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Cuidado integral aos pacientes nas doenças infecto-parasitarias AULA 6 – HANSENIASE Em 2016, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 143 países reportaram 214.783 casos novos de hanseníase, o que representa uma taxa de detecção de 2,9 casos por 100 mil habitantes. O Brasil ocupa, atualmente, o 2º lugar no ranking de países com mais casos de hanseníase, atrás somente da Índia, segundo dados da OMS. No período de 2009 a 2018, foram diagnosticados no Brasil 21.808 casos novos de hanseníase em menores de 15 anos (tabela 10). Devido ao longo período de incubação da doença, a ocorrência de casos nessa faixa etária indica focos de transmissão ativa, importante sinalizador para o monitoramento da endemia (BRASIL, 2019). Em relação à taxa de detecção de casos novos nos menores de 15 anos, o país apresentou uma redução de 31%, passando de 5,43 em 2009 para 3,75 em 2018, com mudança do parâmetro de “muito alto” para “alto”. Também se observa redução em todas as cinco regiões do país; entretanto, é notável uma flutuação desse indicador nas regiões norte, nordeste e centro-oeste. É uma doença crônica, infectocontagiosa, cujo agente etiológico é o Mycobacterium leprae, que infecta os nervos periféricos e, mais especificamente, as células de Schwann (produz a mielina que envolve os axônios dos neurônios). • Tem uma alta infectividade e tem uma baixa patogenicidade A doença acomete principalmente os nervos superficiais da pele e troncos nervosos periféricos (localizados na face, pescoço, terço médio do braço e abaixo do cotovelo e dos joelhos), mas também pode afetar os olhos e órgãos internos (mucosas, testículos, ossos, baço, fígado, etc). Evolução ocorre, em geral, de forma lenta e progressiva, podendo levar a incapacidades físicas. TRANSMISSÃO QUADRO CLÍNICO • Área da pele, ou manchas esbranquiçadas (hipocrômicas), acastanhadas ou avermelhadas, com alterações de sensibilidade ao calor e/ou dolorosa, e/ou ao tato. • Formigamento, choques e câimbras nos braços e pernas, que evoluem para dormência – a pessoa se queima ou se machuca sem perceber. • Pápulas, tubérculos e nódulos (caroços), normalmente sem sintomas • Diminuição ou queda de pelos, localizada ou difusa, especialmente nas sobrancelhas. • Pele infiltrada (avermelhada), com diminuição ou ausência de suor no local. Além dos sinais e sintomas mencionados, pode- se observar: • Dor, choque e/ou espessamento de nervos periféricos; • Diminuição e/ou perda de sensibilidade nas áreas dos nervos afetados, principalmente nos olhos, mãos e pés; • Diminuição e/ou perda de força nos músculos inervados por estes nervos, principalmente nos membros superiores e inferiores e, por vezes, pálpebras; • Edema de mãos e pés com cianose (arroxeamento dos dedos) e ressecamento da pele; • Febre e artralgia, associados a caroços dolorosos, de aparecimento súbito; • Aparecimento súbito de manchas dormentes com dor nos nervos dos cotovelos (ulnares), joelhos (fibulares comuns) e tornozelos (tibiais posteriores); • Entupimento, feridas e ressecamento do nariz • Ressecamento e sensação de areia nos olhos. CLASSIFICAÇÃO OPERACIONAL A classificação operacional do caso de hanseníase, visando ao tratamento com PQT, é baseada no número de lesões cutâneas, de acordo com os seguintes critérios: CLASSIFICAÇÃO fonte de infecção: paciente bacilífero porta de entrada principal: vias áereas necessário contato direto com o doente não tratado período de incubação: 2 anos a 7 anos domicílio é apontado como importante espaço de transmissão da doença paucibacilar (PB) casos com até 5 lesões multibacilar (MB) casos com mais de 5 lesões OPERACIONAL (MINISTÉRIO DA SAÚDE) paucibacilar multibacilar MADRI intermediario tuberculoide dimorfa Virchowiana HANSENÍASE INDETERMINADA (PAUCIBACILAR) Todos os pacientes passam por essa fase no início da doença (pode ser ou não perceptível) • Geralmente afeta crianças abaixo de 10 anos • A lesão de pele geralmente é única, mais clara do que a pele ao redor (mancha), não é elevada (sem alteração de relevo), apresenta bordas mal delimitadas, e é seca (“não pega poeira” – uma vez que não ocorre sudorese na respectiva área). • Perda da sensibilidade (hipoestesia ou anestesia) térmica e/ou dolorosa, mas a tátil (habilidade de sentir o toque) geralmente é preservada. HANSENÍASE TUBERCULÓIDE (PAUCIBACILAR) • É a forma da doença em que o sistema imune da pessoa consegue destruir os bacilos espontaneamente. • Pode acometer crianças (o que não descarta a possibilidade de se encontrar adultos doentes) • Tempo de incubação: 5 anos • Manifesta-se por uma placa (mancha elevada em relação à pele adjacente) totalmente anestésica ou por placa com bordas elevadas, bem delimitadas e centro claro (forma de anel ou círculo). • Com menor frequência, pode se apresentar como um único nervo espessado com perda total de sensibilidade no seu território de inervação. HANSENÍASE DIMORFA (MULTIBACILAR) • É a forma mais comum de apresentação da doença (mais de 70% dos casos). • Longo período de incubação (cerca de 10 anos ou mais), devido à lenta multiplicação do bacilo. • Várias manchas de pele avermelhadas ou esbranquiçadas, com bordas elevadas, mal delimitadas na periferia, ou por múltiplas lesões bem delimitadas semelhantes à lesão tuberculóide, porém a borda externa é esmaecida (pouco definida). • Há perda parcial a total da sensibilidade • É comum haver comprometimento assimétrico de nervos periféricos, as vezes visíveis ao exame clínico. HANSENÍASE VIRCHOWIANA (MULTIBACILAR) • É a forma mais contagiosa da doença. • O paciente virchowiano não apresenta manchas visíveis; • A pele apresenta-se avermelhada, seca, infiltrada, cujos poros apresentam-se dilatados (aspecto de “casca de laranja”), poupando geralmente couro cabeludo, axilas e o meio da coluna lombar (áreas quentes). • Na evolução da doença, é comum aparecerem caroços (pápulas e nódulos) escuros, endurecidos e assintomáticos (hansenomas). • Quando a doença se encontra em estágio mais avançado, pode haver perda parcial a total das sobrancelhas (madarose) e também dos cílios, além de outros pelos, exceto os do couro cabeludo. • A face costuma ser lisa (sem rugas) devido a infiltração, o nariz é congesto, os pés e mãos arroxeados e edemaciados, a pele e os olhos secos. O suor está diminuído ou ausente de forma generalizada, porém é mais intenso nas áreas ainda poupadas pela doença, como o couro cabeludo e as axilas. • São comuns as queixas de câimbras e formigamentos nas mãos e pés, que entretanto apresentam-se aparentemente normais. EXAME DERMATONEUROLÓGICO (TESTE DE SENSIBILIDADE) 1. Faça o teste de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil nas áreas suspeitas 2. Pergunte o que ele sente (morno, frio ou quente). 3. Em seguida, faça o teste nas áreas da pele com lesões. 4. Compare com a área de pele normal contralateral ou adjacente. 5. Confirma-se, então, o diagnóstico, apenas com alteração definida de uma das sensibilidades DIAGNÓSTICO Clínico – epidemiológico • Análise da história e condições de vida • Exame dermatoneurológico Laboratorial • Baciloscopia: esfregaço intradérmico (lóbulo auricular direito, lóbulo auricular esquerdo, cotovelo direito e lesão) • Histológico (biópsia de pele) TRATAMENTO • Eminentemente ambulatorial; • Esquemas terapêuticos padronizados em forma de blister; • Há um esquema para casos paucibalicar e um esquema para casos multibacilar; • Os esquemas de adultos diferem dos de crianças; • Logo no início do tratamento, a transmissãoda doença é interrompida e, se o tratamento é realizado de forma completa e correta, a cura é garantida. TRATAMENTO – PAUCIBACULAR (PB) Duração: 6 meses (6 cartelas) Adultos • Rifampicina (600 mg): 1 dose mensal supervisionada • Dapsona (100 mg) o Dose mensal supervisionada o Dose diária auto administrada Crianças • Rifampicina (450 mg): dose mensal supervisionada • Dapsona (50 mg) o Dose mensal supervisionada o Dose diária auto administrada TRATAMENTO – MULTIBACILAR (MB) Duração: 12 meses (12 cartelas) Adultos • Rifampicina (600 mg): dose mensal supervisionada • Dapsona (100 mg) o Dose mensal supervisionada o Dose diária auto administrada • Clofazimina o 300 mg: dose mensal supervisionada o 50 mg: dose diária auto administrada CRITÉRIO DE ALTA Paucibacilar (duração 6 meses): • Concluído com 6 doses supervisionadas em até 9 meses. Na 6ª dose, os pacientes deverão ser submetidos ao exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e do grau de incapacidade física e receber alta por cura. Multibacilar (duração de 12 meses): • Concluído com 12 doses supervisionadas em até 18 meses. Na 12ª dose, os pacientes deverão ser submetidos ao exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e do grau de incapacidade física e receber alta por cura. OBS: caso não curados, serão encaminhados para o centro de referência. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: NOTIFICAÇÃO E INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA Em todo território nacional a hanseníase é considerada uma doença de notificação compulsória e de investigação obrigatória conforme (Portarianº204/2016) Os casos confirmados devem ser notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação/Investigação – SINAN. Ficha de Notificação/Investigação do Sinan deve ser preenchida por profissionais das unidades de saúde onde o(a) paciente foi diagnosticado(a), a investigação epidemiológica tem como objetivo a descoberta de doentes e é feita por meio de: • Atendimento da demanda espontânea • Busca ativa de casos novos • Vigilância de contatos Vigilância de contatos Residem ou residiram por um tempo igual ou superior a 5 anos. • Exame dermatoneurológico dos contatos; • Observação da cicatriz vacinal (BCG); • Recomendação de BCG de acordo com o exame; • Ações de educação e comunicação em saúde. Indicação de BCG para os contatos CONSULTA • Anamnese • Avaliação dermatológica • Avaliação neurológica • Avaliação dos estados reacionais • Diagnóstico diferencial • Avaliação do grau de incapacidade ANAMNESE Diálogo; conversa Devem ser registradas cuidadosamente no prontuário todas as informações obtidas, pois elas serão úteis para a conclusão do diagnóstico da doença, para o tratamento e para o acompanhamento do paciente. Aprazamento - Os pacientes devem ser agendados para retorno a cada 28 dias. Nessas consultas, eles tomam a dose supervisionada no serviço de saúde e recebem a cartela com os medicamentos nas doses a serem autoadministradas em domicílio. Fundamental que sejam identificadas as seguintes questões: • Alguém de seus familiares tratou ou trata de hanseníase, • Alguma alteração na sua pele - manchas, placas, infiltrações, tubérculos, nódulos, e • Há quanto tempo eles apareceram; • Possíveis alterações de sensibilidade em alguma área do seu corpo; • Presença de dores nos nervos, ou fraqueza nas mãos e nos pés; • Usou algum medicamento para tais problemas e qual o resultado. AVALIAÇÃO DERMATOLÓGICA • Identificar as lesões de pele próprias da hanseníase; • Deve ser feita uma inspeção de toda a superfície corporal, no sentido crânio-caudal, procurando identificar as áreas acometidas por lesões de pele. • As áreas onde as lesões ocorrem com maior frequência são: face, orelhas, nádegas, braços, pernas e costas, mas elas podem ocorrer, também, na mucosa nasal. • Devem ser realizadas as seguintes pesquisas de sensibilidade nas lesões de pele: TÉRMICA, DOLOROSA, E TÁTIL, que se complementam. SENSIBILIDADE TÉRMICA • Material necessário: dois tubos de vidro; 1 com água quente, outro com água fria. • Explicar ao paciente o procedimento. • Realizar o teste com o paciente de olhos fechados. • Inicialmente encostar os tubos na área não afetada, e perguntar o que o paciente sente (quente, morno ou frio). Em seguida, faça o teste nas áreas da pele com lesões. SENSIBILIDADE DOLOROSA • Material necessário: Alfinete; agulha de insulina. Todas as superfícies da pele devem ser examinadas, independente da queixa • Explicar ao paciente o procedimento. • Realizar o teste com o paciente de olhos fechados. • Encoste a ponta nas lesões de pele com uma leve pressão, tendo o cuidado de não perfurar o paciente, nem provocar sangramento. Faça isso alternando área interna e externa à lesão, observando expressão facial e queixa de respostas à picada. SENSIBILIDADE TÁTIL • Material necessário: chumaço de algodão. • Explicar ao paciente o procedimento. • Realizar o teste com o paciente de olhos fechados. • Passe o chumaço de algodão nas áreas não afetadas, em seguida nas lesões, de dentro para fora, ou seja, dá área interna para a externa. AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA A avaliação do comprometimento neural e da eventual incapacidade física do paciente. • Autocuidado • Prevenção, tratamento de incapacidades e deformidades. Principais nervos afetados Avaliação neurológica inclui: • História • Ocupação e Atividades Diárias • Queixas do paciente • Inspeção • Palpação dos Nervos • Teste de Força Muscular • Teste de Sensibilidade Formulário para avalição neurológica simplificada AVALIAÇÃO DOS ESTADOS REACIONAIS São fenômenos de aumento da atividade da doença, com piora clínica que podem ocorrer de forma aguda antes, durante ou após o final do tratamento com a poliquimioterapia. Processo inflamatório causado pela atuação do sistema imunológico frente ao bacilo Reação Hansênica TIPO 1 • As lesões de pele da hanseníase se tornarem mais avermelhadas e inchadas; • Os nervos periféricos ficarem mais dolorosos; REAÇÕES HANSÊNICAS TIPO 1 TIPO 2 • Houver piora dos sinais neurológicos de perda de sensibilidade ou perda de função muscular; • As mãos e pés ficarem inchados; • Houver surgimento abrupto de novas lesões de pele até 5 anos após a alta medicamentosa. Reação Hansênica TIPO 2 • Manchas ou “caroços” na pele, quentes, dolorosos e avermelhados, às vezes ulcerados • Febre, “dor nas juntas”, mal-estar • Ocasionalmente dor nos nervos periféricos (mãos e pés) • Comprometimento dos olhos • Comprometimento sistêmico (anemia severa aguda, leucocitose com desvio à esquerda, comprometimento do fígado, baço, linfonodos, rins, testículos, suprarrenais). AVALIAÇÃO DO GRAU DE INCAPACIDADE O Grau de Incapacidade Física (GIF) é uma medida que indica a existência de perda da sensibilidade protetora e/ou deformidade visível em consequência de lesão neural e/ou cegueira. ESCORE OMP O: Olhos M: mãos P: pés z Escore OMP O Escore OMP é a soma dos graus de incapacidades atribuídos a cada segmento direito e esquerdo (Olhos, Mãos e Pés), determinando a soma máxima que varia de 0 a 12, representando assim, uma medida mais precisa ao classificar o comprometimento em diferentes seguimentos CRITÉRIO PARA AVALIAÇÃO DO GRAU DE INCAPACIDADE FÍSICA Grau Característica 0 • Olhos: força muscular das pálpebras e sensibilidade da córnea preservadas, conta dedos a 6 metros, ou acuidade visual ≥ ou 6:60 • Mãos: força musculardas mãos preservada e sensibilidade palmar: sente o monofilamento 2g (lilás) ou sente o mais leve toque de caneta esferográfica • Pés: força muscular dos pés preservada e sensibilidade plantar: sente o monofilamento 2g (lilás) ou serve o toque da ponta de caneta esferográfica. 1 • Olhos: diminuição da força muscular das pálpebras sem deficiência visíveis e/ou diminuição ou perda da sensibilidade da córnea: resposta demorada ou ausente ao toque do fio dental ou diminuição/ausência do piscar • Mãos: diminuição d a força muscular das mãos sem deficiência visíveis e/ou alteração da sensibilidade palmar: não sente o monofilamento 2g (lilás) ou não sente o toque da ponta da caneta esferográfica • Pés: diminuição da força muscular dos pés sem deficiência visíveis e/ou alteração d a sensibilidade plantar: não sente o monofilamento 2g (lilás) ou o toque da ponta de caneta esferográfica 2 • Olhos: deficiência(s) visível(eis) causadas pela hanseníase, como: lagoftalmo; ectrópio; Triquiase; opacidade corneana central iridociclite e/ou não conta dedos a 6 metros ou acuidade visual < 0,1ou 6:60 excluídas outras causas • Mãos: deficiência(s) visível(eis) causadas pela hanseníase, como: garras, reabsorção óssea, atrofia muscular, mão caída, contratura, feridas tróficas e/ou traumáticas • Pés: deficiência(s) visível(eis) causadas pela hanseníase, como: garras, reabsorção óssea, atrofia muscular, pé caído, contratura, feridas tróficas e/ou traumáticas.
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