Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
68 Unidade II Unidade II 5 PROGRAMAS DE PREVENÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 5.1 Cuidados do pré‑natal e do nascimento Desde 2004, o SUS vem aprimorando os cuidados da saúde da mulher através da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, com ações que integrem todos os níveis de atenção, promoção, prevenção e assistência à saúde da mulher. Saiba mais Para saber um pouco mais sobre as ações do SUS relacionadas à saúde da mulher, consulte o portal do Ministério da Saúde através do endereço eletrônico indicado a seguir. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde da mulher. [s.d.]b. Disponível em: <http:// portalms.saude.gov.br/saude‑para‑voce/saude‑da‑mulher>. Acesso em: 18 jul. 2019. Atenção especial tem sido dada para ampliar a abordagem dos cuidados no período pré‑natal, visando reduzir a mortalidade materno‑infantil não só durante o parto como também no período pós‑parto, o chamado puerpério. O principal objetivo dos cuidados no período pré‑natal é acolher a mulher desde o início da gravidez para, ao final da gestação, garantir o nascimento de uma criança saudável e, consequentemente, o bem‑estar materno e neonatal. Uma atenção no pré‑natal e no puerpério qualificada e humanizada se dá por meio da incorporação de condutas acolhedoras e sem intervenções desnecessárias. Associado a isso, tem grande importância a facilidade de acesso a serviços de saúde de qualidade, com ações que integrem todos os níveis da atenção, promoção, prevenção e assistência à saúde da gestante e do recém‑nascido, desde o atendimento ambulatorial básico ao atendimento hospitalar para alto risco. Mas, afinal, quando de fato devem ser iniciados os cuidados pré‑natais? A OMS recomenda que as gestantes devem realizar a primeira consulta nos primeiros 120 dias da gestação. Esse cuidado é considerado ideal quando são realizadas, no mínimo, de seis a oito consultas de pré‑natal, sendo: • duas consultas no primeiro trimestre; • duas no segundo trimestre; • três no terceiro trimestre da gestação. 69 FISIOTERAPIA PREVENTIVA A realização de encontros frequentes entre as mulheres e os profissionais de saúde durante a gravidez facilita a atuação dos profissionais da saúde para aplicar medidas preventivas, detectar riscos e, assim, reduzir complicações. Esse contato da gestante com seu provedor de saúde pré‑natal deve constituir mais que uma simples visita, trata‑se da prestação de cuidados e de apoio durante a gravidez. Logo, é de suma importância que os itens citados a seguir façam parte desse cuidado pré‑natal. • Aconselhamento sobre alimentação saudável e manutenção de atividades físicas durante a gravidez. • Suplementação diária (por via oral) de ferro e ácido fólico para evitar anemia materna, sepse puerperal, baixo peso do bebê e nascimento pré‑termo (antes do tempo). • A vacinação contra tétano é recomendada para todas as gestantes, dependendo da exposição anterior à vacinação, para evitar a mortalidade neonatal por tétano. • Prevenção de malária e HIV. • Uma ultrassonografia antes das primeiras 24 semanas da gestação é recomendada para se estimar a idade gestacional, melhorar a detecção de anomalias fetais e gravidezes múltiplas, além de reduzir a indução do parto em uma gravidez pré‑termo e melhorar a experiência de gestação para as mulheres. • Os profissionais de saúde devem perguntar a todas as mulheres grávidas se fazem uso de álcool, tabaco e outras substâncias (passado e presente) o mais cedo possível durante a gravidez e em cada visita pré‑natal. • Os profissionais também orientam as gestantes sobre como lidar com sintomas fisiológicos comuns a essa fase como náuseas, dores nas costas, constipação e outros. Lembrete A sepse (ou sépsis) era conhecida antigamente como septicemia ou infecção no sangue. Atualmente, é mais conhecida como infecção generalizada que se espalha pelo corpo na tentativa de combater um microrganismo. A sepse pode levar a queda da pressão arterial, alteração no funcionamento do coração, falência de múltiplos órgãos e morte. No nascimento, há alguns riscos para a mãe e para o bebê. Esses riscos estão associados a fatores como: cesariana, mães adolescentes, bebês com baixo peso ao nascer, mães com baixa escolaridade, bebês que sofrem asfixia ao nascer. A fim de evitar tais riscos é que essa mãe deve ser totalmente preparada ao longo do período pré‑natal. A cesariana, também chamada de parto cesário ou cesária, é uma forma de parto feita através de cirurgia. A cesária ainda é a via mais comum de parto no Brasil, apesar de o parto normal (parto vaginal) ser considerado pela OMS e por diversas entidades médicas a melhor forma de o bebê nascer. Dentre as 70 Unidade II vantagens da cesária, além dos pais poderem escolher a data e a hora do nascimento, podemos citar as listadas a seguir. • Impede a ocorrência de nascimentos pós‑termo (com mais de 42 semanas de gestação), o que está associado a um maior risco de problemas para o neonato. • Elimina o risco de complicações relacionadas ao processo de trabalho no parto vaginal, como lesão do plexo braquial relacionado a distorção de ombro, traumas ósseos (fratura de clavícula, crânio e úmero) ou asfixia provocada por complicações intraparto. • Reduz o risco, a longo prazo, de prolapso uterino ou de bexiga e incontinência urinária na mãe. Contudo, entre a desvantagens, podemos citar: • maior risco de infecções; • maior risco de trombose dos membros inferiores; • maior risco de hemorragias; • maior risco de reações aos anestésicos; • recuperação mais prolongada após o trabalho de parto; • maior incidência de dor no pós‑operatório. Em relação ao bebê, o parto cesariano acarreta um maior risco de problemas respiratórios no pós‑parto imediato, como a taquipneia transitória do neonato. Nesse contexto, é possível observar que o cuidado a gestante é muito mais completo quando realizado por uma equipe multiprofissional em saúde. O psicólogo atua auxiliando essa mulher a lidar com as alterações emocionais e com os novos desafios que estão por vir. A equipe de enfermagem, que é o alicerce do médico, orienta essa futura mãe em diversos aspectos, desde medicamentos que são possíveis tomar em casos de desconforto e vacinas que devem ser tomadas até o ensino de técnicas de amamentação que podem ser empregadas a fim de facilitar a adaptação entre mãe e filho nos primeiros dias de vida do bebê. O nutricionista é o profissional responsável por orientar essa gestante a conhecer mais sobre alimentação saudável, proporcionando informações que ela poderá usar no futuro com seu filho, além de elaborar um plano alimentar que evite o ganho de peso em excesso durante a gravidez sem deixar de contemplar todas as necessidades nutricionais tão importantes para a saúde de ambos. O fisioterapeuta tem sido um profissional cada vez mais importante para a gestante, pois adota medidas não farmacológicas e não invasivas para o alívio de dores musculares (principalmente a lombalgia). Entre elas, podemos citar a eletroestimulação nervosa transcutânea (Tens), além de técnicas de manuais associadas a massoterapia e acupuntura. 71 FISIOTERAPIA PREVENTIVA A fisioterapia também busca reequilibrar as alterações posturais decorrentes do crescimento do abdômen e pode usar recursos como a hidroterapia e a cinesioterapia. Técnicas respiratórias e de relaxamento também são ensinadas nessa fase, em associação a uma série de outras orientações, para que a gestante possa ter noites de sono adequadas, mantendo‑se ativa e sem dores durante toda a gestação. A drenagem linfática é outro recurso comumente empregado pelos fisioterapeutas para minimizar o edema de membros inferiores, algo que pode ser bem incômodo, principalmente após o sétimo mês de gestação. Recentemente, a atuação do fisioterapeuta se estendeu também ao momento do trabalho de parto, quando as gestantes comumente sentem muitas dores provenientes das contrações do útero: o fisioterapeuta atua na primeira fase com métodos não farmacológicospara aliviar a dor e a ansiedade da parturiente, uma vez que esses outros mecanismos podem prejudicar o feto e afetar a progressão fisiológica do trabalho de parto. Após o nascimento, os cuidados continuam com a gestante, que passará por mudanças em seu corpo e precisará da equipe para orientá‑la quanto à forma correta de cuidar do bebê. Contudo, os cuidados são redobrados com o recém‑nascido, e diversas ações do SUS têm sido voltadas para a redução da mortalidade infantil, ainda elevada no Brasil, assim como para a promoção de melhor qualidade de vida e diminuição das desigualdades em saúde. É na primeira semana de vida, em especial no primeiro dia de vida (representando 25% dos casos), que se concentram as mortes infantis no Brasil. Já na sala de parto, logo após o nascimento, a equipe de enfermagem realiza uma série de avaliações do recém‑nascido (RN) para garantir o diagnóstico precoce de algo inadequado e iniciar tratamento imediato. Inicialmente, é realizada a avaliação da idade gestacional: • pré‑termo: idade gestacional inferior a 37 semanas; • prematuridade extrema: inferior a 28 semanas de gestação (os bebês encontram‑se no limite de viabilidade e necessitam de cuidados sofisticados e intensivos); • prematuridade grave: entre 28 semanas e 30 semanas de gestação (apresentam algumas vantagens fisiológicas, entretanto exigem a mesma qualidade na assistência); • prematuridade moderada: de 31 semanas a 33 semanas de gestação; • prematuridade quase‑termo: entre 34 semanas e 36 semanas; • a termo: idade gestacional entre 37 semanas e 41 semanas e 6 dias; • pós‑termo: idade gestacional igual ou maior que 42 semanas. 72 Unidade II A avaliação do peso é de fundamental importância, sendo considerado recém‑nascido de baixo peso todo aquele que nasce com peso inferior a 2.500 g. Nesse critério estão incluídos tanto os prematuros quanto os RN a termo com crescimento intrauterino restrito. Para mensurar a vitalidade do RN, é realizado um teste muito importante chamado de índice de Apgar. Tal método foi proposto por Virginia Apgar, entre 1953 e 1958, tendo sido muito útil no julgamento da necessidade da ressuscitação do RN. São avaliados cinco sinais objetivos, com 1 minuto de vida e com 5 minutos, gerando uma pontuação que varia de 0 a 10. Existe um consenso de que um escore de Apgar entre 7 e 10 significa uma criança sadia, que provavelmente não terá problemas futuros. Quando esse valor é inferior a 7, toma‑se como um sinal de alerta para atenção especial. Vale ressaltar que há diferentes níveis de escore de Apgar baixo, de acordo com alterações fisiopatológicas, e também que a idade gestacional em que é realizado o nascimento pode influenciar no escore de Apgar. Além das próprias condições do RN, as condições maternas também podem influir no escore, como medicações. No caso do RN, influenciam fatores como malformações neuromusculares ou cerebrais e condições respiratórias. Quadro 8 – Índice de Apgar 0 1 2 Frequência cardíaca ausente <100 >100 Respiração ausente fraca, irregular forte, choro Tônus muscular flácido alguma flexão movimentos ativos Irritabilidade reflexa sem resposta caretas choro forte Cor da pele pálida ou cianótica rósea com cianose de extremidades completamente rósea Adaptado de: São Paulo (2018). Os escores de Apgar, o peso ao nascer e a idade gestacional são altamente associados à sobrevivência e, em combinação, são uma medida do sucesso da reanimação, do bem‑estar, do tamanho e da maturidade do RN. Outro teste realizado no neonato é a triagem neonatal, mais conhecida como teste do pezinho. Trata‑se de um exame laboratorial realizado entre o terceiro e quinto dia de vida do RN, feito a partir de gotas de sangue colhidas do calcanhar. Por ser uma parte do corpo rica em vasos sanguíneos, o material pode ser colhido através de uma única punção, rápida e quase indolor para o bebê. Por meio desse exame, é possível detectar precocemente doenças metabólicas, genéticas e infecciosas que podem causar sequelas irreparáveis no desenvolvimento mental e físico da criança. Em 2012, o SUS universalizou a triagem neonatal em todo o território brasileiro e passou a testar seis doenças (fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doença falciforme, fibrose cística, deficiência 73 FISIOTERAPIA PREVENTIVA de biotinidase e hiperplasia adrenal congênita). Atualmente é obrigatório que todo RN faça esse teste e, assim que detectada alguma doença, os profissionais de saúde entram em contato com os pais para iniciar o tratamento o mais rápido possível, prevenindo possíveis sequelas no desenvolvimento neuropsicomotor do bebê. Outra avaliação muito importante que é realizada no período pós‑parto é a avaliação antropométrica, em que a altura, o perímetro cefálico e o perímetro torácico do RN são analisados. O perímetro cefálico (PC) varia conforme a idade gestacional do bebê. Assim, na maioria das crianças que nascem após nove meses de gestação, o PC de 33 cm é considerado normal para a população brasileira, sendo 32 cm o limite inferior proposto pela OMS e podendo haver alguma variação para menos dependendo das características étnicas e genéticas da população. Trata‑se de uma avaliação de extrema importância para auxílio no diagnóstico de microcefalia relacionada a infecção por zika vírus. O perímetro torácico também é avaliado, sendo feito após o recém‑nascido ter inspirado, antes do início da expiração. Em geral, mede cerca de 2 cm menos que o perímetro cefálico, ou seja, em média de 30 a 33 cm. 5.2 Programas de imunização e principais vacinas A vacinação infantil é um meio para prevenir doenças que garante uma imunização duradoura, impedindo a circulação da bactéria ou do vírus causador de doenças graves como varicela (catapora), pneumonias, meningites, sarampo, gripe (influenza), rubéola e hepatites, entre outras. É realmente muito importante para prevenir doenças infecciosas no bebê porque o seu sistema imunológico é ainda imaturo. É a partir da vacinação que as células do RN passam a produzir os anticorpos, que vão protegê‑lo contra inúmeras doenças causadas por vírus ou bactérias. Os bebês prematuros nascidos com menos de 37 semanas de gestação merecem atenção especial, pois são ainda mais suscetíveis a doenças. Com relação a tal assunto, o Brasil é um país reconhecidamente avançado em termos de programas e campanhas de vacinação, e o SUS fornece todas as vacinas gratuitamente, seja nos hospitais e maternidades ou nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), além das campanhas nacionais de vacinação. No Brasil, desde o início do século XIX, as vacinas são utilizadas como medida de controle de doenças. No entanto, somente a partir do ano de 1973 é que se formulou o Programa Nacional de Imunizações (PNI), regulamentado pela Lei Federal n. 6.259, de 30 de outubro de 1975, e pelo Decreto n. 78.321, de 12 de agosto de 1976, que instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE). O PNI organiza toda a política nacional de vacinação da população brasileira e tem como missão o controle, a erradicação e a eliminação de doenças imunopreviníveis. É considerado uma das principais e mais relevantes intervenções em saúde pública no Brasil, em especial pelo importante impacto obtido na redução de doenças nas últimas décadas. 74 Unidade II Observação Através das vacinas algumas doenças podem ser erradicadas por completo, não causando mais doença em nenhum local do mundo. A varíola é a única doença já erradicada mundialmente. Seu último registro no mundo é de 1977. As vacinas ofertadas na rotina dos serviços de saúde são definidas nos calendários de vacinação, nos quais estão estabelecidos: • os tipos de vacina; • o número de doses do esquema básico e dos reforços; • a idade para a administração de cada dose; • o intervalo entre uma dose e outra no caso do imunobiológico cuja proteção exija mais de uma dose. Considerando o risco, a vulnerabilidade e as especificidades sociais, o PNI define calendáriosde vacinação com orientações específicas para crianças, adolescentes, adultos, gestantes, idosos e indígenas. As vacinas recomendadas para as crianças têm por objetivo proteger esse grupo o mais precocemente possível, garantindo o esquema básico completo no primeiro ano de vida e os reforços e as demais vacinações nos anos posteriores. Quadro 9 – Vacinas que devem ser dadas a bebês do nascimento ao 15º mês de vida Ao nascer 1º mês 2º mês 4º mês 6º mês 12º mês 15º mês Tuberculose (BCG) vacinar Hepatite B vacinar vacinar vacinar Difteria Tétano Coqueluche vacinar vacinar vacinar vacinar Poliomielite vacinar vacinar vacinar vacinar Sarampo Rubéola Caxumba vacinar Febre amarela vacinar Adaptado de: Ministério da Saúde (2012). 75 FISIOTERAPIA PREVENTIVA 5.3 Abordagem fisioterapêutica na estimulação precoce A estimulação precoce (EP) pode ser definida como um programa de acompanhamento e intervenção clínico‑terapêutica multiprofissional com bebês de alto risco e crianças pequenas acometidas por patologias. Busca‑se o melhor desenvolvimento possível através da atenuação de sequelas do desenvolvimento das habilidades motoras, além de se estimular a aquisição da linguagem, na construção da socialização, na estruturação do vínculo entre mãe e bebê e na compreensão e no acolhimento familiar dessas crianças. O desenvolvimento infantil pode ser definido como um processo multidimensional e integral que se inicia no período da formação do embrião, desenvolvendo‑se durante o crescimento do feto ao longo da gestação até o nascimento do bebê. Sua transformação em criança engloba o crescimento físico, a maturidade neurológica, o desenvolvimento comportamental, sensorial, cognitivo e de linguagem, assim como as relações socioafetivas. Tem como efeito tornar a criança capaz de responder às suas necessidades e as do seu meio, considerando seu contexto de vida. Portanto, qualquer programa de estimulação precoce inclui desde a concepção até a criança completar três anos de idade. Por conta de tantos aspectos envolvidos no desenvolvimento infantil, é comumente usado o termo desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM). Vale ressaltar que há uma pluralidade de fatores e dimensões envolvidos com o desenvolvimento infantil que se expressam nas vivências e nos comportamentos dos bebês e das crianças, nos modos como agem, reagem e interagem com objetos, pessoas, situações e ambientes. Nesse âmbito, é fundamental que os profissionais envolvidos em EP saibam não somente conhecer a relação entre a idade cronológica com cada etapa do DNPM em si, já que desenvolvimento da criança não depende apenas da maturação do sistema nervoso central (SNC), mas também de vários outros fatores (biológicos, relacionais, afetivos, simbólicos, contextuais e ambientais). O quadro a seguir mostra alguns exemplos de condições biológicas que podem gerar risco para o DNPM. Quadro 10 – Condições biológicas e DNPM Prematuridade Asfixia perinatal Hemorragia periventricular Displasia broncopulmonar Distúrbios químicos do sangue (hipoglicemia, policitemia, hiperbilerrubinemia) Malformações congênitas (mielomeningocele) Infecções congênitas ou perinatais (zika vírus, toxoplasmose, sífilis, HIV, rubéola, citomegalovírus, herpes) Restrição ao crescimento uterino Mães usuárias de drogas Adaptado de: Ministério da Saúde (2016). Essas condições, explicitadas no quadro anterior, são problemas de saúde que levam a lesões não progressivas no sistema nervoso central do feto ou da criança em desenvolvimento. Essas lesões se 76 Unidade II tornam desordens permanentes, como déficits da audição e da visão associadas a outras disfunções que são relativas ao desenvolvimento do movimento e da postura que afetam a aquisição das habilidades de cada fase do DNPM. Esses distúrbios do movimento e da postura são usualmente acompanhados de distúrbios de sensação, percepção, cognição, comunicação e comportamento, sendo, por muitas vezes, também associados a epilepsia. Quando observamos o comportamento de um bebê vemos que os movimentos são um pouco rígidos, dando a impressão de que são descoordenados. Isso acontece porque ao longo do primeiro ano de vida os movimentos dos bebês são apenas reflexos que aparecem e desaparecem de acordo com os acontecimentos ao redor e conforme a evolução do sistema nervoso central. Aos poucos, esses movimentos reflexos progridem para movimentos voluntários que se tornam mais organizados e coordenados. O desenvolvimento dessas novas habilidades de movimentos acontece através da formação de novas redes de neurônios mediadas por novas sinapses a partir das experiências sensório‑motoras vividas pelo bebê. As etapas do DNPM evoluem gradualmente e de forma organizada, sendo cada uma necessária para a aquisição da próxima. Por exemplo, quando o bebê tenta equilibrar a cabeça, posteriormente tentará equilibrar também o tronco, e o treino dessas atividades ajuda a criança a desenvolver a capacidade de permanecer sentada. Alterações quanto à sequência de eventos podem ocorrer, como andar antes do engatinhar, mas mesmo assim a ordenação das aquisições motoras apresenta uma interdependência e uma hierarquia. O acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento das crianças no território nacional é realizado pelas equipes do SUS de Atenção Básica, principalmente pelas equipes de Saúde da Família e equipes do Núcleo da Apoio à Saúde da Família (Nasf). Saiba mais Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf) foram criados em 2008 com o objetivo de apoiar a consolidação da Atenção Básica no Brasil. Os núcleos são compostos por equipes multiprofissionais que atuam de forma integrada para a construção conjunta de projetos terapêuticos com foco prioritário nas ações de prevenção e promoção da saúde. Você pode saber mais sobre o Nasf acessando a página do governo, indicada a seguir. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf). [s.d.]a. Disponível em: <http://www.saude.gov.br/acoes‑e‑programas/ saude‑da‑familia/nucleo‑de‑apoio‑a‑saude‑da‑familia‑nasf>. Acesso em: 18 jul. 2019. Os profissionais que fazem parte dessas equipes devem estar atentos às necessidades de cuidado de mães, pais, bebês, famílias e cuidadores. Ademais, tais equipes ficam próximas do cotidiano das pessoas, observando e reestruturando o ambiente e o domicílio, com foco na resolução de barreiras 77 FISIOTERAPIA PREVENTIVA e busca de facilitadores do desenvolvimento infantil presente nas comunidades em que tais famílias vivem. É importante também considerar a participação de outros serviços sociais, não somente da saúde (serviços da assistência social, escolas, creches e projetos de economia solidária, entre outros). Os profissionais envolvidos realizam uma avaliação observacional da motricidade do bebê, do tônus muscular, das reações e dos reflexos primitivos, além de observação do desenvolvimento motor normal e avaliação por meio de instrumentos padronizados de medidas motoras. Após uma detalhada avaliação do estado do DNPM, além de todos os fatores sociais e familiares da criança, é então realizado o planejamento da EP como início de um programa de reabilitação, estruturando os objetivos a serem alcançados em curto e médio prazo. A seguir temos um resumo das fases do DNPM conforme a idade cronológica. Quadro 11 – Fases da DNPM Idade Indicador de desenvolvimento 1º mês Postura característica do bebê em supino: membros flexionados, cabeça oscilante, comumente mais lateralizada, mãos fechadas. As pernas geralmente fletidas sobre o abdome. O tronco apresenta característica mais hipotônica, com ausência de equilíbrio cervical e de tronco. 3º mês Melhor controle cervical, consegue manter a cabeça na linha média. Acompanha objetos visualmente com movimentos de rotação da cabeça para ambos os lados, a mais de 180º. Os movimentos dos olhos e cabeça já são, muitas vezes, simultâneos e coordenados. 6º mês A criança já tem domínio sobre os movimentos rotacionais, denotandocontrole sobre as transferências de decúbito como o rolar. Supino: rola para prono, levanta a cabeça espontaneamente. Em posição sentada: é capaz de manter‑se nessa postura com apoio, por longo tempo, ainda com cifose lombar. Apoia as mãos à frente do corpo pela reação de proteção para frente. 9º mês Engatinha e realiza transferências de sentado para a posição de gato e vice‑versa. Começa a assumir a posição de joelhos e fica de pé com apoio. 12º mês Capaz de elevar‑se estendendo ativamente membros inferiores; transfere da posição ortostática para sentado dissociando movimentos de membros inferiores; inicia ficar de pé sem apoio; primeiros passos independentes. Começar a andar sem apoio antes dos 12 meses ou até os 18 meses pode ser considerada dentro da faixa de normalidade. 18º mês Ganho gradativo de equilíbrio, reduz base de suporte durante a marcha. Refinamento das habilidades motoras grossas e habilidades manipulativas. Sobe e desce escadas engatinhando ou apoiada pelas mãos. Ajoelha‑se só. 2 anos Fica sentada sozinha numa cadeira. Sobe e desce escadas segurando‑se no corrimão. Começa a saltar sobre os dois pés. 3 anos Sobe escadas alternando movimento de membros inferiores (coloca um pé de cada vez no degrau, apenas para subir). Consegue se manter em pé sobre uma única perna. Salta no mesmo local com ambos os pés. Anda de triciclo. Adaptado de: Ministério da Saúde (2016). Após uma avaliação multiprofissional criteriosa, a EP é iniciada com alguns objetivos: • avaliar o potencial de cada criança inserida no programa por meio da estimulação em nível ambulatorial e também em seu ambiente natural, estabelecendo o tipo, o ritmo e a velocidade dos estímulos e designando, na medida do possível, um perfil de reação; 78 Unidade II • potencializar a contribuição dos pais ou responsáveis de modo que eles interajam com a criança de forma a estabelecer mutualidade precoce na comunicação e no afeto, prevenindo o advento de patologias emocionais e sinestésicas; • promover um ambiente favorável para o desempenho de atividades que são necessárias para o desenvolvimento da criança; • oferecer orientações aos pais e à comunidade quanto às possibilidades de acompanhamento desde o período neonatal até a fase escolar. Figura 28 – A bola suíça sendo utilizada como recurso terapêutico para estimulação do controle cervical 5.4 Prevenção de acidentes domésticos Acidentes com crianças que ocorrem dentro ou ao redor da casa são uma das principais causas de morte e incapacidade para crianças menores de cinco anos ao redor do mundo. Quedas, lesões térmicas e envenenamentos são as causas mais comuns de atendimentos em pronto‑socorro e internações hospitalares. A OMS aponta que um milhão de crianças até os 14 anos morrem em decorrência de acidentes domésticos todos os anos. Mais de 90% dessas mortes acontecem nos países em desenvolvimento. Cerca de 50 milhões ficam com sequelas permanentes. No Brasil, 16 crianças morrem por dia em consequência de acidentes domésticos, sendo estimado que 380 crianças sejam internadas em hospitais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Do nascimento até os cinco anos, mudanças rápidas no desenvolvimento ocorrem, o que pode resultar em crianças suscetíveis a lesões temporárias. Os padrões e tipos de lesões estão relacionados às idades e fases do desenvolvimento infantil. À medida que as crianças desenvolvem mobilidade, capacidade cognitiva e compreensão receptiva, os pais precisam antecipar os riscos de lesão e desenvolver estratégias para minimizar o risco. 79 FISIOTERAPIA PREVENTIVA As mães se sentem mais seguras quando estão perto de seus filhos. No entanto, não podem estar presentes o tempo todo e acabam deixando os filhos para serem cuidados por outras pessoas, como avós, tias, babás e empregadas domésticas. Com todos esses cuidadores, muitas pesquisas realizadas mostraram que há uma preocupação muito maior em ser capaz de solucionar os problemas quando esses ocorrem, por exemplo, com ações de primeiros socorros, do que propriamente agir preventivamente (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Prevalece a percepção de que “acidentes” seriam quase (ou ao menos na maioria das vezes) “inevitáveis”, “fatalidades”, e que, por mais que se tomem cuidados e medidas preventivas, a criança não estaria livre deles. A falta de informação a respeito da importância de prevenir acidentes domésticos tem sido apontada como uma das maiores barreiras para a implantação de medidas preventivas em todos os lares brasileiros. Dentre as medidas básicas que podem trazer mais segurança podemos citar: • instalar portões nas extremidades das escadas; • instalar grades ou telas de proteção em janelas, sacadas e terrações; • não deixar móveis como cadeiras, sofás e camas próximos à janelas; • não deixar móveis como cadeiras, sofás e camas próximas a armários e estantes, pois as crianças tendem a querer subir ou escalar; • crianças menores de seis anos não devem dormir em beliches, sendo recomendado uso de grades nos beliches até os 14 anos de idade; • proteger as tomadas elétricas e orientar as crianças a não colocar os dedos nas tomadas; • deixar os ambientes bem iluminados; • deixar piscinas cobertas ou rodeadas com grades; • não deixar as crianças próximas ao ferro de passar roupa quando em uso e, mesmo que desligado, não deixar em uma altura acessível para elas; • para que uma criança se afogue, bastam 2,5 cm de profundidade de água, portanto, não devemos deixar crianças circularem perto de baldes, bacias e tanques com água; • não deixar remédios ao alcance de crianças; • não colocar produtos de limpeza ou produtos químicos em embalagens de refrigerantes ou de alimentos, pois as crianças podem confundir e engolir (além disso, produtos de limpeza e outros produtos químicos devem ficar longe do alcance de crianças); 80 Unidade II • não deixar crianças atravessarem as ruas sozinhas, essa capacidade só é adquirida após os dez anos de idade; • não deixar abertas portas e portões que dão saída para a rua; • não deixar crianças usarem elevadores sozinhas; • sempre orientar as crianças sobre os riscos de acidentes que todas essas situações citadas podem causar. Observação O uso de andadores é contraindicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, pois gera um risco de quedas. Além disso, o uso de andador pode comprometer o desenvolvimento musculoesquelético da criança devido ao posicionamento inadequado das articulações. 5.5 Prevenção no ambiente escolar (alterações posturais) A infância é o período em que aparecem alterações posturais relacionadas aos distúrbios de caráter anatomofuncional que se manifestam por causa do estirão de crescimento. As alterações posturais têm início na idade precoce, e sua principal causa seria o mobiliário escolar inadequado, assim como a maneira errada de carregar objetos ou carregar mochilas com excesso de material escolar por longos períodos, podendo acarretar durante a vida sérios problemas posturais. A posição sentada é considerada a mais prejudicial para a coluna, provocando aumento da pressão no interior dos discos intervertebrais, porém, sentar‑se apoiando o tronco diminui a pressão intradiscal e parte do peso corporal é transferida para o encosto; assim, o hábito de sentar na cama ou no sofá sem um bom apoio para a coluna poderá promover aumento das curvaturas da coluna vertebral. O uso contínuo de computadores, tablets e telefones celulares estimula os adolescentes a permanecerem sentados por um tempo prolongado em uma mesma posição, o que pode favorecer, a longo prazo, problemas na coluna. A escoliose, por exemplo, é uma condição que atinge mais de 20% da população infantil, instalada por uma causa inicial associada ao estirão de crescimento; contudo, em 75% dos casos poderia ser evitada pela educação postural iniciada precocemente. 5.6 Prevenção no adolescente A adolescência diz respeito à passagem da infância para a idade adulta que compreende o período entre 10 anos e 19 anos de idade.É uma fase dinâmica e complexa, merecedora de atenção especial no sistema de saúde, uma vez que essa etapa do desenvolvimento define padrões biológicos e de comportamento que irão se manifestar durante o resto da vida do indivíduo. 81 FISIOTERAPIA PREVENTIVA O crescimento e o desenvolvimento são eventos geneticamente programados, da concepção ao amadurecimento completo, contudo condições intrínsecas ao próprio indivíduo associadas a outros elementos, como circunstâncias ambientais, podem levar a alterações nesse processo. Fatores climáticos, socioeconômicos, hormonais, nutricionais e sobretudo psicossociais são algumas das possíveis causas de modificação do crescimento, do desenvolvimento e do comportamento que podem marcar a vida adulta. Em 2016, o Brasil tinha registrado a presença de 68 milhões de crianças e adolescentes entre zero e 19 anos de idade, sendo que mais de um terço deles se concentra na região Sudeste (FUNDAÇÃO ABRINQ, [s.d.]). O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) mostra a importância de programas de proteção integral para as crianças e os adolescentes e assegura o atendimento integral a eles através do SUS, garantindo um acesso universal e igualitário aos serviços de prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde. No acompanhamento da saúde do adolescente, é fundamental que se trabalhe com a detecção da velocidade dessas mudanças, tendo em vista que o seu acompanhamento é um sensível detector de possíveis agravos que podem retardar o desenvolvimento físico. Visando a uma abordagem mais assertiva, o país conta com a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens para apontar a importância da construção de estratégias entre diversos setores (economia, saúde e educação) para contribuir para que seja possível reduzir a vulnerabilidade dos nossos adolescentes e de jovens e, assim, garantir um desenvolvimento saudável desse grupo populacional. 5.6.1 Métodos de prevenção e principais consequências da reprodutividade na adolescência A puberdade refere‑se às alterações biológicas que possibilitam o completo crescimento, desenvolvimento e maturação do indivíduo, assegurando a capacidade de reprodução e preservação da espécie. É caracterizada pelas mudanças biológicas estimuladas pelos hormônios do eixo hipotálamo‑hipófise‑gônadas, e boa parte desses hormônios tem um papel importante no controle do crescimento longitudinal da criança e do adolescente, bem como na distribuição do tecido adiposo e no metabolismo de proteínas, carboidratos, lipídios, minerais e água. Os hormônios relacionados à vida sexual e reprodutiva entram em ação. Nas meninas o estrogênio e a progesterona são os responsáveis pelo surgimento das características sexuais secundárias, enquanto nos meninos a testosterona é o hormônio responsável pela produção de espermatozoides, pelo aumento do impulso sexual, da agressividade, do crescimento em altura e da força física, entre outros. A puberdade feminina tem início entre os 10 anos e os 11 anos de idade, com o surgimento dos brotos mamários; concomitantemente, aparecem os pelos púbicos. A puberdade masculina tem início por volta dos 11 anos ou 12 anos, havendo primeiramente um pequeno aumento dos testículos junto com o aparecimento dos primeiros pelos pubianos, e, posteriormente, o crescimento do pênis, inicialmente em comprimento, depois em diâmetro. 82 Unidade II A iniciação sexual acontece frequentemente nesse período, o que tem sido motivo de preocupação, seja pela possibilidade de disseminação de doenças sexualmente transmissíveis ou pela gravidez não planejada. O Ministério da Saúde mostra que a taxa de gestação na adolescência foi de 18% dos nascidos vivos em 2015, e que a gravidez na adolescência é mais frequente entre as populações de menor renda familiar e com baixa escolaridade. Esse grupo inicia a vida sexual, engravida e dá à luz mais precocemente quando comparado aos demais grupos de mulheres (FUNDAÇÃO ABRINQ, [s.d.]). O Ministério da Saúde tem implementado ações para reduzir os casos de gravidez não planejada com a divulgação de ações sobre educação em saúde e educação sexual, além de planejamento e direitos reprodutivos. Hoje 66% das gravidezes em adolescentes são indesejadas. Além de ensinar métodos anticoncepcionais, a educação em saúde como um todo mostra aos adolescentes a importância de fazer consultas médicas com frequência a fim de buscar informações corretas sobre os melhores métodos anticonceptivos – além de outros cuidados em saúde – para que o adolescente não faça escolhas que coloquem sua saúde em risco. Entre os métodos anticoncepcionais disponíveis atualmente, a seguir listamos os principais. • DIU de cobre: trata‑se de um pequeno dispositivo de plástico revestido de cobre que é colocado no interior da cavidade uterina. Ele pode ser retirado se a mulher desejar engravidar. Vale lembrar que este método não provoca aborto. • DIU de progesterona: é um dispositivo intrauterino que libera hormônio dentro do útero. Ele deve ser inserido por um médico e é eficaz por até cinco anos, quando deve ser trocado. O dispositivo pode ser retirado a qualquer momento e pode ser utilizado durante a amamentação. • Implante: é um método de contracepção hormonal. Um pequeno bastão é inserido na parte interna do braço, embaixo da pele. Ele é eficaz por três anos. Nesse período, inibe a ovulação e a menstruação pode ficar irregular ou até mesmo ser suspensa. O implante pode ser retirado a qualquer momento que a mulher desejar. • Injetável mensal: contém progesterona e é aplicado de 28 em 28 dias, sem interrupções. • Injetável trimestral: também contém progesterona e é aplicado de 90 em 90 dias. Pode causar a suspensão da menstruação. Após o término do efeito da injeção, a fertilidade volta a sua normalidade em curto prazo. Esse método pode ser usado durante a amamentação, porém deve ser iniciado seis semanas após o parto. • Pílula de progesterona: também chamada de minipílula, é um anticoncepcional oral feito apenas de progesterona. Pode ser usada por uma ampla variedade de mulheres, por não ter muitas contraindicações, inclusive aquelas que estão amamentando, mas seu uso só pode ser iniciado seis semanas após o parto. 83 FISIOTERAPIA PREVENTIVA • Pílula combinada: contém dois hormônios: estrogênio e progesterona e devem ser tomadas diariamente no mesmo horário. A interrupção entre uma cartela e outra deve ser feita conforme orientação da bula. É contraindicada para mulheres com mais de 35 anos, tabagistas e portadoras de enxaqueca com aura, além de não poderem ser usadas durante a amamentação, pois interferem na produção do leite materno. • Pílula anticoncepcional de emergência (pílula do dia seguinte): é indicada para uso apenas em casos de emergência, até 72 horas após a relação sexual desprotegida. Ela evita a gravidez não desejada, impedindo ou retardando a ovulação e diminuindo a capacidade dos espermatozoides de fecundarem o óvulo. Ela não é abortiva e pode ser usada por qualquer mulher em idade fértil. Contudo, atenção: ela não deve ser usada como rotina, pois tem eficácia diminuída além de não haver evidências sobre efeitos adversos em uso rotineiro. • Preservativo (camisinha) masculina e feminina: deve ser usado em todas as relações sexuais, pois é o único método que também oferece proteção contra as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Funciona como uma barreira, impedindo a passagem dos espermatozoides, e é descartável, não devendo ser reutilizado. Atenção: não se deve usar os dois tipos de preservativo ao mesmo tempo, pois o atrito aumenta o risco de rompimento. 5.6.2 Métodos de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis As ISTs são as infecções causadas por mais de 30 agentes como vírus, bactérias ou outros microrganismos. São transmitidas, principalmente, por meio do contato sexual (oral, vaginal ou anal) sem o uso de camisinha com uma pessoa que esteja infectada. A transmissão de uma IST pode acontecer,ainda, da mãe para a criança, durante a gestação, o parto ou a amamentação. Muitas dessas ISTs têm cura, porém, se não forem tratadas adequadamente, podem provocar diversas complicações e levar à morte. O atendimento e o tratamento são gratuitos nos serviços de saúde do SUS. Observação Em 2001, a OMS preconizou que a terminologia IST substitua o termo doenças sexualmente transmissíveis (DST), porque destaca a possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas. Algumas ISTs são consideradas incuráveis, como o vírus da imunodeficiência humana (HIV), mas um tratamento correto, com início precoce, contribui para a redução do risco de morte e a garantia de melhora na qualidade de vida. No quadro a seguir, temos os exemplos mais comuns, mas existem diversos tipos de infecções sexualmente transmissíveis. 84 Unidade II Quadro 12 – Infecções curáveis e incuráveis Infecções curáveis Infecções incuráveis Sífilis Vírus da imunodeficiência humana (HIV) Clamídia Hepatite B Tricomoníase Herpes Gonorreia Papiloma vírus humano (HPV) Adaptado de: Fonte (2018). Dentre as ISTs, as mais alarmantes têm sido a sífilis e o HIV, por serem doenças que têm apresentado um aumento significativo no Brasil. Em 2013, foi estimado que cerca de 1,0% da população brasileira foi infectada pela sífilis (cerca de 940 mil pessoas). Entre a população jovem, a prevalência de sífilis tem aumentado nos últimos anos, principalmente em mulheres com idade em torno de 23 anos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018b). O HIV, desde sua descoberta nos anos de 1980, sempre foi uma preocupação mundial, e, em 2017 registrou‑se que 36,9 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com HIV, sendo 1,8 milhão de crianças (menores de 15 anos). No Brasil, entre 2007 a junho de 2018, foram notificados 247.795 casos de infecção pelo HIV, 52,6% dos casos em indivíduos com idade entre 20 anos e 34 anos. Estima‑se que, desse total, cerca de 11,2 % dos casos esteja entre os adolescentes, com idade entre 10 e 19 anos, sendo que, em adolescentes menores de 15 anos, a prevalência é maior em meninas. Em todas as regiões, a principal via de transmissão entre homens e mulheres com 13 anos de idade ou mais foi a via sexual (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018c). Tendo em vista tais dados, o SUS promove campanhas de educação em saúde e educação sexual para adolescentes, pretendendo ressaltar a importância do uso de preservativo nas relações sexuais. Paralelamente, um programa de treinamento dos profissionais da saúde também é empregado, além de serem incentivadas ações que favoreçam a promoção da saúde sexual. Cabe ao profissional da saúde explicar que a vida sexual é algo natural do comportamento humano e é fonte de prazer e afetuosidade. Livre de julgamentos e sem levantar questões morais, o agente de saúde faz papel de educador que busca analisar se há comportamentos de risco e até onde vai o conhecimento do adolescente sobre sexualidade e saúde reprodutiva. A abordagem deve ter foco em dois aspectos: • biológicos: conversas focando questões inerentes ao funcionamento do corpo humano como o ciclo menstrual, cuidados com a higiene íntima, corrimento vaginal, fisiológico ou não, presença de secreção na uretra, prevenção de gravidez indesejada e ISTs; • psicoemocionais: devem ser tratadas as perspectivas sobre a afetividade e a relação sexual, os sentimentos envolvidos e suas implicações, bem como o entendimento sobre violência e abuso sexual e relacionamentos abusivos. 85 FISIOTERAPIA PREVENTIVA É por essa pluralidade de conteúdos acerca do tema que se faz tão importante o trabalho em equipe multiprofissional, abrangendo uma gama de especialistas em diversas áreas da saúde como médicos pediatras, ginecologistas, psicólogos, enfermeiros e fisioterapeutas, além de peritos em outras áreas do saber como educadores, pedagogos e assistentes sociais. Todos devem atuar em união para a prevenção de doenças e a manutenção da saúde, garantindo a esses adolescentes a chegada à vida adulta com integridade. 5.6.3 Prevenção do uso de drogas e álcool na adolescência São chamadas de drogas as substâncias que, quando usadas, produzem uma ou mais alterações no organismo. Recebem o nome de drogas psicotrópicas substâncias capazes de provocar mudanças no estado mental e no comportamento, alterando o modo de agir, pensar e sentir. Podem ser divididas em três principais grupos, listados a seguir. • Drogas depressoras: seu uso faz o cérebro funcionar mais lentamente. Exemplos: álcool, calmantes e inalantes. • Drogas estimulantes: aceleram a atividade cerebral, deixando o indivíduo “ligado”, com a sensação de estar cheio de energia. Exemplo: cocaína, crack, anfetaminas, nicotina (cigarro) e cafeína (café). • Drogas perturbadoras: causam distorções no funcionamento do cérebro, provocando alterações na percepção, delírios e alucinações. Exemplos: maconha, LSD e ecstasy. Na sequência temos um quadro mostrando as principais drogas e seus efeitos, mas vale lembrar que no Brasil, assim como em todo o mundo, há uma variedade de drogas circulando, além de uma constante criação de novas substâncias. Quadro 13 – Principais drogas mais usadas por adolescentes no Brasil Principais drogas O que é Efeitos Danos Álcool Bebida obtida da fermentação (vinho, cerveja, chope) ou da destilação de vegetais (cachaça, uísque, vodca, conhaque) Inicialmente, a pessoa fica mais alegre, desinibida e falante. Depois, surgem sintomas de tristeza, sonolência, falta de coordenação motora Doenças cardiovasculares Úlceras gástricas Hepatite Cirrose Demências Tabaco Planta a partir da qual é fabricado o cigarro e extraída a nicotina, que causa dependência física. Possui mais de 4.700 substâncias tóxicas (alcatrão, agrotóxicos, naftalina) Aumento nos batimentos cardíacos e na pressão arterial. Causa uma sensação de relaxamento e de melhora no humor Enfisema pulmonar Câncer de pulmão, bexiga, pâncreas Acidente vascular cerebral (AVC) Infarto do miocárdio 86 Unidade II Principais drogas O que é Efeitos Danos Maconha Droga obtida a partir de folhas e flores secas da planta Cannabis sativa Apresenta‑se como uma erva de coloração variando de verde a marrom Sensações de bem‑estar, relaxamento e vontade de rir. Muitas vezes pode ter efeitos opostos como: angústia, medo, ansiedade, paranoia e confusão mental Bronquite Boca seca Alucinações, diminuição dos reflexos, prejuízos da memória e dificuldade de percepção temporal e espacial Cocaína Substância estimulante extraída das folhas da coca (planta encontrada na América do Sul). Apresenta‑se em forma de pó branco e brilhante, similar ao bicarbonato de sódio Euforia, excitação, sensação de bem‑estar e de poder, facilidade de se relacionar socialmente, sensação de força e disposição, falta de apetite e insônia. O coração dispara, a temperatura e a pressão arterial aumentam Infarto do miocárdio AVC Dores musculares Dificuldade de memória e aprendizado Depressão Feridas e sangramentos nasais Adaptado de: Souza (2013). Nos últimos anos, apesar dos avanços na medicina e nos estudos de comportamento humano, é ainda muito necessário ser discutido – em diversas áreas do saber – a respeito do uso de drogas e álcool entre adolescentes. Muitos estudos têm sido realizados desde os anos 1980 com objetivo de compreender os mecanismos químicos de ação das drogas no cérebro humano e tentar associá‑los aos inúmeros motivos que podem levar os indivíduos a fazerem uso recreativo de tais substâncias, além da motivação dos jovens que se entregam ao vício, vivendo sob a difícil recuperação do estado emocional e da boa convivência social. Ao contrário do que parece, apesar de tantas campanhas educativas em busca da prevenção da aquisição desse vício, o uso de drogas é ainda um importante problema de saúde pública mundial. Para o adulto jovem em desenvolvimento, o abuso de drogas e álcool prejudica a motivação, interfere nos processoscognitivos, contribui para transtornos de humor incapacitantes, aumenta as possibilidades de relações sexuais sem proteção (e de contaminação de IST) e aumenta as chances de mortes por acidentes com automóveis ou armas de fogo. Para a sociedade em geral, o abuso dessa susbtâncias por adolescentes gera um alto custo, vertido em assistência médica, falha educacional, serviços de saúde mental, reabilitação psicológica e social, desintoxicação química e altas taxas de criminalidade juvenil. Inúmeras frentes psicológicas buscam entender as circunstâncias que fazem com que o adolescente tenha uma tendência maior a esses comportamentos de risco. A adolescência é um estágio do desenvolvimento dominado por importantes mudanças físicas que levam a desordem e tensão emocional justamente por uma imaturidade psicoemocional, quando o espírito de contradição associa‑se a crises emocionais por meio das quais o jovem busca compreender qual seu novo papel dentro do sistema de relações sociais a partir de agora, já que não é mais uma criança. O comportamento tende a desenvolver‑se de maneira gradual na direção de sua maturidade, e a transposição desse período se dará pelo simples fato de que a idade cronológica guiará esse sujeito ao amadurecimento. Entretanto, é válido ressaltar que o desenvolvimento cognitivo e 87 FISIOTERAPIA PREVENTIVA emocional sofre interferência absoluta do grupo social em que um indivíduo está inserido, uma vez que o homem é um ser formado a partir de suas relações sociais, havendo a formação de um pensamento coletivo em que o indivíduo passa a conceituar o mundo e as relações construindo uma conscientização social. Logo, ainda é difícil estabelecer os motivos que levam ao vício em drogas e álcool por apenas um ponto de vista. É sabido que jovens que crescem em ambientes domésticos violentos, jovens que têm uma infância marcada por ausência de afeto dos pais (ou cuidadores) ou que têm dificuldades em relações interpessoais com os amigos da escola durante a infância (crianças que sofrem bullying) são os mais propensos a buscar formas de amenizar tais lembranças emocionais. Com tantos aspectos a serem considerados como causais para o uso de drogas, além do impacto de tantas transformações nessa fase da vida que geram inúmeras inseguranças, a sociedade deve trabalhar políticas públicas assertivas de prevenção ao uso de drogas e álcool desde a infância, com campanhas nas escolas que expliquem os efeitos deletérios sobre a saúde, enfatizando o declínio intelectual e emocional que o uso dessas substâncias gera em seus usuários. É muito importante ensinar aos jovens que os efeitos das drogas não são os mesmos para todas as pessoas ou em todas as ocasiões. Algumas experiências podem ser agradáveis e não causar maiores problemas para uma pessoa, mas podem trazer riscos e danos para outra. Além do que os efeitos das drogas não são totalmente previstos e controlados, e a mesma quantidade de droga pode ter efeitos diferentes – e ruins – aos de uma experiência anterior. 6 CONTROLE DAS DOENÇAS CRÔNICAS ESPECÍFICAS: OBESIDADE, DIABETES E HIPERTENSÃO 6.1 Introdução São classificadas como doenças crônicas não transmissíveis aquelas doenças adquiridas por hábitos e formas de se levar a vida (má alimentação, sedentarismo, consumo de álcool, drogas, tabaco etc.) e que possuem tratamentos a médio e longo prazo, podendo persistir, muitas vezes, por toda a vida. Não são transmitidas de pessoa para pessoa e são responsáveis também por desencadear outros problemas de saúde. As doenças crônicas podem ser silenciosas ou sintomáticas, mas todas comprometem, de alguma forma, a qualidade de vida da pessoa, em diferentes graus, conforme cada situação. Em casos mais graves e se não tratadas corretamente, podem levar à morte. As principais doenças crônicas não transmissíveis são: • doenças metabólicas (diabetes mellitus, obesidade); • acidente vascular cerebral; • câncer; 88 Unidade II • doenças cardiovasculares (infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca); • doenças respiratórias crônicas (bronquite, asma, rinite). Atualmente, o peso das doenças não transmissíveis está crescendo no mundo e suas principais razões são: maior tempo de vida, prolongada exposição a fatores de risco e mudanças no estilo de vida. A previsão é de que haja, no ano de 2030, aproximadamente 21 milhões de óbitos no mundo devido a doenças não transmissíveis (HUANG et al., 2016). Tendo isso em vista, abordaremos algumas dessas doenças que, apesar de serem as mais comuns, são possíveis de serem evitadas com um programa adequado de prevenção. Os profissionais da saúde podem, por exemplo, ensinar os indivíduos de uma dada comunidade sobre a importância de se fazer mudanças nos hábitos de vida, principalmente quanto à implementação de uma alimentação mais saudável associada à prática de atividades físicas. 6.2 Incidência e prevalência de obesidade, diabetes e HAS: tipos e fatores predisponentes para desenvolvimento dessas doenças 6.2.1 Obesidade Obesidade é definida pela OMS como um acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal que pode atingir graus capazes de afetar a saúde. É definida através do índice da massa corpórea (IMC), que é uma razão simples entre o peso e a altura. É frequentemente usada para classificar a obesidade em adultos, sendo expressa em peso, quilogramas, dividido pelo quadrado da altura, em metros, ou seja, kg/m2 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA O ESTUDO DA OBESIDADE E DA SÍNDROME METABÓLICA, 2016). IMC peso kg altura m 2 Tabela 1 – Valores de IMC IMC Classificação 18,5 a 24,9 Peso dentro da normalidade 25 a 29,9 Sobrepeso corporal 30 a 34,9 Obesidade grau I 35 a 39,9 Obesidade grau II (ou moderada) Acima de 40 Obesidade grau III (ou obesidade mórbida) Adaptado de: Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (2016). 89 FISIOTERAPIA PREVENTIVA Por exemplo: um indivíduo com peso igual a 90 kg e com altura igual a 1,7 metro, teria o seguinte IMC: 90 kg dividido por 2,89 m2 = 31,1 kg/m2, compatível, portanto, com obesidade grau 1. A obesidade é atualmente considerada uma epidemia mundial condicionada principalmente pelo perfil alimentar e de atividade física. Sua crescente prevalência vem sendo atribuída a diversos processos biopsicossociais, em que o ambiente (político, econômico, social, cultural), e não apenas o indivíduo e suas escolhas, assume um lugar estratégico na análise do problema e nas propostas de intervenções. Para prevenção e tratamento da obesidade muitos obstáculos ainda existem, e parte deles reside exatamente na busca do entendimento de como esses múltiplos fatores interagem. No Brasil quase um em cada cinco indivíduos (18,9%) é obeso e mais da metade da população das capitais brasileiras (54,0%) está com excesso de peso corporal ou sobrepeso. Quanto à obesidade mórbida, estudos permitem apontam que a prevalência seja de aproximadamente 609.000 adultos brasileiros que apresentavam a doença em 2003. Atualmente, é estimado que a obesidade mórbida tenha prevalência em 7 milhões de brasileiros, ou seja, 3,6% da população (MELO, [s.d]). A incidência também aumentou na última década em todas as faixas etárias e em ambos os sexos, em todos os níveis de renda, sendo a velocidade de crescimento mais expressiva na população com menor rendimento familiar. Nesse período, houve o crescimento de 110% no número de pessoas de 18 a 24 anos que sofrem com obesidade, quase o dobro do aumento em todas as faixas etárias (60%). Nas faixas de 25 a 34 anos houve alta de 69,0%; de 35 a 44 anos, de 23,0%; de 45 a 54 anos, de 14,0%; de 55 a 64 anos, de 16,0%; nos idosos acima de 65 anos houve crescimento de 2,0% (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA ESTUDO DA OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA, 2016). Observação Incidência é a taxa de manifestação de uma determinada doença, mensura o surgimento da doença, conta apenas novos casos. A prevalência é o número de casos de uma doença em uma população, duranteum período específico de tempo; mensura a proporção da população que já tem a doença e conta todos os casos. No Brasil, políticas públicas para prevenção e tratamento da obesidade vêm crescendo nos últimos 15 anos. O Ministério da Saúde em 2012 estabeleceu a linha de cuidado para obesidade como parte da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas, reconhecendo a influência e colocando a publicidade de alimentos como um dos obstáculos para a alimentação saudável. Medidas que estimulem indivíduos a modificarem as suas práticas alimentares associadas à inclusão de mais atividades físicas em sua rotina diária são cada vez mais estimuladas em orientações dadas à população por profissionais da saúde. Em paralelo, políticas públicas estão sendo implementadas com o objetivo de regulamentar a publicidade de alimentos ultraprocessados para reduzir o que é chamado de “ambiente obesogênico”. 90 Unidade II Nesse contexto, em 2014 o Ministério da Saúde publicou o Guia Alimentar para a População Brasileira, que explica para a população quais são os alimentos que tornam nossas refeições mais saudáveis e quais são os alimentos que trazem riscos à saúde – não só quanto à obesidade, mas em relação a outras doenças associadas a obesidade, como a dislipidemia (aumento do colesterol), diabetes mellitus (DM) e hipertensão arterial. Um destaque desse guia é alertar sobre a publicidade que estimula o consumo de alimentos ultraprocessados, induzindo a população a considerá‑los mais saudáveis e com qualidade superior aos demais, além de frequentemente associá‑los à imagem de bem‑estar, felicidade e sucesso. 6.2.2 Diabetes mellitus O DM é uma doença crônica e não transmissível que faz parte de um grupo de disfunções metabólicas causadas pela hiperglicemia (aumento dos níveis de glicose no sangue) e associadas a insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sanguíneos. A hiperglicemia é resultado de alterações na produção ou ação da insulina decorrente da destruição de células do pâncreas que são produtoras de insulina (chamadas células beta). Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de portadores da doença em todo o mundo era de 177 milhões em 2000, com expectativa de alcançar 350 milhões de pessoas em 2025 (GUARIGUATA, 2014). No Brasil estima‑se que atinja 11% da população de 40 anos ou mais, o que representa cerca de 5 milhões e meio de portadores (FLORI; CAMPOS, 2017). Há dois tipos de DM. • DM tipo 1: pode ocorrer de forma rapidamente progressiva, principalmente em crianças e adolescentes (pico de incidência entre 10 e 14 anos). Por isso é muito conhecido como diabetes juvenil, compreendendo cerca de 10% do total de casos. Há destruição das células beta, o que leva à deficiência total de insulina. Nesse caso, o paciente deve fazer uso da insulina para prevenir cetoacidose, coma e morte. • DM tipo 2: há uma deficiência relativa de insulina. O tratamento com uso de insulina não tem por objetivo evitar cetoacidose, mas sim alcançar o controle do quadro hiperglicêmico. Sua ocorrência é maior em indivíduos sedentários, com dislipidemia, excesso de peso ou deposição de gordura na região abdominal. Cerca de 50% da população com diabetes não sabe ser portadora da doença, algumas vezes permanecendo não diagnosticada até que se manifestem sinais de complicações. Por isso, testes de rastreamento são indicados em indivíduos assintomáticos que apresentem maior risco de desenvolver a doença. Alguns fatores podem indicar se um indivíduo apresenta maior risco para desenvolver DM: • idade > 45 anos; • antecedente familiar (mãe ou pai) de DM; 91 FISIOTERAPIA PREVENTIVA • sobrepeso (IMC > 25); • obesidade central (cintura abdominal > 102 cm para homens e > 88 cm para mulheres, medida na altura das cristas ilíacas); • hipertensão arterial (> 140/90 mmHg); • níveis de colesterol HDL altos no sangue; • história de diabetes gestacional; • diagnóstico prévio de síndrome de ovários policísticos; • doença cardiovascular, cerebrovascular ou vascular periférica definida. Lembrete Infelizmente, nem sempre as pessoas com diabetes sabem ser portadoras (dada a ausência de sintomas). Por isso é tão importante fazer testes de rastreamento. 6.2.3 Hipertensão arterial sistêmica (HAS) A HAS é uma condição clínica caracterizada por elevação sustentada dos níveis de pressão arterial sistólica (PAS) acima de 140 mmHg com pressão arterial diastólica (PAD) igual ou maior a 90 mmHg, como podemos observar no quadro a seguir. É considerada pressão arterial normal (normotensão) quando as medidas de consultório são de 120/80 mmHg e as medidas fora dele 130/90 mmHg. A HAS é considerada controlada quando, já em tratamento com medicamentos anti‑hipertensivos, o paciente permanece com a pressão arterial controlada tanto no consultório como fora dele. Tabela 2 Classificação PAS (mm Hg) PAD (mm Hg) Normal ≤ 120 ≤ 80 Pré‑hipertensão 121‑139 81‑89 Hipertensão estágio 1 140‑159 90‑99 Hipertensão estágio 2 160‑179 100‑109 Hipertensão estágio 3 ≥ 180 ≥ 110 Quando a PAS e a PAD situam‑se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para classificação da PA. Fonte: Malachias et al. (2016, p. 11). 92 Unidade II Diversos fatores podem levar a HAS, como idade avançada, distúrbios metabólicos (DM, obesidade), sedentarismo, tabagismo, histórico familiar e alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos‑alvo, como problemas cardiovasculares. Pode ser agravada por outros fatores de risco como dislipidemia, intolerância à glicose e DM. Em 2015, nos Estados Unidos foi registrado que HAS estava presente em 69% dos pacientes com primeiro episódio de infarto agudo do miocárdio (IAM), 77% de AVC, 75% com insuficiência cardíaca (IC) e 60% com doença renal crônica (DRC). Tais dados mostram que há uma forte correlação entre HAS e eventos como morte súbita, AVC, IAM, IC, doença arterial periférica (DAP) e DRC, fatal e não fatal (MALACHIAS et al., 2016). No Brasil, a HAS atinge 32,5% (36 milhões) de indivíduos adultos, mais de 60% dos idosos, contribuindo direta ou indiretamente para 50% das mortes por doenças cardiovasculares (DCV). Junto com o DM, suas complicações (cardíacas, renais e AVC) têm impacto elevado na perda da produtividade do trabalho e da renda familiar, estimada em US$ 4,18 bilhões entre 2006 e 2015. Em 2013, ocorreram 1.138.670 óbitos, 339.672 dos quais (29,8%) decorrentes de DCV, a principal causa de morte no país (MALACHIAS et al., 2016). 6.3 Consequências a longo prazo Uma das consequências dessas doenças é o desenvolvimento da chamada síndrome metabólica (SM), que pode ser definida como um transtorno complexo representado por um conjunto de fatores de risco cardiovascular usualmente relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina. Ou seja, esse conjunto de fatores é formado pela presença de DM, obesidade, hipertensão, redução de HDL e aumento dos triglicérides. O diagnóstico é feito por meio da avaliação clínica, com um indivíduo apresentando três ou mais dos cinco fatores apresentados na tabela a seguir. É importante destacar a associação da SM com a doença cardiovascular, aumentando a mortalidade geral em cerca de 1,5 vez, e a cardiovascular em cerca de 2,5. Mas o que são LDL e HDL? LDL (low density lipoproteins ou lipoproteínas de baixa densidade) e HDL (high density lipoproteins ou lipoproteínas de alta densidade) são lipoproteínas que transportam o colesterol, um tipo de gordura que tem no nosso organismo. O LDL transporta o colesterol do fígado às células, e o HDL faz o inverso, ou seja, retira o excesso de colesterol levando‑o de volta ao fígado, para ser eliminado pelo corpo. Portanto, para que o nosso organismo tenha um nível adequado de gordura, ambos devem estar em equilíbrio. O LDL (chamado também de colesterol ruim), quando em níveis muito altos no sangue, aumenta o risco de DCV como o IAM e o AVC. No entanto, o HDL (chamado de colesterolbom) não pode estar com seus níveis muito baixos no sangue, pois isso faz com que o LDL aumente. Por isso, na SM, os valores de HDL baixos são indicativos de desequilíbrio no metabolismo, aumentando as chances de DCV. 93 FISIOTERAPIA PREVENTIVA Tabela 3 Parâmetro Presença de alterações (maior ou igual três) Glicose ≥ 100mg/dL ou em tratamento para hiperglicemia HDL‑colesterol (HDL = lipoproteínas de alta densidade; mg/dL = micrograma por decilitro de sangue) Homens: < 40 mg/dL ou em tratamento para HDL baixo Mulheres: < 50 mg/dL ou em tratamento para HDL baixo Triglicérides (TGL) ≥ 150 mg/dL ou em tratamento para TGL elevado Obesidade Cintura ≥ 102 cm para homens ou ≥ 88 com para mulheres Hipertensão (HAS) ≥ 130 x 85 mmHg ou em tratamento para HAS Adaptado de: Brandão et al. (2005). 6.4 Prevenção de desenvolvimento dessas patologias A primeira forma de prevenção é fazer o acompanhamento do peso corporal, da glicemia e dos índices de pressão arterial através da realização de consultas médicas periódicas, principalmente quando pais, avós ou outros parentes próximos tenham algumas dessas doenças. É de suma importância deixar claro que a prevenção passa pela conscientização da importância da mudança dos hábitos e estilo de vida, através de implementação de uma alimentação adequada e da prática de atividades físicas no dia a dia. O estilo de vida sedentário, as refeições com poucos vegetais e frutas, além do excesso de alimentos com fritura e açúcar, se refletem no aumento de pessoas obesas, em todas as faixas etárias, e, como consequência, maior índices de HAS e aumento da chance de desenvolver DM. A equipe multiprofissional tem o papel de orientar as pessoas quanto às maneiras corretas de adotar um novo estilo de vida. Vale ressaltar aqui que nós, fisioterapeutas, temos papel fundamental dentro da equipe multiprofissional para a prevenção dessas doenças crônicas não transmissíveis, pois somos os profissionais responsáveis por fazer com que os pacientes tenham seu primeiro contato com atividades físicas. Nesse contexto, ensinamos técnicas de consciência corporal, realizando exercícios que ampliem a flexibilidade das articulações, bem como técnicas adequadas de respiração e posicionamento adequado das diversas partes do corpo durante a realização de exercícios. Dessa forma, ensinamos o paciente a fazer exercícios de maneira correta sem causar lesões na coluna ou nas articulações, encorajando‑o a introduzir em seus hábitos de vida a prática rotineira de exercícios físicos. Assim, a equipe multiprofissional atua na prevenção iniciando com as recomendações listadas a seguir. • Reduzir o consumo de bebidas alcoólicas. • Evitar o sedentarismo no dia a dia, ou seja, passar menos tempo realizando atividades na posição sentada, e incluir pequenas caminhadas, por exemplo, no trajeto da casa ao trabalho. • Evitar carga emocional excessiva (estresse). 94 Unidade II • Cessar o tabagismo. • Praticar exercícios físicos (após avaliação médica e sempre com a orientações de profissionais da saúde), sendo o recomendado exercitar‑se durante 30 minutos cinco vezes por semana. • Melhorar o condicionamento físico praticando atividades como pequenas corridas intercaladas com caminhadas, passeios de bicicleta, hidroginástica etc. (no caso de pessoas hipertensas, é necessária a realização de exames clínicos, eletrocardiogramas, testes ergométricos e exames de sangue antes que uma atividade física seja praticada). Vale ressaltar que, ao falarmos em evitar o sedentarismo, estamos falando em movimentar‑se mais ao longo do dia, não somente em iniciar a prática de exercícios físicos. • Beber água (ou sucos naturais e água de coco) não apenas quando sentir sede. • Reduzir o consumo de sal e açúcar. • Evitar comer frituras, alimentos gordurosos e alimentos ultraprocessados (que geralmente são ricos em sal e açúcar). • Adotar uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais (somente faça dietas após uma consulta com um nutricionista, lembre‑se de que regimes milagrosos, além de não serem saudáveis, podem provocar hipoglicemia, ou seja, perda de açúcar no sangue). É muito importante alertar as pessoas sobre a importância de não se ignorar os fatores de risco pois, quanto mais cedo você tiver o diagnóstico, mais rápido poderá agir para continuar saudável, agora e no futuro. Além disso, é uma forma de proteger as pessoas de que você gosta: se você tem DM, HAS, é obeso, seus filhos e irmãos também podem ter chances de desenvolver tais doenças. É importante que todos consultem um médico, façam exames e, mais do que isso, mantenham hábitos e estilos de vida saudáveis. 7 CONTROLE DAS DOENÇAS CRÔNICAS ESPECÍFICAS: CÂNCER (MAMA, PULMÃO, COLO DE ÚTERO, PRÓSTATA E PELE) 7.1 Câncer: incidência e prevalência dos principais tipos de tumores no mundo e no Brasil Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos. Essas células dividem‑se muito rápido e tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores, que podem espalhar‑se para outras regiões do corpo e que geralmente progridem de uma lesão pré‑cancerosa para tumores malignos. 95 FISIOTERAPIA PREVENTIVA As causas de câncer não são totalmente conhecidas, mas é confirmado que todo esse processo de alteração celular geralmente tem início devido a fatores genéticos de uma pessoa que interagem com agentes externos como agentes cancerígenos físicos (radiação ultravioleta e ionizante), substâncias químicas cancerígenas (amianto, componentes do fumo do tabaco, arsênio) e cancerígenos biológicos (infecções por certos vírus, bactérias ou parasitas, como HPV e vírus da hepatite). Existem diferentes tipos de câncer porque cada um corresponde ao tipo de célula do corpo que entrou em disfunção. Pode ser classificados em: • carcinomas: quando é iniciado em células de tecidos epiteliais (pele ou mucosas); • sarcomas: quando é iniciado em células dos tecidos conjuntivos (osso, músculo ou cartilagem). Saiba mais O Instituto Nacional de Câncer (INCA) é o órgão do Ministério da Saúde que coordena ações para prevenção e controle do câncer no Brasil. Você pode saber mais sobre suas ações acessando o link indicado a seguir. <www.inca.gov.br>. O câncer é uma das doenças mais importantes do mundo e é complicado por ser multifatorial em uma visão epidemiológica. Em 2012, havia cerca de 14,9 milhões de novos casos no mundo, e a previsão é de que se chegue a 22 milhões de novos casos em duas décadas. Um dos cânceres mais comuns é o câncer de mama, que tem alta taxa de incidência em todos os países. Em 2018, 9,6 milhões de mortes foram causadas por diferentes tipos de cânceres no mundo. Estima‑se que há 1,7 milhão de novos casos por ano e 25% de todos os tipos de câncer, havendo uma predominância dos casos de cânceres associados a fatores de risco que são principalmente não infecciosos e possivelmente relacionados a um estilo de vida pouco saudável. O impacto econômico do câncer é significativo e está aumentando. O custo anual total da doença em 2010 foi estimado em aproximadamente US$ 1,16 trilhão (TORRE et al., 2015). Diversos dados mostram que há uma clara associação entre altas taxas de mortalidade por câncer e o contexto socioeconômico, havendo um predomínio maior em países em desenvolvimento como resultado de um contínuo desenvolvimento social e econômico, da redução das taxas de fertilidade e do crescimento populacional. A apresentação tardia e o diagnóstico e tratamento inacessíveis são comuns. Em 2017, apenas 26% dos países de baixa renda relataram ter serviços de patologia disponíveis no setor público. Mais de 90% dos países de alta renda relataram que os serviços de tratamento estão disponíveis, em comparação com menos de 30% dos países de baixa renda. Apenas um em cada cinco países de baixa e média renda tem os dados necessários para conduzir uma políticaadequada para o tratamento do câncer (BRAY et al., 2012). 96 Unidade II No Brasil, a existência de doenças típicas de países tropicais associadas a doenças relacionadas à pobreza pode ter contribuído para um significativo aumento das doenças crônicas não transmissíveis nos últimos 20 anos. Dessas doenças crônicas não transmissíveis, o câncer destaca‑se como a segunda causa de morte depois das doenças cardíacas e cerebrovasculares. No Brasil, os tipos de câncer mais incidentes em homens são o câncer de próstata, pulmão, cólon e reto. Nas mulheres, os tipos mais comuns são o câncer de mama, cólon e reto, colo uterino, pulmão e tireoide. 7.2 Câncer de pulmão O câncer de pulmão (CA de pulmão) é um tumor maligno altamente invasivo, com metástase rápida e alta taxa de mortalidade. No mundo, de todos os novos casos de câncer, 13% são de câncer de pulmão. Durante 2014, estimaram‑se 224.210 novos casos e 159.260 mortes por câncer de pulmão nos Estados Unidos (INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER, 2016). No Brasil, em 2016 o Inca registrou 28.220 (4,7%) casos de câncer de pulmão, o segundo tipo de câncer de maior incidência em homens e o quarto tipo de câncer de maior incidência em mulheres no país (ARAUJO et al., 2018). O câncer de pulmão não tem um padrão definido, tendo formas de início e avanço muito diversificadas, podendo surgir em muitos locais diferentes da árvore brônquica, apresentando sintomas e sinais altamente variáveis dependendo de sua localização anatômica. Seus padrões de incidência e mortalidade estão consistentemente associados a 20 ou mais anos de história de tabagismo. O tratamento para esse tipo de tumor varia muito conforme a área do pulmão acometida e as condições gerais do paciente, bem como os órgãos atingidos em caso de metástases. Dessa forma, o tratamento com quimioterapia e/ou radioterapia pode ser eficaz em muitos casos e deve ser associado à reabilitação com acompanhamento multiprofissional para que a qualidade de vida do paciente seja preservada. Todavia, em muitos casos, além do tratamento farmacológico, o tratamento cirúrgico também é indicado, para que seja retirada a área afetada pelo tumor. Como a maior parte dos casos (70%) é diagnosticada já na fase avançada da doença, muitas vezes o tratamento não traz resultados muito positivos, por isso, fazem‑se necessárias ações de sáude pública para prevenção da doença e maior disseminação de informações sobre o tratamento. Nesse contexto, no Brasil e ao redor do mundo, as ações para prevenção de CA de pulmão podem ser resumidas em: • reforçar o papel do controle do tabagismo e estimular programas dirigidos a toda a população para cessação do hábito de fumar, particularmente aos adolescentes, fazendo com que eles não iniciem esse hábito; • coletar dados de alta qualidade sobre epidemiologia e economia da saúde com o objetivo de descrever diagnóstico, estágio da doença, acesso aos tratamentos e resultados alcançados; 97 FISIOTERAPIA PREVENTIVA • fortalecer, reunir e estimular um diálogo produtivo entre sociedades médicas, grupos de apoio, governo, empresas farmacêuticas e agências reguladoras; • propor e implantar programas que tenham impacto positivo na prevenção, no diagnóstico e no acesso à terapia; • aumentar o financiamento local para prevenção, diagnóstico e pesquisa de tratamento de câncer de pulmão; • estimular o desenvolvimento de pesquisa. Observação Metástase é quando o câncer se espalha para outras partes do corpo. As células cancerosas chegam a outras áreas do corpo através da corrente sanguínea ou dos vasos linfáticos. 7.3 Câncer de pele O câncer de pele (CA de pele) ocorre devido a um crescimento anormal e descontrolado das células da pele. A pele é formada por diferentes camadas de células e, de acordo com as que forem afetadas, é que são definidos os diferentes tipos de câncer. O CA de pele pode ser classificado de duas formas: • CA de pele melanoma: tem origem nas células produtoras da melanina, substância que determina a cor da pele, e é mais frequente em adultos brancos; • CA de pele não melanoma: apresenta tumores de diferentes tipos, sendo dois os mais frequentes. — Carcinoma basocelular, o mais comum e também o menos agressivo, se apresenta como uma ferida ou um nódulo e tem evolução lenta. — Carcinoma epidermoide: também surge como uma ferida ou sobre uma cicatriz, principalmente cicatrizes de queimadura, tem maior gravidade porque pode apresentar metástase. O CA de pele é mais comum em pessoas com mais de 40 anos, principalmente naquelas com pele muito clara, albinas ou com vitiligo, que têm a pele mais sensível ao sol. Porém pode ocorrer em qualquer indivíduo, apesar de raro em crianças, negros e pardos. São fatores de risco para CA de pele: pessoas de pele clara, olhos claros, albinos ou sensíveis à ação dos raios solares, pessoas com história pessoal ou familiar desse tipo de câncer, pessoas com doenças cutâneas prévias, pessoas que trabalham sob exposição direta ao sol, exposição prolongada e repetida ao sol ou exposição a câmeras de bronzeamento artificial. 98 Unidade II O CA de pele responde por 33% de todos os diagnósticos dessa doença no Brasil, sendo registrados pelo Inca, a cada ano, cerca de 180 mil novos casos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA, [s.d.]). Esse tipo de câncer pode aparecer em qualquer parte do corpo, na pele ou mucosas, na forma de manchas, pintas ou sinais, e o diagnóstico é feito por avaliação do médico dermatologista que, ao encontrar algum sinal diferente na pele do paciente, deve solicitar biópsia. Quanto mais precoce o diagnóstico, melhores são as chances de cura. Para o tratamento, é primeiramente realizada uma cirurgia oncológica para a retirada da lesão, que, em estágios iniciais, pode ser realizada no consultório médico, sem a necessidade de internação hospitalar. O CA de pele é possível de ser evitado, então é muito importante haver políticas públicas de incentivo a campanhas de prevenção. Os profissionais da saúde devem ensinar à população medidas preventivas como evitar a exposição ao sol, principalmente nos horários em que os raios solares são mais intensos (entre 10 e 16 h), a importância de se utilizar óculos de sol com proteção UV, roupas que protegem o corpo, chapéus de abas largas, sombrinhas e guarda‑sol. Em caso de exposição solar necessária, principalmente em torno do meio‑dia, recomenda‑se a procura por áreas cobertas que forneçam sombra, como embaixo de árvores, marquises e toldos, com o objetivo de minimizar os efeitos da radiação solar. 7.4 Câncer de mama O câncer de mama (CA de mama) é um tumor formado pela proliferação desordenada das células das mamas. São vários os tipos, com manifestações diferentes, alguns evoluem muito rapidamente enquanto outros nem tanto, podem ter metástases e levar à morte. Nas últimas décadas, tem ocorrido um aumento significativo dos novos casos como resultado da interação dos fatores genéticos e do estilo de vida atuais, principalmente relacionados aos novos hábitos reprodutivos das mulheres contemporâneas. Todos esses fatores se fundem, mas podem ser destacados: • fatores relacionados à mulher: menarca precoce, não ter filhos, primeira gestação após os 30 anos de idade, menopausa tardia; • fatores hormônio‑dependentes: uso de anticoncepcionais orais e terapia de reposição hormonal. Segundo o Departamento Internacional de pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER, 2016), é o câncer mais comumente diagnosticado entre as mulheres na grande maioria dos países do mundo (em 140 de um total de 184 países), representando ¼ de todos os casos de cânceres diagnosticados em mulheres e é a principal causa de morte relacionada a câncer entre mulheres. É estimado que no ano de 2012 foram diagnosticados 1,7 milhão de novos casos de CA de mama, com 521.900 mortes no mundo. Embora a América do Norte (Estados Unidos e Canadá) represente apenas 5% da população mundial,
Compartilhar