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LINGUÍSTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA PROF.A MA. MONIQUE BISCONSIM GANASIN Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Felipe Veiga da Fonseca Luana Ramos Rocha Marta Yumi Ando Produção Audiovisual: Adriano Vieira Marques Eudes Wilter Pitta Paião Márcio Alexandre Júnior Lara Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Só- crates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande res- ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conheci- mento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR UNIDADE 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................... 5 1. APRESENTANDO A FONÉTICA E A FONOLOGIA .............................................................................................. 6 1.1 FONÉTICA ........................................................................................................................................................... 6 1.2 FONOLOGIA ....................................................................................................................................................... 8 1.3 UMA DISCUSSÃO TERMINOLÓGICA ............................................................................................................. 9 2. OS ALFABETOS FONÉTICOS ............................................................................................................................10 2.1 O ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL (AFI)........................................................................................... 11 2.2 O SAMPA ...........................................................................................................................................................12 3. CAMPOS DE INTERFACE ...................................................................................................................................13 3.1 CIÊNCIA DA TELECOMUNICAÇÃO ..................................................................................................................14 3.2 DRAMATURGIA .................................................................................................................................................14 INTRODUZINDO FONÉTICA E FONOLOGIA PROF.A MA. MONIQUE BISCONSIM GANASIN ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: LINGUÍSTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA 4WWW.UNINGA.BR 3.3 ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS ..........................................................................................................14 3.4 ENSINO DE LÍNGUA MATERNA .....................................................................................................................14 3.5 FONOAUDIOLOGIA ...........................................................................................................................................15 3.6 LINGUAGEM DE SURDO-MUDO .....................................................................................................................15 3.7 LINGUÍSTICA COMPUTACIONAL ....................................................................................................................15 3.8 LINGUÍSTICA FORENSE ..................................................................................................................................15 3.9 LINGUÍSTICA INDÍGENA .................................................................................................................................16 3.10 LINGUÍSTICA...................................................................................................................................................16 3.11 PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO-SOCIAL ......................................................................................................16 3.12 TECNOLOGIA DA FALA ...................................................................................................................................16 3.13 TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO ....................................................................................................................17 3.14 ZOOBIOLOGIA ................................................................................................................................................17 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................19 5WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), esta unidade tem um per� l introdutório, isto é, trata-se de uma introdução sobre a Fonética e, igualmente, a Fonologia. Objetivamos que, com base na sua língua – a Língua Portuguesa –, você comece a entender os fenômenos que estão relacionados às propriedades articulatórias dos sons do português brasileiro e seu sistema fonológico. Estudos realizados em situações de aula por Seara, Nunes e Volcão (2015), usados como referência na obra Fonética e Fonologia do Português Brasileiro, mostram que partir da língua materna dos estudantes para ensinar Fonética e Fonologia é uma maneira de facilitar o aprendizado, pois os alunos aprofundam os seus conhecimentos em relação à sua língua. O campo de estudos que vamos percorrer é, essencialmente, um caminho árduo, visto que trataremos de noções abstratas. Por isso, não vamos enveredar por análises fonológicas de línguas indígenas ou hipotéticas, pois você, além de lidar com um elemento pouco palpável (que é o som), teria que demandar esforços para entender uma nova língua. Sendo assim, nesta unidade, objetiva-se que você re� ita a respeito da produção, do funcionamento e da sistematização da própria língua. Posteriormente, faremos referência a outras variedades do português e a outras línguas. Mas isso só acontecerá quando os exemplos do português brasileiro não forem su� cientes para exempli� car um fenômeno ou um aspecto teórico, ok? Você verá que as suas intuições fonético-fonológicas são muito fortes e, certamente, elas o acompanharão quando chegar a hora de analisar os fenômenos tratados. De forma geral, esta unidade torna possível que você tenha uma iniciação a aspectos relacionados à Fonética e à Fonologia e aos seus fundamentos. Esclarecemos que “[...] as diferentes escolas linguísticas, tratando da fonologia, construíram modelos teóricos distintos, propiciando uma grande variabilidade terminológica” (SILVEIRA, 1986, p. 12). Ou seja, por se tratar de uma introdução, não nos � liaremos a uma determinada escola, mas apresentaremos aspectos que nos parecem mais importantes para estudos iniciais. Para tanto, dividimosnossas discussões em três tópicos: 1) as convergências e divergências entre os estudos fonéticos e fonológicos, etapa em que faremos aproximações e distinções entre essas disciplinas, bem como uma breve discussão sobre as suas terminologias; 2) uma familiarização com os símbolos fonéticos, para que você, aluno(a), conheça os elementos usados para representar a sonoridade da fala; assim, a partir desta unidade, você terá acesso aos símbolos convencionados pela literatura fonética, ou seja, partiremos da apresentação de dois alfabetos fonéticos mais usados pelos estudiosos da área: IPA e SAMPA – que serão retomados nas unidades futuras; 3) apresentaremos quais as áreas de intersecção existentes com os estudos fonéticos/fonológicos, para que você possa visualizar como essas disciplinas são exercidas e sua importância na/para a sociedade contemporânea. 6WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1. APRESENTANDO A FONÉTICA E A FONOLOGIA Aluno(a), poderíamos iniciar esta caminhada retomando como se desenvolve a linguagem no ser humano e os desdobramentos dessa função para o ato da fala, porém é importante não perder de foco o nosso objeto, que será estudado nesta unidade: os sons que possibilitam a fala. Acontece bastante de, “ao falar da linguagem”, os leigos terem como ancoragem a língua escrita. Mas, segundo Callou e Leite (1993, p. 13), “[...] a linguagem é primordialmente oral”. Ou seja, muito antes da escrita, os povos se comunicavam pela fala e, embora possa parecer óbvio, precisamos sempre lembrar que as letras não são correlatas aos sons. Dito de outro modo, letras podem até corresponder a sons, mas de forma complexa. Um exemplo trazido por Seara, Nunes e Volcão (2015) sobre a letra ‘x’ permitirá que você entenda melhor essa relação. A letra ‘x’ está presente em palavras que têm um som semelhante ao de ‘xícara’ e ‘xale’. Porém, observe que o mesmo som inicia as palavras ‘chave’ e ‘chuva’ – temos aí um primeiro indício de que letra e som não são equivalentes. Outra situação a ser pensada é a presença da letra ‘x’ nas palavras ‘exame’, ‘táxi’ e ‘explícito’. Repare que, nessas palavras, a letra ‘x’ está correspondendo a sons diferentes. Tendo essa premissa como diretriz norteadora, podemos iniciar uma aproximação entre Fonética e Fonologia, a� rmando que ambas as disciplinas apresentam, como objeto de pesquisa, a investigação de “[...] como os seres humanos produzem e percebem os sons da fala” (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2015, p. 14). Sendo assim, mesmo que, posteriormente, as unidades tratem de forma separada Fonética e Fonologia, esta é uma � nalidade exclusivamente didática. Mantenha-se atento ao fato de que esses dois campos se completam mutuamente. Em outros momentos, a Fonética e a Fonologia foram pensadas de formas independentes. No princípio do século XX, a Fonética era tratada pelas Ciências Naturais, enquanto que a Fonologia pelas Ciências Linguísticas. Hoje, as discussões recentes mostram que elas têm uma ampla relação. Aluno(a), para que você possa acompanhar as explicações que vão seguir neste tópico, seguem algumas convenções: letras estarão sempre entre aspas simples: ‘ ’; grafemas estarão entre parênteses angulares: < >; transcrições fonéticas serão feitas entre colchetes [ ]. Se, de imediato, você não conseguir reconhecer todos os símbolos, não se preocupe, pois eles serão retomados nas unidades futuras. As letras ‘s’, ‘c’, ‘q’, ‘u’, ‘h’ foneticamente possuem comportamentos distintos, quan- do pronunciadas. As palavras ‘saco’, ‘asa’, ‘assa’, ‘cebola’, ‘quero’, ‘lua’, ‘hoje’ e ‘cha- to’ apresentam os grafemas <s>, <ss>, <c>, <q>, <u>, <h>, <ch>. Agora, observe como são pronunciados esses grafemas nas palavras: [s]aco, a[z]a, a[s]a, [s]ebola, [k]ero, l[u]a, []oje, [x]ato. 7WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1.1 Fonética Considerando que, em uma situação de comunicação/fala, a fonte é o falante, o transmissor é o aparelho fonador, o canal é o ar atmosférico, o receptor é o aparelho auditivo e o alvo é o ouvinte, a Fonética estuda como se produzem os sons, partindo de três ângulos diversos: o falante e seu aparelho fonador; os efeitos acústicos que os sons produzem; e por meio do exame da percepção da onda de som pelo ouvinte. O primeiro enfoque, nomeado Fonética Articulatória, estuda a fala, partindo de seu funcionamento físico, o que envolve: cérebro, pulmões, laringe, ouvido, língua, entre outros elementos do corpo que são usados com a � nalidade de produzir o som. Nesse campo de pesquisa, os parâmetros � siológicos dos nossos articuladores são levados em consideração. Vamos considerar alguns exemplos que nos ajudam a perceber a variação na realização dos sons da língua (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2015). Coloque a sua mão aberta no seu pescoço e pronuncie continuamente o som do ‘s’, dê uma pausa e, depois, o som do ‘z’. Você observará que há pregas vocais, que estão na laringe, que trabalham a vibração de formas diferentes: o som sem vibração, chamado de surdo, e o com vibração, chamado de sonoro. Agora, pronuncie a palavra ‘sagu’. Para produzir o fone [a], você precisou deixar a língua e a mandíbula abaixadas. Observe que nenhum elemento � siológico bloqueia o som, ele sai livremente. Enquanto que, na vogal ‘u’, há uma alteração no arranjo dos movimentos. Segundo Seara, Nunes e Volcão (2015), o dorso da língua vai para trás e os lábios se prolongam. Assim, a representação sonora da palavra ‘sagu’ será [sa’ gu]. O último caso que vamos analisar é o do ‘l’ quando aparece no � nal das sílabas. Pronuncie as palavras ‘sal’ e ‘bolsa’ e preste atenção. O ‘l’ sobre uma vocalização soa da mesma forma que o som do grafema <u>. Sendo assim, foneticamente descrevemos [‘saw] e [‘bows’]. Os exemplos são breves, mas esperamos que você tenha conseguido perceber como sons distintos podem ser descritos se considerarmos as características � siológicas dos nossos articuladores, pois é desse recorte que se ocupa a Fonética Articulatória, que será nosso foco de estudo na Unidade II. A Fonética Auditiva ou Perceptiva tenta entender como o som é recebido, isto é, como ouvimos, como percebemos a fala, como o nosso aparelho auditivo trata o som e, ainda, como ele é decodi� cado pelo cérebro. Para que esse trabalho seja feito, existem ferramentas tecnológicas que partem de parâmetros acústicos, desenvolvidos pelo campo teórico da Física, da Fonética Acústica. E, ainda, há a Fonética Instrumental, que compreende o estudo das propriedades físicas da fala, considerando o apoio de instrumentos laboratoriais. 8WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2 Fonologia Aluno(a), partindo do exemplo já estudado, sobre o processo chamado “palatização” com a palavra ‘tia’, diferentemente da Fonética, a Fonologia irá explicar como se dá o funcionamento do sistema que gera mudanças na realização desse ‘t’. É papel da Fonologia considerar quais regras explicam por que isso acontece e, ainda, o que pode condicionar essas variações no nosso português. Se ainda � cou pouco compreensível, vamos a outro exemplo elucidado por Seara, Nunes e Volcão (2015). Ao pronunciarmos as palavras ‘faca’ e ‘vaca’, estaremos falando de objetos distintos, correto? Além de terem seus sons iniciais diferentes, são palavras que apresentam sentidos que não são os mesmos. Dito de outra forma, os dois sons [f] e [v] – que distinguem as palavras [‘fakə] e [‘vakə] – são base de pesquisa para a Fonologia. Atenção, aluno(a), para a Fonologia, quando um par de sons é capaz de distinguir as palavras, eles são nomeados fonemas. Os fonemas são representados de uma maneira que não foi abordada até o momento, eles são anotados entre duas barras inclinadas para a direita: /f/aca e /v/aca. Assim, “A unidade fonética é o som da fala ou fone, enquanto a unidade dafonologia é o fonema” (CALLOU; LEITE, 1993, p. 11). Aluno(a), faça uma breve ponderação sobre as vezes em que você ouviu alguém falando e, automaticamente, classifi cou idade, sexo, grau de educação dessa pes- soa, bem como a região do país em que ela mora e até se ela é estrangeira. Perce- ba que, mesmo que existam diferentes variantes utilizadas para expressar o nos- so português, você consegue se comunicar com essa pessoa de maneira natural. Para que você tenha um exemplo, vamos nos apoiar na refl exão propiciada por Seara, Nunes e Volcão (2015) sobre o processo de palatização que ocorre quando pronunciamos a palavra ‘tia’. Um carioca, ao pronunciar tal palavra, produz ruído diante do ‘i’. Sendo assim, no “carioquês”, em ‘tia’, o som de ‘t’ se produz com fric- ção, representado pelos fones [′tʃia]. Já em Florianópolis, os falantes usam uma leve aspiração para pronunciar o ‘t’; assim, a palatização da consoante com o ‘i’ não acontece e ‘tia’ pode ter como pronúncia [′thiə]. Caro(a) aluno(a), após essa exemplifi cação, espero que tenha fi cado claro como a Fonética irá descrever os sons, ou seja, se foram realizados como [t], [th] ou [tʃ]. Apesar de esses sons serem bastante distintos, eles não conseguem diferenciar as palavras. Refl ita: [t]ia e [tʃ]ia têm o mesmo signifi cado em português brasileiro. Sendo assim, mesmo que, em nosso território, haja muitas variantes, como as pronúncias típicas dos regionalismos, há compreensão entre aqueles que falam. Em resumo, a Fonética está, então, preocupada em descrever como se dá a cons- trução dos sons na relação com as articulações, percepções e a acústica. “Assim parece que podemos considerar que foneticistas lidam com medidas precisas, amostragem do sinal de fala, estatísticas” (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2011, p. 13). 9WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Os fonólogos lidam com a organização mental da linguagem, com as distinções sonoras concernentes a línguas em particular, ou seja, estabelecem quais são os sons que servem para distinguir uma palavra de outra, ou quais são as regularidades de distribuição dos sons captadas a partir daquilo que o falante produz, ou ainda, quais são os princípios que determinam a pronúncia das palavras, frases e elocuções de uma língua (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2011, p. 13). Provavelmente você já notou que não são todas as sonoridades que se caracterizam como fonemas, ou seja, nem todos os fones capturados pela fonética são usados no sistema fonológico de uma ou outra língua. Voltando, mais uma vez, ao exemplo de ‘tia’, o par [t] e [tʃ] não são fonemas, já que [t]ia e [tʃ]ia apresentam o mesmo signi� cado, lembra-se? Por esse motivo é que a Fonologia não se ocupa em descrever ou identi� car variantes, por exemplo. Mas faz parte dos estudos dessa disciplina tratar quais sons são capazes de distinguir o signi� cado entre uma palavra e outra, além de organizar regras que expliquem o porquê de ocorrerem as variações. Na obra Iniciação à Fonética e à Fonologia, Dinah Callou e Yonne Leite (1993, p. 11) fazem uma diferenciação entre as disciplinas, a� rmando que à fonética cabe “[...] descrever os sons da linguagem e analisar suas particularidades articulatórias, acústicas e perceptivas”, enquanto que “[...] para a fonologia � cam as diferenças fônicas intencionais, que se vinculam às diferenças de signi� cação”. À fonologia cabe “[...] estabelecer como se relacionam entre si os elementos de diferenciação e quais condições em que se combinam uns com os outros para formar morfemas, palavras e frases”. É por isso que rea� rmamos que Fonética e Fonologia são disciplinas que dependem uma da outra, que não podem ser consideradas de forma isolada. Para que qualquer estudo fonológico se realize, é preciso partir do conteúdo fonético. Só assim se faz possível que sejam identi� cadas as unidades distintivas da língua. 1.3 Uma Discussão Terminológica Aluno(a), é importante que você saiba que diferentes escolas linguísticas trataram o tema “fonologia”. Por isso, modelos teóricos e metodológicos foram se construindo durante as pesquisas, resultando em outras terminologias, como fonemática ou fonêmica. Esta é uma sugestão de leitura, para que você possa complementar o conteúdo apresentado no tópico “Fonologia” da Unidade I. Para aprofundar suas refl exões sobre as questões teóricas relacionadas à Fonologia Portuguesa, recomendamos a obra Estudos de Fonologia Portuguesa, de Regina Célia Pagliuchi da Silveira. A autora, de forma muito introdutória, apresenta, especifi camente no capítulo I, um breve histórico, retomando os precursores da ciência dos fonemas e as difi culda- des que foram encontradas para se construir uma “gramática dos sons”. SILVEIRA, R. C. P. Estudos de fonologia portuguesa. São Paulo: Cortez, 1986. 10WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Caso você encontre essas terminações em outras leituras, queremos deixar explicitado que fonologia, fonemática ou fonêmica constituem a mesma ciência, referente à linguagem humana, que tem como objetivo o estudo dos fonemas. A variabilidade terminológica dessa ciência vai depender das características de cada escola linguística em que está inserida. Inicialmente, os estudos referentes aos sons consideravam “fonética e fonologia” como sinônimos; depois, a diferenciação entre os dois vocábulos começou a ser ponderada e, dessa forma, a fonologia passou a ser considerada uma ciência da fonética. Desde o século XIX, com o desenvolvimento das pesquisas de Saussure, em Curso de Linguística Geral (1916), � cou compreendido que os estudos sincrônicos e descritivos dos sons seriam nomeados fonologia, enquanto o estudo diacrônico e histórico � caria para a fonética. O Círculo Linguístico de Praga, em 1928, formalizou tal conceito, diferenciando as duas ciências que tratam do signo, utilizando a dicotomia saussuriana: langue e parole. Desde então, � cou estabelecido que a fonética iria estudar o som, que é o signi� cante do signo da parole (uso individual da langue); a fonologia se preocupa com fonemas, signi� cantes do signo da langue (sistema social, convencional de signos). Tanto os sons quanto os fonemas podem ser estudados sincrônica e diacronicamente (SILVEIRA, 1986, p. 19). Mesmo com essa formalização, teóricos russos, americanos e ingleses continuaram em debate, pois a palavra “fonologia” já era usada anteriormente com outra signi� cação. Para resolver esse impasse, a palavra “fonêmica” foi proposta por Troubetzkoy (1947), aceitando, por parte dos anglo-saxões, essa divergência terminológica. Também precisamos citar os estudos dinamarqueses que diferenciaram a forma da substância. Jakobson (1967) e Hjelmslev (1971), por tratarem das relações, das formas, usam do termo “fonemática”, focalizando a descrição linguística e não mais o som. Assim como foi citado no início das nossas re� exões, hoje, nos estudos contemporâneos, fonética e fonologia procuram se complementar em uma unidade voltada à pesquisa. E, a � m de que possamos cumprir o objetivo de descrever as unidades linguísticas distintivas do nosso português, tomaremos como base, também, para as próximas unidades, os empenhos da linguística estrutural, especialmente a europeia. 2. OS ALFABETOS FONÉTICOS Aluno(a), provavelmente você observou que, no decorrer das exempli� cações, lançou-se mão de uma simbologia “nova”. Esse novo tipo de escrita se denomina transcrição fonética. Ou seja, “[...] uma tentativa de se registrar de modo inequívoco o que se passa na fala” (CALLOU; LEITE, 1993, p. 33). Nesta seção, vamos apresentar alfabetos usados para representar os sons da fala. O Alfabeto Fonético Internacional, conhecido como AFI no Brasil, e o Speech Assessment Methods Phonetic Alphabet, o Alfabeto SAMPA, são convenções feitas a � m de que se possam escrever todos os sons, independentemente das línguas,mesmo que cada língua utilize as suas convenções para escritas no cotidiano. Dessa forma, uma transcrição fonética feita a partir do alfabeto fonético é passível de ser lida em qualquer língua, desde que a pessoa seja treinada. 11WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2.1 O Alfabeto Fonético Internacional (AFI) O AFI foi criado pela Associação Fonética Internacional, para que as transcrições dos áudios, de idiomas diferentes, pudessem ser padronizadas. Ele é um sistema voltado para a notação fonética, que possui 107 letras, 52 sinais diacríticos e 4 marcas de prosódia. Os seus símbolos são divididos em três diferentes categorias: letras (que indicam os sons básicos), diacríticos (que especi� cam sons que as letras não conseguem produzir) e suprassegmentos (que indicam características da prosódia). Observe que, nas colunas em que aparecem sons em pares, os da esquerda são os sons surdos – que são produzidos sem vibração alguma, como o ‘s’, som que praticamos no começo desta unidade. Enquanto que os sons do lado direito são os sonoros – produzidos com vibração de pregas vocais, como o ‘z’. O primeiro caso apresentado, em que aparece o par [p b], [p] representa o som surdo e o [b], o sonoro. Se houver apenas um som representado, ele será sempre sonoro. 12WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 1 – Alfabeto Fonético Internacional (AFI). Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2015). 2.2 O Sampa Outro alfabeto muito usado para a função de transcrever os dados é o Speech Assessment Methods Phonetic Alphabet (Sampa) – Alfabeto Fonético dos Métodos de Avaliação da Fala, que é a escrita fonética legível para os computadores. Esse alfabeto foi criado em 1980 e tenta adotar ao máximo os caracteres do IPA, mas, quando isso não é concebível, disponibilizam-se outros sinais. Tomamos o exemplo proposto por Seara, Nunes e Volcão (2015) sobre alguns símbolos, como o [@], que corresponde ao ‘e’, uma vogal neutra, ou o símbolo [6], que condiz com um som vocálico do nosso português em posição não acentuada no � nal de uma palavra. Essa foi a alternativa encontrada pelos estudiosos da época para solucionar a impossibilidade das codi� cações de texto. 13WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Atenção! No Sampa, os símbolos são adaptados de forma diferente, a depender da língua que está sendo transcrita. O quadro que segue é especi� camente usado para referenciar cada som do português. Figura 2 – Símbolos fonéticos usados pelo Sampa (português brasileiro). Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2015). 3. CAMPOS DE INTERFACE Caro(a) aluno(a), se durante a leitura desta unidade você conseguiu criar alguns questionamentos – por exemplo, em relação ao estudo dos sons representados por meio de transcrições e símbolos: como eles se apresentam efetivamente na nossa sociedade? – saiba que existe um número crescente de laboratórios voltados para a fonética. Os campos de atuação no domínio da fonética e fonologia são inúmeros e, para � nalizar as re� exões desta unidade, iremos apontar campos que requerem pro� ssionais com tais formações e, posteriormente, uma indicação de � lme para que você possa observar essa prática. 14WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Para tanto, nos apoiaremos em uma re� exão já desenvolvida por � aïs Cristófaro Silva (2013), em Fonética e Fonologia do Português. Além disso, faremos uma adaptação de seus textos em conjunto com Para Conhecer Fonética e Fonologia do Português Brasileiro, de Seara, Nunes e Volcão (2015), que traz atualizações da conjuntura atual, em que comandos de voz estão sendo inseridos em todos os modelos tecnológicos, de carros, smartphones, aparelhos de segurança, entre outros. Os campos de atuação estão elencados em ordem alfabética. 3.1 Ciência da Telecomunicação A transmissão da fala – em noções físicas – impõe desa� os para a ciência. O som deve ser transmitido nitidamente para não se perder o conteúdo da informação. A transmissão dos meios de comunicação – como rádio e televisão – depende de pesquisa nessa área. Obter um meio e� caz, rápido e econômico de transmitir a fala é uma ambição dessa área de pesquisa. Formação: graduação em Computação, Física e Linguística e pós-graduação em áreas a� ns. 3.2 Dramaturgia A expressão oral tem um papel fundamental na dramaturgia. Pense, por exemplo, que um ator/atriz, às vezes, desempenha um papel cujo personagem tem um sotaque diferente do seu. O linguista pode também ensinar aos atores o melhor meio de utilizar os equipamentos que permitam o uso pleno das partes do corpo envolvidas na linguagem. Formação: graduação em Letras, Teatro e Escolas de Dramaturgia. 3.3 Ensino de Línguas Estrangeiras O pro� ssional que trabalha com língua estrangeira deveria conhecer bem qual língua está ensinando e, também, ser capaz de compará-la ao português. A comparação permite avaliar problemas de interferência linguística de uma língua na relação com outra e formular propostas para bloquear tal interferência. Assim, o professor que faz relações, para o aluno, entre a “nova” língua e a língua materna que ele possui acelera o procedimento da aquisição. Formação: graduação em Letras (Língua Portuguesa) e outra língua. 3.4 Ensino de Língua Materna Ao conhecer em detalhes a estrutura sonora da própria língua, a língua portuguesa, o pro� ssional pode avaliar problemas enfrentados por estudantes e formular propostas para solucioná-los. Tal conhecimento é, sobretudo, valioso aos alfabetizadores e professores de português, seja para a alfabetização de adultos ou crianças. Além do mais, é importante que o pro� ssional da educação saiba lidar com as variações e os preconceitos linguísticos que podem surgir em suas aulas. Formação: Curso Normal (Ensino Médio) e graduação em Letras. 15WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3.5 Fonoaudiologia O pro� ssional que trabalha com aspectos patológicos relacionados à fala é o fonoaudiólogo. Ele deve conhecer bem os aspectos articulatórios e os aspectos acústicos que estão envolvidos durante a elaboração da fala. Ele também deve ser capaz de avaliar a organização fonológica do sistema da língua em questão. Aspectos como a gagueira ou “troca de sons” na fala são tratados por fonoaudiólogos ou terapeutas da fala. Por isso, é importante compreender os maquinismos articulatórios, acústicos, neurais e cognitivos relativos à produção/recepção dos sons que são da fala. Formação: graduação em Fonoaudiologia e pós-graduação em áreas a� ns (como Linguística, por exemplo). 3.6 Linguagem de Surdo-mudo Os sistemas de comunicação de pessoas que não escutam ou que não falam têm uma complexidade gramatical especí� ca que, por pressuposto, estão sujeitos a mudanças linguísticas semelhantes às que ocorrem nas línguas naturais. Há vários sistemas de sinais utilizados por mudos. Alguns surdos podem utilizar a linguagem oral se adequadamente orientados por pro� ssionais. Formação: graduação em Letras e áreas a� ns. Também o desenvolvimento de pesquisas em cursos de pós-graduação em áreas a� ns (como a Linguística, por exemplo). 3.7 Linguística Computacional Um dos grandes desa� os da ciência computacional é encontrar correlatos acústicos da fala que sejam conversíveis em sinais digitais. Tal aspecto muito tem sido desenvolvido nessa área. Um bom exemplo dessa relação linguística-computação é obter e passar informações por telefone entre um ser humano e um computador (via telefonia, por exemplo). Ao se de� nirem os aspectos acústicos e articulatórios da língua, e também seu sistema fonológico, podem-se aperfeiçoar mecanismos já existentes. Desa� os são impostos, sobretudo, na área da sintaxe e dasemântica. Formação: graduação em Computação, Física e Linguística e pós-graduação em áreas a� ns. 3.8 Linguística Forense A fala, individualmente, apresenta características especí� cas e únicas. Estudos têm sido realizados para caracterizar as particularidades da fala individual e de� nir os parâmetros do que pode corresponder à “impressão digital” da fala. Espera-se que o progresso nessa área de pesquisa permita a utilização de evidências em tribunais, pois com o avanço das ferramentas capazes de analisar a fala, tornou-se possível a identi� cação de um locutor, ou seja, “quem está falando”. A voz do locutor passa por uma fase de comparação com outras vozes. Formação: graduação em Linguística com complementação das áreas de Física e Direito e pós-graduação em áreas a� ns. 16WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3.9 Linguística Indígena Temos hoje, aproximadamente, 120 línguas indígenas faladas em todo o território brasileiro. Destas, apenas umas poucas foram amplamente estudadas. Do ponto de vista teórico, o estudo dessas línguas permite a ampliação do conhecimento dos mecanismos que regulam as línguas naturais. Do ponto de vista prático, registram-se tecnicamente as línguas nativas. Elas podem ser eventualmente utilizadas em projetos educacionais, se for do interesse da comunidade. Formação: graduação em Linguística, Letras, Antropologia e pós-graduação em áreas a� ns. 3.10 Linguística O teórico da linguagem busca explicar os mecanismos subjacentes aos sistemas linguísticos, bem como aos sistemas de sons, que são produzidos pelas línguas e a relação desses sistemas com os demais componentes da gramática (como morfologia, sintaxe, semântica). Teóricos da linguagem podem investigar um determinado aspecto da linguagem do ponto de vista sincrônico ou podem empreender uma pesquisa de um aspecto diacrônico da língua escolhida. Formação: graduação em Letras e Linguística e pós-graduação em áreas a� ns. 3.11 Planejamento Linguístico-social A variedade linguística em um país com a dimensão territorial do Brasil impõe desa� os. Em áreas com grande migração nacional, é possível deparar-se com as diferenças linguísticas entre o educador e os educandos. Muitas vezes, alunos com excelente potencial são excluídos do sistema educacional devido ao fato de a particularidade da sua fala desviar-se da norma prescrita. A exclusão ocorre, às vezes, na mesma região geográ� ca, quando educador e educando compartilham de variedades linguísticas diferentes, e problemas, até mesmo, de inteligibilidade podem surgir. Cabe ao planejador educacional avaliar situações de con� ito e propor alternativas para os problemas existentes. Formação: graduação em Letras, Pedagogia, Sociologia e Assistência Social. Pós- graduação em áreas a� ns com pesquisa especí� ca em planejamento. 3.12 Tecnologia da Fala Neste campo, há, pelo menos, três frentes (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2015): 1) na frente da Síntese de Fala, o computador torna um texto escrito em texto oral, buscando a mesma forma natural que temos ao falar; 2) no Reconhecimento de Fala, a máquina cumpre tarefas que lhe foram solicitadas, partindo de um comando de voz; e 3) na Interação via Fala, há uma junção desses dois casos: são esses sistemas que aparecem em aplicativos de telefone, para compras on- line, nos acessos a contas bancárias, dentre outras possibilidades que geram perguntas e respostas entre a máquina e o usuário. 17WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3.13 Tradução e Interpretação A tradução e interpretação tornam-se áreas de trabalho muito relevantes no mundo globalizante em que vivemos. Tradutores precisam conhecer o sistema de som das línguas no qual trabalham para explicar aspectos que muitas vezes são opacos em textos escritos (a tradução de poesias e canções é um caso explícito). Para o intérprete, esse conhecimento é essencial para que o mínimo de incompreensão ocorra durante o seu labor. Formação: graduação em Letras, Tradução e pós-graduação em áreas a� ns. 3.14 Zoobiologia De� nir os parâmetros envolvidos na comunicação animal e caracterizar de que forma são organizados os sistemas linguísticos animais são tópicos de pesquisa na área de zoobiologia. Linguagens de chimpanzés, gol� nhos, baleias e abelhas são relativamente bem estudadas. Faz- se relevante caracterizar as relações de comunicação entre diversos membros de uma mesma espécie em diferentes regiões do planeta. Formação: graduação em Linguística, Biologia, Zootecnia e pós-graduação em áreas a� ns. Para esta unidade, apresentamos como sugestão o fi lme A Chegada, dirigido por Dennis Villeneuve, lançado no ano de 2016. Embora, inicialmente, a obra aparente ter um enredo para lá de “fi cção científi ca hollywoodiana”, contando a história de extraterrestres que chegam à terra, deixando à capacidade norte-americana a sal- vação da raça humana, acredite: assistir a esse fi lme é importante para completar os seus conhecimentos referentes à disciplina apresentada na Unidade I. A Chegada é um dos melhores fi lmes lançados recentemente quando nos referi- mos à visibilidade para a profi ssão do linguista e a importância da sua atuação na sociedade. Amy Adams vive o papel de Louise Banks, uma doutora em linguística que colabora com as forças armadas americanas. Na ocasião em que 12 “naves” pousam na Terra, a especialista é chamada para traduzir a linguagem – feita por sinais – dos “heptápodes” e desvendar se eles representam uma ameaça à Terra ou não. Com o desenvolver da narrativa, observamos que, mais que estabelecer uma co- municação entre raças distintas, que possuem linguagens distintas, a grande pre- ocupação de Louise é não parecer hostil, evitando o desencadeamento de um confl ito real. Isso só é possível, pois a linguista entende de semasiografi a, um formato de linguagem que não apresenta correspondência fonética, como a ma- temática. Ela dispõe de muito afeto com o “novo”, sem temer, julgar ou ameaçar. Assim, tanto Louise quanto os heptápodes vão percorrendo juntos um caminho de aprendizado e conhecimento. 18WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 3 – A Chegada. Fonte: Adoro Cinema (2018). O trailer do fi lme pode ser acessado no link que segue: <https://www.youtube. com/watch?v=isWwUJf4KEA>. Linguistas de diversas áreas escreveram sobre esse fi lme. Sendo assim, existem muitas análises sobre como se dá a profi ssão da personagem principal, como ela usa as ferramentas disponíveis para fazer pes- quisa, que obras ela está lendo, além de análises aprofundadas sobre a fonética da linguagem fi ctícia criada pelo diretor para a raça dos heptapódes. Como não queremos dar spoiler, acreditamos que, depois de ter assistido a esse fi lme, você, aluno(a), deve ter compreendido a importância do profi ssional da Lin- guística, como se desenvolvem as habilidades fonéticas e como elas possuem uma relação muito próxima com o sucesso ou com o fracasso no percurso de en- sino-aprendizagem e, então, já pode aprofundar-se em questões mais complexas. Por isso, também fi ca como recomendação que, depois de assistir ao fi lme, você acesse as análises de Ben Macaulay (2016). Disponível em: <https://gizmodo.uol. com.br/analise-linguistica-fi lme-a-chegada/>. Figura 3 – A Chegada. Fonte: Adoro Cinema (2018). 19WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Como pudemos observar neste material, a Fonética e a Fonologia são disciplinas interdependentes. Elas estão em uma relação muito próxima, pois tratam do mesmo objeto de pesquisa: a sonoridade da fala. Simultaneamente, esses campos também apresentam as suas diferenças, pois se valem de “entradas” diferentes nesse objeto, que é o som. A Fonética se dedica ao estudo daelaboração da fala, do ponto de vista � siológico e articulatório, descrevendo as funções do aparelho fonador, os mecanismos � siológicos para a elaboração da fala, as propriedades articulatórias envolvidas na produção dos segmentos consonantais e vocálicos, e, ainda, descreve, classi� ca e transcreve a sonoridade da fala. Ao mesmo tempo, a Fonologia cuida do arranjo dos sons articulados em uma cadeia, chamada de fala, orientando-a por certos princípios. Segmentos consonantais e vocálicos são agrupados em estruturas silábicas, que, por sua vez, determinam a organização das sequências sonoras possíveis em uma determinada língua, quer dizer, formando palavras possíveis para determinada língua. Sendo assim, segundo a ciência da Fonologia, as línguas variam conforme os seus inventários fonéticos e quanto às sequências sonoras possíveis para uma língua – podem não ser usadas em outra língua. Ainda tratamos brevemente de uma discussão terminológica sobre a “fonologia”, para que você consiga se orientar em outros materiais de leitura, caso se depare com os termos “fonêmica” e/ou “fonemática”. Apresentamos os alfabetos IPA e Sampa e, também, as interfaces das disciplinas de Fonética e Fonologia, bem como os seus desdobramentos na sociedade atual. Aluno(a), esta introdução se fez necessária para que, nas próximas unidades, possamos tratar com mais profundidade dos princípios básicos dessas ciências e, en� m, você possa ter uma compreensão ampla da organização da cadeia sonora do nosso português brasileiro. Até breve! 2020WWW.UNINGA.BR UNIDADE 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................................... 22 1. APARELHO FONADOR ....................................................................................................................................... 23 2.1 AS CONSOANTES ............................................................................................................................................. 26 2.1.1 PONTO DE ARTICULAÇÃO ............................................................................................................................ 26 2.1.2 MODO DE ARTICULAÇÃO ............................................................................................................................. 27 2.1.3 VOZEAMENTO ............................................................................................................................................... 28 2.1.4 PROPRIEDADES ARTICULATÓRIAS SECUNDÁRIAS ................................................................................. 29 2.1.5 QUADROS FONÉTICOS CONSONANTAIS ................................................................................................... 30 2.2 AS VOGAIS ........................................................................................................................................................31 2.2.1 VOGAIS ORAIS ...............................................................................................................................................31 2.2.2 VOGAIS NASAIS ........................................................................................................................................... 35 FONÉTICA PROF.A MA. MONIQUE BISCONSIM GANASIN ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: LINGUÍSTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA 21WWW.UNINGA.BR 2.2.3 PROPRIEDADES ARTICULATÓRIAS SECUNDÁRIAS ................................................................................ 36 3. ENCONTROS VOCÁLICOS ................................................................................................................................. 36 3.1 DITONGOS ........................................................................................................................................................ 36 3.2 TRITONGOS ..................................................................................................................................................... 37 3.3 HIATOS ............................................................................................................................................................. 38 4. O SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO ................................................................................. 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................................... 40 22WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), na Unidade I, apresentou-se uma introdução sobre os campos de pesquisa que têm os sons da fala como objeto: a Fonética e a Fonologia. A partir dessa introdução, esperamos que você possa ter entendido mais acerca de algumas rami� cações especí� cas da Fonética, como a articulatória, auditiva, acústica e instrumental. Nesta disciplina, é sabido que há um recorte de investigação próprio, que diz respeito aos aspectos fonéticos do português, partindo do ponto de vista articulatório. Sendo assim, nesta unidade, você terá acesso aos aspectos relacionados aos sons da fala, especialmente no que diz respeito à produção dos que utilizamos em nossa fala, partindo do aspecto � siológico e articulatório. Para tanto, temos como um dos objetivos tratar de algumas questões relativas, particularmente, a essa área, tais como: você sabe quais os mecanismos que usamos para falar? Você saberia dizer o que diferencia a vogal da consoante? Você sabe quantas vogais existem no nosso português? Nesta unidade, esperamos que você entenda o funcionamento do aparelho fonador dos humanos, quando produzem segmentos vocálicos e, também, os consonantais. Você verá que, compreendendo como e onde o som é produzido, memorizar as nomenclaturas não será uma tarefa difícil. Sendo assim, partiremos de como cada som é gerado pelo aparelho fonador, passando pelo modo como se dá a modelagem dos diferentes tubos acústicos, conforme os movimentos dos articuladores, chegando ao resultado: como se dá a produção dos sons de fala do português. Ainda sobre vogais e consoantes, é nosso objetivo apresentar as propriedades das nossas consoantes, as propriedades articulatórias das vogais orais e nasais da nossa língua e, também, como são tratados os encontros vocálicos (ditongos, tritongos e hiatos). Para que esta unidade seja aproveitada ao seu máximo, se faz necessário que você faça um esforço, pronunciando sempre as palavras tomadas nos exemplos. Faça esse exercício e os conteúdos aqui disponíveis � carão ainda mais compreensíveis. 23WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1. APARELHO FONADOR Falar parece ser uma ação muito natural; a� nal, são poucas as vezes em que nos atentamos ao “passo a passo” desse processo. Mas saiba que é exatamente essa capacidade complexa que nos diferencia dos outros animais, que singulariza o ser humano na sua correspondência com a natureza. Como já explicitado, o recorte que propomos para explicar a elaboração da fala, nesta unidade, busca considerar a Fonética Articulatória. Sendo assim, nossas re� exões partem do estudo sobre o aparelho fonador, o responsável pela nossa respiração. Isso quer dizer que, para que exista fala, é preciso, antes de tudo, que haja respiração. Segundo Seara, Nunes e Volcão (2015, p. 38), quando falamos, usamos o ato de respirar de forma diferenciada, formulando um processo complexo: Para produzir a fala, é necessário que haja vibração das moléculas de ar. As moléculas em vibração são expelidas pela compressão do volume dos pulmões, tornando o � uxo de ar audível pela vibração das pregas vocais que se encontram na laringe. Esse � uxo de ar vai sofrer modi� cações em função das alterações promovidas dentro do aparelho fonador a partir dos movimentose posicionamento dos órgãos articuladores que estão acima da laringe. No nosso português, a fala é gerada partindo da corrente de ar egressiva (esse termo quer dizer que o ar vai de dentro para a área externa dos pulmões). Para tanto, antes de falar, precisamos inspirar e encher os pulmões de ar, aumentando o seu volume. Depois, por meio da expiração, essa energia é enviada para que as pregas vocais transformem a corrente de ar em um som audível, para que, por � m, o movimento dos órgãos articuladores modi� que esse som em diferentes formatos, totalizando na elaboração da fala. Figura 1 – Aparelho fonador humano. Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2015). 24WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Para que você compreenda melhor esse movimento, inicialmente, partiremos de uma breve explicação sobre o nosso aparelho fonador: conjunto de órgãos responsáveis pelos mecanismos e pelas articulações dos sons. Esse aparelho possibilita a elaboração de sons em qualquer língua, por isso sofremos um pouco para aprender como pronunciar línguas diferentes, que exigem de nós o uso dos órgãos de maneira “nova” para aprender “novas” pronúncias. São três os sistemas que compõem nosso aparelho fonador: 1) o sistema respiratório, que compreende o diafragma, os dois pulmões, os músculos pulmonares, os tubos brônquios e a traqueia. Esse sistema está localizado na parte inferior da glote, que é denominada cavidade infraglotal ou subglótica; 2) o sistema fonatório, composto apenas pela laringe que, por sua vez, é formada pelas cordas vocais. Essa região, que pode ou não ser obstruída pelas cordas, também pode ser chamada de glote; e 3) o sistema articulatório, formado pela cavidade faríngea (faringe), cavidade oral, que abrange a boca – língua, palato duro e mole (ou véu palatino), úvula, alvéolos, dentes e lábios – e a cavidade nasal, onde estão as narinas. Essas estruturas se encontram na parte superior da glote, também nomeada supraglótica. Existem algumas experiências interessantes que simulam o trabalho das cordas vocais, o chamado “processo de fonação”, como encher um balão (ou bexiga) com ar, sem deixar o ar escapar, segurar a boca do balão com a extremidade dos dedos (como mostra a Figura 2) e deixar o ar sair aos poucos. Você verá que, ao sair, o ar provocará um ruído, assim como acontece na vibração das nossas cordas vocais. Figura 2 – Balão simulando o movimento de vibração das pregas vocais. Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2015). 25WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 3 – Os sistemas respiratório, fonatório e articulatório. Fonte: Silva (2013). Embora todos esses órgãos sejam necessários para que o ser humano consiga falar, é importante relembrar que nenhum deles tem essa função como primária. Além de respirar, como já foi dito, as ocupações inaugurais dos órgãos supracitados são – de forma geral – mastigar, engolir ou cheirar. “Não existe nenhuma parte do corpo humano cuja única função esteja apenas relacionada com a fala” (SILVA, 2013, p. 24). Mas é a combinação dos três sistemas descritos que caracteriza um aparelho fonador, uma ferramenta humana limitada, quando considerada a sua � siologia. Tomemos, como exemplo, a não possibilidade de produzir um som levando a sua língua até a ponta do nariz, mas é totalmente viável que você o faça levando a língua até a parte traseira dos dentes que � cam na parte superior, correto? (Sugiro que faça uma tentativa). “O ser humano é capaz de produzir uma gama variadíssima de sons vocais. Porém nem todos eles são utilizados para � ns linguísticos” (CALLOU; LEITE, 1993, p. 15). Sendo assim, por meio da capacidade humana de movimentar esses órgãos pertencentes ao aparelho fonador, a soma de sons produzidos por línguas naturais é limitada. Segundo os cientistas, são, aproximadamente, 120 símbolos. 2. VOGAIS E CONSOANTES Aluno(a), agora que você já compreende melhor como se compõe o aparelho fonador, chegamos ao momento de discutir detalhadamente os sons da nossa fala, a fala humana, de caracterizá-los partindo dos parâmetros articulatórios do aparelho que acabamos de conhecer. Para tanto, vamos dividir os Fones entre vogais e consoantes. Essa separação tradicional acontece porque “[...] todas as línguas naturais possuem consoantes e vogais” (SILVA, 2013, p. 26) e, também, graças às características classi� catórias de ambas as classes, partindo de um aspecto acústico-físico. “Os diferentes modos por que o � uxo de ar é modi� cado permite o estabelecimento de duas grandes classes de sons: a classe das consoantes e a das vogais” (CALLOU; LEITE, 1993, p. 23). 26WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Você verá que a diferença básica entre vogais e consoantes é a forma como elas são articuladas. As consoantes, ao serem produzidas no trato oral, encontram obstruções, podendo ou não serem produzidas com vibrações nas cordas vocais. Sendo assim, são caracterizadas pelo modo e local onde se dá a articulação, seu vozeamento ou não vozeamento. Em contrapartida, as vogais não contam com impedimentos na passagem de ar; sendo assim, são sempre vozeadas. Para tanto, são analisadas a partir do estágio de abertura da cavidade oral, altura e movimento da língua e do arredondamento dos lábios (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2015). 2.1 As Consoantes Como citado no tópico precedente, entendemos por segmentos consonantais aqueles sons elaborados com alguma obstrução (total/parcial) enquanto o ar percorre o trato oral. A � m de ordenar as consoantes, consideramos o seu ponto de articulação, modo de articulação e vozeamento (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2015). Sendo assim, caro(a) aluno(a), ao � nal deste tópico, você poderá fazer a descrição articulatória de qualquer segmento consonantal. 2.1.1 Ponto de articulação Antes de entrarmos propriamente neste tópico, é necessário fazer um aprofundamento sobre os nossos articuladores, que são de� nidos como ativos ou passivos. Os ativos são os que se movimentam em direção ao articulador passivo, modi� cando o trato vocal na elaboração da fala. São eles: a língua, o lábio e os dentes inferiores, o véu do palato e as pregas vocais. Por outro lado, os passivos não se movem e estão localizados na mandíbula superior. São eles: o lábio e os dentes superiores e o céu da boca, que se divide em alvéolos, palato duro e véu palatino (que também será tratado como palato mole). Figura 4 – Esquema detalhado dos órgãos articuladores ativos e passivos do aparelho fonador. Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2015). É a dependência entre os articuladores (ativos e passivos) que determina onde os segmentos consonantais serão articulados. Neste estudo, estamos considerando os articuladores passivos como referência. Desse modo, o ponto de articulação está conectado com os articuladores ativos e passivos implicados na elaboração das consoantes. 27WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Partindo da articulação dos passivos, os segmentos consonantais são assim classi� cados: Bilabial, como em “mamãe”, “papai” e “boa”, em que o lábio inferior toca o superior; Labiodental, como em “farofa” e “fava”, em que o lábio inferior vai até os dentes incisivos da parte superior; Dental, como em “data”, “sapa”, “nada” e “lata”, em que o ápice da língua vai até os dentes incisivos da parte superior; Alveolar, como em “tato”, “asa”, “assa”, “nata”, “nora”, “torra”, em que a ponta da língua vai até os alvéolos; Alveopalatal (ou pós-alveolares), como em “chata”, “já”, “tchau” e “xarope”, em que a parte anterior da língua vai até a região média do palato duro; Retro� exa, como em “porta” e “corda”, em que a ponta da língua sofre uma retração em uma região próxima dos alvéolos até o palato duro; Palatal, como em “galho” e “telha”, emque a parte média da língua vai até o palato duro; Velar, como em “gata” e “casa”, em que o dorso da língua vai até o véu do palato; Uvular, como em “rato” e “gordo”, em que o dorso da língua vai até a úvula; Glotal, como em “rato” e “gordo”, em que os músculos da glote são como articuladores (considere a pronúncia típica de Belo Horizonte). Figura 5 – Distribuição dos pontos de articulação do português brasileiro. Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2015). Além de identi� carmos onde é articulado, ou seja, o ponto onde se encontram os articuladores de um segmento, devemos caracterizar sua maneira ou seu modo de articulação (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2015). 2.1.2 Modo de articulação Quando produzimos segmentos, pode ser que, na passagem pelas cavidades supraglóticas, aconteça ou não obstrução de ar. Segundo Seara, Nunes e Volcão (2015), partindo do modo de articulação, as consoantes são ordenadas em: 28WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA • Oclusivas/Plosivas: quando os articuladores produzem a obstrução completa do caminho que percorre o ar através da boca, como em “pá”, “tá”, “cá”, “bar”, “dá” e “gol”, em que o véu do palato � ca elevado e o � uxo de ar vai até a cavidade oral. Oclusivas são consoantes orais. • Nasais: assim como as oclusivas, ocorrem quando os articuladores produzem a obstrução completa do ar através da boca. A diferença é que, como em “má”, “nua” e “banho”, o véu palatino � ca repousado, enquanto o ar, que vem dos pulmões, vai até as cavidades nasal e oral. • Fricativa: há uma espécie de diminuição do canal bucal, formando um bloqueio parcial, o que faz gerar o ruído e a fricção, como em “saca”, “fava”, “azar”, “jato” e “chato”. Os fricativos ocorrem muito nas variantes típicas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Florianópolis. • Africada: há um bloqueio completo do curso de ar, seguido de uma espécie de estreitamento no canal bucal, gerando ruído e fricção, posteriormente ao afrouxamento da oclusão, como em “dia” e “tia”, em que o véu do palato � ca levantado, enquanto o curso de ar passa somente pela cavidade oral. • Tepe: quando há a oclusão completa e rápida do curso de ar na região da cavidade oral, como em “cara” e “brava”, em que o véu do palato � ca levantado, impossibilitando o curso do ar na cavidade nasal. • Vibrante: quando a ponta da língua, ou a úvula, provoca algumas oclusões completas e breves, como em “roda” e “marra”, em que o caminho que percorre o ar na cavidade nasal também � ca bloqueado. • Aproximante ou Retro� exa: acontece no momento da produção da consoante, com uma compressão que não provoca, de fato, uma obstrução, como em “erre”, em que a cavidade nasal � ca obstruída com o véu do palato, impossibilitando que o ar vá para as narinas. • Lateral: quando o curso de ar sofre obstrução na linha de centro do trato vocal, como em “lá” ou “palha”, em que o ar é expelido por ambos os lados dessa obstrução, por isso o nome “laterais”. 2.1.3 Vozeamento Nesta classi� cação, as consoantes podem, ainda, ser ordenadas por seu vozeamento. Ou seja, dependendo de como estão posicionadas as cordas vocais, na glote, o curso de ar dos pulmões até a faringe pode (ou não) ser obstruído. O posicionamento da glote pode ser classi� cado como: 29WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA • Surdas/não vozeadas: quando as cordas vocais se aproximam para a reprodução de um som e, consequentemente, vibram durante esse processo, como em “pata” e “faca”. • Sonoras/vozeadas: quando os músculos que compõem a glote � cam completamente separados; sendo assim, o ar � ui de forma livre e não provoca vibração das cordas vocais, como em “bolo” e “zona”. Figura 6 – O estado da glote em segmentos vozeados (esquerda) e desvozeado (direita). Fonte: Silva (2013). 2.1.4 Propriedades articulatórias secundárias Os seguimentos consonantais, ainda, podem ser caracterizados pela sua produção, partindo de propriedades articulatórias que são chamadas secundárias. A nomeação “secundárias” é uma maneira de marcar que alguns articuladores, que são envolvidos nesse processo, usualmente, não seriam requeridos na articulação de segmentos consonantais. Aluno(a), observe que todas as categorias apresentadas até agora se aproximam em suas defi nições; tanto no ponto de articulação quanto no modo de articulação, existem tipos de consoantes que se ligam em algumas nuances. Acerca das con- soantes vozeadas ou desvozeadas, podemos fazer a mesma refl exão. Elas não precisam ser interpretadas de forma binária, mas podem apresentar uma grada- ção de sons. Observe os exemplos apresentados por Silva (2015, p. 27) sobre os sons [b, d, g]. Segundo a autora, embora essas consoantes sejam vozeadas no nosso português e em inglês americano, ao fazermos uma descrição desses sons, em cada língua, devemos “[...] caracterizar os diferentes graus de vozeamento: completamente vo- zeados em português e parcialmente vozeados em inglês”. Ou seja, talvez em um estudo mais específi co, considerando relações de línguas diferentes, essas duas modalidades não sejam sufi cientes. 30WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Tomemos como exemplo uma sequência como “su” (SILVA, 2013, p. 34). Perceba que, para articular a consoante ‘s’, você precisou fazer um arredondamento dos lábios. Considerando que os lábios não são envolvidos na elaboração de segmentos consonantais, essas propriedades aparecem quando o contexto ou o ambiente pedem segmentos adjacentes. Por isso, para que as propriedades articulatórias secundárias sejam marcadas, utilizamos um diacrítico junto à consoante em questão. As articulações secundárias dos segmentos consonantais relevantes para o nosso português são: • Labialização: momento em que os lábios � cam arredondados durante a elaboração do segmento consonantal, seguida das vogais arredondadas (orais ou nasais), como em “tutú”, “só”, “bolo”, “rum”, “som”. Utilizamos o símbolo “w” acima à direita do segmento para destacar a labialização, [ʷ]. • Palatalização: quando a língua levanta e vai até a parte subsequente do palato duro (mais para frente da cavidade bucal do que usualmente acontece para produzimos consoantes), como em “aliado”, “kilo”, “guia”, “letra”, “leva” e “tento”. Ocorre no momento em que a consoante é seguida de vogais interiores i, e, é (orais ou nasais). Utilizamos o símbolo “j” acima à direita do segmento para marcar palatalização, [ʲ]. • Velarização: quando a parte subsequente da língua vai até o véu palatino, enquanto articula um som consonantal – como em “sal” e “salta”. Ocorre quando a lateral está no � nal da sílaba. Utilizamos o símbolo [ł] para transcrever a lateral velarizada. • Dentalização: às vezes, a produção de consoantes do nosso português é dental ou alveolar, isso vai depender da variação dialetal (e não do contexto), como na pronúncia de “tapa”, considerando o dialeto paulista, que apresenta a propriedade de dentalização, enquanto que no mineiro ocorre uma articulação alveolar. Utilizamos um símbolo como o que segue na letra ‘t’, t̪, a � m de destacar a dentalização. Atenção, aluno(a), ao fazermos os registros fonéticos de palavras do português, omitiremos as especi� cidades das articulações secundárias: labialização, palatização e dentalização, � cando apenas com a velarização (que depende da estrutura das sílabas: estando na posição � nal). Por isso, neste material, adotaremos a transcrição fonética ampla, ao invés da restrita – que considera os aspectos condicionados por contextos ou características especí� cas da língua/dialeto. 2.1.5 Quadros fonéticos consonantais Seguem dois quadros. Na primeira lista, estão relatados os segmentos consonantais que ocorrem no nosso português, enquanto que, na segunda, inserida na indicação de vídeo, são ilustrados os segmentos apresentadosno primeiro quadro fonético. 31WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 7 – Símbolos fonéticos consonantais relevantes para o português brasileiro. Fonte: Silva (2013). 2.2 As Vogais Aluno(a), você já sabe que, diferentemente dos segmentos consonantais, os segmentos vocálicos não são obstruídos ao passarem junto ao ar pelo trato vocal. Esses segmentos passeiam livremente, sem a fricção produzida pelos articuladores. E, também, são sempre sonoros (ou vozeados), considerando que a emissão dos sons das vogais, os vocálicos, realiza vibrações nas pregas vocais. Portanto, esses segmentos serão classi� cados segundo os seguintes aspectos articulatórios: oralidade ou nasalidade; movimento de altura da língua; movimento de avanço (anterioridade) e de recuo (posterioridade) da língua; protrusão ou estiramento dos lábios. 2.2.1 Vogais orais Quando produzimos as vogais orais, o acesso para o canal nasal � ca obstruído pelo véu do palato. Assim, o ar só consegue sair através do trato oral. Nesse caso, a língua consegue se mover de duas formas: verticalmente (altura: levantar ou abaixar) e horizontalmente (anterioridade: avançando, ou posterioridade: recuando). Aluno(a), como sugestão de vídeo, apresentamos o Alfabeto Fonético – Consoan- tes. Assistir a esse material é importante para completar os seus conhecimentos, considerando que o quadro das consoantes – pertencente ao Alfabeto Fonético Internacional – está todo pronunciado no vídeo! Então, com esse quadro, você terá certeza de como são produzidos os sons de cada consoante que estudamos até aqui. Acesse: <https://www.youtube.com/watch?v=hhTyatrGoTY>. 32WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA E, também, existe a possibilidade do estiramento dos lábios. Nas vogais orais, os lábios podem � car arredondados (protraídos), como acontece para as vogais “arredondadas”; as outras são descritas “não arredondadas”, enquanto os lábios se mantêm distensos (estirados). No que se refere à dimensão vertical da língua (altura), as vogais orais são classi� cadas em: • Altas: quando a parte mais espessa da língua se suspende ao máximo, � cando elevada, sem produzir ruídos e fricção, enquanto o trato vocal � ca mais fechado, como as vogais [i] e [u]. • Médias-altas: quando a parte mais espessa da língua � ca na posição intermediária – tendendo para o alto –, enquanto o trato vocal se mantém meio fechado, como as vogais [o] e [e]. • Médias-baixas: quando a parte mais espessa da língua � ca na posição intermediária – tendendo para baixo –, enquanto o trato vocal se mantém meio aberto, como as vogais [ɛ] e [ɔ]. • Baixas: quando a parte mais espessa da língua � ca na região mais baixa do trato oral, que está aberto, como as vogais [a] e [ɐ]. Figura 8 – Posição da língua em relação à altura (eixo vertical) no trato oral. Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2015). Sobre a dimensão horizontal da língua (avanço ou recuo), durante a articulação do segmento vocálico, as vogais orais são ordenadas em: • Anteriores: quando o corpo da língua vai até a parte da frente do trato vocal, como na pronúncia de [i], [e] e [ɛ]. • Posteriores: quando o corpo da língua vai até a parte de trás do trato vocal, no sentido do palato mole, sem bloquear o � uxo do ar, como acontece quando pronunciamos as vogais [ɔ], [o] e [u]. 33WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA • Centrais: quando a língua � ca localizada na parte mais central do trato oral, como quando pronunciamos as vogais [a] e [ɐ]. Figura 9 – Posição da língua em relação ao avanço/recuo (eixo horizontal) no trato oral. Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2015). Em relação à posição assumida pelos lábios, as vogais são ordenadas em: • Arredondadas (ou Labializadas): na situação em que os lábios � cam projetados para frente, � cando arredondados, como quando pronunciamos as vogais [ɔ], [o] e [u]. • Não arredondadas: na situação em que os lábios � cam distendidos ou estirados, como quando pronunciamos as vogais [i], [e], [ɛ], [a] e [ɐ]. 34WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 10 – Posição dos lábios em termos dos graus de altura que a língua assume. Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2015). Dentro do quadro elaborado pela Associação Internacional de Fonética sobre a transcrição de segmentos vocálicos, apenas sete deles ocorrem em posição tônica no português. Observe: Figura 11 – Classi� cação das vogais quanto ao arredondamento dos lábios, anterioridade/posterioridade e altura – posições tônicas no português. Fonte: Silva (2013). 35WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Para que uma vogal seja descrita de forma precisa, contamos com os diacríticos, que já foram apresentados anteriormente, no tópico voltado para as consoantes e suas especi� cações. São eles: Figura 12 – Diacríticos para detalhamento fonético das vogais. Fonte: Silva (2013). 2.2.2 Vogais nasais Aluno(a), até agora tratamos do comportamento fonético de um tipo de vogal, aquelas em que os sons são produzidos enquanto o véu do palato está levantado, ou seja, as vogais orais. Porém, também existe o abaixamento do véu do palato na produção de segmentos vocálicos, como mostra a Figura 13. Nesses casos, o curso do ar, além de atingir a cavidade oral, passa pelas narinas. Nesse movimento, quando o ar passa pelas cavidades ressoadoras nasais, algumas vogais sofrem modi� cações mais acentuadas do que outras. Para distinguir as vogais nasalizadas, iremos usar um til, isto é [~], colocado acima do segmento vocal, a � m de marcar a nasalização. Figura 13 – Posição do véu do palato na produção de vogais orais e nasais. Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2015). Silva (2013) ressalta que a nasalidade resultante da produção vocálica é causada pela descida do véu palatino na relação com a altura da língua. As vogais altas orais [i] e [u], quando são elaboradas com a descida do véu, se tornam [ĩ] e [ũ]. Nas vogais baixas, há um esforço maior para a descida do véu. Tente pronunciar as sílabas da palavra “anta”, separadamente. Você verá que terá produzido o [a] e o [ɐ̃]. E assim também ocorre no caso das vogais médias altas, quando são pronunciadas com uma gradativa descida da língua, [ẽ] e [õ]. 36WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 2.2.3 Propriedades articulatórias secundárias Além das especi� cidades já apresentadas – propriedades como altura e avanço ou recuo da língua, arredondamento dos lábios –, podemos, ainda, caracterizar os segmentos vocálicos partindo de propriedades articulatórias secundárias. Essas medidas são: • Duração: só pode ser feita na comparação entre dois segmentos, ou seja, “[...] a duração é uma medida relativa entre segmentos” (SILVA, 2013, p. 71). Esses diacríticos são usados para destacar a duração do segmento vocálico na relação com outro, como em: [a:] – duração longa, [a.] – duração média, [a] duração breve. • Desvozeamento: mesmo que todas as vogais sejam vozeadas, por vezes, os segmentos são elaborados sem vibração; dessa forma, ocorre o desvozeamento. Pronuncie a palavra ‘sapo’. Note que há um desvozeamento, pois a vogal, no � nal da palavra, não é acentuada. Faremos o uso de um pequeno círculo para caracterizar: [ɐ̥]. • Nasalização: como foi explicitado há pouco, o recuo do véu palatino deixa o curso do ar sair pelas cavidades nasais e orais. Porém, também existem vogais nasalizadas pelo contexto, isto é, pela articulação de fones “vizinhos”, como em “cama”, “ninho” e “tenho”. • Tensão: como diz o nome, para que os segmentos sejam realizados, precisam de esforço muscular, se opondo a elementos frouxos, como podemos observar nas vogaisátonas � nais das palavras “pato” e “safári”, consideradas frouxas, na comparação com as tônicas � nais de “saci” e “jacu”. 3. ENCONTROS VOCÁLICOS Quando duas ou três vogais se encontram, respectivamente, acontece um ditongo e um tritongo. Aluno(a), para esta unidade, entenda que esses fenômenos serão sempre formados pelas vogais altas anterior [i] e posterior [u]. Quando as vogais se encontram nas regiões periféricas das sílabas, são nomeadas semivogais, porque, na comparação com as vogais que elas acompanham, apresentam menor prominência acentual, como em “pai”, em que “a” é a vogal e “i” é a semivogal. Também é preciso chamar a sua atenção para algumas nomenclaturas. Possivelmente você encontrará, nas literaturas existentes, outras nomenclaturas para “semivogal”, como “semivocoide”, “semicontoide” ou, ainda, “glide”. Para este material, adotaremos o termo “semivogal”. 3.1 Ditongos Até o momento, nossos estudos estavam tratando das vogais monotongas, ou seja, aquelas que não exibem mudança de qualidade. Segundo Silva (2013, p. 73), “Um ditongo é uma vogal que apresenta mudanças de qualidade continuamente dentro de um percurso na área vocálica”. Sendo assim, não podemos confundir o ditongo com “duas vogais postas em sequência”; essa de� nição cairia bem para outro caso, o de “hiato”. 37WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Do ponto de vista fonético, no ditongo há um movimento articulatório que provoca mudança na qualidade vocálica, principalmente em relação ao tempo que a semivogal ocupa na estrutura silábica. Note que, na palavra “cai”, há um ditongo crescente, pois há mais de um segmento vocálico na mesma sílaba, uma vogal e depois uma semivogal. Já na palavra “Márcia”, há um ditongo decrescente, formado por uma semivogal e depois uma vogal. Sendo assim, sempre que houver um ditongo, a semivogal é considerada uma vogal sem proeminência acentual. Silva (2013, p. 75) explica melhor essa distinção entre ditongo e hiato: Um ditongo está em oposição a uma sequência de vogais pelo fato de ambas as vogais no ditongo ocorrerem em uma única sílaba enquanto que na sequência de vogais os dois seguimentos vocálicos ocorrem em silabas distintas. Na sequência de vogais de um ditongo a vogal sem proeminência acentual corresponde ao glide. O quadro a seguir traz exemplos de ditongos crescentes e decrescentes, nasais e orais do nosso português. Figura 14 – Levantamento dos ditongos. Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2011). 3.2 Tritongos Da mesma maneira que os ditongos, os tritongos ocorrem na mesma sílaba, porém, como sugere o nome, com três segmentos vocálicos. Somente um deles ocupa o pico silábico, como uma vogal, enquanto que os outros dois são semivogais, como nas palavras “Uruguai”, “enxaguei” e “saguão”. Alguns teóricos consideram que os tritongos podem ser chamados de consoantes complexas. Em alguns casos, a consoante complexa vai depender da pronúncia do falante, como em “quatorze”, mas, em muitos outros, a consoante complexa ocorre obrigatoriamente para todos os falantes, como em “linguagem” e “tranquilo”. 38WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 3.3 Hiatos Caso o encontro de duas vogais – que formam o núcleo silábico – ocorra em sílabas separadas, teremos um hiato, como em “saí” e “baú”. Segundo Seara, Nunes e Volcão (2015, p. 69), “[...] o hiato pode ser intravocabular, quando ocorre dentro de uma palavra, ou intervocabular, quando é consequência do encontro entre uma vogal � nal de uma palavra e a vogal inicial de outra”. Alguns casos de hiato podem ser averiguados nos casos exempli� cados por Seara, Nunes e Volcão (2015, p. 69): a) Entre vogais iguais átonas: caatinga, coordenação; b) Entre vogais iguais, em que a segunda é tônica: alcoólico, xiita; c) Entre vogais iguais, sendo a primeira tônica: voo, veem; d) Entre vogais diferentes átonas: doação, estereotipado; e) Entre vogais diferentes, sendo a primeira tônica: Maria, pavio; f) Entre vogais diferentes, sendo a segunda tônica: hiato, freada. 4. O SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO Aluno(a), vimos, nesta unidade, que, ao classi� car os sons vocálicos, consideramos o abaixamento ou levantamento do véu do palato, a altura e o movimento da língua e o arredondamento dos lábios. Além dessas classes, as vogais que se realizam no nosso português ainda podem ser categorizadas pela sua tonicidade: tônicas, pretônicas ou postônicas. Para que você tenha um conhecimento geral desses fenômenos, segue um quadro para uma leitura rápida, que, posteriormente, pode ser aprofundada com uma leitura atenta do quadro completo das vogais. Figura 15 – Fonemas vocálicos do português brasileiro. Fonte: Seara, Nunes e Volcão (2011). 39WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Aluno(a), para que você possa continuar os seus estudos na Fonética, sugerimos a obra Fonética e Fonologia do Português: Roteiro de Estudos e Guia de Exercícios de Thaïs Cristófaro Silva. Nela você poderá ter acesso a exercícios extremamente didáticos para compreender, com mais efeito, tudo o que foi posto nesta unidade. SILVA, T. C. Fonética e fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exer- cícios. 10. ed., 3. reimp. São Paulo: Contexto, 2013. p. 23-114. 40WWW.UNINGA.BR LI NG UÍ ST IC A DA L ÍN GU A PO RT UG UE SA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), nesta unidade, você teve acesso aos aspectos relacionados ao som da fala, especialmente no que diz respeito à produção dos sons que utilizamos, partindo do aspecto � siológico e articulatório. Você aprendeu mais sobre os mecanismos que usamos para falar, o que difere uma vogal de uma consoante, quantas vogais existem no português brasileiro, entre muitas outras características da fala. Entendeu o funcionamento do aparelho fonador do homem, na elaboração de segmentos vocálicos e consonantais. Depois de compreender como e onde os sons são produzidos, você pôde observar como os sons são gerados pelo aparelho fonador, como se dá a modelagem dos diferentes tubos acústicos, conforme os movimentos dos articuladores, chegando ao resultado: como são produzidos os sons de fala do português brasileiro. Além desses estudos amplos, aprofundou seus conhecimentos nas propriedades das consoantes do português brasileiro e, também, nas propriedades articulatórias das vogais orais e nasais da nossa língua, e aprendeu como são tratados os encontros vocálicos (ditongos, tritongos e hiatos) que foram apresentados. Para a nossa próxima unidade, você começará a aplicar todos esses novos conhecimentos. Com a abordagem dos métodos para descrição e classi� cação dos sons da fala, colocados nesta unidade, você está habilitado(a) para compreender o funcionamento de uma Transcrição Fonética, tema da Unidade III. 4141WWW.UNINGA.BR UNIDADE 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................................... 43 1. TRANSCRIÇÃO FONÉTICA ............................................................................................................................... 44 1.1 TRANSCRIÇÕES AMPLAS E RESTRITAS ....................................................................................................... 44 1.2 PALAVRAS HOMÓFONAS ................................................................................................................................ 45 1.3 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA E OS ASPECTOS DA FALA: UMA RELAÇÃO COM A FONOLOGIA ................... 46 2. FONOLOGIA ........................................................................................................................................................ 48 2.1 O LUGAR DA FONOLOGIA ................................................................................................................................
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