Buscar

Fora dos Limites_ Seducao Proibida

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 269 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 269 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 269 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Fora 
dos 
Limites
SEDUÇÃO PROIBIDA
 
 Livro Único
Amos e Lilly 
 D. A. LEMOYNE 
dalemoynewriter@gmail.com
 Copyright © 2019 
Primeira Edição 2019 
Carolina do Norte - EUA 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida,
distribuída ou transmitida por qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia,
gravação ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito
da autora, exceto no caso de breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros
usos não-comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.
 
Capa: Book Cover Zone #7301
Revisão: D. A. Lemoyne 
Diagramação digital: D. A. Lemoyne 
 
Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares, negócios, eventos e
incidentes são ou produtos da imaginação da autora ou usados de forma fictícia. Qualquer
semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas ou eventos reais é mera coincidência.
 
SINOPSE
 
Lilly 
 Ela se acostumou a ser invisível, como uma peça de decoração 
bonitinha a qual não se dá muito importância.
Amos 
Ele foi criado em meio a dor e ao abuso físico.
 Pensou que era incapaz de confiar, até a doce irmã do seu melhor amigo 
entra em sua vida. 
A única garota para a qual não deveria olhar.
 
 
 Ela é luz, enquanto ele só conhece a escuridão. 
Ela é pureza, enquanto ele se considera imundo. 
Ela é amor, enquanto ele vive cada dia em busca de vingança.
 
Amos sabe que Lilly não é para ele, mas não consegue resistir ao seu 
chamado inocente.
 
No entanto, chegará o momento em que terá que optar entre deixá-la ir 
ou arriscar que seja arrastada de vez para as trevas do seu passado.
 
 
A Deus, por me dar saúde para continuar fazendo o que eu amo.
 
 
NOTA DA AUTORA:
 
 Fora dos Limites é um livro único. Decidi escrevê-lo antes de lançar o quarto livro da
série Corações Intensos, Imperfeita, porque sua trama dará abertura para a o livro IV, que
contará a história de Isabela e Ethan, irmão da protagonista Lilly.
 
Foi o livro mais difícil que escrevi até agora, mas também o mais comovente. É
incrível como o amor transforma as pessoas e Amos e Lilly nos mostram de forma
emocionante que ele pode, se não curar, ajudar a cicatrizar as feridas do passado.
 
Espero que desfrute dessa envolvente história de amor.
 
Caso aprecie o livro, deixe seu comentário no site da Amazon e Goodreads.
Sua opinião é muito importante. 
Um beijo carinhoso e boa leitura.
 
D. A. Lemoyne
 
PRÓLOGO
Amos
 
Há dezoito anos
Eu agora sou capaz de me desligar. Basta que eu foque em um objeto ou
até mesmo na parede e consigo fingir que estou de volta ao orfanato.
Isso não dura muito, mas ainda assim é um alívio poder fugir por um
instante que seja.
Só que eles são mais fortes e me trazem de volta muito fácil.
“Por favor Amos, faça ou eles serão ainda mais cruéis."
“Eu não quero. Não me peça para machucar você, mamãe.”
Meu rosto está sujo de poeira e lágrimas enquanto na minha cabeça
imploro a Deus uma maneira de me livrar desta casa.
Eu estava tão feliz quando eles foram me buscar há dois meses.
Pensei que finalmente teria um lar. Já havia perdido a esperança de fazer
parte de uma família, quando eles chegaram querendo me adotar.
Com dez anos de idade, fica cada vez mais difícil os pais adotivos
quererem você. Ainda mais quando não se é uma criança loira, de olhos
claros.
Minha pele morena, que a moça do orfanato diz que provavelmente vem
do oriente médio, assim como meu cabelo quase preto, faz com que eu me
destaque das demais crianças.
Eu também sou muito alto para a minha idade e acho que as pessoas
preferem crianças menores e mais parecidas com elas.
Então, fiquei muito agradecido quando eles disseram que me queriam,
mas a alegria não durou.
A casa para a qual me trouxeram é muito bonita. Eu só tinha visto uma
tão grande em filmes. Nem sabia que elas existiam de verdade.
Mas foi estranho, porque apesar do segundo andar ter pelo menos seis
quartos, Jonathan me colocou para dormir no porão.
Na primeira vez que desci até lá, achei o lugar bem sinistro, mas agora
fico aliviado quando esquecem de mim. Pelo menos assim posso fingir que
vivo uma outra vida, que ele nunca me machucará novamente.
A mudança de pai bonzinho para homem assustador aconteceu
praticamente no dia seguinte que cheguei, mas foi piorando aos poucos.
No começo, ele não me deixava comer o suficiente e pensei: tudo bem,
talvez não tenham dinheiro bastante para comprar comida para nós três.
Mas então as festas começaram.
Uma vez, eu subi escondido e contei pelo menos trinta pessoas.
Havia garçons com roupas engraçadas andando com bandejas cheias de
copos e também muita comida e bebida sendo servida.
Meu estômago roncou de fome, mas eu sabia que não deveria pedir.
Eu já havia tentado antes.
Logo que cheguei, quando eles me serviam apenas porções mínimas, eu
pedi para repetir e foi a primeira vez que Jonathan me surrou.
Não foi a pior surra que levei na vida. Essa já é a minha quinta ou sexta
família adotiva, não me lembro direito, e eu aprendi, depois da segunda casa
em que vivi, que as pessoas podem ficar com raiva da gente muito depressa.
Isso me ensinou a quase não falar.
Eu nunca sabia o que os deixaria furiosos, então era mais seguro ficar em
silêncio.
Depois de um tempo, você se acostuma com ele.
A vontade de receber carinho passa, substituída pelo instinto de
sobrevivência.
Ser devolvido só me ensinou que as pessoas mudam de ideia rápido
demais.
Eles nem lhe dão uma chance de verdade. Quando você aprontam duas,
três vezes, é o suficiente para que decidam que não se encaixa na família.
Então, depois de já ter perdido as esperanças, mamãe Maria e Jonathan
vieram e disseram que seriam meus pais.
Mas hoje, após um par de meses vivendo aqui, eu daria qualquer coisa
para voltar ao orfanato.
Já tentei fugir uma vez, mas a surra que levei foi tão grande que não
consegui andar com firmeza por dias. Ainda tenho as marcas da fivela do
cinto na parte da frente da minha coxa.
Os espancamentos foram aumentando até que Jonathan me fez uma
proposta: ele filmaria enquanto eu surrasse mamãe Maria e isso me pouparia
de apanhar.
No começo eu não entendi direito.
Por que eu deveria machucar uma mulher?
Eu jamais havia batido em alguém, nem mesmo nos meninos que
implicavam comigo no orfanato. Sempre fui maior do que eles e, apesar de
não terem me ensinado isso, eu sabia que era errado ferir alguém mais fraco
do que eu.
Claro que eu recusei a proposta.
Então ele me deixou cinco dias inteiros sem comer. A única coisa que me
dava era um copo de água.
Minha barriga doía de fome e eu sentia medo de dormir e não acordar.
As pernas estavam pesadas e até levantar para ir ao banheiro levava muito
tempo.
Meu corpo cheirava mal porque ele não permitia mais que eu subisse para
tomar banho, mas ainda assim não cedi.
Então ela veio falar comigo.
A mamãe Maria é tão bonita. Ela nunca me bateu, era sempre Jonathan
ou um dos seus amigos.
Ela estava chorando e me explicou que se eu não os obedecesse, ela
apanharia dele ainda mais forte do que eu seria capaz de fazer.
Assustado e com fome, finalmente concordei, mas fiz muito leve, apenas
fingindo.
Foi pior, porque Jonathan ficou louco e surrou nós dois.
Eu não me importava mais comigo mesmo e rezava para que Deus me
levasse para morar com os anjos, mas a mamãe Maria não era tão forte e
quando vi seu rosto ensanguentado, fiz o que nunca havia feito na vida.
Chorei e implorei para pararem.
E então finalmente cedi.
Mas a cada vez, foi ficando mais difícil me lembrar de quem eu era antes
de morar com eles.
No fim das sessões, mesmo machucada, ela me consolava dizendo que eu
era um bom menino, mas eu não me sentia bom.
Não mais.
Hoje eles me entregaram um cinto com pontas afiadas e disseram que eu
batesse nas costas dela.
Dessa vez não somos só nós três aqui. Há pelo menos mais dez pessoas
observando e mesmo que eu sinta medo de que eles maltratem ainda mais a
mamãe Maria, não vou fazer isso.
“Eu sinto muitomamãe, mas não posso.”
Mal acabo de falar e a mão de Jonathan atinge meu rosto. O tapa é tão
forte que caio sentado, mas não desvio os olhos dos dele.
Eu o odeio. Se fosse nele que eu tivesse que usar aquele cinto, não
pensaria duas vezes.
“Garoto idiota.”
Todos saem do porão, inclusive a mamãe, mas o estranho é que ela não
parece com medo, e sim com raiva de mim.
Levo um tempo até notar que esqueceram a porta aberta.
Há pelo menos um mês eu não vou lá em cima. Eles nunca me levaram à
escola ou permitiram que eu brincasse com outras crianças da rua, mas agora
nem mesmo até à cozinha posso subir.
Da última vez, eu peguei uma maçã porque estava com muita fome e
Jonathan me chamou de ladrão.
Como eu poderia ser um ladrão dentro da minha própria casa?
Fazendo força para conseguir ficar de pé, me arrasto até o alto da escada.
Ouço vozes e penso que vem da sala de jantar.
Caminhando o mais silenciosamente possível, me escondo atrás da porta,
tentando escutar o que eles estão decidindo fazer comigo, porque eu sei que
não será uma boa coisa.
Não há a menor chance de Jonathan não me punir por tê-lo desobedecido.
E então eu escuto a risada dela.
Mamãe está gargalhando.
Como pode estar feliz depois de ser ameaçada?
Uma sensação de mal-estar começa no meu estômago.
“Esse menino já era." - a escuto dizer - “Não serve mais. Temos que
conseguir outro. Se ele não pode lidar com pequenas sessões de
espancamento, imagine com o que planejamos a seguir."
“E o que você acha que devemos fazer?” - Jonathan pergunta e a primeira
coisa que entendo é que, ao contrário do que pensei, não é ele quem está no
controle da situação, mas mamãe Maria e uma raiva como nunca senti antes
surge dentro de mim.
Ela mentiu.
O tempo todo, ela se fez passar por vítima quando na verdade, era quem
planejava tudo.
Gostaria de poder entrar e gritar que é uma traidora, uma mentirosa, mas
não sou burro.
“E então? O que você quer que eu faça?”
“Livre-se dele.” - ela responde sem demora e eu sei que tenho que fugir.
Não entendi o que eles quiseram dizer com livrar-se de mim, mas estou
com medo e, andando o mais rápido que consigo, volto à cozinha novamente
e forço a maçaneta que dá para o quintal.
Não posso acreditar quando ela se abre.
Em um primeiro contato com a luz do sol, meus olhos ardem, mas não
tenho tempo a perder. Mais cedo ou mais tarde eles virão atrás de mim.
Preciso sair daqui.
Ando rápido, mas meu corpo inteiro dói.
Tento me esconder atrás de uma árvore ou outra enquanto caminho para
que eles não me vejam de dentro de casa.
Finalmente alcanço a rua, mas minha cabeça gira.
Estou fraco e acho que não conseguirei dar mais um passo.
As lágrimas começam a escorrer.
Eles vão me levar para lá novamente.
O pensamento me deixa apavorado e prefiro ser atropelado a ter que viver
mais um dia naquela casa.
Com a última força que me resta, ando para o meio da rua e quando vejo
um carro branco vindo, tenho certeza de que me acertará e, derrotado, caio no
chão.
Mas então escuto os freios e, a seguir, uma voz doce pergunta o meu
nome.
"Você é um anjo?”
Já não sei mais o que estou dizendo.
Eu não dou a mínima. Só quero dormir.
“Eu posso ser seu anjo hoje, filho. Fale seu nome. Eu vou cuidar de
você.”
“Amos.” - finalmente capitulo - “Ajude-me. Não deixe que eles me
peguem.”
Capítulo 1
Lilly
 
Dias atuais
 
Estou tão nervosa!
Senhor, isso tem que funcionar!
Preciso fazer tudo direito e incomodar o mínimo possível Ethan e seu
amigo. É isso ou passarei o próximo mês na casa da minha mãe e de seu
marido número cinco.
Pensar em ficar com eles traz calafrios ao meu corpo.
Ramon faz com que eu me sinta desconfortável.
Talvez seja seu modo de me olhar ou as constantes tentativas de ser
amigável… não sei ao certo. O fato é que morar com meu irmão é a única
opção agora.
Eu não estou totalmente à vontade com isso.
Ultimamente não tenho muito contato com Ethan, além dos poucos dias
que passamos juntos durante minhas férias de verão. Ele também não é um fã
do nosso padrasto e evita a todo custo estar em sua presença.
Apesar de nossa diferença de idade - oito anos - e de sermos filhos de
pais diferentes - ele é fruto do casamento número um e eu, do número três de
nossa mãe - nos dávamos bem quando eu era menor.
Meu irmão tende a ser super protetor, mas não me importo.
De certo modo, é bom ter alguém cuidando de mim que não seja um
estranho em tudo.
Eu fui praticamente criada dentro de um internato só para meninas e,
finalmente após concluir o ensino médio, enviada para a casa de uma prima
de minha mãe em Paris para cursar os dois primeiros anos da faculdade de
moda.
Minhas colegas do colégio achavam que eu iria viver uma vida de
sonhos.
Morar em Paris e estudar moda? Qual garota não gostaria disso?
Certo.
Não quero ser ingrata, mas a verdade é que saí de uma prisão para outra.
Michelle, a prima de mamãe, era mais conservadora do que a mais rígida
das freiras do internato.
Resultado? Aos vinte anos eu não sei praticamente nada da vida.
Céus, a quem estou querendo enganar? Eu sequer beijei um rapaz até
hoje!
Nunca fui a um encontro e nem sei como me comportar no meio de
pessoas da minha idade.
Isso, claro, fez de mim uma estranha no meio da liberalidade da
faculdade.
Sem ofensas.
Nada demais as pessoas serem livres em seus pensamentos e ações. Eu
apenas não consigo me encaixar.
Sou tímida, mas contraditoriamente, sincera.
Não, espera, acho que você não entendeu.
Sou muito sincera mesmo. Do tipo: não me faça uma pergunta se você
não quiser realmente saber o que eu penso.
Não tenho filtro entre o cérebro e a boca. Tendo a dizer a verdade e isso
aparentemente não agrada muito às pessoas.
Por todos esses motivos, resolvi dar um virada de cento e oitenta graus
em minha vida.
Literalmente.
Preciso urgentemente aprender a interagir e que melhor maneira do que
enfrentar o mundo sozinha?
Sorrio ao lembrar de como estava nervosa ao ligar para o meu irmão.
Na verdade, quando o fiz, não tinha ideia de que meus planos de
independência seriam adiados por um tempo, mas o que é isso para quem
esperou a vida inteira para ser livre?
A conversa com Ethan vem em minha memória.
Eu não sabia como ele reagiria ao pedir seu apoio, mas sua recepção
acalmou relativamente minha ansiedade.
“Oi, irmã caçula. Como vão as coisas na cidade luz?”
“Ethan, você tem tempo para conversar comigo agora? O que eu quero
perguntar pode não ser muito rápido”.
“Lilly docinho, aconteceu alguma coisa?”
“Não, não aconteceu nada. Eu apenas preciso falar com você.” - não
adiantava tentar dourar a pílula. Ou eu dizia de uma vez ou morreria de tanta
tensão. - “Eu quero voltar.”
“Voltar? Você quer dizer, voltar para casa? Já falou com Nora sobre
isso?”
Ele não chama nossa mãe de mãe e o motivo me deixa triste ao ponto de
sentir a garganta trancar.
Ethan me contou que ela pediu que não o fizesse pois pareceria velha.
De verdade, como uma mãe pode não querer ser chamada de mãe?
É incompreensível para mim.
“Não… porque eu não quero ficar lá. Já tenho vinte anos agora, o que
me dá acesso ao fundo deixado por papai. Quero alugar um apartamento.
Vou morar sozinha.”
“Você o que? Lilly, repita porque acho que não ouvi direito.”
“Sim, você ouviu perfeitamente. Tranquei o curso aqui. Já estou
matriculada em uma faculdade em sua cidade, mas preciso esperar seis
meses para que as aulas comecem, caso contrário terei que repetir um
semestre que já cursei. Quero que você me ajude a alugar um apartamento
temporariamente até que possa encontrar um lugar que eu goste.”
“De jeito nenhum! Como morar sozinha? Quem cuidará de você?”
“Por favor, acalme-se. Eu sou uma adulta, apesar de ser uma adulta
deformada, que não sabe nada da vida.”
“Nunca mais repita isso. Você não é deformada. Você é perfeita. Eu não
quero que mude.”
“Não, você não quer que eu cresça. Eu sinto muito pela má noticia, mas
já cresci. Quero dizer, pelo menos fisicamente. E preciso de você. Por favor,
não me faça ficar com ela nesse primeiro mês. Ajude-me a encontrar um
apart hotel. Por favor, Biggie.”Seu suspiro mais pareceu um rugido, mas desde que ele não começou a
gritar, eu estava bem com isso.
“Você não está jogando limpo, abóbora.” - assim que ele disse o apelido
que me deu em criança, percebi que ganhei a luta - “Tudo bem, você pode
vir, mas nada de apart hotel. Ficará comigo pelo tempo que for necessário
até vermos com calma essa história de morar sozinha.”
“Ethan…”
“Não Lilly. É pegar ou largar. Você vem morar comigo até tudo ser
resolvido.”
“Mas você não mora sozinho…. seu amigo… Amos, não é? Ele não
pareceu simpatizar muito comigo quando nos encontramos no Natal.”
“Não é pessoal. Amos não é simpático com ninguém. Isso não será um
problema. Conversarei com ele hoje a noite. Quando pretende vir?”
“Eu… bem… na verdade já tenho a passagem comprada para depois de
amanhã.”
“Confiante, não é?” - eu podia sentir um traço de humor em sua voz, mas
logo em seguida ele me assustou ao xingar.
“Hey, não pragueje. Isso é vulgar.”
“Desculpe, mademoiselle. Não quis ferir sua educação refinada, mas é
que viajo amanhã a trabalho e ficarei ao menos quinze dias fora.”
“Oh….”
“Calma. Vai dar tudo certo. Venha de qualquer modo. Amos pode não
ser a pessoa mais carinhosa, mas é como um irmão para mim e será para
você também assim que conhecê-la direito. Ele poderá cuidar de você em
minha ausência.”
“Eu não preciso de babá.”
“Escolha suas batalhas, Lilly.”
“Tudo bem, mas por favor, não o obrigue a ficar em minha cola. Já estou
constrangida o suficiente por atrapalhá-los por um mês. Não preciso do ódio
do seu amigo de brinde.”
“Abóbora, ninguém conseguiria odiá-la. É a garotinha mais doce do
mundo.”
“Você pode parar de agir como se eu tivesse dois anos de idade? É
embaraçoso.”
“Não. Você sempre será minha abóbora. Mesmo quando estiver velha e
enrugada.”
“Como você pode me fazer amá-lo e odiá-lo ao mesmo tempo?”
“Eu tenho um dom.”
Sua risada ficou ecoando em minha cabeça muito tempo depois que
desligamos o telefone.
E assim, aqui estou eu, dentro de um táxi a caminho do apartamento do
meu irmão para passar quinze dias sozinha com um semi desconhecido que
não olhou duas vezes em minha direção na única vez em que nos vimos.
Sim, meus nervos estão em frangalhos.
 
 
Capítulo 2
Amos
 
“Você não pode estar falando sério.” - urro.
“Porra Amos, pare de gritar e me ouça. Que parte do ela não tem para
onde ir você não entendeu?”
“Claro que ela tem para onde ir. Pode ficar com sua mãe. Seja razoável,
Ethan. Somos homens. Olhe a sua volta. Nossa casa parece estar preparada
para receber uma freira?” - eu sei que ela não é realmente uma freira, mas
quero irritá-lo tanto quanto ele fez comigo.
Ethan é a única pessoa que consegue arrancar qualquer tipo de emoção de
mim, ainda que na maioria das vezes, elas não sejam boas.
Não, a pequena Lilly não é uma freira.
E é linda.
Contida.
Foi a impressão que me passou na única vez em que nos encontramos, há
dois anos.
Ainda consigo lembrar de sua roupa recatada na noite de Natal, que em
nada combinava com o brilho que via em seus olhos azuis claro nas poucas
vezes em que os ergueu.
Aquele brilho me prendeu durante toda a noite.
E foi assustador para caralho.
Nunca desejei estar com alguém fora das minhas horas passadas nos
clubes de sexo.
Não poderia existir mais contrastes entre nós ou melhor comparação para
escuridão e luz.
Até mesmo no modo como ela se vestia.
Eu quase sempre estou de preto. A cor geralmente combina com meu
estado de espírito.
Lilly usava um vestido claro com um casaquinho azul bebê e somente
brincos de pérolas como jóias.
Seu cabelo, de um loiro quase branco, estava preso em um coque baixo
na nuca e tive que reprimir o desejo de tirar os grampos que o prendia para
sentir a textura.
Ou agarrá-lo com um dos punhos enquanto a trazia até mim.
Não pense nesse tipo de merda sobre ela.
A garota também não parecia muito comunicativa. Suas palavras se
limitavam a por favor e muito obrigada.
Em meu mundo isso não é uma má coisa. Não suporto pessoas que não
param de falar, ainda que não tenham nada a dizer.
Além disso, criticar alguém introspectivo parece uma piada.
Não sou conhecido por ser o rei da festa. Não gosto de seres humanos de
um modo geral.
Apesar disso, o desinteresse de Lilly por todos a sua volta, e eu incluído
na lista, me irritou.
Não parecia muito confortável perto da mãe, isso era lá verdade, mas
quem poderia culpá-la? Nora é uma esnobe que passou a vida inteira se
preocupando em dar a impressão de família perfeita.
Mas eu sei melhor.
A verdade é que a socialite desprezível não liga a mínima para os filhos.
Ambos foram criados por empregados e quando precisaram de mais do
que apenas babás, internados em colégios de elite para que pudessem ter uma
educação digna da realeza.
Amor? Isso é outra história.
Não que eu seja um conhecedor de amor de qualquer tipo.
Claro, meus pais adotivos, os definitivos quero dizer, tentaram suprir tudo
o que eu não tive na primeira infância, mas não foi suficiente para me ensinar
sobre o sentimento.
Eles não viveram tempo o bastante para operar uma mudança real em
todo o ódio que tenho guardado.
Eu os perdi em um acidente de carro alguns anos após ser adotado.
Tudo o que me restou foram dois anos de boas lembranças e uma imensa
fortuna em fundos de investimento.
Desse modo, amor para mim é somente uma palavra.
As pessoas podem dizer qualquer coisa quando querem algo de você.
Então, prefiro ficar com a dor. Sou um especialista nela.
Nada do que possam me jogar fisicamente ou através de palavras pode
me machucar.
Há muito tempo deixei de me importar.
A única exceção é o cara sentado ao meu lado.
Ethan.
Tentando manter o foco, volto a pensar na família do meu melhor amigo.
Não me entenda mal, nada contra os ricos. Seria hipócrita da minha parte,
já que depois que meus pais faleceram, me tornei um adolescente milionário,
mas desprezo o tipo de pessoa que julga os outros com base em um
sobrenome ou conta bancária.
“Ela não é uma freira.” - a exasperação em sua voz me arrasta de volta ao
presente. - “Você poderia parar de bancar o babaca?”
“Pelo amor de Deus, Ethan. Nós sequer cozinhamos. Não temos ao
menos comida em casa.”
Essa é uma das minhas preocupações.
A maior delas, porém, consiste em me manter afastado da tentação de
descobrir por que Lilly mexe comigo.
“Hey, ela esteve em um colégio interno boa parte de sua vida, mas é
capaz de fazer coisas do dia a dia perfeitamente.” - seu tom me diz que o
empurrei um pouco demais.
“Cara, eu não duvido disso, mas realmente não me sobra tempo para
cuidar de alguém, muito menos de uma adolescente. Não sei como lidar com
uma garotinha.”
Eu não quero ter tempo para passar com Lilly.
“Lilly não é mais uma adolescente. Já tem vinte anos. Ela tem planos,
Amos. Vai terminar a faculdade e quer ter seu próprio lugar, mas não vou
deixar que entre no mundo adulto sozinha depois de ter passado boa parte de
sua vida trancada em um colégio.”
Porra! Seu argumento me pegou.
Não posso imaginar a menina linda solta em uma cidade como a nossa.
Ela seria uma presa fácil.
E eu sei o que pode acontecer com jovens vulneráveis.
Pensar nisso me traz algo amargo ao estômago.
“Tudo bem.”
“Tudo bem? Você concorda em olhá-la para mim enquanto estiver
viajando?”
“Certo. Mas não sou uma maldita babá. Vou tentar manter um olho na
medida do possível, mas espero que vocês conversem sobre as regras que
deseja que sejam seguidas. Não há chance no inferno de que eu vá ficar
controlando-a vinte e quatro horas por dia.” - mesmo que a ideia faça meu
sangue ferver - “Nem mesmo por você farei uma merda dessas.”
“Não precisa se preocupar. Minha abóbora é um bebê doce e obediente.
Além disso, ela não conhece ninguém aqui.”
“Se você diz…”
Abóbora… a ideia me traz um sorriso mental.
Eu posso apostar todo o meu dinheiro que ela detestaria ser chamada
assim na frente de estranhos.
Como será a pequena Lilly zangada?
Deve ser um espetáculo de se ver porque, a despeito da aparência de
menina perfeita, seus olhos são inquietos.
Tímida, possivelmente. Mas algome diz que apesar do que mostra para o
mundo, mal pode esperar para viver.
Sim, eu a observei durante toda a festa de Natal.
Morda-me.
Estava entediado até a alma e a única coisa que me fez permanecer firme
a noite inteira foi ter prometido dar apoio moral ao meu amigo.
E eu sempre cumpro minhas promessas.
Não teve nada a ver com o fato da loirinha de olhos de céu me ignorar
quando estou acostumado a não fazer esforço algum para chamar a atenção
feminina.
Além disso, gosto de mulheres, não de meninas.
Tenho vinte e nove anos.
E para completar, é irmã do Ethan.
E nem vou entrar na questão da minha obsessão por controle.
Ou de como gosto do sexo duro e selvagem.
A garota praticamente cresceu com freiras, pelo amor de Deus!
Mais proibida impossível.
Totalmente fora dos limites.
Não que eu esteja interessado.
Estou bem com o sexo ocasional com mulheres escolhidas a dedo.
Mulheres que anseiam em se submeter e não me causam qualquer tipo de
emoção além do orgasmo.
 
 
 
 
 
Capítulo 3
Amos
 
Estou há quase quinze minutos olhando para o laptop sem conseguir me
concentrar. A conversa com Ethan voltando a toda hora.
Apesar de tentar duro me convencer de que a chegada de Lilly não fará a
menor diferença, a ideia de tê-la aqui por um mês está fodendo com a minha
cabeça.
Ela foi a única garota até hoje que me chamou a atenção sem que eu
estivesse procurando por sexo.
Eu não tenho relacionamentos. Não acho que seja capaz de manter um.
Posso não ter tido qualquer envolvimento afetivo ao longo da vida, mas
sei que confiança é fundamental para que uma relação a dois sobreviva e não
acho que eu consiga acreditar em uma mulher.
Aliás, em qualquer pessoa.
Ethan é a única exceção além dos meus pais adotivos - os últimos, os que
me salvaram de mais de uma maneira - e não penso que minha humanidade
possa ir além disso.
Então por que ela não sai da minha cabeça?
Eu deveria estar concentrado em minha missão.
Para isso vivi até aqui. Vingança.
Quando iniciei a caçada por Jonathan e Maria, eu tinha a convicção de
que quando os punisse pelo que me fizeram, poderia finalmente deixar o
passado para trás.
Duas coisas equivocadas com esse pensamento: não há como esquecer o
passado.
Quanto mais escavo a vida dos dois bastardos, mais ódio brota dentro de
mim.
E não é só isso.
Ir atrás deles foi como abrir a caixa de Pandora.
Descobrir que o que aconteceu comigo foi só a ponta do iceberg me fez
perder qualquer esperança nos seres humanos.
O mundo é podre, assim como boa parte das pessoas que vivem nele.
E agora eu sei que se não tivesse fugido, provavelmente estaria morto.
Depois que minha última mãe me socorreu, a casa foi invadida por
policiais, mas de alguma forma Jonathan e a mulher conseguiram se evadir.
Somente anos mais tarde eu descobri que minha vida havia sido um
paraíso perto do que acontecia nos outros cômodos.
Adolescentes e crianças eram mantidos trancados, sexualmente abusados
e então subitamente desapareciam.
Quando a polícia chegou, havia pelo menos um deles acorrentado em
cada quarto. Todos com os corpos severamente maltratados e em diferentes
estágios de desnutrição.
Também foram encontrados vídeos caseiros com os mais depravados
tipos de perversões feitas contra as crianças.
Levou anos até que eu pudesse rastrear os dois protagonistas dos meus
pesadelos e quando enfim os alcancei, o que descobri me fez ter certeza de
que eu precisava dar um fim naquilo.
Tráfico de crianças é o seu negócio. Algo muito maior do que jamais
supus.
Uma organização poderosa que envolve políticos, celebridades e
policiais.
Pessoas que pagam alto pelo prazer de abusar e torturar indefesos.
Escória, piadas de seres humanos que se acham acima do bem e do mal.
Repito a cada dia que sou dono de mim mesmo e que o que eles fizeram
não me marcou, mas quando os pesadelos ocasionalmente voltam, a sensação
de não estar seguro é impossível de combater.
Tento convencer-me de que superei, mas no fundo sei que ainda existe
um garoto apavorado e emocionalmente vulnerável em mim. Quase me
enlouquece admitir que eles me modificaram.
Eles apagaram minha capacidade de sentir.
Eu não tenho empatia ou pena dos outros.
Não é esse o motivo que me faz caçá-los, mas um absolutamente egoísta:
a certeza de que enquanto estiverem soltos, não terei paz.
Eu nem espero mais qualquer tipo de felicidade. Se pudesse apenas
relaxar, não olhar o tempo todo por cima do ombro, já seria um ganho.
Não tenho medo, mas mesmo com meu um metro e noventa e cinco e
cem quilos, ainda há em mim um resquício do garoto que apanhou e sentiu
fome.
A criança que foi obrigada a surrar uma mulher para sobreviver e, ainda
que essa mesma mulher fosse uma aberração, eu não posso apagar o fato de
que fiz aquilo.
Aprendi o quão longe sou capaz de ir se o que está em jogo é a minha
vida.
E isso me faz tão monstro quanto eles.
Gosto de pensar que atualmente eu não seria capaz de ferir alguém - não,
corrigindo - de ferir alguém inocente, mas não posso ter certeza.
Não há como medir quanto de ódio ainda resta em mim.
A única pista é que gosto de uma foda dura e muito possivelmente com
um pouco de dor.
Não me importo de receber ou infligir e por isso minhas parceiras são
selecionadas em um clube exclusivo para pessoas com os mesmos gostos.
Não faço questão de ver seus rostos e não quero saber seus nomes. Tudo
o que preciso delas é prazer.
Depois que acaba, não fico um minuto sequer por perto.
Não busco intimidade e esse é um dos motivos de nunca foder com a luz
acesa.
Desse modo posso esquecer que são pessoas com uma vida fora dali e me
concentrar apenas em seus corpos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 4
Lilly
 
O táxi está cada vez mais perto da casa de Ethan, segundo mostra o GPS,
e não há como adiar: preciso enviar uma mensagem a Amos para que autorize
o porteiro a me deixar entrar.
É tarde e não quero ficar com a mala do lado de fora do prédio até que
algum funcionário o chame.
Meu irmão me deu o código do elevador para a cobertura e tentou me
persuadir a permitir que Amos me pegasse no aeroporto, já que ele embarcou
para a África do Sul hoje pela manhã, mas fui firme.
De jeito nenhum faria seu amigo sair de casa tão tarde para me buscar.
Provavelmente já tem motivos suficientes para me detestar.
Nervosa, vejo que mais um minuto se passou.
Com as mãos trêmulas, digito.
 
Boa noite. É a Lilly. Meu irmão pediu que eu enviasse uma mensagem 
quando estivesse chegando. Acho que em um minuto o táxi me deixará aí.
 
Não esperava que ele respondesse tão rápido e quando a tela do celular
acende, tomo um susto.
 
Amos: Okay.
 
Okay? Isso é tudo?
Onde está sua educação? Se restava alguma dúvida de que não sou bem-
vinda, a mensagem esclareceu a questão.
 
Amos: você precisa de ajuda com as malas?
 
Nem que elas pesassem uma tonelada, senhor mau-humorado.
Suave, Lilly.
Um mês. Você só precisa aguentar por um mês.
 
Não, muito obrigada. É apenas uma mala.
 
Uns segundos mais e ele retorna a resposta odiosa.
 
Amos: Okay.
 
Cada vez menos confiante, desço do táxi e imediatamente um porteiro
uniformizado vem até mim.
“Senhorita, permita-me.”
“Boa noite. Obrigada…” - olho o seu crachá - “senhor Jacob.”
“Meu prazer, senhorita.”
Tentando firmar as pernas, penso no que me espera na cobertura.
Por que Ethan teve que viajar a negócios justo agora?
Não seja um bebê, Lilly.
Bem… tecnicamente, Amos não é um estranho se considerarmos o aceno
de cabeça que me deu na noite de Natal.
Tudo bem, talvez eu também não tenha sido a miss simpatia, mas estava
nervosa.
Ele é absolutamente intimidante.
E não sorri.
E é grande. Tipo um gigante.
Naquela época eu não fazia faculdade e não tinha contato com muitos
homens e certamente, nenhum…. não consigo encontrar palavras para
descrevê-lo mesmo agora.
Somos tão opostos fisicamente quanto duas pessoas podem ser.
Ele é alto, alto de verdade, enquanto eu faço o tipo mignon em meu um
metro e sessenta.
Tudo bem, eu confesso: tenho um metro e cinquenta e oito.
Sua pele é de um tom de douradoescuro, como se passasse muito tempo
ao sol, mas meu irmão disse que sua ascendência provém do oriente médio,
de modo que aquela cor bonita é natural.
Eles se conheceram no internato em que Ethan esteve até os dezessete
anos e são amigos desde então. Apesar disso, nunca frequentou nossa casa
além da festa de Natal há pouco mais de dois anos.
Seu cabelo, negro e um pouco comprido na época, alcançava os ombros.
Lembro da minha mãe comentar com uma de suas amigas que ele parecia um
selvagem.
O que discordo totalmente.
Ele é assustador sim, mas absolutamente lindo.
Quero dizer, a parte que pude ver, já que ele nunca esteve perto o
suficiente.
Apesar de desejar, não pude olhar mais detidamente pois ele parecia que
iria morder alguém a qualquer momento e aquilo me inibiu.
Já dentro do elevador, tomo algumas respirações tentando me acalmar,
enquanto digito o código que dará acesso ao apartamento.
Meu estômago dá voltas.
Talvez eu não esteja preparada para isso, afinal.
Interagir com estranhos, morar em uma cidade nova… será que foi um
erro mudar minha vida tão radicalmente?
Antes que possa encontrar uma resposta, a porta se abre e a pessoa que
será meu companheiro de apartamento, está de pé a minha frente.
 
 
Capítulo 5
Amos
 
Olho o celular pela terceira vez em menos de cinco minutos.
Nenhuma mensagem.
Estou começando a ficar preocupado. Qualquer coisa que signifique
minimamente a perda do controle da minha rotina me deixa louco.
Acalme-se, idiota. Ela não é sua para cuidar.
Inferno, por que diabos Ethan não quis que a buscasse no aeroporto? Não
seria nada demais comparado a ele me obrigando a tê-la como hóspede
durante um mês.
Então por que a frescura sobre não pegá-la? Não percebe como é perigoso
para alguém com sua aparência tomar um táxi tarde da noite?
Estou ansioso e isso me irrita para caralho.
Essa não é minha merda para resolver, então por que a agitação?
O telefone acende.
 
Lilly: Boa noite. É a Lilly. Meu irmão pediu que eu enviasse uma 
mensagem quando estivesse chegando. Acho que em um minuto o táxi me 
deixará aí.
 
Formal.
A pequena Lilly está fazendo valer os milhares de dólares investidos em
sua educação.
Sim, sou um bastardo ranzinza.
 
Okay.
 
Merda. Isso não foi justo com ela. Provavelmente precisará de ajuda com
as malas.
Ando até o interfone da cozinha para previnir o porteiro de sua chegada e
digito novamente.
 
Você precisa de ajuda com as malas?
 
Lilly: Não, muito obrigada. É apenas uma mala.
 
Ou a pequena Lilly ficou forte nos últimos dois anos ou minha resposta
curta a chateou.
Eu apostaria na segunda opção e resolvo cutucá-la um pouco mais.
 
Okay.
 
Passados alguns minutos, o interfone toca para avisar que ela está
subindo.
Nosso apartamento é o único no andar, mas eu e Ethan fizemos questão
de instalar um segundo código de segurança para que quem quer que saia do
elevador precise digitá-lo antes de entrar.
Não gosto de portas destrancadas ou nada que me dê a sensação de
vulnerabilidade.
Abro-a e fico esperando. Novamente a ansiedade me pega.
O que diabos há comigo?
Penso na menina que conheci há dois anos e tento juntar aquela imagem
mental à descrição que Ethan me deu dela agora.
Faculdade de moda? De alguma maneira me surpreende que ela deseje
concluir os estudos.
Sim, chame-me de preconceituoso, mas a pequena miss perfeição que eu
vi naquele Natal parecia pronta para seguir a carreira da mãe, o que consiste
basicamente em ser uma esposa-troféu para um milionário.
Não gosto de imaginá-la se tornando uma nova Nora.
É horrível pensar que aquela garota linda possa se transformar em uma
cadela cruel como a mulher que a gerou.
Os pensamentos são interrompidos pelo barulho do elevador enquanto
meus olhos buscam impacientemente sua ocupante.
Porra!
Com toda certeza do inferno, ela não é mais uma adolescente.
Lilly era bonita há dois anos… mas agora?
Foda-me!
Linda para caralho.
Os cabelos que ansiei para sentir naquele Natal caem soltos
desordenadamente pela frente da camiseta. Longos e com ondas. Tão brancos
como me lembrava e cheios.
Ela é pequena. Não apenas comparada a mim. É uma coisinha de
aparência frágil e a pela translúcida lhe dá um ar meio etéreo.
Seu rosto, em formato de coração é decorado por lábios rosados e cheios.
Minha pulsação acelera e sei exatamente o motivo.
Ela está me despertando.
Não, a verdade é que isso já havia acontecido desde a primeira vez que a
vi.
A luz vinda dela é um ímã para a minha escuridão.
Evito os olhos em um primeiro momento e continuo meu passeio por seu
corpo.
Veste jeans surrados, sem bainha e alguns rasgos na altura da coxa. A
camiseta de alça, rosa clara, molda seu torso, deixando o contorno dos seios
tentadoramente visível.
Ela é delicada, mas absolutamente sexy.
Seu aspecto atual em muito pouco lembra a jovem que encontrei no
passado.
Mas então agora está cursando moda em Paris. É óbvio que conviver com
pessoas de sua idade sem a supervisão das freiras a mudaria.
Já não parece mais uma garota como antes. Tudo nela grita mulher.
Quão experiente será? Tem namorado? Frequenta festas?
Preocupado com o rumo que minha mente está seguindo, enfim busco
seus olhos.
Diabos! São ainda mais incríveis do que recordava. De um tom de azul
tão claro que mais parecem lentes de contato.
Seus olhos mexem comigo.
Desde a primeira vez que a vi, me irritava quando ela os desviava.
Desejei que os mantivesse em mim até que eu lhe dissesse o contrário.
Ela obedeceria?
Eu poderia ensinar-lhe a obedecer.
Caralho, devo estar ficando louco!
Essas são ideias totalmente impróprias para ter sobre a irmã do meu
melhor amigo.
Ela também não me olha diretamente no momento.
Não. Está me verificando. Posso ver a agitação dominando seu pequeno
corpo.
Sua respiração é errática enquanto seu olhar sobe.
Será que entende o quanto é transparente?
Lilly está me avaliando como uma mulher faria com um homem por
quem se sente atraída e por mais errado que seja, isso desperta meu tesão.
Ela é a irmãzinha do Ethan, Amos.
Tento segurar o pensamento, mas a beleza muito próxima a mim torna
isso cada vez mais difícil.
Quando nossos olhos por fim se bloqueiam, ela não os desvia como da
primeira vez que nos encontramos. Ao contrário, encara abertamente como
um servo preso a faróis.
“São amarelos como os de um gato.”
É a primeira vez que Lilly se dirige a mim desde que nos conhecemos.
Passado o choque inicial, antes que possa impedir, um sorriso se forma.
E eu nunca sorrio.
“E você também pode sorrir.” - fala, como um eco dos meus próprios
pensamentos.
O que é isso? A garota é sempre tão aberta com desconhecidos?
Meu humor muda e volto a fixar a expressão de distanciamento usual.
Não é possível que não tenham lhe ensinado a ser mais cautelosa ao redor
de estranhos.
Com esse tipo de beleza e tal aura de inocência, será uma alvo fácil.
Sim, eu adoro foder e tive um monte de sexo em minha vida, mas sempre
com mulheres que sabiam aonde estavam se metendo.
Jamais com alguém tão doce como o anjo loiro aqui comigo.
No entanto, a maioria dos caras não sentiria remorso em iludir uma garota
inexperiente se quisesse levá-la para cama.
Arrependimento me pega de surpresa quando noto que minha mudança de
humor a fez corar e baixar aquelas duas lindas pedras preciosas.
Por que isso é importante?
A facilidade com que eu consigo assimilar cada uma de suas reações é
desconcertante.
Eu não costumo prestar atenção suficiente nas pessoas para me preocupar
com seus sentimentos.
Apesar disso, não quero intimidá-la.
A ideia de que sinta medo de mim é desagradável demais e para tentar
remediar ter agido como um idiota, ensaio uma piada.
“Eu posso, mas não conte a ninguém.”
“Hein?”
A cabeça se move novamente para me olhar.
A boca entreaberta de espanto e a pureza de seu rosto me desarmam
totalmente.
Pigarreio para tentar limpar a garganta subitamente seca.
“Você disse que eu posso sorrir. Eu posso, mas isso é um segredo que
guardo à sete chaves.”
Finalmente parece notar que estou brincando e seu corpinho relaxa.
Os braçosque haviam envolvido sua frente soltam-se e um tímido sorriso
começa a surgir.
Puta que o pariu!
Trejeitos e sorrisos nunca me chamaram a atenção em uma mulher. O
meu interesse é principalmente no que seu corpo pode me oferecer sobre
prazer.
É o máximo de intimidade que eu me permito.
Mas agora entendo o que Ethan quis dizer com ela ser um doce bebê
inocente. São perfeitas palavras para descrevê-la.
Seria ótimo se eu pudesse vê-la como uma irmãzinha também, mas o que
minha mente sabe ser certo e o meu corpo quer são coisas completamente
diferentes.
Porque a pequena Lilly, a despeito de todo ar de pureza, é muito mulher.
Em uma olhada rápida, você verá uma garota linda, com um corpo
delicioso.
Mas há também toda uma energia vibrando dentro dela e que atua em
mim como o encontro de dois fios desencapados.
Sua ingenuidade é irresistível ao meu desejo por controle.
Você poderia fazê-la sua. - uma voz ecoa no fundo da mente - Moldá-la
de acordo com suas necessidades.
Porra, eu preciso me manter longe.
Tenho que conseguir uma maneira de não ficarmos sozinhos até que
Ethan retorne.
Não sou talhado pela impulsividade. A expressão perder a cabeça não é
comigo. Gosto de pensar antes de tomar decisões.
Ser meticuloso antes de agir, em minha profissão, é uma questão de
sobrevivência.
Nesse momento, porém? Foda-se! Sou todo instintos e eles me ordenam
para tomá-la.
Mas sei que não devo. Ela é a inocente irmã do meu amigo. Da única
família que me resta.
“Hum… eu sou boa em guardar segredos.” - diz, dando um passo em
direção ao apartamento e fazendo com que suor brote pelas minhas costas. -
“Você realmente não corre o risco de ser exposto.”
Sinto que deveria recuar, mas meu corpo se nega a ouvir a mente e
estendo a mão, trazendo-a até mim.
O mais fodido de tudo? Lilly não hesita por um segundo sequer.
A maciez de sua pele é um contraste contra minha aspereza.
Nós somos opostos em quase tudo e talvez seja justamente isso o que me
deixa tão atraído por ela.
A mão está gelada e a cubro para aquecê-la.
“Obrigada.”
Tentando minorar seu efeito em mim, dou de ombros.
“Não é nada demais. Suas mãos estão frias.”
Ela se aproxima mais um passo e minha pulsação torna a enlouquecer.
“Não, eu quero dizer, obrigada por me aceitar aqui e por não ficar bravo
por eu ter vindo. Estava tão nervosa.”
Eu sou mesmo um imbecil.
Em meu egoísmo, em nenhum momento parei para pensar o que seria
para Lilly morar com dois homens, sendo que um desses - eu - só tinha
estado com ela por poucas horas há anos e sem nenhum tipo de interação.
Mas vamos ser justos.
Quando é que eu já me preocupei em ferir os sentimentos de alguém? Na
maioria das vezes até esqueço que as pessoas podem sentir.
“Hum… você é a irmã de Ethan… e Ethan é família, então você….” - não
sei explicar a razão, mas sinto necessidade de me justificar.
“Eu não sou sua irmã.”
Caralho, ela não está tornando isso mais fácil.
Eu sei que você não é minha irmã, linda. Todo o meu corpo sabe que não
temos parentesco algum.
Percebo que suas próprias palavras a espantaram porque dá um passo
para trás, soltando-se.
Perder seu toque me exaspera.
“Não, você não é.” - confirmo o óbvio. - “Venha. Eu vou cuidar de você.”
O que - porra - acabei de dizer?
Vou cuidar de você?
Se eu tiver um pingo de inteligência, me manterei tão longe dela quanto
possível.
 
 
 
 
Capítulo 6
Lilly
 
Estou envergonhada por ter falado sobre seus olhos, mas a verdade é que,
por mais que eu tente, não sei manter meus pensamentos para mim mesma.
Quando era adolescente, culpei a imaturidade, mas hoje sei que não é
bem assim. Simplesmente não consigo me impedir de dizer o que penso.
Principalmente se estou nervosa.
E nesse momento em particular uma onda de excitação percorre meu
corpo, como se eu tivesse dado duas voltas seguidas em uma montanha-russa
radical.
Não consigo desviar os olhos de Amos.
Estou inquieta e esperando o que fará a seguir.
E então ele sorri.
Ele sorri.
Quero dizer, claro que todas as pessoas sorriem, mas a memória dele tão
indiferente em nossa casa no Natal fixou um quadro em minha mente.
“E você também pode sorrir.”
Tudo bem, Lilly. Você agora se superou, rainha do óbvio.
Após a verborragia descontrolada, seu rosto se fecha.
Intimidada até a raiz dos cabelos, forço meu olhar para baixo.
Agora não sei o que fazer para reverter a situação.
Ainda estamos de pé na porta do apartamento e por um momento de
loucura imagino que ele me mandará procurar um hotel.
“Eu posso, mas não conte para ninguém.”
“Hein?” - ouvi-lo quase me dá um infarto, mas a voz parece divertida e
não consigo entender como conseguiu passar de quente a frio e então
novamente a quente nessa velocidade.
“Você disse que eu posso sorrir. Sim, eu posso, mas isso é um segredo
que guardo à sete chaves.”
Ah, ele está brincando.
“Hum… eu sou boa em guardar segredos.” - minto, porque todos nós já
sabemos quão mal eu lido com pensamentos, sejam eles impróprios ou não -
“Você realmente não corre o risco de ser exposto.”
É como se tivéssemos brigado e feito as pazes em segundos.
Fragilizada e imprudente, vou para mais perto dele.
Por que Amos me fascina desse modo? Sim, eu estive a maior parte da
vida em um colégio de freiras, mas já vi centenas de homens bonitos nos
corredores da faculdade, pelo amor de Deus!
A necessidade de contato não foi apenas o medo de que me mandasse
para um hotel ou para minha mãe, mas que me afastasse dele.
O que é bem estranho.
Estou acostumada a ser sozinha. Freiras não são exatamente abertas a
conversas.
Até conhecer Martina Oviedo, há cerca de três meses, eu nunca havia tido
uma amiga.
Ela é uma escritora de romances e noiva de um príncipe de verdade. É
linda e extrovertida, o que me faz pensar o que viu em mim para querer ser
minha amiga.
Apesar de adorá-la, só convivemos nos últimos meses em que morei em
Paris e não foi o suficiente para matar minha sede por amizade.
Sinto sua falta.
Foi ela quem me incentivou a finalmente me libertar do domínio de Nora.
A mão de Amos se estende, me esperando e ansiosa, entrego a minha.
Seu polegar faz movimentos circulares na minha pele, causando arrepios.
“Obrigada.”
“Não é nada demais. Suas mãos estão frias.” - ele soa blasé e dói um
pouquinho, mesmo que eu não saiba explicar o porquê. Paradoxalmente, vou
ainda para mais perto.
Calor.
Preciso do calor dele.
“Não, eu quis dizer, obrigada por me aceitar aqui e por não ficar bravo
por eu ter vindo. Estava tão nervosa.”
“Hum… você é a irmã de Ethan… e Ethan é família, então você….”
“Eu não sou sua irmã.”
Oh, meu Deus! Eu não deveria ter dito isso.
Com a frase pela metade já percebi a ideia que passaria. Quero que um
buraco se abra no chão agora para que eu possa me esconder.
Lutando contra a necessidade por ele, recuo.
“Não, você não é. Venha. Eu vou cuidar de você.”
E eu quero que seja verdade. Que Amos cuide de mim.
O quão louco é isso, uma vez que estou mudando a minha vida
justamente para conseguir caminhar sozinha?
Muita coisa para pensar de uma vez só, Lilly. Passinhos de bebê.
 
 
Capítulo 7
Lilly
 
Amos me deixa no quarto e depois de passar algumas instruções básicas
sobre o funcionamento do apartamento, se despede rapidamente. Posso não
saber muito sobre homens, mas fiquei com a impressão de que ele queria
fugir para bem longe.
Provavelmente eu falei demais. Ele não parece ser o tipo de cara que
aprecia intimidades de qualquer tipo e agora estou constrangida. Gostaria de
ser mais experiente para poder conversar sobre algo que o interessasse.
Triste, balanço a cabeça.
Mude sua mente, garota. Ele é tão inalcançável quanto o sol.
Conformada, abro a mala para pegar um pijama. Estou cansada demais
para arrumar minhas coisas agora.
 
◆◆◆
 
Acordo com a luz do sol se infiltrando pelas cortinas.
Pego meu celular e vejo que já são mais de dez horas da manhã. Acho
que nunca dormi tanto.
Eu custei um pouco a pegar no sono a noite passada.
Foram muitas emoções para processar em um só dia.
Apenas a mudança de Paris para cá já seria o bastante para me pôr
agitada,agora una isso a compartilhar um apartamento com um deus moreno
e sexy.
Apenas pare, Lilly! Ele é um amigo e somente isso.
Na verdade, ele é amigo de Ethan e meu por tabela.
Ethan!
Meu Deus, esqueci de dar notícias como havia prometido.
Abrindo meu messenger vejo que há duas dele:
 
Ethan: “Lilly, chegou bem? Não tínhamos combinado que avisaria 
quando estivesse em casa?”
 
Ethan: “Lilly, estou assumindo que chegou cansada demais para me 
ligar e só por isso não mandarei a guarda montada atrás de você. Espero 
notícias.”
 
Ai, ele deve estar aborrecido. Meu irmão não é muito de escrever, apesar
de sua tendência controladora, e duas mensagens com alguns minutos de
diferença me dizem que ouvirei um sermão.
Fico em dúvida sobre ligar ou digitar, mas não faço a menor ideia de que
horas são na Africa do Sul agora, então decido pelo texto.
 
“Hey Biggie, sinto muito não ter avisado. Realmente estava cansada 
ontem. Cheguei bem.”
 
Em menos de dois minutos a tela do celular acende.
 
Ethan: “Só por isso vou perdoar. Sei que chegou bem. Já falei com 
Amos. Como estão as coisas entre vocês?”
 
E agora, o que respondo?
Dizer que o amigo dele quase me causa combustão espontânea não é uma
opção, certo?
 
 “Bem. Ele foi um ótimo amigo.”
 
Infelizmente.
 
Ethan: “Eu temia que pudesse haver desconforto entre vocês e estou 
contente que tenham se entendido. Aproveite o dia, irmãzinha.”
 
“O mesmo para você.”
 
Decido tomar um banho e depois fazer uma lista detalhada dos meus
próximos passos até finalmente me mudar para um apartamento só meu.
Eu adoro listas do que fazer. Elas sempre me ajudaram a organizar a
mente inquieta e de quebra, me distrairá da minha mais recente obsessão:
Amos.
 
Capítulo 8
Amos
 
Dormi muito pouco. Apenas cochilos curtos.
Eu geralmente não preciso de muitas horas de sono, mas necessito de
algumas e agora estou me sentindo exausto.
Ontem eu fiz algo que nunca havia feito: corri do que estava me pondo
em desequilíbrio.
Eu não sou de fugir do que quer que seja, mas ficar perto de Lilly estava
mexendo com a minha cabeça.
Minha vida geralmente segue em linha reta: quero, planejo, conquisto.
Mas com ela a história é outra.
Como se não bastasse ser a irmã caçula do meu melhor amigo, Lilly é um
raio de sol frente a minha escuridão e não posso trazê-la para meu mundo de
cores feias.
Ela representa tudo o que eu não deveria desejar. Sua pureza é a antítese
da minha vida permeada de maldade.
Ela merece alguém melhor.
Frustrado, vou à cozinha pegar um café.
Meu celular está em cima da mesa e há duas chamadas perdidas de Ethan.
Merda.
Encho uma xícara e, sem saída, ligo para o meu amigo.
“E aí?”
“Foda, por que demorou a ligar de volta? Minha irmã chegou bem?
Aquela criança é muito avoada. Esqueceu de mandar mensagem. Estava
ficando louco.”
Criança? Decida-se amigo. Em um momento diz que ela não é uma
adolescente e agora a chama de criança?
Não, isso não.
Lilly é doce, linda, inocente, mas definitivamente não é uma criança.
“Respondendo a sua pergunta: são apenas sete horas da manhã aqui. E
sim, ela está bem. Dormindo.”
"Ah, graças a porra. Você não sabe como me arrependi de ter concordado
com sua ideia maluca de não permitir que você a apanhasse no aeroporto.”
O que?
“Foi ela que pediu isso?”
“Pediu não, exigiu. Disse que se eu o obrigasse a buscá-la, morreria de
vergonha.”
“Você não deveria ter concordado. Nós dois mais do que ninguém
sabemos a quantidade de doentes à solta por aí.”
“Eu sei, cara. O problema é que ela sempre me dobra. Minha irmã é uma
pequena feiticeira.” - suspira, resignado.
“Como estão as coisas por aí? - pergunto para desviar o foco da minha
irritação.
Ela não deveria correr riscos.
“Tudo certo. Estamos com mais de trinta homens à postos. Só a elite. E a
resistência tem com eles mais de cento e cinquenta de seus melhores
soldados.”
“Tome cuidado, de qualquer maneira.” - resmungo, mal-humorado
porque ele não precisava se expor.
“Sempre, papai.” - debocha.
No começo nós dois íamos a campo.
Eu nunca dei a mínima para as mortes que presenciei. Eles eram a escória
humana.
Mas em algum momento, Ethan decidiu que sou melhor armando
estratagemas.
Quando saía para as operações, não me importava se voltaria para casa ou
não.
Sei que foi por isso que ele me pediu para parar. Da última vez fui
esfaqueado e estava perdendo muito sangue, mas continuei indo para cima do
cara e acho que aquilo assustou meu amigo.
A ausência de medo da morte, quero dizer.
Ele não faz a menor ideia de como, no passado, eu ansiei por ela.
“Mantenha-se vivo.” - ironizo, mas nós dois sabemos o quão sério estou
falando - “Agora deixe de ser uma dor na bunda e permita que termine meu
café em paz.”
“Sim, ranzinza. Vá tomar seu café e se possível com um quilo de açúcar
para adoçar seu temperamento.”
“Babaca.”
“Cretino.”
E sem qualquer aviso, desligamos.
É assim que somos, mas apesar disso, eu morreria por ele.
◆◆◆
 
Chego em casa prometendo a mim mesmo que irei até ela somente para
dar boa noite, mas já ouviram aquele ditado que diz que de boas intenções o
inferno está cheio?
Verdadeiro para caralho.
Assim que estou na porta do seu quarto, a primeira coisa com que me
deparo é o formato do seu traseiro tentador vestido em um shorts e inclinado
para mim enquanto ela luta para suspender sua mala.
“Hey.” - cumprimento porque ela parece totalmente alheia a minha
presença.
Lilly se sobressalta e o movimento a faz cair de bunda no chão.
Em dois passos estou nela e, a despeito do firme propósito anterior de não
tocá-la, pego-a no colo.
“Desculpe, eu não quis assustá-la.”
Os nossos rostos estão muito próximos e não é medo que vejo agora.
Porra!
Sei que deveria soltá-la imediatamente, mas a sensação do corpo pequeno
junto ao meu é boa demais e me permito segurá-la só mais um pouco.
“Amos.”
Ela parece sem fôlego, mas nada relacionado com a queda.
Lilly está excitada com o nosso contato e sua reação torna ainda mais
difícil me afastar. Apesar disso, aprendi a controlar qualquer tipo de impulso
desde pequeno e mantendo a expressão em branco, finalmente a coloco de
volta em seus pés.
“Precisa de ajuda?” - pergunto, já de novo com minha máscara de pouco
caso habitual.
“Eu queria desfazer a mala e ficar pegando as coisas do chão dá muito
trabalho.” - responde, se desculpando.
Sinto que nós dois estamos lutando para mostrar que a proximidade física
de há pouco não nos afetou, o que faz de ambos, grandes mentirosos.
“Deixe-me ajudá-la com isso.” - tento soar indiferente.
“Eu agradeceria.” - devolve formal, como se estivesse experimentando
usar as mesmas cartas que eu, o que irracionalmente, me irrita para caralho.
Para disfarçar o aborrecimento, viro-me e começo a erguer a bagagem.
 
 
 
Capítulo 9
Lilly
 
Ele levanta a mala como se fosse nada e olhando os músculos delineados
de suas costas, posso apostar que facilmente a carregaria em um braço e eu
no outro.
A ideia me fez bufar ao tentar conter o riso.
“O que há de errado?” - Amos se vira com a testa franzida.
“Nada. Apenas pensando em quão ridiculamente forte você é. Eu devo ter
perdido uns dez anos de vida ao levar minha mala até o carro quando estava
indo embora de Paris.”
“Ninguém a ajudou?”
“Hum… não. Michelle não ficou muito contente por eu querer ir embora
e não estava em casa para se despedir quando saí.”
Dizer que não ficou contente é um eufemismo. Eu escutei sua conversa
com minha mãe na noite anterior à partida, quando disse que eu estava
cometendo um erro ao deixar sua casa pois acabaria virando uma libertina
como as moças de hoje em dia.
Ela não poderia estar mais enganada. Não é liberdade sexual o que eu
anseio.
Espera. Posso corrigir isso?
Eu pensava que não era liberdade sexual o que eu queria, mas agora meus
hormônios estão enlouquecidos pelo gigante a poucos passos de mim.
Mas falando sério, o que eu realmente quero é viver.
Poder acordar tarde em um domingo e tomar café apenas ao meio-dia se
me der vontade, ao invés de ter que ir para à missa das sete horas da manhã.É poder ter o meu estúdio dentro de casa e me levantar no meio da noite
para colocar minha criatividade no tecido ou no papel sem alguém dizendo
que devo apagar a luz.
O processo criativo não é linear. Ideias surgem quando você menos
espera e às vezes, deixar de colocá-las em prática significa perdê-las.
Amos senta na cama e me encara.
Como se estivesse hipnotizada, caminho até ele.
Em princípio para indiferente, mas então pega minha mão, trazendo-me
para o meio das suas pernas.
Estou tremendo.
Sinto seu olhar queimar cada pedaço do meu corpo inexplorado. E eu
quero mais.
Desejo toda sua força assustadora e dominante.
“Michelle é a prima de sua mãe?”
Estamos tão próximos que posso sentir seu calor.
“Sim, mas ninguém acreditaria.”
“Sente-se.” - ele manda, apontando seu lado na cama e eu acato sem
piscar - “Como assim?”
“Você conhece Nora, certo?” - vejo que seus olhos se ampliam um pouco
ao me ouvir dizer o nome da minha mãe do mesmo modo que Ethan faz, mas
a verdade é que comecei a chamá-la assim como uma forma de não deixar
meu irmão tão desconfortável e acabei por me acostumar. - “Agora imagine
uma madre superiora em seu pior momento. Essa é Michelle.”
“Então você foi de um colégio de freiras para a casa de uma freira?”
“Basicamente isso. Parece o início de uma piada ruim, mas é só a história
da minha vida.” - apesar das palavras, sorrio.
“Você não saía em Paris? Tipo boates, barzinhos, coisas normais na sua
idade?”
“Coisas normais na minha idade? Porque você é um idoso, né?” - sorrio
outra vez. Nada pode ser mais absurdo do que Amos se considerar velho.
“Idoso? Chegando lá. Estou quase com trinta.” - ele finge indignação,
mas posso ver que está se divertindo - “Você entendeu o que eu quis dizer.
Na sua idade as garotas geralmente estão no auge da animação para festas
e… rapazes.”
“Ah, sim…” - falo sem jeito - “Não, acho que perdi isso. Não sou de
beber álcool, a não ser uma taça de champanhe que Nora me permitia provar
em determinadas ocasiões e também nunca fui a festas de gente da minha
idade.” - enfatizo o gente da minha idade usando dois dedos de cada mão
imitando aspas.
“Mas não sentiu falta?”
“Realmente não. Quando eu estava no internato, ouvia minhas colegas
contarem histórias de suas férias: namoros e coisas do gênero, mas quando
finalmente saí, não gostei muito do que vi.”
“Michelle não permitia que se divertisse?”
“Sim, também havia isso, mas de verdade acho que simplesmente não me
encaixo.”
É natural falar com Amos. Ninguém até hoje perguntou se eu sou feliz do
modo como minha vida segue.
Apesar de estar um tanto envergonhada por mostrar em primeira mão
como sou sem vivência, é tão bom ter alguém com quem dividir.
Mesmo meu irmão sempre agiu comigo de maneira condescendente,
como quando alguém fala com uma criança.
Amos não. Ele está prestando atenção a cada palavra, fazendo perguntas,
realmente envolvido e isso só faz aumentar a atração que sinto.
 
 
 
 
 
 
Capítulo 10
Amos
 
É uma menina em corpo de mulher.
Delicada e obediente.
Tão fodidamente doce que quero me perder em seu mel.
Ela me fascina e aterroriza ao mesmo tempo.
Quando peguei a mala, a ideia era ir embora logo em seguida, e no
entanto, aqui estou à beira do precipício, desafiando-o.
Lilly é linda e não consigo acreditar que seja real.
Eu sou um cara vivido e nunca me deparei com uma mulher que não
fizesse joguinhos ou tentasse seduzir.
Mulheres podem mentir com a mesma facilidade com que respiram, mas
ao invés disso, Lilly ri de si mesma o tempo todo, se autodepreciando e me
prendendo em sua teia.
A sensação é ver um daqueles filhotes de felinos que ficam roçando em
nossas pernas para expressar necessidade de carinho.
Só comigo é tão acessível? Não gosto da ideia dela ficar confortável com
caras em geral.
Quantas pessoas lá fora não tentarão se aproveitar de sua inocência? E se
em algum momento eu não puder estar por perto para protegê-la?
Porra! Não irei por esse caminho. Ela não é minha. É responsabilidade de
Ethan.
Eu não sou um cara bom e não faço qualquer esforço para disfarçar
minha indiferença pela humanidade, mas ela não parece fazer caso do perigo,
como uma criança que se aproxima da jaula de um leão sem saber o quão
perto está de ser devorada.
Eu a quero.
Eu preciso de sua pureza como do ar que respiro.
Bebo cada palavra enquanto ela narra sua vida com a prima da mãe em
Paris.
Ouvir Lilly compartilhar sua solidão, traz conforto para a minha própria e
fico puto quando de repente ela se fecha, afastando o olhar.
Preciso dos seus olhos em mim.
“O que houve?”
“Nada.”
“Por que deixou de me olhar? Você não deve fazê-lo quando
conversamos.” - falo antes que possa me parar.
Sua respiração está pesada e espero que diga que eu não tenho direito de
exigir o que quer que seja, mas como uma deliciosa tentação, ela explode
minha mente quando concorda com doçura.
“Tudo bem. Não acontecerá novamente.” - porra - “Eu só fiquei um
pouco sem jeito por falar sem parar. Não sei o tipo de conversa que está
acostumado a ter. Quero dizer… você deve falar com um monte de mulheres
e eu queria saber o que o agrada.”
Jesus Cristo, ela não faz ideia do que está dizendo e eu deveria deixar
passar, mas não consigo.
“Você quer aprender o que me agrada, pequena?”
Ela está atraída pela minha escuridão, enquanto eu quero sua luz. Quão
fodido é isso?
“Eu quero.”
Ainda que por poucos segundos, eu oscilo pela primeira vez na vida,
encarando-a, em dúvida sobre o que fazer.
Mas então me obrigo a racionalizar.
“Você não está pronta para descobrir.”
“Mas…”
“Eu disse não, Lilly.”
Preciso sair daqui.
Estou esticando toda a minha contenção em respeito a sua inocência.
Ela não imagina o que acaba de oferecer. E nem a quem.
Ainda assim, é como levar um soco no estômago quando vejo-a se
encolher.
“Não precisa ter medo de mim.”
Ela me olha confusa, mas não recua.
“Eu não tenho. Sei que você não me faria mal.”
“Como pode estar certa? Nós pouco nos conhecemos.” - me irrito
novamente - “Preste atenção no que vou dizer: não confie em estranhos.
Nunca, está ouvindo?”
Porra, de onde vem tanto descontrole? Ela só precisou de dois dias para
foder com a minha cabeça.
“Sei disso.” - diz com meiguice.
Não é o que quero dela.
Preferia que me mandasse para o inferno ao invés de se transformar no
mais incrível sonho que eu pudesse ter.
“Prometo ser cuidadosa, mas não estava falando de qualquer um.
Somente de você. Você não me machucaria.”
Oh, porra!
Viro as costas para sair do quarto antes que perca a cabeça de vez.
Rápido demais. Estamos acelerados demais.
Eu sou errado para ela em todos os sentidos.
Não deveria sequer considerar a possibilidade de fazê-la minha, mas Lilly
me põe fora do eixo.
Nada de pensamento lógico por aqui. Apenas ela.
“Prometo não usar isso contra você.”
“O que?”
“Ahn… Ethan diz que eu não jogo limpo e que sei que ele faz tudo o que
eu quero porque me ama.” - se atrapalha - “Não que eu esteja dizendo que
você me ama… ou que vá fazer o que eu quero… ou que eu quero que você
faça alguma coisa.” - caralho, ela é maravilhosa - “Eu… acho que vou tomar
um banho.”
Completa, levantando de um salto, com o rosto rubro.
As palavras saem entrecortadas pelo embaraço.
“Sim, banho parece bom.” - juro, falei isso sem nenhuma maldade, mas
ela ofega e é como um tiro direto no meu pau - “Você está com fome?” -
disfarço.
“Não.” - e então completa, meio sem jeito - “Quero dizer, posso fazer
companhia se você quiser.”
“Eu já comi.” - minto porque parece uma boa ideia manter um pouco de
espaço entre nós - “Descanse. Amanhã provavelmente desejará explorar a
cidade.” - falo e a seguir fico parcial a respeito.
De uma certa forma, é essencial me manter longe até decidir o que farei
com ela, mas ao mesmo tempo não a quero solta por aí.
Foda-me!
A confusão na minha cabeça geralmente fria e regrada traz à tona o pior
de mim e, sem me despedir, saio do quarto.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 11
Lilly
 
Até conhecer Amos, eu achava que meu irmão era o cara mais difícil do
mundo de se decifrar.
Vocêolha para Ethan e não faz a menor ideia do que está pensando, mas
agora meu gigante lindo ganhou por vários corpos de vantagens no quesito
mistério.
O que acaba de acontecer?
Em um momento, ele parecia estar gostando de ficar comigo e, sem
querer ser convencida, até atraído.
No seguinte, me virou as costas como se eu fosse nada.
Gostaria de ligar para Martina e contar sobre isso. Talvez ela pudesse me
dar umas dicas.
Sou inexperiente, não cega. Sei que um cara como ele não passa tanto
tempo com uma garota se não estiver interessado.
Amos não parece ser do tipo que é amigo de mulheres. Acho difícil que
alguma resistisse a agarrá-lo, a começar por mim mesma.
Bom, vou tentar ficar fora do seu caminho.
De jeito nenhum vou fazer a pirralha grudenta e apaixonada como a
protagonista de uma das histórias que Martina escreveu.
Ela é muito boa no que faz.
Consegue transmitir no papel, com suas mocinhas, exatamente as dúvidas
que passam pela minha cabeça.
E como bônus, seus livros são quentes.
Senhor!
Lembro de um em que o cara amarrava a garota à cama e ficava horas lhe
dando prazer.
Não sei de onde Martina tira tanta imaginação.
Não tenho ideia do que seria um conceito mais profundo de prazer, já que
é complicado tentar explorar o próprio corpo em um colégio interno e após,
morando com alguém que não respeitava qualquer noção de privacidade
como Michelle, mas em breve terei meu próprio lugar e poderei investir nisso
com mais calma.
Ou… eu poderia conseguir alguém para me ensinar.
Não, não alguém.
Ele.
Doce Senhor, pensar em Amos fazendo todas aquelas coisas que li causa
uma incêndio em meu corpo.
Apesar disso, estou firmando um pacto comigo mesma que se ele não der
mais pista, não o incomodarei.
Essa dança só funciona se for a dois, Lilly.
Sacudindo a cabeça, caminho para o banheiro me perguntando se deveria
ter mentido e dito que estava com fome. Seria mais uma oportunidade de
ficar perto dele.
Bom, agora não tem jeito, mas se amanhã ele repetir o convite, aceitarei.
 
Capítulo 12
Amos 
 
Afaste-se. Não há a menor chance disso acabar bem.
Ela não é para você.
Tenho repetido essa frase desde que a deixei.
Inferno, eu posso lidar com isso!
Com o passar dos dias, seu encanto vai diminuir. Vou me acostumar com
a sua presença e então poder seguir com a vida sem o risco de destruir minha
relação com meu único amigo.
Ethan sabe tudo sobre minha vingança e nenhum cara gostaria de ver a
irmã caçula envolvida comigo.
Nunca cheguei perto de algo sequer parecido a um relacionamento.
Mulheres para mim só servem como alívio às tensões do corpo.
E então há Lilly.
Por mais que eu me esforce, não consigo encaixá-la em uma categoria.
Ela parece boa demais para ser verdade.
Seria fácil se eu pudesse agir com ela da mesma forma que faço com as
outras, mas eu intuo que mesmo se Ethan não existisse, Lilly nunca seria um
encontro de uma noite.
Impossível provar aquela inocente sedução apenas uma vez.
Jesus Cristo, ela quase me matou quando disse que queria aprender a me
agradar.
Claro, ela que não tem a menor noção do que eu gosto e duvido que se
realmente soubesse poderia lidar com isso, mas de qualquer maneira suas
palavras mexeram com meus desejos mais secretos.
Seria uma viagem deliciosa poder mergulhar fundo na nossa atração e ver
aonde isso nos levaria, mas sei que ela está destinada a alguém melhor. Um
homem que não tenha tanto ódio e dor em sua bagagem.
Não me permitirei macular um anjo, mas principalmente, não vou desviar
minha atenção do meu projeto.
Foram anos rastreando o grupo de traficantes de crianças e adolescentes e
agora que estou muito próximo de cercá-lo, não posso me dar ao luxo de
perder o foco.
Não há lugar para a luz ou bondade em meu caminho.
Eliminar Jonathan significa poupar muitas vidas do mesmo inferno pelo
qual eu passei.
Não sou iludido ao ponto de achar que terminarei com o mal, mas ao
menos vou exterminar uma célula dele.
Amanhã tenho uma reunião com minha equipe de elite.
Eles não atendem nossos clientes regulares, só lidam com sequestradores
de altos funcionários do governo, terroristas e traficantes de armas.
Você jamais encontraria seus currículos em uma plataforma de empregos.
A maioria não teria dinheiro suficiente para pagá-los.
Todos provêm das forças especiais do exército, assim como Ethan e eu.
Eles foram escolhidos a dedo para missões específicas como a que meu
sócio está no momento na África do Sul.
Fomos contratados para organizar a deposição de um ditador em um país
vizinho.
Sabemos que um banho de sangue ocorrerá, mas isso será necessário pelo
bem da maioria.
Esse homem mutila jovens em frente a seus pais. Espanca e estupra
mulheres diante de suas famílias, sejam elas de que idade forem.
Isso só mostra que a organização de Maria é apenas uma gota no oceano
de barbaridade que é a porra do mundo.
Minha cabeça dói e o quarto parece superaquecido.
Será que a merda do ar condicionado não está funcionando?
Pela milésima vez me reviro na cama sem conseguir qualquer tipo de
conforto.
Minha mente já repetiu vezes sem conta a conversa com Lilly.
Não sei como agir.
Diabos!
Ethan viajará por quinze dias. Não acho que eu seja tão forte ao ponto de
me manter longe dela.
A têmpora lateja de dor, mas me recuso a tomar qualquer remédio como
forma de autopunição.
Barulhos vindo do corredor captam minha atenção.
Primeiro penso se tratar do ar central, mas ao chegar à porta do meu
quarto, percebo que são gemidos.
Na verdade, mas se parece com o som de alguém ferido, choramingando.
Meu corpo se põe em alerta e corro até o quarto que Lilly ocupa.
A cama está vazia e um suor gelado começa a escorrer por mim.
Os sons continuam e tomo o caminho de onde acho que vêm.
O banheiro.
Será que se sente mal? Está machucada?
As luzes estão apagadas e não consigo vê-la, mas continuo seguindo os
gemidos.
Encontro o interruptor e pela primeira vez em anos, experimento dor
emocional.
Ela está no chão, os joelhos dobrados colados ao tronco e o rosto coberto
de lágrimas.
Os olhos estão fechados e se arrasta de costas, afastando-se da entrada do
banheiro.
“Lilly?” - tenho medo de fazer um movimento brusco e perturbá-la.
Parece aterrorizada. - “O que está fazendo?”
Sua cabeça se move de um lado para o outro.
“O armário. Eu preciso chegar ao armário. É seguro lá.”
Jesus Cristo, ela está tendo um pesadelo!
Só então percebo que ainda dorme. Apesar de falar, os olhos permanecem
fechados.
Chego até ela e agacho-me.
“Hey, você está segura.”
“Não! Tenho que chegar ao armário… por favor… estou com muito
medo. Não quero ficar aqui.”
Parece indefesa como uma criança de colo.
É o suficiente.
“Não, amor. Você não precisa ir até lá. Eu estou aqui para protegê-la.
Ninguém pode lhe fazer mal. Seu Amos está aqui.”
“Amos?”
“Sim querida, sou eu.”
“Amos…”
Seus soluços me fazem perceber que ainda há humanidade em mim.
Suavemente toco seus cabelos e murmuro palavras de carinho. Aos
poucos, as lágrimas cessam e a respiração regulariza.
“Anjo, eu vou pegar você agora, tudo bem? Vamos voltar para o quarto.”
Ela não pesa nada.
Seu corpo está trêmulo e ao invés de deitá-la, sento na cama com ela em
meus braços.
“Amos.”
“Sim, amor. Estou bem aqui com você.” - continuo acariciando seu
cabelo, mas no momento não sei qual dos dois tento acalmar.
“Você vai ficar comigo?”
“Quer que eu fique?”
“Sim. Não vá. Não me deixe.”
“Então não irei a lugar algum.”
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 13
Lilly
 
Acordo muito cansada. Parece que levei uma surra emocional.
A lembrança da noite anterior volta, apenas para ser imediatamente
substituída por outra.
Eu tive um pesadelo.
Não me lembro de muita coisa, mas sei que chorei.
Aos poucos, as memórias retornam.
Amos me segurando.
Ele cuidou de mim.
Lembro-me de pedir-lhe para que ficasse.
Não estou com vergonha. Os pesadelos são meus companheiros há anos e
me assustam de verdade.
Não me desculparei por isso.
No entanto, com sua saída súbita do meu quarto após me ajudar com a
mala, vou tentar manter as coisas mais formais entre nós.Estou meio enamorada por ele e temo confundir atenção com afeto.
Amos é tão sexy.
Sigo para o banheiro para escovar os dentes pensando no que devo fazer
hoje.
Deus, eu nem acredito que não preciso dar satisfação a ninguém.
Quero ir a uma loja que pesquisei na internet e que vende tecidos
incríveis. Fica a uns dez minutos de táxi.
Ainda não decidi se comprarei um carro.
Quero dizer, primeiro vou ter que tomar aulas. Não sei dirigir e essa é
apenas uma das minhas deformações.
Também gostaria de me matricular em uma academia.
Será que Amos jantará em casa? Eu poderia preparar algo.
Ou isso seria colocar a carroça na frente dos bois?
Não quero que ele pense que estou tentando me espalhar.
A ideia de reencontrá-lo me deixa feliz e triste ao mesmo tempo.
Ainda sinto-me acanhada da cena embaraçosa do quarto, mas preciso
agradecer por ter ficado comigo durante a noite.
Deus, estou fazendo uma confusão.
Tomo um banho rápido e resolvo pular o café da manhã. Posso comer
algo na rua.
Cumprimento o porteiro que está conversando com uma ruiva linda.
“Dona Sofia, pode deixar que receberei seu material.”
“Muito obrigada. Eu não estarei aqui para assinar.”
“Fique tranquila.”
“Bom dia.” - falo, me dirigindo aos dois ao mesmo tempo.
A garota vira e acho que nunca vi olhos verdes tão bonitos.
“Bom dia.” - sua voz é suave e estranhamente destoa de toda a vivacidade
de sua aparência - “Meu nome é Sofia.” - oferece a mão.
Imediatamente gosto dela. Amo pessoas que não esperam que eu tome à
frente da ação. Quando é assim, na maioria das vezes acabo ficando isolada.
Não sei socializar.
“Oi, eu sou Lilly. Acabo de me mudar.” - digo de uma só vez, porque
quando começo a falar, ninguém me segura.
“Seja bem-vinda, Lilly. Eu também estou morando aqui há pouco tempo.
Quem sabe não podemos sair para um café qualquer dia desses?”
“Eu adoraria. Não conheço ninguém na cidade além do meu irmão e o
amigo com quem ele divide o apartamento.”
Conversamos mais um pouco e trocamos telefones.
Conhecer Sofia talvez tenha sido um sinal de que as coisas ficarão bem.
Eu sempre fui um tanto supersticiosa, buscando explicação para os fatos
mais corriqueiros da vida.
Sorrindo, abro o aplicativo do táxi.
 
◆◆◆
 
O dia passou voando entre as lojas que eu queria visitar.
Agora estou andando distraída pelos corredores da seção de livros de
moda da livraria quando percebo um cara lindo me observando.
Ele tem a pele clara, mas o cabelo é negro como a noite e sua altura e
corpo chamam instantaneamente a atenção.
Olho para trás para ter certeza de que é comigo.
Quando torno a me virar, está gargalhando e eu não tenho a menor dúvida
de que é de mim.
“Eu pensei que não era para mim que estava sorrindo.” - falo antes que
consiga me parar.
Senhor!
“Diga que esse cabelo é tinta ou começarei a odiá-la em cinco segundos.”
Começo a rir porque é impossível não me render ao seu charme e
afetação.
Ele é definitivamente gay.
“Sinto muito, mas é de verdade.”
O rapaz se aproxima e eu estendo a mão, mas ao invés de pegá-la, me dá
dois beijos no rosto.
“Theo Argyros.”
“Você é grego.” - falo.
“Só metade. Sou filho de um. Minha mãe é inglesa.” - ele sorri - “E você
é…”
“Lilly.” - e corrijo rapidamente - “Lillyana Ross, mas todos me chamam
de Lilly.”
Ele acena com a cabeça.
“O mesmo aqui. Se algum dia você me chamar de Theodoro, a amizade
acaba.”
Eu gosto dele. É tão aberto.
Penso em como sou sortuda. Qual é a chance de se conhecer duas pessoas
tão legais quanto Sofia e ele no mesmo dia?
“E o que você está fazendo perdida aqui, Lilly? Já são quase oito e meia.
Seus pais não estão preocupados?”
Eu reviro os olhos porque a despeito da sua melhor tentativa, as palavras
saem cheias de sarcasmo.
“Já sou grandinha. Estava procurando livros para meu curso.”
“Você faz moda?” - ele fala com um entusiasmo contagiante.
“Sim, estou indo para o quinto semestre. Estudei os dois primeiros anos
em Paris.” - assim que explico, penso que Amos ficaria louco por eu estar
dando tantas informações logo de cara a um estranho, mas agora não há como
engolir as palavras.
“Paris? Eu me formei em moda lá.”
“Você é estilista?”
“Produtor.”
“Incrível.” - agora sei porque sua imagem me prendeu de primeira. Suas
roupas parecem que foram feitas exclusivamente para ele. Combinam com
sua personalidade esfuziante como uma segunda pele.
“Theo, eu não tenho pais me esperando, mas realmente preciso ir ou meu
irmão ficará louco. Acabei de perceber que a bateria do meu celular
descarregou.”
Lamento de verdade porque gostaria de passar um pouco mais de tempo
com ele.
“Espera, pode me dar seu telefone? Prometo que não sou um pervertido e
nem nada do tipo.”
Eu o avalio rapidamente. Confio em minha intuição e ela me diz que ele é
uma boa pessoa.
Sorrindo, pego seu celular para gravar meu número.
 
 
Capítulo 14
Amos
 
 
Volto do trabalho tentando me convencer de que mudar de ideia sobre ir a
boate que frequento uma vez por semana para escolher minha parceira de
sexo da vez não tem nada a ver com Lilly, mas isso é uma mentira fodida.
Mal posso esperar para vê-la novamente.
A sensação é tão forte que é como se correntes elétricas estivessem
debaixo da minha pele.
Não vou pensar sobre isso agora.
Por uma noite, vou me permitir manter a prudência trancada.
Abro a porta e a escuridão que me recebe faz com que entenda
rapidamente que ela não está.
Olho o relógio.
Nove horas e ainda não chegou?
Mesmo sabendo ser inútil, percorro todos os cômodos.
A irritação é quase incontrolável.
Foda-me, estou ficando louco enquanto tento organizar minha mente.
Mando várias mensagens para seu celular, mas não obtenho resposta.
Puto para caralho agora, ligo o laptop e rastreio seu smartphone.
Não me importo se ela me odiará por isso. Sua segurança é prioridade.
A tela mostra que a última localização é em um shopping center a pouco
mais de quinze minutos daqui.
Estou andando de um lado para o outro na cozinha como um leão
enjaulado.
Pensei em fazer o jantar para tentar consertar meu comportamento com
ela na noite passada. E também queria falar do pesadelo.
Eu sei o suficiente sobre medo para compreender que o que teve não foi
somente um mau sonho. Lilly estava apavorada.
Mas antes de tudo, nós teremos uma conversa séria sobre ela não
desaparecer do meu radar nunca mais.
Isso se não tiver acontecido algo.
Porra! Onde ela está?
O sentimento de impotência é o pior dos venenos em meu sangue.
Estou a ponto de ligar para um dos meus homens e iniciar uma busca,
quando ouço a porta da sala se abrir.
Tomo algumas respirações antes de ir encontrá-la porque não quero
correr o risco de agir como um selvagem, mas meu temperamento leva a
melhor e saio a sua caça caminhando em linha reta para o quarto.
“Onde você estava?”
Ela se vira com a mão no peito e o rosto pálido.
“Jesus Cristo! Agora posso ter certeza de que não sou cardíaca. Você
quase me matou de susto, Amos.”
“Responda, Lilly.”
Ela olha com cautela - o que é inteligente de sua parte porque estou
mantendo minha fera interior presa a muito custo.
“Em uma livraria.”
O sentimento de alívio não dura. Não há livros em suas mãos.
“Sozinha?”
“O que é isso, Amos?”
Invado totalmente seu espaço pessoal, mesmo sabendo que é uma coisa
estúpida a se fazer.
“Diga.”
Ela puxa o ar algumas vezes. As bochechas estão coradas e parece
ansiosa.
“Estava com um rapaz que eu conheci.” - confessa enquanto uma
possessividade assassina me impede de pensar, mas antes que eu faça
qualquer insanidade, ela põe a mão no meu peito - “Ele é gay.”
Suas palavras me acalmam instantaneamente, mas continuo irritado.
Eu nunca perco o controle, mas estava prestes a sair à procura de um
fodido rival imaginário.
A adrenalina da preocupação com sua segurança aliada ao ciúme me faz
jogar o bom senso para o alto e me aproximar da minha tentação loira um
pouco mais.
Seguro seus cabelos no punho como desejei fazer desde a primeira vez
em que a vi.
“Nunca mais suma assim.”
Esse é o momento em que ela deveria correr, mas ao invés, parece tentar
tirar mais do toque, o que

Outros materiais