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Transtornos de ansiedade Caroline Leão Os transtornos de ansiedade estão associados com morbidade significativa e com frequência são crônicos e resistentes a tratamento. Eles podem ser vistos como uma família de transtornos mentais relacionados, mas distintos, que inclui (1) transtorno de pânico, (2) agorafobia, (3) fobia específica, (4) transtorno de ansiedade social ou fobia e (5) transtorno de ansiedade generalizada. Cada um desses transtornos é discutido em detalhe nas seções que seguem. Um aspecto fascinante dos transtornos de ansiedade é a extraordinária interação entre fatores genéticos e experiência. Existe pouca dúvida de que genes anormais predispõem a estados de ansiedade patológica; entretanto, as evidências indicam com clareza que acontecimentos de vida traumáticos e estresse também são etiologicamente importantes. Objetivo 01: Ansiedade normal x patológica Ansiedade normal Todo mundo experimenta ansiedade. Ela é caracterizada mais comumente como uma sensação difusa, desagradável e vaga de apreensão, muitas vezes acompanhada por sintomas autonômicos como cefaleia, perspiração, palpitações, aperto no peito, leve desconforto estomacal e inquietação, indicada por uma incapacidade de ficar sentado ou em pé por muito tempo. A gama de sintomas presentes durante a ansiedade tende a variar entre as pessoas. Medo versus ansiedade: A ansiedade é um sinal de alerta; indica um perigo iminente e capacita a pessoa a tomar medidas para lidar com a ameaça. O medo é um sinal de alerta semelhante, mas deve ser diferenciado da ansiedade. Ele é uma resposta a uma ameaça conhecida, externa, definida ou não conflituosa; a ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida, interna, vaga ou conflituosa. Essa distinção entre medo e ansiedade surgiu de forma acidental. Quando o primeiro tradutor de Freud traduziu mal angst, a palavra alemã para “medo”, como ansiedade, o próprio Freud ignorou a distinção que associa a ansiedade com um objeto reprimido, inconsciente, e o medo com um objeto externo, conhecido. Pode ser difícil fazer essa distinção, porque o medo também pode ser devido a um objeto inconsciente, reprimido, interno, deslocado para outro objeto no mundo exterior. Por exemplo, um menino pode ter medo de cachorros latindo porque, na verdade, tem medo de seu pai e, inconscientemente, associa o pai a cachorros latindo. Apesar disso, de acordo com formulações psicanalíticas pós- - freudianas, a separação entre medo e ansiedade é psicologicamente justificável. A emoção causada por um carro que se aproxima com rapidez à medida que o indivíduo atravessa a rua difere do desconforto vago que pode ser experimentado ao conhecer uma pessoa nova em um ambiente estranho. A diferença psicológica principal entre as duas respostas emocionais é a condição súbita do medo e o caráter insidioso da ansiedade. A ansiedade é adaptativa?: Ansiedade e medo são ambos sinais de alerta e atuam como uma advertência de uma ameaça externa ou interna. A ansiedade pode ser conceituada como uma resposta normal e adaptativa que tem qualidades salva-vidas e adverte sobre ameaças de dano corporal, dor, impotência, possível punição ou frustração de necessidades sociais ou corporais; separação de entes queridos; ameaça ao sucesso ou à posição individual; e, por fim, sobre ameaças à unidade ou integridade. Ela impele o indivíduo a tomar as medidas necessárias para evitar a ameaça ou reduzir suas consequências. Essa preparação é acompanhada por aumento da atividade somática e autonômica controlada pela interação dos sistemas nervosos simpático e parassimpático. Exemplos de uma pessoa que evita as ameaças da vida diária incluem aplicar-se na preparação de um exame, agarrar uma bola atirada contra a cabeça, entrar no dormitório de forma sorrateira após a hora estabelecida para evitar punição, correr para pegar o último trem. Dessa forma, a ansiedade previne prejuízo ao alertar o indivíduo a realizar certos atos que evitam o perigo. Estresse e ansiedade: Se um acontecimento é percebido ou não como estressante depende da natureza do acontecimento e dos recursos, das defesas psicológicas e dos mecanismos de enfrentamento da pessoa. Todas essas referências envolvem o ego, uma abstração coletiva para o processo pelo qual o indivíduo percebe, pensa e atua sobre os acontecimentos externos ou os impulsos internos. Uma pessoa cujo ego esteja funcionando de maneira apropriada está em equilíbrio adaptativo tanto com o mundo externo como com o interno; se o ego não estiver funcionando adequadamente e o desequilíbrio resultante continuar por tempo suficiente, o indivíduo experimentará ansiedade crônica. Se o desequilíbrio for externo, entre as pressões do mundo e o ego do indivíduo, ou interno, entre os impulsos (p. ex., agressivos, sexuais ou dependentes) e a consciência, ocorrerá um conflito. Os conflitos de causas externas costumam ser interpessoais, enquanto os de causas internas são intrapsíquicos ou intrapessoais. É possível uma combinação dos dois, como no caso de empregados cujo patrão excessivamente exigente e crítico provoca impulsos que precisam ser controlados pelo medo de perder o emprego. Os conflitos interpessoais e intrapsíquicos tendem a ser mesclados. Pelo fato de os seres humanos serem sociais, seus principais conflitos são, em geral, com outras pessoas. Sintomas de ansiedade: A experiência da ansiedade apresenta dois componentes: a percepção das sensações fisiológicas (como palpitações e suor) e a percepção do estar nervoso ou assustado. Um sentimento de vergonha pode aumentar a ansiedade – “os outros perceberão que estou assustado”. A maioria das pessoas fica atônita ao verificar que os outros não se dão conta de sua ansiedade ou, se o fazem, não apreciam sua intensidade. Além dos efeitos motores e viscerais, a ansiedade afeta o pensamento, a percepção e o aprendizado. Tende a produzir confusão e distorções da percepção, não apenas do tempo e do espaço, mas também das pessoas e dos significados dos acontecimentos. Essas distorções podem interferir no aprendizado ao diminuir a concentração, reduzir a memória e perturbar a capacidade de fazer relações. Um aspecto importante das emoções é seu efeito sobre a atenção seletiva. Os indivíduos ansiosos ficam predispostos a selecionar certos aspectos de seu ambiente e subestimar outros em seu esforço para provar que se justifica considerar sua situação aterradora. Se, de maneira equivocada, justificam seu medo, aumentam a ansiedade pela resposta seletiva e estabelecem um círculo vicioso de ansiedade, percepções distorcidas e ansiedade aumentada. Se, como alternativa, se tranquilizam por meio de pensamentos seletivos, a ansiedade apropriada pode ser reduzida, e eles podem deixar de tomar as precauções necessárias. Ansiedade patológica Epidemiologia Os transtornos de ansiedade constituem um dos grupos mais comuns de doenças psiquiátricas. O Estudo Americano de Comorbidade (National Comorbidity Study) relatou que 1 em cada 4 pessoas satisfaz o critério diagnóstico de pelo menos um transtorno de ansiedade e que há uma taxa de prevalência em 12 meses de 17,7%. As mulheres (com prevalência durante a vida de 30,5%) têm mais probabilidade de ter um transtorno de ansiedade do que os homens (prevalência durante a vida de 19,2%). Por fim, sua prevalência diminui com o status socioeconômico mais alto. Contribuições das ciências psicológicas Três principais escolas de teoria psicológica – psicanalítica, comportamental e existencial – contribuíram com teorias sobre as causas da ansiedade. Cada uma tem utilidade tanto conceitual como prática no tratamento dos transtornos de ansiedade. Teorias psicanalíticas. Embora Freud originalmente acreditasse que a ansiedade derivava do acúmulo fisiológico de libido, acabou redefinindo-a como um sinal da presença de perigo no inconsciente. Ela era percebida como resultadode conflito psíquico entre desejos sexuais ou agressivos inconscientes, com as ameaças correspondentes do superego e da realidade externa. Em resposta a esse sinal, o ego mobilizava mecanismos de defesa para evitar que pensamentos e sentimentos inconscientes inaceitáveis emergissem para a percepção consciente. Em seu artigo clássico Inibições, sintomas e ansiedade, Freud afirma que “era a ansiedade que produzia a repressão, e não, como eu antes acreditava, a repressão que produzia a ansiedade”. Hoje, muitos neurobiologistas continuam a corroborar várias das ideias e teorias originais de Freud. Um exemplo é o papel da amígdala, que facilita a resposta de medo sem qualquer referência à memória consciente e fundamenta o conceito de Freud de um sistema de memória inconsciente para respostas de ansiedade. Uma das consequências infelizes de considerar os sintomas de ansiedade um transtorno, em vez de um sinal, é que as fontes subjacentes de ansiedade podem ser ignoradas. De um ponto de vista psicodinâmico, o objetivo do tratamento não é necessariamente eliminar toda a ansiedade, mas aumentar a tolerância a ela, isto é, a capacidade de experimentá-la e utilizá-la como um sinal para investigar o conflito subjacente que a criou. A ansiedade aparece como resposta a várias situações durante o ciclo de vida, e, embora agentes psicofarmacológicos possam melhorar os sintomas, nada podem fazer para tratar a situação de vida ou seus correlatos internos que induziram o estado de ansiedade. No seguinte caso, uma fantasia perturbadora precipitou um ataque de ansiedade. Para compreender plenamente a ansiedade de um determinado paciente de um ponto de vista psicodinâmico, muitas vezes é útil relacionar a ansiedade a questões do desenvolvimento. No nível mais inicial, pode estar presente a ansiedade de desintegração. Esta deriva do medo de que o self se fragmente porque os outros não estão respondendo com a afirmação e a validação necessárias. A ansiedade persecutória pode estar associada com a percepção de que o self está sendo invadido ou aniquilado por uma força malévola externa. Outra fonte de ansiedade envolve uma criança que teme perder o amor ou a aprovação de um dos genitores ou do objeto de amor. A teoria da ansiedade de castração, de Freud, está ligada à fase edípica do desenvolvimento em meninos, na qual uma figura paterna poderosa, em geral o pai, pode danificar os genitais do menino ou provocar dano corporal de outra forma. No nível mais maduro, a ansiedade do superego está relacionada a sentimentos de culpa sobre não satisfazer padrões internalizados de comportamento moral, derivados dos pais. Muitas vezes, uma entrevista psicodinâmica pode elucidar o principal nível de ansiedade que o paciente está enfrentando. Alguma ansiedade está obviamente relacionada a conflitos múltiplos em vários níveis do desenvolvimento. Teorias comportamentais. As teorias comportamentais ou de aprendizagem da ansiedade postulam que a ansiedade é uma resposta condicionada a um estímulo específico do ambiente. Em um modelo de condicionamento clássico, uma menina criada por um pai abusivo, por exemplo, pode se tornar ansiosa assim que enxerga esse pai. Por meio de generalização, ela pode passar a desconfiar de todos os homens. No modelo de aprendizagem social, uma criança pode desenvolver uma resposta de ansiedade imitando a ansiedade no ambiente, por exemplo, em casos de pais ansiosos. Teorias existenciais. As teorias existenciais da ansiedade fornecem modelos para ansiedade generalizada, na qual não há um estímulo específico identificável para a sensação crônica de ansiedade. O conceito central da teoria existencial é o de que as pessoas experimentam sentimentos de viver em um universo sem objetivo. A ansiedade é sua resposta ao vazio de sentido e existência. Essas preocupações existenciais podem ter aumentado desde o desenvolvimento das armas nucleares e do terrorismo biológico. Contribuições das ciências biológicas Sistema nervoso autônomo. A estimulação do sistema nervoso autônomo causa certos sintomas – cardiovasculares (p. ex., taquicardia), musculares (p. ex., cefaleia), gastrintestinais (p. ex., diarreia) e respiratórios (p. ex., taquipneia). Os sistemas nervosos autônomos de alguns pacientes com transtorno de ansiedade, sobretudo aqueles com transtorno de pânico, exibem tônus simpático aumentado, se adaptam lentamente a estímulos repetidos e respondem de maneira excessiva a estímulos moderados. Neurotransmissores. Os três principais neurotransmissores associados a ansiedade, com base em estudos com animais e em respostas a tratamento medicamentoso, são a norepinefrina (NE), a serotonina e o ácido !-aminobutírico (GABA). Boa parte da informação das ciências básicas sobre essa condição vem de experimentação com animais envolvendo paradigmas de comportamento e agentes psicoativos. Um desses experimentos foi o teste do conflito, em que o animal é apresentado, ao mesmo tempo, a estímulos positivos (p. ex., alimento) e negativos (p. ex., choque elétrico). Os medicamentos ansiolíticos (p. ex., benzodiazepínicos) tendem a facilitar a adaptação do animal a essa situação, enquanto outros (p. ex., as anfetaminas) perturbam ainda mais suas respostas comportamentais. NOREPINEFRINA. Os sintomas crônicos vivenciados por pacientes com transtorno de ansiedade, como ataques de pânico, insônia, sobressalto e hiperexcitação autonômica, são característicos de aumento da função noradrenérgica. A teoria geral sobre seu papel nos transtornos de ansiedade é a de que os pacientes afetados podem ter um sistema noradrenérgico com problemas de regulação, com surtos ocasionais de atividade. Os corpos celulares desse sistema estão localizados principalmente no locus ceruleus na ponte rostral e projetam seus axônios para o córtex cerebral, o sistema límbico, o tronco cerebral e a medula espinal. Experimentos em primatas demonstraram que a estimulação do locus ceruleus produz uma resposta de medo e que a ablação dessa mesma área inibe ou bloqueia completamente a capacidade dos animais de formar uma resposta de medo. Estudos com humanos verificaram que, em pacientes com transtorno de pânico, os agonistas dos receptores alfa-adrenérgicos (p. ex., o isoproterenol) e os antagonistas dos receptores "2-adrenérgicos (p. ex., a ioimbina) podem provocar ataques de pânico frequentes e graves. De forma inversa, a clonidina, um agonista dos receptores "2, reduz os sintomas de ansiedade em algumas situações experimentais e terapêuticas. Um achado menos consistente é o de que pacientes com transtornos de ansiedade, particularmente transtorno de pânico, apresentam níveis elevados do metabólito noradrenérgico 3-metóxi-4-hidroxifenilglicol (MHPG) no líquido cerebrospinal (LCS) e na urina. EIXO HIPOTALÂMICO-HIPOFISÁRIO-SUPRARRENAL. Evidências consistentes indicam que muitas formas de estresse psicológico aumentam a síntese e a liberação de cortisol. O cortisol serve para mobilizar e reabastecer os estoques de energia e contribui para aumentar o alerta, a vigilância, a atenção focada e a formação de memória; inibe o crescimento e o sistema reprodutivo; e contém a resposta imune. A secreção excessiva e contínua dessa substância pode ter efeitos adversos graves, entre eles hipertensão, osteoporose, imunossupressão, resistência a insulina, dislipidemia, distúrbios de coagulação e, por fim, aterosclerose e doença cardiovascular. Alterações na função do eixo HHS foram demonstradas no TEPT. Em pacientes com transtorno de pânico, respostas de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) embotadas ao fator liberador de corticotrofina (CRF) foram relatadas em alguns estudos e não em outros. HORMÔNIO LIBERADOR DE CORTICOTROFINA (CRH). Um dos mais importantes mediadores da resposta de estresse, o CRH coordena as mudanças comportamentais e fisiológicas adaptativas que ocorrem durante esse estado.Os níveis hipotalâmicos de CRH são aumentados pelo estresse, resultando em ativação do eixo HHS e aumento da liberação de cortisol e desidroepiandrosterona (DHEA). O CRH também inibe uma variedade de funções neurovegetativas, como ingestão de alimento, atividade sexual, e programas endócrinos para crescimento e reprodução. SEROTONINA. A identificação de muitos tipos de receptores estimulou a pesquisa sobre o papel da serotonina na patogênese dos transtornos de ansiedade. Diferentes tipos de estresse agudo resultam do aumento no turnover de 5- hidroxitriptamina (5-HT) no córtex pré-frontal, no nucleus accumbens, na amígdala e no hipotálamo lateral. O interesse nessa relação foi motivado, inicialmente, pela observação de que os antidepressivos serotonérgicos têm efeitos terapêuticos em alguns transtornos de ansiedade – por exemplo, clomipramina no transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). A eficiciência da buspirona, um agonista dos receptores 5-HT1A para a serotonina, no tratamento dos transtornos de ansiedade também sugere a possibilidade de uma associação entre serotonina e ansiedade. Os corpos celulares da maioria dos neurônios serotonérgicos estão localizados nos núcleos da rafe do tronco cerebral rostral e se projetam para o córtex cerebral, o sistema límbico (em especial para a amígdala e o hipocampo) e o hipotálamo. Vários relatos indicam que a meta-clorofenilpiperazina (mCPP), uma droga com efeitos serotonérgicos e noradrenérgicos múltiplos, e a fenfluramina, que causa a liberação de serotonina, provocam aumento da ansiedade em pacientes com transtornos de ansiedade; e muitos relatos empíricos indicam que alucinógenos e estimulantes serotonérgicos – por exemplo, a dietilamida do ácido lisérgico (LSD) e a 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA) – estão associados com o desenvolvimento tanto de ansiedade aguda, quanto crônica em indivíduos que utilizam essas drogas. Estudos clínicos da função de 5-HT nos transtornos de ansiedade tiveram resultados mistos. Um estudo verificou que pacientes com transtorno de pânico tinham níveis mais baixos de 5-HT circulante comparados com participantes de controle. Portanto, até o momento nenhum padrão claro de anormalidade na função de 5-HT no transtorno de pânico surgiu da análise de elementos do sangue periférico. GABA. O papel do GABA nos transtornos de ansiedade é apoiado com mais força pela eficácia incontestável dos benzodiazepínicos, que aumentam sua atividade no receptor tipo A de GABA, no tratamento de alguns tipos de transtornos de ansiedade. Embora os benzodiazepínicos de baixa potência sejam mais eficazes para os sintomas de transtorno de ansiedade generalizada, os de alta potência, como alprazolam e clonazepam, são eficazes no tratamento do transtorno de pânico. Estudos com primatas verificaram que os sintomas no sistema nervoso autônomo dos transtornos de ansiedade são induzidos quando se administra um agonista inverso dos benzodiazepínicos, o ácido !-carbolino-3-carboxílico (BCCE). Este também causa ansiedade em voluntários sadios. Um antagonista dos benzodiazepínicos, o flumazenil, causa ataques de pânico frequentes e graves em pacientes com o transtorno. Esses dados levaram pesquisadores a cogitar a hipótese de que alguns pacientes com transtornos de ansiedade apresentam funcionamento anormal de seus receptores GABAA, embora essa conexão não tenha sido demonstrada diretamente. APLYSIA. Um modelo de neurotransmissores para o transtorno de ansiedade se baseia no estudo da Aplysia californica, realizado pelo vencedor do Prêmio Nobel Dr. Eric Kandel. A aplysia é um caramujo marinho que reage ao perigo se afastando, se recolhendo para sua concha e reduzindo seu comportamento alimentar. Tais comportamentos podem ser condicionados classicamente, de modo que o caramujo responda a um estímulo neutro como se fosse um estímulo perigoso. O animal também pode ser sensibilizado por choques aleatórios, a fim de que exiba uma resposta de fuga na ausência de perigo real. Paralelos já foram traçados entre condicionamento clássico e ansiedade fóbica em humanos. A aplysia condicionada de forma clássica exibe mudanças mensuráveis da facilitação pré- -sináptica, resultando na liberação de maiores quantidades de neurotransmissores. Embora o caramujo marinho seja um animal simples, esse trabalho mostra uma abordagem experimental a um processo neuroquímico complexo, potencialmente envolvido nos transtornos de ansiedade em humanos. NEUROPEPTÍDEO Y. O NPY é um peptídeo de 36 aminoácidos altamente preservado, que está entre os mais abundantes encontrados no cérebro de mamíferos. A evidência que sugere o envolvimento da amígdala nos efeitos ansiolíticos do NPY é robusta, e é provável que ocorra por meio do receptor NPY-Y1. O NPY tem efeitos contrarreguladores sobre os sistemas do CRH e LC-NE em locais do cérebro importantes na expressão de ansiedade, medo e depressão. Estudos preliminares com soldados de operações especiais sob estresse de treinamento extremo indicam que altos níveis de NPY estão associados com melhor desempenho. GALANINA. A galanina é um peptídeo que, em seres humanos, contém 30 aminoácidos. Foi demonstrado seu envolvimento em uma série de funções fisiológicas e comportamentais, incluindo aprendizagem e memória, controle da dor, ingestão de alimento, controle neuroendócrino, regulação cardiovascular e, mais recentemente, ansiedade. Um denso sistema de fibras imunorreativas de galanina que se origina no LC inerva estruturas do prosencéfalo e do mesencéfalo, incluindo o hipocampo, o hipotálamo, a amígdala e o córtex pré-frontal. Estudos com ratos demonstraram que a administração central de galanina modula comportamentos relacionados a ansiedade. Os agonistas dos receptores de galanina e do NPY podem ser novos alvos para o desenvolvimento de drogas ansiolíticas. Estudos de imagens cerebrais. Uma variedade de estudos de imagens cerebrais, quase sempre conduzidos em um transtorno de ansiedade específico, produziu vários caminhos possíveis para o entendimento desses transtornos. Estudos estruturais – por exemplo, imagens de tomografia computadorizada (TC) e de ressonância magnética (RM) – mostram ocasionalmente aumento no tamanho dos ventrículos cerebrais. Em um estudo, o aumento foi correlacionado à duração do tempo em que os pacientes estiveram usando benzodiazepínicos. Em um estudo com RM, foi observado um defeito específico no lobo temporal direito em pacientes com transtorno de pânico. Vários outros estudos de imagens cerebrais relataram achados anormais no hemisfério direito, mas não no esquerdo; isso sugere que alguns tipos de assimetrias cerebrais podem ser importantes para o desenvolvimento de sintomas de transtorno de ansiedade em pacientes específicos. Estudos de imagens cerebrais funcionais (IRMf) – por exemplo, tomografia por emissão de pósitrons (PET), tomografia por emissão de fóton único (SPECT) e eletrencefalografia (EEG) – de pacientes com transtornos de ansiedade relataram, de forma variável, anormalidades no córtex frontal, em áreas occipitais e temporais e, em um estudo sobre transtorno de pânico, no giro para-hipocampal. Vários estudos de neuroimagens funcionais implicaram o núcleo caudado na fisiopatologia do TOC. No transtorno de estresse pós- -traumático, estudos de IRMf encontraram atividade aumentada na amígdala, uma região cerebral associada com medo. Uma interpretação conservadora desses dados é a de que alguns pacientes com transtornos de ansiedade têm uma condição patológica cerebral funcional demonstrável e a de que ela pode ser causalmente relevante aos seus sintomas desses transtornos. Estudos genéticos. Há evidência sólida de que pelo menos algum componente genético contribui para o desenvolvimento dos transtornos de ansiedade. A hereditariedade tem sido reconhecida como um fator predisponente no desenvolvimento desses transtornos. Quasemetade dos pacientes com transtorno de pânico tem, no mínimo, um parente afetado. As taxas para outros transtornos de ansiedade, embora não tão elevadas, também indicam uma frequência mais alta da doença em parentes em primeiro grau de pacientes afetados em comparação com parentes de pessoas não afetadas. Embora estudos de adoção com transtornos de ansiedade não tenham sido relatados, os dados de registros de gêmeos também apoiam a hipótese de que essa condição seja, pelo menos em parte, determinada geneticamente. Existe clara ligação entre a genética e os transtornos de ansiedade, mas nenhum deles tem probabilidade de ser resultado de uma anormalidade mendeliana simples. Um relato atribuiu 4% da variabilidade intrínseca da ansiedade na população em geral a um variante polimórfico do gene para o transportador de serotonina, que é o sítio de ação de muitos medicamentos serotonérgicos. Pessoas com essa variante produzem menos transportador e têm níveis mais altos de ansiedade. Em 2005, uma equipe de cientistas do National Institute of Mental Health, liderada pelo ganhador do prêmio Nobel Dr. Eric Kandel, demonstrou que a desativação de um gene na central do medo do cérebro cria camundongos que não são perturbados por situações que normalmente desencadeariam respostas de medo instintivas ou aprendidas. O gene codifica para a stathmin, uma proteína fundamental para a amígdala formar memórias de medo. Camundongos com desativação da stathmin apresentaram menos ansiedade quando ouviram um som que tinha sido previamente associado com um choque, o que indica menos medo aprendido. Os camundongos com o gene desativado também eram mais suscetíveis a explorar espaços abertos e ambientes de labirinto novos, um reflexo de menos medo inato. Kandel sugere que camundongos com stathmin desativada podem ser usados como um modelo de estados de ansiedade de transtornos mentais com componentes de medo inato e aprendido: esses animais poderiam ser usados para desenvolver novos agentes antiansiedade. Ainda precisa ser confirmado se essa proteína é expressa de forma semelhante e se é fundamental para a ansiedade na amígdala humana. Considerações neuroanatômicas. O locus ceruleus e os núcleos da rafe projetam-se principalmente para o sistema límbico e para o córtex cerebral. Em combinação com dados de estudos de imagens cerebrais, essas áreas têm-se tornado o foco de muita elaboração de hipóteses sobre os substratos neuroanatômicos dos transtornos de ansiedade. SISTEMA LÍMBICO. Além de receber inervação noradrenérgica e serotonérgica, o sistema límbico contém, ainda, alta concentração de receptores GABAA. Estudos de ablação e estimulação em primatas não humanos também implicaram o sistema límbico na geração de respostas de ansiedade e medo. Duas áreas do sistema límbico receberam atenção especial na literatura: aumento da atividade na via septo-hipocampal, que pode levar a ansiedade, e o giro do cíngulo, implicado particularmente na fisiopatologia do TOC. CÓRTEX CEREBRAL. O córtex cerebral frontal conecta-se com a região para- hipocampal, o giro do cíngulo e o hipotálamo e, dessa forma, pode estar envolvido na produção dos transtornos de ansiedade. O córtex temporal também foi implicado no local fisiopatológico dos transtornos. Essa associação baseia-se, em parte, na semelhança da apresentação clínica e da eletrofisiologia entre alguns pacientes com epilepsia do lobo temporal e pacientes com TOC. Transtorno do pânico Um ataque intenso agudo de ansiedade acompanhado por sentimentos de desgraça iminente é conhecido como transtorno de pânico. A ansiedade é caracterizada por períodos distintos de medo intenso que podem variar de vários ataques durante um dia a apenas poucos ataques durante um ano. Os pacientes com o transtorno apresentam- -se com uma série de condições comórbidas, mais comumente agorafobia, que se refere a medo ou ansiedade em relação a lugares dos quais a saída poderia ser difícil. Epidemiologia A prevalência de transtorno de ao longo da vida pânico está na variação de 1 a 4%, com a prevalência em 6 meses de aproximadamente 0,5 a 1,0%, e de 3 a 5,6% para ataques de pânico. As mulheres têm três vezes mais probabilidade de serem afetadas do que os homens, ainda que o subdiagnóstico de transtorno de pânico em homens possa contribuir para a distribuição distorcida. São poucas as diferenças entre hispânicos, brancos e negros. O único fator social identificado como contribuindo para o desenvolvimento desse transtorno é história recente de divórcio ou separação. O transtorno costuma surgir na idade adulta jovem – a idade média de apresentação é em torno dos 25 anos –, mas tanto transtorno de pânico como agorafobia podem se desenvolver em qualquer idade. O transtorno de pânico tem sido relatado em crianças e adolescentes, embora seja provavelmente subdiagnosticado nesses grupos. Dos pacientes com transtorno de pânico, 91% têm pelo menos outro transtorno psiquiátrico. Cerca de um terço das pessoas com transtornos de pânico já tinham transtorno depressivo maior antes de seu início; e em torno de dois terços experimentam transtorno de pânico pela primeira vez durante ou após o início de depressão maior. Etiologia e fisiopatologia A biologia do transtorno de pânico está sendo estudada de maneira intensiva. Dentre os distúrbios biológicos que possivelmente subjazem ao pânico estão níveis mais altos de catecolamina no sistema nervoso central, uma anormalidade no locus ceruleus (uma área do tronco cerebral que regula o estado de alerta), hipersensibilidade ao dióxido de carbono (CO2), perturbação no metabolismo do lactato e anormalidades no sistema neurotransmissor do ácido γ-aminobutírico (GABA). Alguns dados corroboram cada uma dessas possibilidades, embora nenhuma explique todos os sintomas do transtorno de pânico. Muitas das teorias rivalizantes se baseiam na capacidade de diferentes substâncias induzirem ataques de pânico, como isoproterenol (um antagonista β), ioimbina (um bloqueador dos receptores α2), CO2 e lactato de sódio. Por exemplo, a observação de que a exposição a CO2 a 5% induz ataques de pânico levou à teoria do “alarme falso de sufocação”. Essa teoria postula que indivíduos com transtorno de pânico são hipersensíveis ao CO2 porque têm um sistema de alarme contra sufocação no tronco cerebral que possui excessiva sensibilidade e por isso produz desconforto respiratório, hiperventilação e ansiedade. Os psicanalistas postulam que a repressão, um mecanismo de defesa comum, pode, de alguma forma, estar envolvida no desenvolvimento do pânico. Freud acreditava que a repressão é o mecanismo mental que mantém todos os pensamentos, impulsos ou desejos sexuais inaceitáveis fora do alcance consciente. Quando a energia psíquica ligada a esses elementos inaceitáveis se torna forte demais para ser controlada pela repressão, eles são trazidos à consciência de forma distorcida, o que causa ansiedade e pânico. Por sua vez, os comportamentalistas argumentam que os ataques de ansiedade são uma resposta condicionada a uma situação temida. Um acidente de carro pode ser equiparado com a experiência de palpitações cardíacas e ansiedade. Muito tempo após o acidente, somente as palpitações, sejam devidas a um exercício vigoroso, sejam causadas por uma perturbação emocional, tornam-se capazes de provocar a resposta condicionada de um ataque de pânico. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Com frequência, o primeiro ataque de pânico é completamente espontâneo, embora muitos possam estar relacionados com excitação, esforço físico, atividade sexual ou trauma emocional moderado. Os médicos devem tentar avaliar qualquer hábito ou situação que costume preceder os ataques de um paciente. Essas atividades podem incluir uso de cafeína, álcool, nicotina ou outras substâncias; padrões incomuns do sono e de alimentação; e situações ambientais específicas,como iluminação desagradável no trabalho. O ataque com frequência começa com um período de 10 minutos de sintomas rapidamente crescentes. Os principais sintomas mentais são medo extremo e uma sensação de morte e tragédia iminentes. Os pacientes em geral não podem designar a fonte de seu medo; podem se sentir confusos e ter problemas para se concentrar. Os sintomas físicos costumam incluir taquicardia, palpitações, dispneia e sudorese. Os pacientes tentam sair de qualquer situação em que estejam e procurar auxílio. O ataque dura, em média, de 20 a 30 minutos e raramente mais de uma hora. O exame formal do estado mental durante o ataque de pânico pode revelar ruminação, dificuldade de fala (p. ex., gagueira) e comprometimento da memória. É possível experimentar depressão ou despersonalização durante um ataque. Os sintomas podem desaparecer de forma rápida ou gradual. Entre os ataques, os pacientes podem manifestar ansiedade antecipatória de terem um novo ataque. A distinção entre ansiedade antecipatória e transtorno de ansiedade generalizada pode ser difícil, embora aqueles com transtorno de pânico com ansiedade antecipatória possam designar o foco de sua ansiedade. Preocupações somáticas de morte por problemas cardíacos ou respiratórios podem ser o principal foco da atenção do indivíduo durante os ataques. Eles podem acreditar que as palpitações e a dor no peito indicam que estão para morrer. Até 20% deles de fato têm episódios de síncope durante os ataques de pânico. É possível ver em prontos-socorros indivíduos jovens (na faixa dos 20 anos), fisicamente sadios e mesmo assim insistindo em que podem morrer de um ataque cardíaco. Em vez de logo diagnosticar hipocondria, o médico deve considerar o diagnóstico de transtorno de pânico. A hiperventilação pode produzir alcalose respiratória e outros sintomas. A antiga recomendação de respirar dentro de um saco de papel às vezes ajuda, porque reduz a alcalose. Sintomas associados Sintomas depressivos com frequência estão presentes no transtorno de pânico, e em alguns pacientes, um transtorno depressivo coexiste com o transtorno de pânico. Alguns estudos verificaram que o risco de suicídio durante a vida nesse grupo é mais alto do que em pessoas sem transtorno mental. Os médicos devem estar atentos para o risco de suicídio. Além da agorafobia, outras fobias e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) podem coexistir com o transtorno de pânico. As consequências psicossociais do transtorno de pânico, além da discórdia conjugal, podem incluir tempo perdido no trabalho, dificuldades financeiras relacionadas à perda do trabalho e abuso de álcool e outras substâncias. DIAGNÓSTICO Ataques de pânico Um ataque de pânico é um período súbito de intenso medo ou apreensão que pode durar de minutos a horas. Ele pode ocorrer também em outros transtornos mentais, particularmente na fobia específica, na fobia social e no TEPT. Ataques inesperados ocorrem a qualquer momento e não estão associados a um estímulo situacional identificável, mas não precisam se apresentar dessa forma. Em pacientes com fobia social e específica, eles costumam ser esperados ou indicados por um estímulo específico reconhecido. Alguns não se encaixam com facilidade na distinção entre inesperado e esperado, sendo referidos como ataques de pânico predispostos por situações. Eles podem ou não ocorrer quando um paciente é exposto a um gatilho específico, ou podem ocorrer tanto imediatamente após exposição quanto após uma considerável demora. Transtorno de pânico Os critérios diagnósticos para transtorno de pânico da quinta edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5). Alguns levantamentos da comunidade indicaram que ataques de pânico são comuns, e uma questão importante no desenvolvimento dos critérios diagnósticos para esse transtorno foi determinar um número ou uma frequência limiar de ataques de pânico requeridos para satisfazer o diagnóstico. Estabelecer um limiar muito baixo resulta no diagnóstico de transtorno de pânico em pacientes que não têm um comprometimento por um ataque de pânico ocasional; estabelecer um limiar muito alto resulta em uma situação na qual pacientes que estão comprometidos por seus ataques de pânico não satisfazem os critérios diagnósticos. Critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno de pânico A. Ataques de pânico recorrentes e inesperados. Um ataque de pânico é um surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes sintomas: Nota: O surto abrupto pode ocorrer a partir de um estado calmo ou de um estado ansioso. 1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia. 2. Sudorese. 3. Tremores ou abalos. 4. Sensações de falta de ar ou sufocamento. 5. Sensações de asfixia. 6. Dor ou desconforto torácico. 7. Náusea ou desconforto abdominal. 8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio. 9. Calafrios ou ondas de calor. 10. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento). 11. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo). 12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”. 13. Medo de morrer. Nota: Podem ser vistos sintomas específicos da cultura (p. ex., tinido, dor na nuca, cefaleia, gritos ou choro incontrolável). Esses sintomas não devem contar como um dos quatro sintomas exigidos. B. Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou de ambas as seguintes características: 1. Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico adicionais ou sobre suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “enlouquecer”). 2. Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionada aos ataques (p. ex., comportamentos que têm por finalidade evitar ter ataques de pânico, como a esquiva de exercícios ou situações desconhecidas). C. A perturbação não é consequência dos efeitos psicológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo, doenças cardiopulmonares). D. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., os ataques de pânico não ocorrem apenas em resposta a situações sociais temidas, como no transtorno de ansiedade social; em resposta a objetos ou situações fóbicas circunscritas, como na fobia específica; em resposta a obsessões, como no transtorno obsessivo-compulsivo; em resposta à evocação de eventos traumáticos, como no transtorno de estresse pós-traumático; ou em resposta à separação de figuras de apego, como no transtorno de ansiedade de separação). Tratamento O transtorno de pânico geralmente é tratado com uma combinação de medicação e psicoterapia individual. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) são os medicamentos de escolha e são eficazes em bloquear ataques de pânico em 70 a 80% dos pacientes. O inibidor da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN), venlafaxina, também é eficaz. No passado, eram usados antidepressivos tricíclicos (ADTs) e inibidores da monoaminoxidase (IMAOs), mas os ISRSs são mais seguros e mais bem tolerados. Os benzodiazepínicos também são eficazes em bloquear ataques de pânico quando prescritos em altas dosagens, mas têm potencial de criar dependência. Drogas bloqueadoras βadrenérgicas, como o propranolol, costumam ser prescritas a pacientes com transtornos de ansiedade, mas são muito menos eficientes do que os antidepressivos ou os benzodiazepínicos em bloquear ataques de pânico. Em geral, pacientes que respondem bem à farmacoterapia tendem a ter sintomas de ansiedade mais leves, idade de início mais tardia, menos ataques de pânico e personalidade relativamente normal. A presença de humor deprimido não é requisito para que os medicamentos antidepressivossejam eficazes em bloquear os ataques de pânico. A dosagem do antidepressivo depende do medicamento específico, mas costuma ser semelhante à dosagem usada para tratar a depressão (p.ex., fluoxetina, 20 mg/dia; sertralina, 50 mg/dia; paroxetina, 20 mg/dia). Após a remissão dos ataques de pânico, o paciente deve continuar tomando o medicamento por pelo menos seis meses a um ano para evitar uma recaída. Depois desse período, pode ser aconselhável reduzir de modo gradual e então descontinuar a medicação. O transtorno de pânico tende a recorrer, mas até dois terços dos pacientes não sofrerão recaídas imediatamente após a interrupção do medicamento. Quando o paciente tiver uma recaída e os ataques recomeçarem, a droga pode ser reintroduzida. Alguns terão de usar medicação de forma continuada. Os pacientes devem evitar cafeína, pois ela tende a induzir ansiedade. Eles muitas vezes não se dão conta da quantidade de cafeína que ingerem com o café (50 a 150 mg), o chá (20 a 50 mg), as bebidas de cola (30 a 60 mg) e o leite achocolatado (1 a 15 mg). A terapia cognitivo-comportamental (TCC), uma forma de psicoterapia individual, também é eficaz no tratamento do transtorno de pânico e é frequentemente combinada a medicamentos. A TCC em geral envolve exercícios de distração e respiração, juntamente com educação para ajudar o paciente a fazer atribuições mais apropriadas aos sintomas somáticos perturbadores. Por exemplo, os pacientes aprendem que a dor no peito induzida pelo pânico não vai causar um ataque cardíaco. Um terapeuta eficiente vai auxiliar a levantar o moral e a auto-estima via de regra baixos dos pacientes com transtornos de pânico. Os terapeutas também podem ajudá-los a resolver problemas cotidianos e recomendar livros e outros materiais de leitura sobre transtorno de pânico e agorafobia. A agorafobia representa um desafio adicional e é mais bem tratada com terapia de exposição. Esta é a intervenção mais eficaz e, em sua forma mais básica, pode consistir no encorajamento para que os pacientes enfrentem gradualmente as situações que temem, como fazer compras em supermercados. Alguns podem precisar da supervisão direta de um terapeuta para se exporem a diferentes situações. Agorafobia Agorafobia refere-se a um medo ou uma ansiedade em relação a lugares dos quais a fuga possa ser difícil. É possível que seja a mais incapacitante das fobias, porque pode interferir de maneira significativa na capacidade de uma pessoa funcionar no trabalho e em situações sociais fora de casa. Nos Estados Unidos, a maioria dos pesquisadores do transtorno de pânico acredita que a agorafobia quase sempre se desenvolve como uma complicação em pacientes com esse transtorno. Ou seja, acredita-se que o medo de ter um ataque de pânico em um lugar público do qual a fuga seria angustiante e difícil é que cause a agorafobia. Embora frequentemente coexista com o transtorno de pânico, o DSM-5 classifica a agorafobia como uma condição separada que pode ou não ser comórbida com esse transtorno. EPIDEMIOLOGIA A prevalência de agorafobia ao longo da vida é um pouco controversa, variando entre 2 e 6% entre os estudos. De acordo com o DSM-5, pessoas com mais de 65 anos têm uma taxa de prevalência de agorafobia de 0,4%, mas isso pode ser uma estimativa baixa. O principal fator que leva a essa ampla variação de estimativas diz respeito à discordância sobre a conceituação da relação da agorafobia com o transtorno de pânico. Embora os estudos de agorafobia no contexto psiquiátrico tenham relatado que pelo menos três quartos dos pacientes afetados também têm transtorno de pânico, estudos de agorafobia em amostras da comunidade revelaram que até metade dos pacientes tem agorafobia sem transtorno de pânico. As razões para esses achados divergentes são desconhecidas, mas provavelmente envolvem diferenças nas técnicas de averiguação. Em muitos casos, o início da agorafobia segue-se a um acontecimento traumático. DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Os critérios diagnósticos do DSM-5 para agorafobia estipulam um medo ou uma ansiedade acentuados em relação a pelo menos uma situação de dois ou mais de cinco grupos de situações: (1) utilizar transporte público (p. ex., ônibus, trem, carros, aviões), (2) estar em um espaço aberto (p. ex., parque, shopping center, estacionamento), (3) estar em um espaço fechado (p. ex., lojas, elevadores, cinemas), (4) estar no meio de uma multidão ou ficar em pé em uma fila, ou (5) ficar sozinho fora de casa. O medo ou a ansiedade devem ser persistentes e durar pelo menos seis meses. Indivíduos com agorafobia evitam de forma rígida situações nas quais seria difícil obter ajuda. Eles preferem estar acompanhados por um amigo ou familiar em ruas movimentadas, lojas superlotadas, espaços fechados (p. ex., túneis, elevadores) e veículos fechados (p. ex., metrô, ônibus, aviões). Podem insistir em ser acompanhados toda vez que saem de casa. O comportamento pode resultar em conflito conjugal, que pode ser mal diagnosticado como o problema principal. Pessoas gravemente afetadas podem se recusar a sair de casa. Em especial antes de um diagnóstico correto ser feito, elas podem ficar aterrorizadas por achar que estão ficando loucas. Transtornos fóbicos A fobia é um medo irracional de objetos, lugares ou situações específicos ou de atividades. Embora o medo em si seja, até certo grau, adaptativo, nas fobias ele é irracional, excessivo e desproporcional a qualquer perigo real. Três categorias de fobia são listadas no DSM-IV-TR: a agorafobia, que já foi descrita; a fobia social, na qual existe o medo de humilhação ou constrangimento em locais públicos; e a fobia específica, uma categoria que inclui fobias isoladas, como o medo irracional e intenso de cobras. Pessoas com fobia social temem situações em que possam ser observadas por outras, o que explica por que o transtorno também é referido como transtorno de ansiedade social. Essas pessoas com frequência também temem falar em público, comer em restaurantes, escrever em frente a outras pessoas ou usar banheiros públicos. Às vezes o medo se torna generalizado, de tal modo que a pessoa evita quase todas as situações sociais. As fobias específicas em geral são bem circunscritas e envolvem objetos ou situações que concebivelmente poderiam causar danos, como cobras, alturas, voar ou sangue, mas a reação da pessoa a eles é excessiva e inapropriada. Os critérios do DSM-IV-TR para fobia social e fobias específicas são apresentados abaixo: Critérios diagnósticos do DSM-IV-TR para fobia social A. Medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho, nas quais o indivíduo é exposto a pessoas estranhas ou ao possível escrutínio por terceiros. O indivíduo teme agir de um modo (ou mostrar sintomas de ansiedade) que lhe seja humilhante e vergonhoso. Nota: Em crianças, deve haver evidências de capacidade para relacionamentos sociais adequados à idade com pessoas que lhes são familiares e a ansiedade deve ocorrer em contextos que envolvem seus pares, não apenas em interações com adultos. B. A exposição à situação social temida quase que invariavelmente provoca ansiedade, que pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado a situação ou predisposto por situação. Nota: Em crianças, a ansiedade pode ser expressa por choro, ataques de raiva, imobilidade ou afastamento de situações sociais com pessoas estranhas. C. A pessoa reconhece que o medo é excessivo ou irracional. Nota: Em crianças, esta característica pode estar ausente. D. As situações sociais e de desempenho temidas são evitadas ou suportadas com intensa ansiedade ou sofrimento. E. A esquiva, a antecipação ansiosa ou o sofrimento na situação social ou de desempenho temida interferem significativamente na rotina, no funcionamento ocupacional (acadêmico), em atividades sociais ou relacionamentos do indivíduo,ou existe sofrimento acentuado por ter a fobia. F. Em indivíduos com menos de 18 anos, a duração é de no mínimo 6 meses. G. O temor ou esquiva não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral nem é mais bem explicado por outro transtorno mental (p. ex., Transtorno de Pânico Com ou Sem Agorafobia, Transtorno de Ansiedade de Separação, Transtorno Dismórfico Corporal, Transtorno Global do Desenvolvimento ou Transtorno da Personalidade Esquizóide). H. Em presença de uma condição médica geral ou outro transtorno mental, o medo no Critério A não tem relação com estes; por exemplo, o medo não diz respeito a Tartamudez, tremor na doença de Parkinson ou manifestação de um comportamento alimentar anormal na Anorexia Nervosa ou Bulimia Nervosa. Critérios diagnósticos do DSM-IV-TR para fobia específica A. Medo acentuado e persistente, excessivo ou irracional, revelado pela presença ou antecipação de um objeto ou situação fóbica (p. ex., voar, alturas, animais, tomar uma injeção, ver sangue). B. A exposição ao estímulo fóbico provoca, quase que invariavelmente, uma resposta imediata de ansiedade, que pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado à situação ou predisposto pela situação. Nota: Em crianças, a ansiedade pode ser expressada por choro, ataques de raiva, imobilidade ou comportamento aderente. C. O indivíduo reconhece que o medo é excessivo ou irracional. Nota: Em crianças, esta característica pode estar ausente. D. A situação fóbica (ou situações) é evitada ou suportada com intensa ansiedade ou sofrimento. E. A esquiva, antecipação ansiosa ou sofrimento na situação temida (ou situações) interfere significativamente na rotina normal do indivíduo, em seu funcionamento ocupacional (ou acadêmico) ou em atividades ou relacionamentos sociais, ou existe acentuado sofrimento acerca de ter a fobia. F. Em indivíduos com menos de 18 anos, a duração mínima é de 6 meses. G. A ansiedade, os Ataques de Pânico ou a esquiva fóbica associados com o objeto ou situação específica não são mais bem explicados por outro transtorno mental, como Transtorno Obsessivo-Compulsivo (p. ex., medo de sujeira em alguém com uma obsessão de contaminação), Transtorno de Estresse Pós-Traumático (p. ex., esquiva de estímulos associados a um estressor grave), Transtorno de Ansiedade de Separação (p. ex., esquiva da escola), Fobia Social (p. ex., esquiva de situações sociais em vista do medo do embaraço), Transtorno de Pânico Com Agorafobia ou Agorafobia Sem Histórico de Transtorno de Pânico. Epidemiologia, achados clínicos e curso As fobias são surpreendentemente comuns. Na National Comorbidity Survey (Enquete Nacional de Co-morbidade), foi relatado que a fobia social afeta até 12% da população. As fobias específicas têm uma prevalência semelhante; são mais comuns entre mulheres, embora a fobia social afete homens e mulheres em proporção semelhante. As fobias específicas começam na infância, a maioria delas antes dos 12 anos, enquanto a fobia social começa na adolescência, quase sempre antes dos 25 anos. Nas fobias específicas, os objetos ou situações mais comumente temidos são animais, tempestades, alturas, doenças, ferimentos e morte. Apesar da frequências das fobias na população em geral, poucas pessoas fóbicas buscam tratamento, pois não sofrem os sintomas a não ser quando entram em contato com o objeto ou a situação temida. A maioria dos indivíduos tende a perceber suas fobias como incômodas, mas não patológicas. O medo de cobras, por exemplo, dificilmente vai impedir uma pessoa de ter sucesso profissional ou social, a menos que ela trabalhe em um zoológico. Isso pode ajudar a explicar por que portadores de fobias constituem apenas 2 a 3% dos pacientes psiquiátricos ambulatoriais. Pessoas com fobias sociais ou específicas experienciam ansiedade quando expostas a situações ou objetos temidos e manifestam excitação autonômica e comportamento de esquiva. A princípio, a exposição leva a um estado subjetivo desagradável de ansiedade. Esse estado leva a manifestações fisiológicas que costumam estar associadas a ansiedade, como batimentos cardíacos acelerados, falta de ar e nervosismo. Pessoas com fobia social aprendem a evitar situações que levem à ansiedade e ao medo avassalador de que os outros venham a reconhecer sua ansiedade. Elas podem evitar falar ou comer em público, usar o transporte ou banheiros públicos. Em casos graves, a pessoa com ansiedade social evita quase todos os encontros sociais e torna-se muito isolada. Para o portador de uma fobia específica, o sofrimento varia com a exposição ao medo ou à situação temida. Por exemplo, um funcionário de hospital que tenha medo de sangue pode experienciar sofrimento constante enquanto estiver próximo a ele. As fobias sociais tendem a desenvolver-se lentamente, são crônicas e não têm estressores precipitantes óbvios. A percepção ou não do transtorno como incapacitante depende da natureza e da extensão do medo, bem como da ocupação e da posição social da pessoa afetada. Um executivo cujo emprego exija exposição ao público, por exemplo, enfrentaria uma incapacitação muito maior com uma fobia social do que um designer de softwares ou programador de computadores. Cerca de uma em cada oito pessoas com fobia social desenvolve mau uso de substâncias, e cerca da metade satisfaz os critérios para um transtorno psiquiátrico co-mórbido, como depressão maior ou outro transtorno de ansiedade. Ao contrário da fobia social, as fobias específicas tendem a melhorar com o avanço da idade, como é ilustrado pelo caso de John. Quando persistem até a idade adulta, essas fobias muitas vezes se tornam crônicas, mas raramente causam incapacitação. Etiologia e fisiopatologia Os transtornos fóbicos tendem a agregar-se em famílias. Estudos recentes sobre fobias sociais e específicas mostraram que os parentes de pessoas fóbicas têm probabilidade significativamente maior de ter fobias do que aqueles de sujeitos-controle não-fóbicos, e que os transtornos “são segregados” – ou seja, o probando com fobia social tem probabilidade de ter parentes com fobia social, e não com uma fobia específica. Os alicerces biológicos das fobias não são bem compreendidos. Pesquisas indicam que as vias dopaminérgicas podem desempenhar um papel na fobia social. Esses pacientes demonstram uma resposta preferencial aos IMAOs, que têm atividade dopaminérgica, e níveis mais baixos de metabólitos da dopamina no líquido cerebrospinal foram ligados à introversão. Além disso, estudos de neuroimagem funcional relataram diminuição na ligação de transportadores de dopamina e de receptores D2 de dopamina estriatais em pacientes de fobia social. A aprendizagem também pode desempenhar um papel importante na etiologia das fobias. Os comportamentalistas apontaram que muitas delas tendem a surgir em associação com eventos traumáticos, como desenvolver medo de altura após sofrer uma queda. Os psicanalistas sempre mantiveram que as fobias resultam de conflitos não-resolvidos na infância e as atribuem ao uso de mecanismos de defesa como deslocamento e evitação. Tratamento Fluoxetina (10 a 30 mg/dia), paroxetina (20 a 50 mg/dia), sertralina (50 a 200 mg/dia) e uma forma de liberação lenta da venlafaxina (75 a 225 mg/dia) são aprovadas pela FDA para o tratamento da fobia social. É provável que outros ISRSs também sejam eficazes, assim como os IMAOs e os benzodiazepínicos, e que os ADTs tenham menos eficácia, sendo os pacientes socialmente fóbicos sensíveis demais aos seus efeitos ativadores (p.ex., inquietação). Outras drogas foram investigadas, incluindo o valproato e a gabapentina, e podem ser eficazes, mas a buspirona é ineficaz. As drogas β-bloqueadoras são eficazes no tratamento de curto prazo da ansiedade de desempenho, mas são ineficazes com formasgeneralizadas de fobia social. Os pacientes tendem a ter recaídas quando as drogas são descontinuadas. A medicação em geral é ineficaz no tratamento de fobias específicas. A terapia comportamental pode ser efetiva no tratamento da fobia social e das fobias específicas e envolve exposição por meio das técnicas de dessensibilização sistemática e flooding (inundação). Na primeira, os pacientes são expostos de forma gradual a suas situações temidas, começando com aquelas que eles temem menos. No flooding, eles são instruídos a expor-se integralmente às situações que costumam estar associadas à ansiedade (p. ex., comer em restaurantes), até que esta ceda. Os pacientes tendem a não melhorar a menos que estejam dispostos a confrontar as situações temidas. A TCC pode ser usada para corrigir pensamentos disfuncionais sobre medo do fracasso, humilhação ou constrangimento. Por exemplo, pode ajudar a indicar para a pessoa com fobia social que as outras não a estão julgando mais do que ela mesma as julga. A psicoterapia de apoio pode auxiliar na restauração do moral e da autoconfiança. Transtorno de ansiedade generalizada A ansiedade pode ser conceituada como uma resposta normal e adaptativa a ameaça que prepara o organismo para fuga ou luta. Pessoas que parecem ansiosas com tudo, entretanto, têm a probabilidade de serem classificadas com transtorno de ansiedade generalizada. Este é definido como ansiedade e preocupação excessivas com vários eventos ou atividades na maior parte dos dias durante um período de pelo menos seis meses. A preocupação é difícil de controlar e está associada com sintomas somáticos, como tensão muscular, irritabilidade, dificuldade para dormir e inquietação. A ansiedade não está relacionada a aspectos de outro transtorno, não é causada por uso de substância ou por uma condição clínica geral e não ocorre apenas durante um transtorno do humor ou psiquiátrico. Ela é difícil de controlar, é subjetivamente perturbadora e compromete áreas importantes da vida da pessoa. EPIDEMIOLOGIA O transtorno de ansiedade generalizada é uma condição comum; estimativas razoáveis para sua prevalência de um ano variam de 3 a 8%. A proporção de mulheres para homens com o transtorno é de aproximadamente 2 para 1, mas a proporção de mulheres para homens que está recebendo tratamento hospitalar para o transtorno é de 1 para 1. A prevalência ao longo da vida é próxima de 5%, com o estudo Epidemiological Catchment Area (ECA; Área de Captação Epidemiológica) sugerindo uma prevalência de até 8%. Em clínicas de transtorno de ansiedade, cerca de 25% dos pacientes têm transtorno de ansiedade generalizada. O transtorno, em geral, começa no fim da adolescência ou início da vida adulta, embora seja comum ver casos em adultos mais velhos. Além disso, alguma evidência indica que a prevalência do transtorno de ansiedade generalizada é particularmente alta em contextos de cuidados primários. Etiologia e fisiopatologia A causa do TAG é desconhecida, ainda que pesquisas mostrem que ele se agrega nas famílias. Em um estudo de grande porte de gêmeos, constatou-se que fatores genéticos desempenham um papel na etiologia do TAG, mas fatores nãogenéticos, como eventos de vida, foram considerados ainda mais importantes. Diversos sistemas de neurotransmissores estavam implicados no transtorno, incluindo os sistemas GABAérgico, serotonérgico e da noradrenalina no lobo frontal e sistema límbico. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS As características essenciais do transtorno de ansiedade generalizada são ansiedade e preocupação contínuas e excessivas acompanhadas por tensão ou inquietação motora. A ansiedade é excessiva e interfere em outros aspectos da vida da pessoa. Esse padrão deve ocorrer na maioria dos dias por pelo menos seis meses. A tensão motora manifesta-se mais comumente como tremor, inquietação e cefaleias. Indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada costumam procurar um clínico geral ou internista em busca de ajuda para um sintoma somático. De forma alternativa, procuram um especialista para um sintoma específico (p. ex., diarreia crônica). Um distúrbio médico, não psiquiátrico, específico raras vezes é encontrado, e os pacientes variam em seu comportamento de busca por um médico. Alguns aceitam um diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizada e o tratamento apropriado; outros buscam consultas médicas adicionais para seus problemas. DIAGNÓSTICO O transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por um padrão de preocupação e ansiedade frequentes, persistentes, desproporcional ao impacto do acontecimento ou da circunstância que é o foco da preocupação. A distinção entre transtorno de ansiedade generalizada e ansiedade normal é enfatizada pela utilização da palavra “excessiva” nos critérios e pela especificação de que os sintomas causam prejuízo ou sofrimento significativos. Os critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno de ansiedade generalizada são listados na Tabela 9.6-2. Critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno de ansiedade generalizada A. Ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, com diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional). B. O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. C. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes seis sintomas (com pelo menos alguns deles presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses). Nota: Apenas um item é exigido para crianças. 1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele. 2. Fatigabilidade. 3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente. 4. Irritabilidade. 5. Tensão muscular. 6. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto). D. A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica (p. ex., hipertireoidismo). F. A perturbação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., ansiedade ou preocupação quanto a ter ataques de pânico no transtorno de pânico, avaliação negativa no transtorno de ansiedade social [fobia social], contaminação ou outras obsessões no transtorno obsessivo-compulsivo, separação das figuras de apego no transtorno de ansiedade de separação, lembranças de eventos traumáticos no transtorno de estresse pós- traumático, ganho de peso na anorexia nervosa, queixas físicas no transtorno de sintomas somáticos, percepção de problemas na aparência no transtorno dismórfico corporal, ter uma doença séria no transtorno de ansiedade de doença ou o conteúdo de crenças delirantes na esquizofrenia ou transtorno delirante). Tratamento O tratamento do TAG em geral envolve psicoterapia individual e medicação. Deve-se educar o paciente sobre a natureza crônica do transtorno e a tendência dos sintomas de ir e vir. Muitas vezes os sintomas podem retornar devido aos estressores externos que o paciente venha a enfrentar. A terapia comportamental pode ajudá-lo a reconhecer e controlar os sintomas de ansiedade. Treinamento de relaxamento, exercícios de reinalação e relaxamento progressivo dos músculos podem ser facilmente ensinados e ser eficazes, em especial se a condição for leve. Diversas drogas foram aprovadas pela FDA para tratar o TAG, incluindo os ISRSs paroxetina (20 a 50 mg/dia) e escitalopram (10 a 20 mg/dia); a venlafaxina, um IRSN (75 a 225 mg/dia); e a buspirona, um ansiolítico não-benzodiazepínico (10 a 40 mg/dia). Essas drogas costumam ser bem toleradas, mas levam várias semanas para fazer efeito completo.Os benzodiazepínicos também são eficazes, mas têm as complicações potenciais de tolerância e dependência e por isso devem ser reservados para períodos curtos (p. ex., semanas ou meses) em que a ansiedade estiver particularmente grave. Os ADTs sedativos, como a doxepina ou a amitriptilina, também podem ser úteis em dosagens baixas (p. ex., 25 a 100 mg na hora de dormir), mas não são usados com frequência devido aos seus muitos efeitos colaterais. Transtorno obsessivo-compulsivo As obsessões ou compulsões (ou, mais frequentemente, ambas) são a marca registrada do TOC. Segundo o DSM-IV-TR, obsessões são ideias, pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são experienciados como intrusivos ou inapropriados e que causam ansiedade e sofrimento acentuados. Obsessões comuns incluem o medo de germes e contaminação. O conteúdo de obsessões típicas é mostrado na Tabela 7.13. As compulsões são comportamentos repetitivos e intencionais (ou atos mentais) realizados em resposta a obsessões ou segundo certas regras que devem ser aplicadas com rigidez. Os exemplos incluem lavar as mãos várias vezes ou fazer verificações ritualísticas. As compulsões têm por objetivo neutralizar ou reduzir o desconforto ou prevenir um evento ou uma situação temida. Os rituais não são ligados de forma realista ao evento ou à situação ou são claramente excessivos. Por exemplo, uma pessoa pode acreditar que não reler as instruções de uma caixa de sabão em pó pode causar danos aos seus filhos. Em suma, as obsessões criam ansiedade, que é aliviada por rituais compulsivos. A frequência de obsessões e compulsões comuns em uma série de 560 pacientes é apresentada na Tabela 7.14. Para receber um diagnóstico de TOC, uma pessoa deve ter obsessões ou compulsões que causem sofrimento acentuado, consumam tempo (mais de uma hora por dia) ou interfiram de forma significativa em sua rotina normal, funcionamento ocupacional ou atividades e relações sociais habituais. Além disso, em algum momento a pessoa deve reconhecer que as obsessões e compulsões não são razoáveis, e o clínico deverá determinar que os sintomas não se devem a outro transtorno do Eixo I, como depressão maior, e que não são causados pelos efeitos de uma substância ou condição médica geral. Muitos indivíduos psiquiatricamente saudáveis – de modo particular crianças – têm pensamentos obsessivos ou comportamentos repetitivos ocasionais, mas estes tendem a não causar sofrimento nem interferir na vida cotidiana. De fato, em muitos aspectos os rituais acrescentam a estrutura necessária a nossas vidas (p. ex., rotinas diárias que provavelmente mudaram pouco em muitos anos). Esses rituais diários são vistos como aceitáveis e desejáveis, e são adaptados com facilidade a mudanças em nossas circunstâncias de vida. Para a pessoa obsessivo-compulsiva, no entanto, os rituais são um modo de vida perturbador e inevitável. Critérios diagnósticos do DSM-IV-TR para transtorno obsessivo-compulsivo. A. Obsessões ou compulsões: Obsessões, definidas por (1), (2), (3) e (4): (1) pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento (2) os pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas com problemas da vida real (3) a pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens, ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação (4) a pessoa reconhece que os pensamentos, impulsos ou imagens obsessivas são produto de sua própria mente (não impostos a partir de fora, como na inserção de pensamentos) Compulsões, definidas por (1) e (2) (1) comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que a pessoa se sente compelida a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas (2) os comportamentos ou atos mentais visam prevenir ou reduzir o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos. B. Em algum ponto durante o curso do transtorno, o indivíduo reconheceu que as obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais. Nota: Isso não se aplica a crianças. C. As obsessões ou compulsões causam acentuado sofrimento, consomem tempo (tomam mais de 1 hora por dia) ou interferem significativamente na rotina, no funcionamento ocupacional (ou acadêmico), em atividades ou relacionamentos sociais habituais do indivíduo. D. Se um outro transtorno do Eixo I está presente, o conteúdo das obsessões ou compulsões não está restrito a ele (p. ex., preocupação com alimentos na presença de um Transtorno da Alimentação; arrancar os cabelos na presença de Tricotilomania; preocupação com a aparência na presença de Transtorno Dismórfico Corporal; preocupação com drogas na presença de um Transtorno por Uso de Substância; preocupação com ter uma doença grave na presença de Hipocondria; preocupação com anseios ou fantasias sexuais na presença de uma Parafilia; ruminações de culpa na presença de um Transtorno Depressivo Maior). E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral. Epidemiologia, achados clínicos e curso O TOC tipicamente inicia no final da adolescência ou no início da segunda década de vida; a maioria dos pacientes terá desenvolvido o transtorno aos 30 anos. O início em geral é gradual, mas pode ocorrer de repente ao longo do período de um mês na ausência de qualquer estressor óbvio. Pesquisas mostram que 2 a 3% da população em geral satisfaz os critérios para TOC em algum momento de suas vidas. Homens e mulheres têm a mesma probabilidade de desenvolver o transtorno, embora nos homens o início seja mais precoce. Em um estudo com 250 pacientes, foi constatado que 85% tinham curso crônico, 10% tinham curso progressivo ou deteriorante e 2% um curso episódico com períodos de remissão. Como esses e outros dados foram coletados antes que tratamentos eficazes estivessem disponíveis, estudos futuros podem produzir resultados mais favoráveis. Um estudo recente sobre crianças e adolescentes com TOC parece corroborar essa tendência. Em um acompanhamento após cinco anos, a maioria ainda tinha sintomas obsessivo-compulsivos, mas estes eram menos graves, e 6% dos jovens tinham alcançado remissão completa. Sintomas leves ou típicos e boa adaptação pré-mórbida foram associados a um bom resultado; início precoce e presença de um transtorno da personalidade grave foram associados a um resultado ruim. Sintomas obsessivo-compulsivos geralmente são piorados por humor deprimido e eventos estressantes. Episódios recorrentes de depressão maior ocorrem em até 70 a 80% dos portadores de TOC. Etiologia e fisiopatologia A causa do TOC é desconhecida, mas estudos de família e de gêmeos mostram que ele tem um forte componente hereditário e provavelmente tenha ligações genéticas com o transtorno de Tourette. O modelo neurobiológico do TOC recebeu amplo suporte. As evidências para esse modelo incluem o fato de que ele ocorre com mais freqüência em pessoas que têm vários transtornos neurológicos, incluindo casos de trauma encefálico, epilepsia, coréia de Sydenham e coréia de Huntington. O TOC também foi ligado a lesões no parto, achados eletrencefalográficos anormais, potenciais evocados auditivos anormais, retardos no crescimento e anormalidades em resultados de testes neuropsicológicos. Recentemente, um tipo de TOC foi identificado em crianças após uma infecção β- estreptocóccica do Grupo A. Essas crianças não apenas desenvolveram obsessões e compulsões como também apresentaramlabilidade emocional, ansiedade de separação e tiques. O modelo bioquímico estudado de forma mais ampla concentrou-se no neurotransmissor serotonina, porque as drogas antidepressivas que bloqueiam sua recaptação são eficazes em tratar os sintomas do TOC, enquanto outras drogas antidepressivas são ineficazes. Outras evidências que corroboram a “hipótese serotonérgica” são indiretas e às vezes contraditórias, mas consistentes com a visão de que os níveis do neurotransmissor ou as variações no número ou função dos receptores da serotonina estão perturbados nos pacientes com TOC. Técnicas de neuroimagem forneceram algumas evidências de envolvimento dos gânglios da base em portadores de TOC. Diversos grupos de investigadores que usaram tomografias computadorizadas por emissão de pósitron (PET) ou de fóton único (SPECT) mostraram aumento do metabolismo da glicose no núcleo caudado e no córtex orbital dos lobos frontais, anormalidades que se normalizaram parcialmente após tratamentos bemsucedidos. Uma hipótese é que uma disfunção dos gânglios da base leve aos programas motores complexos envolvidos no TOC, enquanto a hiperatividade pré-frontal pode estar relacionada à tendência a preocupar-se e planejar em excesso. Os comportamentalistas explicaram o desenvolvimento do TOC em termos da teoria da aprendizagem. Eles acreditam que a ansiedade, pelo menos inicialmente, torna-se pareada com eventos ambientais específicos (i.e., condicionamento clássico), por exemplo, tornar-se sujo ou contaminado. A pessoa então se engaja em rituais compulsivos, como lavar as mãos, para diminuir a ansiedade. Quando os rituais reduzem a ansiedade com sucesso, acredita-se que o comportamento compulsivo tenha maior probabilidade de ser repetido no futuro (i.e., condicionamento operante). Tratamento O tratamento do TOC em geral envolve o uso combinado de terapia comportamental e medicação. A terapia inclui exposição pareada com prevenção de resposta. Por exemplo, o paciente pode ser exposto a uma situação, um evento ou um estímulo temido por várias técnicas (p. ex., exposição pictórica, dessensibilização sistemática, flooding) e então impedido de realizar o comportamento compulsivo. Pode ser solicitado a uma pessoa que lava as mãos compulsivamente que manipule objetos “contaminados” (p. ex., um lenço de papel sujo) e, então, impedi-la de lavá-las. Assim como acontece em outros transtornos de ansiedade, os ISRSs são de particular eficácia e muitos são aprovados pela FDA para tratar o TOC, incluindo sertralina, paroxetina, fluvoxamina e citalopram. A clomipramina, um ADT que é um bloqueador relativamente específico da recaptação da serotonina, também é aprovada para tratar o TOC, embora seus efeitos colaterais limitem sua utilidade. A venlafaxina também pode ser eficaz, como sugere um ensaio clínico randomizado. Existem algumas evidências de que a adição de um antipsicótico pode reforçar o nível de resposta de pacientes cuja doença seja refratária aos ISRSs. Via de regra, são necessárias dosagens mais altas dos ISRSs para tratar o TOC do que para tratar a depressão, e a resposta muitas vezes é retardada. Por isso, os pacientes devem ter ensaios um pouco mais longos (p. ex., 12 a 16 semanas). Ainda que a psicocirurgia não esteja amplamente disponível, pesquisas mostram que cerca da metade dos pacientes com doença refratária ao tratamento se beneficia da cingulotomia estereotáctica, o procedimento cirúrgico de uso mais comum. Os pacientes só devem ser encaminhados a psicocirurgia caso não tenham demonstrado qualquer resposta às terapias de efeito comprovado. Além da terapia comportamental, a psicoterapia individual é bastante benéfica para ajudar a restaurar o moral baixo e a auto-estima do paciente, auxiliá-lo a resolver problemas do dia-a-dia e encorajar a adesão ao tratamento. A terapia de família também desempenha um papel no manejo do TOC. Os familiares muitas vezes são ignorantes sobre o transtorno e deixam-se enredar nos rituais do paciente, em um esforço equivocado de serem úteis. A mãe, por exemplo, pode ser solicitada a auxiliar nos rituais de limpeza e verificação da filha (“O fogão está desligado? Você pode checar para mim, por favor?”). Na terapia de família, os parentes podem aprender a aceitar a doença, lidar com suas manifestações e não estimular comportamentos obsessivo- compulsivos. Transtorno de estresse pós-traumático O TEPT ocorre em pessoas que experienciaram um trauma no qual vivenciaram, testemunharam ou foram confrontadas com um evento que envolveu mortes reais ou ameaças de morte, ferimentos físicos graves ou uma ameaça à integridade física. Exemplos incluem combates, agressões físicas, estupros e desastres como incêndios residenciais. Os três principais elementos do TEPT incluem: 1) reviver o trauma por meio de sonhos ou pensamentos recorrentes e intrusivos, 2) demonstrar embotamento emocional, como se sentir distanciado dos outros e 3) ter sintomas de hiperexcitação autonômica, como irritabilidade e resposta de sobressalto exagerada. Dois subtipos são especificados: agudo, se a duração dos sintomas for de menos de três meses, e crônico, se os sintomas durarem três meses ou mais. Se o início for retardado em mais de seis meses após o estressor, esse retardo é especificado. Critérios diagnósticos do DSM-IV-TR para transtorno de estresse pós-traumático A. Exposição a um evento traumático no qual os seguintes quesitos estiveram presentes: (1) a pessoa vivenciou, testemunhou ou foi confrontada com um ou mais eventos que envolveram morte ou grave ferimento, reais ou ameaçados, ou uma ameaça à integridade física, própria ou de outros (2) a resposta da pessoa envolveu intenso medo, impotência ou horror. Nota: Em crianças, isto pode ser expressado por um comportamento desorganizado ou agitado. B. O evento traumático é persistentemente revivido em uma (ou mais) das seguintes maneiras: (1) recordações aflitivas, recorrentes e intrusivas do evento, incluindo imagens, pensamentos ou percepções. Nota: Em crianças pequenas, podem ocorrer jogos repetitivos, com expressão de temas ou aspectos do trauma. (2) sonhos aflitivos e recorrentes com o evento. Nota: Em crianças, podem ocorrer sonhos amedrontadores sem um conteúdo identificável. (3) agir ou sentir como se o evento traumático estivesse ocorrendo novamente (inclui um sentimento de revivência da experiência, ilusões, alucinações e episódios de flashbacks dissociativos, inclusive aqueles que ocorrem ao despertar ou quando intoxicado). Nota: Em crianças pequenas, pode ocorrer reencenação específica do trauma. (4) sofrimento psicológico intenso quando da exposição a indícios internos ou externos que simbolizam ou lembram algum aspecto do evento traumático (5) reatividade fisiológica na exposição a indícios internos ou externos que simbolizam ou lembram algum aspecto do evento traumático C. Esquiva persistente de estímulos associados com o trauma e entorpecimento da reatividade geral (não presente antes do trauma), indicados por três (ou mais) dos seguintes quesitos: (1) esforços no sentido de evitar pensamentos, sentimentos ou conversas associadas com o trauma (2) esforços no sentido de evitar atividades, locais ou pessoas que ativem recordações do trauma (3) incapacidade de recordar algum aspecto importante do trauma (4) redução acentuada do interesse ou da participação em atividades significativas (5) sensação de distanciamento ou afastamento em relação a outras pessoas (6) faixa de afeto restrita (p. ex., incapacidade de ter sentimentos de carinho) (7) sentimento de um futuro abreviado (p. ex., não espera ter uma carreira profissional, casamento, filhos ou um período normal de vida) D. Sintomas persistentes de excitabilidade aumentada (não presentes antes do trauma), indicados por dois (ou mais) dos seguintes quesitos: (1) dificuldade
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