais Aspectos fisiológicos do hospedeiro: idade, sexo, etnia, são alguns fatores que interferem no quadro inflamatório; por exemplo, os idosos, por terem baixa imunidade, geralmente são mais susceptíveis a infecções e inflamações do que os mais jovens. Saúde geral do hospedeiro: indivíduos portadores de outras doenças podem manifestar quadros inflamatórios mais graves. É o caso, por exemplo, de portadores de diabetes mellitus; esses indivíduos possuem dificuldade de reparação, principalmente por apresentarem alterações metabólicas significantes, as quais influenciam diretamente nos vários momentos da inflamação; um exemplo de inflamação crônica nesses indivíduos são as gengivites e a periodontites, de difícil controle e tratamento. Aspectos nutricionais do hospedeiro: carência de vitaminas e de proteínas pode interferir no sistema imunológico do organismo, retardando o processo de resolução das inflamações. Aspectos hormonais do hospedeiro: segundo Guidugli-Neto (1997), existem hormônios que favorecem a inflamação (chamados de protoflogísticos) e os que evitam ou diminuem a inflamação (os antiflogísticos). Os protoflogísticos aumentam a permeabilidade vascular (como o hormônio do crescimento) e os antiflogísticos, ao contrário, diminuem a permeabilidade vascular e fazem com que 80 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores haja menor exsudação celular. Esses hormônios, portanto, atuam direta ou indiretamente nos momentos da inflamação. FATORES LOCAISFATORES LOCAIS • Tipo tecidual • Suprimento sanguíneo • Estruturas anatômicas vizinhas Tipo de tecido agredido: as características anatômicas e fisiológicas dos tecidos que compõem os parênquimas dos órgãos são diversas e determinamdiferentes padrões de inflamação. Por exemplo, nos tecidos ósseos, não se observa edema, característico das inflamações agudas; ao contrário, são mais comuns inflamações crônicas nesse local; já nos tecidos mais frouxos, como pálpebra, por exemplo, facilmente se instalam fenômenos exsudativos plasmáticos. Suprimento sangüíneo: em geral, os tecidos vascularizados são mais resistentes à agressão, uma vez que o processo inflamatório se instala mais rapidamente. Os tecidos não-vascularizados, como a córnea e as cartilagens, primeiramente devem desenvolver a neovascularização local para depois iniciar seu mecanismo de defesa. Estruturas anatômicas vizinhas: dependendo da disposição dos órgãos, as inflamações podem se restringir ao tecido agredido ou se disseminar para os espaços ou tecidos vizinhos. 1.4. Farmacologia da inflamação O processo inflamatório representa um dos mecanismos de defesa do nosso organismo. A inflamação pode ser definida como a reação do tecido vivo a uma 81 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores agressão local, ocorrendo envolvimento celular, aumento da permeabilidade vascular e acúmulo de líquidos. Esta inflamação, geralmente aguda, é a resposta inicial ao agressor e pode tornar-se desconfortável para o paciente devido ao edema e a dor. Na intenção de minimizar os sinais e sintomas do processo inflamatório, o profissional da saúde pode fazer o uso de antiinflamatórios na intervenção da doença ou no pré ou pós-operatório. Estes são os antiinflamatórios esteroidais ou os antiinflamatórios não esteroidais (AINES). I. Antiinflamatórios não-esteroidais (AINES) Os fármacos antiinflamatórios não-esteroidais (AINES) constituem um grupo heterogêneo de substâncias, que em geral não estão relacionados quimicamente, e que apesar disso, têm em comum certas ações terapêuticas, como atividade antipirética, analgésica e antiinflamatória. Isto porque atuam na biossíntese das prostaglandinas, agindo diretamente na inibição de enzimas da via cicloxigenase, mas não na via lipoxigenase. De acordo com Meade et al. (1993) e Mitchel et al. (1993), existem dois tipos de cicloxigenase: COX-1, enzima presente nas plaquetas sangüíneas, envolvida na sinalização celular e na homeostase tecidual; COX-2, presentes nas células inflamatórias ativadas e que produz mediadores da inflamação. COX-1: enzima constitutiva expressa na maioria dos tecidos, inclusive nas plaquetas. É importante para a manutenção das funções corporais. COX-2: enzima induzida nas células inflamatórias, quando estas são ativadas. É responsável pela produção dos mediadores prostanóides da inflamação. Os AINES possuem as seguintes ações farmacológicas: Efeitos antiinflamatórios: modificam a reação inflamatória; Efeito analgésico: reduzem determinados tipos de dor; Efeito antipirético: reduzem a temperatura elevada; 82 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Efeito antipirético Na maioria das vezes, os mediadores químicos da inflamação (produtos de leucócitos e plaquetas ativados, do metabolismo do ácido araquidônico- prostaglandinas e leucotrienos e das cascatas da coagulação e do complemento), agem localmente, no sentido de restringir as conseqüências e a extensão do dano tecidual. Neste caso, o processo inflamatório tem apenas repercussões locais (numa tendinite ou uma foliculite, por exemplo) ou passa completamente despercebida (como em microtraumatismos de pele ou mucosas). Em condições em que esta capacidade homeostática local é superada, ou pela magnitude do estímulo agressor ou pela insuficiência dos mecanismos reguladores. A resposta inflamatória extravasa os limites do seu microambiente e pode se manifestar de modo sistêmico em todo o organismo ou ainda, dependendo da quantidade de citocinas liberadas, pode ter conseqüências catastróficas, na forma de choque circulatório grave. Em 1930, foi descrita no soro de pacientes com infecções agudas, uma proteína que precipitava o polissacarídeo C da cápsula do pneumococo (a proteína C-reativa ou PCR) e em 1941 foi introduzido o termo “fase aguda” para descrever as alterações séricas observadas nestes pacientes. Atualmente se sabe que, além das infecções, muitas outras formas de injúria tecidual, como trauma, isquemia, neoplasias e hipersensibilidade, desencadeiam alterações na concentração de várias proteínas plasmáticas, conhecidas como “proteínas de fase aguda” (PFAg). Elas constituem apenas uma parte da “reação ou resposta de fase aguda” (RFAg), que inclui febre, leucocitose e anormalidades metabólicas que produzem variada manifestação clínica e laboratorial, independentemente da natureza do estímulo desencadeante. As células ativadas do sistema fagocítico mononuclear (monócitos circulantes e macrófagos teciduais) iniciam a cascata de eventos da RFAg, secretando, em uma etapa inicial, citocinas da família da IL-1 e TNF (fator de necrose tumoral). Estas moléculas têm ação pleiotrópica, tanto a nível local como sistêmico. Localmente, agem sobre células da matriz ou estroma tecidual, principalmente fibroblastos e células endoteliais, causando a liberação de um 83 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores segundo conjunto de citocinas que incluem, além dos próprios IL-1 e TNF, também IL-6 e IL-8, as proteínas inflamatória (MIP-1) e quimiotática (MCP) de macrófago. O fígado é o alvo principal dos mediadores inflamatórios sistêmicos, suprindo os metabólitos essenciais para a resposta de estresse e os componentes necessários para a defesa de primeira linha no sítio de inflamação, restringindo os limites da lesão tecidual, clareando agentes agressores e auxiliando no reparo celular. Os AINEs reduzem a temperatura elevada provavelmente pela inibição da produção de prostaglandinas no hipotálamo. Fig. 10. Patogenia da febre Fonte:http://webmail.unisuam.edu.br/~jairoa/CT/Farmacodin%E2mica/Inflama% E7%E3o%20&%20Dor.pdf Efeito analgésico A outra manifestação cardeal da inflamação, a dor, é mediada, além das prostaglandinas, pela bradicinina, um nonapeptídio liberado pelo sistema cininogênio, que também participa da ativação da cascata da coagulação. 84 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 11. Fenômeno da hiperalgesia. Fonte: http://www.endodontia.com.br/index_arquivos/Terapeutica.pdf Os AINEs são particularmente eficazes contra a dor associada à inflamação ou à lesão tecidual, uma vez que diminuem a produção das prostaglandinas, que sensibilizam os nociceptores e dos mediadores da inflamação, como a bradicinina. A capacidade dos AINEs, de aliviar a cefaléia, pode estar relacionada à abolição do efeito vasodilatador das prostaglandinas sobre a vasculatura cerebral. Efeitos antiinflamatórios Os AINEs são classificados atualmente como drogas inibidoras das cicloxigenases e, por conseqüência, inibidoras da síntese das prostaglandinas. Reduzem alguns componentes da resposta inflamatória como, por exemplo: a vasodilatação; o edema; a dor. A totalidade dos AINES inibe ambas as enzimas, ou seja, a COX-1 e a COX-2, só que em graus variados de intensidade. 85 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores De fato, quanto mais potente for a inibição exercida sobre a COX-1 em relação à COX-2, maiores serão as reaçõesadversas do medicamento. Os efeitos indesejáveis desses medicamentos devem-se, em grande parte, à inibição da enzima de manutenção, a COX-1: Distúrbios gastrintestinais: dispepsia, náuseas, vômitos e, em alguns casos, ulceração e sangramento gástrico. A administração oral de análogos das prostaglandinas pode diminuir a lesão gástrica desencadeada por esses agentes. Obs.: Os inibidores da COX-2 causam menos lesão gástrica, porém estão associados a alterações cardiovasculares em alguns pacientes. No entanto, ainda existem pontos a serem esclarecidos, pois a probabilidade de desenvolvimento de lesões gástricas em paciente em uso de AINES depende de fatores de risco pré- existentes (ex: fumantes, indivíduos em uso de anticoagulante, corticosteróides, pacientes que necessitam de altas doses de AINES, em uso de aspirina, alcoólatras, 86 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores idosos, história de úlcera péptica e/ou dispepsia prévia). Indivíduos com história de úlcera péptica e sangramento gastrintestinal em uso de AINE, têm risco de complicações gastrintestinais em torno de 5% ao ano, em contraste com uma incidência de 0,4% de chance em pacientes sem história prévia. Reações cutâneas: erupções leves, urticária, reações de fotossensibilidade. Efeitos renais: insuficiência renal aguda, reversível com a interrupção da droga, em indivíduos suscetíveis. Este efeito deve-se à inibição da síntese de PGE2 e PGI2, responsáveis pela manutenção da hemodinâmica renal. Nefropatia por analgésicos (consumo crônico), caracterizada por nefrite crônica e necrose papilar renal. Insuficiência hepática, importante na superdosagem de paracetamol. Asma, particularmente a aspirina, em indivíduos asmáticos sensíveis. São efeitos indesejáveis dos inibidores seletivos da COX-2: Efeitos cardiovasculares; Redução da taxa de filtração glomerular em indivíduos idosos; 87 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Nisulid ®; Scaflam ®NimesulidaNimesulidas Motrin ® Naprosyn ® Ibuprofeno Naproxeno Derivados do ácido propiônico Feldene ®; Inflamene ® Movatec ® Piroxicam Meloxicam Oxicanas Ponstan ® Voltaren ® Cataflam ®; Flogan ® Proflam ® Ácido mefenâmico Diclofenaco sódico Diclofenaco potássico Aceclofenaco Fenamatos Derivados do ácido fenilacético Aspirina®; AAS ® Dorbid ® Ácido acetilsalicílico Diflunisal Salicilatos Especialidade farmacêutica Nome genéricoGrupo DROGAS INIBIDORAS DA CICLOXIGENASEDROGAS INIBIDORAS DA CICLOXIGENASE Os AINES podem ser classificados em diversas classes quanto à estrutura química: I. Salicilatos A aspirina é o protótipo dos AINES; é o fármaco mais usado e aquele com o qual todos os demais agentes antiinflamatórios são comparados. Entretanto, cerca de 15% dos pacientes mostram intolerância à aspirina. Desta forma fez-se necessário buscar fármacos alternativos com maior atividade antiinflamatória, menor irritação gástrica, ou ainda de ação mais longa, diminuindo a dose diária administrada. Em geral os AINES mais novos são consideravelmente mais caros que a aspirina e alguns são comparativamente mais tóxicos. Além da ação antiinflamatória, possuem ação analgésica e antitérmica. Agem no hipotálamo alterando sua função termorreguladora. Provocam a dilatação de pequenos vasos superficiais, fazendo com que a transpiração aumente e o calor 88 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores seja liberado. Agem no problema, diminuindo a permeabilidade dos vasos inflamados. Fig. 12. Molécula do ácido acetilsalicílico. Fonte: http://www.quimicaorganica.net/compuestos-organicos/Aspirina/aspirina.htm O ácido acetilsalicílico apresenta boa ação analgésica na dose usual de 500mg e pequena ação antiinflamatória. Para se obter uma ação antiinflamatória deste composto é necessário empregá-lo na dose de 4 a 5g diários. Inibe a agregação plaquetária do local inflamado, não devendo ser administrado em hemofílicos por esta razão. Assim como seu protótipo age nas duas cicloxigenases, constitui um antiinflamatório não-seletivo. II. Derivados paraminofenólicos O paracetamol ou acetominofeno são analgésicos e antipiréticos com pouquíssima ou nenhuma ação antiinflamatória, pois são considerados como um fraco inibidor das prostaglandinas pró-inflamatórias. Em contrapartida, parece agir sobre as prostaglandinas sintetizadas pelo sistema nervoso cerebral, o que explicaria sua ação antitérmica. Atualmente é um dos analgésicos mais utilizados, por ser bastante seguro e não interagir com a maioria dos medicamentos. 89 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 13. Molécula do paracetamol. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Paracetamol Fig. 14. Esquema terapêutico do paracetamol. Fonte: http://www.endodontia.com.br/index_arquivos/ Terapeutica.pdf III. Derivados da pirazolona Metamizol sódico ou dipirona sódica é um medicamento que mostra efeitos analgésicos e antitérmicos, mas não antiinflamatórios, nas doses terapêuticas. A dipirona parece agir deprimindo diretamente a atividade nociceptora, diminuindo o 90 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores estado de hiperalgesia persistente através do bloqueio da entrada de cálcio e da diminuição dos níveis de AMPc, nas terminações nervosas livres. Sua utilização, no entanto, se encontra restrita a alguns países, sendo extremamente popular no Brasil, onde efetivamente é um dos analgésicos mais populares, ao lado do ácido acetil salicílico. Quimicamente é o [(2,3-diidro-1,5-dimetil-3-oxo-2-fenil-1H-pirazol-4- il)metilamino] metanossulfonato sódico (ou 1-fenil-2,3-dimetil-5-pirazolona-4- metilaminometano sulfonato de sódio). Fig. 15. Molécula da dipirona. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Dipirona_s%C3%B3dica.png Para todas as formas farmacêuticas, os efeitos analgésicos e antipiréticos são esperados pouco tempo após a administração, porém seu efeito tem pouca duração (apenas 4 horas). IV. Derivados do ácido propiônico Ibuprofeno O ibuprofeno, que foi sintetizado em 1974, foi o primeiro desta classe de agentes a estar disponível nos Estados Unidos, surgindo em seguida o naproxeno, fenoprofeno, cetoprofeno, flurbiprofeno, fembufeno, indoprofeno, suprofeno e oxaprozin. 91 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O ibuprofeno é um fármaco derivado do ácido fenilacético, do grupo dos anti- inflamatórios não esteróides (AINE), que representa uma das melhores alternativas no combate à dor, febre e inflamação, sendo um substituinte exemplar do ácido acetilsalicílico por diversos motivos: efeito similar, menores efeitos adversos e maior tolerância. Utilizado freqüentemente para o alívio sintomático da dor de cabeça (cefaléia), dor dentária, dor muscular (mialgia), moléstias da menstruação (dismenorréia), febre e dor pós-cirúrgica. Também é usado para tratar quadros inflamatórios, como os que se apresentam em artrites, artrite reumatóide (AR) e artrite gotosa. Tabela 1. Fonte: http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/html/1172/body/01.htm 92 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Oscréditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Naproxeno Manifesta efeitos antiinflamatório, analgésico e antipirético. É utilizado no tratamento da artrite reumatóide, apresentando reações adversas principalmente no trato gastrintestinal. Apresenta-se mais potente na forma S. Sua dosagem é bastante superior aos fármacos anteriores, podendo chegar até 750 mg /dia. Fig. 16. Molécula do naproxeno. Fonte: http://www.territorioscuola.com/wiki/es.wikipedia.php?title= Naproxeno V. Derivados dos ácidos indol-acéticos Neste grupo de fármacos está a indometacina, além de outros, que atuam inibindo reversivelmente a cicloxigenase. A indometacina que é a droga mais conhecida do grupo apresenta atividade antiinflamatória maior que a aspirina, porém é inferior aos salicilatos em relação a doses toleradas pelos pacientes com artrite reumatóide; atua também como analgésico e antipirético. VI. Derivados do ácido fenilacético O diclofenaco ou diclofenac, comercializado como Voltaren® e Cataflam® entre outros, é um antiinflamatório não-esteróide (AINE) com ação sobretudo analgésica e antiinflamatória, não sendo usado como antipirético. Apresenta-se nas formas sódica, potássica, resinada e colestiramina. 93 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Este medicamento está indicado para o tratamento de: Formas degenerativas e inflamatórias de reumatismo: artrite reumatóide; Espondilite anquilosante (doença crônica inflamatória que afeta as juntas entre as vértebras da espinha e as juntas entre a espinha e o pélvis); Osteoartrose (doença da articulação, degenerativa, que causa desgaste das articulações) e espondilartrite (inflamação das articulações intervertebrais); Síndromes dolorosas da coluna vertebral; Reumatismo não-articular; Dores pós-traumáticas e pós-operatórias, inflamação e edema, como por exemplo, após cirurgias dentárias ou ortopédicas; Condições inflamatórias e/ou dolorosas em ginecologia, como por exemplo dismenorréia primária (dor pélvica que se origina de cólicas uterinas durante o período menstrual) ou anexite (inflamação de ovários e trompas). Antiinflamatórios não-esteroidais, particularmente diclofenaco de sódio, têm sido associados a graves quadros de hepatotoxicidade. Em uma revisão de casos clínicos envolvendo 7400 pacientes, ocorreu disfunção hepática em 0,8% daqueles tratados com celecoxib. Comparados com 0,9% dos tratados com placebo, e 3,7% dos que usaram diclofenaco de sódio. VII. Oxicanas Meloxicam O meloxicam atua da mesma forma que os outros AINES propriamente ditos (excetua-se assim o paracetamol), ou seja, inibindo a ciclooxigenase. O meloxicam possui, em doses baixas, uma afinidade preferencial (cerca de 10 vezes superior) para a COX-2, uma característica associada com uma menor incidência de efeitos colaterais gastro-intestinais. Doses maiores, contudo, não evidenciam a mesma selectividade. O meloxicam é muito bem absorvido por via oral (cerca de 90%), e possui uma importante ligação às proteínas plasmáticas. A sua semi-vida é bastante longa 94 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores quando comparada com outros AINES, o que permite a sua utilização em tomada diária única. Piroxicam O piroxicam (vendido no mercado brasileiro sob a marca Inflamene) é um medicamento antiinflamatório não-esteróide usado para aliviar os sintomas da artrite reumatóide e osteoartrite, dismenorréia primária, dor pós-operatória; atua como um analgésico, especialmente quando há um componente inflamatório. Fig. 17. Molécula do piroxicam. Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Piroxicam.svg 95 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 18. Esquema terapêutico do piroxicam. Fonte: http://www.endodontia.com.br/index_arquivos/ Terapeutica.pdf VII. Novos AINES (Coxibs) As pesquisas mais recentes levaram ao desenvolvimento de um grupo de fármacos antiinflamatórios seletivos. Como já foi dito, as cicloxigenases (COXs) são enzimas que catalisam o primeiro estágio da biossíntese das prostaglandinas provenientes do ácido araquidônico. Os AINES inibem de forma não seletiva a formação das duas isoformas da COXs. Em teoria, a inibição seletiva da COX-2 poderia trazer vantagens, pois esta isoforma estaria confinada aos tecidos inflamados. Quando em sua dosagem terapêutica, um determinado antiinflamatório inibe apenas a isoforma COX-2, sem interferência na atividade COX-1, denominam-se agente inibidor específico COX-2. Tais compostos foram intitulados coxibs. O primeiro composto a ser aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para uso nos Estados Unidos foi o celecoxib, em dezembro de 1998. Meses 96 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores após, em maio de 1999, foi introduzido outro inibidor específico COX-2, chamado rofecoxib. Por pouparem a COX-1, os coxibs foram introduzidos como uma nova classe de antiinflamatórios não esteroidais, de eficácia equivalente e provável menor índice de complicações que os tradicionais AINES. Recentemente foi introduzido no mercado o parecoxib, o primeiro inibidor específico da COX-2 para uso parenteral e com propriedades farmacológicas semelhantes aos demais coxibs. São antiinflamatórios com diversos efeitos em relação ao controle do processo inflamatório. Agem inibindo a agregação de leucocitário (de neutrófilos) e provocam a inibição da migração das células polimorfonucleares e monócitos para a área de inflamação, ou seja, interferem na quimiotaxia típica da inflamação. II. Antiinflamatórios esteroidais Os corticosteróides são substâncias endógenas que estão quimicamente classificadas como esteróides, e são originalmente identificados no córtex da glândula adrenal. A glândula adrenal, na verdade, consiste em duas pequenas glândulas dispostas acima dos rins. A porção externa da glândula adrenal, o córtex adrenal, é essencial para a vida. Sua origem embriológica é completamente diferente daquela da medula adrenal. O córtex adrenal produz vários hormônios potentes, todos derivados esteróides, possuindo o núcleo ciclopentanoperidrofenantreno característico. Estes hormônios esteróides são agrupados em três classes gerais, cada uma com funções características: Os glicocorticóides, que atuam primariamente no metabolismo das proteínas, carboidratos e lipídeos. Os mineralocorticóides, que atuam primariamente no transporte de eletrólitos e na distribuição de água nos tecidos. Os androgênios ou estrogênios, que atuam primariamente sobre as características sexuais secundárias em seus órgãos alvos específicos. 97 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 19. Glândula adrenal. Fonte: http://www.iadmd.org/Content/tabid/76/contentid/103842/Default.aspx Os antiinflamatórios esteroidais ou corticosteróides, como são mais conhecidos, são drogas inibidoras da fosfolipase A2 e, por isso, não diminuem somente a síntese das prostaglandinas como também a de leucotrienos, reduzindo, portanto, o acúmulo de neutrófilos no sítio inflamado. Este parece ser o maior mecanismo antiálgico e antiinflamatório atribuído a este grupo de medicamentos, pois o controle da migração de neutrófilos para o foco inflamado, diretamente, implica na diminuição dos mediadoresquímicos pró-inflamatórios. No ser humano, o principal glicocorticóide é o cortisol (ou hidrocortisona), enquanto o mineralocorticóide mais importante é a aldosterona. 98 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Ação antiinflamatória Os glicocorticóides têm a capacidade de modificar o processo inflamatório dos tecidos que, ao serem agredidos, apresentam um extravasamento de fluidos intracelulares para o espaço peri-tecidual. As doses farmacológicas de cortisol e seus análogos têm a propriedade de limitar esse processo, sendo que esses efeitos levam a encobertar processos infecciosos em pacientes que fazem uso dessas substâncias por longo tempo. A propriedade terapêutica de reduzir dramaticamente a resposta inflamatória e suprimir a imunidade é a mais importante dos glicocorticóides. O mecanismo exato é complexo e não totalmente compreendido. Entretanto, sabe-se que a diminuição e a inibição dos linfócitos e macrófagos periféricos têm participação no processo. Há também evidências substanciais de que os glicocorticóides induzem a síntese de uma proteína na qual inibe a fosfolipase A e, portanto, diminui a liberação de ácido araquidônico dos fosfolipídios, o que diminui a formação de prostaglandinas, leucotrienos e compostos correlatos, que têm papel importante na quimiotaxia e na inflamação. Os glicocorticóides são utilizados também no tratamento dos sintomas das reações alérgicas a fármacos, soro e transfusões, da asma brônquica e da rinite alérgica. Entretanto, estes fármacos não são curativos, um exemplo é o uso do dipropionato de beclometasona e a triancinolona que são aplicados topicamente na mucosa do trato respiratório superior, por inalação, reduzindo os efeitos sistêmicos da doença. Devido ao extenso uso dos corticosteróides no tratamento de doenças inflamatórias e alérgicas, muitas pesquisas foram desenvolvidas na tentativa de sintetizar derivados que apresentassem aumento das propriedades terapêuticas, ação mais específica, limitações dos efeitos adversos e maior potência. De um modo geral, as modificações de estrutura da hidrocortisona levaram a aumentos na proporção entre potência antiinflamatória e retentora de sódio, de tal modo que, em vários dos derivados atualmente disponíveis, os efeitos eletrolíticos 99 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores adversos não têm conseqüências sérias, mesmo quando estes derivados são administrados em doses mais altas. As alterações na estrutura molecular podem modificar o potencial biológico, como resultado de alterações na absorção, na ligação protéica, na taxa de transformação metabólica, na taxa de excreção, na capacidade de atravessar membranas e na eficácia intrínseca da molécula em seu local de ação. No entanto, estas modificações estruturais da molécula esteróide, com características de aumento da atividade antiinflamatória, freqüentemente podem acarretar novas propriedades indesejáveis, tais como o efeito retentor de sal (no caso de derivados halogenados) e mascaramento dos processos infecciosos, osteoporose, astenia, diminuição do limiar cerebral etc. O mecanismo de ação desses corticosteróides sintéticos é semelhante ao dos compostos naturais; suas diferenças de potência se devem principalmente ao aumento da meia-vida e atraso na sua catabolização ao nível hepático. A título de ilustração, a meia-vida da hidrocortisona é de 98 minutos; a dos sintéticos, prednisolona e dexamentasona, é de 200 minutos. A classificação dos corticosteróides é feita em função de sua duração de efeito: AÇÃO CURTA (< 12 horas) Hidrocortisona Cortisona AÇÃO INTERMEDIÁRIA (18 - 36 horas) Prednisona Prednisolona Metilprednisolona Triancinolona AÇÃO LONGA (36 - 54 horas) Betametasona Dexametasona / Parametasona 100 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O corpo tem mais dificuldade de metabolizar e eliminar os corticosteróides sintéticos; por isso, estes possuem efeito mais prolongado e potência elevada. Provavelmente, a molécula modificada tenha menos tendência a ser fixada pelos sistemas enzimáticos presentes. Desta forma o início da sua atividade é imediato, porém a duração da ação varia, dependendo do fármaco. A Tabela 2 mostra que a hidrocortisona e a cortisona são de duração curta e requerem doses fracionadas várias vezes ao dia para manter o efeito. Os corticosteróides de média e longa ação, administrados via oral, suprimem a liberação de adrenocorticóides, mesmo em terapia de dias alternados. Algumas das ações biológicas dos corticosteróides possibilitam medidas quantitativas e são expressas em relação à ação da hidrocortisona, que é considerada para atividade antiinflamatória e atividade retentora de sal. Tabela 2. Fonte: http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-bin/PRG_0599.EXE/6260_2. PDF?NrOcoSis=17440 &CdLinPrg=pt 101 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os corticosteróides antiinflamatórios são valiosos no tratamento de doenças crônicas, que ocorrem periodicamente, e na ausência de uma causa conhecida, como artrite, tendinite, bursite, conjuntivite ou dermatite. Estes fármacos devem ser administrados localmente, sempre que possível, ao invés da via sistêmica. Pois mesmo que haja alguma absorção, o baixo nível de corticosteróide sistêmico preserva a integridade do córtex, ao mesmo tempo em que mantém um alto nível local da droga. Indicações Gerais dos Corticóides: Doenças Auto-Imunes: anemia hemolítica auto-imune; hepatite crônica ativa; Manifestações Alérgicas: asma, alveolite alérgica, rinite alérgica, choque anafilático; Transplantes de Órgãos; Afecções hematológicas: leucemia linfoblástica, linfomas; Afecções Dermatológias: pênfigo bolhoso, pênfigo, urticária pigmentosa; Afecções Renais: síndrome nefrótica; Afecções Respiratórias: pneumonite não infecciosa, lesões exsudativas graves; Afecções do SNC: traumatismo craniano, meningite tuberculosa. -------------------------------FIM DO MÓDULO III----------------------------------- Curso de Inflamação e Reparo Tecidual MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 103 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO IV 1. INFLAMAÇÃO CRÔNICA 1.1. Conceito e características da inflamação crônica A inflamação crônica pode ser conceituada como a soma das reações do organismo em conseqüência da persistência do agente agressor, que não é eliminado pelos mecanismos da inflamação aguda. É a reação tecidual caracterizada pelo aumento dos graus de celularidade e de outros elementos teciduais, diante da permanência do agente agressor. Injúria tecidual RESOLUÇÃO FORMAÇÃO DE ABSCESSO PROCESSO DE REPARO Regeneração Cicatrização Agente irritativo persistente Mediadores químicos INFLAMAÇÃO CRÔNICA INFLAMAÇÃO AGUDA A inflamação aguda podeter quatro tipos de evolução: Resolução: quando a lesão é pequena; ao se eliminar o agressor, tudo volta à normalidade. 104 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Cicatrização: quando há destruição tecidual o dano será reparado, sendo a área lesada substituída por uma cicatriz; como exemplo, uma queimadura na pele. Formação de abscesso: acontece quando agentes piogênicos se instalam na profundidade dos tecidos. Progressão para inflamação crônica: isto ocorre quando o agente inflamatório não é eliminado pelo processo inflamatório agudo. Quando o agente causador da agressão é inerte ou pouco agressivo, ou ainda quando ele persiste a despeito da inflamação aguda, a reação inflamatória assume características diferentes. Em vez de um exsudato rico em: líquidos, fibrinas e neutrófilos, encontram-se um aumento na proporção de linfócitos, macrófagos, proliferação de vasos e de fibroblastos, com deposição de colágeno. Por isso, na inflamação crônica, observa-se uma predominância dos processos produtivos e reparativos. FENÔMENOS PRODUTIVOS Modificações de células exsudadas linfócitos macrófagos Inflamações crônicas 105 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores reparar os tecidos danificados Neoformação conjuntivo-vascular macrófagos fibroblastos fatores de crescimento FENÔMENOS REPARATIVOS As inflamações crônicas diferem das agudas pela sua longa duração, e pela ausência, ou pouca evidência, dos quatro sinais cardinais da inflamação. Do ponto de vista histológico, suas características dependerão do agente. Assim, por exemplo, uma inflamação crônica causada por agressores antigênicos, poderá ser principalmente constituída por linfócitos e macrófagos; quando acompanhada de morte celular haverá também proliferação de vasos, fibroblastos e deposição de colágeno. As características mais marcantes da inflamação crônica são o predomínio de células mononucleares (linfócitos, macrófagos, plasmócitos) e a proliferação de fibroblastos e de vasos. Além disso, neste tipo de processo inflamatório, podem estar presentes as células epitelióides e células gigantes multinucleadas, que são modificações morfofuncionais sofridas pelos macrófagos através da ação de mediadores químicos específicos. 106 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 1. Infiltrado mononuclear, na lâmina própria em lesão de mucosa bucal. Fonte: http://patoral.umayor.cl/atlaspatoral2/atlas_patoral2.html Fig. 2. Miocardite granulomatosa idiopática: presença de células gigantes multinucleadas, rodeadas por um infiltrado inflamatório mononuclear, com predomínio de linfócitos. Fonte: http://www.conganat.org/9congreso/trabajo.asp?id_trabajo=804&tipo=2&tema=18 107 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores As alterações vasculares da inflamação aguda caracterizam-se pelo aumento da permeabilidade. Nas crônicas, o papel dos vasos é menos evidente, apesar de ainda muito importante. As inflamações crônicas são caracterizadas por proliferação endotelial, ou seja, por neoformação vascular. Fig. 3. Angiogênese. Fonte: http://www.medsciences.bham.ac.uk/departments/Watson%20Group/ CCVS/Roy%20Bicknell%20Research.htm A neoformação vascular é dependente da presença, no foco inflamatório, de fatores de crescimento. Nos últimos anos, polipeptídios capazes de estimular a proliferação de vários tipos de células têm sido estudados, inclusive aqueles capazes de estimular a proliferação do endotélio vascular. Entre eles, destacam-se: a) Fator de crescimento epidérmico: capaz de estimular a proliferação de células epiteliais e fibroblastos; b) Fator de crescimento derivado de plaquetas: estimula a proliferação de células endoteliais, células musculares lisas e vários tipos de células tumorais. São armazenados nos grânulos das plaquetas e liberados quando as plaquetas são ativadas. Além de estimular a proliferação de endotélio, eles também estimulam a migração e proliferação de fibroblastos, células 108 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores musculares lisas e macrófagos; c) Fator de crescimento de fibroblastos: estimula a proliferação de fibroblastos e induz todos os passos necessários à neoformação dos vasos. Todos estes fatores estimuladores e inibidores de crescimento se formam e interagem nos focos inflamatórios e são responsáveis pela neo- formação vascular e fibrose, que acompanham as inflamações crônicas. Do seu balanço dependerá a extensão, progressão ou término da reação. Fig. 4. Processo de angiogênese. Fonte: http://www.gene.com/gene/research/focusareas/tgr/ O processo de angiogênese (neoformação vascular) segue as seguintes etapas: degradação da membrana basal do vaso de origem, migração das células endoteliais, sua proliferação com a formação de um tubo sólido, constituído por células endoteliais jovens e, finalmente, escavação do tubo originando a luz, que se comunica com a luz do vaso de origem. Tanto nas inflamações agudas, quanto nas crônicas, os estímulos à proliferação de vasos e fibroblastos originam o tecido de granulação. Este 109 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores tecido se caracteriza pela proliferação de vasos que se dirigem à área lesada, acompanhados de outras células (neutrófilos, macrófagos, linfócitos, plasmócitos) e de fibroblastos. À medida que os fagócitos lisam os tecidos necróticos ou a fibrina, os vasos proliferam em direção à lesão, trazendo com eles o sangue de que se originam os leucócitos exsudados. São acompanhados pelos fibroblastos que sintetizam colágeno. Progressivamente, a área lesada vai sendo substituída por uma cicatriz fibrosa. Quando o agente persiste, ocorre o equilíbrio entre a progressão da lesão causada pelo agente e o tecido de granulação, que tenderá a formar uma barreira de tecido fibroso para isolar o agente dos tecidos do hospedeiro. Os capilares neoformados do tecido de granulação permitem a saída de plasma, o que explica seu aspecto clínico. Por sua vez, quando a lesão é na pele ou em uma mucosa, forma-se crosta de fibrina na sua superfície, a "casca" das feridas, que nada mais é do que fibrina dessecada recobrindo o fundo da úlcera. 1.2. Classificação das inflamações crônicas A proporção relativa dos componentes das inflamações crônicas varia muito com o agente e com a resposta do hospedeiro, o que permite classificar as inflamações crônicas em: inflamações crônicas específicas e inflamações crônicas inespecíficas. I. Inflamações crônicas específicas: ocorrem quando os elementos da reação se dispõem formando acúmulos nodulares de limites mais ou menos precisos e chamados de granulomas. As células predominantes são macrófagos e o processo é pouco vascularizado. 110 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Injúria tecidual persistente Linfócitos T ativados Fatores quimiotáticos Fatores de crescimento Proliferação dos macrófagos nos tecidos Recrutamento dos monócitos circulantes Aumento na quantidade de macrófagos Mitógenos teciduaisFatores quimiotáticos bacterianos e teciduais para monócitos O termo "específica" origina-se do conceito de que a morfologia e a disposição dos diferentes componentes do granuloma são suficientes para sugerir a etiologia da lesão. Na verdade, embora a disposição dos elementos do granuloma seja sugestiva de sua etiologia, o diagnóstico etiológico só pode ser estabelecido pelo conhecimento do agente na lesão. INFLAMAÇÃO CRÔNICA ESPECÍFICA Formação de granulomas Predomínio de macrófagos Pouca vascularização GRANULOMA 111 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores II. Inflamações crônicas inespecíficas: ocorrem quando a disposição dos diferentes elementos das reações não sugere a sua etiologia. A reação é feita por exsudato inflamatório, rico em células mononucleares, proliferação dos vasos neoformados e de tecido conjuntivo fibroso. Estes componentes são os elementos constituintes da maioria das inflamações crônicas, não permitindo suspeita da etiologia do processo. INFLAMAÇÃO CRÔNICA INESPECÍFICA Organização celular difusa Proliferação de fibroblastos Deposição de colágeno Neoformação vascular GENGIVITE CRÔNICA INFLAMAÇÃO CRÔNICA INESPECÍFICA Organização celular difusa Proliferação de fibroblastos Deposição de colágeno Neoformação vascular GENGIVITE CRÔNICA 1.3. Agentes Etiológicos De forma resumida, as inflamações crônicas podem ser causadas por: Infecções persistentes: tuberculose, sífilis, alguns fungos. Estes agentes suscitam em hipersensibilidade tardia (possuem baixa toxicidade). Exposição prolongada a agentes tóxicos endógenos ou exógenos: por exemplo, a sílica, material não-degradável. Auto-imunidade: reações imunes atacam o próprio tecido sadio. Resulta em várias doenças inflamatórias crônicas, como por exemplo, a artrite reumatóide e o lúpus eritematoso. Além disso, muitos fatores contribuem para a cronicidade do processo 112 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores inflamatório, como a resposta inadequada do hospedeiro, a drenagem inadequada da lesão, a mobilidade do tecido, a presença de tecido necrótico e a irritação mecânica local. Os motivos pelos quais os agentes agressores persistem na área inflamada são variados. Às vezes eles persistem por serem inertes, insolúveis e, portanto, capazes de permanecer nos tecidos. Em outras circunstâncias, um agente pouco agressivo permanece por haver dificuldades anatômicas para a sua eliminação. É o que acontece com alguns processos supurativos localizados na profundidade dos tecidos ou no interior das vísceras (abscessos crônicos). O agente agressor pode também invadir as células do hospedeiro, nelas se instalar e se reproduzir. É o que acontece em várias doenças infecciosas como a hanseníase, a tuberculose, a doença de Chagas e viroses. Mycobacterium tuberculosis Treponema pallidum Mycobacterium tuberculosis Treponema pallidum Nestes casos, o agente agressor persiste, se reproduz e seus produtos são reconhecidos pelo sistema imunitário do hospedeiro. O resultado é que o hospedeiro montará uma resposta imunológica dependente da ação combinada de macrófagos e linfócitos. Esta resposta é capaz de manter ou mesmo exacerbar a reação inflamatória local. 113 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores I. Agente inerte Vários tipos de substâncias inertes podem ser introduzidos nos tecidos, como conseqüência de traumatismos; como exemplo, podemos citar corpos estranhos como gravetos, fragmentos de vidro ou de outros materiais insolúveis. Até mesmo os fios de sutura, introduzidos através de intervenções cirúrgicas pode atuar como um agente inerte. Uma vez nos interstícios, ocorre imediatamente uma reação inflamatória aguda, causada pela lesão tecidual provocada pela própria penetração do corpo inerte. Esta fase é prontamente seguida pela chegada dos macrófagos ao local, os quais se agrupam em volta do agressor. O corpo estranho acaba sendo envolvido por uma reação conhecida como granuloma de corpo estranho. II. Agente piogênico O agente piogênico é aquele capaz de formar necrose tecidual, ou seja, capaz de formar pus. Quando uma inflamação aguda supurativa se instala em um órgão sólido como, por exemplo, o ovário ou o fígado, o material purulento não pode ser eliminado com facilidade. Acaba se estabele- cendo um equilíbrio entre o agressor e a reação do hospedeiro, e o processo se cronifica. Nestes casos, há formação de uma cápsula constituída por vasos neoformados e colágeno (tecido de granulação), que envolve o abscesso e o transforma em um abscesso crônico. Tais abscessos podem permanecer por longo tempo, causando uma série de sintomas locais e sistêmicos, sendo que a maioria deles só pode ser curada através de drenagem cirúrgica. Por outro lado, abscessos crônicos silenciosos podem, com o tempo, se romper para o peritônio ou para a pleura, causando as peritonites. Um abscesso cerebral, por exemplo, ao drenar para as meninges ou para os ventrículos, poderá ser fatal. 114 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 5. Abscesso cerebral. Fonte: http://www.pathology.com.br/necrose/t_necrosecompl.htm III. Agente antigênico A inflamação crônica causada por agentes antigênicos (em geral agentes biológicos) pode assumir dois padrões: inflamação crônica específica granulomatosa e inflamação crônica inespecífica. A primeira ocorre em resposta a agentes difíceis de serem digeridos e a segunda devido a agentes mais facilmente eliminados. A inflamação crônica inespecífica é caracterizada pelo acúmulo de linfócitos sensibilizados, plasmócitos e macrófagos distribuídos de forma irregular pelo interstício da área lesada. É este tipo de alteração que se observa, por exemplo, na doença de Chagas. O T cruzi invade e se reproduz no interior das células do hospedeiro e acaba por destruí-Ias. Seus antígenos caem no interstício e, como o hospedeiro está sensibilizado, no local se desen- cadeia reação caracterizada pelo acúmulo de linfócitos, monócitos e macrófagos. Estas células e seus produtos inativam os antígenos do parasita, fagocitam os restos das células lesadas e, eventualmente, estimulam a proliferação de fibroblastos e a síntese de colágeno, que se deposita, espessando o interstício. 115 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Alterações semelhantes caracterizadas por acúmulo intersticial de células mononucleares são encontradas em viroses, em que células T citotóxicas destroem as células do hospedeiro que expressam proteínas virais em sua membrana, como também na rejeição de transplante e em situações em que o organismo desenvolve resposta imune contra seus próprios tecidos (reações auto-imunes). Tais reações são chamadas de inflamações crônicas inespecíficas. Da mesma forma, é possível encontrar inflamações crônicas inespecíficas, caracterizadas por infiltrados linfoplasmocitários nos interstícios, em vários outros tipos de agressão, não necessariamente ligados à resposta imune. Drogas capazes de produzir necrose tóxica de células, como por exemplo, as células hepáticas, podem desencadear reação muito semelhante à observada na agressão dos hepatócitos pelos vírus da hepatite. A úlcera crônica do estômago, causada pela secreção cloridropéptica, é outroexemplo de inflamação crônica inespecífica não-imune. 1.4. Formação dos granulomas A inflamação crônica granulomatosa é uma forma de inflamação específica, caracterizada pelo acúmulo de macrófagos modificados, células gigantes que se organizam em torno de um flogógeno (agente causador) formando os granulomas. O estímulo para formação desses granulomas tem origem nos agentes etiológicos característicos, como: Mycobacterium tuberculosis, Mycobacterium leprae, Treponema pallidum, Schistossoma mansoni, Criptococcus neoformans, Paracoccidioides brasiliensis, Coccidioides immitis, Metais inorgânicos e poeiras como silício e berílio. 116 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A formação dos granulomas segue um padrão de defesa inflamatório em que se distinguem respostas de hipersensibilidade. Inicialmente, observa-se a proliferação de macrófagos, na tentativa de fagocitar o agente; essas células maturam e podem adquirir um padrão semelhante à célula epitelial, passando a se chamar célula epitelióide. Os macrófagos podem ainda se fusionar, originando as células gigantes multinucleadas. O processo de formação das células que compõem o granuloma pode ser demonstrado da seguinte forma: quando o antígeno atinge o local, ele estimula uma resposta imune celular. Ocorre a apresentação do antígeno ao linfócito T helper (LTh) que vai, então, secretar citocinas que estimulam mais LTh. Os LTh-1 secretam interferon gama e os LTh-2 secretam a interleucina 4. Essas interleucinas estimulam os monócitos que chegam da circulação a mudar sua estrutura e se transformar em células epitelióides. Essas citocinas estimulam também o macrófago para formar a célula gigante do granuloma. As citocinas apenas potencializam essas transformações e ainda não se sabe o mecanismo exato para estimular as mudanças funcionais e estruturais nos monócitos e macrófagos para formarem as células do granuloma. 117 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 6. Processo de formação das células epitelióides e das células gigantes multinucleadas. Fonte: http://www.medicina.ufba.br/imuno/roteiros_imuno/Hipersensibilidadecelular.pdf Os macrófagos modificados ocupam, inicialmente, a porção central do granuloma. Na periferia, são observados linfócitos do tipo T, os quais caracterizam uma resposta de hipersensibilidade tardia; acredita-se que modulem a resposta dos macrófagos. Mais na periferia ainda proliferam fibroblastos e vasos sangüíneos; os primeiros para dar suporte à estrutura granulomatosa e os segundos, para nutri-la. Com o passar do tempo e o crescimento de granuloma, sua porção central pode sofrer necrose caseosa, devido à carência nutricional. Forma-se, então, um centro necrótico. Na presença de todos os elementos observa-se: Porção central: necrose; Ao redor da necrose os histiócitos (células epitelióides); Ao redor dos histiócitos uma coroa de linfócitos; 118 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Células gigantes multinucleadas em meio à histiócitos e muito próximas à área de necrose. Em alguns granulomas ainda poderemos encontrar outros elementos como plasmócitos e eosinófilos. Fig. 7. Estrutura morfológica do granuloma. Fonte: http://www.biomaterial.com.br/inflama/classinfl.html As células epitelióides têm uma maior função secretora de enzimas em vez de fagocitose, e por isso possuem o retículo endoplamático rugoso e complexo de Golgi desenvolvidos, e muitas vesículas no seu citoplasma. Possuem esse nome por apresentar o aspecto morfológico parecido com as células epiteliais. Fig. 8. À esquerda observa-se um granuloma formado por macrófagos jovens; à direita um granuloma formado por células epitelióides. (Modificado de Adams DO. The granulomatous inflammatory response. A review. Am J Pathol 1976; 84:164-183). Fonte: http://escuela.med.puc.cl/paginas/publicaciones/ PatologiaGeneral/ Patol_064.html 119 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Na tuberculose, as enzimas liberadas pelas células epitelióides acabam digerindo parte do parênquima e essas células ainda criam uma barreia para a difusão de glicose e oxigênio, o que acaba causando uma necrose no centro do tubérculo. Essa necrose caseosa presente na tuberculose, ajuda a distingui-la das outras doenças granulomatosas. Fig. 9. Processo de formação dos granulomas na tuberculose. Fonte: http://www.fz-borstel.de/en/research/ibm/mi/ Uma importante característica dos granulomas é a presença de um tipo especial de célula multinucleada, denominada de célula gigante, que se origina dos macrófagos e tem grande capacidade de fagocitose e digestão intracelular. O macrófago faz a divisão nuclear, várias vezes, sem dividir o citoplasma, e aumenta o tamanho da célula. 120 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 10. À esquerda observa-se a célula gigante de Langhans: núcleos dispostos na periferia da célula; à direita uma célula gigante de reação de corpo estranho: núcleos vesiculosos, distribuídos de forma irregular e nucléolos volumosos. Fonte: http://escuela.med.puc.cl/paginas/publicaciones/ PatologiaGeneral/ Patol_064.html A patogenia da formação dos granulomas é complexa. Sabe-se que a resposta imunoinflamatória se inicia a partir da exposição aos antígenos. Durante os primeiros minutos após a exposição ao antígeno, as células inflamatórias residentes no local iniciam o recrutamento celular de outras células inflamatórias. O fator de necrose tumoral (TNF) estocado pelos mastócitos é liberado, estimulando o recrutamento de neutrófilos para a área lesada, que por sua vez sinalizam e ativam os monócitos circulantes. O Interferon-γ (IFN- γ) produzido pelas células T citotóxicas locais (NK) e linfócitos T, ativa os histiócitos residentes e células dendríticas. Estas células liberam mais TNF e inúmeras citocinas, que irão alterar o ambiente da microcirculação local e facilitar a saída celular dos vasos para os tecidos. Dentro de minutos a horas, as células dendríticas ativadas, carregadas de antígenos, migram aos linfonodos periféricos através dos vasos linfáticos. Dessa forma, inicia-se a produção de linfócitos T antígenos-específicos, propiciando uma resposta linfocítica. As células dendríticas produzem a interleucina 12 (IL-12) e apresentam o antígeno aos linfócitos T CD4+. Sob a ação da IL-12, os linfócitos T CD4+ diferenciam-se em linfócitos T helper (Th1). As células T ativadas secretam IL-2, que promove a sobrevivência dessas células e sua proliferação, conduzindo à expansão da população dos linfócitos Th1, antígenos-específicos. 121 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Passadas horas, ou até dias da exposição do antígeno, os linfócitos Th1 CD4+ ativados, trafegam preferencialmente em direção aos locais onde a microcirculação foi alterada pela ação do TNF e pelas citocinas produzidas pelas células residentes. Uma vez que a fonte do antígeno não é eliminada, a inflamação persiste. A interação entre os linfócitos Th1 CD4+ e os macrófagos ativados conduz à produção do IFN-γ e do TNF, que resulta na posterior maturaçãodos macrófagos. Sobre o curso de diversos dias a semanas, um granuloma maduro é formado. Outras células, incluindo os neutrófilos e os linfócitos B, também são encontradas em várias proporções no granuloma maduro. 122 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 11. Patogenia da formação do granuloma. Fonte: http://journals.cambridge.org/fulltext_content/ ERM/ERM7_08/S146239940500921Xsup007.htm 123 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Existem classificações para os granulomas utilizando critérios anatômicos e morfológicos, de etiologia (envolvendo a causa do processo) ou de patogenia (envolvendo os mecanismos de origem). Podem ser: Difusos e focais, conforme sua distribuição pelos tecidos agredidos; Simples e compostos, quando apresentam apenas macrófagos ou macrófagos associados a células gigantes, respectivamente; Complexos (ou tuberculóides), quando se considera um padrão de granuloma composto, associado aos fenômenos de defesa imunitária do paciente; Imunitários e não-imunitários, em que se mede principalmente o padrão de manutenção da estrutura granulomatosa, a partir de elementos de defesa imune, como linfócitos; assim, diz-se que são imunitários os granulomas em que há diminuição do agente agressor; contudo, isso não garante que o granuloma seja resolvido; ao contrário, em muitas situações, os mecanismos de defesa imune contra o agente, podem provocar maior destruição tecidual, aumentando o foco de necrose e contribuindo para a manutenção da estrutura inflamatória; Supurativos ou não-supurativos, quando exibem pus, causado principalmente por bactérias piogênicas de baixa virulência. São consideradas doenças granulomatosas: Tuberculose: é uma típica doença granulomatosa. Nela existe um equilíbrio entre os efeitos dos macrófagos ativados no controle da infecção e os danos teciduais. Geralmente os malefícios são conseqüência da perda de tecido pulmonar devido à fibrose. Doença de Crohn; é uma doença não infecciosa em que os granulomas são proeminentes. Ocorre cronicamente no íleo e no cólon. As camadas do granuloma causam estreitamento do órgão e fístulas que penetram em outros órgãos. O antígeno ou agente causador da doença é desconhecido. 124 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Doença da arranhadura do gato: causa uma linfoadenite granulomatosa, por bacilos Gram-negativos, com necrose de liquefação, presença de leucócitos e neutrófilos no centro da lesão, quase formando um pequeno abscesso; Esquistossomose: apresentação de reação granulomatosa típica no tecido onde são colocados os ovos do parasita, o que caracteriza as manifestações graves da doença. Fig. 12. Corte histológico de ovo do Schistossoma mansoni no centro de granuloma. Fonte: http://www.pucrs.br/fabio/parasitologia/Parasitophotos/foto45.jpg Sarcoidose: doença de etiologia desconhecida, em que há a formação de granulomas, com ausência de necrose; no citoplasma da célula de Langhans há presença de corpúsculos asteróides (de Schaumann). Cirurgias em que ficam pontos terão formação de granulomas na área ao redor, chamada reação granulomatosa de corpo estranho. A célula gigante de corpo estranho tem núcleos em maior número, com 125 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores grande heterogeneidade entre eles e distribuição anárquica no citoplasma, em relação à célula de Langhans. Paracoccidioidomicose: doença granulomatosa de origem infecciosa, causada pela inalação do fungo Paracoccidioides brasiliensis. Sua implantação primária ocorre nos pulmões e, posteriormente, pode haver a disseminação linfática e hematogênica do fungo. É considerada uma infecção fúngica profunda, entretanto devido à sua disseminação, pode acometer as mucosas, como por exemplo a mucosa bucal. Fig. 13. Corte histológico do granuloma da paracocciodioidomicose, mostrando a presença do fungo no interior da célula gigante multinucleada. 126 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fig. 14. Aspecto clínico da lesão da paracocciodioidomicose na mucosa da língua. -----------------------------------------FIM DO MÓDULO IV--------------------------------------- Curso de Inflamação e Reparo Tecidual MÓDULO V Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 128 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO V 1. REPARO TECIDUAL Um organismo vivo mantém a capacidade de reparar suas perdas. Isto é uma propriedade que está presente desde o nível celular. Quando uma célula sofre agressão focal, as organelas inviáveis podem ser isoladas num vacúolo limitado por membrana, digeridas e eliminadas, enquanto as partes perdidas são reconstituídas, voltando a célula à sua estrutura normal. Quando, em vez de atingir focalmente as células no seu citoplasma, a lesão causa a perda de muitas células, o reparo é mais complexo e pode assumir uma das duas possibilidades: a) REGENERAÇÃO - se as células parenquimatosas morrem, mas o estroma permanece íntegro, o reparo se faz a partir de células do mesmo tipo das que se perderam, voltando o órgão à sua estrutura normal; b) CICATRIZAÇÃO - se o estroma é destruído, o reparo se faz fundamentalmente à custa do tecido conjuntivo, o que quase sempre aparece combinado com certo grau de regeneração dos elementos epiteliais, os quais podem ou não reproduzir a estrutura que tinham anteriormente. 1.1. Células lábeis, estáveis e permanentes O tempo de vida de uma célula pode variar conforme a espécie. No ser humano, existem células que vivem apenas alguns dias, e outras que podem acompanhar o indivíduo por toda a vida. Quanto à longevidade das células, estas podem ser classificadas em lábeis (curta duração), estáveis (duram meses ou anos) ou permanentes (duram toda a vida). As células lábeis são pouco diferenciadas e possuem grande capacidade de duplicação, como por exemplo, as hemácias. O tempo de vida de uma hemácia é de aproximadamente 90 dias. As células das superfícies de revestimento e dos 129 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores órgãos hematopoéticos estão constantemente se renovando. Seus núcleos, ao completarem o ciclo replicativo, entram imediatamente em outro ciclo. São células lábeis, que se regeneram com facilidade e rapidez. http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=883&sid=8 Boa parte das células do organismo é representada por células estáveis, isto é, células cuja capacidade replicativa dos núcleos permanece quiescente na maior parte do tempo. Em face de estímulos adequados,esta capacidade pode ser rapidamente retomada. Estão nesta categoria os hepatócitos, as células dos túbulos renais, as células endoteliais, os fibroblastos, leiomiócitos etc. 130 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Células endoteliais (1) e tecido conjuntivo (2). Fonte: http://www.micron.uerj.br/atlas/celula/cel10.htm Diferente das células lábeis e estáveis, as células permanentes possuem grande capacidade de diferenciação e se multiplicam apenas na fase embrionária. Células como os neurônios não mais se multiplicam e, uma vez perdidas, não são substituídas. Seu lugar é ocupado pela proliferação das células do estroma que, no sistema nervoso central, é representado pela glia. Células da glia (1) e neurônios (2). Fonte: http://www.micron.uerj.br/atlas/celula/cel13.htm 131 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os neurônios não se regeneram e, quando morrem, o seu prolonga- mento axial (axônio) também se degenera. Mas, o nervo (formado por axônios) pode se regenerar se o corpo do neurônio se mantiver vivo. O importante é que o tubo no qual o nervo está contido (bainha de Schwann) mantenha a continui- dade; o axônio cresce e repara a porção que se perdeu. Quando a continuidade da bainha não está mantida, os axônios podem proliferar no local da lesão e se enovelar, formando pequeno nódulo, conhecido como neuroma de amputação, lesão que pode ser muito dolorosa se estiver afetando nervos sensitivos. As fibras musculares estriadas, principalmente as cardíacas, também têm capacidade de regeneração muito limitada, ou mesmo não se regeneram. Estas células, cujos núcleos não têm mais a capacidade de reiniciar o processo replicativo, são classificadas como células permanentes. Nos músculos, a perda de suas células é seguida de cicatrização fibrosa. A fibrose que se forma após infarto do miocárdio fornece um exemplo típico do processo no nível do coração. 132 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Fibrose do miocárdio pós-infarto. Fonte: http://www.fcm.unicamp.br/deptos/anatomia/lamdc11.html 133 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores CICLO CELULAR 1. Células lábeis 2. Células estáveis 3. Células permanentes 1.2. Regeneração A regeneração consiste no processo de organização tecidual com substituição das células mortas ou lesadas por novas células, idênticas às originais. A regeneração promove a restituição da integridade anatômica e funcional do tecido. Todo o procedimento regenerativo se realiza em tecidos onde existem células lábeis ou estáveis, isto é, células que detêm a capacidade de se regenerar através de toda a vida extra-uterina (por exemplo, células epiteliais, do tecido hematopoiético etc.); por intermédio da multiplicação e organização dessas células, origina-se um tecido idêntico ao original. Além dessa condição, a restituição completa só ocorre se existir um suporte, um tecido de sustentação (como parênquima, derma da pele etc.) subjacente ao local comprometido. Esse tecido é o 134 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores responsável pela manutenção da irrigação e nutrição do local, fatores essenciais para o desenvolvimento da regeneração dentro dos padrões normais. Quando uma superfície do organismo, cutânea, mucosa, endotelial, mesotelial ou da córnea é desnudada, mas a camada basal - ou seja, o tecido conjuntivo imediatamente adjacente (cório) - permanece íntegra, as células não lesadas das bordas da lesão crescem e reparam completamente o defeito.O mesmo ocorre com as células epiteliais, as células do fígado, rim, glândulas endócrinas etc., quando o arcabouço de sustentação estiver mantido. Este processo de regeneração não se faz com a mesma facilidade e rapidez em qualquer tecido, uma vez que vários tipos de células diferem na sua capacidade de replicação. No organismo, é normal a reposição de células, através da regeneração classificada como fisiológica, ou seja, a proliferação celular é contínua para manter a estrutura e o funcionamento dos órgãos. Um exemplo é a mucosa bucal (e as demais mucosas), em que o epitélio prolifera continuadamente para a renovação das camadas epiteliais. Há ainda a regeneração compensadora, observada nos órgãos pares (por exemplo, pulmão, rins etc.); quando um dos órgãos é destruído, o outro assume processos regenerativos mais intensos para compensar a destruição do seu par. Por fim, diz-se que há regeneração patológica quando houver destruição tecidual e perda da homeostase e da morfostase. 135 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores http://www.fcm.unicamp.br/deptos/anatomia/pecasuro2.html As fases da regeneração incluem um momento em que há demolição das células lesadas e inflamação, seguido por intensa proliferação. Inúmeras hipóteses vêm sendo formuladas para explicar o processo regenerativo, envolvendo, dentre outros, elementos humorais, circulatórios etc. Atualmente sabe-se que algumas proteínas da matriz extracelular estimulam a proliferação celular, bem como existem alguns genes responsáveis pela mitose celular. Um conceito importante a ser considerado nos processos de regeneração é a diferenciação celular, transformações que a célula desenvolve durante seu ciclo de vida, através das quais, vai adquirindo especializações; assim, uma célula embrionária, para atingir o "status" de célula epitelial, passa por estágios de transformação (principalmente de suas organelas e de seu metabolismo), até assumir um comportamento de célula epitelial. Nos processos regenerativos, em geral, quanto mais diferenciados for uma célula (isto é, mais especializada), menor é seu grau de multiplicação e regeneração. Contudo, esse princípio não pode ser generalizado para todos os tipos celulares, pois a localização e a capacidade da célula de sofrer agressões influenciam em seu 136 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores comportamento regenerativo. Por exemplo, as células da mucosa bucal (células lábeis) são mais facilmente regeneradas do que as de pele (também lábeis); já as células da medula óssea (novamente lábeis) têm regeneração completa. As células estáveis (com menor poder mitótico em relação às lábeis) possuem capacidade de regeneração bem variável de órgão para órgão. O fígado, por exemplo, regenera-se completamente, inclusive sua estrutura estromática, ou seja, vasos sangüíneos, sistema de ductos, arcabouço conjuntivo etc. Já no rim, o glomérulo não se refaz após destruição completa, mas o epitélio tubular pode se regenerar completamente. A cartilagem, por outro lado, não se refaz, assim como os ácinos das glândulas salivares. O tecido ósseo tem regeneração mais complexa, mas também pode adquirir sua estrutura original. Para as células permanentes (ou perenes), a regeneração praticamente inexiste. As células nervosas, por exemplo, não se proliferam, portanto, não se regeneram. O tecido nervoso periférico, quando agredido (por exemplo, rompimento da fibra), pode se restituir não por proliferação da célula, mas pelo prolongamento doaxônio mais próximo, juntamente com a ação de células satélites ao feixe vascular (as células de Schwann). Portanto, é um processo reparativo, mas não uma regeneração. Processo semelhante é visto nas células musculares, cuja reparação advém principalmente do sarcoplasma. 1.3. Cicatrização A cicatrização acontece quando o processo de reparo se faz à custa da proliferação do tecido conjuntivo fibroso, em que o tecido pré-existente fica substituído por cicatriz fibrosa. O processo de cicatrização pode ser conceituado como a reposição de tecido destruído por tecido conjuntivo neoformado, não especializado. A cicatrização é a forma mais comum de cura dos tecidos inflamados. Nela se tem uma reposição tecidual, porém a anatomia e a função do local comprometido não são restituídas, uma vez que se forma a cicatriz, tecido conjuntivo fibroso mais primitivo, que substitui o parênquima destruído. Para que possa haver cicatrização completa, são necessárias eliminação do agente agressor, irrigação, nutrição e oxigenação. 137 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Para muitos, o processo de cicatrização é considerado um seguimento do processo inflamatório que provocou perda de substância. Realmente, na inflamação, o reparo se faz presente desde a fase aguda, na periferia da lesão, predominando à proporção em que o processo se torna crônico e evolui para o seu término. O reparo também ocorre após perda de tecido por infarto, hemorragias, por ressecção cirúrgica, etc. Um processo especial de reparo ocorre mesmo quando não há perda de substância, mas persistência de fibrina nos tecidos, seja por falha na remoção após inflamação, seja em conseqüência da formação de um trombo. Neste caso, a substituição paulatina da fibrina por tecido fibroso recebe o nome de organização. Diferentes classificações didáticas são utilizadas para facilitar o entendimento de um processo totalmente dinâmico e com fases tão interdependentes como a cicatrização. Existem autores que consideram três estágios no processo de cicatrização: inicialmente um estágio inflamatório de demolição, seguido por um de proliferação e finalizando com o reparo em um estágio de remodelação. Em um determinado período de tempo, as fases coincidem e acontecem simultaneamente, permitindo assim o sucesso da cicatrização. CICATRIZAÇÃO DA FERIDA • Demolição • Fase de crescimento do tecido de granulação • Fase de maturação e remodelação 138 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores I. Fase de demolição: Após 24h da ocorrência da lesão, há predomínio no local de leucócitos mononucleares, principalmente os macrófagos. Estes promovem a digestão do tecido morto, do agente agressor e do coágulo - formado a partir do extravasamento de sangue no local -, elementos que levam ao desencadeamento das fases inflamatórias. Além das células inflamatórias e dos mediadores químicos, essa fase inflamatória conta com o importante papel da fibronectina. Sintetizada por uma variedade de células como fibroblastos, queratinócitos e células endoteliais, ela adere, simultaneamente à fibrina, ao colágeno e a outros tipos de células, funcionando assim como cola para consolidar o coágulo de fibrina, as células e os componentes de matriz. Além de formar essa base para a matriz extracelular, tem propriedades quimiotáticas e promove a opsonização e fagocitose de corpos estranhos e bactérias. Formações como fibrina, crosta composta de soro e hemácias, impedem que o tecido se resseque, mantendo um ambiente favorável à reparação. II. Fase de proliferação: A fase de proliferação pode ser dividida em três subfases e é a responsável pelo "fechamento" da lesão propriamente dita. A primeira das fases da proliferação é a reepitelização. Ocorre a migração de queratinócitos não danificados das bordas da ferida e dos anexos epiteliais, quando a ferida é de espessura parcial, e apenas das margens nas de espessura total. Fatores de crescimento são os prováveis responsáveis pelos aumentos das mitoses e hiperplasia do epitélio. Vários estudos têm demonstrado que a utilização de colágeno e citocinas são promessas para uma cicatrização mais rápida e eficaz. Sabe-se que o plano de movimento dos queratinócitos migrantes é determinado também pelo conteúdo de água no leito da ferida. Feridas superficiais abertas e ressecadas reepitelizam mais lentamente do que as ocluídas. 139 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A segunda fase da proliferação inclui a fibroplasia e formação da matriz, que é extremamente importante na formação do tecido de granulação (coleção de elementos celulares, incluindo fibroblastos, células inflamatórias e componentes neovasculares e da matriz, como a fibronectina, as glicosaminoglicanas e o colágeno). A formação do tecido de granulação depende do fibroblasto, célula crítica na formação da matriz. Longe de ser apenas produtor de colágeno, o fibroblasto produz elastina, fibronectina, glicosaminoglicana e proteases, estas responsáveis pelo desbridamento e remodelamento fisiológico. A última fase da proliferação é a angiogênese, essencial para o suprimento de oxigênio e nutrientes para a cicatrização. As células endoteliais proliferam e formam pequenos brotos endoteliais que crescem e penetram na zona agredida, onde se canalizam anastomosam-se a outros brotos, constituindo alças capilares. Este sistema vascular neoformado apresenta aumento da permeabilidade nas suas novas junções capilar, com grande saída de elementos sangüíneos, água, eletrólitos e proteínas. Os fibroblastos acompanham o tecido endotelial, migrando para essa nova matriz tecidual e secretando fibras colágenas. Clinicamente, observam-se no local da lesão, grânulos avermelhados e brilhantes, os quais correspondem aos brotos vasculares, mergulhados em um material gelatinoso, translúcido e frouxo. Daí o nome "tecido de granulação” que é constituído por brotos capilares em diferentes formas de organização, estroma essencialmente protéico, leucócitos e hemácias. O tecido de granulação é formado principalmente nas inflamações exsudativas, tanto supurativas quanto fibrinosas, nas inflamações crônicas em geral, em processos de trombose, quando há reorganização do trombo, em neoplasias e em ferimentos com grande perda tecidual. Nas extrações dentárias, por exemplo, a perfeita reparação do alvéolo dental depende fundamentalmente da permanência do tecido de granulação dentro do alvéolo, originado a partir da hemorragia provocada pela extração. 140 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Tecido de granulação formado no fundo de uma úlcera péptica. Fonte: http://anatpat.unicamp.br/lamtgi1.html A angiogênese é o processo pelo qual as células endoteliais secretam proteases que degradam a matriz extracelular, depois migram nos espaços perivasculares, proliferam e se alinham para formar novos vasos. Estudos in vitro têm demonstrado que as células endoteliais possuem potencialidade para formar os tubos capilares. Durante o processo de angio- gênese as células endoteliais são dirigidas por moléculas que fazem a interação célula-célula e matriz-célula. Há indícios de que moléculas da família das selectinas (E-selectina), das integrinas, das imunoglobulinas (PECAM-1, molécula de adesão celular plaqueta-endotelial) e da superfamília das caderinas, entram na formação das junções celulares e na regulação dapermeabilidade vascular. O passo inicial parece ser a fragmentação da 141 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores membrana basal do capilar, por intermédio de proteases (colagenase tipo IV e estromelisina) liberadas localmente. As células endoteliais se agrupam e fazem protrusão por entre os fragmentos das membranas basais, a princípio formando fileiras sólidas de células. Nestes brotamentos sólidos, as células endoteliais começam a apresentar vacúolos citoplasmáticos que se fusionam a princípio entre si e logo com os de células vizinhas, dando origem à nova luz vascular, enquanto o material das novas membranas basais vai sendo sintetizado. http://www.evgnvascularscience.org/deutsche/education/therapeutic.htm Os sinais ou fatores responsáveis pela angiogênese derivam de vários tipos celulares. Fatores produzidos por macrófagos (fator de angiogênese derivado de macrófago), mastócitos (heparina), plaquetas (fator de crescimento derivado de plaquetas, fator de transformação do crescimento beta) e fibroblastos (fator de crescimento do fibroblasto), têm todos efeito positivo sobre a angiogênese. As paredes destes capilares "imaturos" são muito permeáveis e deixam passar muito líquido e proteínas para o tecido extracelular, sangrando facilmente ao menor trauma e fazendo com que o tecido de granulação 142 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores apareça edemaciado. A presença abundante de ácido hialurônico na matriz extracelular também contribui para o aspecto "edemaciado", gelatinóide do tecido de granulação. Os nervos entram no novo tecido tardiamente. Por isso, o tecido de granulação não dói, embora sangre ao menor contato. Entre os capilares aparecem muitos fibroblastos, pericitos, miofibroblastos e macrófagos. A matriz extracelular vai se densificando com o passar dos dias, adquirindo cada vez mais fibras colágenas. Estas formam, a princípio, um padrão frouxo, mas pouco a pouco as fibras se dispõem em feixes paralelos, compactos, enquanto os vasos sangüíneos vão-se tornando menos proeminentes e desaparecem. Assim, o tecido de granulação acaba dando lugar a uma cicatriz fibrosa, dura, esbranquiçada e retraída. III. Fase de maturação: Nesta fase ocorre a proliferação de fibroblastos e deposição de colágeno, que comprime os capilares neoformados, diminuindo a vascularização (desvascularização). A pressão contínua do colágeno e sua retração conduzem à contração da cicatriz fibrosa. Na pele, por exemplo, a regeneração do epitélio principia por volta do segundo e terceiro dias e, no conjuntivo, observa-se proliferação fibroblástica preenchendo o defeito do tecido. Ao final, tem-se, com a colagenização, uma cicatriz acelular relativamente clara, que pode atenuar ou mesmo desaparecer clinicamente. http://www.tutoriaisclube.com/noticia.php?notid=402 O processo de remodelamento da ferida implica no equilíbrio entre a síntese e a degradação de colágeno, redução da vascularização e da infiltração de células 143 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores inflamatórias, até que se atinja a maturação. Essa é a última das fases; ocorre no colágeno e na matriz; dura alguns meses e é responsável pelo aumento da força de tensão e pela diminuição do tamanho da cicatriz e do eritema. Observamos mais de 13 tipos de fibras de colágeno, sendo os principais: Reformulações dos colágenos, melhoria nos componentes das fibras colágenas, reabsorção de água, são eventos que permitem uma conexão que aumenta a força da cicatriz e diminui sua espessura. A neovasculatura diminui, e tardiamente a cicatriz é considerada avascular. Uma cicatrização normal tem aproximadamente 80% da força de tensão da pele normal, não é volumosa e é plana. TIPO LOCALIZACAO I Todos os tecidos, exceto cartilagem e membrana basal. II Cartilagem, humor vítreo e disco intervertebral. III Pele, vasos e vísceras. IV Membrana basal 144 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A contração da ferida é um dos principais fenômenos desta fase e representa o movimento centrípeto das bordas da ferida (espessura total), impulsionada pela ação de miofibroblastos, que são fibroblastos do tecido de granulação, diferenciados, e com estrutura actina-miosina. Nos casos de queimaduras e traumas extensos, a contração é um inimigo, porque leva a deformidade estética e funcional, e denominamos de contratura. As feridas de espessura parcial não contam com essa fase. Uma ferida de espessura total tem contração, mesmo quando há enxertos, que diminuem em 20% o tamanho da ferida. Em cicatrizes por segunda intenção a contração pode reduzir 62% da área de superfície do defeito cutâneo. O crescimento do epitélio nas bordas da ferida se faz precocemente, sendo que as células epiteliais apresentam mitoses e começam a se intrometer por debaixo da crosta. Todavia, a reepitelização total do ferimento é 145 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores acontecimento terminal no processo de reparo. Geralmente, quando o tecido conjuntivo acaba de preencher o defeito, resta apenas pequena porção da superfície do ferimento ainda descoberta. Como arremate final, rapidamente as células epiteliais crescem e restabelecem a continuidade do revestimento. A princípio, a camada epitelial de revestimento é muito fina e deixa ver por transparência o tecido conjuntivo avermelhado que está abaixo, mas à proporção que o tecido conjuntivo vai se tornando mais denso com o passar do tempo, o epitélio de revestimento vai se tornando mais espesso. O processo, tal como foi descrito para a pele, é basicamente o mesmo para qualquer outra circunstância. Quanto menor a perda de substância, ou, dito de outra maneira, quanto mais próximas estiverem as bordas da ferida, mais rápido e simples será o reparo. Nas feridas cirúrgicas, o ideal é aproximar bastante as bordas com o auxílio de suturas, fazendo a aposição das mesmas quase sem deixar solução de continuidade. Quando isto acontece, o reparo se faz com um mínimo de produção de tecido conjuntivo, praticamente sem deixar cicatriz. Diz-se então que houve uma cicatrização por primeira intenção. Em contrapartida, quando o reparo se faz com produção mais evidente de tecido de granulação, usa-se o termo cicatrização por segunda intenção. 146 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Nestes casos, a cicatrização pode deixar cicatrizes maiores devido à maior perda de tecido. CICATRIZAÇÃO POR PRIMEIRA INTENÇÃO - É o exemplo de uma ferida limpa, uma incisão limpa, em que as bordas estão aproximadas, onde existe pouca perda de tecido e existe pouco ou nenhum exsudato. A fase inflamatória é mínima e normalmente a característica externa tem a aparência de uma ferida “rosa”. Na fase proliferativa, temos uma produção de fibroblasto, mas é necessária pouca epitelização. Na fase de maturação teremos uma fase de fortalecimento e encolhimento da ferida, com baixa reparação e regeneração. Exemplo: uma cicatriz cirúrgica sem complicação. 147 Este materialdeve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Cicatrização por primeira intenção numa ferida fechada, não infectada, como uma ferida cirúrgica incisional. As margens estão próximas e o processo de cicatrização evolui diretamente à produção de uma cicatriz. Fonte: http://www.forp.usp.br/restauradora/laser/Luciana/fibroblasto.html CICATRIZAÇÃO POR SEGUNDA INTENÇÃO - É aquela que ocorre quando a ferida permanece aberta, onde existe uma perda significante de tecido e onde as fases de cicatrização são bastante marcadas, com a resposta inflamatória bastante evidente. Há uma maior necessidade de tecido de granulação, com epitelização visível e necessidade de um grande processo de contração da ferida. A reparação tecidual pode ser retardada em duas circunstâncias: se a ferida for contaminada ou se a ferida for aberta. 148 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Quadro de uma cicatrização por segunda intenção. Acima: cicatrização por segunda intenção numa ferida aberta não infectada. A fenda é primeiramente preenchida por tecido de granulação, o qual se contrai e torna-se uma cicatriz. Abaixo: cicatrização por segunda intenção em uma ferida infectada (as setas vermelhas representam as bactérias). A ferida é preenchida com tecido de granulação, o qual produz pus até as bactérias serem eliminadas. Depois disso o tecido de granulação contrai e produz uma cicatriz. Fonte: http://www.forp.usp.br/restauradora/laser/Luciana/fibroblasto.html 149 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Na superfície exposta de uma ferida infectada, ocorrem ondas de neutrófilos. Mesmo se a ferida estiver suturada, as superfícies justapostas não podem se aderir umas às outras, devido ao fato de elas estarem separadas por pus. Eventualmente, as duas superfícies são cobertas por uma camada de tecido de granulação similar à membrana piogênica de um abscesso, produzindo pus. De fato, uma ferida infectada comporta-se muito mais como um abscesso bem delimitado. A reparação não pode começar até que a infecção tenha sido superada; naquele ponto da ferida, preenchido parcialmente por tecido de granulação, tornar-se-á uma ferida aberta. Dessa forma o processo de cura dessa ferida evoluirá de maneira especial. Dermatite grave infectada. Fonte: http://www.sbcp.org.br/revista/nbr253/P249_252.htm A reparação de uma ferida aberta, cirúrgica (excisional) ou acidental, apresenta um problema especial devido à sua perda de substância, que de alguma forma deve ser preenchida. O organismo é capaz de sintetizar algum preenchimento, como o tecido de granulação, porém tem um mecanismo coadjuvante mais rápido. Após um período que varia entre cinco e nove dias, as margens da ferida movem-se uma contra a outra, como se houvesse uma força invisível de tração. Este fenômeno é conhecido por "contração da ferida". Embora presente em qualquer cicatrização, a 150 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores maior quantidade de tecido de granulação fará com que o fenômeno ocorra de maneira quantitativamente mais exuberante. Essa contração de feridas abertas é feita por pelo menos dois mecanismos distintos. Durante os primeiros dias, numa ferida aberta não coberta com um curativo úmido, é a crosta que contrai. A crosta consiste principalmente de fibrina seca. Quando ela resseca, ela se contrai, e estando firmemente ancorada no tecido de baixo, ela pode reduzir a superfície de uma ferida pequena aberta. Outro mecanismo de contração começa a acontecer após cerca de uma semana, é um estirão mecânico muito forte. Isso ocorre porque as feridas, abertas ou não, contém células capazes de contrair-se. Essas células são conhecidas por miofibroblastos. RESUMO DAS PRINCIPAIS CITOCINAS ENVOLVIDAS NA CICATRIZAÇÃO: CITOCINA CÉLULA PRODUTORA AÇÕES PDGF fator de crescimento derivado de plaquetas Plaquetas, macrófagos e células epiteliais Regulação da fase inflamatória da síntese de matriz extracelular TGF-B fator de crescimento beta de transformação Plaquetas, linfócitos, macrófagos, e células endoteliais, fibroblastos e células musculares lisas. Presente em todas as fases. Estimula a síntese de colágeno e matriz extracelular, proliferação de fibroblastos e células endoteliais FGF fator de crescimento de fibroblastos Macrófagos e células endoteliais Induzem a angiogênese EGF fator de crescimento da epiderme Queratinócitos Estimula migração, proliferação e diferenciação de queratinócitos e fibroblastos KGF fator de crescimento de queratinócitos Fibroblastos Estimula migração, proliferação e diferenciação de 151 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores queratinócitos IGF-1 fator de crescimento insulina Vários tipos celulares Induzem a síntese de colágeno e matriz extracelular, além de facilitar a proliferação de fibroblastos 1.4. Fatores que interferem no processo de reparação I. FATORES GERAIS O fator mais importante é o estado nutricional do indivíduo. Seja na defesa contra as infecções, seja diante da necessidade de produzir um novo tecido, há um metabolismo em emergência que necessita do aporte de nutrientes. As proteínas são essenciais para a síntese das enzimas, do colágeno, dos anticorpos, dos hormônios, enfim, das células e dos tecidos. Há também alguns elementos mais simples, como o ácido ascórbico (vitamina C), que têm influência na reticulação e, conseqüentemente, no fortalecimento do colágeno. A deficiência da vitamina C (escorbuto) se acompanha de cicatrização defeituosa e da formação de colágeno muito frágil, sem força tênsil. Também o zinco, um co-fator para muitas enzimas, parece ter influência na cicatrização. A influência do sistema imune é óbvia. Dados recentes apontam que o estresse pode influenciar negativamente a cicatrização dos ferimentos e que isto se deve à baixa produção da IL-2 nos indivíduos sob pressão psicológica. A importância no fator idade pode ser sugerida pela observação da rapidez com que os processos de reparo ocorrem nas crianças e nos adultos jovens em comparação com os indivíduos mais velhos. Das doenças sistêmicas, o diabetes constitui um problema para o processo de cicatrização, sobretudo pela tendência do diabético em sofrer infecções. É provável que outros fatores, como a presença de microangiopatia, contribuam para má cicatrização das feridas nos diabéticos. É também provável que o excesso de glicose nos tecidos seja suficiente para perturbar o fino ajuste dos fatores que operam na cicatrização. 152 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores II. FATORES LOCAIS Dos fatores locais, interferem a técnica cirúrgica, a formação de hematomas, infecção, reação de corpo estranho, uso de drogas tópicas, ressecamento durante a cicatrização. Esses fatores devem ser de conhecimento do profissional e merecem atenção especial. Por exemplo, nas cirurgias dermatológicas, que na maioria das vezes são eletivas, três são os fatores que devem ser destacados: 1- Técnica cirúrgica: devem-se respeitar as unidades cosméticas e linhas de força; deve-se respeitar o manuseiodelicado evitando pinçamento das bordas; deve-se evitar o uso excessivo e, muitas vezes, desnecessário de eletrocautério; deve ser utilizado material apropriado e de boa qualidade; suturas subcutâneas para diminuição do espaço morto. Quanto à sutura da pele: promover uma aproximação natural das bordas, sem demasiado aperto, evitando isquemia, necrose e infecção da cicatriz. 2- Uso de drogas sistêmicas e principalmente tópicas. Drogas sistêmicas: especial cuidado com pacientes em uso de anticoagulantes, antiagregantes plaquetários, corticosteróides, antineoplásicos, isotretinoína. Além dos fármacos, a nicotina deve ser considerada e melhores resultados são conseguidos com a abstinência do cigarro durante 10 dias, pelo menos, antes da cirurgia e três semanas após. Drogas tópicas, como o uso desnecessário de associações de antibióticos, corticóides e antifúngicos: vários agentes tópicos atrapalham a migração epidérmica, se comparada ao não-tratamento: acetonido de triancinolona 0,1% diminui 34% a taxa relativa de cura; nitrofurazona diminui 30%. Já o peróxido de benzoíla e coberturas com permeabilidade seletiva melhoram em 14%, a sulfadiazina de prata e pomada neosporina, em 28%. 3- Ressecamento das feridas. Popularmente há a crença de que "ferida seca cura mais rápido". Estudos demonstram que as feridas abertas formam crosta e epitelizam mais lentamente. Inúmeros curativos são então utilizados para produzir umidade local, melhorando de 35% a 45% a taxa de reepitelização de feridas profundas. 153 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Quanto aos fatores locais, devemos considerar que: a) a crosta que cobre o ferimento tem papel protetor e não deve ser intempestivamente removida; b) tudo que prolongue o processo inflamatório deve ser evitado: infecções, presença de corpos estranhos no ferimento, como fragmentos ósseos, restos de fios de sutura, restos de tecidos desvitalizados; c) a mobilização, pelo tipo de trauma que pode provocar, ou outro tipo qualquer de trauma pode causar ruptura dos delicados capilares do tecido de granulação, provocando hemorragia. A hemácia extravasada pode ser considerada como um tipo de corpo estranho. Os tecidos desvitalizados por queimaduras, irradiação etc., presentes nas bordas de um ferimento, têm vasos sanguíneos comprometidos. Muitas vezes o cirurgião tem de remover tais tecidos para fazer a aproximação de bordas melhor vascularizadas para uma cicatrização mais eficiente. Há, evidentemente, particularidades na cicatrização que se processa nos diversos órgãos e tecidos, como no tecido ósseo, no tecido nervoso, no fígado, no rim etc. Todavia, o processo básico é o mesmo. 154 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1.5. Reparo dos tecidos especializados I. Reparo do Tecido Pulmonar TECIDO DE CÉLULAS LÁBEIS OU ESTÁVEIS Pulmão normal Lesão tecidual Necrose Inflamação aguda com ME intacta ME lesada O reparo dos alvéolos pulmonares irá ocorrer de acordo com a proliferação dos pneumócitos. Pode haver dois tipos de lesões pulmonares: uma lesão com necrose e inflamação aguda, mantendo a matriz extracelular intacta e uma lesão com necrose e inflamação aguda com destruição da camada basal e destruição da matriz extracelular. No primeiro caso, como não há o envolvimento do estroma, a reparação se procede com a regeneração tecidual, caracterizada pela proliferação dos pneumócitos e reestruturação morfofuncional do pulmão. Isso é possível uma vez que as células de revestimento dos alvéolos pulmonares são células lábeis, com capacidade regenerativa. 155 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores . Inflamação aguda com ME intacta Pulmão normal Regeneração Entretanto, no segundo caso, o estroma também é envolvido na lesão. Por isso, a reparação tecidual vai ocorrer através da cicatrização. Haverá a proliferação dos fibroblastos e deposição de colágeno, culminando para a fibrose intersticial dos alvéolos pulmonares. Neste caso, há perda da morfologia e função normal do órgão. 156 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores ME lesada Fibrose intersticial Fibrose II. Reparo do tecido cardíaco O processo de reparo do tecido cardíaco ocorre sempre através da cicatrização, ou seja, por meio da substituição das células musculares cardíacas por tecido conjuntivo fibroso. Esse processo ocorre porque as células cardíacas são células permanentes, apresentando alta diferenciação e especialização e pouca capacidade regenerativa. 157 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores TECIDO DE CÉLULAS PERMANENTES Coração normal Lesão tecidual Necrose Inflamação aguda Inflamação aguda Cicatriz miocárdica Fibrose 158 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores INFARTO DO MIOCÁRDIO 159 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores III. Reparo do tecido ósseo O osso é um tecido conjuntivo especializado, composto por fases minerais e orgânicas, perfeitamente organizado para desempenhar suas funções. Ele é formado por uma combinação de osso compacto denso e osso esponjoso (trabecular). O osso compacto contém, em média, cerca de 30% de matriz orgânica e 70% de sais. Contudo, o osso recém-formado pode conter uma porcentagem consideravelmente maior de matriz em relação aos sais. O tecido ósseo é distinguido dos outros tecidos pela presença de fosfato e cálcio mineral ao longo das fibras colágenas, como a hidroxiapatita [Ca10(PO4)6OH2], que incorpora em sua estrutura outros íons e sais, sendo o principal componente mineral constituinte do osso e o elemento essencial responsável pela função de apoio mecânico. Devido à sua dinâmica, o tecido ósseo está constantemente sofrendo remodelação, um processo complexo que envolve a reabsorção do osso numa superfície em particular, seguida por uma fase de formação óssea. Em adultos normais, há um equilíbrio entre a quantidade de osso reabsorvido pelos osteoclastos e a quantidade de osso formado pelos osteoblastos No osso, células distintas são principalmente responsáveis pela formação, reabsorção e manutenção da osteoarquitetura. Os osteoblastos, provenientes das células osteoprogenitoras, são responsáveis pela síntese dos componentes orgânicos da matriz óssea. Localizam-se na superfície do osso apresentando-se como uma lâmina de células cubóides a colunares. Os osteoblastos aprisionados em lacunas da matriz óssea são conhecidos por osteócitos, sendo consideradas células maduras responsáveis pela manutenção do tecido ósseo e apresentam baixa atividade metabólica, poucas organelas de síntese, núcleo achatado e morfologia obedecendo à forma da lacuna óssea. A reabsorção do osso é feita por grandes células multinucleadas chamadas de osteoclastos. O precursor destes origina-se da medula óssea, sendo denominado de célula progenitora granulócito-macrófago. 160 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo sãodados aos seus respectivos autores Remodelação e reparo Remodelação Formação de tecido ósseo (osteoblasto), associada à reabsorção parcial de tecido já formado (osteoclasto) Reparo Reestruturação da matriz óssea após fratura Coágulo é removido por macrófagos; proliferação de endósteo e periósteo; formação de cartilagem dando lugar à ossificações tanto endocondral quanto intramembranosa; formação do calo ósseo (imaturo), que é posteriormente substituído por osso lamelar http://www.icb.ufmg.br/mor/biocelch/material_fto_greg/osseo.ppt#280,10,Slide 10 161 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Na linha da fratura, originalmente preenchida por sangue e fibrina, forma-se após poucas semanas o tecido de granulação, constituído por capilares neoformados, fibroblastos e células mesenquimais imaturas e multipotenciais. Estas têm capacidade para diferenciar-se em condroblastos, que, depositando matriz cartilaginosa, originarão o calo cartilaginoso, ou em osteoblastos, que depositam matriz óssea, originando diretamente osso neoformado (portanto, ossificação membranosa). O conjunto dos dois tecidos forma o calo provisório da fratura. A parte cartilaginosa do calo origina também tecido ósseo por ossificação encondral. http://www.icb.ufmg.br/mor/biocelch/material_fto_greg/osseo.ppt#280,10,Slide 10 Na primeira fase da ossificação membranosa, as células imaturas do tecido de granulação se diferenciam em osteoblastos e passam a sintetizar matriz óssea, que consiste de fibras colágenas e proteoglicanas de constituição química adequada 162 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores a receber sais de cálcio. As fibras colágenas se dispõem em feixes orientados em várias direções. Com a mineralização, passam a formar o osso imaturo. http://anatpat.unicamp.br/lamosso3.html Numa segunda fase, o osso imaturo será aparado por osteoclastos, e novas etapas de ossificação vão se seguir através de osteoblastos dispostos em uma camada na superfície da nova trabécula óssea. Após vários ciclos de deposição e remoção chega-se ao calo ósseo definitivo, que será constituído por osso lamelar ou maduro. Os osteoblastos depositam matriz óssea na superfície da nova trabécula. Têm núcleo volumoso e nucléolo evidente, demonstrando ativa síntese protéica. O citoplasma tende a acidófilo devido à riqueza em filamentos intermediários. À medida que sintetizam matriz são envolvidos por ela e incorporados à trabécula, passando a 163 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores chamar-se osteócitos, que são menores, têm núcleo mais compacto que o dos osteoblastos, e ficam alojados em pequenas cavidades no seio da matriz óssea. http://anatpat.unicamp.br/lamosso3.html Os osteoclastos continuamente aparam e desbastam as trabéculas neoformadas. Sua ação faz contraponto com a dos osteoblastos, permitindo a moldagem das novas trabéculas segundo as linhas de força. Os osteoclastos são atraídos por mediadores químicos sintetizados pelos próprios osteoblastos. Assim, quando aumenta a quantidade de osteoblastos aumentam também os osteoclastos. 164 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores http://anatpat.unicamp.br/lamosso3.html Na ossificação endocondral observada em uma fratura, tecido cartilaginoso é substituído por tecido ósseo imaturo. O processo é semelhante ao observado na placa epifisária durante o crescimento de ossos longos. Porém, nesta última, as células cartilaginosas estão orientadas em colunas. No calo cartilaginoso de uma fratura as células estão desordenadas. http://anatpat.unicamp.br/lamosso3.html 165 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores No início da ossificação endocondral há deposição de cálcio na matriz cartilaginosa. Isto prejudica a nutrição dos condrócitos, que degeneram. Seus núcleos ficam picnóticos, e sofrem cariólise. A matriz cartilaginosa parcialmente calcificada e restos necróticos de condrócitos são removidos por osteoclastos. http://anatpat.unicamp.br/lamosso3.html 166 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ANDRADE, E. D. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia. São Paulo: Artes Médicas, 2002. BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo: Patologia Geral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. FARIA, J. L. Patologia geral: fundamentos das doenças, com aplicações clínicas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. MONTENEGRO, M. R.; FRANCO, M. Patologia: processos gerais. São Paulo: Atheneu, 2004. WANNMACHER, L.; FERREIRA, M. B. C. Farmacologia clínica para dentistas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995. ------------------------------FIM DO MÓDULO V-------------------------------------