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CURSO DE BACHARELADO EM MEDICINA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE ALAGOAS CIDADANIA E EQUIDADE Ana Laura Cavalcante Vasconcelos Beatriz Gonçalves Luciano Gabriel José Torres da Silva José Riccardo Ferrette Barreto Thayse de Souza dos Santos PROTOCOLO DE ATENDIMENTO À SAÚDE DOS TRANSEXUAIS MACEIÓ, 2019 Ana Laura Cavalcante Vasconcelos Beatriz Gonçalves Luciano Gabriel José Torres da Silva José Riccardo Ferrette Barreto Thayse de Souza dos Santos PROTOCOLO DE ATENDIMENTO À SAÚDE DOS TRANSEXUAIS Relatório solicitado à turma de 1º ano do Curso de Bacharelado de Medicina da Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas - UNCISAL, como requisito avaliativo parcial da disciplina Cidadania e Equidade. Orientadores: Professora Titular, Mestre, Sandra Bomfim de Queiroz MACEIÓ, 2019 Sumário 1. Introdução ........................................................................................................................... 1 2. Conceitos Relacionados ..................................................................................................... 1 3. Discriminação e preconceito x acesso à saúde ................................................................. 2 4. Processo Transexualizador no SUS .................................................................................. 2 5. Atendimento ao usuário LGBT ........................................................................................... 2 6. Conclusão ........................................................................................................................... 3 7. Referências bibliográficas .................................................................................................. 5 1 1. Introdução Albert Einstein certa vez disse que seria mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito. E, mesmo no século seguinte ao vivido pelo físico alemão, sua frase ainda permanece atual, visto que ainda há preconceitos imbricados na sociedade brasileira que parecem ser mais resistentes do que o núcleo atômico. Entretanto, assim como a fissão nuclear já é possível, as políticas de equidade são protagonistas quando o assunto é a difícil missão de desintegrar os preconceitos ainda presentes. É sabido que a Equidade é um dos Princípios Doutrinatários do Sistema Único de Saúde (SUS) que tem ligação direta com conceitos de igualdade e justiça social. Esse mesmo conceito de Equidade considera os impactos na saúde das diferentes formas de preconceito e discriminação social, como o racismo, a misoginia, a LGBTfobia e a exclusão social de populações que vivem em situação de rua ou em condições de isolamento territorial, como as do campo, da floresta, das águas, dos quilombos e em nomadismo, como no caso dos ciganos.¹ No que diz respeito à saúde da população transexual, historicamente, a visibilidade das questões de saúde da população LGBT deu-se a partir da década de 1980, quando o Ministério da Saúde adotou estratégias para o combate à epidemia do HIV/Aids em parceria com os movimentos sociais vinculados à defesa dos direitos de grupos gays. Diante disso, constata-se a necessidade,ao longo da História, de os profissionais de saúde terem o conhecimento dos protocolos de atendimento à saúde dessa parcela da situação e assim contribuir para desintegrar os preconceitos ainda presentes.¹ 2. Conceitos Relacionados Ao se tratar do universo LGBTQI+, deve-se ter determinados cuidados em relação aos termos utilizados. Termos essenciais à temática são identidade de gênero e orientação sexual, que são elucidados pela cartilha do ministério da saúde ‘’Cuidar bem da saúde de cada um: É bom para todos. É bom para o Brasil’’. Nesse viés, o termo identidade de gênero corresponde a como o indivíduo se enxerga com relação a si, podendo isso ser incompatível com o sexo que lhe foi imposto pelo ato da concepção, ou até mesmo podendo não se identificar binariamente pelas identidades de homem ou de mulher. O segundo, refere-se à capacidade individual de desenvolver e sentir atração sexual, nesse campo os indivíduos podem ser homossexuais, quando a sentem por indivíduos de mesmo sexo, heterossexuais, quando a sentem pelo sexo oposto ou bissexuais, quando sentem por ambos, o indivíduo pode ser destituído desse desejo, e se assim for, será assexual.⁴ Além disso, é preciso atentar para a diferença, ainda negligenciada, entre os conceitos de transecuais e travetis. É sabido que o termo transexuail é usado para designar indivíduos que não se identificam com a sua genitália biológica e nem com as atribuições socioculturais atribuídas estereotipicamente aos “papéis de gênero” e, algumas vezes, optam por mudanças corporais, seja através da hormonioterapia, seja através da cirurgia de redesignação sexual para, assim exercer sua identidade de acordo com o seu bem-estar biopsicossocial. Por outro lado, o conceito de travesti está relacionado ao ao mundo do gênero feminino no que diz respeito às aparências e formas assumidas por meio do uso de hormônios feminilizantes e/ou aplicações de 2 silicone, tendo como característica marcante a mistura das características femininas e masculinas em um mesmo corpo. Dessa forma, o conceito de travesti está além dos conceitos engessados de masculino e feminino.⁴ 3. Discriminação e preconceito x acesso à saúde A transfobia representa a intolerância e todo tipo de preconceito em relação às travestis, às mulheres transexuais e aos homens trans. Nesse viés, a pouca experiência dos serviços de saúde em relação ao tema da saúde trans constitui uma barreira aos cuidados em saúde desta população. É preciso, portanto, dar importância às trajetórias de vida dessas pessoas, que passam por intenso sofrimento, depressão, processos de automutilação e até tentativas de suicídio que, na maioria das vezes, estão relacionadas aos diferentes tipos de violência e privações a que foram submetidos(as) pela sociedade ao longo de suas vidas, além da dificuldade de acesso ao Processo Transexualizador.² 4. Processo Transexualizador no SUS O Processo Transexualizador foi instituído pelas Portarias nº 1.707 e nº 457 de agosto de 2008 e ampliado pela Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013 e garante o atendimento integral de saúde a pessoas trans, incluindo acolhimento e acesso com respeito aos serviços do SUS, desde o uso do nome social, passando pelo acesso à hormonioterapia, até a cirurgia de adequação do corpo biológico à identidade de gênero e social.⁴ Nesse contexto,a Atenção Básica é responsável pela coordenação do cuidado e por realizar atenção contínua à população que está sob sua responsabilidade, e quando necessário, conforme identificação prévia de suas demandas, realizar o encaminhamento aos serviços especializados no Processo Transexualizador (Atenção Especializada). Concomitantemente, os serviços especializados no Processo Transexualizador (Atenção Especializada) devem realizar o acolhimento, o cuidado, o acompanhamento dos(as) usuários(as) com demanda no Processo Transexualizador, para realização de procedimentos ambulatoriais e/ou cirúrgicos, contemplados pela Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013.² No Brasil, o SUS conta com somente cinco hospitais habilitados para o Processo Transexualizador pelo Ministério da Saúde. Sendo três no eixo sul-sudeste e apenas um no nordeste. Entretanto, ainda que tais serviços não estejam disponíveis em todas as regiões do país, eles contam com uma rede multiprofissional e trabalham articulados com serviços de transferência.³ Assim, percebe-se que a implementação do Processo Transexualizador no SUS, que regulamenta os procedimentospara a readequação sexual, se insere no contexto da Política Nacional de Saúde Integral LGBT e o desafio subseqüente é a garantia do acesso a todas as pessoas que necessitam desta forma de cuidado.⁴ 5. Atendimento ao usuário LGBT O histórico de violações contra as populações LGBT é muito extenso, seja na própria família, escolas, ou ainda pelo serviço público. Como consequência destas ações, verifica-se uma reclusão deste grupo e seu afastamento das políticas públicas.² 3 Dentro do âmbito da saúde, ainda é visível que é dado tratamento indevido à esta população. Fato que gera uma problemática importante, no que tange a saúde brasileira, visto que eles só buscam as unidades de saúde quando suas patologias se encontram em estado agravado.² Fatores como o citado anteriormente, causam redução da qualidade de vida, e ainda menor expectativa de vida para a população LGBT. Situação que por meio de procedimentos, estabelecidos por diversas entidades, busca ser revertida, em prol de uma sociedade mais igualitária.² Alguns autores trazem algumas recomendações que devem ser seguidas por profissionais da saúde, quando no atendimento à estas populações, como:² ● Enxergar na perspectiva do outro; ● Transversalizar a temática; ● Quando o privado é público; ● Instrumentalidade a serviço da luta contra a homofobia; ● A importância do trabalho em rede; ● Garantia de sigilo e respeito; ● Empoderamento do usuário a cerca dos seus direitos; ● Análise das demandas, fechamento e solução de casos Quando se trata do atendimento direto ao usuário LGBT, e mais especificamente as pessoas trans, deve-se sempre chamá-los pelo nome com o qual se identificam. O uso do nome social é um direito dentro do Sistema Único de Saúde e das instituições públicas. Mesmo os serviços de saúde privados podem ser processados judicialmente caso não respeitem o nome social, pois apesar de não haver lei específica, há jurisprudência no tema.³ Outro ponto importante é abordar homossexualidade, a bissexualidade e a assexualidade como "orientações afetivo-sexuais. No que tange ao rastreamento de doenças como câncer de colo de útero, câncer de próstata e câncer de mama, os procedimentos do Ministério da Saúde devem ser seguidos normalmente.³ 6. Conclusão Desse modo, fica evidente a questão do atendimento da população transsexual na saúde como algo complexo, que vai além da visão imposta pelo senso comum de humanização enquanto mero respeito às diferenças. Isso implica que os profissionais da saúde devem ser detentores dos conhecimentos do protocolo, para que sejam efetivamente capazes de manter uma relação transversal com seus pacientes, de modo em que ambos possam compartilhar experiências sem existência de julgamentos que, para além de causar constrangimento, dificultam a efetividade das intervenções de profissionais na saúde dos indivíduos. Assim, as políticas de saúde constituem uma forma de garantir a convivência e atendimento satisfatórios entre as diferentes populações, e não devem ser subestimadas por se tratarem de tecnologias leves ou leve-duras. Reafirma-se ainda a importância dessas para garantir a efetivação da Política Nacional de Humanização, e, por conseguinte, dos três princípios doutrinários pregados pelo Sistema Único de Saúde (SUS): Integralidade, Universalidade e Equidade. Pois, na ausência de realização desses protocolos, toda a relação com o paciente é comprometido, impedindo a visualização do mesmo como um todo de necessidades complexas que 4 permeiam os campos físico, social e metafísico, de modo que se pode compreender a quebra desses protocolos como um desrespeito ao SUS. 5 7. Referências bibliográficas 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização (PNH): documento base para gestores e trabalhadores do SUS. 4.ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. 2. SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E DIREITOS HUMANOS (Pernambuco). Secretaria Executiva de Justiça e Direitos Humanos. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO ÀS DEMANDAS LGBT ACOMPANHADAS PELO CENTRO ESTADUAL DE COMBATE À HOMOFOBIA 2012 - 2013. 2011. Disponível em: http://www2.sedsdh.pe.gov.br/c/document_library/get_file?uuid=dd12920f- 1b2b-4ca0-8d0d-3673211e12c2&groupId=17459. Acesso em: 16 nov. 2019. 3. O TRATAMENTO IDEAL DA POPULAÇÃO LGBT NA ÁREA DA SAÚDE. 2017. Disponível em: https://www.sbmfc.org.br/noticias/o-tratamento-ideal-da- populacao-lgbt-na-area-da-saude/. Acesso em: 16 nov. 2019. 4. BRASIL. Ministério da Saúde. CUIDAR DA SAÚDE DE CADA UM: FAZ BEM PARA TODOS. FAZ BEM PARA O BRASIL. 2016. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/18/CARTILHA -Equidade-10x15cm.pdf. https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/18/CARTILHA-Equidade-10x15cm.pdf https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/18/CARTILHA-Equidade-10x15cm.pdf
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