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DISCUSSAO 10 Bases do ECG 1- Quais os exames complementares podem auxiliar o diagnóstico de um paciente com problemas cardíacos? Cintilografia miocárdica - O exame possibilita a formação de imagens no aparelho, avaliando como o sangue está chegando aos vasos capilares sanguíneos. Ele pode ser feito em repouso, com o paciente sentado ou deitado, com o teste de estresse físico numa esteira ou bicicleta ergométrica, sempre mantendo jejum. Angiografia (ou arteriografia) coronariana - é a visualização, por meio de radiografia, da anatomia do coração e vasos sanguíneos após a introdução intravascular de meio de contraste radiopaco. Este exame é utilizado para detectar doenças como o infarto do miocárdio, placas ateroscleróticas calcificadas, acidente vascular cerebral (AVC), estenose da artéria renal, causas de hipertensão, embolia pulmonar, doenças congênitas e adquiridas dos vasos sanguíneos. Ecocardiograma - A ecocardiografia ou ecocardiograma com Doppler abrange os métodos de diagnóstico da estrutura e do funcionamento do coração baseados no uso de ultrassom. Este exame é frequentemente empregado na avaliação dos pacientes com sopro cardíaco, sintomas de palpitação, síncope, falta de ar, dor torácica ou portadores de diversas doenças cardíacas como doenças do músculo cardíaco (infarto do miocárdio, miocardiopatias), insuficiência cardíaca, doenças das valvas, anomalias congênitas, entre outras. A ecocardiografia apresenta imagens estáticas e em movimento do músculo e das valvas cardíacas, além disso, através do mapeamento de fluxos em cores pela técnica Doppler, podemos identificar a direção e velocidade do fluxo sanguíneo no interior das cavidades cardíacas. Raio X de tórax M.A.P.A - permite investigar a variação da pressão ao longo do dia, quando há dúvidas se o paciente tem pressão alta, ou em caso de suspeita de Síndrome do Jaleco Branco, em que a pressão aumenta durante a consulta médica, mas não em outras situações. Além disso, o M.A.P.A pode ser realizado com o objetivo de verificar se os remédios para controlar a pressão estão funcionando bem ao longo do dia. 2- Para que serve o eletrocardiograma e quais são as bases eletrofisiológicas que explicam o eletro? A ECG permite ao médico inferir o curso do impulso cardíaco por meio do registro das variações do potencial elétrico em vários loci na superfície do corpo. Pela análise dos detalhes dessas flutuações do potencial elétrico o médico obtém uma percepção valiosa da (1) orientação anatômica do coração; (2) dos tamanhos relativos de suas câmaras; (3) dos vários distúrbios de ritmo de condução; (4) da extensão, da localização e do progresso de danos isquêmicos ao miocárdio; (5) dos efeitos de concentrações alteradas de eletrólitos, e (6) da influência de certos fármacos (principalmente digitálicos, agentes antiarrítmicos e antagonistas do canal de Ca++). O eletrocardiograma (ECG) é a medida de pequenas diferenças de potencial, na superfície do corpo, que refletem a atividade elétrica do coração. Resumidamente, essas diferenças de potencial, ou voltagens, são mensuráveis na superfície do corpo, devido ao tempo e à sequência da despolarização e repolarização do coração. Lembre-se de que todo o miocárdio não é despolarizado de uma só vez: os átrios despolarizam antes dos ventrículos; os ventrículos despolarizam em sequência específica; os átrios repolarizam enquanto os ventrículos estão despolarizando; e os ventrículos repolarizam em sequência específica. Como resultado da sequência e o tempo de propagação da despolarização e repolarização, no miocárdio, diferenças de potencial são estabelecidas entre porções diferentes do coração, o que pode ser detectado por eletrodos colocados na superfície do corpo. Um ECG registra uma derivação de cada vez. Um eletrodo atua como eletrodo positivo da derivação, e um segundo eletrodo atua como o eletrodo negativo da derivação. (O terceiro eletrodo é inativo.) Por exemplo, na derivação I, o eletrodo do braço esquerdo é definido como positivo, e o eletrodo do braço direito é definido como negativo. Quando uma onda elétrica se move através do coração diretamente para o eletrodo positivo, a onda do ECG ascende da linha de base. Se o movimento resultante de cargas pelo coração dirigir-se para o eletrodo negativo, o traçado move-se para baixo. https://www.infoescola.com/medicina/radiografia/ https://www.infoescola.com/anatomia-humana/coracao/ https://www.infoescola.com/doencas/acidente-vascular-cerebral-avc-derrame/ https://www.infoescola.com/doencas/hipertensao-arterial-pressao-alta/ https://www.infoescola.com/sistema-circulatorio/embolia/ https://labtestsonline.org.br/glossary/echo https://pt.wikipedia.org/wiki/Doppler https://pt.wikipedia.org/wiki/Cora%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Ultrassom https://pt.wikipedia.org/wiki/Infarto_do_mioc%C3%A1rdio Um ECG não é a mesma coisa que um único potencial de ação. Um potencial de ação é um evento elétrico em uma única célula, registrado por um eletrodo intracelular. O ECG é um registro extracelular que representa a soma de múltiplos potenciais de ação ocorrendo em muitas células musculares cardíacas. Além disso, as amplitudes do potencial de ação e do registro do ECG são muito diferentes. (CURI) O eletrocardiograma (ECG) é um registro indireto da atividade elétrica do coração obtido por meio de eletrodos colocados em diferentes pontos da superfície do corpo. Para que possamos entender o princípio desse registro, devemos lembrar que a célula miocárdica em repouso tem a superfície interna carregada negativamente em relação à externa. Quando excitada, o cardiomiócito gera um potencial de ação. Nas fases 0, 1 e 2 do potencial de ação, o potencial de membrana atinge valores positivos, havendo inversão local da polaridade da membrana. Sendo assim, há uma separação de cargas na superfície da célula, onde a área ativa (local onde está ocorrendo a despolarização) fica mais negativa em relação à área inativa (local onde a despolarização ainda não começou), formando um dipolo (Figura 25.8 A). Considera-se um dipolo dois pontos próximos com cargas elétricas opostas e de mesmo módulo. Um dipolo em um meio condutor cria um campo elétrico (Figura 25.8 B). Embora o corpo seja um meio condutor não homogêneo, ele pode conduzir correntes até a superfície da pele. Portanto, estando o coração imerso no volume condutor do corpo, podemos detectar, na superfície corporal, os potenciais gerados por uma série de dipolos que se deslocam na superfície do coração à medida que o potencial de ação se propaga. Desse modo, o ECG registra a variação temporal do potencial de dipolo entre dois pontos na superfície do corpo. 3- Quais são as propriedades cardíacas que são relacionadas ao ECG? Automatismo (Cronotropismo) - Diz respeito a capacidade de o coração gerar seus próprios estímulos elétricos, independentemente de influências extrínsecas ao órgão. No entanto, o automatismo pode ser modificado por diversos fatores, adaptando a frequência de contração do coração as necessidades fisiológicas ou alterando-se em situações patológicas. Os fatores que exercem influência mais importante sobre o automatismo são a atividade do sistema nervoso autônomo, os íons plasmáticos, a temperatura e a irrigação coronariana. Os estímulos responsáveis pela excitação automática do miocárdio podem nascer em qualquer parte do coração. Certas regiões (zonas de marcapasso), no entanto, possuem a capacidade de gerar estímulos de forma especial, fazendo-o com uma frequência própria e mais elevada que aquela das demais regiões do coração, devido à sua diferenciação morfofuncional e consequente peculiaridade eletrofisiológica (tecido nodal). A zona de automatismo que possui a frequência de descarga mais rápida comanda a ativação elétrica cardíaca, submetendo a excitação de todo o coraçãoao seu próprio ritmo, pelo que é denominada de marca-passo do coração, representado pelo nodo sinusal. Condutibilidade (Dromotropismo) - Diz respeito a condução do processo de ativação elétrica por todo o miocárdio, numa sequência sistematicamente estabelecida, à qual se segue a contração do coração como um todo. O estímulo elétrico gerado no nodo sinusal (marca-passo natural) segue pela musculatura atrial e pelos feixes internodais atingindo o nodo atrioventricular, de onde emerge penetrando no feixe de His para espalhar-se pelo tecido de condução intraventricular representado pelos ramos e sub-ramos direito e esquerdo deste feixe. Este complexo morfofuncional gerador e condutor do estímulo elétrico cardíaco é, pois, denominado tecido excito-condutor. Excitabilidade (Batmotropismo) - É a capacidade que tem o miocárdio de reagir quando estimulado, reação esta que se estende por todo o órgão. Isto é, ativando-se um ponto, todo o órgão responde. Cada uma das respostas às ativações regulares do marcapasso constitui uma sístole cardíaca. Quando qualquer outro ponto, que não o marcapasso natural, consegue excitar o coração, a resposta extra chama-se extra-sístole. A ocorrência de extra- sístoles demonstra, pois, a extraordinária capacidade de excitação do miocárdio, que pode constituir-se em fenômeno puramente fisiológico ou em manifestação de condições patológicas que acometem o coração. Contratilidade (Inotropismo) - É a propriedade que tem o coração de se contrair ativamente como um todo único, uma vez estimulada toda a sua musculatura, o que resulta no fenômeno da contração sistólica. Assim, o coração funciona uniformemente, como um sincício. Também o grau de contratilidade pode ser modificado por diversos fatores, intrínsecos e extrínsecos ao coração, com resultante aumento (efeito inotrópico positivo) ou diminuição (efeito inotrópico negativo) da força de contração. Mas, em qualquer caso, o miocárdio sempre responde obedecendo a lei do tudo-ou-nada: ou responde com uma contração máxima ou não responde, em reação a um estímulo; em outras palavras, sempre que se contrai o faz ao máximo, embora a força máxima de contração possa variar em diferentes batimentos, segundo circunstâncias funcionais. Distensibilidade (Lusitropismo) - Diz respeito a capacidade de relaxamento global que tem o coração, uma vez cessada sua estimulação elétrica e, em decorrência, terminado o processo de contração, o que determina o fenômeno do relaxamento diastólico. O relaxamento do coração também é um processo ativo, dependente de gasto energético e de ações iônicas e enzimáticas específicas. 4- O que são ondas, intervalos, segmentos e complexos no ECG? Existem dois componentes principais em um ECG: as ondas e os segmentos. As ondas fazem parte do traçado que sobe e desce a partir da linha de base. Os segmentos são partes da linha de base entre duas ondas. Os intervalos são combinações de ondas e segmentos. Diferentes componentes do ECG refletem a despolarização ou a repolarização dos átrios e dos ventrículos. Intervalo é a porção do ECG que inclui um segmento e uma ou mais ondas. 5- O que são, quais são e para que servem as derivações eletrocardiográficas? Denomina-se derivação eletrocardiográfica ao eixo elétrico que une os eletrodos usados para captar os sinais elétricos originados pelo coração. Inicialmente, Einthoven definiu três derivações, que ficaram conhecidas como as derivações bipolares dos membros (Dl, D2 e D3), pois medem, a cada instante, a diferença de potencial entre dois eletrodos situados em membros diferentes. Os princípios da eletrocardiografia, vistos anteriormente neste capítulo, referem-se ao eletrocardiograma registrado nestas três derivações. Posteriormente, foram propostas e padronizadas várias derivações unipolares, que medem a diferença de potencial entre um ponto da superfície corporal e outro ponto de potencial nulo. No eletrocardiograma convencional, além das derivações bipolares, são registradas três derivações unipolares dos membros e seis derivações precordiais. Em registros eletrocardiográficos especiais, como no mapeamento precordial, por exemplo, o número de derivações unipolares registradas é bem maior. Em cada derivação, um par de eletrodos de registro é colocado em pontos pré-convencionados na superfície do corpo. Nas derivações do plano frontal do corpo (Figura 25.10), os eletrodos são colocados sobre os membros: braço direito (R), braço esquerdo (L) e perna esquerda (F). O arranjo desses eletrodos em pares permite definir três derivações bipolares (DI, DII e DIII) e três derivações unipolares (aVR, aVL e aVF). As derivações bipolares medem a diferença de potencial entre dois membros de cada vez, enquanto as unipolares medem a diferença de potencial entre o eletrodo de um membro e o eletrodo comum aos dois outros membros. O ECG também é registrado no plano horizontal (Figura 25.11). As derivações precordiais são formadas por seis derivações unipolares (V1, V2, V3, V4, V5 e V6), nas quais os eletrodos posicionados sobre o tórax medem a diferença de potencial entre aquele local e um ponto de potencial nulo, resultante da união dos três eletrodos dos membros (terminal de Wilson). As derivações bipolares foram empregadas antes que as derivações unipolares fossem desenvolvidas. As derivações-padrão dos membros - derivações I, II e III registram cada uma as diferenças de potencial entre dois membros. Como a corrente somente flui nos líquidos corporais, os registros obtidos são aqueles que o seriam se os eletrodos estivessem nos pontos de fixação dos membros, não importando em que parte dos membros os eletrodos são colocados. Na derivação I, os eletrodos são conectados de tal forma que uma deflexão positiva é inscrita quando o braço esquerdo se torna positivo em relação ao direito (braço esquerdo positivo). Na derivação II, os eletrodos estão no braço direito e perna esquerda, com a perna positiva; e na derivação III, os eletrodos estão no braço esquerdo e perna esquerda, com a perna positiva. Nove derivações adicionais unipolares, isto é, derivações que registram a diferença de potencial entre um eletrodo explorador e um eletrodo indiferente, são geralmente usadas na eletrocardiografia clínica. Há seis derivações unipolares torácicas (derivações precordiais) designadas V1 a V6, e três derivações unipolares dos membros: VR (braço direito), VL (braço esquerdo) e VF (pé esquerdo). O eletrodo indiferente é construído pela conexão de eletrodos colocados nos dois braços e na perna esquerda a um terminal central. A derivação "V" registra efetivamente um potencial "zero': porque eles estão situados de tal maneira que a atividade elétrica deve se anular. Derivações aumentadas dos membros, designadas pela letra a (aVR, aVL, aVF), geralmente são usadas, e não usam o eletrodo "V" como o zero, em vez disso, elas são registros entre o membro aumentado e os outros dois membros. Isso aumenta o tamanho dos potenciais em 50%, sem qualquer alteração na configuração do registro não aumentado. Derivações unipolares também podem ser colocadas nas pontas de cateteres e inseridas no esôfago ou coração. Embora a sensibilidade possa ser ampliada, isso é, obviamente, mais invasivo, e, assim, não é o primeiro passo na obtenção de leituras elétricas. Os traçados de ECG de um indivíduo normal é mostrado na Figura 29- 7. A sequência em que as partes do coração são despolarizadas, e a posição do coração em relação aos eletrodos, são as considerações importantes (Figura 29-7) na interpretação das configurações das ondas em cada derivação. Os átrios estão localizados na parte posterior do tórax. Os ventrículos formam a base e a superfície anterior do coração, e o ventrículo direito é anterolateral ao esquerdo. Assim, a VR "olha para'' as cavidades dos ventrículos. A despolarização atrial, a despolarização ventriculare a repolarização ventricular movem-se para longe do eletrodo explorador, e, portanto, a onda P, o complexo QRS e onda T são todos deflexões negativas (para baixo); a VL e a VF olham para os ventrículos, e as deflexões são, por isso, predominantemente positivas ou bifásicas. Não há onda Q em V 1 e V 2, e a porção inicial do complexo QRS é uma pequena deflexão para cima, pois a despolarização ventricular move-se primeiramente pela porção média do septo da esquerda para direita em direção ao eletrodo explorador. A onda de excitação então se move septo abaixo e para dentro do ventrículo esquerdo afastando-se do eletrodo, produzindo uma grande onda S. Finalmente, ela se move de volta ao longo da parede ventricular em direção ao eletrodo, causando o retorno à linha isoelétrica. Inversamente, nas derivações ventriculares esquerdas (V 4 a V 6) pode haver uma onda Q pequena inicial (despolarização septal da esquerda para direita), e há uma onda R grande (despolarização septal e ventricular esquerda), seguida em V 4 e V 5 por uma onda S moderada (despolarização tardia das paredes ventriculares movendo-se de volta em direção à junção AV). Deve ser observado que há variação considerável de posição do coração normal, e a posição afeta a configuração dos complexos eletrocardiográficos nas várias derivações. Atualmente, um ECG com doze derivações é o padrão no uso clínico. Ele é registrado utilizando-se várias combinações com os eletrodos dos três membros, mais outros seis eletrodos colocados no tórax. Essas derivações adicionais fornecem informações detalhadas sobre a condução elétrica no coração. Os ECGs são importantes ferramentas de diagnóstico na medicina, pois são rápidos, indolores e não invasivos. 6- O que é a onda P? A onda P representa a despolarização dos átrios. A duração da onda P se correlaciona com o tempo de condução, pelos átrios; por exemplo, se a velocidade de condução pelos átrios diminui, a onda P vai se dispersar. A repolarização atrial não é observada no ECG normal, porque está “mascarada” pelo complexo QRS. A onda P é produzida pelos potenciais elétricos gerados quando os átrios se despolarizam, antes de a contração atrial começar. Corresponde à despolarização atrial. 7- O que representa o segmento PR e o intervalo PR? O intervalo PR é o tempo desde a despolarização dos átrios até a despolarização inicial dos ventrículos. Assim, o intervalo PR inclui a onda P e o segmento PR, parte isoelétrica (plana) do ECG, que corresponde à condução pelo nodo AV. Pelo fato do intervalo PR incluir o segmento PR, ele também se correlaciona com o tempo de condução pelo nodo AV. Normalmente, o intervalo PR é de 160 ms, que é o tempo decorrido desde a primeira despolarização dos átrios até a primeira despolarização dos ventrículos. O aumento da velocidade de condução pelo nodo AV reduz o intervalo PR (p. ex., devido à estimulação simpática), e as reduções da velocidade de condução pelo nodo AV aumentam o intervalo PR (p. ex., devido à estimulação parassimpática). O segmento PR é o segmento isoelétrico entre o final da onda P e o início do complexo QRS, e representa o período de condução do impulso elétrico no NAV , no feixe de His e nas fibras de Purkinje. Como essas estruturas são muito pequenas quando comparadas às massas dos músculos atrial e ventricular, o campo elétrico gerado pela propagação dos potenciais de ação nelas não é captado pelos eletrodos colocados na superfície corporal. Por esse motivo, o segmento PR é isoelétrico, embora esteja ocorrendo propagação de potenciais de ação ao longo do NAV e do sistema His-Purkinje. Está incluído no intervalo PR O intervalo PR é medido do início da onda P até o início do complexo QRS, representa o tempo que o impulso elétrico gasta para – após sair dos limites do nó sinusal – viajar pela musculatura atrial, atingir e ultrapassar a junção AV, o feixe de His e as fibras de Purkinje, até alcançar o miocárdio contrátil ventricular. Varia na dependência da frequência cardíaca. Na bradicardia o limite superior de normalidade é mais tolerado, enquanto na taquicardia o mesmo ocorre com o limite inferior. Os bradicárdicos têm os intervalos PR mais longos, enquanto os taquicárdicos os têm mais curtos. 8- O que é o complexo QRS? O que é o segmento ST? O complexo QRS é composto por três ondas: Q, R e S. Coletivamente, essas ondas representam a despolarização dos ventrículos. Observe que a duração total do complexo QRS é semelhante à da onda P. Esse fato pode parecer surpreendente, pois os ventrículos são muito maiores do que os átrios; no entanto, os ventrículos se despolarizam tão rapidamente quanto os átrios porque a velocidade de condução, no fascículo atrioventricular e ramos subendocárdicos, é muito maior do que no sistema de condução atrial. Representa a onda progressiva da despolarização ventricular. Por vezes, a onda Q está ausente em um ECGs normal. O complexo QRS é produzido pelos potenciais gerados quando os ventrículos se despolarizam antes de sua contração, isto é, enquanto a onda de despolarização se propaga pelos ventrículos. Portanto, tanto a onda P como os componentes do complexo QRS são ondas de despolarização. Um segundo segmento isoelétrico, chamado ST, sucede o complexo QRS. Nesse caso, não se registra diferença de potencial na superfície corporal, porque todas as células da parede do coração estão com o mesmo valor de potencial de membrana, ou seja, todas as células estão no platô do potencial de ação (fase 2). 9- O que é a onda T? O que representa o intervalo Q-T? A onda T representa a repolarização dos ventrículos. A repolarização atrial não é representada por uma onda especial, mas está incorporada no complexo QRS. A onda T é produzida pelos potenciais gerados, enquanto os ventrículos se restabelecem do estado de despolarização. Esse processo no músculo ventricular normalmente ocorre 0,25 a 0,35 segundo após a sua despolarização, e a onda T é conhecida como onda de repolarização. Além disso, podemos identificar também, no traçado do ECG, os intervalos PR e QT. *O intervalo PR é o período entre o início da despolarização atrial e o início da despolarização ventricular. O aumento da duração do intervalo PR pode indicar bloqueio parcial da condução no NAV ou no feixe de His. Já o intervalo QT é o período entre o início da despolarização ventricular e o final da repolarização ventricular. A duração do intervalo QT correlaciona-se diretamente à duração do potencial de ação ventricular e é dependente da frequência cardíaca. A contração do ventrículo dura aproximadamente do início da onda Q (ou da onda R, quando a onda Q está ausente) até o final da onda T. Esse período é denominado intervalo Q-T. 10- Como calcular a frequência cardíaca? A FC é expressa em número de batimentos cardíacos por minuto (bpm). No registro do ECG, ela é obtida dividindo- se 60 pela duração (em segundos) de um intervalo entre duas ondas R consecutivas. Quando o traçado eletrocardiográfico for registrado na velocidade “padrão”, ou seja, a 25 milímetros por segundo (25 mm/s), a frequência cardíaca poderá ser obtida de maneira rápida, dividindo-se 1.500 pelo número de quadradinhos (milímetros) no intervalo R-R. A Figura 25.12 mostra três traçados de ECG com frequências cardíacas em torno de 75 bpm (em A) e 136 bpm (em B), sendo este último valor considerado acima do normal, ou seja, taquicardia. Em C, temos um registro no qual a FC está em torno de 50 bpm, ou seja, abaixo do normal (bradicardia). Se os intervalos R-R forem irregulares, deve-se escolher um complexo QRS cujo início coincida com a linha vertical mais escura do papel de registro e, a partir dele, contar o número de complexos QRS dentro de 30 quadrados grandes (6 segundos, pois 1 quadrado grande =5 quadradinhos = 5 mm = 0,2 s) e multiplicar por 10. Por exemplo: no traçado eletrocardiográfico da Figura 25.13, o intervalo R-R mede 22 mm, ou 0,88 s (22 × 0,04 s). Sendo assim, a FC é igual a 60 s divididos pelo intervalo R-R, ou seja, 0,88 s (68 bpm). A frequência dos batimentos cardíacos pode ser determinada com facilidade no eletrocardiograma, visto que a frequência cardíaca corresponde ao inverso do intervalo de tempo entre dois batimentos cardíacos sucessivos. Se, de acordo com as linhas de calibração do tempo, o intervalo entre dois batimentos for de 1 segundo, a frequência cardíaca será de 60 batimentos por minuto. O intervalo de tempo normal entre dois complexos QRS sucessivos de adulto é de cerca de 0,83 segundo, o que corresponde a uma frequência cardíaca de 60/0,83 vezes por minuto, ou 72 batimentos por minuto. A frequência cardíaca é normalmente cronometrada do início de uma onda P até o início da próxima onda P, ou do pico de uma onda R até o pico da onda R seguinte. Uma frequência cardíaca de 60 a 100 batimentos por minuto é considerada normal, embora atletas treinados frequentemente tenham frequência cardíaca de repouso menor. Uma frequência mais rápida que a normal é chamada de taquicardia, e mais baixa que a normal é chamada de bradicardia. No ECG convencional, o registro é realizado na velocidade de 25 mm/s. Desta maneira, em 1 min há registro de 1.500 mm. Portanto, se dividirmos 1.500 pelo intervalo entre duas ondas simétricas, teremos a frequência de aparecimento desta onda em particular. Do ponto de vista prático, isso é feito usando-se o pico da onda R. Assim, dividindo-se 1.500 pelo número de milímetros entre duas ondas R, tem-se a frequência cardíaca instantânea, em batimentos/min. 11- O que é ritmo sinusal? Como avaliar se o ritmo é sinusal? O ritmo é considerado sinusal, basicamente, pelo encontro de ondas P que admitam a origem da despolarização atrial em região posterior, superior e direita de átrio direito, local onde está localizado o nó sinusal. Tais ondas P deverão ser positivas ou isoelétricas em DI, positivas em DII, além de negativas em aVR. A frequência intrínseca do nó sinusal fica entre 50 e 100 bpm; frequência maior que 100 bpm caracteriza a “taquicardia sinusal”, produzida pelo aumento da despolarização diastólica das células P do nó sinusal, em resposta ao aumento do tono simpático; frequência menor que 50 bpm caracteriza a “bradicardia sinusal”, produzida pela diminuição da velocidade de despolarização diastólica da fase 4 das células P sinusais, por aumento do tono vagal. Apesar de a duração de cada ciclo cardíaco não ser exatamente a mesma, o intervalo entre as ondas do ECG é, aproximadamente, igual em distintos batimentos. A variação da frequência cardíaca em repouso depende de vários fatores, inclusive da respiração (aumento da frequência na inspiração e diminuição na expiração). Quando há regularidade entre os intervalos das ondas, ocorre ritmo cardíaco regular. Se os intervalos entre as ondas variam de modo importante, ou seja, além daqueles valores esperados pela variação respiratória (que geralmente não ultrapassa 10 a 15 batimentos por minuto), acontece ritmo irregular. A presença de extrassístoles determina irregularidade no ritmo que pode, muitas vezes, ser detectada apenas com a palpação do pulso arterial. É importante ressaltar que, na ativação cardíaca normal, as câmaras atriais são ativadas antes dos ventrículos. Portanto, no ECG a onda P deverá preceder o complexo QRS em todos os batimentos. Assim, no ritmo cardíaco normal, também chamado de ritmo sinusal, a sequência de ondas P, QRS e T é mantida em todos os ciclos cardíacos. 12- O que é o eixo cardíaco? Como calcular o eixo do coração? A excitação cardíaca pode ser representada por milhares de vetores elétricos. Para efeito prático, entretanto, a ativação atrial é representada por um único vetor, o vetor P, o qual em indivíduos normais dirige-se para a esquerda e para baixo no plano frontal. Geralmente, situa-se em torno de +60°, sendo, portanto, paralelo a D2. Esta é a razão pela qual a onda P é, normalmente, mais bem visualizada nessa derivação. Do mesmo modo, a ativação ventricular é fortemente influenciada pela posição do vetor 3, que representa a ativação da maior parte do ventrículo esquerdo. Assim, o eixo médio de ativação ventricular é em geral voltado para a esquerda e para baixo no plano frontal e para trás no horizontal. O cálculo dos vetores médios de ativação de átrios e ventrículos é parte importante da leitura e interpretação do ECG. Para tanto, são usados os diagramas mostrados na Figura 29.17 (plano frontal) e Figura 29.21, que mostra a disposição dos eletrodos precordiais vistos no plano horizontal. Para determinar a posição dos eixos médios de ativação no plano frontal, é mais prático usar duas derivações perpendiculares entre si, como Dl e aVF, por exemplo. Observe o ECG da Figura 29.10. A onda Pé positiva em Dl e em aVF. Logo, ela se situa no quadrante I. Como a maior amplitude se dá em D2 e a onda P não aparece em aVL, o vetor P deve situar-se em torno de +60°, o que foi confirmado pela leitura automatizada em computador, que indicou o eixo de P em +62º. O mesmo procedimento pode ser feito para se encontrar o eixo médio de ativação ventricular (ÂQRS). Nesse caso, o complexo QRS é isoelétrico (parte positiva igual à parte negativa) em a VL, indicando que o eixo está perpendicular a aVL. De acordo com o diagrama da Figura 29.17B, o vetor médio de ativação ventricular deve estar sobre D2. Como o QRS é positivo nessa derivação, o ÂQRS deve localizar-se também próximo a +60º. É importante ressaltar que, quando há crescimento do ventrículo esquerdo, o eixo elétrico de QRS sofre rotação no sentido anti-horário, ou seja, desloca-se mais para a esquerda (indo em direção ao quadrante IV) e para trás. Isso pode ser visto no ECG da Figura 29.22, registrado em um paciente portador de hipertensão arterial. Observe que nesse caso a projeção do QRS sobre Dl é positiva e sobre aVF, negativa, indicando que o eixo médio da ativação ventricular se encontra no quadrante IV do plano frontal. Ao contrário, quando há sobrecarga no ventrículo direito, o ângulo médio do complexo QRS (denominado AQRS) irá rodar para a direita (ou no sentido horário). Para determinar o eixo médio de ativação das câmaras cardíacas no plano horizontal, usam-se, rotineiramente, as projeções dos vetores de ativação em V1 e V6. O paciente cujo registro é mostrado na Figura 29.22 tem eixo elétrico de QRS voltado para trás e para a esquerda. UM ADENDO... **As fibras miocárdicas em repouso exibem uma diferença de potencial entre os meios extra e intracelular. O valor desta diferença, que constitui o potencial de membrana ou potencial de repouso, é variável nos diferentes tipos de células do coração, sendo encontrados menores valores nos nódulos (cerca de -50 a -55 mV) e maiores nas fibras subendocárdicas de Purkinje (cerca de -85 a -90 mV). Independentemente do valor do potencial de repouso, entretanto, este sempre é negativo no meio intracelular. Como o meio extracelular tem baixa resistência elétrica, uma vez que constitui um meio condutor eletrolítico, a diferença de potencial entre dois pontos do meio extracelular é nula quando as células estão em repouso. Quando as fibras de uma região são estimuladas e entram em atividade (sofrem despolarização), há redução no valor do potencial elétrico do meio extracelular nas vizinhanças da região ativa (o qual fica mais negativo que o potencial elétrico do meio intracelular). Em consequência, surge uma diferença de potencial entre dois pontos do meio extracelular, como mostrado na Figura 29.1. Considerando-se que o meio extracelular é um fluido condutor de baixa resistência, existe deslocamento de cargaselétricas, ou seja, aparece uma corrente elétrica entre a região já despolarizada e as demais células que ainda se encontram no repouso (Figura 29.lB). Se a corrente despolarizante (corrente d, Figura 29. lB) tem intensidade suficiente para vencer a resistência das junções intercelulares, a despolarização propaga-se como uma onda da região ativa para as regiões ainda inativas. No momento em que todas as células estão igualmente despolarizadas, os fluxos de corrente entre os dois pontos de registro novamente desaparecem (Figura 29.lC). Já que a célula da esquerda foi a primeira a se despolarizar, também deverá sofrer repolarização mais precoce. Novamente aparece uma diferença de potencial entre os dois pontos de registro, só que a corrente que flui no meio extracelular (corrente r, Figura 29.lD) desloca-se da região ativa para as inativas. Tal corrente denomina-se corrente repolarizante porque tende a restabelecer a polaridade normal através da membrana. Como o coração está imerso em um meio condutor, o campo elétrico gerado pelo deslocamento de correntes despolarizantes e repolarizantes no fluido extracelular propaga-se para todo o corpo. Desta maneira, eletrodos posicionados em diferentes regiões da superfície corporal (de preferência nas proximidades da região que gera atividade elétrica), quando acoplados a um amplificador apropriado, podem registrar as variações do potencial elétrico. Este princípio constitui o fundamento de uma série de registros elétricos obtidos de diversos órgãos e tecidos que têm como base de seu funcionamento a geração de potenciais de ação. Grande parte do desenvolvimento da eletrocardiografia como exame complementar importante para a análise da atividade cardíaca foi possível graças aos trabalhos desenvolvidos pelo médico holandês Willem Einthoven, em 1901. Nessa época, apesar de se saber há mais de 25 anos que o funcionamento do coração produzia flutuações periódicas no potencial elétrico da superfície corporal, o grande problema era como obter o registro destas flutuações. Deve-se a Einthoven o desenvolvimento de um sistema avançado (para a época) de captação de sinais elétricos, o galvanômetro de corda, que tinha sensibilidade suficiente para captar na superfície corporal as flutuações do campo elétrico cardíaco, as quais eram transformadas pelo galvanômetro nas ondas do eletrocardiograma. De posse deste instrumento de registro, e usando a teoria do dipolo, coube a Einthoven formular um conjunto de proposições que permitiram padronizar os registros. A teor ia do dipolo estabelece que qualquer diferença de potencial existente em meio condutor, também chamada de dipolo, pode ser representada por um vetor que aponta para o lado do potencial mais alto e cujo comprimento é proporcional à intensidade do dipolo. Desta maneira, as correntes d e r esquematizadas na Figura 29.1 poderiam ser representadas por dipolos, denominados, respectivamente, vetor de despolarização (Figura 29.2A) e vetor de repolarização (Figura 29.2B). Observa-se que as correntes d e r têm sentidos contrários, pois fluem em diferentes sentidos no meio extracelular. Se, no galvanômetro, a corrente d for registrada como uma onda positiva, a corrente r aparecerá como uma onda negativa. A junção das duas ondas indica as modificações elétricas do meio extracelular decorrentes da excitação das células, como ilustrado na Figura 29.2. Na verdade, o sentido das ondas depende apenas dos arranjos de entrada do sinal no galvanômetro. O que a teoria do dipolo garante, entretanto, é que as ondas tenham sinais contrários, pois representam vetores que se dirigem para sentidos opostos. Além disso, a amplitude de cada onda será proporcional à intensidade do dipolo. Como o dipolo elétrico propaga-se no sincício miocárdico e essa propagação não é instantânea, a duração das ondas será proporcional à velocidade de ativação da propagação de cada dipolo. Einthoven aplicou a teoria do dipolo na interpretação das correntes elétricas registradas na superfície corporal, formulando um conjunto de proposições que são, por vezes, chamadas de princípios da eletrocardiografia, os quais podem ser, resumidamente, assim enunciados: • O meio condutor que envolve o coração é homogêneo. Como consequência, o dipolo elétrico gerado pela ativação cardíaca propaga-se igualmente por toda a superfície corporal. • O campo elétrico a cada instante é representado por um dipolo único, resultante da atividade sincronizada de um grande número de células no coração. • Os dipolos instantâneos têm um ponto de aplicação comum, representado pelo centro elétrico do coração. Os pontos da superfície corporal (braço esquerdo, braço direito e perna esquerda) escolhidos para o registro do campo elétrico cardíaco formam um triângulo equilátero, cujo centro corresponde ao centro elétrico cardíaco.
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