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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI SUPERVISÃO ESCOLAR GUARULHOS – SP 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 HISTÓRIA DA SUPERVISÃO ESCOLAR ............................................................... 4 3 SUPERVISOR ESCOLAR: CONCEITO, ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES. ............................................................................................. 6 3.1 Planejamento participativo na escola. ................................................................... 9 3.2 Obstáculos enfrentados pelo supervisor escolar no planejamento pedagógico. . 13 4 O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR NO PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO- ESCOLAR ................................................................................................................. 16 5 INSPEÇÃO ESCOLAR ......................................................................................... 17 6 INSPEÇÃO X SUPERVISÃO ................................................................................ 23 6.1 O papel da inspeção escolar ............................................................................... 27 6.2 Atribuições do cargo de inspetor escolar ............................................................ 28 7 ANÁLISE DA GESTÃO EDUCACIONAL .............................................................. 33 7.1 Aportes legais e normativos da gestão escolar ................................................... 36 7.2 Eixos de trabalho da gestão escolar ................................................................... 39 7.3 Desafios e perspectivas da gestão escolar ......................................................... 40 8 INTEGRAÇÃO ENTRE INSPEÇÃO ESCOLAR E GESTÃO DA ESCOLA: DESAFIOS ................................................................................................................ 41 9 COMUNIDADE ESCOLAR: SUJEITOS E RELAÇÕES ........................................ 47 9.1 Equipes de trabalho e liderança .......................................................................... 53 9.2 A formação em serviço ....................................................................................... 58 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ...................................................................... 63 10.1 Bibliografia Básica ............................................................................................ 63 10.2 Bibliografia Complementar ................................................................................ 63 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 HISTÓRIA DA SUPERVISÃO ESCOLAR A supervisão surgiu no Brasil pela primeira vez com a Reforma Francisco Campos, Decreto-Lei nº 19.890, de 18 de abril de 1931, concebida de forma bem diferente da que se vinha realizando até aquele momento de simples fiscalização, para assumir o caráter de supervisão e inspeção (RANGEL, 2001). Também há evidências que o termo supervisão surgiu no período da Revolução Industrial, com o objetivo de aperfeiçoar produção quantitativa e qualitativa, visando o lucro dessa forma. Por isso a função do supervisor surgiu devido à necessidade de melhores técnicas para orientar os profissionais a exercerem suas funções na indústria, comércio e escola (ALVES, 2012; RANGEL, 2001). Ao longo do tempo, prevaleceu uma imagem da supervisão ligada à fiscalização e ao controle. Contudo, alguns estudos históricos revelam que se muitas vezes eles pareciam ligados aos políticos pela hierarquia administrativa e enfrentando os docentes, outras tantas se recortavam com independência dos mandatos governamentais e se uniam às lutas do magistério. Este leque de posições em torno do vínculo com as gestões políticas e com os mestres também está presente nos discursos e práticas que hoje os supervisores realizam. (FERREIRA, 2010, apud, PEREIRA, 2014, p. 3). Etimologicamente, supervisão significa "visão sobre", e da sua origem traz o viés da administração, que a faz ser entendida como gerência para controlar o executado. Desta forma, quando transporta para a educação, passou a ser exercida como função de controle no processo educacional (FERREIRA, 2010). Assim, a função de Supervisor escolar propriamente dita só veio a ser regulamentada oficialmente pelo Parecer Nº 252/69, com a finalidade de promover a melhoria na qualidade do ensino (MENDES, 2009). Recentemente (Decreto Lei 95/97 de 23/4), a supervisão foi assumida como uma das áreas de formação especializada já previstas na Lei de Bases do Sistema Educativo (1986) e no Decreto-Lei que aprovou o regime jurídico da formação de educadores e professores (Decreto-Lei 344/89 de 11/10). Efetivamente, o reforço da autonomia das escolas como fator de construção de uma escola democrática e de qualidade traduziu-se também no reconhecimento oficial da necessidade de formações especializadas para o exercício de cargos, funções ou atividades especificas, por meio de cursos de especialização realizados em instituições do ensino superior. Define-se que a área de supervisão pedagógica e formação de formadores visa "qualificar para o exercício de funções de gestão e coordenação de projetos e atividades de formação inicial e contínua de educadores e professores" (RANGEL, 2011, apud, PEREIRA, 2014, p. 3). 5 A partir da década de 80, surge uma nova concepção de Supervisão Escolar através da Gestão Democrática, devido grandes discussões entre político e educacional, pois a figura do supervisor desponta como elemento de intermediação associada a ideia de mudança com aplicação de novas propostas curriculares. A origem da supervisão escolar também está associada ao Programa de Assistência e Formação de Professores Leigos (PABAEE), implantado no Brasil por influência norte-americana. Com isso, o conceito de supervisão educacional tem sofrido alterações no decorrer do tempo, alterando seus objetivos de acordo com as diferentes etapas que marcaram o processo evolutivo dessa profissão. Tais alterações geraram mudanças profundas na maneira de encarar a tarefa educativa e na compreensão da escola como local especializado para conduzir o processo educativo (FERREIRA, 2010). Fonte: www.portal.varzeapaulista.sp.gov.br/governo/unidades-gestoras-municipais/educacao. A supervisão encontra seus fundamentos nas ciências da educação e nas ciências sociais que explicam a criação e o desenvolvimento dos grupos organizados socialmente para realizar funções ou atividades consideradas desejáveis. A política da Gestão Democrática, implantada no sistema de ensino com a Constituição de 1988, reforçou o discurso de que a escola pública pertence ao setor público. Desse modo determinou-se legalmente a implementação de um trabalho pedagógico articulado, com o objetivode tornar possível a elaboração de um projeto educacional que vincule projetos pessoais dos educadores a um projeto mais amplo 6 e que envolva o fazer individual e o coletivo, dando ainda mais importância à função do supervisor escolar. Outro ponto importante é o significado específico que o termo "supervisão" adquire nos diferentes sistemas de ensino. No estado de São Paulo a expressão esteve sempre relacionada ao cargo de "supervisor", alocado nas delegacias de ensino (Lei Complementar nº836, dezembro 1977). Nos demais estados, não existe o cargo, mas a função. Esse profissional fica na escola e realização a "supervisão pedagógica", junto aos professores, recebendo nome de coordenador, orientados, assistente pedagógico ou equivalente. Essa distinção torna-se importante, visto que decorrem algumas dificuldades de entendimento de muitas críticas feitas ao trabalho do "supervisor", para pessoas não familiarizadas com o sistema paulista de ensino (FERREIRA, 2010). A profissão de Supervisor Escolar ou Supervisor Educacional sempre foi carregado de indefinições, embora este profissional contribua decisivamente para o êxito das práticas educativas no contexto escolar. 3 SUPERVISOR ESCOLAR: CONCEITO, ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES. Conforme Alhures, não há, no Brasil, previsão legal acerca do reconhecimento do profissional supervisor escolar. Para fins de atribuições, utilizar-se-á o que prevê o PL 4.106/2012. Supervisionar o cumprimento dos dias letivos e horas/aula estabelecidos legalmente; orientar e acompanhar os professores no planejamento e desenvolvimento dos conteúdos; planejar e coordenar atividades de atualização no campo educacional; coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades do educando; acompanhar o desenvolvimento da proposta pedagógica da escola e o trabalho do professor junto ao aluno, auxiliando em situações adversas; participar da análise qualitativa e quantitativa do rendimento escolar, junto aos professores e demais especialistas, visando a reduzir os índices de evasão e repetência, e qualificar o processo ensino-aprendizagem; e valorizar a iniciativa pessoal e dos projetos individuais da comunidade escolar; entre outras. (BRASIL, 2012, apud SOUZA, 2017, p. 486). O que é traçado pelo PL já tem sido feito há muito pelos profissionais que desempenham essa função nas escolas. Alguns municípios, como Osório, no Rio Grande do Sul, sequer realizam concurso público para essa área, tendo em vista a ausência legal de regulamentação. 7 Noutro prisma, alguns autores auxiliam a conceituar e a compreender o que é a função do supervisor escolar, qual a mais importante que ele deve desempenhar. Nesse sentido, Ferreira (2007, p. 327) afirma que o significado essencial do supervisor escolar está na “formação humana” do processo educacional. Libâneo (2002, p. 35) descreve o supervisor escolar como “um agente de mudanças, facilitador, mediador e interlocutor”. Portanto, seria um profissional apto a realizar a interlocução entre direção escolar, educandos, educadores e todos os demais indivíduos que, de alguma forma, fazem parte da comunidade escolar. Teria como objetivo principal contribuir para o desenvolvimento individual, político, econômico, ético e afim. Assim, buscando romper com “a cultura política do Brasil há 500 anos, que foi sempre fazer da educação uma grande bandeira, mas sempre a reduziu”. Para os dominantes, o povo é analfabeto, é ignorante, é bárbaro, e a educação viria, então, para resolver esses “problemas”. (ARROYO, 2000, p. 2). Essa cultura política invadiu a cultura pedagógica. A partir de tais conceitos, é possível perceber que o supervisor escolar deve desenvolver uma ação crítica, construtiva e participativa acerca do seu saber-fazer pedagógico, sempre trabalhando de forma articulada, lógica e coerente com todos os sujeitos que interagem no espaço escolar. Todas as suas ações devem visar à qualidade do ensino, bem como à qualidade da aprendizagem. Para a escola atingir bons resultados na aprendizagem dos educandos, são necessários planejamento, avaliação e aperfeiçoamento das suas próprias ações pedagógicas, a fim de que o processo educacional seja qualitativo. Tais ações são vistas como de responsabilidade do supervisor escolar e devem garantir à escola resultados excelentes, bem como envolver toda a comunidade nas tomadas de decisão que se refiram ao bom andamento da escola, ou seja, a comunidade deve participar do seu Projeto Político-Pedagógico, de forma ativa, demandando seus anseios e perspectivas à gestão da escola. E essa deve ter a perspicácia de articular os múltiplos saberes que entrecortam a vida dos estudantes, através de seus professores, da família e do seu entorno, que são tão educativos quanto o próprio espaço escolar. Subestimar a sabedoria que resulta necessariamente da experiência sociocultural é ao mesmo tempo, um erro científico, e a expressão inequívoca da presença de uma ideologia elitista. Talvez seja mesmo, o fundo ideológico escondido, oculto, opacizando a realidade objetiva, de um lado, e fazendo do outro, míopes os negadores do saber popular, que os induz ao erro científico. (FREIRE, 1992, apud SOUZA, 2017, p. 487). 8 Nesse viés, o supervisor escolar tem como objetivo aperfeiçoar o fazer dos educadores que atuam no espaço escolar, identificando suas potencialidades, sua personalidade, suas qualidades, a fim de que cada um contribua para um planejamento pedagógico a partir dentro daquilo que melhor sabe fazer. Essa identificação exige do supervisor escolar uma atualização constante, bem como uma avaliação do seu desempenho profissional. Com isso, é muito importante que esse profissional tenha comprometimento com a práxis educativa, que entenda o meio em que a escola está inserida, provocando, assim, nos educadores, especialmente, o interesse em aliar os conteúdos programáticos à realidade dos estudantes, fazendo com que os professores compreendam que: A escola deve respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes mais populares, cujos saberes são socialmente construídos na prática comunitária [...], discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino de alguns conteúdos [...] porque não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina. (FREIRE, 2006, apud SOUZA, 2017, p. 488). Todavia, é de se lembrar de que o supervisor escolar está ligado ao planejamento do currículo escolar, o qual deve se dar de forma participativa, a fim de promover a melhoria da qualidade da aprendizagem, assim como do ensino, trazendo a realidade para debate em sala de aula, bem como levando a escola para o meio familiar desses estudantes. Vasconcellos (2002, p. 42) assegura que “não podemos ser ingênuos: para estabelecer outra ordem nas coisas, há necessidade de uma ação numa determinada direção, pois não é uma ação qualquer que nos levará ao que desejamos”. É necessário planejamento a fim de que os objetivos traçados sejam alcançados e, para tanto, o supervisor escolar é peça fundamental na elaboração do plano político- pedagógico que a escola seguirá. Todo esse processo requer do supervisor uma vivência do contexto histórico social no qual a escola está inserida, bem como o conhecimento sobre quais são seus níveis e modalidades de aprendizagem. Igualmente, é necessário conhecer quais são 9 os fundamentos teóricos que sustentam o ensino e a aprendizagem na escola e quais os princípios que norteiam a prática da escola em que atua. Ademais, o supervisor escolar deve compartilhar as práticas pedagógicas com aqueles que são atingidos por elas. Toda a comunidade escolar precisa estar inserida no poder decisório dessas práticas, a fim de que o planejamento seja, de fato, participativo. Assim, aautonomia da instituição também deve ser visada de forma a envolver a comunidade. Freire em sua obra Pedagogia da autonomia vai muito além da autonomia da instituição, afirmando que ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando, e o: [...] respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. Precisamente porque éticos podemos desrespeitar a rigorosidade da ética e resvalar para a sua negação, por isso é imprescindível deixar claro que a possibilidade do desvio ético não pode receber outra designação senão a de transgressão. O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgrida os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência. (FREIRE, 2006, apud SOUZA, 2017, p. 489). O que se percebe é que a autonomia da instituição escolar só acontecerá quando a independência do próprio educando for respeitada, ou seja, ele também deve ter sua liberdade preservada, a fim de que participe das tomadas de decisão do ambiente escolar. E o autor supramencionado afirma que mais que um dever, é um imperioso ético que o educador deve respeitar. Por fim, não menos importante, deve ser levada em consideração a necessidade de valorização dos educadores, de uma formação continuada e de qualidade, que eleve sua autoestima e que os estimule a desenvolver novas práticas educativas nas salas de aula. 3.1 Planejamento participativo na escola. Primordialmente, há que se explicitar que não é necessário tratar da crise na escola, visto que todos a percebem e dela falam. O planejamento participativo surge 10 como uma alternativa a essa crise. É o ato de antever o futuro, reduzir riscos, ou seja, é o planejamento de ações em si. O planejamento é a base para poder de agir e assim, maiores são as condições de intervir no futuro. O planejamento é uma das mais importantes ferramentas de comunicação e articulação de interesses. Existem diferentes formas de fazer um planejamento. As principais são: diagnóstico (estudo da realidade); análise de riscos/viabilidades; plano (narração escrita aliada ao orçamento para execução das ações); proposta ou carta- consulta; plano de ação; planos e relatórios de monitorias e relatório de avaliação. Há a necessidade de fazer-se a gerência dos projetos de planejamento. A elaboração de um conjunto de atividades delimitadas no tempo, com orçamento específico, buscando gerar um produto ou um serviço inovador, fora da rotina é uma ação essencial para o gerenciamento. O planejamento escolar vai além de tais conceitos e requer conhecimentos específicos sobre a prática pedagógica. O planejamento será decisivo na formação da identidade da escola, pois é ele que definirá quais práticas pedagógicas a escola deverá seguir. [...] uma explicação simples e muito clara de planejamento curricular é: um educador que está envolvido com questões de currículo interessa-se exclusivamente em determinar os objetivos do sistema educacional. Existem basicamente duas espécies de decisões que o educador deve tomar. Primeiro, ele necessita decidir quais devem ser os objetivos (isto é, os fins) do sistema de ensino, e segundo, a consecução destes objetivos. Quando o professor está envolvido na seleção de objetivos para uma sequência particular de ensino de seu interesse, seja um ano acadêmico ou um único período de classe, ele está envolvido na tomada de decisões do currículo. Quando o interesse focaliza a seleção ou avaliação dos esquemas de ensino pelos quais os objetivos devem ser alcançados, ele está envolvido na tomada de decisões no ensino. Consequentemente a distinção entre currículo e ensino é essencialmente uma distinção entre fins e meios. (POPHAM, 1987, apud SOUZA, 2017, p. 490). Aliar todos os sujeitos que interagem no espaço escolar é uma das tarefas do supervisor escolar. Esse profissional deve, em decorrência da importância da função que desempenha estar intimamente relacionado e participando do planejamento escolar. É para sanar dúvidas e dificuldades, no cotidiano escolar, que o planejamento é necessário. Para tanto, o supervisor deverá administrar seu tempo, a fim de cumprir determinadas tarefas que são de sua responsabilidade, como: dar atenção à formação continuada dos professores, planejar reuniões, envolver-se com a comunidade escolar nos processos decisórios, dentre outras atribuições. Gandin e Gandin explicam acerca da necessidade urgente de planejamento participativo. 11 Eis, então, o grande limite e a grande possibilidade da educação, inclusive a escolar: a escola só pode reproduzir a sociedade, isto é, ela tem a tarefa de incorporar as gerações novas ao espírito, à cultura da geração existente; quando esta cultura e este espírito entram em crise, ou seja, quando a sociedade começa a duvidar do que é bom ou do que é mau, as escolas perdem sua segurança e entram nesta dúvida geral; como o padrão sempre foi o de uma escola fechada que repete o que lhe mandam repetir, a crise da escola significa o desencontro entre o “ser responsável por algo” e não ter “este algo claramente aceito”. (GARDIN, 1999, apud SOUZA, 2017, p. 490). É de relevância o fato de que o supervisor escolar atue com visão coletiva, mostrando a importância (que detêm as relações interpessoais) aos professores, alunos e a todos os indivíduos que fazem parte da comunidade escolar. Para isso é importante que tal profissional detenha as habilidades de olhar, ouvir, falar e cuidar. Somente assim, o planejamento será, de fato, coletivo. [...] o isolamento e o individualismo possuem várias causas. É comum parecerem uma espécie de fraqueza de personalidade que se revela em competitividade, em atitude defensiva quanto à crítica e em uma tendência a acumular recursos. As pessoas, todavia, são criaturas de circunstâncias, e, quando o isolamento é disseminado, temos de perguntar o que há em nossas escolas que tanto contribui para que ele se crie. (FULLAN, 2003, apud SOUZA, 2017, p. 491). Quando se fala em planejamento coletivo, o que se objetiva é demonstrar a importância de todos no processo de elaboração, aplicação e fiscalização do projeto político-pedagógico escolar. Nesse processo, os educandos também precisam, inexoravelmente, fazer parte das decisões da escola. Podem atuar nas decisões sobre o espaço em que convivem. A organização e a distribuição dos tempos e espaços escolares representam o poder exercido pelo adulto sobre a criança. À primeira vista, não é possibilitado à criança o exercício de participação e proposição de alternativas para a organização do seu próprio espaço, de modo que possa ocupá-lo e transformá-lo em lugar. Como observa Escolano (1998), o espaço escolar expresso e reflete determinados discursos, além de representar um elemento significativo do currículo, uma fonte de experiência e aprendizagem. Quando crianças, internalizamos as primeiras percepções do espaço, desenvolvemos nossos esquemas corporais e acomodamos nossos biorritmos aos padrões estabelecidos pelas organizações próprias do tempo escolar. 12 Ao recordar as experiências escolares e ao se pensar como eram as escolas de antigamente, pode-se perceber que os espaços não são estruturas neutras, mas construções sociais que aprendemos e que condicionam a significação de aprendizado e os modos de educação. Fonte: www.escolaeducacao.com.br/educacao Assim, se defendemos a escola como lugaresprivilegiados da infância em nossa sociedade precisaram repensar a construção, organização e ocupação dos edifícios escolares, sendo preciso, sim, repensar a importância das condições dos lugares escolares, para que possamos permitir que seus usuários se apropriem e vivenciem o espaço e as práticas ali desenvolvidas de modo a transformá-lo em lugar; um lugar cheio de sentido, que desperte o gosto pelo saber e que permita às crianças/adolescentes vivenciarem sua infância juntamente com seus pares. Para que a criança se aproprie da escola, transformando este tempo e espaço também em lugar de infância, é necessário que a ela seja permitido deixar suas marcas, seja através de uma pintura na parede, de um desenho no chão, seja participando da discussão, definição e organização desses espaços; enfim, dando-lhe oportunidade de opinar e discutir suas ideias e seus desejos. (ESCOLANO, 1998) Assim, uma escola construída e organizada com crianças precisa respeitá-las como sujeitos de direitos, garantindo, no seu interior, direitos básicos, como: direito à 13 educação, ao brincar, à cultura, à saúde e à higiene, a uma boa alimentação, à segurança, ao contato com a natureza, a espaços amplos por onde possa se movimentar, ao desenvolvimento da criatividade e da imaginação, ao respeito à individualidade e ao desenvolvimento de sua identidade; enfim, o direito a uma infância cheia de sentidos, possibilitando: [...] à escola uma organização a partir dos sujeitos reais que nela ingressam, e quão a leitura do mundo antecede e dá sentido ao mundo da palavra. Essa antecedência é de cunho tanto cronológico quanto epistemológico, pois de fato é a experiência do mundo que dá sentido à experiência da escola. (NOGUEIRA, 2011, apud SOUZA, 2017, p. 491). O planejamento será, de fato, participativo e de qualidade somente quando envolver todos os indivíduos que formam a comunidade escolar. 3.2 Obstáculos enfrentados pelo supervisor escolar no planejamento pedagógico. São infinitos os desafios enfrentados diariamente pelo profissional da supervisão escolar e é de todo modo, muito diversificados. Vasconcellos afirma acerca da necessidade do planejamento, [...] que o fator decisivo para a significação do planejamento é a percepção por parte do sujeito da necessidade de mudança. É claro que se tudo vai bem, se nada há para se modificar na escola, para quê introduzir esse tal de “plano” É incrível, mas muitos professores parecem tão satisfeitos, ou alienados... com suas práticas que não sentem necessidade nem de aperfeiçoamento. Talvez, se questionados sobre a escola, até tenham o que dizer; ou não, de medo que dizendo alguma coisa possa sobrar alguma tarefa para eles... Todo o trabalho da ideologia dominante vai no sentido de anestesiar a percepção das contradições e a consequente necessidade de mudança. (VASCONCELLOS, 2002, apud SOUZA, 2017, p. 492). A ação do supervisor escolar é movida por qualidades que são necessárias à concretização de objetivos que foram traçados no próprio planejamento escolar. Para isso é preciso força de vontade para elaborar um trabalho que esteja voltado à transformação. Esse profissional necessita ser dotado de compreensão, empatia e consideração por aquilo que os outros pensam e estar conectado à realidade escolar, “oxigenando” esse espaço com provocações e ideias junto com seus pares, além de estar articulando ações integradas na comunidade escolar como um todo. 14 É perceptível toda essa sensibilidade quando o tema em pauta é a formação continuada do professor. Nesse momento, o supervisor terá de estar com toda sua atenção voltada às características de cada professor, ao pensar e ao fazer de cada professor. E é nesse momento, com tantas diferenças reunidas, que novos conhecimentos poderão ser produzidos, bem como momentos de mudanças. Vasconcellos trata do planejamento como sendo uma prática desafiadora: A questão do planejamento é desafiadora, pois projetar é para o humano, e não poucas vezes estamos reduzidos em nossa humanidade, estamos desanimados, descrentes, cansados. Também no meio educacional, entre professores, membros de equipes de coordenação, direção, mantenedores, pais, funcionários, alunos, estão presentes forças de vida e de morte. Chegamos a nos sentir com ausência de desejo: quem quer a escola? Quem acredita na escola como caminho de construção de uma sociedade mais justa? Escola para quê? Simplesmente como meio de subsistência? (VASCONCELLOS, 2002, apud SOUZA, 2017, p. 493). Todos esses meandros perpassam pelas responsabilidades do supervisor escolar. Ele deve lidar com todas as adversidades que permeiam a tarefa de planejar. Assim, Veiga-Neto (2002, p. 34) afirma que isso “tem sido entendido tanto numa acepção macro em nível sistêmico, governamental, quanto na acepção micro em nível escolar ou mesmo de sala de aula”. O planejamento educacional deve objetivar, principalmente, transformações no cotidiano escolar, a fim de melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem. No que tange ao planejamento participativo, de acordo com Gandin (1984, p.13), “sua ação [está] na crença de que o melhor para as pessoas é aquilo que essas mesmas pessoas decidiram em seus grupos”. O planejamento participativo somente será de qualidade quando aqueles que atuam no meio decidirem sobre ele. E isso já se vê em outros campos, como no da política, por exemplo, que tenta trabalhar com a inserção do orçamento participativo, ação pela qual os próprios integrantes decidem sobre a destinação do orçamento público, dentre outras ações. Dessa feita, o planejamento educacional tem como objetivo analisar os problemas referentes à educação nacional, à estruturação e ao funcionamento dos sistemas que norteiam a educação brasileira. A intenção é a melhoria da educação, do ensino no País, evidenciando os principais valores de cada pessoa e, principalmente, da escola na sociedade. O planejamento deve estar voltado para a visão global e de desempenho em longo 15 prazo. Leciona Parente Filho (2003, p. 63) que o planejamento “é entendido como processo de mobilização dos meios para a realização de missão setorial ou organizacional”. Nesse sentido, planejar é adiantar uma atividade que será realizada e agir conforme o que foi previsto. Planejar é transformar. É descontruir paradigmas, reinventar o que já existe. Mais do que isso, é lutar pelo que é justo, pelo que é certo, pelo que é de direito de todos. Freire (2003, p. 38) afirma que “o destino do homem deve ser criar e transformar o mundo”. Conforme Vasconcellos relata; [...] é possível a transformação da escola? Entendemos que, fundamentalmente, o que possibilita sua mudança é o fato da contradição estar também ali presente e não apenas fora dela, pois a escola não consegue ser um lugar isolado da sociedade apesar deste parecer ser o sonho de certos educadores. Para além do otimismo ou pessimismo, temos que tomar a escola como local de contradições dialéticas. [...]. Essas contradições, ao serem assumidas por vários segmentos da escola, passam a atuar ainda mais fortemente, ocupando mais espaço e provocando mais reação, o que vai exigir a definição mais clara de posições por parte de todos os membros da comunidade educativa. Por outro lado, à proporção que as contradições são postas a descoberto, são tematizadas, favorece-se a tomada de consciência, a superação do senso comum. (VASCONCELLOS, 2002, apud SOUZA, 2017, p. 495). O indivíduo epistêmico forma-se pela sua própria ação. Ele interage sobre o meio objetivando alcançar suas necessidades. Essa atividade transforma o meio no qual ele vive. Ao modificar esse meio, o sujeito é confrontado com as resistências do meio. (BECKER, 2003, p. 35). Fullan e Hargreaves afirmam acerca da transformação do professor: Se modificar o professor envolve modificar a pessoa que é, precisamos sabercomo as pessoas se modificam. Nenhum de nós é uma ilha; não nos desenvolvemos em isolamento. Nosso desenvolvimento dá-se através de nossas relações, em especial aquelas que estabelecemos com pessoas importantes para nós. Essas pessoas agem como uma espécie de espelho para nossos “eus” em desenvolvimento. Se em nossos locais de trabalho há pessoas que são importantes para nós e estão entre aquelas por quem temos consideração, eles terão uma enorme capacidade para positiva ou negativamente, influenciar a espécie de pessoas e, por conseguinte, a espécie de professores que nos tornamos. (FULLAN, 2003, apud SOUZA, 2017, p. 495). Transformar de modo epistemológico refere-se ao romper ações que imobilizam. As ações são decisivas, porquanto transforma o sujeito, o mundo, o meio no qual ele vive. O ato de planejar é uma ação importante às intenções de cada sala de aula, de cada escola e de cada comunidade escolar envolvida. 16 4 O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR NO PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO-ESCOLAR Preambularmente, cumpre destacar que, mesmo diante da imperiosa importância do profissional de Supervisão Escolar, não há, no Brasil, lei que regulamente e especifique quais são suas atribuições. (NOGUEIRA, 2011) Desde 2012, tramita, no Congresso brasileiro, o Projeto de Lei 4.106, o qual objetiva regulamentar essa profissão, bem como permitir a organização e a representação sindicais. São muitas as diferenças que há nesse cargo se comparado ao de professor, a começar pela carga horária. Outra diferença gritante é o lapso necessário para aposentadoria, o qual gera divergências em nossos tribunais. O certo é que o tema requer maior atenção da sociedade, tendo em vista a necessidade desse profissional para o bom andamento da escola, assim como para o devido cumprimento da sua função social, haja vista que esse é um articulador da comunidade escolar e que por estar na gestão da escola, tem por encargo tornar esse espaço um ambiente de debates que aproximem os sujeitos dessa comunidade escolar. Fonte: www.widgetserver.com 17 5 INSPEÇÃO ESCOLAR A inspeção escolar é uma das funções compreendidas no artigo 64 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB, Lei nº 9394/96, que define as carreiras para a atuação em administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional na Educação Básica, no Brasil. (PEREIRA, 2012) Constitui-se ainda, em uma das categorias de trabalhadores que devem ser considerados como os profissionais da Educação Básica, no país, segundo a lei nº 12.014 de 6 de agosto de 2009, que alterou o artigo 61 da LDB. O novo artigo 61 define estes profissionais como trabalhadores em educação, entre eles, os Inspetores Escolares “Art. 61. Consideram-se profissionais da educação básica os que, nela estando em efetivo exercício, e tendo sido formados em cursos reconhecidos são: Inciso II - trabalhadores em educação, portadores de diploma em pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas”. Fonte: www.diarioescola.com.br/storytelling-na-educacao A Inspeção Escolar é entendida aqui como uma instituição social, portanto produzida historicamente e composta por um sistema de regras atravessa e é atravessada pelas relações de poder que circulam no cenário educacional. Alguns 18 autores, como Meneses (1977) defendem que “a inspeção sempre existiu e não constitui novidade nem nas empresas e nem nas atividades sociais”. Essa visão naturalizada da Inspeção neutraliza a possibilidade de pensar outras possibilidades de práticas, principalmente educacionais, além de desconsiderar a historicidade das produções sociais e, principalmente, impede que a função seja questionada. Afinal, a escola nem sempre existiu, as hierarquias também não, assim como os sistemas educacionais, a legislação e, consequentemente, a Inspeção. Em vez de tentar achar uma definição em relação a essa função e a esse profissional, por que não pensar sobre os modos que garantiram o seu surgimento, a sua produção e, enfim, a sua institucionalização? As contribuições da Análise Institucional na perspectiva dos franceses nos ajudam a refletir sobre o status de naturalidade das instituições educacionais e questioná-las, servindo como possibilidade de alternativa às cristalizações do campo educacional. A ideia de “instituição” passou a ser usada com ênfases muito diferentes, sendo possível identificar três momentos: num primeiro momento as instituições são pensadas como estabelecimentos de cuidados, ou seja, a serviço da ação terapêutica; num segundo momento as instituições passam a ser entendidas como dispositivos que estariam instalados no interior dos estabelecimentos; e num terceiro momento, a instituição passa a ser entendida não mais como algo localizável, mas como a “forma” de produzir e reproduzir as relações sociais ou a “forma geral” dessas relações que se instrumentalizarão nos estabelecimentos ou nos dispositivos (RODRIGUES, 1987, apud PEREIRA, 2012, p. 15). Lapassade (1977) ao propor uma pedagogia institucional, isto é, um novo modo de funcionamento em que “a criança torna-se o centro de decisão, ou melhor, o grupo assume a sua própria direção e caminha para a sua própria autogestão” (LAPASSADE, 1977, p.212), faz uma análise da pedagogia-burocrática, um fenômeno que, na pedagogia tradicional, é bastante visível. Enquanto que na pedagogia institucional defende-se a ideia de que as estruturas podem ser alteradas, na pedagogia tradicional, não pode haver questionamentos em relação ao seu modo de funcionamento, e por isso, conta com uma organização hierárquica. A burocracia pedagógica funciona num sistema em que as decisões fundamentais (programas e nomeações) são tomadas pela “cúpula da burocracia pedagógica” e são transmitidas e executadas através dos vários graus da hierarquia. Várias regras são definidas pela burocracia resultando em estatutos, obrigações, 19 condições de ingresso na profissão pedagógica, definindo um sistema de controle e acaba sendo vista como uma fonte de julgamentos e sanções. Segundo Lapassade: [...] o “universo burocrático” exprime-se ao nível do “vivido”, e pertence, por esse fato, ao campo da análise psicológica (ansiedade dos professores, por exemplo, quando das “visitas” do Inspetor, encarado antes como um controlador e como um juiz do que como um conselheiro pedagógico (LAPASSADE, 1977, apud PEREIRA, 2012, p. 16)). Esse exemplo, entendido pelo autor como pertencendo ao campo da análise psicológica, é o que se reflete nas práticas das relações que foram sendo estabelecidas historicamente entre a Inspeção Escolar e os demais profissionais da educação. A produção de uma relação hierarquizada, autoritária, fragmentada e cristalizada. Contudo, algumas escolas institucionalistas nos ajudam a entender que não há; [...] uma separação radical entre vida econômica, vida política, vida do desejo inconsciente, vida biológica e natural; o que existem são imanências – isto é, a coextensão, a condição intrínseca de cada um destes campos em relação aos outros, que só podem se separar de uma maneira artificial para a finalidade de seu estudo (BAREMBLITT, 1992, apud PEREIRA, 2012, p. 16). Assim, segundo o autor, ao invés de uma separação radical, podemos conceber a vida social como uma rede, em que é possível distinguir o “molar” (o macro, o lugar da conservação, da ordem, da regularidade, das leis, do visível, da reprodução) e o “molecular” (o micro, o lugar da produção, do impensável, do novo, do imprevisível). Em outras palavras, movimentos intensos ente o instituído (o que está posto, o que procura conter as transformações, controlar) e o instituinte (dinâmica de transformação). Pode-se considerar, para a análise deste estudo,que a Inspeção Escolar está marcada por processos burocráticos, portanto, inserida no num contexto molar, fazendo parte de uma rede de relações de produções e reproduções que afirmam um modo de funcionamento que induz a efeitos de submissão dos sujeitos. As condições que levaram às várias mudanças na organização da Inspeção Escolar não se deram simplesmente porque o Estado, o poder, a legislação e as regulamentações assim decretaram. Mas justamente porque mudanças moleculares foram acontecendo e se conectando na vida social. Isto é, os direcionamentos que levaram à institucionalização da Inspeção Escolar, são o resultado das mudanças que surgiram na sociedade, como um dispositivo para contê-las ou configurá-las. 20 Em meio a tantas mudanças no tecido social, em relação à Inspeção Escolar é possível distinguir, de um modo geral, três períodos de “evolução”, conforme o dicionário de Pedagogia LABOR (MENESES, 1977) aponta: período confessional, período de transição e período técnico-pedagógico. O período confessional teve como principal característica a influência religiosa. A escola paroquial era a única existente no período anterior ao século XII, em que o bispo da diocese era o responsável pela Inspeção. Com o aumento do número de escolas, a função de inspecionar a educação foi designada aos “cantores de cabido”. Posteriormente a função foi oficializada e agora ao “mestre-escola” ou “escolástico”, era atribuída à tarefa de “elaborar planos de estudos, designar e demitir professores e, em nome do bispo, conceder o direito de ensinar” (MENESES, 1977, apud PEREIRA, 2012, p. 17). Embora com outros nomes, a figura do Inspetor Escolar já estava sendo produzida, tendo como pano de fundo o controle exercido pela religião através da educação, haja vista que o direito de ensinar era concedido pelo bispo. Com as mudanças ocorridas a partir do século XIII devido ao enfraquecimento da influência religiosa e ao desenvolvimento da indústria e do comércio, temos o período denominado de transição. Com o desenvolvimento das administrações municipais as escolas seculares começaram a surgir e a responsabilidade pela inspeção foi sendo lentamente transferida da diocese para o poder civil. Durante este período de transição (por volta do século XVI) o profissional “Inspetor Escolar Público” começa a aparecer (MENESES, 1977). Fonte: www.epocanegocios.globo.com 21 Após Revolução Francesa temos o período técnico-pedagógico, em que é atribuída ao Estado a responsabilidade pela inspeção. O caráter fiscalizador delineia a atuação do Inspetor, devido à ideia de uma organização escolar, defendida por vários pensadores como Pestalozzi, baseada num sistema de controle. Meneses (1977) destaca que o modelo francês dessa perspectiva de Inspeção Escolar, que apavorava os professores, serviu de modelo para vários sistemas educacionais. A Inspeção Escolar na maioria dos países passa, então, a ser personificada pela figura do Inspetor, um funcionário público, desenvolvendo uma fiscalização pautada na técnica e na burocracia. No caso do Brasil, pode-se considerar a partir da contribuição de vários pesquisadores (MENESES, 1977; LIMA, 1978; NOGUEIRA, 1989; ALARCÃO, 2002; SAVIANI, 2006; FERREIRA, 2006; BARBOSA, 2008), que a inspeção escolar já estava presente nas práticas educativas mais remotas, embora ainda que não regulamentada como profissão. O modelo de sistema feudal que foi implantado durante a colonização trazia consigo a ideia de controle, delineando o processo educacional que se iniciava no Brasil no período do século XVI. Mas afinal, o que é a Inspeção Escolar? Seria possível ou necessário defini-la? Essas questões tornam-se “desgastantes”, pois falar sobre a Inspeção Escolar no Brasil não é tarefa fácil, devido à escassez de material sobre o tema. As críticas em relação à função de inspeção têm sido constantes no âmbito acadêmico, sugerindo inclusive, sua eliminação na organização escolar. Entretanto, sua prática permanece mais viva do que nunca no contexto educacional. Meneses (1977) situa em seu trabalho que a palavra inspeção vem do latim “inspectio”, “onis”, e significa “ação de olhar; exame, verificação”. Portanto, de acordo com este autor, no sentido de ação: “[...] inspeção é acercar-se de alguma coisa ou alguém para compreender, controlar, cuidar, examinar, fiscalizar, guardar, observar, olhar, revistar, superintender, supervisar, ver, verificar, vigiar, vistoriar” (MENESES, 1977, apud PEREIRA, 2012, p. 17). Esta visão foi fortemente influenciada pelas teorias da Administração, em que uma função, que é propriamente de fiscalização, é exercida pela própria administração através de uma inspeção interna, ou seja, vigilância por parte das autoridades da 22 empresa sobre os trabalhadores; e por parte de um organismo estranho quase sempre o Estado, para verificar se as leis estão sendo cumpridas. Nesse sentido, a inspeção, no contexto educacional, não diferiria do sentido em que é executada nas empresas. A expressão “Inspeção Escolar” não estaria ligada somente à vigilância e ao controle, mas também à orientação da ação, conforme aponta o “Dicionário de Pedagogia LABOR”, de 1936 (MENESES, 1977). Ou seja, no entendimento de Meneses a Inspeção Escolar tem como objetivo observar, orientar e examinar as unidades que compõem os sistemas de ensino para o seu desenvolvimento. Vejamos uma definição do Petit Dictionnarie Portatif de Pédagogie Pratique, que embora seja de 1962, se mostra bastante atual em relação às práticas que vendo sendo desenvolvidas pelo Inspetor Escolar: Condenado por esse nome lacônico e pouco amável, o inspetor departamental do ensino é o funcionário mais difícil de ser classificado. É professor quando se ocupa da Escola Normal, preocupando-se com a formação dos futuros mestres; é administrador assoberbado pelo excesso de leis, num dilema constante entre conhecê-las todas e por elas não se deixar dominar; é o examinador que outorga os certificados de estudos; é o conselheiro pedagógico, que gostaria de dar a sua orientação aos professores a respeito das melhores técnicas de ensino e que dariam bons resultados mesmo nas piores classes; é o conferencista que procura persuadir os professores de que eles são intelectuais em perigo pelo contato permanente com crianças e em isolamento cultural; é o animador das atividades peri e pós-escolares, bibliotecário. (MENESES, 1977, apud PEREIRA, 2012, p. 18). A atualidade desta definição é perceptível nas várias responsabilidades que são atribuídas ao Inspetor Escolar, visto e entendido, como o profissional da educação comprometido com a garantia de direitos e deveres. Quando possível, preocupa-se com a questão pedagógica, pois também tem responsabilidades no que diz respeito à “qualidade” da educação. Uma leitura atenta das legislações aprovadas no sistema escolar brasileiro em relação à Inspeção Escolar nos permite perceber uma relação direta com o contexto das políticas educacionais que iam se desenvolvendo em atendimento, principalmente, às exigências internacionais. 23 6 INSPEÇÃO X SUPERVISÃO Segundo Pereira & Santos (1981) a ideia de supervisão surgiu durante o período de industrialização, como uma estratégia para a melhoria da produção e posteriormente foi introduzida no contexto educacional estadunidense, com o objetivo de melhorar o desempenho das escolas. Meneses (1977) aponta que o “termo Inspeção Escolar não aparece na bibliografia americana”, mas o termo “Supervisão”, para tratar de questões que se referem ao controle de unidades escolares, ou seja, atividades típicas de Inspeção. A Supervisão emergiu das atividades da Inspeção e no cenário educacional dos Estados Unidos, passou por quatro etapas: tarefa de vigilância; tarefa de orientação e aconselhamento; liderança democrática; e trabalho de análise emelhoria de sistemas (LEMUS, apud PEREIRA, SANTOS, 1981). No Brasil, a ideia de supervisão começou a se difundir no âmbito educacional na década de 30. Saviani (2002) aponta que com a Reforma pernambucana de 1928, inicia-se uma “remodelação do aparelho organizacional”, no sentido de separar os setores técnicos pedagógicos dos setores administrativos. Assim, exige-se a criação de órgãos específicos para cuidarem da parte técnica (pedagógica) e órgãos específicos para cuidarem da parte administrativa. Para o autor, essa divisão permitiu o surgimento do Supervisor, responsável pela parte pedagógica, enquanto que ao Diretor cabia a parte administrativa. Caminhando nessa perspectiva, a Reforma Campos, através do Decreto-Lei nº 19.890/31 propunha uma inspeção: [...] de forma bem diferente da que vinha ocorrendo até então, uma vez que se tornara formal, mera fiscalização, surgindo a necessidade de uma ação supervisora que, sem deixar de zelar pelos aspectos legais, estivesse voltada para a dinamização do sistema de ensino, na busca de sua melhoria e de maior produtividade no campo pedagógico (PEREIRA, 1981, apud PEREIRA, 2012, p. 22). Nesse sentido, o papel do Supervisor seria uma reconfiguração do papel do Inspetor, privilegiando o aspecto pedagógico, pois: [...] é quando se quer emprestar à figura do inspetor um papel predominantemente de orientação pedagógica e de estímulo à competência técnica, em lugar da fiscalização para detectar falhas e aplicar punições, que 24 esse profissional passa a ser chamado de supervisor (SAVIANI, 2002, apud PEREIRA, 2012, p. 22). A aprovação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 4024/61, segundo Saviani (2002), foi o reflexo das mudanças que ocorreram a partir da Reforma Francisco Campos (1931) e da Reforma Capanema (1942), no sentido de estruturar e reestruturar o ensino brasileiro. A partir do Decreto nº 19.851/31, coube às Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, formar os professores do ensino secundário. Criou-se então o curso de Pedagogia que pretendia formar os professores das disciplinas do Curso Normal e os “técnicos da educação”, a saber: A categoria ‘técnicos da educação tinha, aí, um sentido genérico. Em verdade, os cursos de Pedagogia formavam pedagogos, e estes eram os técnicos ou especialistas em educação. O significado de ‘técnico da educação’ coincidia, então, com o ‘pedagogo generalista’ (SAVIANI, 2002, apud PEREIRA, 2012, p. 22). Durante o período da ditadura militar, novas reformas no ensino foram realizadas para atender à conjuntura que se estabelecia. Acompanhando o ideário da Teoria Taylorista de administração, em que “o controle é feito com o propósito de diminuir os tempos e movimentos a fim de reduzir os gastos e aumentar o ritmo de trabalho, consequentemente a produtividade” (BARBOSA, 2008, p. 15), as reformas educacionais que foram ocorrendo nesse período eram fortemente voltadas para o tecnicismo, fortalecendo a burocratização do ensino. Fonte: www.educacional.com.br 25 Segundo Aranha (1996) a tendência tecnicista, esboçada sob a influência estadunidense, consiste em: [...] planejamento e organização racional da atividade pedagógica; operacionalização dos objetivos; parcelamento do trabalho, com a especialização das funções; incentivo à utilização de várias técnicas e instrumentos, como instrução programada, ensino por computador, máquinas de ensinar, procurando tornar a aprendizagem ‘mais objetiva’. Como todo processo em que predominam práticas administrativas, a tendência tecnicista privilegia as funções de planejar, organizar, dirigir e controlar, intensificando a burocratização que leva à divisão do trabalho (ARANHA, 1996, apud PEREIRA, 2012, p. 22). É nesse contexto que o Parecer nº 252 de 1969 foi aprovado, reformulando o curso de Pedagogia, em atendimento ao que determinava a Lei nº 5.540/68. Com a reforma, o curso foi estruturado em habilitações, portanto, ao invés de formar o técnico da educação, passou-se a formar o especialista em educação. O currículo do curso de Pedagogia previa quatro habilitações: administração, supervisão, orientação e inspeção. Durante a discussão do Parecer nº252/69 surgiram algumas divergências de opinião em relação à inclusão da Inspeção Escolar nas habilitações. Dentre os contrários à inclusão, o Conselheiro Durmeval Trigueiro defendia a extinção da Inspeção Escolar no currículo de Pedagogia e fez um voto em separado para propor a questão. O Conselheiro e Relator Valnir Chagas, ao se pronunciar sobre esse voto alegou que a Inspeção deveria ser excluída devido a sua inutilidade, pois assumiu características de “guarda ao pé da escola”, devendo, portanto, “ressurgir ora como correição, ora como assistência técnica, ora associada à supervisão, ora transferida à competência dos vários sistemas de ensino”. Embora as discussões caminhassem para a fusão das duas habilitações inspeção e supervisão o que ocorreu foi à reconfiguração de uma ideia acerca da função de Inspeção e a habilitação foi mantida, conforme relatado pelo Conselheiro Valnir Chagas: O inspetor é, e tende a ser cada vez mais, um profissional que atua em âmbito macro educacional orientando e coordenando escolas dentro do sistema, enquanto o supervisor está situado no plano da microeducação, orientando e coordenando a atividade de professores dentro da escola. A fusão proposta redundaria fatalmente na absorção do segundo pelo primeiro, o que seria tanto mais de lastimar quanto, no progresso da supervisão repousam fundadas esperanças de uma renovação qualitativa da educação brasileira de graus primário e médio (CHAGAS, 1969, apud MENESES, 1977, p. 53). 26 Segundo Meneses (1977) o entendimento que prevaleceu para manter a habilitação, caminhou no sentido de que ao oferecer ao Inspetor uma formação básica de educador e uma formação específica, seria possível eliminar o estilo burocrata que o Inspetor vinha desempenhando. O autor também aponta que na grade curricular referente à habilitação em Inspeção, foram definidas três disciplinas específicas: Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º graus, Princípios e Métodos de Inspeção Escolar e Legislação do Ensino. Em relação à disciplina “Princípios e Métodos de Inspeção Escolar” haveria um “desencontro conceitual”, haja vista que: [...] as designações Princípios e Métodos também têm permitido díspares encaminhamentos no estudo do tema. A maioria dos autores tem apresentado como princípios um rol de regras de comportamento do inspetor escolar; e, quanto aos métodos, ficam, sobretudo, na descrição de orientação pedagógica. (MENESES, 1977, apud PEREIRA, 2012, p. 24). Na visão desse autor, que defende a Inspeção como uma habilitação necessária ao sistema escolar, a Inspeção Escolar é uma atividade administrativa, baseada nas principais correntes teóricas da Administração, que convergem para a garantia da eficiência através do controle. Além da questão da formação do pedagogo, não podemos desconsiderar o fato de que essa reforma consolidou uma divisão de trabalho tecnicista baseada nos pressupostos tayloristas forjados por uma lógica capitalista. Essa divisão produz efeitos que não dividem apenas as tarefas, mas também, como aponta Coelho (1982), “subestima a capacidade reflexiva dos docentes (executores), reprimindo sua capacidade intelectual e sua atividade criadora” (p. 34). O pedagogo passa a ser o especialista que “manda” e o professor um simples “executor”. Mais do que uma fragmentação, há uma desvalorização da prática docente, então: Ser ‘habilitado’ em supervisão, orientação, administração ou inspeção, significa, pois, estar livre, alforriado do trabalho quase braçal de regência de classe e em condições para o exercício de uma função na tecnoburocracia educacional, melhor remunerada e menos desgastante do que o trabalhodireto e permanente com uma classe de alunos. A passagem da docência ao exercício de uma função burocrática é, em geral, entendida como uma ‘promoção’, ao passo que a ‘volta’ à sala de aula é frequentemente tomada como punição. (COELHO, 1982, apud PEREIRA, 2012, p. 24). As discussões acerca das habilitações perduraram, assim como as discussões acerca da necessidade da Inspeção Escolar. 27 6.1 O papel da inspeção escolar As atribuições da inspeção escolar estão relacionadas ao funcionamento e à organização das unidades escolares da Educação Básica. Trata-se de uma função de verificadora da conformidade legal das escolas e de corretiva dos desvios dos atos e procedimentos. Suas atribuições e práticas de trabalho confirmam que se trata de uma função de regulação de controle do sistema de ensino. Fonte: https://www.institutoine.com.br A inspeção escolar tem, segundo De Grouwe (2006, p. 56), uma relação muito forte com o Estado, o qual representa junto à sociedade. Por tais razões, é vista, muitas vezes, como os olhos e a mão do Estado, junto às comunidades escolares. A sua ação é, portanto, de controle, daí o seu caráter impopular. Os Inspetores Escolares exercem as atividades relativas à vigilância, à avaliação externa, à verificação das obrigações e procedimentos legais. As funções–base da inspeção escolar são, segundo Meuret (2002, p 32): exercer o controle externo das escolas, tanto no domínio pedagógico como no administrativo/financeiro, oferecer a orientação e a sustentação/apoio às instituições escolares em suas ações educacionais e exercer a intermediação entre as escolas e o sistema gestor, isto é, a ligação ou comunicação bidirecional, no sentido de uma melhor articulação do sistema educacional. A legitimidade da sua ação e o poder para executá-la emanam da natureza do cargo e se fundamentam no paradigma de que há necessidade de controle da atividade alheia, bem como do cumprimento da prescrição legal. A inspeção tem, 28 dessa forma, a incumbência e os meios legais de verificar a exatidão das ações, nos domínios técnicos, administrativos e financeiros. A natureza da inspeção escolar é vinculada à hierarquia, à disciplina, às normas e aos procedimentos prescritos. Dessa forma, grande parte das suas atribuições se aproxima da conceituação que Weber (1978, p. 146) faz do termo burocracia, associando-o aos princípios da racionalização, ligados à eficiência e ao máximo rendimento, definindo a vigência da legitimidade como o exercício da autoridade institucional. 6.2 Atribuições do cargo de inspetor escolar Os novos paradigmas da educação nacional encaminham a questão de ordem prática: são desafios que colocam o Inspetor Escolar para a observância da legislação da educação junto às escolas, pelo seu papel de legítimo representante da administração central e regional do Sistema. Uma leitura mais atenta da LDBN e de alguns de seus artigos remete a algumas competências que o Inspetor Escolar pode exercer, em ação solidária com as escolas e seus diretores, pedagogos e professores e em interação com setores das secretarias estaduais e municipais e dos órgãos regionais de educação. (VASCONCELLOS, 2002) A Inspeção Escolar é correição, auditoria, orientação e assistência técnica. Esses profissionais são os olhos e os ouvidos do Poder Público na escola. O perfil desse profissional deve ser: Função Verificadora: deve possuir domínio da legislação, ser pesquisador e observador. Função Avaliadora: Educador Função Orientadora: ter boa comunicação oral e escrita. Conciliador. Função Corretiva: segurança e postura pedagógica. Função realimentadora: criatividade. Além disso, o Inspetor Escolar deve ser orientado profissionalmente conforme o Art. 4º da Resolução Secretaria Estadual de Ensino nº. 305/83: 29 I - Comunicação entre os órgãos da administração superior do sistema e os estabelecimentos de ensino que o integram; II – Verificação e avaliação das condições de funcionamento dos estabelecimentos de ensino; III - Orientação e assistência aos estabelecimentos de ensino na aplicação das normas do sistema; IV - Promoção de medidas para a correção de falhas e irregularidades verificadas nos estabelecimentos de ensino, visando à regularidade do seu funcionamento e a melhoria da educação escolar. V - Informação aos órgãos decisórios do sistema sobre a impropriedade ou inadequação de normas relativas ao ensino e sugestão de modificações, quando for o caso. Com relação à conquista da autonomia da escola são atribuições do Inspetor Escolar: a) Integrar-se na elaboração do Plano de Desenvolvimento da Escola; Sensibilizar a comunidade escolar para a importância do Plano de Desenvolvimento da Escola; Participar das discussões dos usuários e profissionais da escola sob seu Plano de Desenvolvimento, esclarecendo as funções da comunidade escolar; Auxiliar professores e especialistas a definir os componentes do Plano de Desenvolvimento da Escola, orientando-os sobre sua elaboração. b) Subsidiar e escola na elaboração e desenvolvimento do seu projeto pedagógico: Esclarecer a escola sobre os padrões básicos (currículo, recursos humanos e insumos) indispensáveis à elaboração do processo pedagógico; Orientar a escola na definição de sua proposta curricular, adequando-se às especificidades socioculturais da região e às necessidades, prioridades e possibilidades da comunidade à qual atende; 30 Analisar o calendário escolar considerando as especificidades da escola, as peculiaridades regionais e locais e as referências legais, zelando pelo seu cumprimento; Participar da implementação do projeto pedagógico da escola, propondo a revisão de suas práticas educativas, quando necessário; Orientar a escola na elaboração e revisão de normas regimental consoante as diretrizes estabelecidas em seu próprio projeto. c) Orientar a escola para a realização e a utilização de estudos e pesquisas que visem à melhoria da qualidade do ensino: Encaminhar à escola os resultados da avaliação externa, orientando-a para a análise dos mesmos; Subsidiar a escola na elaboração de estudos e projetos de pesquisa que visem à melhoria de ensino e à inovação pedagógica; Promover o intercâmbio entre escolas e outras instituições para troca de experiências pedagógicas. d) Colaborar com a escola, orientando-a na definição de seu plano de capacitação de recursos humanos: Subsidiar o levantamento e as necessidades de treinamento e capacitação dos profissionais da escola, a partir dos resultados da avaliação; Promover a integração das propostas de treinamento e capacitação de conjuntos de escolas de seu setor e da jurisdição; Tomar providências, junto à S.R.E, para que as propostas de capacitação se efetivem. e) Orientar a direção da escola na aplicação das normas referentes à Assembleia Escolar como instrumento de gestão democrática da escola. f) Incentivar a integração das escolas entre si e destas com a comunidade. 31 g) O Inspetor Escolar deve ainda assegurar o funcionamento regular da escola, interpretando e aplicando as normas do ensino. Nesse sentido o inspetor Escolar deve: Orientar a direção da escola na aplicação das normas referentes ao quadro pessoal. Tomar providências que assegurem o funcionamento regular da escola; e verificar a regularidade do funcionamento da escola tomando as providências necessárias. h) . Propor a instauração de sindicância ou inquérito administrativo. Assegurar a autenticidade e a fidedignidade da escrituração escolar. Fazer cumprir a legislação pertinente à gratuidade do ensino. i) O Inspetor Escolar tem ainda como atribuição a orientação da Escola pública na capacitação e aplicação de recursos financeiros. Dessa forma cabe ao Inspetor Escolar: Propor a criação e registro de caixa escolar para administrar os recursos financeiros da escola; Orientar a direção da escola sobre a organização e funcionamento de caixas escolares; Informar e esclarecer a direção da escola sobre a necessidade da participação da Assembleia Escolar, na composição da Caixa escolar, na aplicação de seus recursos e na prestação de contas; Auxiliar a direção da escola na identificação de possíveis fontes de recursos ou de estratégias para a obtenção e aplicação. j) Propor a celebração de convênios que concorram para a melhoria do ensino ministrado na escola: Interpretar com a direção da escola a legislação que trata da celebração de convênios; Esclarecer a direção da escola quanto às exigências e procedimentos referentes à celebração de convênios. 32 k) Quanto ao processo de organização do atendimento escolar em nível regional e local o Inspetor Escolar tem também atribuições definidas, tais como: Orientar as escolas e órgãos municipais de educação quando o levantamento da demanda escolar; Informar a escola sobre os critérios, procedimentos e instrumentos necessários à realização do cadastro escolar; Articular a integração entre as escolas, órgãos municipais de educação e a comunidade, buscando estratégias adequadas de divulgação e realização do cadastro escolar. l) Participar da definição da proposta de organização do atendimento à demanda escolar do município: Analisar com as escolas e autoridades municipais as condições efetivas de atendimento à demanda escolar do município; Auxiliar a direção da escola e o órgão municipal de educação, no levantamento de estratégias diferenciadas de organização escolar, para atendimento à demanda nos diversos graus de modalidades de ensino. m) Orientar e acompanhar processos de criação, organização de escolas: Orientar a direção da escola e a entidade mantenedora quanto às exigências e requisitos necessários à criação e organização de escolas e participar da instrução do processo; Elaborar o relatório de verificação “in loco”, para instruir o processo de criação, organização e organização de escolas. Além das atribuições constantes da Lei nº. 7.109/77 (art. 13, inciso IV), da Resolução CEE no 305/83 e da Resolução SEE nº. 7.149/93; compete igualmente ao Inspetor Escolar: 33 Homologar o Regimento e o Calendário Escolar, inclusive o Calendário Escolar Especial (Resolução SEE nº. 7.149/95 – Art. 2º, § 2º, artigo 6º e Orientação SEE nº. 02/95). Visar comprovantes de conclusão da 4ª série do ensino fundamental de candidatos maiores de 14 (quatorze) anos, segundo o disposto na Instrução SDE nº. 01/95. Orientar e acompanhar o cumprimento das disposições da Portaria SD nº. 004/95, bem como os dispostos nos artigos 58 e 59 da Resolução SEE nº. 7.762/95. Assinalar juntamente com o Secretário e o Diretor da Escola a relação nominal dos concluintes dos cursos de ensino médio, candidatos à obtenção de diplomas ou certificados de habilitações profissionais, conforme o disposto no at. 6º da Portaria SAE nº. 639/95. Visar processo de autorização para lecionar, secretariar e dirigir estabelecimento de ensino fundamental e médio. Convocar a atenção de diretores de estabelecimentos de ensino, sob sua orientação, para o disposto no art. 6º das Medidas Provisórias, mensalmente reeditadas, a saber: “Art. 6º - São proibidas a suspensão de provas escolares, a retenção de documentos escolares, inclusive os de transferências, ou a aplicação de quaisquer outras penalidades pedagógicas, por motivos de inadimplemento”. E ainda: verificar, permanentemente, no que se refere à legislação do ensino, a situação legal e funcional do pessoal administrativo, técnico e docente, encaminhando relatório específico ao Órgão Regional de Ensino (SRE), de acordo com o disposto no artigo 19º, §4º, da Resolução CEE nº. 397/94. 7 ANÁLISE DA GESTÃO EDUCACIONAL Segundo Nogueira (2011), o processo de gestão escolar tem como função primordial a descentralização do desenvolvimento pedagógico e administrativo no sistema de ensino. O resultado desse gerenciamento é a crescente autonomia da 34 escola diante do compromisso e envolvimento de todos os atores que participam dessa construção democrática. Portanto, o processo de gestão evoca também vários indicadores a serem trabalhado, tais como a gestão participativa, relações interpessoais, desempenho e auto avaliação. A tendência da educação atual no Brasil tem na gestão escolar um de seus principais pilares de transformação, porém, toda mudança de mentalidade, postura e atitude é algo difícil de implantar, principalmente no âmbito educativo. Fonte: www.aupex.com.br No caso específico do Brasil as mudanças no campo educacional são bem mais complexas devido ao processo de colonização, que sempre relegou a educação a um plano secundário. Este fato certamente dificultou o acesso à escolaridade para a maioria da população, pois o sistema de ensino brasileiro permaneceu elitizado e centralizador, diferindo da descentralização educativa, promotora da autogestão institucional. No entanto, essa concretização no sistema escolar demandará tempo, sendo necessárias discussões e debates sobre as novas formas de organização e descentralização da prática educativa. (VASCONCELLOS, 2002) As questões da autonomia escolar curricular, pedagógica e administrativa há muito eram requeridas, pelos profissionais da educação e ganharam expressão a partir da década de 1980, com a intenção de minimizar problemas de ordem educativa como os índices de evasão, repetência, abandono escolar e o burocratismo da própria escola diante de aspectos administrativos, porém, todos esses fatores estão associados à busca da autonomia escolar. http://www.aupex.com.br/ 35 Essa tendência democrática de autogestão antecedeu à promulgação LDB na busca de mudanças necessárias diante da nova conjuntura mundial em meio às transformações globais. Ademais, a gestão escolar se configura em uma liderança democrática, porém de ressonância dialética junto a um grupo unificado, a partir dos conflitos existentes na realidade e que possam ser reconstruídos em perspectiva dialógica na busca do bem comum (LUCK, 1981). Assim, a escola pública deve partir de um princípio democrático que viabilize ao seu representante, no caso, o gestor, construir suas ações de forma democrática e coletiva, pois a gestão democrática requer, [...] em primeiro lugar, uma mudança de mentalidade de todos os membros da comunidade escolar, mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de que a escola pública é apenas um aparelho burocrático do estado e não uma conquista da comunidade (GADOTTI, 1998, apud BOSCHETTI, 2016, p. 105). A concepção de gestão democrática defendida por Gadotti (1998) pressupõe a historicidade em que a escola pública se constitui e de como foi sendo delineada pelos que acreditam no potencial humano, independente dos mecanismos que a influenciaram inclusive os amparados em lei. A mudança faz parte dessa nova exigência mundial: na escola a busca não é mais apenas pelo acesso, mas pela qualidade do ensino, requerendo em seu processo de transformação uma gestão democrática com o intuito de que a escola deva formar para a cidadania, exigindo, portanto, um novo tipo de relação sociedade, aluno e conhecimento. Esse tripé implica em ações dialógicas que devem interagir para atender anseios, interesses e necessidades da comunidade. Dessa forma o saber se constitui a partir e na relação intrínseca do aluno com seu universo, em uma ponte entre o senso comum e o saber cientificamente acumulado: O grande desafio da escola pública está em garantir um padrão de qualidade (para todos) e, ao mesmo tempo, respeitar a diversidade local, étnica, social e cultural.Portanto, o nosso desafio educacional continua sendo educar e ser educado. [...]. Existe uma visão sistêmica, estreita que procura acentuar os aspectos estáticos como o consenso, a adaptação, a ordem, a hierarquia e uma dinâmica que valoriza a contradição, a mudança, o conflito e a autonomia. [...]. Num sistema fechado, os usuários pais e alunos e os prestadores de serviços professores e funcionários não se sentem 36 responsáveis. Esta é uma das principais questões da não participação. Num sistema aberto, os lócus fundamentais da educação é a escola e a sala de aula. (Gadotti, 1998, apud BOSCHETTI, 2016, p. 105). O novo desafio dos professores contemporâneos não é apenas conhecer o processo histórico educacional, mas ter competências e habilidades de analisar as mazelas sociais e, se propor a agir como sujeito da história, em que a sala de aula se constitui em um espaço interativo de debates e discussões dialógicas em prol da formação, pois ao se sentirem sujeitos do processo professor e aluno terão atitudes e desempenhos diferenciados na construção e busca incessante do conhecimento. Na prática, a realidade parece mais distante da concretude que a escola pública vem almejando nos últimos anos, mas ao adentrarmos em questões históricas de outros países observamos que as mudanças ocorrem de forma processual e que dependem de ações desenvolvidas na ambiência da escola, especificamente em sala de aula. 7.1 Aportes legais e normativos da gestão escolar O contexto da Constituição Brasileira de 1988 enfatiza a gestão escolar no sentido amplo de sua ingerência, com o seguinte teor: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (Constituição Federal do Brasil, art. 205, 1988, apud BOSCHETTI, 2016, p. 106). Consoante essa assertiva tonou-se necessário estabelecer princípios norteadores para o ensino que viabilizassem seu desenvolvimento com eficiência no âmbito escolar: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público e estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade; VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (Constituição Federal do Brasil, art. 206, 1988, apud BOSCHETTI, 2016, p. 106). 37 Visando obter uma gestão democrática de ensino consistente, a LDB, no Título II, art. 3°, reforça esses princípios na busca de uma gestão eficaz e significativa, evidenciado, no art. 3°, item VIII - a gestão democrática do ensino público, na forma dessa lei e da legislação dos sistemas de ensino. Desta feita os sistemas de ensino pressupõem sua própria normatização para a gestão escolar democrática: Art. 12 - Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I- elaborar e executar sua proposta pedagógica; II- administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; [...] IV- velar pelo cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas. [...] Art. 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I- participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II- participação da comunidade escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (LDB. Título II, art. 12 e 14, 1996, apud BOSCHETTI, 2016, p. 106). A LDB instituiu e proporcionou a gestão democrática nos estabelecimentos de ensino para que possam ter a responsabilidade de elaborar e executar, coletivamente, sua proposta pedagógica, administrar os recursos humanos e financeiros, além de articular-se com a comunidade e famílias dos alunos, fazendo emergir processos de interação entre a sociedade e a escola. A gestão democrática requer autonomia da escola e ambas fazem parte da própria natureza do ato pedagógico. Por conta disso, a LDB, no art. 15, assegura que: [...] os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos grau de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. (LDB, art. 15, 1996, apud BOSCHETTI, 2016, p. 107). Outras providências foram tomadas no sentido de busca de melhorias da gestão democrática, como a aprovação do Plano Nacional de Educação - PNE -, por intermédio da lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014, publicada em forma de anexo, com vistas ao cumprimento do dispositivo no art. 214 da Constituição Federal do Brasil (1988). O PNE estabeleceu metas e estratégias específicas no anexo desta lei cujo prazo de vigência é de dez anos: 38 Meta 19: assegura condições, no prazo de 2 (dois) anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de métodos e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no apoio técnico da União para tanto. (Lei Federal, n. 13.005, 5 jun. 2014, apud BOSCHETTI, 2016, p. 107). Além das metas o referido PNE (2014) estabeleceu também estratégias a serem cumpridas, voltadas diretamente para a gestão escolar: 19.1) prioriza o repasse de transferências voluntárias da União na área da educação para os entes federados que tenham aprovado legislação específica que regulamente a matéria na área de sua abrangência, respeitando-se a legislação nacional, e que considere, conjuntamente, para a nomeação dos diretores e diretoras de escola, critérios técnicos de mérito e desempenho, bem como a participação da comunidade escolar; 19.2) ampliar os programas de apoio e formação aos conselheiros dos conselhos de acompanhamento e controle social do FUNDEB dos conselhos de alimentação escolar, dos conselhos regionais e de outros e aos representantes educacionais em demais conselhos de acompanhamento de políticas públicas, garantindo a esses colegiados recursos financeiros, espaço físico adequado, equipamentos e meios de transporte para visitas à rede escolar, com vistas ao bom desempenho de suas funções; 19.3) incentivar os Estados, o Distrito Federal e os Municípios a constituírem Fóruns Permanentes de Educação; 19.4) estimular, em todas as redes de educação básica, a constituição e o fortalecimento de grêmios estudantis e associações de pais, assegurando sê- lhe, inclusive, espaços adequados e condições de funcionamento nas escolas e fomentando a sua articulação orgânica com os conselhos escolares, por meio das respectivas representações; 19.5) estimular a constituição e o fortalecimento de conselhos escolares e conselhos municipais de educação, como instrumentos de participação e fiscalização na gestão escolar e educacional; 19.6) estimular a participação e a consulta de profissionais da educação, alunos (as) e seus familiares na formulação dos projetos políticos pedagógicos, currículos escolares, planos de gestão escolar e regimento escolares, assegurando a participação dos pais na avaliação de docentes e gestores escolares; 19.7) favorecer processos de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira nos estabelecimentos de ensino; 19.8) desenvolve programas de formação de diretores e gestores
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