Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” ENDOMARKETING: UMA FERRAMENTA ESTRATÉGICA DO MIX DA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL INTEGRADA Joseane Cabral da Silva Rio de Janeiro 2012 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” Endomarketing: uma ferramenta estratégica do mix da comunicação organizacional integrada Monografia realizada em cumprimento às exigências de Metodologia da Pesquisa, para a obtenção do título de especialista em Marketing. Por: Joseane Cabral da Silva Orientador: Jorge Vieira AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar, ao Pai Maior, por ter-me permitido encontrar forças nos momentos em que achei que não conseguiria ir em frente. Soli Deo gloria! Aos meus pais, Henrique e Edilene, e à minha querida irmã, Aline Cabral, que me sustentaram durante os momentos em que mais precisei deles, segurando forte a minha mão. Ao meu cunhado, Eduardo Cruz, por ser como um irmão para mim. A uma pessoinha querida e importante demais para mim, com quem tenho convivido (e aprendido muito!) nos últimos dez meses: meu Moço Bonito, como costumo chamá-lo. Obrigada, meu bem, pelo apoio incansável e pela paciência nas looooongas e cansativas quintas-feiras em que estive ausente por conta das disciplinas da pós, e pelos ouvidos sempre atentos às minhas intermináveis histórias sobre jornalismo, marketing e otras cositas más. À minha chefe e amiga de todos os dias, Célia Cândido, por dividir momentos felizes e tristes comigo e pelos incentivos de sempre. Valeu, Celinha! Aos amigos queridos que conheci na Pós-Graduação em Marketing, por dividirem muitos cafezinhos comigo e me proporcionarem bate-papos interessantes e descontraídos. Em especial, lembro o nome de pessoas generosas como Lívia Maria (gentilíssima e educadíssima) e Andréa Garrido (uma figura!), com quem compartilhei, além das risadas, muitos trabalhos em grupo. Ao querido professor Norivaldo, que ministrou a primeira disciplina a que assisti na pós-graduação (Planejamento e Elaboração de Projetos) e por meio de quem tomei conhecimento dos conceitos iniciais de uma área com a qual eu não tinha muita afinidade... Saudade do dinamismo de suas aulas, Norivaldo! Ao professor André Ricardo, pela humanidade e pela didática com que apresentou o conteúdo de suas aulas e por compartilhar conosco, de forma prática e tangível, seus conhecimentos acadêmicos e sua experiência profissional no campo do Endomarketing e da gestão de RH, durante a disciplina de mesmo nome, cursada no Instituto A Vez do Mestre (IAVM). Ao meu orientador, professor Jorge Vieira, pela leitura atenta do meu Plano de Pesquisa e pelo acompanhamento deste Trabalho de Conclusão de Curso na Plataforma de Orientação (Plator) da Universidade Cândido Mendes, sempre dando retorno às minhas postagens de maneira educada, otimista e atenciosa. “A estratégia sem tática é o caminho mais lento para a vitória. Tática sem estratégia é o ruído antes da derrota” (Sun Tzu). “É mais importante adotar a estratégia correta do que buscar o lucro imediato” (Philip Kotler). RESUMO O mundo de hoje tem como marca distintiva a competição feroz e a enorme cobrança da sociedade civil e dos consumidores/cidadãos junto às empresas no que se refere ao bom funcionamento dos serviços e produtos por elas oferecidos. Em meio a esse contexto, o ambiente empresarial encontra-se sujeito a questionamentos, oscilações e crises. As organizações que não se mostrarem preparadas para os desafios que se colocam diante delas devem repensar sua atuação, sob pena de fecharem as portas e sucumbirem face à concorrência acirrada no mercado. O texto desta monografia discute, por meio do levantamento bibliográfico sobre comunicação empresarial, a relevância e a urgência do endomarketing. Defende-se a implantação de um sistema integrado de comunicação no âmbito da organização, que priorize a comunicação voltada para o ambiente interno, entendendo os colaboradores mais do que como consumidores-clientes, mas, principalmente, como um público. Neste sistema holístico, atuarão, junto aos profissionais do marketing, os demais profissionais da comunicação institucional, como jornalistas, relações-públicas, pedagogos empresariais, dentre outros. Palavras-chave: Comunicação organizacional; comunicação empresarial; comunicação integrada; endomarketing. METODOLOGIA Para levar esta pesquisa a termo, a autora deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) realizou um levantamento bibliográfico específico acerca das discussões produzidas recentemente pelos estudiosos da comunicação no âmbito das organizações. Levantamento que resultou na leitura e no fichamento das principais obras utilizadas neste trabalho. No texto final deste TCC, faz-se menção não apenas a obras produzidas por teóricos da comunicação, como também àquelas redigidas por profissionais que atuam, há diversos anos, no campo da comunicação organizacional e/ou empresarial. A leitura criteriosa e direcionada dos autores selecionados originou esta pesquisa qualitativa, feita pela discente e acompanhada pelo docente orientador proposto pela Universidade Cândido Mendes (UCAM). As atividades e os debates presentes na disciplina de Endomarketing, cursada em novembro de 2011, durante esta pós-graduação, também foram fundamentais para o amadurecimento das questões presentes no Plano de Pesquisa que foi apresentado à UCAM e aprovado pelo orientador. A aquisição dos conteúdos em sala de aula ao longo dos 13 meses de pós- graduação, a leitura dos textos específicos, a redação, a apresentação (passo a passo) da escrita ao orientador e as mudanças sugeridas por ele, tudo isso gerou uma síntese: a redação final desta monografia, ora entregue a esta universidade. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 Capítulo I: Breve histórico da comunicação empresarial ...................................... 11 1.1 Comunicação empresarial, comunicação corporativa ou comunicação organizacional? ............................................................................................................ 14 1.2 A quem compete atuar como comunicador organizacional? ................................. 14 Capítulo II: Comunicação organizacional integrada .............................................. 21 2.1 Comunicação institucional ...................................................................................... 22 2.1.1 Relações públicas .............................................................................................. 23 2.1.2 Jornalismo empresarial ..................................................................................... 24 2.1.3 Assessoria de imprensa ..................................................................................... 24 2.1.4 Editoração multimídia ....................................................................................... 24 2.1.5 Imagem corporativa e identidade institucional ................................................. 24 2.1.6 Propaganda institucional ................................................................................... 26 2.1.7 Marketing social ............................................................................................... 27 2.1.8 Marketing cultural ............................................................................................. 29 2.2 Comunicação interna ...............................................................................................30 Capítulo III: O papel do endomarketing na comunicação organizacional ........... 35 3.1 Endomarketing ou marketing interno?..................................................................... 38 3.2 Definindo endomarketing....................................................................................... 40 3.3 Envolvimento não gera comprometimento............................................................. 42 3.4 Projetos de endomarketing sob a ótica de Cerqueira.............................................. 44 3.5 Implantação de programas de endomarketing......................................................... 46 3.6 Manutenção de programas de endomarketing......................................................... 48 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 50 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 53 8 INTRODUÇÃO Desde a “invenção” da atividade de assessoria de imprensa pelo jornalista Yve Lee, nos Estados Unidos, em 1906, até a regulamentação das profissões de relações públicas e de jornalismo no Brasil, no final da década de 1960, a comunicação voltada para as organizações é um tema que tem sido amplamente pesquisado por comunicólogos. Ela é uma área de extrema importância, apesar de relegada por muitos empresários, quer por total desconhecimento do assunto, quer por acharem que se trata de algo irrelevante para o sucesso de seus empreendimentos. Em tempos de globalização da informação e do avanço das novas tecnologias, a comunicação empresarial não pode ser subestimada. A ideia de produzir uma monografia sobre esse tema deve-se ao fato de que, durante o tempo em que a autora deste trabalho cursou a Pós-Graduação Lato Sensu em Marketing no Instituto A Vez do Mestre, na Universidade Cândido Mendes (de fevereiro de 2010 a fevereiro de 2011), ela percebeu que estudos recentes revelam que as empresas mais conceituadas no mercado têm usado a comunicação a seu favor, obtendo um fator de vantagem competitiva na construção e manutenção de uma imagem positiva junto aos seus públicos diversos. Devido à sua abrangência conceitual e prática, a temática da comunicação empresarial não se limita exclusivamente ao campo das ciências da comunicação. Ao contrário, espraia-se por outros ramos do conhecimento, dialogando intensamente com os estudos da administração, da engenharia de produção, dos recursos humanos, dentre outros campos. E, dentro da própria comunicação, seu enfoque é diferenciado, variando de acordo com a interpretação de relações-públicas, jornalistas e publicitários. Por conseguinte, para a escrita deste trabalho final, a autora recorreu a estudiosos de diversos ramos, que discutem a comunicação voltada para as organizações. Todavia, as concepções predominantes para a abordagem desse objeto de estudo foram retiradas, basicamente, das obras de comunicadores que se propõem a debater o tema no campo teórico, como é a professora Margarida Kunsch, respeitada pesquisadora da Universidade de São Paulo, e daqueles que retiram, principalmente, as explicações para as suas análises dos diversos anos de atuação no mercado da comunicação empresarial, como é o caso dos administradores de empresa Daniel Costa e Wilson Cerqueira. 9 Para facilitar a leitura desta monografia, convém dizer que o texto do TCC encontra-se dividido em três capítulos. Ele foi construído de forma decrescente, partindo dos aspectos mais gerais da comunicação empresarial para os mais específicos. Assim, no primeiro capítulo, faz-se um breve histórico acerca da comunicação empresarial, já que, no entender da autora deste trabalho1, não há como falar de endomarketing sem, antes, discutir a comunicação no interior das empresas. Em tal capítulo, aponta-se o início da atividade do comunicador empresarial por parte da atuação de relações-públicas, publicitários e jornalistas no interior das organizações. Por meio da leitura de artigos recentes, publicados em uma coletânea organizada por um jornalista e um relações-públicas, faz-se um resgate do histórico conflito que se originou entre essas duas categorias por disputa de mercado, apontando-se uma saída viável para a resolução dessa questão. Uma solução possível para esse embate entre os dois profissionais seria a adoção de uma perspectiva mais global de atuação nesse mercado, qual seja, a da comunicação integrada. Dessa forma, não saem perdendo nem os relações-públicas nem os jornalistas. Muito menos os publicitários. No segundo capítulo, a autora deste TCC procura fazer essa discussão da busca de uma atuação mais holística na comunicação empresarial, definindo, portanto, o que entende por comunicação integrada e apresentando alguns instrumentos constitutivos do chamado “mix da comunicação organizacional”. Por meio da adoção de uma perspectiva integrada da comunicação, não se está defendendo uma descaracterização profissional do publicitário, do RP ou do jornalista. Busca-se, ao contrário, uma atuação que prime pela unidade, não pela dispersão e fragmentação do trabalho. As especificidades dessas áreas, no entanto, não devem ser perdidas de vista, posto que a formação de cada um desses profissionais é singular uma em relação à outra e precisa ser levada em consideração no decorrer do desenvolvimento de suas funções. 1 Frisa-se que é “no entender da autora deste trabalho”, porque o recorte epistemológico escolhido para a escrita deste TCC é apenas um dos muitos caminhos metodológicos possíveis para se falar de endomarketing. A opção de recortar o tema pelo campo da comunicação organizacional para, então, chegar às noções de marketing interno ou endomarketing deve-se apenas a uma questão de proximidade teórico-profissional. Como a autora desta monografia não é graduada em marketing, mas jornalista por formação e especialista em comunicação empresarial, ela possui maior familiaridade com as discussões acerca da comunicação interna feita pelos jornalistas e relações-públicas da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). A produção acadêmica desse grupo de pesquisadores é uma referência fortíssima para as escolas de comunicação no país. Eles entendem endomarketing como um dos elementos do composto da comunicação organizacional integrada, como se verá no capítulo 3 do TCC. 10 Contudo, a dimensão da convergência também não pode ser deixada de lado. Por conseguinte, o produto final desse trabalho em torno da comunicação empresarial deve expressar a sinergia de todos os esforços empreendidos no sentido de garantir o sucesso da comunicação organizacional. Por fim, no terceiro e último capítulo, apresenta-se a noção de endomarketing – temática central para as discussões presentes neste TCC. Nessa parte do trabalho, a autora mostrará que, ao contrário do que propõem alguns especialistas do marketing, presos a uma visão isolada da comunicação empresarial, o endomarketing deve ser entendido como uma das muitas ferramentas estratégicas da comunicação organizacional integrada. Dessa forma, o que se aponta é que se trata de um erro pensar esse instrumento prático-conceitual como sendo o plano de comunicação organizacional em si. Portanto, o que este TCC mostra em tal capítulo é que, ao contrário dessa visão equivocada, o endomarketing faz parte de uma totalidade que deve estar, para seu bom funcionamento, bem integrada e devidamente ajustada a todas as suas partes, sendo o diálogo o sustentáculo dessa inter-relação entre as partes. A urgência da adoção de um plano de comunicação organizacional não poderá, sob risco de a organização não obter o sucesso desejado, menosprezar a importância da utilização do endomarketing como ferramenta estratégica para a obtençãodos resultados pretendidos. Diante da complexidade presente no cenário de extrema competição que sublinha o mercado empresarial, decorrente de turbulências e incertezas, a autora deste TCC revela a importância de buscar ferramentas e técnicas que auxiliem no processo gerencial das organizações, apontando a utilidade dos projetos de endomarketing na busca do comprometimento dos colaboradores com os valores presentes na cultura organizacional da empresa, sob a forma de seus princípios norteadores. Levando-se em conta esse cenário turbulento e competitivo das organizações, não resta a menor dúvida de que uma monografia que verse e se proponha a refletir sobre essa temática é bastante relevante, uma vez que, por meio das questões que levanta, contribuirá com novas reflexões e apontamentos para os debates e estudos recentes realizados no âmbito da comunicação empresarial. 11 CAPÍTULO I: BREVE HISTÓRICO DA COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL “A comunicação institucional deve agregar valor ao negócio das organizações e contribuir para criar um diferencial no imaginário dos seus públicos” (Margarida Kunsch). O mundo mudou radicalmente. Ele não é mais aquele de 20 anos atrás, cindido e bipolarizado em decorrência das tensões da Guerra Fria, protagonizada por Estados Unidos, de um lado, e pela antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), do outro. Hoje, o cenário é bastante diferente: ele se encontra perpassado pela filosofia neoliberal, herdeira dos construtos de pensamento hobbesiano e lockeano do século 17. Como se sabe, essas concepções anglo-saxãs individualistas ganharam um novo fôlego e têm marcado a vivência em sociedade nos últimos anos, sobretudo após o questionamento e a derrocada do comunismo na década de 1990 e o triunfo do capitalismo, expresso pela queda do muro de Berlim, na Alemanha, e da cortina de ferro na ex-URSS. A vitória silenciadora do capitalismo sobre o comunismo e o chamado “socialismo real” (representado não apenas pela experiência do Leste Europeu, como também pelo regime castrista em Cuba e pela “revolução cultural chinesa”) não significa unicamente a prevalência de um regime econômico ou de um modo de produção, mas de um éthos social, forjado pelos ideólogos e apologetas neoliberais. Vitória que imprime comportamentos muito particulares aos seres humanos de uma coletividade. Em outras palavras, com o triunfo capitalista e o enfraquecimento/esfacelamento da esquerda mundial, estabeleceu-se como majoritária uma vivência em sociedade pautada pela esfera do mercado, do laissez-faire, laissez-passer, onde a “mão invisível” do mercado é livre para “agir” e não deve sofrer qualquer tipo de intervenção estatal (daí a noção smithiana de “Estado mínimo”), a não ser para garantir a chamada “livre concorrência” (SMITH, 2003). Esta sociabilidade decorrente do “fim da História” (ANDERSON, 1992) e do triunfo da pós-modernidade, perpassada pela esfera do mercado, tem-se expressado, dentre outras atitudes, em uma competitividade exacerbada entre os sujeitos e também entre as instituições, principalmente entre as de cunho privado, nas quais, o que está em jogo, acima de tudo, é o lucro. 12 Somado a isso, com o advento da globalização e a popularização da internet nas recentes décadas, nota-se, cada vez mais, uma postura proativa por parte dos indivíduos e da sociedade como um todo nas questões atuais, mais ainda nas que são do seu interesse. Trata-se de indivíduos que, como salienta o estudioso mexicano da cultura, Nestor Canclini (2005), rejeitam a pecha de consumidores que aceitam passivamente qualquer resposta. Ao contrário, mais até no mercado do que na esfera pública, eles alternam seu status, ora como consumidores, ora como cidadãos, e, como tais, apresentam-se como atores sociais, fazendo valer seus direitos na sociedade de mercado. É em meio às transformações sociais desse novo cenário histórico que se insere o objeto de estudo deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a saber, o endomarketing como ferramenta estratégica do mix da comunicação organizacional integrada. Como salientam o jornalista Paulo Nassar e o sociólogo Rubens Figueiredo, autores de O que é comunicação empresarial, em um contexto de competição acirrada e consumidores “antenados” a tudo o que acontece ao seu redor2, “a comunicação com os mais diversos públicos se torna indispensável para o sucesso” (2006, p. 20). Para eles, a comunicação empresarial pode ser pensada como: “uma verdadeira guerra com muitas frentes de batalha: a frente de batalha voltada para mostrar que a empresa tem uma relação de respeito com a natureza, visando sobretudo a sua preservação (se você quiser, pode chamar de frente de batalha ecológica); a frente de batalha para manter e conquistar novos consumidores; a frente de batalha da comunicação interna, dirigida para os imensos exércitos de trabalhadores engravatados e de uniformes que constituem os recursos humanos das empresas modernas; a frente de batalha das complicadas relações da empresa com os governos e políticos, ou seja, o lobby empresarial. E a grande frente de batalha da propaganda e da promoção de produtos” (Ibidem, p. 20,21). É em meio a esse contexto bélico3 da concorrência e da briga pela conquista da mente e do coração dos consumidores-cidadãos que as empresas vão construindo a sua imagem 2 Também chamados de “consumidores 2.0”, denominação que é uma referência clara ao novo contexto de interação entre os sujeitos, proporcionado pela Web 2.0 e pelas “redes sociais”. O site Reclame Aqui foi criado a partir desta noção. Nele, os internautas insatisfeitos com uma compra que fizeram nas lojas físicas ou virtuais registram suas reclamações, exercendo o direito de serem ouvidos, já que se sentem prejudicados por uma empresa. O endereço eletrônico do site é: www.reclameaqui.com.br/ Para mais detalhes sobre as transformações decorrentes da sociedade em rede, ver Castells (1999). 3 Não por acaso, existe uma abordagem do marketing, originada e muito utilizada nos Estados Unidos, chamada de marketing de guerra (RIES e TROUT, 2006). Este designa essa batalha mercadológica em que vale (quase) tudo por uma fatia (ou share of mind) da mente do consumidor. Vale, inclusive, atacar, simbolicamente, em uma campanha publicitária, por exemplo, o concorrente em rede nacional. Essa 13 como instituição. Imagem que, como frisam os autores anteriormente citados, será a soma de todas as outras imagens da empresa, ou seja, a imagem de seus produtos mais a da relação da empresa com o consumidor e com seus diversos públicos. O profissional de comunicação empresarial é, pois, uma espécie de consciência crítica da instituição; é aquele que zela pela construção e manutenção da boa reputação da empresa. Para isso, presta assessoria de comunicação à organização, realizando: pesquisas e auditorias de opinião e imagem; interpretação dessas pesquisas; planejamento estratégico da comunicação institucional, dentre outras atividades. Imagem, em tal contexto, pode ser entendida como um “conceito”, uma representação formulada acerca de um objeto. Mais adiante, quando se discutir os elementos constitutivos da comunicação institucional, esta categoria analítica será apontada de forma mais pormenorizada. Por se tratar de um conceito, a imagem não possui um caráter estático ou fixo. Muito pelo contrário, é algo que se encontra em um fazer constante. Em decorrência disso, está sempre em movimento. E a forma como a empresa se posiciona, a cada momento em relação ao mundo que a cerca, terá um rebatimento imediato na concepção dos sujeitos e atores sociais com quais ela mantém interlocução. Daí a necessidade de acompanhamento constante desse processo. Mas quem são os profissionais que atuam nessa “verdadeira guerra” pelo coração e pela mente dosconsumidores-cidadãos, zelando pela boa reputação de uma empresa? Em outras palavras, a quem a comunicação empresarial diz respeito afinal, ao assessor de imprensa (na figura do jornalista), ao relações-públicas4, ao publicitário (e ao profissional de marketing), ou a todos esses profissionais ao mesmo tempo? E quando essa “arena” passou a ser percebida como um campo de atuação profissional? O próximo item propõe- se a fazer essa problematização. estratégia de captação de clientes tem gerado discussões intermináveis em termos do dever ético dos profissionais de marketing. 4 Neste ponto, convém esclarecer o uso de dois termos: relações-públicas e relações públicas. Um aparece grafado com hífen, e o outro, sem. A distinção é simples: com hífen, trata-se do profissional que atua em relações públicas. Sem hífen, refere-se a esse ramo de atividade. Convém salientar também que todos os campos do saber aqui discutidos aparecem grafados com a inicial em caixa baixa (marketing, jornalismo, economia, administração, dentre outros). A autora deste TCC observou que a maior parte dos teóricos procedeu dessa forma, por isso, seguiu a mesma linha de raciocínio, optando por preservar o uso das iniciais minúsculas para designar essas áreas, mesmo porque, salientam os jornalistas, essa é uma questão de simples convenção. O nome de uma área de atuação só ficará em caixa alta (letra maiúscula) se o texto citado utilizar a expressão dessa maneira. Na seção Metodologia deste trabalho, Endomarketing aparece em caixa alta por se referir ao nome de uma disciplina específica, cursada na especialização da UCAM. 14 1.1 Comunicação empresarial, comunicação corporativa ou comunicação organizacional? Em primeiro lugar, convém, como ensinam diversos pesquisadores da área, um breve esclarecimento em relação ao uso de terminologias comuns a esse ramo de atuação; atuação que pode dar-se não apenas no mercado de trabalho como também no universo acadêmico. Uma das autoras mais conhecidas e conceituadas no que se refere à comunicação empresarial, tendo sido discípula de grandes nomes das relações públicas no Brasil, como Cândido Teobaldo de Souza Andrade e Gaudêncio Torquato do Rego, é Margarida Kunsch, professora titular da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) e livre-docente em Teorias e Processos de Comunicação Institucional. Pesquisadora do tema desde 1985, Kunsch, em suas diversas obras, inclusive em Planejamento de relações públicas na comunicação integrada, ao discutir a problemática da comunicação no contexto institucional, prefere o uso do termo “comunicação organizacional” em vez dos similares “comunicação empresarial” e “comunicação corporativa”. Ela afirma que tais terminologias são utilizadas indistintamente em solo brasileiro para designar “o trabalho de comunicação levado a efeito pelas organizações em geral”, entendido como um “fenômeno inerente aos agrupamentos de pessoas que integram uma organização ou a ela se ligam” (KUNSCH, 2003, p. 149). No entanto, ela julga mais adequada a expressão “comunicação organizacional”, por acreditar que tal conceito é mais abrangente, envolvendo todo o escopo das atividades comunicacionais e garantindo maior amplitude, posto que se aplica “a qualquer tipo de organização – pública, privada, sem fins lucrativos, ONGs, fundações etc., não se restringindo ao âmbito do que se denomina empresa” (Ibidem, p. 150). Dado o fato de Margarida Kunsch constituir-se em uma conceituada referência na temática da comunicação empresarial no país e para tornar mais clara a discussão desse assunto, a autora deste TCC optou por utilizar a categoria “comunicação organizacional” em substituição ao termo “comunicação empresarial” por também a julgar mais abrangente. 1.2 A quem compete atuar como comunicador organizacional? 15 Ao longo da revisão bibliográfica, a autora deste trabalho viu-se diante de uma inquietação teórica. Ela observou que a bibliografia sobre a comunicação organizacional foi produzida extensamente, não apenas pelos estudiosos das escolas de administração e recursos humanos, mas também por três profissionais distintos: jornalistas, relações- públicas e publicitários/profissionais do marketing, sobretudo por pesquisadores oriundos do jornalismo e das relações públicas. Ela observou ainda que, apesar do “tronco epistemológico” comum aos três – os estudos da comunicação –, o posicionamento deles acerca da temática da comunicação no contexto organizacional era bem diferente. Notou, além do uso de terminologias diversificadas para descrever o mesmo objeto5, que, historicamente, estabeleceu-se uma disputa, principalmente entre jornalistas e relações-públicas, em torno do mercado da comunicação organizacional. Apesar das inúmeras discordâncias acerca das atribuições de jornalistas, relações- públicas, publicitários e profissionais do marketing no âmbito da comunicação organizacional, a maioria deles concorda que foi o jornalista norte-americano Ivy Lee quem, em 1906, “inventou” essa atividade especializada, ao estabelecer, em Nova Iorque, o primeiro escritório de assessoria de comunicação no mundo (MANUAL DE ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO, 2007, versão em pdf). Sonia Pessoa, no artigo intitulado Comunicação empresarial, uma ferramenta estratégica, afirma que a experiência de Lee teria inspirado empresas de outros países a seguirem esse modelo de comunicação, como foi o caso do Canadá e da França, na década de 1940, e, na seguinte, da Holanda, Inglaterra, Noruega, Itália, Bélgica, Suécia e Finlândia. Em 1958, a Alemanha dava seus primeiros passos nessa área (s/d, p. 2). No Brasil, quem, historicamente, incumbiu-se da tarefa de pensar a comunicação no âmbito das organizações foram os profissionais de relações públicas, forjando para a profissão um campo de atuação e de análise muito particular. Assim, foi na década de 1950: 5 Entre os jornalistas, é mais comum o uso da categoria “comunicação empresarial”, como aparece em Nassar e Figueiredo (2006), para a discussão da comunicação no âmbito das instituições. Entre os profissionais de RP, sobretudo oriundos da USP, é recorrente a expressão “comunicação organizacional”, como apontam, por exemplo, Torquato do Rego (2004) e Kunsch (2003). Já os publicitários e profissionais do marketing aproximam-se desse campo acadêmico-profissional pela via do do marketing interno (KOTLER, 1998) e do endomarketing (BEKIN, 1995; BRUM, 1998; CERQUEIRA, 1994; COSTA, 2010), ou mediante a problematização de ambos (INKOTE, 2000). 16 “que surgiram os trabalhos de Relações Públicas e de Comunicação Empresarial, atividades que foram motivadas pela instalação de indústrias e das agências de publicidade vindas dos Estados Unidos. Era a época do governo Juscelino Kubistchek, que havia assumido a presidência com o famoso lema fazer 50 anos em 5” (PESSOA, s/d, p. 2). Dando continuidade à trajetória da comunicação organizacional, a autora salienta que a chegada das primeiras montadoras de automóveis, seguida da industrialização, impulsionou o mercado e, a partir da segunda metade da década de 1960, as relações públicas conquistaram mais espaço em solo brasileiro. A partir de então, originou-se a histórica disputa de espaço profissional entre jornalistas e RPs. Antes de continuar discorrendo sobre esse ponto, convém destacar que essa disputa é muito particular à histórica atuação dessas duas categorias como se discutirá nos próximos parágrafos. Ao longo da revisão bibliográfica, a autora deste TCC procurou, mas não encontrou referência à inserção do profissional de marketing em tal briga por espaço na comunicação corporativa. Talvez por tal profissionalentender suas funções, no ambiente empresarial, de forma bastante diferenciada da atuação de jornalistas e relações-públicas, visando mais ao público interno como cliente/consumidor. Por sua vez, para os jornalistas e relações-públicas, pelas características intrínsecas ao código de ética que rege uma e outra, tratar o público interno prioritariamente como um cliente é simplificar as tarefas do assessor de comunicação, reduzindo-as à aplicação das leis do mercado a esse púbico. No capítulo 2, será abordada, pormenorizadamente, a importância que os teóricos das relações públicas (e da comunicação organizacional de maneira mais ampla) dão ao que chamam de mix da comunicação organizacional integrada. Em tal seção, a autora desta monografia retomará, por meio do olhar da professora Margarida Kunsch (2003), a crítica das relações públicas ao uso isolado do endomarketing e do marketing interno, apontando que eles devem ser pensados não como o programa de comunicação interna em si, mas como um dos aspectos do composto da comunicação integrada nas instituições. Em outras palavras, Kunsch entende o marketing, assim como as relações públicas, o jornalismo empresarial, a assessoria de imprensa, a propaganda institucional e tantos outros elementos desse mix como ferramentas estratégicas para o planejamento e consequente sucesso da comunicação institucional junto a seus diversos públicos. Posta essa digressão, feita apenas para situar o lugar do profissional de marketing no âmbito da comunicação organizacional integrada, importa retomar a tradicional disputa de 17 espaço entre jornalistas e relações-públicas em tal esfera para que se entenda como este campo de atuação se encontra definido e estruturado atualmente. De acordo com boa parte dos pesquisadores dessa temática, a origem dos debates sobre a ocupação do mercado da comunicação organizacional pode ser obtida nas legislações de relações-públicas e jornalistas, elaboradas no final da década de 1960, e na organização dos cursos universitários da área de comunicação social (DUARTE e MONTEIRO, 2004, p. 73). Nesse sentido, os profissionais das duas áreas herdaram uma visão corporativa, segmentada e fragmentária, que, em tempos de globalização, soa como defasada e retrógrada, posto que, em decorrência do corporativismo inócuo de ambos os lados, estabelece limites e fronteiras que, na prática, são muito tênues e fluídos. Portanto, difíceis de serem seguidos à risca. As funções, tanto dos jornalistas quanto dos profissionais de relações públicas, que deveriam ser entendidas de forma complementar, tornaram-se motivo de concorrência por cargos de chefia nas empresas (PESSOA, s/d, p. 2). Isso porque muitos jornalistas começaram a desenvolver suas habilidades – principalmente a experiência que tinham decorrente do trabalho na grande imprensa – no ambiente da comunicação nas organizações. Além disso, a partir dos anos 1980, com o início do processo de redemocratização da sociedade brasileira, o bom relacionamento com a imprensa tornou-se um elemento fundamental para a sobrevivência das organizações de quaisquer tipos, sendo também “ponta-de-lança para outras atividades de comunicação organizacional, o que a tornou foco de disputas” (DUARTE e MONTEIRO, 2004, p. 74). Por conseguinte, o mercado da comunicação organizacional cresceu de tal forma, que “mais de 60% dos graduados em jornalismo passaram a atuar nessa área, muitos deles executando atividades previstas pela legislação de relações públicas, mesmo sem saber ou admitir” (Ibidem). Como se pode imaginar, essa “invasão” do mercado da comunicação empresarial pelos jornalistas, no início dos anos 1980, causou, no campo profissional das relações públicas, um enorme desconforto, quer pela ameaça que significou em termos de ocupação de vagas, quer pelos novos conceitos que essa inserção acabou introduzindo “numa área que pouco ou nada tinha de visão editorial e jornalística” (RIBEIRO, 2004, p. 103). 18 Essas mudanças, no cenário da comunicação organizacional, surgiram não sem consequências para ambos os profissionais. A mais notória delas foi um clima de antipatia e animosidade entre eles. Com base nas resoluções do Conselho Federal de Relações Públicas (Conferp) e nos Conselhos Regionais de Relações Públicas (Conrerps), multas por exercício ilegal da profissão começaram a ser aplicadas nas organizações que praticavam relações públicas sem ter um profissional com essa formação. Já os jornalistas, por não contarem com uma legislação tão forte nesse aspecto, recorreram à persuasão, “e, com isso, muitas empresas que não tinham jornalistas fazendo assessoria de imprensa e publicações empresariais acabaram contratando profissionais diplomados para essas funções” (RIBEIRO, 2004, p. 103). Tais profissionais não atentavam para o fato de que, nessa briga por “território”, saem perdendo não apenas jornalistas e relações-públicas, como também as instituições. Isso porque, presos às quizilas do corporativismo estéril do passado, ambos perdem o foco da questão, a saber, que a comunicação organizacional eficaz não se encontra exclusivamente nem nas mãos do jornalista, nem nas do relações-públicas. O jornalista Eduardo Ribeiro afirma que um passo decisivo na tentativa de colocar um ponto final nessa briga – que além de improdutiva parecia interminável – foi dado por Vera Giangrande, a então presidente do Conferp. Como bem resgata o autor, Vera Giangrande aceitou promover uma trégua, ao negociar aspectos da atividade de relações públicas com os jornalistas, dialogando, concomitantemente, com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo e com a Comissão Permanente e Aberta dos Jornalistas em Assessoria de Imprensa, coordenada por Eduardo Ribeiro na ocasião. De acordo com Ribeiro, Giangrande fechou um acordo mediante o qual “as relações públicas aceitavam a companhia dos jornalistas no ambiente da comunicação empresarial como legítimos titulares das assessorias de imprensa e das publicações empresariais, a despeito dos aspectos legais que, à época, eram favoráveis integralmente aos RPs” (Ibidem, p. 104). Tal acordo foi tão profícuo, que, como aponta Ribeiro em seu breve artigo, resultou na edição do Manual de Assessoria de Imprensa em 1986. Este teve o respaldo da Conferp e foi confeccionado por jornalistas de todo o Brasil. A Conferp, por sua vez, aceitou os novos termos propostos no acordo, incluindo o redimensionamento das fronteiras entre as duas áreas. A partir de então, oficialmente, os jornalistas deixaram de ser percebidos como 19 “intrusos” no âmbito da comunicação organizacional, até então tido como campo de atuação exclusivo dos profissionais de relações públicas. É possível dizer que o legado da gestão de Vera Giangrande reside, sobretudo, no aprendizado de que solução para o conflito relações-públicas versus jornalistas, no interior das organizações, não está no hiato, muito menos na fragmentação das tarefas desenvolvidas por um ou pelo outro. Assim, fica claro que a resposta para esse imbróglio teórico e profissional está não no silenciar de uma parte em prol da outra, mas no diálogo entre ambas. Uma solução provável para esse entrave é a discussão exaustiva do assunto, que já tem sido feita por diversos profissionais da área, como acontece nos vários encontros nacionais de jornalistas em assessoria de imprensa, promovidos pela Fenaj desde 1984, e nos conselhos regionais de relações públicas. Essa busca resultou em algumas iniciativas interessantes, como a publicação de uma coletânea destinada a discutir intensamente o assunto. Em Jornalismo e relações públicas: uma perspectiva conciliatória possível (2004), o jornalista Boanerges Lopes e o relações- públicas Roberto Fonseca Vieira reúnem profissionais renomados de ambas as áreas pararefletirem sobre a histórica briga e apresentarem algumas saídas para ela. Dentre as “perspectivas conciliatórias possíveis”, apresentadas pelos autores, é recorrente a questão da “integração” entre o trabalho de jornalistas e relações-públicas no âmbito de uma organização. Dessa forma, hoje, o mais correto, quando se discute a comunicação nas organizações, é falar em assessoria de comunicação, não em assessoria de imprensa. O próprio Manual da Fenaj de 2007 recebeu o nome de Manual de Assessoria de Comunicação. No entanto, importa dizer que tal integração entre esse profissionais não representa a anulação de um em detrimento do outro. Ambos devem unir-se em função do mesmo objetivo: uma comunicação organizacional eficaz. Mas essa “unidade de ação”, como salienta a representante da Fenaj, Beth Costa, em uma das orelhas da publicação organizada por Lopes e Vieira (2004), precisa reafirmar cada especificidade, “harmonizando tarefas e otimizando esforços e energias, principalmente nas assessorias de comunicação”. É nesse sentido, de defesa da unidade da ação e respeito às especificidades de cada área, que Wilson da Costa Bueno, convidado para discutir o assunto na coletânea 20 organizada por Lopes e Vieira (2004), faz a seguinte provocação teórica em seu artigo Jornalismo e relações públicas: a genética explica esta briga: “A complexidade do moderno processo de Comunicação Empresarial, aliás, como já acontece também em outros processos desenvolvidos em outras áreas, como a Medicina, a Física, exige uma perspectiva multidisciplinar, com a convergência de olhares, competências e identidades distintas. Sob este prisma, da importância da diversidade cultural, é que, acreditamos, Jornalismo e Relações Públicas deveriam aproximar-se. Mas a Comunicação Empresarial só será efetivamente recompensada se estes profissionais mantiverem intactas as suas identidades. Se tal integração anular estas diferenças, a aproximação terá representado um prejuízo incalculável para a Comunicação Empresarial. Jornalistas e relações-públicas têm que se ver diferentes porque seus DNAs lhes impelem a isso. [...] A disputa, essa disputa sadia entre jornalistas e relações-públicas [...], deve continuar. A Comunicação Empresarial já tem uma tendência atávica à conformidade, à obediência, sem questionamentos, à hierarquia, à assepsia nos sentimentos e relações. Seria triste, se nos empenharmos, agora, para reduzir ainda mais a saudável divergência entre backgrounds profissionais e perfis sociopsicológicos tão distintos, como os que tipificam os jornalistas e os relações-públicas. Da minha parte, até reservei um camarote para curtir essa importante disputa. A comunicação integrada não superará (felizmente) essas diferenças. E que fique claro: não contem comigo para apartar esta briga” (2004, p. 31,32). Provocações à parte, este capítulo discutiu, de forma breve, o contexto de surgimento e estabelecimento da comunicação empresarial/comunicação organizacional enquanto ramo de atuação profissional e sistematização acadêmica por parte dos pesquisadores das áreas de jornalismo, relações públicas e publicidade/marketing. Apresentou, ainda, o entrave que se formou nesse ramo do saber em decorrência das disputas em torno desse campo, travadas especialmente entre jornalistas e relações- públicas. Uma das possíveis saídas encontradas para mitigar esse problema que parecia insolúvel e para uma discussão que soava como improdutiva foi a cooperação entre esses profissionais por meio da atuação conjunta, proposta de forma pioneira pela gestão de Vera Giangrande, desde que respeitadas as especificidades de cada um. É a chamada comunicação organizacional integrada. No capítulo que se segue, a autora deste TCC se propõe a fazer esse debate, encontrando na teoria da comunicação organizacional da professora Margarida Kunsch um manancial epistemológico que permite pensar academicamente essa questão. 21 CAPÍTULO II: COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL INTEGRADA “A complexidade do moderno processo de Comunicação Empresarial [...] exige uma perspectiva multidisciplinar, com a convergência de olhares, competências e identidades distintas” (Wilson da Costa Bueno). Uma grande defensora da ideia de que, em comunicação organizacional, quando se fala em integração não se preconiza diluição das particularidades dos profissionais nela envolvidos é a professora Margarida Kunsch (2003, p. 150). Para ela, a comunicação organizacional deve ser vista como um complexo, um todo articulado. Tal filosofia da comunicação integrada implica, portanto, a convergência de todas as áreas, possibilitando uma atuação que a autora denomina de “sinérgica”. O resultado final, pois, não é a soma delas, mas a síntese. A junção da comunicação institucional (um enorme complexo, onde, para Kunsch, atuam jornalistas, RPs e publicitários), da mercadológica (vista como vinculada diretamente ao marketing e aos negócios), da interna (entendida pela autora como um setor planejado, com objetivos bem definidos, para viabilizar toda interação possível entre a organização e seus empregados) e da administrativa (processada dentro das organizações, no âmbito das funções administrativas) forma o mix da comunicação organizacional (Ibidem, p. 152 e ss.). Essas definições são abstrações categoriais à moda de Max Weber (1999), grande teórico alemão da burocracia, também considerado um dos pais fundadores da sociologia. Assim, os conceitos apresentados por Kunsch funcionam como uma espécie de “tipos ideais”, sendo as fronteiras entre essas formas de comunicação muito fluidas na prática. As separações conceituais, no entanto, são realizadas com vistas a facilitar o exercício da abstração simbólica quando do estudo da comunicação organizacional (2009, p. 115). Dados os limites deste Trabalho de Conclusão de Curso, não apenas no que se refere ao espaço físico destinado a ele, mas também quanto ao tempo exíguo para a confecção dele e entrega ao orientador que o corrigirá, a autora deste TCC não se propõe a discutir todas as formas de comunicação elencadas por Kunsch no “mix da comunicação organizacional”. 22 No que concerne a este trabalho, serão apresentadas, portanto, apenas a comunicação institucional e a comunicação interna, posto que ambas são as que mais interessam ao objeto deste texto, por envolverem extensivamente e concomitantemente o trabalho do jornalista, do relações-públicas, do publicitário e do profissional de marketing no âmbito das organizações. Elas são as modalidades que melhor sintetizam a expertise e as tarefas executadas por esses especialistas no interior de uma organização, com vistas a uma comunicação eficaz e a destacar essa mesma corporação em relação às demais, dando a ela um elemento de vantagem competitiva no mercado. O tópico a seguir se propõe a uma discussão detalhada acerca da primeira, bem como dos instrumentos dos quais o comunicador organizacional pode-se utilizar no desenvolvimento da comunicação institucional. Já o item 2.2 objetiva abordar a comunicação interna. 2.1 Comunicação institucional Como bem aponta a professora Margarida Kunsch, nesse conjunto maior chamado comunicação organizacional integrada, a comunicação institucional é a responsável imediata pela construção e formatação da imagem e da identidade forte e positiva de uma organização. De acordo com a concepção dessa pesquisadora, a construção e a formatação da imagem corporativa se dão mediante a gestão estratégica das relações públicas. Isso porque, em seu entender, a comunicação institucional está ligada aos aspectos corporativos institucionais que tornam explícito o lado público das organizações. Além disso, essa forma de comunicação constrói uma personalidade organizacional, tendo como principal proposta a influência sociopolítica no contexto em que a organização se insere socialmente(KUNSCH, 2003, p. 164). A comunicação institucional tem como norte ainda a ênfase nos aspectos relacionados à missão, visão e aos valores da organização. O que significa dizer que fazer comunicação institucional exige que o profissional de comunicação conheça a organização e compartilhe seus atributos. Isso vai além da simples divulgação institucional e de marcas. Sendo a comunicação institucional algo complexo, as organizações precisarão lançar mão de “estratégias e 23 políticas bem definidas de comunicação, delineadas e planejadas estrategicamente pela área de relações públicas, numa perspectiva de comunicação integrada” (Ibidem, p. 165). São elencados, neste TCC, alguns elementos da comunicação institucional apontados por Kunsch em sua análise. Para ela, essa área é formada por subáreas ou instrumentos que convergem para formatar uma “comunicação da organização em si, como sujeito institucional, perante seus públicos, a opinião pública e a sociedade em geral” (KUNSCH, 2003, p. 166). Tais instrumentos referem-se às relações públicas, ao jornalismo empresarial, à assessoria de imprensa, à publicidade/propaganda institucional, à imagem e à identidade corporativas, ao marketing social, ao marketing cultural e à editoração multimídia. A seguir, é feita uma breve conceituação sobre cada um deles, a partir da interpretação de Kunsch acerca de sua função para a comunicação institucional. 2.1.1 Relações públicas No construto teórico de Kunsch, cabe a elas administrar estrategicamente a comunicação das organizações com seus públicos, atuando de forma sinérgica com as demais modalidades comunicacionais. As relações públicas são responsáveis, ao lado das demais áreas, por construir a credibilidade e a fixação de um posicionamento institucional coerente e duradouro das organizações. Suas metas só podem ser concretizadas em diálogo com o marketing social, o marketing cultural, o jornalismo empresarial, a assessoria de imprensa, a propaganda institucional e a editoração multimídia, mediante ações coerentes entre discurso e prática. Todos esses aspectos, no âmbito de uma organização, são indissociáveis. Nesse sentido, Kunsch destaca que: “Não se pode separar a alma do corpo vivo. Assim, não podemos conceber a comunicação institucional como algo estanque e isolado da comunicação mercadológica, da interna e da administrativa. São áreas específicas, mas atuando conjuntamente para uma só organização, que cada vez mais precisa conseguir a aceitação e adesão dos públicos. As organizações modernas não podem se limitar apenas à divulgação dos seus produtos ou serviços. Necessitam se identificar perante um público consumidor cada vez mais exigente. A comunicação institucional deve agregar valor ao negócio das organizações e contribuir para criar um diferencial no imaginário dos seus públicos” (2003, p. 167). 24 2.1.2 Jornalismo empresarial Considerada por Margarida Kunsch uma subárea pioneira da comunicação organizacional, o jornalismo empresarial forma, com as relações públicas e a propaganda, o que ela chama de o “tripé clássico” organizador dos fluxos responsáveis pela irradiação das informações institucionais. As publicações empresariais consistem em uma ferramenta importantíssima no contexto das organizações, não apenas no Brasil, mas também em diversos países da Europa, nos Estados Unidos e até mesmo em nações que se identificam como socialistas. É uma proposta especializada do exercício da profissão, apropriando-se dos modelos existentes no jornalismo realizado pela grande mídia, revelando-se como um campo que tem crescido qualitativamente no que se refere à técnica e ao conteúdo (KUNSCH, 2003, p.168). 2.1.3 Assessoria de imprensa Item apontado por Kunsch como uma das principais frentes de atuação no espectro da comunicação organizacional em solo brasileiro; portanto, como uma das muitas portas de entrada para outros serviços no ramo da comunicação. É uma das ferramentas fundamentais no processo de mediação entre a organização e o público de uma maneira geral, bem como junto à opinião pública e à sociedade, através da mídia impressa, dos meios eletrônicos e da internet. 2.1.4 Editoração multimídia Vista como uma especialidade que interage nas diversas esferas da comunicação, contando com consideráveis possibilidades de crescimento no escopo da comunicação organizacional integrada, em decorrência do desenvolvimento das novas tecnologias, como é o caso, por exemplo, das mídias digitais. 2.1.5 Imagem corporativa e identidade institucional 25 Tanto a noção de imagem como a de identidade são pertinentes ao ambiente das corporações. Kunsch, no entanto, diferencia imagem corporativa de identidade institucional. Enquanto a primeira refere-se ao que se passa na mente dos públicos, no seu imaginário, a segunda aponta para o que a organização é, faz e diz. Em outras palavras, “identidade corporativa não é imagem corporativa (identidade, no caso, significa aquilo que uma organização é e como deseja ser percebida – nos limites do que ela é e tem –, enquanto imagem é como tal organização é percebida por todos os públicos de interesse)” (ANDRADE, 1997, apud, KUNSCH, 2003, p. 170). No contexto da comunicação organizacional, é necessário que exista uma coerência entre imagem e identidade, pois as relações públicas devem trabalhar com bases reais. Caso contrário, o que o relações-públicas faz é “fabricar imagens”. Imagens estas que, por serem artificiais, pouco ou nada condizem com o que a organização é. A respeito desse espelhamento necessário entre imagem e identidade institucionais, Kunsch cita o pesquisador Cândido Teobaldo de Souza de Andrade (1989, p. 98). Ele afirma que o exercício das funções de relações públicas consiste na execução de uma política e de um programa de ação que captem a confiança dos públicos de uma organização, de maneira a equilibrar os interesses conflituosos de ambas as partes. E para que consiga esse objetivo, o profissional de RP não deve calcar seu trabalho em “meras falácias (imagens)”, mas, precisa, “por meio de conceitos e ideias, alcançar, honestamente, atitudes e opiniões favoráveis para as organizações em geral” (KUNSCH, 2003, p. 174). Em suma, imagem e identidade organizacionais, ao contrário da forma como são percebidas mediante um entendimento equivocado do marketing6, não se resumem à apresentação visual por meio de “logotipos, nomes criativos, luminosos em pontos estratégicos etc.” (Ibidem). Ambos os termos referem-se, igualmente, a questões complexas, que dependem da síntese de múltiplos aspectos e percepções para a formatação de uma personalidade 6 Essa “miopia” conceitual não é exclusiva do marketing. Em meio à práxis jornalística, por exemplo, existe uma distorção comum entre os princípios norteadores do jornalismo e o exercício dessa profissão. Historicamente, os assessores de imprensa têm sido criticados exaustivamente em decorrência de interpretações enviesadas de suas funções, como é o caso da prática do jabaculê, também conhecido como jabá – espécie de gratificação eticamente questionável, usada pelo jornalista empresarial para comprar determinado espaço em um veículo de comunicação para a organização que ele representa. Para saber mais, ver DUARTE (2003). Trata-se de uma coletânea de artigos que discute os aspectos deontológicos envolvendo assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia. 26 corporativa. Esta, sim, capaz de ser reconhecida e entendida como verdadeira pelos públicos de uma organização. Em termos práticos, não adiantam, por exemplo, todos os esforços do comunicador empresarial e todo o investimento em propaganda para construir uma empresa, junto aos seus públicos, como “amiga da natureza”, se ela aparece nos noticiários, no dia seguinte a uma campanhainstitucional, como uma das maiores poluidoras do meio ambiente. É o típico caso em que a imagem “vendida” pela empresa e acionada na mente do consumidor não “casa” com sua identidade/personalidade corporativa, ou seja, com a forma como a organização se apresenta e se comporta no cotidiano de suas ações práticas e diuturnas. Em casos como esse, o consumidor atento, assim como os demais públicos dessa instituição, jamais “comprará” a imagem que a empresa intentou “vender-lhes”. Isso pelo simples fato de que se trata do que Margarida Kunsch chama, com muita propriedade, de “mera falácia”; um sofisma à moda aristotélica, um raciocínio falso que simula a veracidade, sem, contudo, encontrar respaldo na realidade para a sua efetivação. Como ensinam os especialistas da comunicação organizacional/corporativa, um profissional sério desse ramo de atuação não deve, sob circunstância alguma, aceitar para si esse papel de “ilusionista” ou de criador de “cortina de fumaça”, suprimindo informações do grande público, ocultando dele a verdade dos fatos ou maquiando a realidade (LOPES, 1998; BUENO, 2010). Ao contrário, deve lembrar-se, antes, do juramento que fez como comunicador. Seu compromisso deontológico, acima de tudo, é com a busca da verdade. Compromisso este empenhado não apenas com o Código de Ética da profissão, mas também com os princípios humanísticos presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e norteadores da ação dos sujeitos politicamente responsáveis em sociedade. 2.1.6 Propaganda institucional Este instrumento visa a divulgar as realizações de uma organização, transmitir sua personalidade e fixar conceitos construtivos do que ela é e faz. Ela se assemelha à propaganda na sua exploração, uma vez que paga espaços ou tempos para se expressar. 27 Contudo, é notória sua similitude em relação às atividades de RP no que se refere à sua intencionalidade e ao seu tom cordial, sendo, pois, “a propaganda da informação” (LEDUC, 1977, apud, KUNSCH, 2003, p. 175). Deve ser planejada e apresentar-se como criativa, sendo seu conteúdo majoritariamente pautado pela informação. 2.1.7 Marketing social Refere-se a um instrumento que se utiliza dos conceitos de marketing para trabalhar com os aspectos sociais da realidade. O marketing social pode dizer respeito à adesão, por parte da instituição, de uma ideia ou de uma causa pública, tendo como alvo a sociedade civil e não a esfera do mercado. O interesse em jogo aqui é público, não privado. Um exemplo de ação de marketing social7 é o selo conferido pelo Programa Empresa Amiga da Criança, datado de 1995. De acordo com determinação estipulada pela Fundação Abrinq, só podem receber essa designação aquelas corporações que comprovem não utilizar mão de obra infantil em nenhuma das etapas da confecção de seus produtos, nem mesmo em suas subsidiárias nos países considerados como de Terceiro Mundo. É conhecido o caso de grandes corporações, que, recentemente, tiveram sua boa reputação – obtida ao longo de anos em decorrência da qualidade incontestável de seus produtos e de uma política de comunicação eficaz – manchada em função de seu nome ter sido associado ao uso de mão de obra infantil escrava e/ou precarizada na Ásia ou na América Central. Dentre outras denúncias a esse respeito, feitas, por exemplo, no documentário canadense The corporation (2003, 145 minutos, adaptado do best-seller de mesmo nome), de Jennifer Abbot, Mark Achbar e Joel Bakan, está a que aponta a fabricante de materiais esportivos Nike como uma das multinacionais mais desumanas, apresentando-se na contramão das atuais propostas de “empresa com responsabilidade social”, posto que se destaca como uma das que mais explora a mão de obra infantil barata, lucrando absurdamente com isso. 7 Outro exemplo interessante é o apoio que diversas empresas dão a causas ligadas à saúde pública, como a campanha de combate ao câncer de mama, intitulada Câncer de Mama no Alvo da Moda, em que se dedica um dia inteiro a caminhadas das quais as pessoas tocadas pela temática participam utilizando uma camisa que contenha o conhecido símbolo mundial da luta contra esse tipo de mal. Ao longo da existência dessa campanha, diversas celebridades já associaram seu nome a essa causa e, consequentemente, sua imagem às empresas defensoras dela, como é o caso da top model brasileira Gisele Bündchen. 28 Bangladesh (na Ásia), Honduras e República Dominicana (na América Central) estão entre os diversos países explorados por corporações privadas como essa. Não bastasse o fato de as instalações da empresa, nesses locais, serem todas clandestinas e vigiadas por capangas, espiões e pela polícia militar, os documentos oficiais da Nike, aos quais um dos personagens do documentário teve acesso, revelam ainda que a organização paga aos operários US$ 0,70 por uma hora trabalhada, e os salários representam parcos 3/10 de 1% do preço do varejo. Nas palavras de um dos entrevistados do filme, o que a Nike produz é uma verdadeira “ciência da exploração”. Aceitar fazer marketing social é um incentivo a mudar posturas desumanas e socialmente irresponsáveis como a de corporações como a Nike8, e o trabalho do comunicador organizacional consiste em conseguir produzir essa transformação na mentalidade empresarial, bem como visa a reverter a concepção negativa que o público adquiriu em relação a uma corporação que se comportou de maneira equivocada no que se refere a uma questão social. É um trabalho árduo, por exigir mudança profunda na cultura organizacional. Como foi dito no tópico sobre imagem corporativa e identidade institucional, uma empresa precisa manter coerência entre o que diz e o que faz. De nada adianta ela defender uma causa social no plano do discurso e da propaganda institucional, mas ferir mortalmente essa mesma causa em sua prática cotidiana. Isso soará como uma piada de mau gosto aos ouvidos dos consumidores. Foi o que aconteceu com uma empresa do setor têxtil, denunciada pelo diretor nacional do Comitê do Trabalho em Nova Iorque, Charles Kernaghan. O documentário The corporation, citado neste tópico, mostra que a referida corporação contratou a atriz Kathy Lee Gifford como garota propaganda. Esta celebridade tinha sua imagem vinculada a um produto da empresa – uma calça – , cuja etiqueta dizia que quem comprasse aquela peça de roupa ajudaria uma instituição de caridade voltada para crianças. 8 Na verdade, o diretor Mark Achbar e o roteirista Joel Bakan, do documentário em tela, vão além em suas contestações. Para eles, o problema não se restringe à Nike ou às empresas sem comprometimento com o marketing social. Achbar e Bakan fazem uma crítica severa às corporações em si, ressaltando o poder das grandes empresas no mundo contemporâneo. Eles se utilizam das referências presentes na psicologia para apontar as corporações como uma personalidade psicótica, naturalmente inclinada ao transtorno mental e ao conflito com a realidade. De acordo com essa visão apocalíptica e fatalista, seria difícil fugir de tal definição, mesmo que os donos da empresa quisessem, pois a psicopatia é algo constitutivo das corporações. 29 Em seu depoimento concedido aos diretores do documentário, Charles Kernaghan salienta que, apesar de a rede de supermercados Wal-Mart (onde a peça de roupa era exposta e vendida) e Kathy Lee fazerem tal marketing social, as investigações da Central do Comitê Nacional do Trabalho, na Zona Têxtil em Nova Iorque, revelaram que a calça colocada à venda foi fabricada em Honduras, por uma criança de 13 anos. Deixando de lado o ceticismo dos diretores do filme The corporation, instituições como a Petrobras revelam que é possível, sim, investir em marketing social. Para além dos desastres ambientaisem que tal organização se viu envolvida algumas vezes9, é incontestável o fato de que ela é bastante respeitada pelo seu investimento em projetos sociais bem-sucedidos. O Projeto Tamar, patrocinado oficialmente por essa empresa desde 1983, é desenvolvido em Salvador e propõe-se a evitar a extinção das tartarugas marinhas: “O objetivo do projeto é a preservação das tartarugas marinhas ao longo da costa brasileira. Coordenado pelo Ibama, o Tamar possui 22 estações de proteção em mais de mil quilômetros de costa. Durante esses anos de trabalho, protegeu e liberou ao mar mais de 9 milhões de filhotes. O projeto desenvolve pesquisas e ações com o objetivo de afastar a ameaça de extinção, sendo referência mundial na preservação de tartarugas marinhas. Participam diretamente do projeto 1.300 pessoas, entre pescadores e moradores das localidades beneficiadas. Além de gerar empregos para as comunidades costeiras, o Tamar desenvolve um intenso programa de educação ambiental e ação social, promovendo a melhoria de qualidade da população. Entre eles, a creche Finn Larsen, na Praia do Forte, a 80 quilômetros de Salvador, que beneficia 200 crianças com educação voltada para a consciência ecológica e preservação da natureza” (http://www2.petrobras.com.br/ResponsabilidadeSocial/portugues/ PetrobrasAmbiental/ProjetoTamar.asp). Além do marketing social, a Petrobras é conhecida também pelo financiamento de inúmeros projetos culturais. Este é o foco do próximo tópico, em que a autora deste trabalho abordará o uso do marketing cultural como mais uma das ferramentas utilizadas no ambiente da comunicação praticada pelas instituições. 2.1.8 Marketing cultural Falar de marketing cultural é referir-se a um instrumento da comunicação institucional que se encontra em ascensão na atualidade. Como frisa Kunsch (2003, p. 9 Acerca dos quais nunca deixou de se pronunciar publicamente por meio de seus relações-públicas e assessores de imprensa, cabe dizer. http://www2.petrobras.com.br/ResponsabilidadeSocial/portugues/PetrobrasAmbiental/ProjetoTamar.asp http://www2.petrobras.com.br/ResponsabilidadeSocial/portugues/PetrobrasAmbiental/ProjetoTamar.asp 30 178), é um mecanismo ao qual as empresas têm dedicado mais atenção, dadas as leis de incentivo fiscal, as quais beneficiam as instituições que se utilizam desse instrumento. Essa área pode ser pensada em termos de uma estratégia da comunicação organizacional, cujo objetivo é “promover, defender, valorizar a cultura e os bens simbólicos de uma sociedade, que se materializam na produção de obras de literatura, artes, ciências etc.” (KUNSCH, 2003, p. 178). Mais do que retorno financeiro, em decorrência das leis de incentivo à cultura, essa estratégia de comunicação institucional garante um diferencial competitivo às organizações que a ela aderem; um retorno que se reflete em sua imagem institucional, garantindo-lhes maior visibilidade. A empresa que investe em marketing cultural, financiando projetos culturais, como, por exemplo, a restauração de patrimônios históricos (igrejas, museus, teatros, cinemas, parques, bibliotecas e outros monumentos públicos), passa a ser vista de forma muito positiva pela sociedade civil. É o caso de organizações como a Petrobras e a Rede Globo. É conhecida a fama da Petrobras como financiadora de inúmeros projetos culturais, como a restauração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, iniciada em 2008, tendo o mesmo sido reinaugurado nos últimos meses do ano passado. O que também pode ser dito com relação à Rede Globo de Televisão. Como se sabe, essa grande empresa mantém, inclusive, uma instituição com a finalidade de patrocinar projetos culturais voltados para a restauração de monumentos históricos. A exemplo da Petrobras, a Rede Globo participou do projeto de restauração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, por meio da Fundação Roberto Marinho, sendo seguida por Eletrobras, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), patronos ouro Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel) e Vale, e pelos dos copatrocinadores Bradesco Seguro e Previdência e MetrôRio (cf. http://www.theatromunicipal.rj.gov.br/historia.html). 2.2 Comunicação interna Como aponta Margarida Kunsch (2003, p. 154), falar de comunicação interna é referir-se a um setor planejado, com objetivos claramente definidos, visando a tornar viável toda interação entre a organização e seus funcionários (ou colaboradores, nomenclatura http://www.theatromunicipal.rj.gov.br/historia.html 31 preferida atualmente por alguns estudiosos dos recursos humanos e pelos pedagogos empresariais), utilizando-se de ferramentas da comunicação institucional e até da comunicação mercadológica – como é o caso do endomarketing ou do marketing interno. A comunicação interna desenvolve-se no conjunto da comunicação organizacional integrada, com ações estratégicas e políticas que englobem o pessoal interno como um todo, e, por assim estar articulada, tende a ser bem mais eficiente e eficaz. Dessa forma, “será pensada, planejada e avaliada de forma constante, não ocorrendo simplesmente de forma fortuita” (KUNSCH, 2003, p. 154). Como foi apontado na introdução deste Trabalho de Conclusão de Curso, Margarida Kunsch, em sua análise, faz questão de diferenciar comunicação interna da noção de endomarketing, posto que muitos tendem a achar, erroneamente, que ambos os termos são sinônimos. Para tanto, ela cita a comunicadora e administradora de empresas Analisa de Medeiros Brum, a qual afirma que o objetivo principal do endomarketing não é senão: “fazer com que todos os funcionários tenham uma visão compartilhada sobre o negócio da empresa, incluindo itens como gestão, metas, resultados, produtos, serviços e mercados nos quais atua. [...] um conjunto de ações utilizadas por uma empresa (ou determinada gestão) para vender a sua própria imagem a funcionários e familiares” (1998, apud KUNSCH, 2003, p. 155). O endomarketing esbarra, pois, em um limite: o de reduzir os funcionários de uma empresa à noção de “clientes internos”. Na contramão desse entendimento, as relações públicas, por sua vez, podem ser pensadas como uma atividade planejada, de forma a tratar os funcionários de forma mais realista e transparente, por meio da montagem de programas de visitas, da coordenação de campanhas internas, promovendo a integração, a participação e o interesse do funcionário na organização, tornando-o um coparticipante ativo do dia a dia da organização à qual pertence (KUNSCH, 2003, p. 121). Como frisa essa autora, antes de ser visto como um consumidor, o empregado que trabalha para uma dada organização é um cidadão, um ser humano que atua em um ambiente organizacional formado por pessoas que interagem visando à consecução dos objetivos gerais das instituições. Não se trata, portanto, do espaço, pura e simplesmente, do mercado. Por essa razão, um projeto de comunicação interna exige mudanças que incorporem o fato de que, uma vez que se lida com pessoas no espaço organizacional, o ambiente interno 32 é igualmente de interlocutores e de conflitos de interesses. É necessário, portanto, compatibilizar os interesses de funcionários e os da organização. Até um tempo atrás, quando se falava de comunicação interna, não havia um investimento considerável nesse setor, muito menos uma “política e um compromisso da cúpula com os funcionários. Era uma comunicação fria, alienada e verticalizada, sobretudo pelos antigos house organs” (KUNSCH, 2003, p. 158). Os empregados eram os últimos a saber das resoluções de uma empresa, mesmo assim, paradoxalmente, por outros meios, como a grande imprensa, posto que a prioridade era dada à comunicação externa. Hoje, a perspectiva é bem diferente. Vivemos em um mundo interconectado, marcado pela presença das mídias digitais,sobretudo pela internet e todo o seu instrumental técnico, a influenciar, de toda maneira, a vida das pessoas dentre e fora das organizações. Trata-se de um novo processo comunicativo e social. A comunicação interna deve, assim, contribuir para o exercício da cidadania e valorização de cada sujeito: “Os efeitos da comunicação interna devem beneficiar simetricamente tanto os empregados como a organização, sendo, assim, relevante para ambas as partes. Finalmente, para que a comunicação possa cumprir o seu papel nas organizações, ela necessita ser valorizada e compreendida por todos os integrantes, desde a cúpula diretiva até os funcionários que exercem as funções mais simples” (Ibidem, p. 161). O que se pode concluir é que a comunicação interna pode e deve ser considerada uma área estratégica, sendo incorporada na totalidade das definições de políticas, estratégias e objetivos funcionais das organizações. Se os profissionais da diretoria ou do centro decisório da empresa não comprarem a ideia da comunicação interna, nem chegarem a um consenso sobre ela os responsáveis por sua implantação e os agentes internos, essa iniciativa estará fadada ao fracasso. A comunicação interna é um fator tão importante, que é por meio dela, por exemplo, que se podem efetuar mudanças substanciais na cultura organizacional. Mudanças que se refletirão não apenas no comportamento dos funcionários, como na personalidade institucional. Como sintetiza Kunsch, “Uma comunicação interna participativa, por meio de todo o instrumental disponível (murais, caixas de sugestões, boletins, terminais de computador, intranet, rádio, teatro etc.), envolverá o empregado nos assuntos da organização e nos fatos que estão ocorrendo no país e no mundo. Com um olhar para dentro e outro para fora, ele acompanhará de forma consciente a dinâmica da história. E será considerado não um mero número do cartão eletrônico que registra suas entradas e saídas, 33 mas alguém que exerce suas funções em parceria com a organização e em sintonia com a realidade social vigente. A importância da comunicação interna reside, sobretudo, nas possibilidades que ela oferece de estímulo ao diálogo e à troca de informações entre a gestão exaustiva e a base operacional, na busca da qualidade total dos produtos ou serviços e do cumprimento da missão de qualquer organização” (2003, p. 160-161). A execução das tarefas da comunicação interna precisa, pois, ser algo feito em consonância com a comunicação organizacional integrada, estando o seu sucesso diretamente determinado pela existência e consecução de um trabalho em equipe, envolvendo todas as áreas da comunicação, bem como os recursos humanos, a diretoria e os demais colaboradores envolvidos nesse processo. Este capítulo apontou a comunicação institucional e a comunicação interna como dois subconjuntos em que agem os profissionais de RP, jornalismo e propaganda, no âmbito de uma área maior e bastante abrangente das instituições denominada comunicação organizacional integrada. Neste texto, foi dito ainda que, no desenvolvimento da comunicação institucional, existem diversos instrumentos que podem ser utilizados pelo comunicador organizacional, dentre eles, as relações públicas, o jornalismo empresarial, a assessoria de imprensa, a publicidade/propaganda institucional, a imagem e a identidade corporativas, o marketing social, o marketing cultural e a editoração multimídia. Alguns deles foram discutidos de forma breve, enquanto outros receberam uma problematização mais demorada, dada sua ordem de importância, como foi o caso da diferenciação entre imagem corporativa e identidade institucional, e da demarcação da importância de não separar discurso e prática no comportamento das instituições, quando da ocasião em que uma empresa resolve abraçar uma causa pública por meio do marketing social. No próximo capítulo, a autora deste TCC lança luzes sobre um importante ferramental para uma comunicação organizacional eficiente e eficaz. Ela discute a relevância e a urgência do endomarketing na execução da comunicação institucional. Ela mostra as especificidades desse instrumento em meio ao conjunto das ações de comunicação para o ambiente das organizações. Em tal seção desta monografia, será feita uma discussão em torno da conceituação do endomarketing na perspectiva de dois autores. Serão apontadas as principais características dessa ferramenta organizacional, bem como os principais objetivos e resultados esperados 34 do endomarketing no fazer da comunicação interna. Será discutido também como é possível fomentar – de forma consistente – a motivação dos colaboradores mediante a implantação de projetos (ou programas) de endomarketing, pensando-os como instrumentos da comunicação organizacional integrada. 35 CAPÍTULO III: O PAPEL DO ENDOMARKETING NA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL “Empresas de serviços gerenciados com excelência acreditam que as relações entre os funcionários afetam as relações com os clientes” (Philip Kotler). Foi dito, no início deste trabalho, que é quase impossível pensar a sobrevivência de uma instituição nos tempos atuais – de proliferação das mídias digitais e da rápida disseminação de informações, principalmente pela via da Web 2.0 e de suas inúmeras redes sociais –, sem que os dirigentes desta mesma organização entendam a devida importância da comunicação voltada para esse ramo. É por meio dela que a empresa poderá não apenas medir como anda seu relacionamento com seus diferentes públicos, como também administrar os interesses conflituosos de ambas as partes de maneira eficaz e inteligente. Como já foi mostrado, essa gestão da comunicação organizacional, garantindo à instituição maior competitividade no mercado, deverá ser feita, preferencialmente, por diversos profissionais da comunicação, com o auxílio de especialistas de outras áreas, como psicólogos, administradores, profissionais de RH e pedagogos empresariais, por exemplo. Um trabalho que, se, por um lado, deve respeitar as especificidades de cada profissional dessa área, por outro, precisa ainda ser feito de forma integrada e sinérgica. Assim, as diferenças entre publicitários, jornalistas e relações-públicas, no âmbito da comunicação organizacional, não se devem sobrepor à finalidade maior do trabalho do comunicador empresarial, a saber, a construção e manutenção de uma imagem competitiva para a organização. Esse trabalho do comunicador empresarial, além de ser feito de forma integrada, convergindo sempre para um objetivo comum – a busca de vantagem competitiva pela via da comunicação –, deve ser realizado tendo em vista o planejamento das ações desse campo. Trata-se de um ato de inteligência; para a autora desta monografia, planejar é a deliberação cartesiana acerca de algo. Parafraseando Weber, o maior especialista moderno nos assuntos da burocracia e da racionalidade instrumental burguesa, planejamento é a perfeita adequação de “meios” a “fins”, no sentido de uma atividade racionalmente planificada e devidamente programada. Mais especificamente falando, este capítulo 36 desenvolverá o tema do planejamento das ações de comunicação voltadas para a comunicação organizacional no contexto da prática do endomarketing. Para escrever este capítulo, a autora do TCC tomou contato com o texto de diversos pesquisadores sobre o tema, no âmbito da comunicação, da administração e da engenharia de produção, mas também com a experiência profissional (registrada sob a forma de artigos na internet ou de livros amplamente citados como parte da bibliografia acerca do assunto) de quem atua com sucesso nesse ramo há vários anos. No entanto, dada a necessidade de recortar seu objeto de pesquisa, a autora desta monografia utilizou, mais demoradamente, como fonte de consulta, a dissertação de mestrado de Alexandre Luz Inkotte
Compartilhar