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07 DIREITO ISLAMICO

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DIREITO ISLÂMICO 
 
 
 
 
O Oriente sempre foi para nós, ocidentais, motivo de 
curiosidade 
com relação aos seus costumes e hábitos cotidianos. 
 
 
O mundo muçulmano como o conhecemos 
hoje é fruto da história de diversas tribos 
com diferentes maneiras de agir e pensar. 
 
 
A religião é o principal pilar que guia este direito, 
pois ela é imutável e cabe somente aos estudiosos 
capacitados interpretar os mandamentos com o fim 
de beneficiar a sociedade que segue os versos 
sagrados. 
 
O Alcorão, por Maomé, é o livro sagrado em que se 
baseiam 
as decisões que são tomadas pelos muçulmanos. 
 
 
As diversas tribos que constituíam o mundo árabe 
se uniram através da religião pelo livro sagrado escrito 
pelo profeta. 
 
 
 
 
 
Entender o Alcorão e seus costumes é 
entender como a grande nação muçulmana vive. 
Sendo este um assunto contemporâneo e 
de suma importância para um operador do direito. 
 
 
O DIREITO MUÇULMANO 
 
Há uma íntima relação entre o direito e a religião. 
 
Pode-se ousar dizer que o Islã é o direito dos muçulmanos 
já que, 
de um lado, define no que se deve crer e, do outro, 
define o que o muçulmano deve fazer ou não fazer. 
 
A este conjunto de regras acerca do que fazer ou não, 
dá-se o nome de Char, que significa “caminho a ser 
seguido”. 
 
Por ser tão anexo à religião, este direito não pode ser 
aplicado 
fora do contexto do povo muçulmano. 
O Estado islâmico é um servidor de Deus na terra. 
 
O direito muçulmano não engloba apenas os 
deveres e direitos da vida civil, 
mas também os da vida religiosa. 
 
Trata-se de um regramento que rege o comportamento do 
homem, 
não como cidadão, mas como um ser de Deus. 
 
Para o muçulmano, 
a verdadeira sanção por infringir uma regra é o pecado e 
suas consequências. 
 
Por este motivo, no direito muçulmano não há tanta 
preocupação em 
sanções mais conhecidas pelos ocidentais como reclusão, 
multas, etc. 
 
A ciência do direito muçulmano, 
chamada de fiqh, estuda, 
de um lado, as origens do Char, e, 
de outro lado, estuda os ramos (fouroû) 
que são as categorias e normas que constituem o Char em 
sua essência. 
 
AS FONTES DO DIREITO MUÇULMANO 
 
 
São quatro as fontes do direito islâmico: 
o Alcorão, a suna, o idjma eo qiyâs. 
 
ALCORÃO 
 
É o livro sagrado que contém a palavra de Deus (Alá) 
revelada ao profeta Maomé pelo anjo Gabriel. 
 
Maomé não sabia escrever, então seus discípulos 
se encarregavam da tarefa de escrever, 
em qualquer material que encontravam, os preceitos do 
islã. 
 
 
Após o falecimento do profeta, seu sucessor de nome Abu 
Bakr 
 encarregou Zaid Ibn Thabet de reunir todos os fragmentos 
para evitar perdas. 
 
O terceiro sucessor de Maomé organizou o Alcorão 
como ele é conhecido hoje, em 114 capítulos (suras). 
 
Trata-se da primeira fonte do direito islâmico. 
 
Apesar de sua importância e de seu primeiro lugar nas 
fontes, 
o Alcorão não é um livro de direito. 
 
Ele retrata a história do universo, do homem e de 
 suas relações com Deus, 
portanto, 
não detém informações de natureza puramente jurídica 
suficientes para regrar todos os atos da vida muçulmana, 
 possuindo apenas, em suas poucas normas jurídicas, 
a incumbência de estabelecer uma nova organização do 
estado árabe, 
que deixa de ser tribal, deixa de ter classes privilegiadas da 
sociedade e 
proíbe certos atos incompatíveis com a religião tais como 
consumir bebidas alcoólicas, praticar jogos de azar, 
fazer empréstimos a juros, entre outros. 
 
CARACTERÍSTICAS DO ALCORÃO 
 
 
 
Inquestionabilidade do Alcorão 
 
Equidade 
 
À luz das palavras do Alcorão, a sociedade muçulmana 
é isonômica, ou seja, 
deve ser tratada de maneira igualitária pela lei. 
Não existe o sacerdócio. 
 
Recompensas e punições após a morte 
 
A recompensa para aquele que obedece ao Alcorão 
é o paraíso após a morte. 
A punição aos infiéis é dada pelo inferno. 
O paraíso é idealizado com algo que seria uma vida ótima 
na terra. 
 
 
 
 
A pena de talião 
 
 
O Alcorão prevê a aplicação da Pena de Talião e 
exemplifica nos casos de guerra e assassinato. 
 
 
 
Proibições alimentares 
 
 
 
 
 
 
A doutrina muçulmana classifica os animais em puros e 
impuros. 
 
A pureza pode ser natural ou advinda de um ritual de 
purificação. 
 
Ao muçulmano é proibido o consumo de carne de animal 
que não tenha sido sangrado no abatimento (ritual de 
purificação), 
carne de répteis que são considerados impuros por 
natureza e 
 certos animais como o porco e o burro. 
 
Qualquer carne oriunda de ritual de sacrifício 
para qualquer ser que não seja Alá é terminantemente 
proibida. 
O consumo de peixes é permitido. 
Bebidas alcoólicas são proibidas também. 
 
O Alcorão prevê atenuação da proibição no caso de 
necessidade, 
alegando que Deus é misericordioso e 
não constitui pecado o consumo de alimento proibido 
nas situações de emergência e luta pela sobrevivência. 
 
Dos jogos de Azar 
 
 
Jogos de azar são proibidos. 
 
 
Proibição do suborno e usurpação 
 
 
O Alcorão prevê a proibição de suborno 
aos juízes principalmente em casos que 
se referem à apropriação de bens alheios. 
 
Da peregrinação 
 
 
 
 
 
A peregrinação (viagem até Meca para orações) 
é uma forma de se obter perdão pelos pecados. 
Todo homem muçulmano adulto, 
que tenha condições, deve efetuar a peregrinação 
nas datas certas, desde que não prejudique a 
sobrevivência da família. 
 
Mulheres devem efetuar a peregrinação também, mas 
acompanhadas. 
 
O alcorão prevê, para aqueles que não possuírem 
condições para a viagem, formas de compensação como o 
jejum e o envio de oferendas ou esmolas. 
 
 Durante o período de peregrinação é proibida a cópula, 
a depravação e o envolvimento em brigas. 
 
Casamento 
 
 
 
O casamento é a base da formação da sociedade 
muçulmana. 
 
O casamento islâmico é feito em duas etapas 
 
A primeira etapa 
consiste na celebração de um contrato entre o marido e 
o representante legal da futura esposa. 
 
A mulher, por sua vez, deve dar seu consenso 
manifestando-se ou simplesmente ficando em silêncio. 
O contrato acorda questões materiais, o dote e 
após sua ratificação os noivos estão casados. 
 
 
A segunda etapa 
é a noite nupcial, celebrada em uma solenidade 
em que o casal se isola e a virgindade da esposa deve ser 
confirmada pela exibição, aos convidados, do manto com 
sangue. 
 
O casamento não é somente uma união entre o marido e a 
mulher, 
é, acima de tudo, uma união entre duas famílias. 
 
Na época de Maomé, 
havia o casamento temporário que significava desfrute. 
Atualmente, 
para os sunitas, isso é uma prática ilícita, para os xiitas 
não. 
 
Por ser um instituto tão importante, 
o casamento não deixou de ser regulamentado pelo texto 
do Alcorão, especialmente no tocante às proibições. 
 
São proibidos: 
o casamento com não-muçulmanos 
 
 (pelo menos até que este se converta), 
o casamento com ascendentes e descendentes, 
o casamento entre um adúltero (ou adúltera) e um não-
adúltero (adúlteros só podem se unir com outro adúltero ou 
com um não-muçulmano) 
e a união com mulheres já casadas. 
 
O casamento com uma escrava é permitido para 
aqueles que não possuírem posses para uma união com 
uma crente livre. 
 
O casamento com servas também serve como atenuante 
de pecado àquele que se encontrar tentado a cometer 
fornicação. 
 
“Esse casamento com servas é permitido para quem receia 
cometer fornicação. Contudo, melhor para vós seria 
abster-vos. Deus é indulgente e misericordioso” 
ALCORÃO, IV, 25. 
 
 
 
Poligamia 
 
O Alcorão prevê a possibilidade de um homem ter mais de 
uma esposa, 
 
no entanto, atualmente, 
 
nos países muçulmanos onde essaprática é permitida, 
o número de esposas deve ser de no máximo quatro e 
 todas devem ser tratadas com equidade pelo marido. 
Além de esposas, o homem pode ter concubinas. 
 
Atualmente há questionamentos acerca da validade da 
prática da poligamia 
em alguns Estados que adotam a religião muçulmana. 
 
O professor Jacques Jomier argumenta favoravelmente à 
prática da poligamia atestando primeiramente que Maomé 
e seus primeiros seguidores possuíam várias esposas, as 
necessidades sexuais do homem são maiores do que as da 
mulher, 
e que, em tempos de guerra, onde a população masculina 
decai, a poligamia é a única forma de reequilibrar a 
população masculina com a feminina. 
 
Por derradeiro, é mais válida uma poligamia aberta do que 
monogamias onde o homem pratica sorrateiramente o 
adultério, ferindo e traindo a honra de suas 
esposas. 
 
 
Posição da mulher na sociedade muçulmana 
 
 
 
 
 
 
 
O texto do Alcorão coloca as mulheres em patamar social 
rebaixado, 
subordinado aos homens. 
 
A mulher é tida como um ser intelectualmente inferior 
cujo único propósito de existência é casar e servir ao seu 
marido. 
 
A justificativa de tudo isso reside na suposta superioridade 
dada ao homem por Deus 
 
“Os homens tem autoridade sobre as mulheres pelo que 
Deus os fez superiores a elas e porque gastam de suas 
posses para sustentá-las. As boas esposas são obedientes 
e guardam sua virtude na ausência de seu marido 
conforme Deus estabeleceu. Aquelas de quem temeis a 
rebelião, exortai-as, bani-as de vossas camas e batei nelas. 
Se vos obedecerem, não mais as molestei. Deus é elevado 
e grande.” ALCORÃO, IV, 34. 
Observa-se, pelo fragmento acima, a enorme submissão da 
mulher ao homem muçulmano, sendo regulada e 
autorizada pelo texto sagrado até mesmo a agressão física 
com intuito de punição. 
À luz do texto, as mulheres devem resguardar suas 
imagens, cobrir o corpo todo e não ousar olhar nos olhos 
de outrem, por isso o uso do véu. Atualmente, o uso do véu 
possui seus questionamentos nos diferentes estados 
muçulmanos. Há países que não exigem a cobertura 
completa da face, outros que exigem um simples véu e 
outros que extremam em exigir que apenas os olhos fiquem 
à mostra. O ato de cobrir o rosto deixa de ser obrigatório 
quando a mulher se torna idosa, porém não deixa de ser 
recomendável. 
A mulher no período de menstruação é considerada impura 
e deve ser evitada até que se purifique novamente. 
 
Adultério 
 
 
A prática do adultério é condenada pelo Alcorão. 
 
 Quando for praticada por uma mulher livre, a pena é ainda 
mais severa, chegando a se constituir em confinamento até 
a morte. 
 
No tocante ao adultério em sentido lato, o Alcorão 
apresenta uma divergência na medida em que prevê o 
perdão advindo da sociedade para os adúlteros 
arrependidos ao mesmo tempo em que prevê a punição 
sem misericórdia por açoitamento na presença de 
testemunhas. Ou seja, segundo o último dispositivo citado, 
mesmo com o arrependimento dos adúlteros não há que se 
ter perdão ou misericórdia alguma, eis a dubiedade da 
questão. 
No caso da serva que cometer o adultério, a pena será 
diminuída pela metade em relação à pena de uma mulher 
livre. 
A questão é tratada com muita seriedade e para a 
acusação é necessária a presença de testemunhas. No 
caso de uma acusação contra a mulher, o número de 
testemunhas será igual a quatro. Caso o acusador não 
predisponha das testemunhas, deverá fazer um juramento 
a Deus e invocar o castigo divino caso esteja mentindo. A 
mulher que queira se defender da acusação deverá fazer o 
mesmo. Constatando-se a mentira por parte do homem 
acusador, este será açoitado e não mais poderá realizar 
testemunhos, exceto se houver arrependimento. A mulher 
estará, portanto, livre de sanções. 
 
Divórcio 
 
 
 
 
O homem detém a predominância no que se refere ao 
divórcio, 
que para o árabe, significa repúdio. 
 
 
Ele decide e não precisa prestar contas a ninguém sobre 
os seus atos. 
A mulher somente pode tomar a iniciativa do divórcio se 
houver cláusula que lhe autorize no contrato de casamento 
e nos territórios onde a jurisprudência assim permitir. 
 
Apesar de ser lícito, o divórcio não é bem visto pelos 
ensinamentos do Alcorão, que o caracteriza como a mais 
abominável das coisas lícitas. 
 
O texto sagrado prevê o prazo de quarenta dias a contar da 
decisão do homem pelo divórcio, para que este reflita. 
 
Decorrido o prazo, o divórcio se torna definitivo. 
 
O divórcio não pode ser invocado para prejudicar a mulher, 
assim, quando findar o prazo de quarenta dias, a mulher 
deve ser aceita novamente, o que é o ideal segundo o 
alcorão, ou libertada da casa para que siga sua vida. 
 
 
Não se deve manter a mulher presa para maltratá-la. 
 
Antes de se casar novamente, a mulher deve esperar 
alguns meses para que o próximo marido tenha certeza de 
que ela não está grávida. 
 
O marido pode retomar a esposa após o divórcio, desde 
que ela ainda esteja livre, mas se repudiá-la por três vezes, 
não poderá mais retomá-la até que ela se case com outro e 
se divorcie deste. 
 
Após o divórcio, a guarda dos filhos menores até os 7 
anos é da mãe, 
que os devolverá ao pai depois de ultrapassarem a idade 
citada. 
Caso a mulher esteja grávida durante o divórcio, 
o marido deverá sustentá-la até o fim do período de 
amamentação. 
 
 
 
O Alcorão prevê garantias às mulheres repudiadas. 
Quando divorciadas, devem receber apoio do marido para 
sua sustentação. 
Na maioria das vezes, a mulher recebe a totalidade de seu 
dote. 
Caso o divórcio venha a ocorrer antes da consumação do 
casamento, 
será devida à mulher uma pensão prevista no contrato. 
Caso o contrato seja omisso em relação à pensão a ser 
paga, 
o homem não deve deixar a mulher desamparada. 
 
 
Testamento e herança 
 
A herança do falecido será dividida em duas partes: 
a primeira e mais importante será partilhada 
automaticamente aos herdeiros (pais e parentes próximos). 
 
A outra parte pode ser deixada em testamento. 
 
O castigo divino é a pena do escrivão do testamento que 
tentar alterar qualquer palavra do testador, salvo em caso 
de clara evidência de injustiça, onde o escrivão pode alterar 
o testamento, sempre procurando harmonizar os interesses 
dos herdeiros. 
A primeira parte dos bens do falecido, que é 
automaticamente dividida entre os herdeiros, deve 
obedecer a suposta superioridade do homem. Sendo 
assim, filhos recebem mais que filhas, pais recebem mais 
do que mães e irmãos recebem mais 
do que a mãe do falecido. 
 
O Alcorão fixa os percentuais de distribuição da 
herança do homem ou da mulher falecida e sempre acaba 
por favorecer o sexo masculino. 
 
Das viúvas 
 
Às viúvas é garantida, pelo alcorão, uma proteção, que não 
deve ser vitalícia (duração de um ano), promovida pelo 
testamento do marido falecido. 
 
A viúva deve abster-se por um período de quatro meses 
antes de constituir novo matrimônio. 
 
Dos órfãos e da adoção 
 
O Alcorão reconhece aos órfãos o direito de serem 
tratados com dignidade e respeito já que são irmãos de 
religião. 
 
Caso uma família venha a adotar uma criança, está deverá 
ser mantida com o sobrenome dos pais biológicos, pois 
isso é o mais sensato para Deus. Caso o nome dos pais 
biológicos seja desconhecido, poderão chamar a criança 
como desejarem e deverão considerá-la um aliado, um 
irmão da religião. 
 
Da moral sexual e do celibato 
 
O Alcorão prevê certa rigidez no que tange à moral sexual. 
 
Antes do casamento, para não prejudicar a honra da família 
o homem deve jejuar pra não perder o controle sobre seus 
desejos. 
“Não sereis censurados por fazer às mulheres propostas de 
casamento, nem por as desejar no segredo de vossas 
almas. Deus sabe que não as podeis esquecer. Mas não 
procureisencontrar-vos com elas as escondidas. E se o 
fizerdes, dirigi-lhes palavras honradas. E não consumais o 
casamento antes do prazo prescrito para elas no Livro. E 
lembrai-vos de que Deus sabe o que há em vossos 
corações. Sede, pois, prudentes em relação a Ele. Deus é 
clemente e magnânimo” ALCORÃO, II, 235. 
O celibato não é bem visto para os muçulmanos. Todos 
devem, na medida do possível, casar-se. Como já fora 
explicado, o casamento constitui a base da sociedade 
muçulmana. 
É proibido aos donos de servas, prostituí-las para obter 
valores. Caso estas venham a ser compelidas à 
prostituição, o Alcorão prevê o perdão de Deus a elas. 
 
Difamação e injúria 
 
A difamação e a injúria são condenadas pelo texto 
sagrado muçulmano e são puníveis com a maldição 
oriunda deste e do outro mundo. 
 
Segundo os preceitos do Alcorão, todos os crentes são 
iguais e não devem se sentir superiores uns ao outros. 
 
Dos empréstimos a juros 
 
Endividar alguém por juros constitui grande pecado. 
 
 O antigo testamento também previa esta proibição, 
mas somente entre israelitas. 
 
 No caso do islã, a proibição é generalizada. 
 
O empréstimo em si é permitido através de um contrato 
celebrado entre as partes que se comprometem uma com a 
outra, feito mediante a presença de testemunhas. Somente 
a cobrança de juros é condenável. 
 
Aquele que vive de juros pagos pelos outros será punido no 
inferno. 
 
Caso não encontre um escriba, aquele que contrair o 
empréstimo deverá apresentar uma caução como garantia. 
Ademais, o Alcorão aconselha ao credor, parcimônia para 
com o devedor caso este se encontre em grandes 
dificuldades para devolver a quantia emprestada, até 
mesmo sugere o perdão da dívida. 
 
“Daí prazo ao devedor em dificuldade até que se recupere. 
E se puderdes perdoar, melhor será para vós. Se 
soubésseis!” ALCORÃO, II, 280. 
 
 
 
Inviolabilidade de domicílio 
 
 
O Texto islâmico aconselha ao crente, sob as penas de 
Deus, não adentrar a casa do seu semelhante sem se 
pronunciar e sem o consentimento do morador. Antes de 
entrar, deverá invocar a paz para os moradores da casa. 
Se não houver ninguém na casa, o visitante não deverá 
entrar. 
Caso seja solicitado ao visitante que saia, este deverá sair 
sem questionar. 
Ao mesmo tempo, caso o visitante tenha algum bem que 
lhe pertence dentro da casa de outrem, este não será 
censurado caso precise entrar na casa sem permissão. 
 
 
 
 
Dos despojos de Guerra 
 
 
Os despojos de guerra (bens capturados do inimigo) seriam 
destinados aos pobres e um quinto permaneceria com o 
profeta. Segundo o Texto, os bens capturados eram de 
Deus, do profeta e seus parentes, dos órfãos e 
necessitados, devendo ser evitada a posse destes bens 
aos aproveitadores e de caráter duvidoso. 
 
Privilégios do profeta 
 
 
Maomé era, além de líder religioso, líder político da cidade 
de Medina, sendo assim, o Alcorão prevê exclusividades ao 
profeta. 
 
As mulheres do profeta teriam seus castigos ou 
 recompensas dobradas em relação a uma mulher comum. 
 
Deveriam também ser mais discretas do que as mulheres 
comuns para não despertar pensamentos e desejos em 
outros homens. 
 
Maomé poderia ter quantas mulheres desejasse e era 
isento da maioria das obrigações e proibições impostas aos 
outros homens. 
 
Poderia dar mais atenção a uma de suas mulheres e deixar 
as outras de lado por alguns instantes. 
 
As mulheres tocadas pelo profeta jamais poderiam se 
deitar com outro homem. 
 
Visitas ao profeta também são previstas no Alcorão, desde 
que não ensejem incômodo a ele. 
 
SUNA 
 
A suna é a segunda fonte e é caracterizada como sendo a 
tradição, os costumes, atos e profecias de Maomé que não 
estão presentes no Alcorão. 
 
Esta fonte de direito não escrita é passada de geração em 
geração, por uma cadeia de discípulos, aos crentes do islã. 
Como o Alcorão e a Suna não são suficientes para 
responder a todos os casos, criou-se o Idjma, a terceira 
fonte do direito muçulmano. 
 
IDJMA 
 
O idjma é um acordo unânime regido por dois princípios 
de Maomé 
 que afirmam que aquilo que os muçulmanos 
considerarem justo, 
será justo para Deus e que jamais haverá consenso sobre 
um erro. 
 
Não se deve confundir, apesar das profecias de Maomé, 
o idjma com o costume, fonte do direito ocidental, 
já que a unanimidade é restrita aos jurisconsultos e 
doutores do islã. 
 
 
Em contrapartida, a unanimidade a que se refere o 
parágrafo anterior, 
não precisa ser absoluta e uniforme entre todos os sábios 
do direito. 
 
Maomé já afirmava que as divergências de opinião 
advindas da comunidade islâmica são uma graça de 
Deus. 
Neste contexto, a unanimidade tem, em aspectos 
secundários, 
divergências de interpretação pelos chamados ritos 
muçulmanos. 
 
Cada um dos ritos, chamados também de madhab, 
constituem uma escola que interpreta à sua maneira o 
direito muçulmano. 
 
As diferentes escolas se agrupam em dois principais ritos: 
os ritos ortodoxos ou sunitas e os ritos heréticos ou xiitas. 
 
São quatro os ritos sunitas: 
 
o hanefita, que é o que detém a maioria dos fiéis e está 
presente na Turquia, Jordânia, Síria, Afeganistão, 
Paquistão, Bangladesh e Índia. 
 
O rito malequita está presente na África negra e ocidental. 
 
O rito chafeita está presente entre os curdos, os malaios, 
indonésios e muçulmanos da costa oriental da África. 
 
O último rito, o hanbalita, está presente na Arábia. 
Dentro dos ritos heréticos, há o principal deles, o xiita que 
está fortemente presente no Irã e no Iraque. 
 
Os Xiitas se separam dos sunitas principalmente com 
relação ao conceito do califa, o representante dos 
muçulmanos. 
 
Para os xiitas, este representante deve ser um 
descendente de Maomé, para os sunitas, o líder deve ser 
escolhido pelo povo. 
 
Há também o rito vahabita seguido na Arábia Saudita, o rito 
zeidi no Iêmen e o rito harigita presente em M´zab, Djerba, 
na costa oriental da África e em Zanzibar. 
Apesar das diferenças relativas aos aspectos secundários, 
os princípios do direito são preservados com equidade 
pelos diferentes ritos. 
 
É admissível ao adepto de um rito, mudar-se para outro 
assim como também é aceitável que o praticante de um 
determinado rito acate aos preceitos de outro rito apenas 
para a resolução de um determinado ato. 
 
A aplicação do idjma é de suma importância haja vista que 
atualmente o Alcorão e a Suna, apesar de serem fontes 
fundamentais, passaram a valer mais como fontes 
históricas. 
Ao juiz de direito islâmico, não há mais a necessidade de 
recorrer diretamente ao Alcorão para a resolução de um 
litígio, pois já existe um livro de idjma, uma interpretação 
unânime e definitiva acerca de algum assunto. 
 
QIYÂS 
 
O qiyâs é a derradeira fonte do direito islâmico. 
 
Trata-se da aplicação da analogia. 
 
Por maior que sejam os esforços dos juristas no mundo 
todo, não há como prever absolutamente todos os atos 
possíveis de serem concretizados na vida em sociedade. 
 
Inicialmente o qiyâs era somente um processo de raciocínio 
que passou a ser fonte de direito. 
 
O uso da analogia no regramento islâmico não pode 
permitir 
a criação de uma nova lei, o que difere este direito do 
inglês e do direitoromano-germânico. 
 
O raciocínio por analogia não pode ser nada além 
de um modo de interpretação e aplicação do direito. 
 
O DIREITO MUÇULMANO NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
O direito islâmico se formou na Alta Idade Média, 
o que explica seu aspecto casuístico e o caráter arcaico de 
algumas instituições. 
 
É um direito totalmente original, 
pois detém raízes na religião islâmica e no Alcorão. 
Qualquer semelhança com direitos ocidentais pode ser 
considerado coincidência. 
 
O regramento muçulmano é imutável e advém dos 
preceitos de Deus (Alá)o que o difere do direito canônico. 
 
Ambos são originários de teologias, mas não devem ser 
confundidos já que o direito canônico foi criado por 
homens, pode ser mudado pelos mesmos, não impõe 
sanções religiosas e advindas do outro mundo e constitui 
um complemento ao direito romano-germânico onde este é 
omisso com relação à Igreja. 
 
A primeira vista, o Char parece defasado pelo tempo e 
inaplicável à vida moderna, mas até hoje é aceito e 
utilizado por diversos estados que almejam o 
desenvolvimento. Alguns exemplos são Marrocos, Tunísia, 
Síria, Mauritânia, Irã, Iraque, Paquistão, Afeganistão e 
Egito. 
 
Ocorre que, mesmo sendo imutável, o direito islâmico é 
flexível e disponibiliza um vasto campo para a aplicação 
dos costumes, da convenção, de estratagemas e da 
intervenção por parte de autoridades estatais soberanas. 
 
Isso permitiu a expansão e a sobrevivência do regramento 
muçulmano até atualmente haja vista que não extermina os 
modos de vida de outros povos. 
O desenvolvimento do direito islâmico foi paralisado em 
meados do século X da era cristã, quando houve um 
fechamento às interpretações e reflexões do Alcorão, 
objetivando evitar a ruptura da unidade muçulmana frente a 
um período de crises como a queda do califado Abássida, 
responsabilidade dos mongóis que tomaram e saquearam 
Bagdá (DAVID, René, 2002). Atualmente, o maior 
obstáculo ao desenvolvimento do direito muçulmano é esta 
estagnação interpretativa. Teme-se que este direito se 
torne um mero regramento teológico, dando lugar a leis 
cada vez mais díspares às origens de Maomé. Atualmente, 
ao jurista islâmico, é permitido apenas criar novos idjmas 
dentro dos limites do Alcorão e respeitar as lições e 
interpretações dos antigos doutores anteriores ao episódio 
do fechamento. Não há delegação de competência alguma 
para legislar as bases da Charia. 
Alguns questionam se a paralização do desenvolvimento 
das bases do direito muçulmano deve ser mantida, no 
entanto, movidos pela fé, muitos repudiam a modernização 
radical da Châ´ria alegando suas origens históricas que 
devem ser preservadas e temendo a perda da unidade do 
islã. Há neste contexto uma preferência pelo contínuo uso 
dos costumes, das convenções, dos estratagemas e das 
intervenções dos chefes de estado, processos exteriores, 
porém harmônicos com o direito muçulmano. 
Os costumes não fazem parte das fontes de direito para o 
Islã, mas nem por isso são repudiados. Em muitos casos, 
há a permissão de os cidadãos organizarem suas 
interações e resolverem seus litígios sem invocar a lei 
escrita desde que não incorram em costumes estritamente 
proibidos e ilegais. O islamismo classifica os atos do 
homem em cinco categorias: obrigatórios, recomendados, 
indiferentes, condenáveis e proibidos. Os costumes podem 
interferir apenas naqueles que são permitidos, 
recomendados, indiferentes ou no máximo condenáveis. 
Jamais poderia proibir algo que é obrigatório ou tornar 
obrigatório algo que é proibido. (DAVID, René, 2002) 
As convenções são aceitas pelo direito islâmico e previstas 
por uma profecia de Maomé que afirma que não é nenhum 
crime fazer convenções além do que a lei prescreve. A 
jurisprudência islâmica permite o uso de convenções que 
podem modificar as regras propostas, e não as impostas, 
pelo direito muçulmano 
Assim como em qualquer direito, existem brechas, 
escapes. Muitas regras formais da legislação muçulmana 
podem ser transpassadas quando não são violadas 
diretamente. Um exemplo é a clara proibição dos 
empréstimos a juros, feita pelo alcorão. Esta proibição, no 
entanto, restringe-se aos cidadãos, pessoas físicas, as 
únicas capazes de cometer pecados. Logo, bancos ou 
instituições societárias estão isentas de tal regra. 
Outro recurso que contribui muito para a apreciação do 
direito muçulmano por outros estados e pela modernidade 
é a intervenção do chefe de estado. O soberano do estado 
não pode legislar, mas pode determinar a política de seu 
estado. O direito islâmico reconhece este poder 
regulamentar dos chefes de estado e permite intervenções 
regulamentares para determinados assuntos. São 
exemplos a proibição de consumo de álcool que não é 
fiscalizada na Argélia e a possibilidade de a mulher obter 
divórcio judiciário em vários países que adotam a conduta 
muçulmana. (DAVID, René, 2002) 
 
A flexibilidade do Char atinge estrangeiros e não-
muçulmanos. A estes, quando se trata de matéria civil ou 
criminal, é assegurado a invocação de suas próprias leis 
exceto em casos onde a honra, a moral islâmica é 
denegrida. O islamismo tolera a multiplicidade das leis das 
diferentes comunidades. Há a possibilidade de o 
estrangeiro ou o não-muçulmano abrir mão desta 
flexibilidade e ser julgado pela lei muçulmana desde que 
ambas as partes do litígio estejam de acordo. 
 
A OCIDENTALIZAÇÃO DO DIREITO MUÇULMANO 
 
Ao contrário do que parece, o direito muçulmano não vai 
desaparecer tão cedo com a ocidentalização dos países 
islâmicos. 
 
Como afirma o professor René David, existem países, 
atualmente, que defendem um retorno à islamização e a 
aplicação estrita das disposições do Alcorão, como o Irã e 
o Paquistão. 
 
Mas, contrapondo sua ideia inicial, pode ser que, 
futuramente, nos países muçulmanos, seja criado um novo 
setor do direito, de tendência moderna, que se distancie do 
caráter ortodoxo ou até mesmo se torne laico. Não significa 
dizer que o direito muçulmano vai se alinhar imediatamente 
ao direito romano-germânico ou à common Law. Isso 
demandaria um longo tempo. Seria necessário modificar 
toda a sociedade e não somente a lei. Este desejo de 
laicização existe em países muçulmanos que se tornaram 
repúblicas socialistas. 
 
A Turquia, por exemplo, pretende se tornar um estado 
laico, mas com calma e sem exterminar todos os traços do 
que é muçulmano. 
O direito muçulmano ainda será objeto de estudo no direito 
comparado por um longo tempo.

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