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Língua Portuguesa: Linguística Textual Coesão textual - conceito e seu uso prático Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Elaine A. Souto Antunes Revisão Textual: Profa. Ms. Fátima Furlan 5 • Introdução • Coesão Textual • Relações Textuais (Campo 1) • Procedimentos (Campo 2) • Recursos (Campo 3) • Aprender a usar os elementos de coesão para ler e produzir bons textos; • Compreender as relações coesivas que acontecem no interior dos textos; • Valorizar os procedimentos e recursos que estabelecem as relações coesivas dentro dos textos. Para obter um bom desempenho ao ler e produzir textos, além de alguns fatores importantes é bom entender quais elementos internos e externos se articulam para que os textos se formem. Com esse objetivo, nessa unidade, trataremos da coesão textual. Lembramos a você da importância de realizar todas as leituras e as atividades propostas dentro do prazo estabelecido para cada unidade, no cronograma da disciplina. Para isso, organize uma rotina de trabalho e evite acumular conteúdos e realizar atividades no último minuto. Em caso de dúvidas entre em contato com o tutor. É muito importante que você exerça a sua autonomia de estudante para construir novos conhecimentos. Coesão textual - conceito e seu uso prático 6 Unidade: Coesão textual - conceito e seu uso prático Contextualização O texto apresenta propriedades internas a ele que são de fundamental importância para a sua estruturação. Para que um texto seja considerado bom é necessário, entre outros fatores, que ocorra uma harmonia textual entre as partes que o integram. Considere o texto como um “tecido” que vai sendo tramado à medida que o escrevemos. Por isso, é muito importante que o fio condutor desse tecido esteja muito bem tramado para que não altere o produto final. Isso é o que deve acontecer na construção do texto e o fio condutor dessa trama são os elementos de coesão. Esses elementos precisam ser compreendidos não apenas como palavras que serão usadas ao longo do texto, mas como os responsáveis pela conexão bem articulada das partes que integram um texto. Ao perceber a importância que os chamados elementos coesivos têm em determinados gêneros textuais, fica muito mais fácil, tanto para os professores e profissionais que trabalham com textos como para aqueles que usam os textos apenas como meio de interação, entenderem como esse objeto tão fascinante se articula. Os elementos coesivos ao serem valorizados na unidade textual contribuem para uma melhor leitura, compreensão e produção de bons textos. 7 Introdução Nesta unidade, trataremos da coesão textual. Ela é uma das duas importantes propriedades textuais (coesão e coerência) envolvidas na construção e produção de textos em relação a atribuição de sentidos. Talvez, você mesmo já tenha passado pela experiência de pegar seu texto e verificar o seguinte comentário: - Falta coesão ou -Não tem coesão. Para pensar Mas na realidade o que o professor queria dizer? - Já se perguntou o que realmente estava faltando? - O que você devia mudar ou corrigir? Atenção Vamos refletir um pouco sobre essas questões? Esse é o convite que fazemos nesta unidade. Para começar nossa conversa, veremos o comentário que a professora Irandé Antunes (2012, p.16) tece a respeito de coesão e coerência: Essas propriedades do texto parecem ser, assim, um terreno meio indefinido, vago, impreciso, para onde vamos jogando tudo o que não sabemos explicar bem; sobretudo quando se trata de dificuldades menos superficiais. Diante daquele texto meio ruim, que não está bem formulado, que não está muito claro, cuja dificuldade não sabemos exatamente identificar, recorremos a uma área geral, sem contornos, onde cabe tudo e tudo acomoda. E, aí, dizemos: falta coesão; ou o texto não tem coerência. Ou seja, em outras palavras, recorremos a um conceito, aparentemente geral, mas que não define claramente, pelo menos em um primeiro momento, o problema que deve ser tratado. Mesmo as gramáticas, ao tratarem de coerência e coesão, trazem uma conceptualização que às vezes deixa mais lacunas do que esclarecimentos. Vamos, então, nesta unidade, tratar um pouco da coesão, para que você ao ler, produzir e corrigir textos saiba do que está falando e também para que aqueles que não são da área possam compreender do que falamos ao citar este conceito. 8 Unidade: Coesão textual - conceito e seu uso prático Coesão Textual A coesão textual diz respeito às relações estabelecidas no continuo do texto por meio de elementos que servem como conectores entres as partes do discurso. Trata-se de estabelecer uma relação de continuidade entre cada unidade linguística, de tal modo que entre elas se estabeleça um continuo de sentido. Ou seja, a coesão não é garantia de sentido, no entanto, ela possibilita uma arquitetura textual que vai conectando as ideias dentro do texto e propiciando uma harmonia estrutural. Tanto que, um texto com os elementos de coesão mal empregados ou colocados de forma aleatória não permitem a atribuição de sentido do leitor. Para elucidar melhor o conceito de coesão textual, utilizaremos colocações de alguns especialistas da área como Ingedore V. Koch e Irandé Antunes. Koch, por exemplo, traz o seguinte comentário: Em obra que se tornou clássica sobre o assunto, Halliday & Hasan (1976) apresentam o conceito de coesão textual, como um conceito semântico que se refere às relações de sentido existentes no interior do texto e que o definem como um texto. (In: Koch, 2001, p. 17) Ainda lembrando Koch, Para esses autores, a coesão é, pois, uma relação semântica entre um elemento do texto e algum outro elemento crucial para a sua interpretação. A coesão, por estabelecer relações de sentido, diz respeito ao conjunto de recursos semânticos por meio dos quais uma sentença se liga com a que veio antes, aos recursos semânticos mobilizados com o propósito de criar textos. A cada ocorrência de um recurso coesivo no texto, denominam “laço”, “elo coesivo”. (Koch, 2001, p. 17) Veja que Halliday & Hasan mostram, justamente, que os mecanismos de coesão textual serão utilizados ao longo do texto como um elo de ligação entre os elementos que propiciarão uma compreensão do enunciado como um todo. Na realidade, a coesão textual permite costurar as partes do texto de tal forma que se vai “tecendo a trama do texto”. Trata-se de um trabalho de “tessitura” que se for bem realizado formará um texto com ideias claras e coesas. Atenção Apesar da importância da coesão para a elaboração de um texto bem estruturado, como você verá mais adiante, ela não é condição necessária, por exemplo, para um texto coerente. Podemos encontrar textos desprovidos de elementos de coesão textual, de acordo com sua função ou um determinado gênero textual, mas que sejam coerentes. Exemplo: Receita de bolinho: 1 ovo, 2 xícaras de farinha, 2 xícaras de açúcar, 1 xícara de leite, Manteiga. Junte tudo, amasse bem, faça os bolinhos e frite em óleo quente. 9 A coesão serve para manter uma continuidade textual por meio dos laços que se estabelecem entre os elementos que constituem o texto, garantindo-lhe uma unidade semântica. Para entendermos quais são os elementos de coesão de que tanto se fala, trabalharemos com um quadro da Prof. Irandé Antunes (2014, p. 51), no qual ela apresenta quais são as relações textuais, os procedimentos e os recursos de coesão. A C O E S Ã O D O T E X T O Relações Textuais (Campo 1) Procedimentos (Campo 2) Recursos (Campo 3) 1. REITERAÇÃO 1.1. Repetição 1.1.1. Paráfrase 1.1.2. Paralelismo 1.1.3. Repetição propriamente dita • de unidades do léxico • de unidades da gramática 1.2. Substituição 1.2.1. Substituição gramatical Retomada por: • pronomes • advérbios 1.2.2. Substituição lexical Retomada por: • sinônimos • hiperonimos • caracterizadores situacionais 1.2.3. Elipse Retomada • elipse 2. ASSOCIAÇÃO 2.1. Seleção lexical Seleção de palavras semanticamentepróximas • por antônimos • por diferentes modos de relações de parte/todo 3. CONEXÃO 3.1. Estabelecimento de relações sintático-se- mânticas entre termos, orações, períodos, parágrafos e blocos supraparagráficos Uso de diferentes conectores • preposições • conjunções • advérbios • e respectivas locuções (fonte: Irandé Antunes. Lutar com palavras: coesão e coerência, 2012, p. 51) Passaremos, agora, a uma análise sistemática da proposta apresentada neste quadro, pois Antunes organiza de uma forma muito didática o que você, caro(a) aluno(a), precisa compreender em termos de coesão. O quadro, apresentado anteriormente, traz uma diferenciação entre relações textuais (Campo1), procedimentos (campo 2) e recursos (campo 3). 10 Unidade: Coesão textual - conceito e seu uso prático Relações Textuais (Campo 1) As relações textuais (campo 1) dizem respeito ao tipo de ligação (laço) que se estabelece entre os elementos do textos, sendo relações semânticas que podem ocorrer de 3 formas: por reiteração, por associação ou por conexão. 1. Relação de Reiteração A relação de reiteração é aquela de constante retomada do que foi dito. Ela representa um movimento de ida e volta ao que se fala por meio da substituição de uma expressão por pronomes ou sinônimos, por exemplo. As relações, de reiteração do que se disse, servem para costurar o texto, de tal forma que promova uma continuidade dos elementos para que eles não fiquem soltos na superfície textual. Observe o exemplo (Antunes, 2014, p. 53) a seguir, no qual a reiteração ocorre por meio da repetição das palavras células-tronco e tipo. Há três tipos de células-tronco. As mais comuns são encontradas na medula do ser humano em qualquer idade, mas seu poder de reprodução e especialização é baixo. Outro tipo são as células- tronco existentes no cordão umbilical, mais potente que as da medula. Mas o tipo mais promissor são as células-tronco dos embriões humanos. (Veja, 2/03/2005. In Antunes, 2012, p. 53) 2. Relação de Associação A relação de associação é promovida pelo uso de palavras de um mesmo campo semântico ou campos semânticos afins. Trata-se de promover uma unidade de sentido por trabalhar dentro de uma unidade temática. Isso deixa claro que não se escolhe aleatoriamente as palavras para compor um texto, mas, ao contrário, elas estão em ligação de sentido temático. Exemplo: Acabou a festa O governo esperou o Carnaval passar para botar seu bloco na rua. Na semana passada, enquanto a comissão de frente fechava os últimos detalhes do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, a turma da bateria acertou o ritmo do ajuste fiscal. ( Wladimir Gramacho, Isto é, 10/03/99, p. 84. In Antunes, 2012, p. 129) 3. Relação de Conexão A relação de conexão é conseguida pelo uso do que se chama conectores textuais (preposições, conjunções, advérbios e respectivas locuções). Esses conectores servem para estabelecer relações de sentido entre orações, parágrafos e/ou período, os quais demarcam efeitos de sentido de oposição, causa, dúvida etc... Se o conector não for empregado corretamente trará prejuízo de sentido para o texto, por isso, mais adiante veremos quais tipos de relação cada conector estabelece entre os segmentos. 11 Exemplo: Em São Paulo não apenas os assaltos aumentam, mas também os sequestros relâmpagos Procedimentos (Campo 2) Voltando ao quadro apresentado, o campo 2, refere-se aos procedimentos que devem ser desenvolvidos em cada tipo de relação. Os procedimentos são: de repetição e de substituição para a relação de reiteração; de seleção lexical para a relação de associação; e procedimentos sintático-semânticos para relação de conexão. Recursos (Campo 3) Novamente, voltando ao quadro apresentado, o campo 3 trata dos recursos que dispomos para estabelecer a ligação entre as partes do texto. Esses recursos são os elementos que dispomos, efetivamente, para que os procedimentos sejam efetivados. Conversaremos sobre esses recursos já trabalhando em cima de exemplos práticos, pois são eles que articulam as relações textuais. 1. RELAÇÃO DE REITERAÇÃO - Procedimentos e recursos Para desenvolver a relação de reiteração podemos proceder de duas formas: 1. Repetição ou 2. Substituição. 1. Relação de Reiteração 1.1 Procedimento de Repetição 1.1.1 Recurso - Paráfrase Para os procedimentos de repetição temos os seguintes recursos ao nosso alcance: paráfrase, paralelismo e repetição propriamente dita (de unidades do léxico ou de unidades da gramática). A paráfrase consiste em dizer algo que já foi dito usando palavras diferentes. Ela ocorre quando se utiliza expressões do tipo: isto é, ou seja, dito em outras palavras, em resumo, em síntese, em suma. Tem a função semântica de esclarecimento, pois repete o que foi colocado anteriormente. Exemplo: “Em todo enunciado, fala-se de um determinado estado de coisas de uma determinada maneira: isto é, ao lado daquilo que se diz, há o modo como aquilo que se diz é dito.” (Koch, 2001, p.52) 12 Unidade: Coesão textual - conceito e seu uso prático 1.1.2 Recurso - Paralelismo O paralelismo, também conhecido como simetria de construção ou simetria sintática consiste na ordenação de dois elementos ou expressões de valor idêntico. Exemplo: É conveniente que chegues a tempo e que tragas o relatório pronto. Ou, É conveniente chegares a tempo e trazeres o relatório pronto. (Antunes, 2012, p. 64) Apresentaria falta de paralelismo, se a sentença estivesse da seguinte forma: É conveniente chegares a tempo e que tragas o relatório pronto. (Antunes, 2012, p. 64) Outro exemplo de paralelismo com relação À manutenção da estrutura sintática: Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. (Gonçalves Dias, In: Koch, 2001, p. 51) Atenção Às vezes a quebra do paralelismo consiste em um recurso estilístico, principalmente em obras literárias ou publicitárias, para promover algum efeito de sentido no leitor. 1.1.3 Recurso – Repetição Propriamente Dita Os estudiosos falam do mito de que não se pode repetir palavras em um texto, no entanto, as relações textuais estabelecidas pela repetição de termos (do léxico ou da gramática), conhecido como repetição propriamente dito ou repetição literal, consiste em valioso recurso de manutenção temática e é muito precioso quando bem utilizado, pois desenvolve algumas funções dentro do texto: 1. Marca ênfase, exemplo: “O capitalismo, para Gil, funciona assim: o Estado paga tudo. Paga a produção do filme, paga a construção da sala, paga a distribuição da cópia, paga o bilhete do espectador. (Veja, 8/06/2005, In: Antunes, 2014, p.72) A repetição da forma verbal “paga” enfatiza a crítica de Gil ao funcionamento do capitalismo. 13 2. Marcar o contraste entre dois segmentos do enunciado, exemplo: Para os pais todos são iguais, mas existem filhos e filhos. A repetição da palavra “filhos” mostra um contraste entre filhos bons e filhos ruins. 3. Marcar um gancho para uma correção, explícita ou apenas sugerida, exemplo: VINGANÇA O Itamaraty assistiu com uma ponta de alma lavada ao fracasso da comemoração dos 500 anos. A organização estava a cargo dos diplomatas, mas Rafael Grecca assumiu-a para promover uma festa popular. Popular? (Veja, 3/5/2000, In: Antunes, 2014, p. 73) Ao repetir da palavra “popular” está se fazendo uma correção porque não se considera a festa como popular. 4. Marcar uma espécie de ‘qualificação’, por exemplo: Há três soluções para o drama da infância perdida na rua: escola, escola, escola. (Veja, 30/10/1996, In: Antunes, 2014, p. 74) Ao repetir o termo “escola” três vezes o locutor marca a importância da escola para a infância perdida. 5. Marcar a continuidade do tema que está em foco, exemplo do texto, já citado, que fala sobre célula-tronco. 1. Relação de Reiteração 1.2 Procedimento de Substituição 1.2.1 Recurso - Substituição Gramatical Passemos, agora,para a relação textual de reiteração, pelo procedimento de substituição, ou seja, em vez de repetir uma palavra iremos substituí-la. Para tanto, temos três recursos: 1. Substituição gramatical; 2. Substituição lexical e 3. Elipse. 1. A substituição gramatical ocorre por retomada de um termo por meio de pronomes (pessoais, demonstrativos, possessivos, os relativos, os indefinidos) ou advérbios. Substituição por pronome: A substituição de um nome por um pronome pode ocorrer em duas ordens: 14 Unidade: Coesão textual - conceito e seu uso prático a) Anáfora: cita um nome e depois ele é substituído por um pronome. Exemplo: Ana é minha amiga de infância. Ela morava peto da minha casa. b) Catáfora: Primeiro vem o pronome e depois o nome a qual ele se refere: Exemplo: Muita e muita gente já a desejou. Alguns a tiveram. Ao longo da década de 80, ela deslumbrou o Brasil desfilando nas passarelas do Rio de Janeiro. Os anônimos que a desejaram, é natural, já a esqueceram. Ela se chama Josette Armênia de Campos Rodrigues. No auge de seu estrelato, chamava-se Josi Campos. Era uma mulher introspectiva, mas batalhadora e guerreira. (IstoÉ, 29/09/04, In: Antunes, 2012, p. 87-88) Substituição por advérbio: Podemos substituir um elemento ou uma frase toda por um advérbio. Exemplo: O professor acha que os alunos não estão preparados, mas eu não penso assim. (Koch, 2001, p. 21) 1.2.2 Recurso – Substituição Lexical A substituição lexical consiste em retomar uma palavra, expressão, um período ou até mesmo um parágrafo inteiro utilizando sinônimos, hiperônimos ou caracterizadores situacionais. Glossário Hiperônimo é uma palavra que abrange várias outras. Ex. flor é hiperônimo de rosa, margarida, violeta. Caracterizadores situacionais: São palavras ou termos que servem para definir algo a partir do conhecimento de mundo que o Interlocutor possui. Ex. “lata velha” é um caracterizador de carro velho A substituição por um sinônimo consiste em usar uma palavra por outra de sentido igual ou aproximado. Exemplo: Vivamente empenhado em reduzir o déficit de caixa do Tesouro (...), o governo (...) se vem preocupando com o problema de redução dos gastos do erário. (Diário de Pernambuco, 1/10/1969, In: Antunes, 2014, p. 101) 15 c) A substituição por um hiperônimo consiste no uso de “palavras gerais”, “palavras superordenadas” ou “nomes genéricos”, com os quais se nomeia uma classe de seres ou se abarcam todos os membros de um grupo (Antunes, 2014, p. 102). Exemplo: Existem evidências de que os sapos habitam a terra desde o período jurássico. Mas, ao contrário dos dinossauros, a mais imponente estirpe de 200 milhões de anos atrás, os anfíbios sempre foram considerados párias do reino animal. (Época, 28/06/04, p. 60. In: Antunes, 2014, p. 104) d) A terceira substituição, chamada por Antunes de caracterização situacional, é aquela na qual se troca um termo ou expressão por outro que serve para definir um objeto a partir de uma contextualização discursiva elaborada sobre o conhecimento de mundo do receptor do texto. É com indignação que vejo o sucesso dos Mamonas Assassinas. Tal fato demonstra o baixíssimo nível cultural do povo brasileiro, que, além de engolir sem digerir a futilidade de sertanejos, pagodes, raps e outras idiotices, incorpora a seu cardápio terceiro-mundista a mediocridade desses estelionatários da arte. (Veja,1995. In: Antunes, 2014, p. 115) 1.2.3 Recurso – Elipse A elipse consiste no que se chamou de substituição por zero, Consiste em não usar uma palavra ou expressão que é facilmente recuperada pelo contexto. Exemplo: Ainda bem que você está satisfeito – disse a galinha - E Ø tem razão de estar Ø, pois Ø é galo. Mas eu, galinha, fêmea da espécie, posso estar satisfeita? Não posso Ø. (Antunes, 2014, p. 123) A versão sem elipse seria: Ainda bem que você está satisfeito – disse a galinha - E você tem razão de estar satisfeito, pois você é galo. Mas eu, galinha, fêmea da espécie, posso estar satisfeita? Não posso estar. (Antunes, 2014, p. 123) Atenção A elipse é um recurso muito valioso, no entanto deve-se tomar cuidado para não suprimir um termo ou expressão que deixe o enunciado sem informações importantes ou que cause ambiguidade de sentido. 16 Unidade: Coesão textual - conceito e seu uso prático 2. RELAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO - Procedimentos e recursos Voltando ao quadro de coesão colocado anteriormente, no campo 1 do quadro encontramos a relação textual (2) de associação, cujo o procedimento é a seleção lexical e que se realiza com o recurso de seleção de palavras semanticamente próximas por meio de antônimos e por diferentes modos de relações de parte/ todo. Ou seja, no texto são estabelecidos elos entre as partes graças ao uso de palavras que associam: relações antônimas de sentido contrários, exemplo gordo/magro; alto/baixo. relações co-hiponímicas que tem um sentido restrito, ex: rosa é hipônimo de flor, Fiat é hipônimo de carro etc.; relações partonímicas palavras que representam uma parte de um conceito ou um objeto maior, exemplo: chuva/gota/água, clima/chuva/temperatura etc. Um texto se constrói por meio da escolha de palavras que pertençam a um determinado campo lexical, para que mantenha uma unidade temática e uma continuidade de sentido. Isso nos mostra que não escolhemos as palavras aleatoriamente para colocar no texto, ao contrário, elas estabelecem um elo associativo de significados de acordo com o seu uso concreto. 3. RELAÇÃO DE CONEXÃO - Procedimentos e recursos Por fim, trataremos da relação textual de conexão, cujo procedimento é o estabelecimento de relações sintático-semânticas entre termos, orações, períodos, parágrafos e blocos supraparagráficos. Para se estabelecer as relações entre as unidades sintático-semânticas o recurso disponibilizado é o usos dos conectivos textuais (preposições, conjunções, advérbios e respectivas locuções). Glossário Blocos supraparagráficos são blocos maiores do texto. Destacamos aqui que não olharemos para esses conectivos da mesma forma que eles vêm sendo tratados, na maioria das vezes, pelas gramáticas, ou seja, apenas como ligação cuja função é indicar causa, efeito, temporalidade, negação etc. Mas, em uma perspectiva que “reconheça que esses elementos também cumprem a função de indicar a orientação discursivo- argumentativa que o autor pretende emprestar a seu texto.” (Antunes, 2012, p. 144) Essa abordagem respalda-se pelas colocações de Irandé Antunes, na procura de novas perspectivas para o estudo dos conectores e levanta dois pontos fundamentais: • entender a função dos conectores como elementos de ligação de subpartes do texto (sejam essas partes termos, orações, períodos, parágrafos ou blocos maiores do texto); • e entender esses conectores como elementos indicadores de relações de sentido e de orientações argumentativas pensadas para o texto. (Antunes, 2012, p. 144) Os quadros a seguir mostram as conjunções e suas relações no estabelecimento da conexão coesiva: 17 Relação De comparação: consiste em confrontar dois elementos para ver no que são iguais ou diferentes. Alguns conectores ou expressões conectivas Como, mais (...) do que, menos (...) do que, tanto (...) quanto, tão (...) como Exemplo Um time é maior do que a soma de seus jogadores. (Anúncio do BankBoston, Veja, 13/04/05, p.29) Relação De justificação ou explicação: consiste em explicar, esclarecer ou justificar algo que foi dito Alguns conectores ou expressões conectivas Isto é, quer dizer, ou seja, pois Exemplo Não existem animais inúteis. Isto é, todo animal, para sobreviver, alimenta-se necessariamente de outros seres, sejam eles animais ou vegetais. (Carlos Eduardo Novais, 1974) Relação De adição: consiste em acrescentar mais um argumento em favor do que foi dito. Alguns conectores ou expressões conectivas E, ainda, também, não só... mas também, além de, nem (a expressão além do mais, em geral, introduz um argumento decisivo) ExemploAs últimas pesquisas demonstram que os homens já estão se equiparando às mulheres na frequência aos supermercados. Revelam ainda que eles vêm mostrando um talento incrível para donas de casa. (Carlos Eduardo Novais, 1974) Relação De conclusão: consiste em apresentar uma conclusão com base em fatos e conceitos expressos no texto. Alguns conectores ou expressões conectivas Logo, portanto, pois, por conseguinte, então, assim Exemplo NOSSA GRANDE VANTAGEM: todos já sabemos português! Não precisamos, portanto, partir do zero. (Carlos Alberto Faraco, 2003, p. 3) Relação De complementação: consiste em usar oração como sujeito, complemento ou aposto de outra. Alguns conectores ou expressões conectivas Que, se, como Exemplo Depois do longo voo do pontificado de João Paulo II, os cardeais do conclave podem concluir que está na hora de o catolicismo sofrer uma revisão. (Veja, 13/04/05, p. 11) Relação De causalidade: consiste em expressar o motivo do que foi expresso em outra oração Alguns conectores ou expressões conectivas Porque, uma vez que, visto que, já que, dado que, como Exemplo Como o sol não costuma dar trégua, as praias são sempre uma ótima opção. (Anúncio de uma Agência de Viagens) 18 Unidade: Coesão textual - conceito e seu uso prático Relação De delimitação ou restrição: consiste em delimitar ou restringir o que foi dito em outra oração. Alguns conectores ou expressões conectivas Pronomes relativos - Que, o que, qual, o (a) qual, os(as) quais Exemplo O saldo deixado por uma doença que foge ao controle é quase sempre catastrófico. (Veja, 13/04/05, p. 123) Relação De oposição: consiste em opor-se a algo que foi dito, de maneira explícita ou implícita, anteriormente. Alguns conectores ou expressões conectivas Mas, porém, contudo, entretanto, no entanto, embora, se bem que, ainda que, apesar de Exemplo A educação básica é a grande prioridade nacional, mas o tema que ocupa os jornais é o ensino superior. (Isto É, 13/04/05, p. 47) Relação De condicionalidade: consiste em estabelecer uma condição em relação ao conteúdo expresso em outra oração. Alguns conectores ou expressões conectivas Se, caso, desde que, contanto que, a menos que, sem que, salvo se, exceto se Exemplo Acho que as escolas terão realizado sua missão se forem capazes de desenvolver nos alunos o prazer da leitura. (Rubem Alves, Folha de S. Paulo, 24/03/1999) Relação De temporalidade: consiste em expressar as relações de temporalidade (anterior, simultâneo, posterior, habitual e proporcional) em relação aos acontecimentos e ações. Alguns conectores ou expressões conectivas Quando, enquanto, apenas, mal, antes que, depois que, logo que, assim que, sempre que, até que, desde que, todas as vezes que, cada vez que Exemplo Cada vez que um brasileiro sai do campo para a cidade, o Brasil perde alimentos e ganha fome. (Anúncio da Fundação Banco do Brasil) Relação De conformidade: consiste em estabelecer uma relação de acordo entre o que está sendo dito. Alguns conectores ou expressões conectivas Conforme, consoante, segundo Exemplo O brasileiro – mesmo que lentamente – dá sinais de reação. Cansado e mais alerta, já não engole sapos tão facilmente. Procura se informar e tem ousado contra-atacar, conforme mostram as queixas registradas nos Procons. (Isto É, 7/2/2001) Relação De alternância: consiste em alternar elementos de forma exclusiva (só admite uma possibilidade como verdadeira) ou inclusiva (os elementos se incluem um no outro). Alguns conectores ou expressões conectivas ou Exemplo Exclusiva: Todo escritor é útil ou nocivo, um dos dois. (Yourcenar, 1983) Inclusiva: Mesmo os animais cuja sobrevivência não pareça tão essencial à humanidade ou à natureza devem ser preservados de extinção. (Conhecer nosso tempo, 1974) 19 Relação De finalidade: consiste em expressar a finalidade ou o propósito colocado em outra oração. Alguns conectores ou expressões conectivas Para que, a fim de que Exemplo Estes cartões abrem portas para você fechar negócios. (Anúncio publicitário) (Fonte: Adaptado do livro de Irandé Antunes, Lutar com palavras: coesão e coerência, 2012, p. 145 – 163) Atenção O conector pode aparecer apenas subentendido, cabendo ao leitor ativar seus conhecimentos linguísticos para recuperá-lo. Exemplo: Quer continuar a respirar? Comece a preservar. (Fundação S.O.S. Mata Atlântica, In: Antunes, 2012, p. 158) Com o conectivo: Quer começar a respirar? Então, comece a preservar. Observação: O quadro de conectores textuais foi elaborado a partir das colocações de Irandé Antunes, no livro – Lutar com Palavras: coesão e coerência, assim como todos os exemplos foram retirados da mesma obra. Sugiro a leitura, pois, nesta obra você encontrará uma significativa quantidade de outros exemplos. Esperamos que você tenha percebido o quanto refletir a respeito dos elementos de coesão é importante, pois eles estabelecem relações de sentido entre as partes do texto. Ou seja, a coesão é responsável tanto pela arquitetura estrutural do texto quanto por significados depreendidos por meio das ligações internas que estabelece. A coesão é uma propriedade textual essencial para a leitura e produção de bons textos. 20 Unidade: Coesão textual - conceito e seu uso prático Material Complementar Para aprender mais sobre os conteúdos trabalhados nesta unidade, indicamos os links a seguir: Vídeos: Videoaula, realizada pelo Professor Kalife, no site aulade.com.br Esse vídeo trata da relação de reiteração, procedimento de substituição, recurso substituição gramatical. Mais especificamente da anáfora e da catáfora. https://www.youtube.com/watch?v=EG5S3eq2fao Videoaula, realizada pelo Professor Kalife, no site aulade.com.br Esse vídeo trata da relação de conexão, comentando a respeito da importância de conectar os elementos na sequência do texto. https://www.youtube.com/watch?v=1gIv6Aa77BQ Videoaula, realizada pela Professora Rafaela Motta. A aula aborda as relações de reiteração e foca no uso dos pronomes dentro dos textos. https://www.youtube.com/watch?v=stks7R4dGgY Site: Artigo da Brasil Escola a respeito das relações coesivas. Escrito por Marina Cabral, especialista em Língua Portuguesa. http://www.brasilescola.com/redacao/coesao.htm Não deixe de acessar o material complementar, pois é muito importante sua ação como protagonista na construção dos seus conhecimentos. 21 Referências ANTUNES, Irandé Costa. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial, 2012. Koch, Ingendore Villaça. A coesão textual. 16 ed. – São Paulo: Contexto, 2001. Referências Bibliográficas: (disponível para consulta) ANTUNES, Irandé Costa. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial, 2012. 22 Unidade: Coesão textual - conceito e seu uso prático Anotações
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