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Vigilancia-Epidemiologica

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CURSOS ONLINE KUALITY BRASIL 
REDE DE ENSINO KUALITY BRASIL / A EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO 
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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA 
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SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3 
2. EPIDEMIOLOGIA ................................................................................................. 3 
3. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ......................................................................... 4 
4. EPIDEMIOLOGIA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ........................................ 4 
5. EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS ............................................ 7 
6. A EPIDEMIOLOGIA A FAVOR DA VIDA ............................................................. 7 
7. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: Uma proposta de transformação ................ 9 
8. A INFLUÊNCIA DA INFORMAÇÃO E DA EPIDEMIOLOGIA NA PRÁTICA DA 
MEDICINA E DA SAÚDE PÚBLICA ......................................................................... 10 
9. PROPOSTAS PARA UM SISTEMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DE 
ÂMBITO NACIONAL ................................................................................................ 12 
10. COMO SURGIU A EPIDEMIOLOGIA E COMO A DEFINIMOS ..................... 15 
11. DEFINIÇÃO DE SAÚDE ................................................................................. 17 
12. SISTEMA NACIONAL DE VIGIÂNNCIA EPIDEMIOLÓGICA ........................ 18 
13. COLETA DE DADOS E INFORMAÇÕES ....................................................... 19 
14. SISTEMA NACIONAL DE VIGIÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ........................... 22 
15. SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS (SINAN) .................................. 23 
16. PRIMEIRAS OBSERVAÇOES EPIDEMIOLÓGICAS ..................................... 24 
17. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: CONCEITOS INSTITUCIONALIZAÇÃO .. 26 
18. ELEMENTOS DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA ...................................... 37 
19. AS CARACTERÍSTICAS DA DOENÇA .......................................................... 39 
20. TIPO DE DADOS UTILIZADOS, DEMOGRÁFICOS, AMBIENTAIS E 
SOCIOECONÔMICOS .............................................................................................. 39 
21. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO ....................................................................... 45 
21.1 Sistema de Informação de Agravos (Sinan) ......................................... 45 
21.2 Sistema de Informação Sobre Mortalidade (Sim) ................................. 46 
21.3 Sistema De Informação Sobre Nascidos (Sinasc) ................................ 47 
21.4 Sistema de Informações Hospitalares (Sih/Sus) .................................. 47 
 
 
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1. INTRODUÇÃO 
A Vigilância Epidemiológica é definida pela Lei n° 8.080/90 como “um conjunto de 
ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer 
mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, 
com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das 
doenças ou agravos”. 
O objetivo principal é fornecer orientação técnica permanente para os profissionais de 
saúde, que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle 
de doenças e agravos, tornando disponíveis, para esse fim, informações atualizadas 
sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem como dos fatores que a 
condicionam, numa área geográfica ou população definida. 
E ainda, constitui-se importante instrumento para o planejamento, a organização e a 
operacionalização dos serviços de saúde, como também para a normatização de 
atividades técnicas afins. 
A vigilância Epidemiológica do Estado de Goiás é abrangente, envolve ações tanto de 
controle de Doenças Transmissíveis e de agravos e Doenças não transmissíveis. 
 
2. EPIDEMIOLOGIA 
“... ciência que estuda o processo saúde-doença na sociedade, analisando a 
distribuição populacional e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde 
e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, 
controle ou erradicação de doenças e fornecendo indicadores que sirvam de suporte 
ao planejamento, administração, e avaliação das ações de saúde.” 
Almeida Filho & Rouquayrol, 1992 
Epidemiologia: Epi = sobre; demo = população; logia = estudo 
1º registro de uso dessa expressão foi em 1802 na Espanha com o sentido histórico 
de epidemias. 
John Snow (1813-1858) considerado por muitos o pai da Epidemiologia devido aos 
seus famosos estudos sobre a epidemia de cólera em Londres; 
Epidemiologia e seus adjetivos – social, clínica, molecular... 
Usos da epidemiologia: 
– Diagnóstico em saúde; 
– Vigilância epidemiológica; 
– Avaliação de programas e intervenções; 
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– Pesquisas. 
 
3. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA 
Histórico: Antes da primeira metade da década de 60. 
“Observação sistemática e ativa de casos suspeitos ou confirmados de Doenças 
Transmissíveis”. 
Tratava-se da vigilância de pessoas, através de medidas de isolamento ou de 
quarentena. Eram ações aplicadas individualmente e não de forma coletiva. 
Após a primeira metade da década de 60 com a introdução das campanhas de 
Erradicação de doenças como a Varíola e Malária, foi organizada uma estrutura de 
vigilância tendo como objetivo a busca ativa de casos da doença, a fim de 
desencadear as ações destinadas a bloquear a transmissão. Que era desativada após 
o término do problema. 
Vigilância: vigiar= olhar= observar= conhecer. 
• Em 1975, por recomendação da V Conferência Nacional de Saúde, foi 
instituído o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica - SNVE - Lei 6259/75. 
• Em 1976, o Decreto 78.231 Regulamentou o SNVE - incorporando o conjunto 
de Doenças Transmissíveis, então consideradas de maior relevância sanitária do país. 
• Tentava-se compatibilizar as diversas estratégias operacionais de intervenção 
desenvolvidas para controlar doenças específicas. 
 
4. EPIDEMIOLOGIA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA 
Resolvi separar esse conteúdo em partes. Hoje deixarei 15 conceitos para que vocês 
se aproximem do tema. Mas, em princípio, vamos entender um pouco do Sistema 
Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE) e sua importância na organização e no 
planejamento das ações e dos serviços de saúde do SUS. 
A vigilância epidemiológica tem como propósito fornecer orientação técnica 
permanente para os profissionais de saúde que têm a responsabilidade de decidir 
sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos. Além disso, torna 
disponíveis informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, 
bem como dos fatores que as condicionam, numa área geográfica ou população 
definida. 
A operacionalização da vigilância epidemiológica compreende um ciclo de funções 
específicas e intercomplementares, desenvolvidas de modo contínuo. Isso permite 
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conhecer, a cada momento, o comportamento da doença, ou agravo, selecionada 
como alvo das ações, para que as medidas de intervenção pertinentes possam ser 
desencadeadas com oportunidade e eficácia. 
São funções da Vigilância Epidemiológicas: 
 
A eficiência do SNVE depende do desenvolvimento harmônico das funções realizadas 
nos diferentes níveis. Quanto mais capacitada e eficiente a instância local, mais 
oportunamente poderão ser executadas as medidas de controle. 
Os dados e as informações aí produzidos serão, também, mais consistentes, o que 
possibilita melhor compreensão do quadro sanitário estadual e nacional, e, 
consequentemente,o planejamento adequado da ação governamental. Nesse 
contexto, as intervenções oriundas do nível estadual e, com maior razão, do federal 
tenderão a tornar-se seletivas, voltadas para questões emergenciais ou que, pela sua 
transcendência, requeiram avaliação complexa e abrangente, com participação de 
especialistas e centros de referência, inclusive internacionais. 
Agora, vamos aos conceitos! 
• Agente: entidade biológica, física ou química capaz de causar doença. 
• Agente infeccioso: agente biológico, capaz de produzir infecção ou doença 
infecciosa. 
• Antroponose: infecção cuja transmissão se restringe aos seres humanos. 
• Antropozoonose: infecção transmitida ao homem por meio de reservatório 
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animal. 
• Arboviroses: viroses transmitidas de um hospedeiro para outro por meio de um 
ou mais tipos de artrópodes. 
• Área Endêmica: aqui considerada como área reconhecidamente de 
transmissão para esquistossomose, de grande extensão, contínua e dentro de um 
município. 
• . Área de Foco: área de transmissão para esquistossomose, porém de 
localização bem definida, limitada a uma localidade ou pequeno número dessa, em 
um município. 
• Área Indene Vulnerável: área reconhecidamente sem transmissão para 
esquistossomose, mas cujas condições ambientais (presença de hospedeiros 
intermediários nas condições hídricas), associadas a precárias condições 
socioeconômicas e de saneamento, na presença de migrantes portadores da 
esquistossomose, oriundos de áreas de transmissão, tornam a área sob risco. 
• Caso: pessoa ou animal infectado ou doente que apresente características 
clínicas, laboratoriais e/ou epidemiológicas específicas. 
• Caso Autóctone: caso contraído pelo enfermo na zona de sua residência. 
• Caso Confirmado: pessoa de quem foi isolado e identificado o agente 
etiológico, ou de quem foram obtidas outras evidências epidemiológicas e/ou 
laboratoriais da presença do agente etiológico. Exemplo disso é a conversão 
sorológica em amostras de sangue colhidas nas fases aguda e de convalescença. 
Esse indivíduo pode ou não apresentar a síndrome indicativa da doença causada pelo 
agente. A confirmação do caso está sempre condicionada à observação dos critérios 
estabelecidos pela definição de caso, que, por sua vez, está relacionada ao objetivo 
do programa de controle da doença e/ou do sistema de vigilância. 
• Caso Esporádico: caso que, segundo informações disponíveis, não se 
apresenta epidemiologicamente relacionado a outros já conhecidos. 
• Caso Índice: primeiro, entre vários casos, de natureza similar e 
epidemiologicamente relacionados. O caso índice é, muitas vezes, identificado como 
fonte de contaminação ou infecção. 
• Caso Importado: caso contraído fora da zona onde se fez o diagnóstico. O 
emprego dessa expressão dá a ideia de que é possível situar, com certeza, a origem 
da infecção numa zona conhecida. 
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• Caso Induzido: caso de malária que pode ser atribuído a uma transfusão de 
sangue ou a outra forma de inoculação parenteral, porém não se relaciona à 
transmissão natural pelo mosquito. A inoculação pode ser acidental ou deliberada e, 
nesse caso, pode ter objetivos terapêuticos ou de pesquisa. 
 
5. EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS 
A epidemiologia é uma disciplina cientifica que visa o estudo, compreensão e métodos 
de prevenção de doenças infecciosas em âmbito populacional, da grande massa, por 
assim dizer. O estudo clínico de uma doença é feito de forma individual, de pessoa 
para pessoa; a epidemiologia analisa justamente esses mesmos aspectos, só que de 
uma maneira muito mais abrangente, avaliando o dano causado ou possível em um 
grupo populacional. 
Uma doença infecciosa é causada por um agente biológico, de patogenia viral, 
bacteriana ou parasita. A doença deve ser transmitida mediante contato físico, como 
um beijo, relação sexual, aperto de mão ou contato com uma área onde alguém doente 
tenha passado e deixado de maneira não intencional os vertiginosos dessas 
patogêneses. 
Como a epidemiologia tem relação com epidemias, agora fica mais fácil entender que 
essa disciplina visa o estudo da transmissão dessas doenças infecciosas em grande 
escala; frequência, distribuição, tempo de ocorrências, fatores primordiais, prevenção, 
etc. 
 
6. A EPIDEMIOLOGIA A FAVOR DA VIDA 
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O principal uso da epidemiologia está relacionado a saúde pública. Como o governo 
deve prezar pela integridade de seus habitantes, é de responsabilidade dos 
governantes organizaram medidas epidemiológicas que visam prevenir, inibir e tratar 
as doenças infecciosas. 
Algumas das doenças infecciosas que são estudadas pela epidemiologia: 
doenças parasitarias, tuberculose, dengue, AIDS, malária, varíola (extinta), ebola, 
zika, chikungunya, varicela (catapora), gripe suína (influenza H1N1) e Poliomielite. 
Veja a seguir como a epidemiologia atua contra doenças infecciosas em uma 
escala populacional: 
• Estudando a transmissão: A epidemiologia se baseia em fatos científicos, 
portanto, o primeiro passo é averiguar a forma de transmissão dessas doenças 
infecciosas procurando compreender a patogenia das mesmas para uma futura 
política de tratamento; 
• Frequência e distribuição: Por ser uma visão populacional, é muito importante 
compreender a frequência e distribuição da doença no ambiente. O Ebola, que ainda 
tem pontos de epidemia na África, não causa grandes problemas em áreas 
desenvolvidas por que sua frequência e distribuição são baixas; 
• Inibindo o crescimento: Com a compreensão de como a doença infecciosa 
funciona, período de incubação e frequência de distribuição, é realizado o processo 
de inibição. Na África foi realizado grandes “mutirões” para inibir o avanço da 
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epidemia. Os métodos utilizados para isso foi o tratamento em larga escala combinado 
com a conscientização geral de como a doença era transmitida; 
• Prevenindo a transmissão: Através da epidemiologia é possível avaliar 
maneiras para prevenir a manifestação das doenças. No caso da dengue, o governo 
brasileiro atua conscientizando a população mostrando métodos que podem impedir 
a reprodução do mosquito transmissor da doença. No caso da dengue, além da 
conscientização já foi utilizado mosquitos alterados geneticamente e aplicação de 
pesticidas em áreas urbanas e rurais. Em suma, a abordagem vária de acordo com 
as características de cada doença, portanto, cada doença tem o seu próprio método 
de prevenção; 
• Tratando a doença: No caso da epidemiologia das doenças infecciosas, as 
pessoas responsáveis por todo o processo mencionado anteriormente também devem 
fornecer infraestrutura necessária para o tratamento da doença. Os “mutirões” contra 
o ebola é um bom exemplo de método de tratamento. 
 
7. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: Uma proposta de transformação 
Não obstante ser uma preocupação antiga em Saúde Pública, a questão da vigilância 
epidemiológica ganha contornos diferentes nos dias atuais. O conceito de vigilância 
como suporte para medidas policialescas de controle, como a quarentena durante 
epidemias, a internação compulsória de pacientes com febre amarela ou lepra deve 
ser descartada. É coisa do passado, não merecendo maiores considerações. 
A era pós-revolução industrial em que vivemos, dominada pela capacidade sempre 
crescente de manuseio da informação traz uma nova conceituação de vigilância 
epidemiológica. Esta transformação determinou mudanças na epidemiologia e na 
clínica, particularmente na interrelação entre ambas, com reflexos na prática da Saúde 
Pública. A proposta descentralizadorae municipalizante do Sistema Único de Saúde 
deverá também nortear a implantação de um sistema de vigilância epidemiológica. 
A evolução do manuseio da informação, com suas conseqüências sobre a clínica e a 
epidemiologia e o modelo de sistema de saúde que almejamos, irão determinar 
forçosamente o sistema de vigilância epidemiológica. 
Não conseguimos implantar um sistema adequado dentro da conceituação antiga, 
apesar de alguns sucessos pontuais. Isto não significa que tenhamos que retomar as 
tentativas anteriores. Refazer a mesma trilha que outros para alcançar uma meta final 
é um comportamento reacionário. Além disso, por mais adequados que os sistemas 
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de vigilância epidemiológica de outros países possam parecer, devemos ter em mente 
que este sistema deve ser uma das bases do Sistema Único de Saúde e, portanto, 
adequado ao sistema que desejamos e não uma mera réplica de outros países. 
Devemos estabelecer uma proposta de desenvolvimento de um sistema de vigilância 
epidemiológica suficientemente flexível para se adaptar a um meio extremamente 
mutável, com uma tecnologia de evolução rápida, mas que, principalmente, esteja 
afinada com as atuais necessidades da epidemiologia como instrumento fundamental 
das ações de saúde. Devem ser levadas em conta também as mudanças, cada vez 
mais freqüentes, no perfil dos agravos à saúde. Um sistema de vigilância 
epidemiológica não poderá se identificar com grupos de doenças, mas com os agravos 
à saúde como um todo e suas conseqüências. 
Neste artigo, trazemos algumas propostas para a transformação da atual prática de 
vigilância epidemiológica, levando em conta alguns fatores considerados 
fundamentais: a influência da informação na prática médica e, paralelamente, na 
Saúde Pública, com o conseqüente papel da 
epidemiologia; a necessidade de agilizar as ações de saúde, descentralizando não só 
sua execução mas também a determinação de prioridades e desvincular o processo 
decisório de estrutura estatal, preservando seu caráter público. 
Desde o seu nascedouro, na primeira metade do século passado, que a epidemiologia 
é, por definição, uma disciplina em que o manuseio da informação é a característica 
principal. A vigilância epidemiológica é o ramo da epidemiologia que angaria estas 
informações. Vigilância epidemiológica não deve ser vista, portanto, como algo 
separado e distinto da epidemiologia. 
Dentro deste contexto, da vigilância epidemiológica como braço angariador de 
informações é que pretendo expor algumas idéias para a organização de um sistema 
de vigilância epidemiológica para o país. 
 
8. A INFLUÊNCIA DA INFORMAÇÃO E DA EPIDEMIOLOGIA NA PRÁTICA 
DA MEDICINA E DA SAÚDE PÚBLICA 
É inegável que o volume de informação pertinente à saúde, aliado a facilidade de 
acesso e manuseio desta informação, está transformando as práticas médica e de 
saúde pública. Este processo não é exclusivo da Medicina e da Saúde Pública. A 
quantidade de informação existente sobre os diferentes aspectos das doenças e 
agravos à saúde é tão grande que pensar em alguém, ou mesmo uma instituição, 
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abarcando o campo, é absurdo, ainda que até há algum tempo não o fosse. Hoje 
devemos dominar o acesso à informação, buscando meios de poder utilizá-la a 
qualquer momento. Mesmo assim, dentro de um campo relativamente restrito. O 
enciclopedismo é contemporâneo da Revolução Francesa. 
A Clínica, paradigma da prática médica vigente, cujo limite de abrangência é a 
capacidade do médico de atender individualmente seus pacientes, começou a sofrer 
transformações cada vez maiores desde o término da II Guerra Mundial. A 
necessidade de estender o atendimento médico a segmentos cada vez maiores da 
população, fenômeno verificado tanto nos países capitalistas como nos países 
socialistas, aliada à significação crescente da prática médica, criou a necessidade de 
racionalizar a clínica. 
Uma destas transformações, sem dúvida uma das mais importantes, e que diz respeito 
diretamente à epidemiologia e à vigilância foi a mudança de horizontes. Até a década 
de 1950, o horizonte de experiência do médico não ia muito além dos pacientes que 
ele havia visto. A introdução de tratamentos mais caros e de maior risco, como a 
quimioterapia anti-neoplásica, cirurgias cardíacas, os antimicrobianos mais potentes, 
para citar apenas alguns exemplos, fez com que o horizonte da experiência individual 
se tornasse acanhado, insuficiente para fornecer as informações necessárias. 
A busca da racionalização da clínica, fez com que se recorresse à epidemiologia. Foi 
o surgimento da epidemiologia clínica. Com o tempo, a clínica foi sendo ampliada a 
segmentos cada vez maiores, a ponto da Organização Mundial da Saúde, ao adotar 
o lema de " Saúde para Todos no Ano 2000", adotar também o modelo da clínica 
racionalizada, simplificada e estendida a todos. Chegamos, neste final de século, a 
uma situação em que a racionalização da prática clínica – por racionalização entendo 
uma prática calcada em procedimentos padronizados – 
torna-se uma necessidade tanto a nível de países em desenvolvimento como de 
países industrializados. 
A dicotomia entre medicina preventiva e medicina curativa desaparece, as práticas 
coletivas se fundem com as práticas individuais e se valem destas para atingir metas 
de saúde pública. Um excelente exemplo é o da cólera. 
A cólera é uma doença cujo controle se baseia no diagnóstico e tratamento precoces, 
tratamento este bem padronizado, fruto de uma racionalização da prática clínica. A 
ação coletiva de controlar uma doença se baseia no conjunto de ações individuais, 
que para terem sucesso devem ser adequadamente orquestradas. A prática do clínico 
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que atende a um paciente de cólera não permite grandes variações. Apenas a adesão 
a um esquema testado fará com que, no conjunto, se consiga manter a letalidade 
abaixo de 1 por cento. Existe pequena margem para a "experiência individual" de cada 
clínico. 
Para se conseguir esta padronização, foi necessário expandir o horizonte da clínica: 
este ultrapassou o restrito campo da experiência individual e atingiu o horizonte do 
ocorrido em grandes conjuntos de pacientes. A maneira de apreender este novo 
horizonte foi através da epidemiologia 
A relação entre a clínica e a epidemiologia se inverteu, e a experiência epidemiológica 
passou a determinar a prática clínica. A hipertensão é um excelente exemplo. A 
própria definição de hipertensão é agora uma definição epidemiológica e não mais 
clínica: hipertensão é o nível de pressão acima do qual existe um risco relativo 
significativo de desenvolvimento de complicações cardiovasculares. A epidemiologia 
passa assim de uma disciplina auxiliar da saúde pública, para a disciplina fundamental 
da assistência à saúde, determinando as práticas a serem seguidas. 
Os conceitos vigentes até há pouco tempo, estabelecidos após a observação de 
pequeno número de pacientes ou pela somatória de observações isoladas é 
substituído pela observação controlada de grande número de pacientes. É inaceitável 
hoje, trabalhar em saúde sem manuseio de informação. 
Não há dúvidas que esta transformação se fez possível, não pelo desenvolvimento 
dos computadores, mas sim do fácil acesso a eles. O computador de uso pessoal veio 
tornar possível a análise de informações a qualquer nível. As transformações sofridas 
pela prática médica e de saúde pública não passaram longe da epidemiologia, muito 
pelo contrário, a epidemiologia foi e é a disciplina transformadora da prática. 
A disponibilidade de programas epidemiológicos e estatísticos de fácil manuseio, abriu 
as portas da análise epidemiológica, atéentão restrito a uns poucos iniciados. A 
análise e difusão das informações em vigilância, classicamente restritas aos níveis 
mais centrais, hoje estão ao alcance de qualquer nível, desde que disponha de um 
mínimo de equipamento. Esta transformação tecnológica ainda em evolução, por si 
só, obriga à reformulação dos dogmas clássicos da vigilância epidemiológica. 
 
9. PROPOSTAS PARA UM SISTEMA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DE 
ÂMBITO NACIONAL 
Note-se que não me referi à implantação ou construção de um sistema de vigilância 
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epidemiológica, mas sim à organização de um tal sistema. Em primeiro lugar, cabe 
destacar a importância da existência de um tal sistema. Administrar um sistema de 
saúde sem um adequado banco de informações recentes e confiáveis é algo como 
tentar conduzir a economia de um país sem indicadores confiáveis. 
De passagem, é interessante lembrar que, salvo durante alguns breves períodos, as 
entidades geradoras das informações econômicas no Brasil: a Fundação Getúlio 
Vargas (FGV) e Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não 
obstante amplamente subsidiadas pelo Estado, guardam um significativo grau de 
independência em relação ao Governo. 
Esta é uma das colocações fundamentais: a necessidade de haver um nível de análise 
e de orientação da sistemática de coleta de informações que seja independente. A 
função de um nível de análise não é exclusivamente técnica: reveste-se de uma 
importância política muito grande. O estabelecimento das prioridades de ação na 
saúde devem ser determinadas por uma adequada análise dos indicadores e outras 
informações obtidas através de um sistema de vigilância epidemiológica. 
Grande demais para se arriscar sua manipulação por estruturas facilmente mutáveis 
e pressionáveis da área de saúde, como Secretarias e Ministérios, a responsabilidade 
da obtenção e análise das informações em vigilância epidemiológica deve ser 
protegida. A autonomia deve ser tanto política como financeira. Ainda que não seja 
possível uma autonomia total, algo como a situação de algumas instituições seria 
desejável, as universidades paulistas, a Fundação Padre Anchieta ou a FAPESP, por 
exemplo, se aproximam muito daquilo a que me refiro. 
A facilidade de manipulação das informações em todos os níveis, assim como a 
diversidade dos diferentes perfis epidemiológicos do país tornam necessária a 
organização de um sistema bastante descentralizado. Não há necessidade de se 
replicar a mesma estrutura em todas as unidades da federação, tampouco de se tornar 
obrigatória a instituição de sistemas de vigilância epidemiológica a nível de todas as 
Secretarias de Saúde, estaduais e municipais. Apenas Secretarias de grande porte 
suportam um sistema de vigilância epidemiológica adequado. 
A tradição burocrática brasileira tem feito com que sempre que se busca implantar 
sistemas de vigilância epidemiológica, se inicie o processo por normas, leis e decretos, 
impondo verticalmente, de cima para baixo, uma série de procedimentos que visam 
permitir a algum organismo central, o acúmulo de dados sobre diferentes doenças e 
estruturando este sistema nos órgãos oficiais de saúde. Até recentemente, a não 
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descentralização do sistema de saúde, em que o nível mais periférico era o estadual, 
com a consequente centralização do poder decisório, assim como a possibilidade de 
se organizar ações de Saúde Pública razoavelmente eficazes mesmo na ausência de 
informações confiáveis, fez com que a inexistência de um adequado sistema de 
informações de saúde (inclua-se aqui a vigilância epidemiológica) fosse tolerada. 
Hoje, pelos motivos analisados acima, como também pela descentralização gradativa 
do poder decisório em saúde, esta situação não está sendo mais tolerada. A 
necessidade da organização de um sistema de vigilância epidemiológica que dê o 
necessário apoio à implantação de um Sistema Único de Saúde minimamente 
eficiente e democrático se torna imperiosa. 
Um sistema destes implica numa adequada estrutura laboratorial de apoio, assim 
como uma estrutura de análise de informações. Muitas vezes uma Universidade ou 
uma entidade paraestatal pode se desencumbir melhor da tarefa do que uma 
Secretaria de Saúde ainda incipiente, forçada a montar um sistema de vigilância 
epidemiológica devido a existência de algum decreto planaltino. 
Em resumo, o que pretendo mostrar é que não será possível dispor de um adequado 
sistema de vigilância epidemiológica através da excessiva regulamentação, nem da 
disputa. A situação do cólera é exemplo ilustrativo: as informações disponíveis são 
coletadas pela imprensa. O Ministério da Saúde polemiza com as Secretarias 
estaduais e municipais, seja pelo número de casos existentes, seja pela natureza de 
uma bactéria isolada dos esgotos. Normas e regulamentos em vigilância 
epidemiológica não podem ser determinados, devem ser fruto de consenso. 
Criou-se entre nós o conceito de que a normatização em vigilância epidemiológica 
deve ser centralizada. Talvez isto fosse possível ou necessário no passado. Não é 
mais. A difusão da informação, a facilidade do seu manuseio, particularmente de sua 
transmissão a qualquer distância obriga o exercício das tomadas de decisão 
consensuais. 
A democratização da normatização técnica, a desvinculação dos níveis de análise dos 
órgãos da administração direta e a flexibilidade na organização do sistema são os 
princípios básicos que devem nortear a organização da vigilância epidemiológica no 
país. O que se dispõe hoje é caótico. As flutuações salariais no serviço público e as 
mudanças frequentes das políticas de investimento em saúde impedem o surgimento 
de uma geração de epidemiologistas que possam levar a cabo esta tarefa. 
Da mesma maneira, o sucateamento dos laboratórios de saúde pública contribuiu para 
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impedir a existência de um sistema nacional de vigilância epidemiológica. Outro 
aspecto é a excessiva vinculação do conceito de vigilância epidemiológica ao controle 
de doenças transmissíveis. A coleta e análise de informações epidemiologicamente 
relevantes não deve se restringir às doenças transmissíveis. 
A organização de um sistema de âmbito nacional é fundamental para a condução de 
uma política decente de saúde. Devemos nos livrar rapidamente da visão central e 
passar a organizar um sistema em bases modernas e democráticas. A iniciativa deve 
partir dos colegiados de Secretarias Estaduais e Municipais, que deverão organizar 
sistemas regionais a serem interligados num sistema nacional. Não há necessidade 
de excessiva uniformização, este é um conceito ultrapassado, que deve ser enterrado 
junto com os milhares de decretos, normas e regulamentos federais referentes à 
vigilância epidemiológica. 
 
10. COMO SURGIU A EPIDEMIOLOGIA E COMO A DEFINIMOS 
O conceito de epidemiologia depende, em grande medida, do contexto histórico, dos 
conhecimentos acumulados na área de saúde, da etapa da transição epidemiológica 
e demográfica, bem como da interpretação que se tenha em determinada época e 
contexto sobre a saúde (BEAGLEHOLE; BONITA; KJELLSTRÖM, 1994). 
Embora não se tenha certeza de quando e quem foi o primeiro a definir a 
epidemiologia, sabemos que a história dessa ciência acompanha a história da 
medicina, especialmente da medicina preventiva. Por isso, considera-se que 
Hipócrates lançou as principais bases dos estudos epidemiológicos. Hipócrates (460 
a.C - 377 a.C), considerado o pai da medicina científica, foi o primeiro a sugerir que 
as causas das doenças não eram intrínsecas à pessoa nem aos desígnios divinos, 
mas que estava relacionada à características ambientais. Emboraas causas relatadas 
por Hipócrates tenham sido superadas, reconhecemos que ele lançou as bases para 
a procura da causalidade das doenças e agravos à saúde, norte principal da 
epidemiologia até hoje. 
Hipócrates, em Tratado dos ares, das águas e dos lugares (século V a.C.), coloca os 
termos epidêmico e endêmico, derivados de epidemion (verbo que significa visitar: 
enfermidades que visitam) e endemion (residir enfermidades que permanecem na 
comunidade). Ele sugere que condições tais como o clima de uma região, a água ou 
sua situação num lugar em que os ventos sejam favoráveis são elementos que podem 
ajudar o médico a avaliar a saúde geral de seus habitantes. 
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Em outra obra, tratado do prognóstico e aforismos, trouxe a ideia, então 
revolucionária, de que o médico poderia predizer a evolução de uma doença mediante 
a observação de um número suficiente de casos. Essa também é, até hoje, uma das 
principais características da epidemiologia e da demografia. Hipócrates considerava 
que para se fazer uma correta investigação das doenças, era necessário o 
conhecimento das peculiaridades de cada lugar, e a observação da regularidade das 
doenças num contexto populacional. O inglês John Graunt, em 1662, publicou em 
Londres, um trabalho sobre as observações acerca das estatísticas de mortalidade no 
qual analisou nascimentos e óbitos semanais, quantificou o padrão de doença na 
população londrina e apontou características importantes nesses eventos, tais como: 
diferenças entre os sexos, diferenças na distribuição urbano-rural; elevada 
mortalidade infantil; variações sazonais (ROTHMAN, 1996). Graunt também é 
considerado um dos precursores da epidemiologia e da demografia como disciplinas, 
já que criou as bases para a observação da distribuição de frequência de dados 
populacionais de mortalidade coletados rotineiramente. 
Outro inglês, John Snow, é pioneiro na procura sistemática dos determinantes das 
epidemias. Seu ensaio sobre a maneira de transmissão da cólera, publicado em 1855, 
apresenta memorável estudo a respeito de duas epidemias de cólera ocorridas em 
Londres em 1849 e 1854 (WINKELSTEIN, 1995). Suas anotações sistemáticas sobre 
os casos levaram a desenvolver a ideia de que a epidemia da cólera era ocasionada 
por parasitas invisíveis e não por miasmas. 
Elaborou hipóteses sobre a qualidade da água como meio principal de contágio. 
Daquela época até o início do século XX, a epidemiologia foi ampliando seu campo, e 
suas preocupações concentraram-se sobre os modos de transmissão das doenças e 
o combate às epidemias. 
A partir das primeiras décadas do século XX, com a melhoria do nível de vida nos 
países desenvolvidos e com o consequente declínio na incidência das doenças 
infecciosas, outras enfermidades de caráter não-transmissível (doenças 
cardiovasculares, câncer e outras) passaram a ser incluídas entre os objetos de 
estudos epidemiológicos, além do que, pesquisas mais recentes, sobretudo as que 
utilizam o método de estratificação social, enriqueceram esse campo da ciência, 
ensejando novos debates. 
No entanto, é a partir do final da Segunda Guerra Mundial que assistimos ao intenso 
desenvolvimento da metodologia epidemiológica, com a ampla incorporação da 
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estatística, propiciada em boa parte pelo aparecimento dos computadores. A 
aplicação da epidemiologia passa a cobrir um largo espectro de agravos à saúde. Os 
estudos de Doll e Hill (1954), estabelecendo associação entre o tabagismo e o câncer 
de pulmão, e os estudos de doenças cardiovasculares desenvolvidas na população 
da cidade de Framingham, Estados Unidos, são dois exemplos da aplicação do 
método epidemiológico em doenças crônicas. 
Hoje a epidemiologia constitui importante instrumento para a pesquisa na área da 
saúde, seja no campo da clínica, seja no da saúde pública. No Brasil, a organização 
dos serviços do SUS baseia-se na descentralização sendo, portanto, indispensável o 
conhecimento da epidemiologia nos serviços locais de saúde. 
 
11. DEFINIÇÃO DE SAÚDE 
Em qualquer das definições de epidemiologia adotada, é fundamental o entendimento 
do que é saúde, já que é a partir dessa definição individual que construiremos o 
conceito coletivo. 
Conceituar saúde não é tarefa simples. Como a epidemiologia, esse conceito está 
determinado pelo contexto histórico. Os parâmetros (referências) utilizados para sua 
definição nortearam a criação dos indicadores epidemiológicos. 
Repare que o mais comum é definir a saúde como a ausência de doença. Dessa 
maneira, o estudo da saúde da população somente precisaria de dados sobre 
mortalidade e morbidade segundo causas. Entretanto, sabemos que na prática 
encontramos, muitas vezes, indivíduos nos quais não se diagnostica doença, mas 
apresentam características que poderíamos considerar não saudáveis, tais como 
inadaptabilidade à comunidade ou frequente tristeza, o que torna difícil identificá-los 
como saudáveis. 
Além disso, a percepção da saúde varia muito entre culturas, entre grupos sociais, 
entre gerações. 
O termo Envelhecimento Ativo, adotado pela OMS ao final da década de 1990, está 
em sintonia com o conceito de saúde de 7 de abril de 1947 e com os atuais desafios 
dos estudos epidemiológicos, já que considera o “processo de otimização das 
oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a 
qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas” (ORGANIZAÇÃO 
MUNDIAL DA SAÚDE, 2005). Este processo deve ser analisado pela perspectiva de 
ciclo de vida. 
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12. SISTEMA NACIONAL DE VIGIÂNNCIA EPIDEMIOLÓGICA 
Na primeira metade da década de 60 consolidou-se, internacionalmente, uma 
conceituação mais abrangente de vigilância epidemiológica, em que eram explicitados 
seus propósitos, funções, atividades, sistemas e modalidades operacionais. Vigilância 
epidemiológica passou, então, a ser definida como “o conjunto de atividades que 
permite reunir a informação indispensável para conhecer, a qualquer momento, o 
comportamento ou história natural das doenças, bem como detectar ou prever 
alterações de seus fatores condicionantes, com a finalidade de recomendar 
oportunamente, sobre bases firmes, as medidas indicadas e eficientes que levem à 
prevenção e ao controle de determinadas doenças (ROUQUAYROL,2013). 
Ainda de acordo com a autora supracitada, no Brasil, esse conceito foi, inicialmente, 
utilizado em alguns programas de controle de doenças transmissíveis, coordenados 
pelo Ministério da Saúde. A experiência da Campanha de Erradicação da Varíola 
(CEV) motivou a aplicação dos princípios de vigilância epidemiológica a outras 
doenças evitáveis por imunização, de forma que, em 1969, foi organizado um sistema 
de notificação semanal de doenças, baseado na rede de unidades permanentes de 
saúde e sob a coordenação das secretarias estaduais de saúde. 
As informações de interesse desse sistema passaram a ser divulgadas regularmente 
pelo Ministério da Saúde, através de um boletim epidemiológico de circulação 
quinzenal, editado pela Fundação SESP. Tal processo propiciou o fortalecimento de 
bases técnicas que serviram, mais tarde, para a implementação de programas 
nacionais de grande sucesso na área de imunizações, notadamente na erradicação 
da transmissão autóctone do poliovírus selvagem na região das Américas 
(ROUQUAYROL,2013). 
Em 1975, por recomendação da 5ª Conferência Nacional de Saúde, foi instituído o 
Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica - SNVE. Este sistema, formalizado 
pela Lei 6.259 do mesmo ano e decreto 78.231, que a regulamentou em 1976, 
incorporou o conjunto de doenças transmissíveis então consideradasde maior 
relevância sanitária no país. Buscava-se, na ocasião, compatibilizar a 
operacionalização de estratégias de intervenção, desenvolvidas para controlar 
doenças específicas, por meio de programas nacionais que eram, então, 
escassamente interativos (MACHADO,2007). 
Com a promulgação da lei 8.080, de 1990, que regulamentou o Sistema Único de 
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Saúde SUS, ocorreram importantes desdobramentos na área de vigilância 
epidemiológica. Conceito de vigilância epidemiológico, segundo a Lei 8.080: “conjunto 
de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer 
mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, 
com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das 
doenças ou agravos. 
Este conceito está em consonância com os princípios do SUS, que prevê a 
integralidade preventivo-assistencial das ações de saúde, e a consequente eliminação 
da dicotomia tradicional entre essas duas áreas, que tanto dificultava as ações de 
vigilância (SOUZA,2016). 
A vigilância epidemiológica tem como propósito fornecer orientação técnica 
permanente para os profissionais de saúde, que têm a responsabilidade de decidir 
sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos, tornando disponíveis, 
para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, 
bem como dos fatores que a condicionam, numa área geográfica ou população 
definida (ROUQUAYROL,2013). 
A operacionalização da vigilância epidemiológica compreende um ciclo de funções 
específicas e intercomplementares, desenvolvidas de modo contínuo, permitindo 
conhecer, a cada momento, o comportamento da doença ou agravo selecionado como 
alvo das ações, para que as medidas de intervenção pertinentes possam ser 
desencadeadas com oportunidade e eficácia (BRASIL,2010). 
A eficiência do SNVE depende do desenvolvimento harmônico das funções realizadas 
nos diferentes níveis. Quanto mais capacitada e eficiente a instância local, mais 
oportunamente poderão ser executadas as medidas de controle. Os dados e 
informações aí produzidos serão, também, mais consistentes, possibilitando melhor 
compreensão do quadro sanitário estadual e nacional e consequentemente, o 
planejamento adequado da ação governamental. Nesse contexto, as intervenções 
oriundas do nível estadual e, com maior razão, do federal tenderão a tornar-se 
seletivas, voltadas para questões emergenciais ou que, pela sua transcendência, 
requerem avaliação complexa e abrangente, com participação de especialistas e 
centros de referência, inclusive internacionais (BRASIL,2010). 
 
13. COLETA DE DADOS E INFORMAÇÕES 
O cumprimento das funções de vigilância epidemiológica depende da disponibilidade 
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de dados que sirvam para subsidiar o processo de produção de Informação para 
Ação. A qualidade da informação depende, sobretudo, da adequada coleta de dados 
gerados no local onde ocorre o evento sanitário (dado coletado). É também nesse 
nível que os dados devem primariamente ser tratados e estruturados, para se 
constituírem em um poderoso instrumento – a Informação – capaz de subsidiar um 
processo dinâmico de planejamento, avaliação, manutenção e aprimoramento das 
ações. 
A coleta de dados ocorre em todos os níveis de atuação do sistema de saúde. 
TIPO DE DADOS: Os dados e informações que alimentam o Sistema de 
Vigilância Epidemiológica são os seguintes: 
• Dados Demográficos: Socioeconômicos e ambientais: permitem quantificar 
a população e gerar informações sobre suas condições de vida: número de habitantes 
e características de sua distribuição, condições de saneamento, climáticas, ecológicas, 
habitacionais e culturais. 
• Dados de Morbidade: Podem ser obtidos mediante a notificação de casos e 
surtos, de produção de serviços ambulatoriais e hospitalares, de investigação 
epidemiológica, de busca ativa de casos, de estudos amostrais e de inquéritos, entre 
outras formas. 
• Dados de Mortalidade: São obtidos através das declarações de óbitos, 
processadas pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade. Mesmo considerando 
o sub-registro, que é significativo em algumas regiões do país, e a necessidade de um 
correto preenchimento das declarações, trata-se de um dado que assume importância 
capital entre os indicadores de saúde. Esse sistema está sendo descentralizado, 
objetivando o uso imediato dos dados pelo nível local de saúde. 
• Notificação de Surtos e Epidemias: A detecção precoce de surtos e 
epidemias ocorre quando o sistema de vigilância epidemiológica local está bem 
estruturado, com acompanhamento constante da situação geral de saúde e da 
ocorrência de casos de cada doença e agravo de notificação. Essa prática possibilita 
a constatação de qualquer indício de elevação do número de casos de uma patologia, 
ou a introdução de outras doenças não incidentes no local e, consequentemente, o 
diagnóstico de uma situação epidêmica inicial, para a adoção imediata das medidas 
de controle. Em geral, deve-se notificar esses fatos aos níveis superiores do sistema, 
para que sejam alertadas as áreas vizinhas e/ou para solicitar colaboração, quando 
necessário. 
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NOTIFICAÇÃO 
Notificação é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à 
saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, 
para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes. Historicamente, a 
notificação compulsória tem sido a principal fonte da vigilância epidemiológica, a partir 
da qual, na maioria das vezes, se desencadeia o processo informação-decisão-ação. 
A listagem das doenças de notificação nacional é estabelecida pelo Ministério da 
Saúde entre as consideradas de maior relevância sanitária para o país 
(BRASIL,2010). 
Além das doenças ou eventos de “notificação imediata” (informação rápida – ou seja, 
deve ser comunicada por e-mail, telefone, fax ou Web). A escolha dessas doenças 
obedece a alguns critérios, razão pela qual essa lista é periodicamente revisada, tanto 
em função da situação epidemiológica da doença, como pela emergência de novos 
agentes, por alterações. 
Os dados coletados sobre as doenças de notificação compulsória são incluídos no 
Sistema Nacional de Agravos Notificáveis (SINAN). Estados e municípios podem 
adicionar à lista outras patologias de interesse regional ou local, justificada a sua 
necessidade e definidos os mecanismos operacionais correspondentes. Entende-se 
que só devem ser coletados dados para efetiva utilização no aprimoramento das 
ações de saúde, sem sobrecarregar os serviços com o preenchimento desnecessário 
de formulários (BRASIL,2010). 
Notificação é a comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à 
saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, 
para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes. 
 
ATENÇÃO! 
O caráter compulsório da notificação implica responsabilidades formais para todo 
cidadão e uma obrigação inerente ao exercício da medicina, bem como de outras 
profissões na área de saúde. Mesmo assim, sabe-se que a notificação nem sempre é 
realizada, o que ocorre por desconhecimento de sua importância e, também, por 
descrédito nas ações que dela devem resultar. 
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Além da notificação compulsória, o Sistema de Vigilância Epidemiológica pode definir 
doenças e agravos como de notificação simples. O Sistema Nacional de Agravos de 
Notificação (SINAN) é o principal instrumento de coleta dos dados de notificação 
compulsória. 
 
14. SISTEMA NACIONAL DEVIGIÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA 
O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE) compreende o conjunto 
articulado de instituições do setor público e privado, componente do Sistema Único de 
Saúde (SUS) que, direta ou indiretamente, notifica doenças e agravos, presta serviços 
a grupos populacionais ou orienta a conduta a ser tomada para o controle dos 
mesmos. 
Reorganização do Sistema de Vigilância Epidemiológica: desde a implantação do 
SUS, o SNVE vem passando por profunda reorganização operacional, para adequar-
se aos princípios de descentralização e de integralidade da atenção à saúde. Esse 
processo encontra-se em fase mais adiantada, na área de assistência médica, na qual 
a transferência de recursos, ações e atividades vinha ocorrendo desde a publicação 
da Norma Operacional Básica de 1993 (NOB/93). Diferentemente, até meados da 
década de 1990, o financiamento das ações de vigilância epidemiológica era 
realizado mediante convênios do governo federal com as secretarias estaduais e 
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municipais de saúde. Do ponto de vista organizacional, permanecia a atuação 
simultânea das três esferas de governo em cada território (FUNASA, SES e SMS), o 
que resultava em descontinuidade e superposição de ações. 
Em dezembro de 1999, foi redefinida a sistemática de financiamento na área de 
epidemiologia e controle de doenças, que também passou para a modalidade fundo-
a-fundo. Esses instrumentos legais permitiram o direcionamento de recursos para o 
nível local do sistema de saúde, com o objetivo de atender, prioritariamente, às ações 
demandadas por necessidades locais, quanto à doenças e agravos mais frequentes. 
A partir do ano 2000, o processo de descentralização foi acelerado por várias medidas, 
que romperam os mecanismos de repasses conveniais e por produção de serviços. 
 
15. SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS (SINAN) 
É o mais importante para a Vigilância Epidemiológica. Desenvolvido entre 1990 e 1993, 
para tentar sanar as dificuldades do Sistema de Notificação Compulsória de 
Doenças/SNCD, e substituí-lo, tendo em vista o razoável grau de informatização já 
disponível no país, o SINAN foi concebido pelo Centro Nacional de Epidemiologia, com 
o apoio técnico do DATASUS e da PRODABEL (Prefeitura Municipal de Belo 
Horizonte), para ser operado a partir das Unidades de Saúde, considerando o objetivo 
de coletar e processar dados sobre agravos de notificação, em todo o território 
nacional, desde o nível local. 
Mesmo que o município não disponha de microcomputadores em suas unidades, os 
instrumentos deste sistema são preenchidos neste nível, e o processamento eletrônico 
é feito nos níveis centrais das Secretarias Municipais de Saúde (SMS), regional ou nas 
Secretarias Estaduais (SES). 
O SINAN é alimentado, principalmente, pela notificação e investigação de casos de 
doenças e agravos, que constam da lista nacional de doenças de notificação 
compulsória, mas é facultado a estados e municípios incluir outros problemas de 
saúde, importantes em sua região. Por isso, o número de doenças e agravos 
contemplados pelo SINAN, vem aumentando progressivamente, desde seu processo 
de implementação, em 1993, sem uma relação direta com a compulsoriedade nacional 
da notificação, expressando as diferenças regionais de perfis de morbidade 
registradas no Sistema. A entrada de dados, no SINAN, é feita mediante a utilização 
de alguns formulários padronizados: 
Ficha Individual de Notificação (FIN): é preenchida para cada paciente. Quando da 
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suspeita da ocorrência de problema de saúde de notificação compulsória (Portaria 
1943, de 18 de outubro de 2001) ou de interesse nacional, estadual ou municipal e 
encaminhada pelas unidades assistenciais, aos serviços responsáveis pela informação 
e/ou vigilância epidemiológica. Este mesmo instrumento é utilizado para notificação 
negativa. 
Notificação negativa é a notificação da não ocorrência de doenças de notificação 
compulsória, na área de abrangência da unidade de saúde. Indica que os profissionais 
e o sistema de vigilância da área estão alertas, para a ocorrência de tais eventos. 
A partir da alimentação do banco de dados do SINAN, pode-se calcular a incidência, 
prevalência, letalidade e mortalidade, bem como realizar análises, de acordo com as 
características de pessoa, tempo e lugar, particularmente, no que tange às doenças 
transmissíveis de notificação obrigatória. Além disso, é possível avaliar-se a qualidade 
dos dados. 
Indicadores são variáveis suscetíveis à mensuração direta, produzidos com 
periodicidade definida e critérios constantes. Disponibilidade de dados, simplicidade 
técnica, uniformidade, sinteticidade e poder discriminatório, são requisitos básicos 
para a sua elaboração. Os indicadores de saúde refletem o estado de saúde da 
população de uma comunidade. 
 
16. PRIMEIRAS OBSERVAÇOES EPIDEMIOLÓGICAS 
John Snow identificou o local de moradia de cada pessoa que morreu por cólera em 
Londres entre 1848-49 e 1853-54 e notou uma evidente associação entre a origem da 
água utilizada para beber e as mortes ocorridas. A partir disso, Snow comparou o 
número de óbitos por cólera em áreas abastecidas por diferentes companhias e 
verificou que a taxa de mortes foi mais alta entre as pessoas que consumiam água 
fornecida pela companhia Southwark. 
A epidemiologia: 
• A epidemiologia é uma ciência fundamental para a saúde pública. 
• A epidemiologia tem dado grande contribuição à melhoria da saúde das 
populações. 
• A epidemiologia é essencial no processo de identificação e mapeamento de 
doenças emergentes 
• Baseado nessa sua investigação, Snow construiu a teoria sobre a transmissão 
das doenças infecciosas em geral e sugeriu que a cólera era disseminada através da 
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água contaminada. 
• Dessa forma, foi capaz de propor melhorias no suprimento de água, mesmo 
antes da descoberta do micro-organismo causador da cólera; além disso, sua 
pesquisa teve impacto direto sobre as políticas públicas de saúde. 
• O trabalho de Snow relembra que medidas de saúde pública, tais como 
melhorias no abastecimento de água e saneamento, têm trazido enormes 
contribuições para a saúde das populações. Ficou ainda demonstrado que, desde 
1850, estudos epidemiológicos têm identificado medidas apropriadas a serem 
adotadas em saúde pública. 
Problema Epidemiológico: 
• Em epidemiologia, o problema tem origem quando doenças acometem grupos 
humanos. 
• É a necessidade de remover fatores ambientais contrários à saúde ou de criar 
condições que a promovam, que determina a problemática própria da epidemiologia. 
Alvo do estudo epidemiológico: 
• O alvo de um estudo epidemiológico é sempre uma população humana, que 
pode ser definida em termos geográficos ou outro qualquer. 
• Por exemplo, um grupo específico de pacientes hospitalizados ou 
trabalhadores de uma indústria pode constituir uma unidade de estudo. 
• Em geral, a população utilizada em um estudo epidemiológico é aquela 
localizada em uma determinada área ou país em um certo momento do tempo. 
Epidemiologia clínica: 
• A epidemiologia está, também, preocupada com a evolução e o desfecho 
(história natural) das doenças nos indivíduos e nos grupos populacionais 
• A aplicação dos princípios e métodos epidemiológicos no manejo de problemas 
encontrados na prática médica com pacientes, levou ao desenvolvimento da 
epidemiologia clínica. 
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17. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: CONCEITOS INSTITUCIONALIZAÇÃO 
Uma designação ao termo vigilância, adotada na Inglaterra no século XIX, por Farr, e 
citada por Waldman(1998: 10)2 foi a de "inteligência epidemiológica", compreendida 
como sendo a "... faculdade ou habilidade de aprender, apreender ou compreender", 
bem como, num sentido mais restrito, de "...obter e dispor de informações 
particularmente secretas." O termo "inteligência", pelo seu significado de caráter 
predominantemente militar foi substituído por "vigilância", em 1955, e aplicado pela 
primeira vez em saúde pública. 
No Brasil, no início do século XX, (1902) quando eclodiu a epidemia de peste no Rio 
de Janeiro, uma lei do Congresso Nacional estabeleceu as bases para os serviços de 
defesa sanitária da então Capital Federal, e visando superar tal situação, impôs a 
notificação obrigatória dos casos de tifo, cólera, febre amarela, peste, varíola, difteria, 
febre tifóide, tuberculose aberta e lepra ulcerada. As pessoas que omitissem a 
notificação de quaisquer dessas doenças estariam sujeitas aos rigores do Código 
Penal, e poderiam sofrer penalidades que iam desde o pagamento de multas até a 
prisão, segundo Costa.3 Este autor ressalta que em 1914, a legislação sanitária 
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brasileira se expandiu para 19 inspetorias de saúde distribuídas pelo litoral brasileiro, 
extrapolando o eixo Rio - São Paulo. Essas inspetorias teriam como prioridade 
vigilância do cólera, da febre amarela e da peste, pautando-se em medidas sanitárias 
permanentes. Excepcionalmente outras doenças infecciosas teriam as medidas de 
prevenção definidas de acordo com a "particularidade" de cada 
Nesse mesmo ano, foi definida outra relação de doenças de notificação compulsória, 
contendo as seguintes doenças: febre amarela, peste, cólera, varíola, impaludismo, 
lepra, tifo e tuberculose. Em relação a esses fatos, Costa,3 acrescenta que a 
conjuntura sanitária do início do século XX, foi a etapa mais importante das políticas 
de saúde pública no país, merecendo destaque na "historiografia brasileira". Os 
estudos se concentravam na compreensão da amplitude da resistência política e 
cultural da época que suscitaram ações de controle em saúde. 
Outra consideração de Costa, expressa que: as três primeiras décadas do século XX, 
podem ser referidas como um período de "hegemonia das políticas de saúde pública", 
cujo modelo de atenção em saúde era orientado, principalmente, para o controle de 
epidemias e para a adoção generalizada de ações de imunização. Ancorando-se 
nesse referencial, sem absorver eventuais possibilidades de distorções que pudessem 
existir, a vigilância configurava a sua atuação no país, pautada exclusivamente nas 
doenças transmissíveis, como resultado da concepção da qual emergiu. 
Retornando ao polo de discussão das redefinições do termo "vigilância", verifica-se que, 
na primeira metade da década de 60, consolidou-se, internacionalmente, uma maior 
abrangência de sua conceituação. Waldman,4 destaca que o conceito de vigilância 
passou a ter um sentido mais amplo e foi desenvolvido, inicialmente, por Langmuir e 
por Raska. O primeiro atuava, no Centers for Diseases Control (CDC) em Atlanta nos 
Estudos Unidos da América (EUA) e o segundo, no Instituto de Microbiologia e de 
Epidemiologia de Praga, na Tchecoslováquia. Assim, em 1963 Langmuir, citado por 
Waldman (1993: 46),4 define vigilância como sendo: "A observação contínua da 
distribuição e tendências da incidência de doenças mediante coleta sistemática, 
consolidação e avaliação de informes de morbidade e mortalidade, assim como de 
outros dados relevantes e a regular disseminação dessas informações a todos que 
necessitam conhecê-las." 
A partir de 1964, Raska, conforme Waldman,4 se preocupou em diferenciar a 
"vigilância" da pesquisa epidemiológica, agregando ao termo "vigilância" o 
qualificativo "epidemiológica", propondo inclusive, a ampliação das suas ações para 
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outras doenças, além das doenças transmissíveis. No ano seguinte, a designação foi 
consagrada internacionalmente, com a criação da Unidade de Vigilância 
Epidemiológica da Divisão de Doenças Transmissíveis da Organização Mundial da 
Saúde (OMS). Desse modo, a vigilância epidemiológica (VE) passou a ser interpretada 
como o acompanhamento sistemático de doenças na comunidade, com o propósito 
de aprimorar as medidas de controle. 
Nesse sentido, a Campanha de Erradicação da Varíola (CEV) (1966-1973), tomando 
como referência as experiências do programa de erradicação da malária, na década 
de 50, auxiliou no aprimoramento e incorporação das atividades da vigilância 
epidemiológica aos programas de controle de doenças transmissíveis no mundo. No 
Brasil, notadamente, a CEV motivou a ampliação da vigilância epidemio-lógica às 
doenças imunopreveníveis, e subsidiou a elaboração, em 1969, do sistema nacional de 
notificação semanal de doenças.5 Vale registrar, que a concepção de vigilância 
epidemiológica enquanto "informação para a ação", aplicável à rede de serviços de 
saúde, no país, foi introduzida oficialmente no início da década de 70, ainda durante 
a CEV.1. 
Em 1968, realizou-se a XXI Assembleia Mundial de Saúde, na qual ocorreram 
discussões técnicas sobre a vigilância epidemiológica. Na ocasião, foi aceita a 
incorporação, como objeto do seu interesse, de outras doenças e agravos, além das 
doenças transmissíveis. A vigilância foi adquirindo, assim, um sentido amplo e mais 
estratégico.1 Contudo, a ampliação da abrangência do objeto da VE para outras 
doenças, além das doenças transmissíveis sugeria uma construção extremamente 
complexa na produção de conhecimentos, exigindo uma dinâmica institucional de 
produção contínua e sistemática de informações individuais e/ou coletivas, que 
pudessem configurar a "nova demanda", focalizada na reorganização da sua prática. 
A percepção crescente da importância da prática da VE, levou a Organização Mundial 
da Saúde e a Organização Panamericana da Saúde (OPAS), na década de 70, a 
incentivarem a criação de sistemas de vigilância epidemiológica nos países em 
desenvolvimento, ampliando as ações para um conjunto maior de doenças 
transmissíveis. Esses sistemas visavam, principalmente, a redução da 
morbimortalidade entre crianças e jovens. Nesse enfoque, a vigilância epidemiológica 
surge conjugada às diversas ações de controle de doenças e de agravos. 
Em 1973, no I Seminário Regional dos Sistemas de Vigilância Epidemiológica de 
Enfermidades Transmissíveis e Zoonoses das Américas, realizado no Rio de Janeiro, 
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que ocorreu em plena epidemia de meningite meningocócica no Brasil, a discussão 
sobre a vigilância epidemiológica sofreu um grande impulso.7 Baseados nesse 
evento, Fossaert et al.8 publicaram em 1974, um artigo fazendo uma revisão 
conceitual da "vigilância epidemiológica", estabelecendo uma definição abrangente, 
contemplando o propósito, as funções, as atividades e as modalidades operacionais. 
Assim, definiram a "vigilância epidemiológica" como sendo: "... o conjunto de atividades 
que permite reunir informações indispensáveis para conhecer em todo momento o 
comportamento ou história natural das doenças, detectar ou prever qualquer mudança 
que possa ocorrer por alterações dos fatores condicionantes, com o fim de 
recomendar oportunamente, sobre bases firmes, as medidas indicadas à prevenção e 
controle da doença" (Fossaert et al.; 1974: 522).8 Partindo desse enfoque, Paim,9 
aponta para o fato de que, em meio a uma grave crise sanitária no país, na década 
de 70, as discussões sobre vigilância epidemiológica ganhavam continuidade e 
consistência. 
Em 1975, por recomendação da V Conferência Nacional de Saúde, a "vigilância 
epidemiológica" passou a ser, institucionalmente, definida no país em bases legais, 
através da Lei Federal6.259 de 1975, assim: "A vigilância epidemiológica compreende 
as informações, investigações e levantamentos necessários à programação e à 
avaliação das medidas de controle de doenças e de situações de agravos à saúde" 
(Brasil. Lei ...; 1975: 4433),10 a ênfase é na atuação sobre as doenças transmissíveis, 
tendo sido incluídas na relação das doenças de notificação compulsória, algumas 
doenças imunopreveníveis. A lei foi regulamentada pelo Decreto 78.321 de 1976,11 
que instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE) e o conceitua 
como o conjunto de informações e investigações necessárias à programação e a 
avaliação das ações de controle de doenças e de agravos à saúde. No artigo 13 (I) do 
referido decreto, ficou definido que fossem consideradas como informações básicas 
para o funcionamento do SNVE a notificação compulsória de doenças, as declarações 
e/ou atestados de óbito os estudos epidemiológicos realizados por autoridades 
sanitárias e a notificação de agravos inusitados e outras doenças, cuja ocorrência de 
casos julgada anormal, fossem plausíveis para a adoção de medidas de controle de 
âmbito coletivo. 
O conjunto de doenças, então consideradas de maior relevância para o país, 
regulamentado pelo Decreto 78.321 de 1976,11 foi o apresentado a seguir: 
Doenças sujeitas ao Regulamento Sanitário Internacional: varíola, febre amarela, 
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peste e cólera; Doenças vinculadas ao Programa Nacional de Imunização: 
poliomielite, sarampo, tétano, difteria, coqueluche, raiva, febre tifóide e doença 
meningocócica; 
Doenças controláveis através de ações coordenadas por órgãos específicos do 
Ministério da Saúde: malária, hanseníase, tuberculose e meningites em geral. 
Isso posto, passou a predominar a ideia de que, partindo de programas específicos e 
de resultados concretos em relação ao controle de doenças, se organizassem 
estruturas nos níveis nacional, estadual e regional que pudessem apoiar 
tecnicamente, os serviços de saúde na utilização do método epidemiológico. Vale 
salientar que, o decreto antes referido, não inclui o município como uma das instâncias 
responsáveis pelo SNVE.12 
O SNVE, não se resume, pelo menos ao considerar os dispositivos legais existentes, 
às doenças transmissíveis, cabendo inclusive distintas interpretações à leitura de sua 
definição. Embora a prática e as experiências disponíveis de sua aplicação 
demonstrem a heterogeneidade com que veio a ser implantado, continua-se 
privilegiando o grupo das doenças transmissíveis. E essa não é uma característica 
apenas do sistema de vigilância epidemiológica do Brasil. Goodman et al.13 destacam 
que, durante a década de 70, a vigilância de saúde pública dos EUA, se concentrava, 
quase que exclusivamente, na detecção e no seguimento de casos de determinadas 
doenças transmissíveis. 
A retomada da discussão sobre o emprego do método epidemiológico para outras 
doenças e agravos, que não as doenças transmissíveis, foi tema do "Seminário sobre 
Usos y Perspectivas de la Epidemiologia", realizado em Buenos Aires, na Argentina 
em 1983,14 sob a coordenação da OPAS. Desse evento, surgiu a indicação de que 
as atividades da VE fossem ampliadas, passando a incluir as doenças crônicas, as 
"causas externas", as doenças relacionadas ao processo de trabalho, e outros 
agravos à saúde. 
Entretanto, algumas observações são feitas em relação à ampliação do objeto e das 
atividades da vigilância epidemiológica, com a inclusão de outros agravos no seu 
campo de abrangência. Goldbaum (1992: 61),15 destaca que: "O modelo criado para 
um conjunto de doenças passíveis de controle ou prevenção coletivas passa 
"acriticamente" a ser aplicado para outras tantas situações, nas quais sua eficácia ou 
pertinência é duvidosa." O autor citado, deixa evidente a necessidade de se 
aprofundarem as discussões, com vistas à construção de um modelo capaz de situar 
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a "nova proposta". 
No Brasil, a década de 80 foi marcada por uma conjuntura política de transição 
democrática, alargando os espaços para inúmeras discussões acerca de toda a 
estrutura do sistema de saúde, com ênfase nas formas de organização das ações e 
serviços, bem como, na melhoria das condições de vida e de saúde da população. 
Assim, em 1986, a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva 
(ABRASCO) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), promoveram um seminário 
sobre: "As Perspectivas da Epidemiologia frente à Reorganização dos Serviços de 
Saúde".16 Nesse evento, evidenciou-se que as limitações da vigilância 
epidemiológica poderiam ser enfrentadas em duas dimensões. A primeira partiria da 
necessidade de constituir-se em parte do sistema de informação em saúde 
interinstitucional que não discrimine a informação epidemiológica da operacional - o 
que prejudica a análise, tanto das condições de saúde como dos serviços; a segunda 
dimensão referia-se à ampliação do seu objeto de trabalho com a introdução de 
métodos inovadores de vigilância de grupos populacionais de alto risco e 
monitoramento de exposição a fatores de risco. No contexto da redemocratização do 
país, e no âmbito dos paradoxos existentes no próprio processo, ocorreu em 1986, o 
evento mais importante das últimas décadas do século passado, do ponto de vista 
político-sanitário, a VIII Conferência Nacional de Saúde.17 O destaque é dado, 
principalmente, por seu caráter democrático, imprimindo uma dinâmica de intercâmbio 
entre diferentes atores sociais envolvidos no setor saúde, na construção da proposta 
de reforma sanitária brasileira. O seu relatório final influenciou de forma significativa a 
elaboração e concretização das propostas relativas à saúde, na Constituição Federal 
de 1988,18 que instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS). 
Mais adiante, após vários debates para regulamentar a implantação do SUS, foi 
elaborada a Lei Orgânica da Saúde (LOS), Lei Federal 8.080 de 1990,19 que dispõe 
sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, 
implementando-se em seguida, as constituições estaduais e as leis orgânicas 
municipais. Em relação ao objeto específico deste estudo observasse, como parte das 
transformações ocorridas, que a Lei 8.080 de 1990 considera o município como 
instância privilegiada para o desenvolvimento das ações de saúde, e reconhece a 
importância da descentralização da vigilância epidemiológica ampliando a sua 
definição para: "O conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção 
ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de 
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saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de 
prevenção e controle das doenças e agravos". (Brasil. Lei ...; 1990: 18055) 
Todavia, mantém-se o SNVE, conforme estabelecido na Lei n.º 6.259 de 1975,10 o 
que passou a ser considerado como um "convívio contraditório" para a legislação do 
SUS, conforme enfatiza Paim. Entretanto, o Ministério da Saúde expôs através do Guia 
de Vigilância Epidemiológica,5 que a definição de Vigilância Epidemiológica da Lei 
8.080 de 1990,19 não altera o que há de substancial na concepção atribuída pelo 
SNVE, em 1976. 
Nessa perspectiva, realizou-se em Brasília, em 1992, o "I Seminário Nacional de 
Vigilância Epidemiológica", que propôs a reorganização do SNVE a partir de um "pacto 
governamental", entendido como a estratégia para viabilização de uma prática de 
descentralização, que incluísse a mudança imediata de procedimentos que 
caracterizam a excessiva centralização dos programas e a fragmentação de rotinas da 
vigilância epidemiológica. O evento ressaltou, também, que um dos maiores entraves 
no desenvolvimentodo Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, é a 
desorganização dos serviços de saúde. 
Mais precisamente, a necessidade da reorganização dos serviços de saúde é 
absolutamente indissociável do processo de descentralização da VE, considerando 
que as aplicações de suas ações não são fatos isolados em si mesmos, mas, um 
conjunto de fatos que decorrem da dinâmica institucional do setor saúde. 
Cabe destacar ainda, que dentro dos preceitos legais, em maio de 1996, o Ministério 
da Saúde (MS)21 publicou a Portaria 1.100, que pela primeira vez, após a implantação 
do SUS e a reforma administrativa do MS, explicitou uma relação contendo todas as 
doenças de notificação compulsória, antes dispersas em várias portarias, publicadas 
ao longo do tempo. Nessa nova listagem ocorreu a inclusão das hepatites virais. 
Ainda dentro das prerrogativas legais vigentes, a sustentabilidade financeira da 
proposta de descentralização da vigilância epidemiológica foi assegurada pela Norma 
Operacional Básica do Sistema Único de Saúde, n.º 1 de 1996 (NOBSUS, 1996), do 
Ministério da Saúde,22 que faz alusão à transferência de recursos financeiros fundo a 
fundo, para que estados e municípios possam assumir atribuições e 
responsabilidades, antes exclusivas da instância federal, cabendo a cada um custear 
as ações de epidemiologia e de controle das doenças e dos agravos, formalizando a 
criação e operacionalização de sistemas locais de vigilância epidemiológica. 
A importância do processo de descentralização da vigilância pode revelar-se na 
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melhoria da capacidade de resposta aos problemas de saúde, na instância municipal 
do SUS, onde a vigilância epidemiológica se constitui e atua diretamente, pois se trata 
do contexto a partir do qual emerge e se define uma situação epidêmica, e 
consequentemente, há uma maior oportunidade para que as ações de controle sejam 
desencadeadas com rapidez e agilidade. Em diferentes municípios e, principalmente 
em algumas capitais brasileiras, as ações da vigilância epidemiológica vêm sendo 
ampliadas para outras doenças e agravos a saúde, além da listagem oficial de 
doenças de notificação compulsória nacional. Contudo, a relação de doenças de 
notificação compulsória nacional tem sofrido revisões periódicas. Em 1998, o Ministério 
da Saúde23 publicou a Portaria 4.052, atualizando a listagem de doenças de 
notificação compulsória, contemplando as doenças anteriores, exceto as hepatites 
virais, lato sensu, passando à notificação apenas da hepatite do tipo B. Acrescenta-se 
à lista, a meningite por Haemophilus influenzae e as paralisias flácidas agudas. No 
artigo 2º da referida portaria se recomenda que "...todo e qualquer surto ou epidemia, 
assim como a ocorrência de agravo inusitado, independentemente de constar na lista 
de doenças de notificação compulsória, deve ser notificado imediatamente" (Ministério 
da Saúde; 1998: 19). 
Um certo entendimento da "vigilância", atualmente, implica em lançar-se um duplo 
olhar, a saber: de um lado, o modelo tradicional vigente da vigilância epidemiológica, 
referindo-se ao seu eixo central que já se tornou clássico, à ênfase no processo 
informação-decisão-ação, preservando características específicas e considerando 
como objeto de sua prática os problemas de saúde, que por sua magnitude, 
transcendência, susceptibilidade, gravidade e vulnerabilidade,6 e disponibilidade de 
tecnologias, mostrem-se adequados à sua intervenção no âmbito coletivo; de outro 
lado, as propostas de discussão da "vigilância à saúde", na busca de uma concepção 
mais abrangente, enquanto instrumento de saúde pública. 
Thacker e Berkelman,24 em 1988, discutem entre outros pontos, se o termo 
"epidemiológica" é apropriado para qualificar a "vigilância", justificando, que as 
atividades da vigilância, enquanto prática de saúde pública, situam-se em um 
momento anterior à implementação de pesquisas e à elaboração de programas de 
controle de eventos adversos à saúde. A propósito dessa discussão os autores 
propuseram a substituição sob a denominação de "vigilância em saúde pública". E, no 
ano de 1989, a terminologia vigilância epidemiológica foi substituída 
internacionalmente, pela denominação de vigilância em saúde pública, enfatizando 
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que a alteração na denominação não implicava na adoção de novos aspectos 
conceituais ou operacionais da vigilância epidemiológica. 
Assim, Waldman (1998: 11)2 enfatiza que: "... o uso do termo 'epidemiológica' para 
qualificar vigilância é equivocado, uma vez que epidemiologia é uma disciplina 
abrangente, que incorpora a pesquisa e cuja aplicação nos serviços de saúde vai além 
do instrumento de saúde pública que denominamos vigilância." O autor citado, expõe 
uma série de questões discutidas em relação à incorporação da vigilância 
epidemiológica ao sistema de saúde do país, que se caracteriza, notadamente, mais 
como um sistema de informação que apoia os programas e/ou medidas de controle 
de doenças transmissíveis, do que enquanto recursos de apoio técnico-gerencial aos 
serviços de saúde. Esse fato é apontado, pelo autor, como críticas que de alguma 
forma, constituíram as origens de propostas que receberam a denominação de 
"vigilância à saúde". 
Essa terminologia, vem atraindo polêmicas na construção da sua funcionalidade 
institucional, no que se refere à definição concreta do seu objeto. Segundo Barradas,6 
as discussões sobre vigilância à saúde, desdobram-se em pelo menos duas 
tendências: uma, que defende a necessidade de superar a dicotomia entre a prática 
da vigilância epidemiológica e da vigilância sanitária, diluindo-as em um único bloco - 
as chamadas ações coletivas de saúde; e outra, que defende uma certa especificidade 
dos objetos e métodos de intervenção, suficientes para caracterizar dois conjuntos de 
atividades separadas, porém, integradas. A autora mencionada considera que essas 
trajetórias compõem-se de duas concepções, "generalidade versus especificidade" as 
quais se desdobram em três possibilidades organizacionais: a primeira reúne um 
conjunto indiferenciado de práticas de saúde, a segunda um conjunto particular de 
práticas de vigilância e a terceira um conjunto singular de práticas de vigilância 
epidemiológica. 
Teixeira et al.25 propõem que a concepção de "vigilância da saúde" incorpore novos 
sujeitos, e não só o conjunto de trabalhadores de saúde. Portanto, deverá buscar 
formas efetivas de envolvimento da população organizada, compondo, assim, um 
modelo assistencial que supere os modelos vigentes, e provoque a redefinição do 
objeto, do processo de trabalho, das relações técnicas e sociais e da "cultura 
sanitária". 
Atualmente, encontra-se em discussão/implantação, o projeto Vigilância em Saúde no 
Sistema Único de Saúde (VIGISUS)26 do Ministério da Saúde, que propõe através de 
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financiamento específico, com recursos extra-orçamentários, a estruturação de 
sistemas de vigilância em saúde adequados ao princípio da descentralização do SUS. 
O objetivo do projeto é a construção de um Sistema Nacional de Vigilância em Saúde 
(SNVS), hierarquizado, no qual os sistemas municipais e estaduais e federal de 
vigilância em saúde estarão estruturados para o exercício das ações e aptos a realizar 
permanentemente, tarefas capazes de garantir as atividades de prevenção e controle 
das doenças e agravos mais importantes, de acordo com a estrutura epidemiológica 
de cada instância. 
A proposta do VIGISUS se orienta no sentido de uma nova disposição, na qual cada 
instância do SUS passa a ser responsável pelo monitoramento global da saúde de 
sua comunidade e pela vigilância de fatores condicionantes e determinantes

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