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1 Antropologia Sabrina Feitosa As teorias antropológicas são ferramentas para a aplicação do estudo do Homem e de suas obras em Antropologia. Portanto, as teorias antropológicas servem para compreender as diversas culturas. Com o advento do movimento científico, a antropologia, assim como as outras ciências, precisou se adaptar para atender às exigências de experimentação empírica, identificação de leis explicativas e generalização de seus fenômenos descobertos/estudados. A seguir, apresenta-se as principais teorias que contribuíram para que a Antropologia se tornasse ciência: 1. Evolucionismo: estudava o ser humano sob uma perspectiva mais ampla, a partir dos aspectos evolutivos, estudando civilizações inteiras. 2. Difusionismo: explica o desenvolvimento da cultura a partir do processo de difusão de elementos de uma cultura para outro sistema cultural. Essa corrente teórica se dividiu em duas: (1) Britânica – defendia que existia apenas um centro cultural que seria o Egito - e (2) Alemã – defendia que existiam vários círculos difusores de cultura. 3. Funcionalismo: focava seus estudos no contexto do tempo histórico que a cultura estava inserida. Buscava a função que cada instituição social teria na sociedade daquela época. Entendia as instituições a partir da metáfora das engrenagens. Logo, se uma não funcionava bem, poderia ocasionar o mau funcionamento das outras. 4. Estruturalismo: é a escola teórica mais recente da antropologia. Propõe que existem estruturas que baseiam o pensamento humano universalmente. Segundo o antropólogo e linguista Keesing, existem dois tipos de correntes teóricas para conceituar o que é cultura: 1. Entender a cultura como um sistema adaptativo: a cultura seria um instrumento de adaptação do ser humano a um modo de vida; e 2. Entender a cultura como um conjunto de teorias idealistas que se subdividiram em três categorias: 1ª. Sistema Cognitivo: a cultura equivale à um sistema de conhecimentos que tem como função adaptar o ser humano ao convívio em sociedade. 2ª. Sistema Estruturais: a cultura é um instrumento simbólico criado e utilizado pelos humanos para compreenderem e atribuírem significados para suas ações. 3ª. Sistema Simbólicos: se refere às normas das relações sociais, moldando o comportamento do indivíduo inserido em sociedade. Com o advento das expansões marítimas, os europeus tiveram contato com povos de culturas diferentes. Esse contato permitiu aos europeus estudar os povos dominados. A Europa interpretava os povos de culturas diferentes como pertencentes a estágios diferentes da evolução cultural. Essas diferenças percebidas pelos europeus promoveram explicações monogenistas e poligenistas. A interpretação monogeísta propõe que há um processo de evolução linear para toda a espécie humana, no qual há estágios menos evoluídos (estágio primitivo) e mais evoluídos (civilização europeia). Portanto, as diferenças culturais 2 Antropologia Sabrina Feitosa eram indicadoras do estágio evolutivo que determinado povo se encontrava; baseados nisso que os primeiros etnólogos denominavam o homem do passado como primitivo. A poligenia defendia que existiam várias origens para o Homem e, por isso, diferenças físicas e culturais existiam. Defendiam também que as diferenças levariam à degeneração da espécie, caso os indivíduos de etapas diferentes se entrecruzassem. As ideias de Darwin influenciaram o colonialismo com a justificativa biológica (darwinismo social - criado por Herbert Spencer, um admirador de Darwin) do avanço do homem civilizado sobre o homem não civilizado. Spencer, a partir do darwinismo social, postulou que assim como os animais, os homens também se dividiam em raças mais primitivas e mais evoluídas. Nessa perspectiva, o cruzamento interracial resultaria na degeneração das espécies. A antropologia se desenvolveu nesse contexto em que a teoria evolucionista era muito influente. Portanto, a principal tarefa do antropólogo à época era determinar a antiguidade do homem, identificar o estágio do processo evolutivo em que o povo estudado se encontrava e criar uma escala do tempo para determinar tais estágios evolutivos. Segundo Lewis Henry Morgan, existem três estágios evolutivos das sociedades humanas: selvageria, barbárie e civilização. É importante relembrar que o ponto de comparação era a sociedade europeia. Portanto, essa é uma visão etnocentrista e eurocêntrica que determinava a sociedade europeia como o estágio final do processo evolutivo das sociedades. Se desenvolveu em resposta ao evolucionismo. Os difusionistas britânicos lançavam luz sobre detalhes esquecidos pelos antropólogos evolucionistas, como correntes migratórias e contatos interculturais. Elliot Smith defendeu a tese de que os egípcios eram portadores de indícios que revelavam que a África seria o berço da origem da humanidade. O movimento de difusão teria começado da África para o Egito e, então, para todo o mundo em movimentos migratórios que fizeram com que os povos diferentes começassem a surgir. As teorias de polos difusores é resultado da influência que a escola britânica teve sob os norte-americanos. A partir da necessidade dos norte-americanos em desenvolver taxiologias (classificações) dos artefatos coletados de diferentes grupos tribais para o Museu Americano de História Natural e do Museu de Chicago. O critério escolhido foi a proximidade cultural em que alguns traços das culturas se conectavam, formando, então, as áreas culturais. Os círculos culturais - conceito utilizado por antropólogos europeus - têm origem nas teorias difusionistas e se refere a complexos culturais dispersos que teriam se deslocado geograficamente. Essa nova postura antropológica modificou o objetivo do estudo do antropólogo que deixou de ser a identificação de uma cultura universal para o estudo das diferentes culturas. O principal fracasso para as explicações evolucionista na antropologia foi o abandono dos estudos baseados em relatos para atender à necessidade imposta por métodos científicos, como a pesquisa de campo. A excessiva utilização de valores europeus para analisar e demarcar a posição de povos não europeus na “pista de corrida” da civilização rumo à civilização também marcou o abandono do evolucionismo. O evolucionismo deu lugar ao funcionalismo que tem como precursor o antropólogo social Bronislaw Kasper Malinowski (1884 - 1942). As ideias de Malinowski não eram perfeitas, mas, pelo menos, deixavam de ver os povos primitivos pela ótica da “pista de corrida rumo à civilização”. 3 Antropologia Sabrina Feitosa O etnocentrismo, na teoria de Malinowski, deu lugar à visão do homem primitivo sobre seu povo a partir de seu próprio ponto de vista, ou seja, sem comparação com a sociedade europeia. Malinowski propunha o estudo de sociedades complexas a partir de suas partes (unidades primordiais de estudo) até chegar à sociedade completa (instituições) que é o objeto de análise. Malinowski propôs também a divisão do estudo do ser humano por necessidades: 1. necessidades primárias: biológicas; e 2. necessidades secundárias: culturais. Segundo Malinowski, as necessidades primárias determinam as secundárias, ou seja, as secundárias estão lá para satisfazer as necessidades primárias. A exemplo: se vestir adequadamente para uma entrevista de emprego é uma necessidade cultural que atende à necessidade biológica comer e beber, pois sem dinheiro, na nossa sociedade capitalista, não há comida e bebida. Malinowski propôs um método de pesquisa composto por três tarefas: 1. observar todos os costumes dos nativos: a observação social seria exatamente o que permitiria ao antropólogo estudar o povo sem usar as referências de sua origem; 2. apreender suas narrativas orais; e 3. utilizar métodos estatísticos. O funcionalismo trouxe como consequência o relativismo: o distanciamento do interesseem questionar os valores dos povos estudados tornando os povos estudados em comunicadores de suas práticas culturais. Esse distanciamento se deu porque o relativismo propõe que os valores e normas não devem ser objetos de estudo do pesquisador. O relativismo não questiona, nem mesmo, as práticas ruins (prejudiciais à vida humana), como o apedrejamento de mulheres adúlteras no Irã, a condenação de homossexuais à morte na Uganda, o racismo, o machismo, entre outros assuntos que são ruins e aceitos em determinadas culturas. Assim, há estudiosos que defendem que as práticas violentas são pertencentes à cultura e não devem ser alteradas pelos que estão do lado de fora. Enquanto outros defendem que existem valores que devem ser universalizados para todas as culturas, como: liberdade, igualdade, direito à vida e à inviolabilidade do corpo. Claude Lévi-Strauss foi o fundador da Antropologia Cultural, ele a criou a partir de seus estudos com povos indígenas entre 1935 a 1939. A teoria estruturalista afirma que existem estruturas universais por trás de todas as ações dos seres humanos. Assim, enquanto antropólogos buscavam as diferenças culturais, Lévi-Strauss procurava as estruturas básicas universais. Seu ponto de vista contribuiu para a relativização. Suas pesquisas demonstraram que os indígenas tinham sociedades notáveis e lógicas como as desenvolvidas tecnologicamente. Assim, sua teoria desmontava as teorias de superioridade das sociedades modernas. É conhecida também como Antropologia Hermenêutica. Tem sua origem ligada aos estudos do antropólogo norte americano Clifford Geertz. Sua principal inovação é ver as sociedades como textos que devem ser lidos e interpretados. Segundo Geertz, estudar uma cultura é dar ao outro voz para se expressar em seus próprios termos. Surgiu nos anos 1980, como uma forma de criticar e se opor às ideias vigentes na Antropologia. Foi uma corrente fortemente influenciada por Michel Foucault que criticava os polos de poder verificados na Antropologia. Material produzido com base no livro texto da unidade 4 da disciplina de Antropologia da Cruzeiro do Sul Virtual. 4 Antropologia Sabrina Feitosa Veja também: Resumo Questões da Antropologia Clássica – Unidade II
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