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Objetivos de aprendizagem aborto completo resumo

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Objetivos de aprendizagem
1°. Estudar a morfosiologia do sistema auditivo.
02°.comprender como os microrganismos causam malformações congénitas;
03°.Entender a ética do aborto legal;
04°.Pesquisar sobre os impactos socias e de saúde pública do aborto ilegal.
1°. Estudar a morfosiologia do sistema auditivo.
· O aparelho auditivo é composto de três porções denominadas orelhas externa, média e interna. A captação da onda sonora do ambiente pelo sistema auditivo é feita através da orelha externa, formada pelo pavilhão auditivo, conduto auditivo externo e membrana timpânica. Essas estruturas são especialmente desenhadas para promover a localização da fonte sonora, amplificar as freqüências próximas a 4000 Hz (entre 1500 e 7000 Hz) e conduzir a onda sonora até a orelha média
· Também chamada de cavidade timpânica, a orelha média é uma porção oca dentro do osso temporal que abriga três ossículos ligados à membrana timpânica e articulados entre si, formando um sistema de alavanca, o sistema tímpano-ossicular, que amplifica o som em até 1,3 vezes. A onda sonora que incide sobre o tímpano, que possui 55 mm², provoca vibrações que são conduzidas pelo sistema tímpano-ossicular até a janela oval da cóclea (orelha interna), que possui 3,5 mm². Essa diferença entre as membranas promove um aumento de 17 vezes na pressão sonora (Oliveira, 1994).
· A função da orelha média é, exatamente, aumentar a pressão sonora da onda que incidiu no pavilhão para que esta seja capaz de sensibilizar o líquido existente dentro da cóclea. Sem a orelha média, ao passar do meio aéreo para o líquido, a onda sonora perderia 99% de sua energia, devido às diferenças de densidade.
· Na orelha interna inicia-se a condução dos impulsos nervosos pelas vias auditivas até a área auditiva do cérebro. Ela possui duas porções: o vestíbulo, que atua na captação de informações sobre o posicionamento da cabeça e do corpo no espaço, auxiliando na manutenção do equilíbrio; e a cóclea, que possui três ductos preenchidos por líquidos chamados de baixo para cima: rampa vestibular, rampa média e rampa timpânica. A rampa média limita-se com a rampa vestibular pela membrana de Reissner e com a rampa timpânica pela membrana basilar, sobre a qual se encontra o órgão de Corti, onde estão localizadas as células sensoriais da audição. 
· A cóclea é uma estrutura em espiral que dá duas voltas e meia em torno de um eixo chamado modíolo (Russo et al., 1994a; Oliveira, 1994; Lopes Filho, 1994). A membrana basilar alarga-se gradativamente a cada giro da cóclea, sendo que no giro basal ela possui 0,04 mm, chegando ao giro apical com 0,4 mm. Essa mudança promove aumento gradativo de massa da membrana basilar, o que promove propriedades de vibração diferentes em cada ponto da membrana.
ETAPA 1: transdução mecanoelétrica de células ciliadas externas – As oscilações da membrana basilar e do órgão de Corti, provocadas pela vibração da perilinfa pressionada pelo estribo na janela oval, promove deslocamento dos estereocílios das células ciliadas externas. Estes, por sua vez, estão acoplados à membrana tectória. A estimulação é dependente da freqüência, pois a membrana basilar vibra diferentemente para freqüências altas (pico de oscilação próximo à porção basal da cóclea) e para as freqüências baixas (pico de oscilação próximo ao giro apical coclear). O deslocamento dos estereocílios promove abertura de canais de potássio na membrana, gerando potenciais elétricos receptores ou potenciais microfônicos cocleares (Oliveira, 1994; Russo et al., 1994a).
ETAPA 2: transdução eletromecânica de células ciliadas externas – Os potenciais gerados provocam contrações rápidas nas células ciliadas externas, em fase com a freqüência do som estimulante. O mecanismo das contrações rápidas são a base do processo de amplificação ativa da cóclea, pois com a conecção de vibrações que as células fazem entre membrana basilar e tectória (ambas vibrando em fase), ocorre amplificação da freqüência da fonte sonora inicial (Oliveira, 1994; Russo et al., 1994a). 
ETAPA 3: transdução mecanoelérica de células ciliadas internas – A vibração amplificada de membrana basilar e tectória, devido ao mecanismo ativo de células ciliadas externas, provoca deslocamento dos cílios mais longos do grupo de células ciliadas internas existente na região da freqüência estimulada, graças ao contato destes cílios com a membrana tectória. O deslocamento provoca entrada de potássio com formação de potencial receptor que promove liberação de neurotransmissores e formação de mensagem sonora codificada em estímulo elétrico (Oliveira, 1994; Russo et al., 1994a).
A informação, então, transmitida ao nervo acústico, seguindo para sistema nervoso central.
Resumindo rápido 
Anatomia da orelha
Dividida em três regiões principais:
1. Orelha externa:
2. Orelha média:
3. Orelha interna:
1°. Orelha externa: coleta as ondas sonoras e direciona para o interior. Composta basicamente:
1. Pavilhão auricular
2. Meato acústico
3. Membrana timpânica/ Tímpano.
O meato acústico contem ainda alguns pelos e glândulas ceruminosas, que secretam cera de ouvido ou cerume, essa combinação de pelos e cerume realiza a proteção da
entrada de objetos.
2°. Orelha média: coleta as ondas transmitidas pela parte externa e envia para o sistema vestibular.
Ela é separada da orelha externa pela membrana timpânica e da orelha interna por uma divisão óssea a:
1. Janela do vestíbulo
2. Janela da cóclea
Ossículos da audição:
1. Martelo
2. Bigorna
3. Estribo
3°. Orelha interna: armazena as ondas para a audição e o equilíbrio, também chamada de labirinto.
O sistema vestibular nada mais é que o órgão que de tec ta as sensações de equilíbrio, através de um modelo chamado labirinto que se divide em:
1. Labirinto ósseo
2. Labirinto membranoso
3. Células ciliadas.
Labirinto ósseo
três canais semicirculares (note que os canais semicirculares também farão parte do labirinto membranoso, entre tanto, o que faz parte do Labirinto Membranoso: três canais semicirculares (Os mesmos canais das imagens acima, porém na região interior deles, logo, preenchidos pela endolinfa), cóclea (região interna), e duas câmeras, o utrículo e o sáculo (ambos órgãos eolíticos).
01: O pavilhão recebe as ondas sonoras e direciona para o meato acústico
02: As ondas vão alcançar a membrana timpânica, vão movimentar ela (vibrar ), vibrando pouco para sons baixos e muito para sons altos.
03: Quando a membrana timpânica movimentar, ela automaticamente irá movimentar o martelo que está conectado a membrana que irá movimentar a bigorna conectada ao martelo.
04: Quando a bigorna se movimenta o estribo também se movimentará que através da janela do vestíbulo irá transmitir as ondas para o labirinto
05: A recepção de ondas pelo labirinto fará com que a endolinfa no seu interior se movimente.
08: A movimentação da endolinfa fará com que as células ciliadas se movam, promovendo o dobramento do estereocilios (falado mais abaixo) levando os impulsos para as fibras nervosas cocleares.
Dentro de cada utrículo e sáculo vamos ter uma pequena área sensorial chamada mácula do utrículo localizada dentro do utrículo no plano horizontal e estará intimamente relacionada a orientação da cabeça quando ereta.
E teremos dentro do sáculo a mácula do sáculo localizada no plano vertical orientando a cabeça em decúbito.
Em síntese as máculas, operam para manter o equilíbrio durante aceleração ou estático.
Ex: quando você recebe um empurrão o que faz com que você se equilibre para não cair é a ação das maculas. Entre tanto, vale salientar que a macula não opera para controle de velocidades linear, mas sim, em equilíbrio, ou seja, movimentação corporal para frente ou para trás.
(É ISSO QUE ACONTECE)
“A mácula que está dentro do sáculo e do utrículo possuem células ciliadas que irão se movimentar devido a movimentação da endolinfa que está dentro dos canais, e essa endolinfa se movimenta devido aos nossos movimentos. Logo, essas células ciliadas irão fazer sinapses com as terminações sensoriais do nervo vestibular queirá se prolongar até o nervo vestibulococlear”).
Em síntese cada canal semicircular preenchido pela endolinfa possui uma função.
O canal superior na imagem acima está responsável pela flexão e extensão da cabeça, ou seja, por levar a cabeça para frente e por trazer a cabeça para trás. 
O canal superior na imagem acima está responsável pela flexão e extensão da cabeça, ou seja, por levar a cabeça para frente e por trazer a cabeça para trás. O canal lateral ou horizontal na imagem acima está responsável pela rotação no eixo espacial, ou seja, na movimentação lateral DE ROTAÇÃO da cabeça. O canal posterior na imagem acima está responsável pela movimentação lateral da cabeça, não de rotacionar, mas sim de deitar a cabeça para o lado esquerdo ou lado direito
Ou seja, após todo o processamento de informações o nervo vestibular conectado no labirinto como na foto acima irá levar as informações para o nervo vestibococlear. As informações vão chegar ao cerebelo pelo lobo flocunodular *em verde*.
Vão ser processadas por sinapses e vão sair do cerebelo pela zona media em vermelho central *aonde está o verme*.
IMPORTANTE: Após passar pelo núcleo fastigial as informações irão para o núcleo vestibular onde irão fazer sinapse com os nervos vestibulares que serão excitados pelas
informações vindas do cerebelo que aí enviaram os sinais para a medula por meio dos tratos vestibuloespinais e reticuloespinais controlando assim o equilíbrio.
PONTOS IMPORTANTES SOBRE CÉLULAS CILIADAS
Cada célula ciliada possui cílios chamados de
1. Es tereocilios “os pequenos”
2. Cinocílio “os grandes”.
Quando o cinocílio se “deita ou securvam” em direção ao estereocílio, o estereocílio se “deita ou se curvam”
sobre os filamentos é isso fará com que haja um grande influxo de íons positivos para o liquido endolinfático o que irá gerar uma despolarização da membrana do receptor (aumenta fluxo).
Quando o estereocílio se “deita ou se curvam” sobre os cinocílios eles se afastaram dos filamentos fechando os canais iônicos e acarretando em uma hiperpolarização do receptor (diminui fluxo).
Vale salientar que essa deformação dos cinocilios e estereocilios se dá pela nossa movimentação da cabeça e pescoço.
02°.comprender como os microrganismos causam malformações congénitas.
As anomalias congênitas (AC) podem ser definidas como todas as alterações funcionais ou estruturais do desenvolvimento fetal, cuja origem ocorre antes do nascimento. Elas possuem causas genéticas, ambientais ou desconhecidas. As principais causas das anomalias são os transtornos congênitos e perinatais, muitas vezes associados a agentes infecciosos deletérios à organogênese fetal, tais como os vírus da rubéola, da imunodeficiência humana (HIV), o vírus Zika, o citomegalovírus; o Treponema pallidum e o Toxoplasma gondii. O uso de drogas lícitas e ilícitas, de medicações teratogênicas, endocrinopatias maternas também podem ser citados como causa de AC. Estima-se que 15 a 25% ocorram devido às alterações genéticas, 8 a 12% são causadas por fatores ambientais e 20 a 25% podem ser causadas tanto por alterações genéticas quanto por fatores ambientais. Neste artigo, serao abordadas as principais causas das AC, com foco naquelas que podem ser evitadas.
· As anomalias congênitas (AC) podem ser definidas como todas as alterações funcionais ou estruturais do desenvolvimento fetal cuja origem ocorre antes do nascimento, possuindo causas genéticas, ambientais ou desconhecidas, mesmo que essa anomalia se manifeste anos após o nascimento.1 Elas podem ser classificadas em maiores ou menores: as malformações maiores seriam graves alterações anatômicas, estéticas e funcionais podendo levar à morte, enquanto as menores levam a fenótipos que se sobrepoem aos normais.2 Do ponto de vista biológico, as AC representam um grupo heterogêneo de distúrbios do desenvolvimento embrionário e fetal, com origens distintas, muitas vezes simultaneamente envolvidas.
· As anomalias estruturais podem ser divididas em quatro categorias: malformação, ruptura, deformação e displasia. A malformação acontece devido a um defeito intrínseco tecidual que tem origem durante o desenvolvimento dos tecidos ou quando o órgao é afetado, resultando em alterações persistentes. Nessa categoria, também são considerados os distúrbios cromossômicos apresentados como síndrome, como a síndrome de Down, por exemplo. A ruptura é definida como a destruição ou alteração de estruturas já formadas e normais, como a redução de membros causada por anomalias vasculares, por exemplo. A deformação pode ser entendida como uma alteração da forma, contorno ou posição de um órgao, como o pé torto congênito. Já a displasia é caracterizada como a organização anormal das células nos tecidos, levando a alterações morfológicas, o rim policístico é um exemplo.
· As AC têm apresentado relevância significativa e crescente na mortalidade e morbidade da população.5 De modo geral, pode-se considerar que 5% dos nascidos vivos (NV) apresentam alguma anomalia do desenvolvimento, determinada, total ou parcialmente, por fatores genéticos.
· A maioria das mortes por AC ocorrem durante o primeiro ano de vida, impactando na taxa de mortalidade infantil. No Brasil, as AC constituem a segunda causa de mortalidade infantil, contribuindo com 11,2% destas mortes, perdendo apenas para as causas perinatais.7 O período perinatal foi inicialmente definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na oitava revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-8) em 1967, como aquele compreendido entre a 28ª semana de gestação ou crianças com peso acima de 1.000 g e o 7° dia de vida. Com a CID-10, editada em 1993 e adotada no Brasil em 1996, este período se inicia na 22ª semana de gestação e considera crianças com peso acima de 500 g.
· O impacto das AC na mortalidade infantil depende de diversos fatores, como a prevalência das anomalias, a qualidade e disponibilidade de tratamento médico e cirúrgico, e a presença e efetividade de medidas de prevenção primária. Além disso, as AC maiores podem ser letais logo após o nascimento, como a anencefalia e algumas cardiopatias congênitas, por exemplo.
CAUSAS DAS AC.
· As principais causas das anomalias são os transtornos congênitos e perinatais, muitas vezes associados a agentes infecciosos deletérios à organogênese fetal, tais como os vírus da rubéola, da imunodeficiência humana (HIV), o vírus Zika, o citomegalovírus; o Treponema pallidum e o Toxoplasma gondii. O uso de drogas lícitas e ilícitas, de medicações teratogênicas e endocrinopatias maternas também são causas de anomalias.2 Estima-se que 15 a 25% ocorram
devido às alterações genéticas, 8 a 12% são causadas por fatores ambientais e 20 a 25% envolvem genes e fatores ambientais (herança multifatorial). Porém, a grande maioria (40 a 60%) das anomalias ainda é de origem desconhecida.
Substâncias Teratogênicas
Um agente teratogênico pode ser definido como qualquer substância, organismo, agente físico ou estado de deficiência que, estando presente durante a vida embrionária ou fetal, pode produzir uma alteração na estrutura ou função da descendência.
A partir da segunda metade do século 20, houve uma grande preocupação com relação às possíveis substâncias utilizadas por gestantes e seus impactos no embriao ou feto em desenvolvimento, uma vez que o uso de medicamentos durante a gestação é algo frequente. A tragédia da talidomida no início da década de 1960, provocada pelo uso do fármaco durante a gravidez, trouxe grande medo à população e aos médicos. Com isso, vários sistemas para registro e identificação de AC têm sido estabelecidos em diversos países, sendo a maioria com o propósito de identificar agentes ambientais que ofereçam riscos teratogênicos.
A talidomida tem importantes propriedades terapêuticas para um grande número de doenças, porém é aprovada no Brasil para o tratamento de poucas condições, como o eritema nodoso da hanseníase. Inicialmente, os estudos da toxicidade da talidomida em roedores mostraram um baixo risco de intoxicação e poucos efeitos colaterais. Entretanto,na época, não foi realizado nenhum teste de teratogenicidade. As anomalias fetais devido ao uso da talidomida ocorrem quando a droga é ingerida por gestantes entre 35 a 49 dias após o último período menstrual. As malformações de membros associadas ao uso deste medicamento são as mais descritas.
Estudos experimentais em animais fornecem uma base para a verificação do potencial teratogênico de um agente, porém há uma dificuldade de se identificar teratógenos humanos devido às diferenças genéticas entre as espécies. Um exemplo encontrado na literatura é o dos corticosteróides, que são potentes teratógenos em roedores e aparentemente seguros em humanos. Já a talidomida, aparece como um potente teratógeno para humanos e como aparentemente seguro para roedores. Dessa forma, fica claro que para se conhecer esse potencial teratogênico de agentes em humanos, a evidência deve ser procurada no próprio homem.
O álcool é outra substância que, quando consumida na gravidez, pode ocasionar AC. Entre as possíveis sequelas geradas por esse consumo, estao a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) e suas formas incompletas; os defeitos congênitos relacionados ao álcool (ARBD) e as desordens de neurodesenvolvimento relacionadas ao álcool (ARND). A primeira gera um quadro de maior gravidade, cujas manifestações clínicas são determinadas por um complexo grupo de sinais e sintomas, variando de acordo com a quantidade de álcool ingerida e o período de gestação, além de outros fatores. A SAF ocasiona restrição do crescimento intrauterino e pós-natal, disfunções do sistema nervoso central, microcefalia e alterações faciais características, afetando em torno de 33% das crianças nascidas de maes que fizeram uso de mais de 150g de etanol por dia.
Em um estudo de coorte desenvolvido na cidade de Ribeirao Preto (SP), em 2016, verificou-se que 23% das gestantes consumiram álcool durante a gravidez, e que a maior parte do consumo ocorreu no primeiro trimestre (14,8%). Observou-se maior risco de baixo peso, neonato pequeno para idade gestacional e pré-termo em gestantes simultaneamente fumantes e etilistas. Os autores concluíram que o efeito combinado do tabagismo e o álcool precisa ser levado em consideração quando se aconselha mulheres sobre o comportamento saudável antes e durante a gravidez.
Agentes Infecciosos
Apesar do feto ou do embriao estar protegido pela placenta, alguns agentes infecciosos presentes na mae podem atingi-lo. Os defeitos induzidos por micro-organismos diferem dos induzidos por agentes ambientais, uma vez que nem todas as lesões aparecem no período da gestação, sendo que muitas manifestações clínicas aparecem após o nascimento, mesmo que congenitamente adquiridas. É importante conhecer a soroprevalência gestacional de agentes infecciosos que possam ser transmitidos para o feto gerando anomalias.
Segundo Costa et al.(2013)20, a transmissão vertical é aquela que ocorre entre a mae (gestante/lactante) e seu filho, podendo acontecer por diversas vias, como a ascendente (através do canal cervical), a hematogênica (através do aporte sanguíneo placentário) e o aleitamento materno. As infecções verticais hematogênicas resultam da presença na circulação placentária de diferentes agentes como bactérias (sífilis), protozoários (toxoplasmose) e vírus, como no caso da rubéola.
A rubéola é um doença infecto-contagiosa com sintomas leves e erupção generalizada, causada por um vírus da família Togaviridae e do gênero Rubivirus. Este possui simetria icosaédrica, é um vírus envelopado e de RNA fita simples com polaridade positiva. A transmissão ocorre por via aérea, e após a entrada no hospedeiro, pode se disseminar para diversos órgaos, inclusive para a placenta. A rubéola congênita possui um efeito teratogênico, uma vez que o vírus infecta a placenta, atinge o feto, inibe a mitose e estimula apoptose, comprometendo assim a organogênese, sendo pior no primeiro trimestre gestacional. Quando acontece no primeiro trimestre, a infecção materna produz infecção fetal em mais de 90% dos casos. A evolução da forma congênita é crônica e grave. As principais manifestações são surdez, cataratas, glaucoma, retinopatia, cardiopatias, microcefalia, retardo mental, distúrbios motores, entre outros.
O citomegalovírus (CMV), também conhecido como HHV-5, é um herpesvírus humano (HHV) e pertencente à família Herpesviridae. Possui simetria icosaédrica, envelope e seu genoma é constituído por DNA. A infecção congênita pode ocorrer por transmissão vertical durante a gestação (via transplacentária), no momento do parto ou no período pós-natal (via leite materno). O CMV pode infectar o feto tanto durante a infecção primária materna, quanto durante a reativação da infecção materna presente antes da concepção. As crianças que apresentam a doença congênita por CMV podem possuir as seguintes manifestações: retardo do crescimento intra-uterino, prematuridade, icterícia colestática, hepato-esplenomegalia, púrpura, plaquetopenia, pneumonite intersticial e manifestações neurológicas como microcefalia, calcificações intracranianas, crises convulsivas no período neonatal, coriorretinite e deficiência de acuidade visual e auditiva. A surdez neuro-sensorial é a sequela mais frequente, atingindo 57% dos lactentes infectados. A incidência da infecção congênita a CMV é elevada porque, como já mencionado, a transmissão materno-fetal pode ocorrer após a infecção primária ou recorrente.
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria T. pallidum. Durante a gestação, leva a sérias implicações para a mulher e seu concepto, podendo causar o abortamento, a morte intra-uterina, o óbito neonatal ou deixar sequelas graves nos recém-nascidos. A transmissão congênita faz-se da gestante infectada para o concepto, por via transplacentária, em qualquer momento da gestação.23 Segundo o Ministério da Saúde (2006)24, além da prematuridade e do baixo peso ao nascimento, as principais características dessa síndrome congênita são hepatomegalia com ou sem esplenomegalia, lesões cutâneas (como por exemplo, pênfigo palmo-plantar, condiloma plano), periostite ou osteíte ou osteocondrite (com alterações características ao estudo radiológico), pseudoparalisia dos membros, sofrimento respiratório com ou sem pneumonia, rinite sero-sanguinolenta, icterícia, anemia e linfadenopatia generalizada (principalmente epitroclear). Outras características clínicas incluem petéquias, púrpura, fissura peribucal, síndrome nefrótica, hidropsia, edema, convulsão e meningite.
O vírus Zika é um arbovírus de RNA, cuja circulação foi confirmada em 18 estados brasileiros no ano de 2015. A partir de entao, houve um aumento inesperado de nascidos vivos (NV) com microcefalia, AC que ocorre devido a uma lesão neuronal que interfere no desenvolvimento cerebral, havendo redução do perímetro cefálico.25 No período de 2000 a 2014 o número de casos de NV com microcefalia era estável. Marinho et al. (2016)26 verificaram que o número de casos dessa AC no ano da confirmação da circulação do vírus aumentou nove vezes em relação a média anual do país. Poucos estudos comprovaram que a infecção pelo vírus Zika durante a gravidez está associada à microcefalia, porém grande parte destes sugeriram esse elo.
Radiação
A radiação, que consiste na emissão de energia sob a forma de partículas radioativas/aceleradas a alta velocidade ou sob a forma de ondas eletromagnéticas, existe como dois tipos: não ionizante e ionizante. A primeira não possui energia suficiente para separar moléculas ou remover elétrons, responsáveis pela ionização dos átomos e consequentemente responsáveis pela lesão das células humanas. Já a segunda, possui energia capaz de afetar a estrutura normal da célula tanto direta, como indiretamente. Como exemplo, podem ser citados os raios gama e os raios-X, que penetram facilmente os tecidos, causando lesões orgânicas.
Através do processo chamado de ionização, a radiação ionizante interage com átomos, podendo modificar moléculas, alterar as células, transformar tecidos, afetar órgaos e finalmente terrepercussões sobre o normal funcionamento do organismo.
Os efeitos da radiação durante a gravidez dividem-se em teratogênicos e carcinogênicos, sendo que os primeiros podem ser variados e dependem da semana de gestação e o valor da dose efetiva de radiação.
Existem alguns exames e tratamentos que emitem radiação ionizante, e caso a gestante necessite realizar algum desses procedimentos, o médico deve avaliar a relação risco/benefício. O Raio - X é um dos métodos de diagnóstico mais utilizado no serviço de urgência, e o seu uso não acarreta riscos acrescidos sobre o embriao em desenvolvimento desde que o útero da grávida se encontre fora do campo de incidência do raio. O embriao estará apenas exposto à radiação dispersa em doses mínimas, entretanto de toda forma é importante o uso de uma proteção de chumbo, até mesmo para que a gestante se sinta mais segura. No caso das radiografias abdominais, pélvicas e de coluna lombar é preciso levar em consideração a espessura da parede abdominal da grávida, a direção da projeção, a profundidade a que o feto se encontra e a técnica de aquisição das imagens.
A tomografia computadorizada (TC) é outro tipo de exame bastante utilizado, e que expoe a gestante a níveis um pouco maiores de radiação. Porém, assim como para o exame de Raio - X, se o embriao estiver fora do campo de incidência do raio primário, os efeitos da exposição à radiação não apresentam riscos para o embriao, tornando-se relativamente seguro a realização de TC ao crânio, coluna cervical, tórax e extremidades. Quando o exame envolve a regiao abdominal e pélvica, a dose a que o embriao está sujeito está dependente de parâmetros muito semelhantes aos da radiografia
Diabetes Mellitus Gestacional
O diabetes mellitus gestacional ocorre quando há intolerância a carboidratos, resultando em hiperglicemia, com início ou diagnóstico durante a gestação, ocorrendo uma elevação de hormônios contra-reguladores da insulina, estresse fisiológico imposto pela gravidez e com associação a fatores predeterminantes (genéticos ou ambientais). O principal hormônio relacionado com a resistência à insulina durante a gravidez é o hormônio lactogênico placentário, porém existem outros hormônios hiperglicemiantes como cortisol, estrógeno, progesterona e prolactina, que também estao envolvidos.
Com relação ao diabetes mellitus gestacional, um dos mecanismos moleculares pelo qual a hiperglicemia leva a anomalias estaria associado ao fato de que este quadro causa a ativação de várias vias moleculares que geram hipóxia do embriao, levam à produção de radicais superóxido mitocondriais, à diminuição da atividade de anti-oxidantes e a um aumento das vias apoptóticas. As vias metabólicas ativadas pelo quadro hiperglicêmico convergem para a inibição da expressão do gene PAX 3 (paired box gene 3), que é responsável pelo controle da proteína p53. O gene PAX 3 pertence a uma família de genes PAX que desempenha um papel crítico na formação de tecidos e órgaos durante o desenvolvimento embrionário. Na ausência desse gene funcional e na ausência de degradação da proteína p53 por ubiquitinação, há um aumento descontrolado da mesma e consequentemente das vias apoptóticas.
As taxas de AC em pacientes com diabetes mellitus gestacional aparecem de 1,9 a 10 vezes superiores do que na população geral, ocorrendo com maior risco para anomalias específicas como as do tubo neural.
03°.Entender a ética do aborto legal.
1.1°. O que são direitos reprodutivos?
Os direitos reprodutivos são direitos humanos que compreendem a decisão, de homens e mulheres, se querem ter filhos, o número de filhos que desejam ter e em que momento desejam ter, de forma autônoma, sem discriminação, violência ou coerção. Trata-se também do acesso a informações, métodos, meios e técnicas conceptivas (para ter filhos) e contraceptivas (para não ter filhos) (Brasil, 2006a). Essa noção de direitos reprodutivos provém da Conferência Internacional da ONU sobre População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo, em 1994, cujo documento final é um dos acordos internacionais a que o Brasil aderiu, comprometendose a tomar as medidas necessárias para a sua implementação no âmbito interno. O Programa de Ação do Cairo (1994) foi o primeiro a adotar a compreensão de saúde reprodutiva como um direito humano.
1.2°. O que são direitos sexuais?
Os direitos sexuais são direitos relacionados ao exercício e à expressão da sexualidade, de forma livre, sem discriminações. Envolvem o direito de escolha de ter ou não relações sexuais, o direito de expressar livremente a orientação sexual, o direito à relação sexual independente da reprodução e o direito ao sexo seguro, com o objetivo de prevenir gravidez indesejada e DST/HIV/aids (Brasil, 2006a). Essa noção de direitos sexuais, que diferencia sexualidade de reprodução, é resultante da declaração assinada na IV Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim, em 1995. O Brasil também aderiu a esse documento internacional, comprometendo-se politicamente a tomar medidas para a sua implementação através de leis e políticas públicas específicas.
2.1. O aborto sempre foi crime na legislação brasileira?
Não. A prática do aborto só passou a ser criminalizada a partir do Código Criminal de 1830. Nesse Código, só se punia a conduta de terceiro que realizava o aborto, e o autoaborto não era considerado crime. Com o Código Penal de 1890, a prática do autoaborto também passou a ser criminalizada. As exceções eram gravidez que tivesse resultado de estupro ou que representasse risco de vida à mulher. O Código Penal de 1940 manteve as disposições sobre o aborto presentes no Código de 1890.
2.2. O que o Código Penal diz sobre o aborto?
O Código Penal brasileiro é de 1940. O artigo 128 do Código Penal estabelece duas situações em que o aborto praticado por médico não é punido: 1. quando não há outra forma de salvar a vida da gestante; 2. quando a gravidez é decorrente de estupro e há o consentimento da mulher, ou seu representante legal, em relação ao aborto (Brasil, 1940). Em ambas, interromper a gestação é um direito da mulher e por isso fala-se em aborto legal.
2.3. Em que situações o aborto é autorizado?
O aborto é autorizado em quatro situações: 1. quando existe risco para a vida da mulher;2. quando a gravidez resulta de violência sexual; 3. quando representa risco à saúde da mulher; ou 4. quando existe gravidez de feto anencefálico. De acordo com decisão do Supremo Tribunal Federal de abril de 2012, a antecipação terapêutica do parto de fetos anencéfalos não tipifica o crime de aborto previsto no Código Penal, dispensando, por isso, autorização prévia quando a mulher não deseja prosseguir com a gravidez. Nos casos de anencefalia não se fala em “aborto”, mas em “antecipação terapêutica do parto”, pois, como o feto não possui vida encefálica, inexiste possibilidade de vida extrauterina.
Os serviços de aborto legal
3.1. O que são os serviços de aborto legal?
Os serviços de aborto legal são unidades de referência do Sistema Único de Saúde
(SUS) para o atendimento das mulheres que engravidaram de violência sexual, cuja gravidez representa risco de vida ou risco à saúde, ou ainda que receberam o diagnóstico de anencefalia fetal.
3.2. Por que são chamados de serviço de aborto legal?
São chamados de serviço de aborto legal porque são unidades da rede pública de saúde que garantem o direito da mulher ao aborto nos casos que a lei determina. 
3.3. Qual é a diferença entre um serviço de aborto legal e um serviço de atendimento
às vítimas de violência sexual?
Em ambos os serviços, é oferecida às mulheres assistência médica, social e psicológica.Nos serviços de atendimento às vítimas de violência sexual, são atendidas mulheres, homens, adolescentes e crianças. São realizados exames laboratoriais e profilaxia para doenças sexualmente transmissíveis (DSTs, inclusive aids e hepatite B). Além disso, é oferecida anticoncepção de emergência e acompanhamento psicológico. Os serviços de aborto legal também atendem vítimas de violência sexual, com a particularidadede realizarem o procedimento do aborto, quando essa é a escolha da mulher. 
Por que o serviço de aborto legal é uma unidade de referência?
O serviço de aborto legal é considerado uma unidade de referência porque possui determinação institucional da unidade de saúde que o reconhece apto para o cumprimento das normas técnicas do Ministério da Saúde.
3.5. Quantos são os serviços de aborto legal no Brasil?
São 63 serviços de aborto legal distribuídos pelo país.
Quais são os documentos do Ministério da Saúde que orientam os serviços de aborto legal?
Os documentos do Ministério da Saúde que orientam os serviços de aborto legal no país são as normas técnicas (Brasil, 2011a, 2011b): Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes (lançada em 1999, reeditada e revista em 2005 e 2011) e Atenção Humanizada ao Abortamento (lançada em 2005, reeditada e revista em2011).
Que outros documentos os serviços de aborto legal deveriam conhecer?
Além das duas normas técnicas do Ministério da Saúde, os serviços de aborto legal deveriam conhecer o documento Aspectos Jurídicos do Atendimento às Vítimas de Violência Sexual: Perguntas e Respostas para Profissionais de Saúde, também do Ministério da Saúde, a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), a Portaria nº 1.508, de 1º de setembro de 2005, do Ministério da Saúde, a Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003, e a Resolução nº1.989/2012, do Conselho Federal de Medicina (CFM), sobre anencefalia (Brasil, 2003, 2005, 2006b, 2011c; Conselho Federal de Medicina, 2012).
Qual é a contribuição do obstetra e do enfermeiro em um serviço de aborto
legal? Cada profissional de uma equipe de aborto legal tem papel de grande importância no acolhimento da mulher que busca o serviço. O(a) obstetra, além de realizar o procedimento do aborto, avalia a idade gestacional através da ecografia e verifica a compatibilidade entre os dados fornecidos pela mulher (data da última menstruação, data do estupro) e a ecografia. O(a) enfermeiro(a) pode acolher a mulher e providenciar os encaminhamentos necessários, conforme o protocolo, auxiliando o(a) médico(a) nas orientações.
Como são formadas as equipes de aborto legal?
As equipes de aborto legal são formadas por profissionais da unidade de saúde que oferece. O serviço. A equipe é multidisciplinar, sendo composta por: médico(a) ginecologista obstetra, enfermeiro(a), psicólogo(a) e assistente social.
 O que caracteriza um serviço de aborto legal?
Os serviços de aborto legal devem ser pautados pelo acolhimento, garantindo atenção humanizada e de qualidade às mulheres. Para o Ministério da Saúde, o acolhimento é o tratamento respeitoso, orientado pela escuta, pelo reconhecimento e também pela aceitação das diferenças, que garanta assistência à saúde de maneira integral (Brasil, 2011b)
04°.Pesquisar sobre os impactos socias e de saúde pública do aborto ilegal.
A trajetória das mulheres na busca por seus direitos provém de décadas atrás. Entre esses direitos está o acesso aos serviços e ações de saúde de qualidade, o que não acontece efetivamente no Brasil, mesmo após a implantação de políticas públicas que incluem a saúde sexual e reprodutiva das mulheres.
No Brasil, a saúde da mulher foi inserida nas políticas nacionais de saúde nas primeiras décadas do século XX, sendo, neste período, restrita às demandas referentes à gravidez e ao parto. Os programas materno-infantis, criados nas décadas de 1930, 1950 e 1970, traduziam uma visão limitada sobre a mulher, baseada em sua especificidade biológica e no seu papel social de mãe e doméstica, responsável pela criação, educação e cuidado com a saúde dos filhos e demais membros da família (BRASIL, 2007a).
Historicamente, a posição reservada às mulheres, no que se refere às normas sexuais e reprodutivas, era um dos pontos de maior tensão no momento da elaboração e da aplicação de leis e políticas. Geralmente, estas leis e políticas estabeleciam mais restrições à liberdade sexual e reprodutiva feminina, justificadas como necessárias para a reprodução e o desenvolvimento saudável da população (VENTURA, 2009).
Em se tratando dos direitos das mulheres, especificamente os relacionados à saúde sexual e reprodutiva, é importante enfatizar que o planejamento familiar, inserido nas Estratégias de Saúde da Família, precisa realizar ações direcionadas à saúde integral da mulher, não a restringindo ao seu papel social de procriação, mas também abrangendo a prevenção da gravidez indesejada, que, por conseguinte, pode desencadear o aborto induzido. Para Nader, Blandino e Macie (2007), a principal problemática do aborto induzido está associada à gravidez indesejada, sendo preciso, portanto, ampliar as possibilidades de planejar a gestação, valorizando assim, o Planejamento Familiar.
Um estudo realizado sobre a epidemiologia do aborto em uma população em situação de pobreza na Favela Inajar de Souza, em São Paulo (SP), identificou um elevado número de abortos inseguros entre as mulheres. Na maioria das vezes, as mulheres em situação de pobreza recorrem ao aborto clandestino como forma de "planejamento familiar", como denotam as taxas de gestação. Porém, no grupo estudado, verificou-se também a elevada taxa de complicações pós-aborto revertidas em internações hospitalares (FUSCO; ANDREONI; SILVA, 2008).
Uma das problemáticas referentes ao aborto, que emerge como questão de saúde pública, é a sua forma de realização, que ocorre, na maioria das vezes, de maneira clandestina e insegura, provocando várias implicações biopsicossociais à mulher. Além disso, abortar em condições desfavoráveis à saúde é uma violação dos direitos humanos, principalmente para as mulheres com baixo grau de escolaridade, pobres e negras.
O ato de abortar de forma insegura pode ser considerado uma injustiça social. Índices de mortalidade decorrentes do aborto, na maioria das vezes, refletem mulheres solteiras ou separadas judicialmente. As desigualdades dos efeitos danosos da clandestinidade e da criminalização do aborto atingem principalmente a parte mais vulnerável da população, de mulheres pobres e negras, com baixa escolaridade; as mais jovens e aquelas com menor acesso à informação. Além disso, quando se trata da razão de mortalidade materna por aborto, em relação às mulheres negras, obtém-se 11,28/100 mil nascidos vivos, ou seja, duas vezes mais do que em relação às mulheres brancas (MARTINS; MENDONÇA, 2005).
Tratando-se da ilegalidade do aborto no Brasil, verifica-se que esta favorece o ganho ilícito de pessoas com manobras abortivas e a sociedade permanece enraizada em ideologias favoráveis à criminalização apenas das mulheres, não analisando quem elas são, o risco de morbidade e mortalidade ao praticar o aborto, a eficácia de programas de planejamento familiar e as iniquidades existentes no contexto social do qual as mesmas fazem parte (SOUZA; DINIZ; COUTO, 2010).
ABORTO E SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
Segundo o Ministério da Saúde, o aborto é a interrupção da gravidez até a 20ª ou 22ª semana, com o produto da concepção pesando menos de 500 g, sendo este eliminado no processo de abortamento. As causas de abortamento são várias, entretanto, na maioria das vezes, permanecem indeterminadas e inúmeras gestações são interrompidas por decisão própria da mulher (BRASIL, 2010).
De acordo o Ministério da Saúde, Brasil (2010), o aborto no Brasil acontece em cerca de 10% das gestações. Entre eles, a maior parte é provocada das mais diferentes maneiras. O abortamento no País resulta de necessidades não satisfeitas de planejamento reprodutivo, envolvendo déficit de informações sobre a anticoncepção, dificuldades de acesso aos métodos, falhas no seu uso, uso irregular ou inadequado e/ou ausência de acompanhamento pelos serviços de saúde.
O estudo de Diniz e Medeiros (2010) chamado "Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna" apresenta os primeiros resultados da Pesquisa Nacional sobre Aborto (PNA), levantamento realizado em domicílios de todo o Brasil urbano. As evidênciasindicaram que o aborto não era realizado somente para postergar o princípio da vida reprodutiva ou evitar filhos em idades avançadas, pois se notou que cerca de 60% das mulheres fizeram seu último, ou único aborto, no centro do período reprodutivo (18 e 29 anos). Entre as mulheres que abortaram, 23% tinham até o 4º ano do ensino fundamental e 12%, o ensino médio completo.
No Brasil há déficit de estudos epidemiológicos sobre abortamento inseguro, clandestino, especialmente quanto se trata de populações vulneráveis, de renda muito baixa, nas quais existe um peso maior do aborto sobre as taxas de morbidade e mortalidade materna (FUSCO; ANDREONI; SILVA, 2008).
Enfrentar o fenômeno do aborto como uma questão de saúde pública significa entendê-lo como uma questão de cuidados em saúde e não como um ato de infração moral de mulheres consideradas levianas. E, para essa redefinição política, existem algumas tendências que se mantêm nos estudos à beira do leito com mulheres que abortaram. O conveniente é que essa descrição não representa apenas as mulheres que abortam, mas as mulheres brasileiras. Neste sentido, compreender o aborto como uma questão de saúde pública em um Estado laico e plural representa um novo caminho de argumentações, no qual o campo da saúde pública no Brasil suscita complexas e relevantes evidências para o debate (DINIZ, 2007).
Tratando-se da caracterização do aborto no Brasil, verifica-se predominância de mulheres entre 20 e 29 anos, em união estável, com até oito 8 de estudo, trabalhadoras, com pelo menos 1 filho e usuárias de métodos contraceptivos. Estima-se que 1.054.242 abortos foram induzidos em 2005. A fonte de dados para esse cálculo foram as internações por abortamento registradas no Serviço de Informações Hospitalares do SUS. A maior parte dos casos aconteceu no Nordeste e no Sudeste do País, com taxa anual de aborto induzido de 2,07 por 100 mulheres entre 15 e 49 anos (BRASL, 2009).
Estudo realizado por Cecatti et al. (2010), para avaliar a prevalência referida de abortamento espontâneo e induzido em uma amostra de mulheres brasileiras entrevistadas na Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS), de 1996, demonstra que as mulheres que informaram ter realizado aborto espontâneo ou induzido apresentaram características sociodemográficas semelhantes quanto a idade e número de nascidos vivos. Entretanto, as mulheres que referiram ter tido ao menos um aborto induzido geralmente não eram de cor/raça branca (parda e preta), residiam em áreas urbanas, principalmente no Rio de Janeiro, e estavam trabalhando na época da entrevista. A menor escolaridade e a declaração de cor/raça não branca estiveram indiretamente associadas à pobreza e, consequentemente, a um maior risco para o aborto induzido de maneira insegura e com maior risco de morte.
O aborto, considerado um grave problema de saúde pública, precisa ser enfrentado na perspectiva dos direitos sexuais e reprodutivos. É forçoso reconhecer que penalizar as mulheres que recorrem à prática do aborto com a cadeia, como determina o Código Penal anacrônico, de 1940, é absurdo, além de irreal, uma vez que não se tem filhos por força de lei, tê-los é um projeto afetivo e de responsabilidade de homens e mulheres. Criminalizar o aborto significa penalizar as mulheres, principalmente, as de classes sociais menos favorecidas, que são as que necessitam solucionar sua gestação indesejada, muitas vezes, de maneira insegura (GOLLOP, 2009).
IMPLICAÇÕES DO ABORTO CLANDESTINO E/OU INSEGURO
O aborto realizado de maneira insegura, em contextos de ilegalidade, tal qual a situação brasileira, resulta em sérias consequências para a sociedade, pois compromete a saúde da mulher, com elevada morbimortalidade. Além disso, sobrecarrega o sistema de saúde, implica em custos, diminui a produtividade, traz inúmeras repercussões familiares e estigmatiza a mulher (SEDGH et al., 2007).
As desigualdades regionais e sociais tornam-se bastante evidentes quando se observa as distribuições dos riscos de mortalidade materna em consequência de complicações decorrente do aborto. Na região Norte, o risco de mortalidade materna em consequência de gravidez que termina em aborto é 1,6 vezes maior do que na região Sudeste. Esse risco para mulheres negras, analfabetas ou semianalfabetas é 2,5 vezes maior do que para mulheres brancas. Nessas primeiras, também a mortalidade materna em consequência de aborto é 5,5 vezes maior do que na categoria de mulheres com 12 ou mais anos de escolaridade (GOLLOP, 2009). O aborto é uma das principais causas de morte materna no mundo, e sua maior incidência acontece em países em desenvolvimento. Estima-se que no Brasil ocorram mais de um milhão de abortamentos ao ano. Vulnerabilidades, desigualdades de gênero e de acesso à educação, além das múltiplas dimensões da pobreza, como o déficit de recursos econômicos e a dificuldade de acesso à informação e direitos humanos fazem com que o aborto clandestino e/ou inseguro atinja, especialmente, as mulheres pobres e marginalizadas (BRASIL, 2010). Nesta perspectiva, a prevenção da mortalidade materna por aborto depende da existência de serviços de saúde estruturados nos vários níveis de assistência, para garantir atendimento às mulheres (DOMINGOS; MERIGHI, 2010).
Conforme Diniz e Medeiros (2010), os níveis de hospitalização pós-aborto no Brasil são elevados. Em média, 50% das mulheres que realizaram aborto e recorreram ao sistema de saúde foram internadas devido a complicações. Parte significativa dessas internações poderia ter sido evitada se o aborto não fosse tratado como atividade clandestina e o acesso aos medicamentos seguros fosse garantido.
O aborto pode implicar em sequelas à saúde física, mental e reprodutiva da mulher. Dentre as complicações físicas imediatas estão as hemorragias, infecções, perfurações de órgãos e infertilidade, que se somam aos transtornos subjetivos, ao se vivenciar o ônus de uma escolha inegavelmente difícil em um contexto de culpabilização e penalização do aborto (BRASIL, 2010).
Estudo realizado com mulheres baianas sobre aborto induzido evidencia como as mulheres vivenciam este tipo de aborto, revelando um processo amplamente doloroso, desde o momento em que descobre a gestação, perpassando pela complexa decisão de interrompê-la. Quando não são apoiadas, essas mulheres perpetuam essa dor com angústia e culpa, o que pode levar à depressão. Apesar dos vários avanços nas discussões e estudos sobre o aborto induzido, é preciso ampliar as reflexões sobre essa temática a fim de melhorar a atenção à saúde das mulheres que decidem pelo aborto
Referências
ALMEIDA, H. B. Aborto: o grande tabu no Brasil. Católicas pelo Direito de Decidir. 2012. Disponível em: <http://www.catolicas.org.br/noticias/conteudo.asp?cod=3409>. Acesso em: 28 mar 2012. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência em Planejamento Familiar: Manual Técnico. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. 4. ed. 2002. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0102assistencia1.pdf>. Acesso em: 16 abr 2012. 
_______. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: princípios e diretrizes. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. 2007a. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2007/politica_mulher.pdf>. Acesso em: 2 mar. 2012.

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