Prévia do material em texto
Este manual foi disponibilizado em sua versão digitai a fim de proporcionar acesso à pessoas com deficiência visual, possibilitando a leitura por meio de aplicativos TTS (Text to Speech), que convertem texto em voz humana. Para dispositivos móveis recomendamos Voxdox (www.voxdox.net). LEI N° 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.(Legislação de Direitos Autorais) Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais: I - a reprodução: d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatários; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1998/lei-9610-19-fevereiro-1998-365399- normaatualizada-pl.html http://www.voxdox.net http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1998/lei-9610-19-fevereiro-1998-365399- Bdwlges Ferreira de Mattos Silvares M aura Alves Manes Gongora PIICOUXHA CLINICA COMPORTAMENTAL A INSERÇÃO DA ENTREVISTA COM ADULTOS E CRIANÇAS Ê ÍCON Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CEP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Silvares, Edwiges Ferreira de Mattos Psicologia clínica comportamental: a inserção da entrevista com adultos e crianças / Edwiges Ferreira de Mattos Silvares e Maura Alves Nunes Gongora. --1. ed - - São Paulo : EDICON, 1998. ISBN 85-290-0081-1 1. Comportamento humano 2. Psicologia I. Gongora, Maura Alves Nunes. II Título. índices para catálogo sistemático: 1. Comportamento : Psicologia clínica 153.85 Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor: Impresso no Brasil - Printed in Brasil Ref: 9824 98-1933 CDD-153.85 EDICON Ed i t o ra e Co n s u l t o r i a Lt d a R. H e f c u l a n o d e Frô l t as , l B l O T 3 0 8 -0 2 0 - S ã o P a u l o - SP Cabia Posten 1243 - Dl 059-970 SP - SP e d i c o n @u -n e t s y s .c o n n . b r Tel / Fax : 2 5 5 -1 0 0 2 / 2 5 5 -9 8 2 2 SUMARIO PARTE I - A ENTREVISTA CLÍNICA COM ADULTOS: FUNDAMENTOS, MODELO E HABILIDADES ENVOLVIDAS, um manual para alunos iniciantes - 9 CAP.1 DA ENTREVISTA DE PESQUISA À ENTREVISTA CLÍNICA: DO CONTEÚDO AO PROCESSO -11 1. A entrevista enquanto conteúdo e sua comparação com a observação direta -11 2. A entrevista enquanto processo - 17 2.1 A visão não diretiva - 17 2.2 A entrevista como interação - 18 2.2.1 Considerações sobre variáveis do terapeuta na interação com o cliente - 19 2.2.2 Características interacionais da entrevista clínica - 22 CAR 2 MANUAL PARA ENTREVISTA CLÍNICA INICIAL - 27 1. A entrevista clínica inicial: conceitos e objetivos - 28 2. Modelo ou estrutura de entrevista inicial - 33 2.1 Um modelo de entrevista inicial - 35 3. Dados a serem levantados na E.C.I, - 38 4. Habilidades de entrevistar - 43 4.1 Habilidades empáticas - 44 4.2 Habilidades não verbais - 46 4.3 Habilidades de Perguntar - 47 4.4 Operacionalizar informações * 50 4.5 Parafrasear - 52 4.6 Refletir sentimentos - 53 4.7 Sumariar ou resumir - 54 4.8 Controlar a entrevista - 55 4.9 Manter seqüência - 56 5. Dificuldades comuns entre os iniciantes - 59 CAP. 3 ENSINANDO ENTREVISTA CLÍNICA: sugestões aos professores - 61 1. Estudos desenvolvidos com alunos de Psicoiogia - 62 2. Estudos desenvolvidos com alunos de Medicina - 75 3. Considerações gerais sobre os programas de ensino - 84 4. Um modelo de checklist - 85 5 PARTE II - A ENTREVISTA CLÍNICA DO PSICÓLOGO COMPORTAMENTAL NO TRABALHO COM CRIANÇAS - 91 CAP 4. POR QUE ENTREVISTAR PAIS E PROFESSORES, ALÉM DA CRIANÇA ENCAMINHADA PARA ATENDIMENTO PSICOLÓGICO - 93 CAP 5. ENTREVISTANDO OS PAIS DA CRIANÇA ENCAMINHADA PARA ATENDIMENTO PSICOLÓGICO - 99 1. Propósitos das entrevistas iniciais com os pais - 99 1.1 Identificando e descrevendo o (s) comportamento (s) problemático (s) infantil com os pais ou caracterizando comporta mentalmente a queixa - 101 1.2 Conhecendo as expectativas da família com relação as causas do comportamento infantil e sobre como proceder a mudança - 105 1.3 Estabelecendo um bom rapport com a família - 107 1.4 Formulando análises funcionais hipotéticas - 109 1.5 Obtendo dados quantitativos sobre comportamentos problemáticos - 112 1.6 Inteirando-se das variações naturais, nos comportamentos problemáticos, derivadas de tentativas promovidas pela própria família para obter alterações comportamentais - 113 1.7 Levantando o “menu" de informações infantis - 114 1.8 Avaliando o potência! de mediação - 115 1.9 Descobrindo os pontos fortes da criança - 117 1.10 Levantando dados do desenvolvimento infantil e da evolução do caso - 118 1.11 Definindo comportamentos alternativos como objetivos do trabalho psicológico * 119 1.1 2 A entrevista de feedback do psicólogo com os pais - 119 CAP 6. ENTREVISTANDO A CRIANÇA ENCAMINHADA PARA ATENDIMENTO PSICOLÓGICO - 121 CAP 7. ENTREVISTANDO OS PROFESSORES DA CRIANÇA ENCAMINHADA PARA ATENDIMENTO PSICOLÓGICO - 131 CAP 8. A ENTREVISTA CLÍNICA DE "FEEDBACK" A FAMÍLIA - 139 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - 151 6 APRESENTAÇÃO Este livro surgiu da necessidade sentida pelas autoras, ambas professoras supervisoras de disciplinas do curso de graduação em Psicologia, com prática em abordagem comportam en tal, de se ter um referencial nacional prático, sobre entrevista, para clí nicos iniciantes. O aluno de Psicologia e, por sua proximidade com esta área, também os estudantes de áreas da saúde (como por exemplo: Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, etc) ao se iniciarem na prática clínica, seja ao fazer a triagem dos clientes ou ao proceder à avaliação ou mesmo ao iniciar um procedimento terapêutico, precisam contar com um texto no qual fiquem claros os principais aspectos de um dos intrumentos clí nicos mais utilizados nestas práticas: a entrevista. Em outras pa lavras, o aluno precisa de um texto que lhe ofereça, além dos fundamentos da entrevista, formas de agir para melhor entrevis tar. Neste sentido, o presente livro também se constitui numa obra de interesse para quem ensina as habilidades de entrevistar. Os livros, voltados para esse tema, disponíveis no mercado, além de não seguirem a orientação comportamental, na maioria das vezes, são muito gerais, isto é, deixam pouco claras as estra tégias possíveis de serem aplicadas para se fazer uma entrevista de qualidade, seja ela inicial ou não. Em outras palavras, não dão subsídios ao clínico iniciante quanto às formas de atuar du rante a entrevista, de modo a atingir seu objetivo primeiro, qual seja, auxiliar o cliente na sua necessidade imediata. 7 O presente texto, derivado em parte da tese de doutorado da segunda autora, desenvolvida sob a orientação da primeira, de fendida no programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo, busca suprir essa lacuna encon trada na literatura psicológica brasileira. O livro se divide em duas partes de modo a facilitar sua leitura. Cada uma destas partes foram escritas, separadamente, por uma das duas autoras. Assim, o leitor que busca orientação sobre os fundamentos da entrevista em geral e busca desenvol ver entrevista com adultos deve voltar-se, prioritariamente, para os três primeiros capítulos, os quais foram escritos pela professo ra doutora Maura Alves Nunes Gongora. O leitor que busca orientação para trabalhar com crianças, usando entrevistas, de verá voltar-se para os cinco últimos capítulos, escritos pela pro fessora doutora Edwiges Ferreira de Mattos Silvares. Como pode ser depreendido dessa exposição, os capítulos do livro são independentes e o leitor poderá lê-los na ordem que julgar mais conveniente. Não é demais acrescentar, à guisa de finalização, que inde pendentemente da orientação teórica, que norteia o clínico iniciante ou o professor supervisor de práticas que utilizam a entrevista, o presente livro poderá ser útil pelas dicas que apre senta e pelos casosque relata para ilustrar seus pontos essenciais. Esperamos que o leitor, ao finalizar a leitura deste livro, pos sa sentir que alcançou os objetivos com ele propostos: identificar os fundamentos e os processos caracteristícos da entrevista clíni ca, bem como dar início à aprendizagem de múltiplas habilida des envolvidas no entrevistar, cujo aperfeiçoamento, entretanto, depende fundamentalmente de seu exercício. Edwiges Ferreira de Mattos Silvares Maura Alves Nunes Gongora 8 PARTE I A ENTREVISTA CLÍNICA COM ADULTOS: FUNDAMENTOS, MODELO E HABILIDADES ENVOLVIDAS. Um manual para alunos iniciantes. CAP. I DA ENTREVISTA DE PESQUISA À ENTREVISTA CLÍNICA: DO CONTEÚDO AO PROCESSO Historicamente, a entrevista ficou conhecida por integrar a lista de instrumentos utilizados em coleta de dados nas ciênci as sociais, inclusive na Psicologia. Enquanto utilizada apenas como instrumento de pesquisa, os cuidados metodológicos, que se tomavam, visavam somente garantir a validade dos da dos com ela obtidos. Portanto, é pelos dados fornecidos que a entrevista é explorada e avaliada na pesquisa. Quando, mais recentemente, a entrevista foi adotada com objetivos clínicos, passou a ser abordada sob outro prisma: pro cesso de interação e intervenção. Sendo assim, atualmente, em Psicologia clínica, a entrevista é entendida e explorada em duas dimensões: a já tradicional denominada de conteúdo ou coleta de dados, e uma segunda, denominada processo. Nas próximas seções serão abordadas, em separado, cada uma dessas duas dimensões, iniciando-se pela de conteúdo. 1 - A entrevista enquanto conteúdo e sua comparação com a observação direta A dimensão conteúdo refere-se às informações espe cíficas que se procura obter ao se realizar uma entrevista. Embora, a rigor, essas informações não se constituam, ne- 11 acer cessariamente, em dados, nos manuais, a dimensão ora refe rida tem sido denominada por "coleta de dados". Para maior clareza do que se entende por ela, basta recordar todos os roteiros encontrados nos manuais, os quais especificam os dados a serem obtidos na entrevista clínica. Há uma vasta e tradicional literatura analisando e criti cando a entrevista no que se refere à validade de seus dados, ou seja, ao seu conteúdo. No entanto, considerando a im portância do assunto para alunos iniciantes, para a Psicolo gia em geral e para a Psicologia clínica em particular, parece não ser demais incluir aqui uma síntese dos aspectos mais pertinentes dessas análises. Em primeiro lugar, é de se lembrar que a entrevista é um instrumento de relato verbal e que, portanto, as análises e críticas que recebe, geralmente, são as mesmas que se apli cam aos instrumentos desse tipo. Os analistas do comportamento, principalmente os au tores da Análise Experimental do Comportamento (A.E.C.), têm sido grandes críticos dos instrumentos de coleta de da dos, baseados em relato verbal. Uma primeira crítica aponta o fato de que a pessoa relata sua percepção do comportamento e não como ele realmente ocorreu. Além disso, a análise do comportamen to exige dados não só sobre as respostas, mas também so bre as contingências presentes. Os leigos, em geral, não estão atentos a todos esses fatos. Como afirmam GOLDFRIED & DAVISON (1976), muitas vezes, o compor tamento relevante envolve respostas super-aprendidas, não percebidas pelos clientes. Há ainda, na entrevista, os limites da linguagem utili zada - entrevistador e entrevistado podem decodificar di ferentemente as mesmas palavras - e, neste caso, o resul tado da entrevista será enviesado. Segundo MUCCHIELLI (1978), o código escolhido é influenciado por variáveis culturais, educativas, históricas e pessoais, entre outras. 12 acer acer acer acer acer acer acer acer KANFER & PHILUPS (1974) relataram vários resultados de pesquisa sobre as variáveis do experimentador e os apli caram à situação de entrevista, no sentido de apontar os seus limites. Esses autores lembram que a década de 1960 foi rica em estudos desse tipo e, embora a maioria deies não fosse realizada diretamente em condições clínicas, permitiram uma ampla avaliação da situação de entrevista clínica, cujas for mulações se tornaram clássicas. Seguem-se alguns dos resul tados dessas pesquisas, por eles descritos: 1 - Dependendo de como são os experimentos, não há congruência entre o que as pessoas dizem e seu comportamento, diretamente observado; 2 - Os sujeitos tendem a responder como eles pensam que deveria ser a resposta apropriada 3 - Os pes quisadores tendem a induzir os sujeitos para darem as res postas que confirmam suas hipóteses; 4 - Estímulos reforçadores mínimos, como sinais de cabeça, sorrisos e murmúrios verbais, influenciam o tipo de produção verbal do cliente - isto ocorre inclusive com terapeutas não diretivos; 5 - As técnicas clássicas de interpretação, reflexão e con frontação, quando aplicadas de forma contingente, produ zem mudanças previsíveis na produção verbal do cliente; 6 - Há correlação entre o efeito do reforço social e a ambi güidade - pouca informação sobre a tarefa -; 7 - Característi cas sociais do experimentador e do sujeito podem correlacionar-se com o condicionamento verbal, resultante na pesquisa; 8 - Estudos também mostraram correlação entre variáveis do entrevistador: demonstração de ansiedade, de hostilidade e de especificidade das indagações; e as respos* tas fisiológicas do entrevistado. Frente a essas e outras críticas formuladas e, talvez, por outras razões teóricas, como a adoção de um behaviorismo metodológico, o instrumento eleito, principalmente pela Análise Experimental do Comportamento, foi a observação direta. Até recentemente, para que um autor comportamental pudesse publicar um trabalho, era quase um requisito a uti lização da observação direta (BELLACK & HERSEN, 1988). 13 acer acer acer acer acer acer acer acer acer acer acer Contudo, a prática desenvolvida com a observação direta, principalmente na área clínica, revelou que a mesma tam bém apresenta uma série de limites. Entre os problemas encontrados em sua utilização, exis tem os seguintes: - Dificuldades para avaliar comportamentos de freqüên cia baixa; - Em geral, demanda muito tempo e altos custos, o que pode torná-la inviável; - É difícil aplicá-la a comportamentos íntimos como os sexuais, por exemplo, ou outros que envolvam aspectos mo rais; - Não é aplicável diretamente aos comportamentos en cobertos, cuja importância tem sido reconhecida e acentua da na área clínica; - Tende a fornecer poucas informações; - E, finalmente, o fato de suas informações apresenta rem fidedignidade1 não implica que também apresentem validade2. Por isso, BELLACK & HERSEN (1988) lembram que a observação direta pode, inclusive, ser utilizada para avaliar comportamentos-problema que não apresentem validade social3. Ainda, na opinião desses autores, houve, nos últimos anos, um desencanto com a superioridade da observação direta. O que se pode concluir do exposto é que ambas as for mas de avaliação possuem seus limites. A maioria dos autores comportamentais defendem, atual mente, a utilização da entrevista como instrumento de traba lho imprescindível, ao menos na área de Psicologia clínica. 1 Fidedígnidade - consiste na concordância entre os avaliadores. 2 Validade • consiste em realmente se medir aquilo que se pretende. 3 Validade sod&l - implica tratar-se de problemas considerados socialmente relevantes. 14 BALAU (1980); BELLACK & HERSEN (1988); IWATA et al. (1982); KEEFEet al. (1980); KOHLENBERG & TSAI (1991 ); LAZARUS (1979); e OLLEND1CK & HERSEN (1984), entre outros, indicam a entrevista como sendo essencial para se estabelecer os primeiros contatos com o cliente, identificar seu problema, definir objetivos de tratamento, levantar hi póteses e, inclusive, verificar a necessidade de outras formas de avaliação. Isto, porque todos eles defendem a adoção de várias formas de avaliação,todavia, geralmente, iniciando- se pela entrevista. Alguns deles lembram, também, que a entrevista é muito prática, não exigindo nem material, nem local sofisticado; mas, apenas, um entrevistador habilitado. Ainda sobre a utilização da entrevista, HAYES (1987) apresenta uma divisão do comportamento humano em três categorias: respostas motoras, físico-emocionais, e cognitivo- verbais, as quais ele chama de "sistema tríplice de respos tas." Segundo ele, para cada uma dessas categorias de res posta aplica-se um instrumento de avaliação. Assim, para as respostas motoras é mais adequada a observação direta; para as respostas cognitivo-verbais aplicam-se os instrumentos de relato verbal, incluindo a entrevista; e, para as respostas ffsi- co-emocionais aplicam-se as medidas fisiológicas e, também, o relato verbal, para se ter idéia do que e como o cliente percebe essas respostas. BARLOW et al. (1986) afirmam que, embora estudos demonstrem não haver correlação entre os três sistemas de resposta, citados acima, isto não implica serem os relatos verbais inferiores; mas, apenas, que eles são diferentes: a medida da experiência subjetiva e cognitiva. KANFER & PHILLIPS (1974) já afirmavam que as medidas de relato ver bal não devem ser entendidas simplesmente como relatos de eventos. O que medem é o que o cliente pensa dos even tos, no entanto, isto também é importante do ponto de vista clínico. Estes autores já defendiam que UA falta de correlação alta entre medidas verbais e não verbais não implica em uma subordinação de um sistema de 15 acer acer acer acer resposta a outro(...). Ao invés disso,, demonstra a necessida de de relacionar medidas de resposta que sejam relevantes à questão a ser respondida" (p. 181 ), OLLENDICK & HER5EN (1984) acham que a entrevista é especialmente útil na clínica, por ser um veículo usado continuamente para monitorar o progresso do tratamento e obter feedback para reformulações. Dizem, ainda, ser um instrumento muito flexível - permite obter dados muito am plos e também muito específicos, o que aumenta a confiabilidade de ambos -. Além disso, lembram que, para muitas pessoas, é mais fácil expressar-se falando, sem contar sua aplicabilidade aos analfabetos. E, por último, lembram que, enquanto se entrevista, também se observa. Parece importante enfatizar que o fato da entrevista não ser totalmente planejada e seguir certa improvisação, atra vés de trocas verbais imediatas, confere-lhe uma grande pos sibilidade de autocorreção. Em síntese,’ os clínicos atuais, em sua maioria, enten dem que, pelo fato de boa parte das variáveis que interferem na entrevista serem já identificáveis, pode-se traçar os limi tes de sua aplicação e mesmo aperfeiçoá-la. Assim, a entre vista pode ser extremamente útil, desde que se leve em con ta o impacto de uma série de variáveis que podem afetá-la, e que a mesma seja escolhida em situações para as quais for apropriada. Deve-se lembrar que grande parte das técnicas ou estratégias de entrevista foi desenvolvida para controlar a interferência de variáveis estranhas e maximizar a validade de seus dados. No capítulo dois estão relatadas as principais estratégias desse tipo. Finalmente, parece importante observar que a polêmica travada quanto ao uso da observação direta em contraposição ao da entrevista só faz sentido se a mesma é vista simples mente como instrumento de coleta de dados. Atualmente, ao se considerar a entrevista enquanto processo, parte dessa polêmica esvaziou-se, pois a mesma passou ater outras fun ções clínicas, não encontradas na observação direta. 16 2 - A entrevista enquanto processo O termo processo é utilizado para referir-se à forma como se desenrola uma dada entrevista ou, ainda, à interação terapeuta-cliente. 2.1 - A visão não diretiva Não se pode descrever ou analisar a entrevista clínica em sua dimensão processo, sem se referir à grande contri buição que todos os enfoques teóricos receberam, nesta área, da abordagem não diretiva. Foram os estudiosos des se enfoque, os primeiros a chamarem a atenção para a com plexidade do que ocorre durante uma entrevista clínica, principalmente em seus estudos sobre Aconselhamento Psi cológico. A década de 1970 foi especialmente rica nesses estudos. A visão não diretiva, neles contida, está claramen te expressa em BENJAMIN (1978) e MUCCHIELLI (1978), os quais aplicam à entrevista os mesmos pressupostos não diretivos utilizados ao abordarem o desenvolvimento hu mano, em geral. Estes pressupostos estão amplamente de senvolvidos em algumas obras de CARL R. Rogers, enlre as quais se pode citar, "A PESSOA como centro" ( ROGERS & ROSENBERG, 1977 ). Para MUCCHIELLI (1978), a entrevista é uma forma de indução cujo objetivo é levar o cliente a expressar seu pro blema, o que só seria possível através da do tipo não diretivo. Ainda em sua opinião, são características desse método a ausência de investigação que inclua muitas perguntas, prin cipalmente as diretas ou fechadas; também a ausência da interpretação, do apoio, de conselhos e de qualquer tipo de avaliação, ou de julgamento. O trabalho de BENJAMIN (1978) trata especificamente da análise dos tipos de pergun tas que, geralmente, são feitas na entrevista clínica, e do efeito das mesmas sobre o cliente. Aliás, uma das influências marcantes desse enfoque sobre as práticas de entrevista de outras abordagens foi, exatamente, quanto à utilização de 17 acer acer acer acer perguntas abertas, como se poderá ver adiante, na seção so bre estratégias de entrevista. Além dos últimos dois autores, MIRANDA & MIRANDA (1986) destacam, ainda, a pessoa do entrevistador como outro elemento fundamental na não diretiva, principalmente por tratar-se de entrevista de ajuda ou aconselhamento. Eles afir mam que o entrevistador precisa ter qualidades pessoais: conhecer-se a si mesmo, estar livre de problemas e disponí vel para o cliente; precisa doar-se, ser sincero, genuíno e honesto. Precisa, ainda, estar seguro de si, aceitar o cliente incondicionalmente e compreendê-lo totalmente. Para tan to, o entrevistador ou conselheiro precisa aprender e aplicar um método rigoroso e preciso: o método centrado no clien te. As técnicas básicas para desenvolver esse método são o silêncio, as reflexões de sentimentos e de cognições - para fraseados - e as reformulações, acompanhadas de expres sões variadas de compreensão e empatia. Perguntas deverão ser evitadas; todavia, se utilizadas, só do tipo aberta. Na visão não.diretiva, além das características já citadas, entende-se que o terapeuta não ajuda diretamente o cliente, é o próprio cliente quem se ajuda. O terapeuta é apenas um facilitador para o cliente conhecer-se, decidir e escolher se quer mudar (ROGERS & ROSENBERG, 1977). Como foi apon tado por KANFER & PHILLIPS (1974), o ambiente é muito pouco importante na abordagem não diretiva. Trata-se de uma visão do desenvolvimento calcada no espontanefsmo. 2.2 - A entrevista como interação Os autores comportamentais, entre outros, vêem a en trevista como uma interação verbal entre duas ou mais pes soas, através da qual se desenvolve uma complexa rede de influências mútuas. Neste sentido, BALAU afirma que "... a atuação do entrevistador no contexto de sua interação com o cliente, afetará o resultado dessa interação tanto para res tringir, distorcer ou facilitar a expressão verbal do cliente" (1980, p.2-3). 18 acer acer acer acer acer Nesta visão, uma das formas de se obter conhecimento sobre entrevista pode ser através do estudo das variáveis do entrevistador e do entrevistado, durante a interação. Além dessas, podem-se estudar outras variáveis da história anteri or de cada um e do ambiente. 2.2.1 - Considerações sobre variáveis do terapeuta na interação com o ciiente Na seção anterior que trata da dimensão conteúdo, fo ram citados vários resultados de pesquisa descritos por KANFER & PHILLIPS (1974), sobre as variáveis do experimentador,as quais se aplicam, também, aos terapeutas. Além daqueles, em levantamento recente, realizado pela autora deste capítulo, foram encontrados alguns estudos so bre as variáveis do terapeuta e da situação de entrevista, prin cipalmente na área de Aconselhamento Psicológico, os quais serão suscintamente apresentados a seguir. No primeiro deles, os autores compararam oito respos tas de conselheiros experientes e iniciantes, a fim de avaliar o efeito da experiência sobre tais respostas. Os resultados indicaram que os mais experientes utilizaram mais domina ção, imediaticidade, confrontação e correspondência à de manda - ou timing-. Além disso, foram mais flexíveis - vari aram mais as estratégias de entrevistar -, enquanto os nova tos tenderam a afinar-se com certas habilidades e utilizaram- nas de maneira rígida (TRACEY et al., 1988). HERMANSSON et al. (1988) estudaram a relação entre inclinações posturais deliberadas do conselheiro e a comu nicação de intensidade, entendimento empático, respeito e genuinidade. Verificou-se que, em geral, os terapeutas pare cem fazer algum ajuste entre a sua fala e as mudanças de postura. A comunicação das atitudes acima foi maior, para todas elas, com a inclinação para trás e, menor, com a incli nação para a frente. 19 acer acer acer acer HILL & STEPHANY (1990) desenvolveram uma pesqui sa com terapeutas conselheiros com o objetivo de avaliar como os comportamentos não verbais dos clientes correspondem às reações relatadas por estes e como tais comportamentos são percebidos pelo terapeuta. Os resulta dos mostraram pouca relação entre os comportamentos ver bais e não verbais, tanto relatadas pelo cliente quanto perce bidas pelos terapeutas. Em nove categorias observadas, hou ve relação em apenas uma delas. Os autores concluíram que, embora se fale tanto que o terapeuta deve perceber e res ponder adequadamente às pistas do cliente, parece que, de fato, essas são de difícil decodificação. Continuando os estudos de variáveis específicas, KIVLIGHAN (1990) examinou a relação entre as intenções do conselheiro e a classificação do cliente quanto ao esta belecimento do vínculo. Os resultados mostraram que a relação acima foi apenas moderada. Apontou, porém, uma forte correlação negativa entre o fortalecimento do vínculo percebido pelo cliente e os procedimentos sistemáticos de avaliação e exploração do problema, então utilizados. SHAFFER et al. (1990) realizaram um estudo para ve rificar se características anteriores do entrevistador, em ha bilidades sociais, facilitariam a auto-expressão do cliente. Para isso, os entrevistadores e entrevistados foram classi ficados como sendo do tipo "aberto" ou "fechado", social mente. Os resultados indicaram três tipos de relação: 1 - Ambos, terapeuta e cliente, sendo do tipo aberto; a aber tura do entrevistador não facilitava; 2 - Apenas o terapeuta sendo do tipo aberto, isto facilitava a exposição do clien te, que era do tipo fechado; 3 - e ambos, terapeuta e c li ente, sendo do tipo fechado; a auto-exposição do cliente era ainda mais facilitada. KIVLIGHAN & SCHMITZ (1992) pesquisaram a relação entre algumas características de Aconselhamento e o forta lecimento do vínculo percebido pelo cliente e verificaram que três características parecem associadas à melhora do 20 vínculo: exigência, focalização sobre as interações do aqui e agora, e focalização sobre temas mais gerais. Parece que as pesquisas atuais apontam para os efeitos de algumas variáveis isoladas da situação terapêutica; mas não foram encontrados indícios de um modelo de atendimento que as integrasse. Esse problema já havia sido levantado por KANFER & PHILLIPS (1974). Estes autores afirmam que os enfoques tradicionais supõem que, na terapia, o conteúdo da fala do cliente, ou seja, suas respostas verbais são resultantes de conteúdo de pensamento, de personalidade ou de experi ência passada, Eles, no ehtanto, sugerem, e alguns dos resul tados acima confirmam que tais suposições precisam ser reexaminadas no sentido de ver o comportamento do entrevistador como um dos determinantes do material e resul tados obtidos na entrevista clínica. KANFER & PHILLIPS (1974) sugeriram que esse reexame deveria ser feito à luz do paradigma operante, isto por entenderem que a entrevista clínica apre senta características particularmente propícias ao condicio namento verbal: dependência do sujeito para com as regras do terapeuta, falta de instruções específicas sobre a tarefa ou papel do cliente e a natureza verbal da interação com uso maciço, pelo terapeuta, de reforçadores generalizados. Atualmente, os psicólogos comportamentais parecem ter consciência do processo interacional da entrevista e tendem a adotar, frente à mesma, um modelo operante, o qual pode ria ser o modelo integrador das pesquisas. Isto implica reco nhecer a enorme influência do terapeuta sobre os relatos do cliente e, além disso, associar o estudo da entrevista ao do comportamento verbal. SKINNER (1978) em sua obra - O COMPORTAMEN TO VERBAL - lançou as bases conceituais de um modelo operante para o estudo da linguagem. Embora fuja aos objetivos deste texto descrever e analisar esse modelo, cabe ao menos lembrar seu principal conceito sobre o assunto. Para ele, a linguagem deve ser analisada, mantidas as suas especificidades, como qualquer com- 21 acer acer acer acer acer portamento operante, ou seja, ela é desenvolvida e mantida por contingências de reforço. Por isso, refuta as explicações da aquisição da mesma, como se esta fosse instrumento para expressar emoções, pensamentos ou desejos. Também afir ma que não se pode analisá-la, como fazem os estruturalis- tas e desenvolvimentistas, apenas pela sua topografia, sem considerar as condições nas quais aquela topografia foi ad quirida. Segundo SKINNER, uma concepção mais produtiva é "... a de que comportamentos verbais são antes de tudo comportamentos ... ( 1986, p. 79)", por isso, as maneiras da pessoa falar e, inclusive o que ela fala, depende das práticas da comunidade verbal a qual pertence. Portanto, entender a linguagem implica, segundo ele, estudá-la conforme um modelo operante. Concluindo, seja através de um modelo operante ou de outros modelos teóricos, o que se constata é que, uma vez reconhecido, na entrevista clínica, o processo interacional, as possibilidades de estudos das variáveis do terapeuta, e também as do cliente, tornaram-se extremamente amplas. 2.2.2 - Características interacionais da entrevistacfínicá Por tratar-se de interação, a literatura clínica atribui à entrevista uma série de características, além daquelas já re latadas anteriormente. Na seqüência, serão apresentadas al gumas delas. A maioria dos autores entende que, por tratar-se de uma interação, a entrevista não pode ser totalmente previsível. Neste sentido, MUCCHIELLI (1978) lembra que não se repe te uma entrevista, ou seja, nunca há duas iguais. KAHN & CANNELL (1957) situam a entrevista como padrão especializado de interação verbal, com propósito específico e conseqüente eliminação de material estranho. Para BALAU (1980), a entrevista requer alguma espon taneidade e liberdade e, embora com objetivo específico, não é um interrogatório e, por isso, um requisito para a ca 22 acer acer acer acer acer pacidade de entrevistar é o dom ínio de habilidades facilitadoras da expressão do cliente. A entrevista é habilidade que pode ser desenvolvida com a prática, é técnica a ser examinada e aperfeiçoada, todavia isto, em vez de diminuir, só aumenta a compreensão huma na (GARRET, 1974). GORDON & TOLLE (1991); MAGUIRE (1990) e WHITEHOUSE et al. (1984) referem-se às habilidades de entrevistar, como as em "comunicação" interpessoal. Neste sentido, MCCREADY & WARING afirmam:"... entrevista é a habilidade de encorajar a exposição de informação pessoal com um propósito profissional específico (...) entrevista é um tipo de comunicação interpessoal efe tiva (1986, p.317). Em resumo, pode-se destacar como características da en trevista: não ser totalmente previsível e, portanto, não comple tamente planejável como o questionário, por exemplo; mas, mesmo assim, não se trata de conversa comum, por ter sempre objetivos específicos de natureza profissional. Existe sempre o interesse do entrevistador em obter: ou determinadas informa ções do entrevistado, quando tratar-se de coleta de dados, ou, mudanças comportamentais do cliente, quando tratar-se de in tervenção. O próprio fato de não ser completamente planejável torna-a uma atividade complexa a exigir a adoção de métodos, que permitam ao entrevistador alcançar seus objetivos. Considerações finais Para finalizar esta seção sobre a entrevista enquanto pro cesso, serão resumidas duas formas básicas pelas quais esta dimensão tem se inserido na prática clínica com porta mental: a) Pelo fato da entrevista constituir-se em instrumento de coleta de dados, uma primeira forma de preocupar-se com o processo de entrevistar é no sentido de garantir a qualida de dos dados com ela obtidos. Essa maneira de abordar o processo levou ao desenvolvimento de estratégias de entre vistar, que visam controlar as variáveis presentes na situação 23 acer acer acer acer de entrevista, a fim de maximizar a validade dos dados coletados. b) Uma segunda forma de enfocar o processo de entre vistar é analisá-lo ou utilizá-lo como método de interven ção. Neste caso, as estratégias de entrevista desenvolvidas atendem não apenas à validade dos dados, mas visam, prin cipalmente, mudanças terapêuticas no comportamento do cliente. Os conselheiros não diretivos abordam o processo de entrevistar dessa maneira. Os terapeutas e os pesquisadores comportamentais, ini cialmente, preocuparam-se, basicamente, com a coleta de dados sem dar muita atenção ao processo. No entanto, in- fluenciados pelos estudos sobre as variáveis do experimentador e pelas críticas aos instrumentos de relato verbal, passaram, nas duas últimas décadas, a ater-se tam bém ao processo, na sua primeira forma acima descrita: para controlar as variáveis que contaminam os dados, ou até como domínio periférico dos procedimentos terapêuticos. São exemplos aproximados desse enfoque BELLACK & HERSEN (1988); GOLDFRIED & DAVISON, (1976); HAYNES (1978); KEEFE et al. (1980); OLLENDICK & HERSEN (1984) e ZARO et al. (1980). Mais recentemente, principalmente na última década, tem havido, entre os terapeutas comportamentais, um amplo debate sobre o papel da relação terapêutica nos resultados da Psicoterapia. De uma posição complementar, a relação terapêutica tem passado a assumir posição cada vez mais essencial nos procedimentos terapêuticos. Sendo assim, uma das tendências mais recentes em Terapia Comportamental é a segunda forma de utilização do proces so de entrevista: como intervenção. KOHLENBERG & TSAI (1987; 1991) são exemplos típicos desse enfoque. Eles afir mam que, tradicionalmente, os terapeutas comportamentais vêem na relação terapêutica apenas um fato motivador para a continuidade do tratamento ou faciíitador da coleta de dados. Todavia, para eles, a própria terapia é uma complexa interação terapeuta-cliente e é, basicamente, através da rela 24 acer acer acer acer ção terapêutica, que desenvolveram seu modelo de interven ção denominado FAP - Functional Analytic Psychotherapy Para concluir, pode-se dizer que, considerando-se a en trevista clínica em suas duas dimensões básicas: conteúdo e processo, o mais im portante para uma análise comportamental e para o seu ensino, é entendê-la como um método de trabalho que implique um conjunto de habilida des as quais podem ser aprendidas. Quase todos os autores da área, inclusive alguns de abordagem não diretiva, enten dem que, da análise da atividade de entrevistar e da utiliza ção dos conhecimentos produzidos pela Psicologia, pode- se desenvolver estratégias ou técnicas variadas, as quais fa zem da entrevista um instrumento de trabalho mais efetivo, seja para coleta de dados ou para intervenção. É com base nesta visão que esta autora desenvolveu pro gramas de ensino de entrevista para alunos de graduação, em Psicologia. Como parte do programa, formulou um ma nual para os alunos iniciantes, o qual está apresentado, na íntegra, no próximo capítulo. 25 acer acer CAP. 2 MANUAL PARA ENTREVISTA CLÍNICA INICIAL Este texto destina-se aos alunos de graduação, iniciantes na área de Psicologia Clínica. Trata-se de um pequeno ma nual de orientações gerais quanto às características e à utili zação da Entrevista Clínica, com ênfase na entrevista inicial. Foi desenvolvido como parte de um programa de ensino desse tipo de entrevista. É oportuno lembrar que, em se tratando de aprender entrevista clínica, a simples leitura ou estudo do manual não é, absolutamente, suficiente. Os manuais têm se mostrado úteis, sim, para agilizar o aprendizado de alunos em programas de ensino, que lhes permita executar entrevis tas, seja em situações simuladas ou natural. Esta é a forma recomendada para a utilização deste texto. Para tanto, a for ma de relatar será bastante sintética e, vez por outra, poderá referir-se a programas de ensino. A experiência com ensino, nessa área, demonstrou que uma das maiores dificuldades do aluno tem sido com a en trevista inicial; ou seja, o primeiro contato com o cliente, quando não se tem qualquer informação prévia sobre sua queixa. Isto não ocorre nas entrevistas diagnósticas posterio ri», para as quais a literatura oferece uma série de roteiros, inventários e outros instrumentos para se avaliar problemas específicos. São exemplos destes instrumentos os inventári os de problemas conjugais, sexuais, medo, depressão ... 27 Além da experiência da autora deste capítulo, a elabo ração deste texto apoiou-se em exaustiva revisão de literatu ra, o que resultou em uma composição com os seguintes tópicos: - A Entrevista Clínica Inicial: conceito e objetivos: - Conceito geral de entrevista; - A entrevista clínica; - A entrevista clínica inicial; e - Objetivos da entrevista clínica inicial. - Estrutura ou modelo de entrevista clínica inicial; - Dados a serem levantados na entrevista clínica; - Habilidades de entrevistar; - Dificuldades mais comuns entre os iniciantes. Embora a composição do texto enfatize a entrevista clí nica inicial, seu conteúdo inclui muitos aspectos relevantes ao aprendizado da atividade psicoterápica em geral, uma vez que grande parte do desempenho do terapeuta é co mum a ambas as atividades. 1 - A entrevista clínica inicial: conceitos e objetivos Conceito geral de entrevista: A entrevista tem sido considerada pelos estudiosos e clí nicos como uma interação verbal entre pessoas. Sendo as sim, pode-se aplicar à entrevista os mesmos princípios, leis, ou processos gerais que se aplicam a qualquer interação verbal. Observar, por exemplo, o que se passa, quando duas pessoas conversam, principalmente no que e como se influ enciam mutuamente, parece uma forma adequada de se en tender muito do que ocorre durante uma entrevista, seja ela clínica ou de outro tipo. Uma consequência desse conceito interacional é a constatação de que uma entrevista não pode ser totalmente 28 previsível e planejável, como outras formas de coleta de da dos, tais como os questionários, por exemplo. Por outro lado, a entrevista não é uma interação ou con versa qualquer, por ter sempre objetivos específicos, seja em coleta de dados ou em intervenção. Constatando-se que a entrevista não é um interrogató rio, nem uma conversa informal, conclui-se que a mesma é uma atividade complexa, que exige do entrevistador forma ção e método. C ontribu ir para a formação do entrevistador - psicoterapeuta - é o objetivo deste texto. A entrevista clínica: Em função dos diferentes objetivos da entrevista, têm-se os seus diversos tipos: entrevista clínica, de pesquisa, de se leção ... Na entrevista clínica,o objetivo é sempre obter dados pertinentes à intervenção terapêutica. São dados bastante di ferentes daqueles procurados pelo psicólogo, por exemplo, numa entrevista de seleção para emprego ou de opinião. A entrevista clínica tem uma característica completamen te diferente das demais: visa ao estabelecimento de uma interação especial, facilitadora do processo terapêutico a qual, no decorrer de uma psicoterapia, assume formas bas tante complexas, sendo denominada relação terapêutica (GOLDFRIED & DAVISON, 1976); (RANGÉ, 1988). A qualidade da interação estabelecida entre cliente e terapeuta altera a validade dos dados obtidos e os resultados do tratamento (HAYNES, 1978); (OLLENDICK & HERSEN 1984). Isso é fundamental porque, na entrevista clínica, não se pode ter confiabilidade nos dados, se a interação não for adequada. É de se observar que a própria interação pode ser um instrumento terapêutico, por isso a expressão: relação terapêutica. 29 A entrevista clínica inicial (E.C.I.)* A primeira entrevista é crucial na formação de primeiras impressões pelo cliente (LAZARUS, 1979). Estas impressões referem-se não apenas ao psicólogo, mas abrangem, tam bém, a psicoterapia em geral e a instituição na qual se reali za o atendimento. O cliente que procura atendimento, pela primeira vez, geralmente o faz em duas situações típicas, as quais definem dois tipos de entrevista clínica inicial: a entrevista de tria gem e a que se poderia denominar terapêutica. Vários auto res, entre eles LAZARUS (1979), BALAU (1980), MAYER & TURKAT (1988) eZARO et al. (1980), fazem uma distinção entre a entrevista clínica inicial e as demais, porém, a litera tura quase não trata especificamente da entrevista de tria gem, sendo uma exceção MARKS (1986). A entrevista é considerada de triagem, quando visa fazer um diagnóstico rápido, mas suficiente, para que o cliente seja encaminhado ao tratamento adequado. Define-se nesta entrevista se a instituição procurada pode atender o cliente, ou se deve encaminhá-lo para outros serviços. Neste senti do, todas as entrevistas iniciais fazem triagem de alguma for ma. No entanto, costuma-se denominar de entrevistas de tri agem psicológica, aquelas feitas em instituições que ofere cem o serviço de triagem em separado do de psicoterapia ou outras intervenções. Esses serviços são comuns nas institui ções públicas, nas quais, geralmente, a demanda é maior que a capacidade de atendimento ocorrendo, então, as filas de espera. Sendo assim, é importante que se determine, ain da, na entrevista de triagem, a urgência do tratamento, e que as instituições tenham mecanismos para que os casos urgen tes sejam atendidos de imediato. O psicólogo que faz as tri agens não tem, por diversos motivos, condições de atender todos os clientes triados. O tratamento posterior, em geral, é feito por outro psicoterapeuta. No outro tipo de entrevista clínica inicial, aqui denomi nada terapêutica, o cliente é entrevistado por um profissio- 30 nal, o qual dará imediata continuidade ao tratamento. Isto geralmente ocorre nas clínicas particulares, onde não há gran des filas de espera e o cliente costuma procurar nominal mente o terapeuta. Nestes locais, geralmente, nem há servi ços de triagem. Eventualmente, após esse tipo de entrevista inicial, o cliente pode, também, ser encaminhado para ou tros tratamentos. Embora ambas as entrevistas iniciais tenham algumas di ferenças, decorrentes das condições descritas acima, neste texto não se fará diferenciação técnica entre elas, por considerar-se que as mesmas diferem apenas quanto a detalhes e, não, em conteúdo e objetivos. Parece importante os psicólogos trata rem com os mesmos cuidados todos os clientes que se sub metem a uma entrevista, pela primeira vez. Sendo assim, en tende-se que a entrevista inicial de triagem é tão importante quanto a inicial terapêutica para se obterem dados relevantes, para informar adequadamente o cliente e para estabelecer uma interação de qualidade, a qual não se limita necessariamente entre cliente e terapeuta, mas, entre cliente e instituição. MARKS (1986) enfatiza que, na triagem, o terapeuta precisa estar completamente informado sobre o funcionamento da instituição na qual está atendendo e que, ao final, precisa in formar aò paciente qual a sua decisão sobre o tratamento. Na opinião desta autora, essas condições devem ser preenchidas em qualquer E.C.I. (a fim de facilitar a leitura, daqui em dian te, ao invés de colocar as expressões entrevista clínica inicial por extenso usa-se a abreviatura E.C.I), mesmo que não se trate de triagem, ou seja, toda primeira entrevista envolve uma importante tomada de decisão. Os objetivos da E.C.I: Entende-se que, no decorrer de um processo terapêutico, o psicólogo, geralmente, utiliza-se da entrevista para alcan çar três objetivos: interacionais, de coleta de dados, e de intervenção. Aseguir, serão descritos, rapidamente, como se apresentam tais objetivos na E.C.I.. 31 Objetivos interacionais - durante a entrevista é impor tante que se desenvolva uma relação de confiança mútua entre as partes, a qual possibilite ao cliente: - sentir-se confortável na situação; - não sentir constrangimentos em se expor ao terapeuta; - sentir-se motivado para continuar o tratamento. Esta relação de confiança já deve ocorrer na entrevista inicial, inclusive na de triagem psicológica. Objetivos de coleta de dados - a entrevista clínica pode ser estruturada de forma a maximizar a obtenção de informações, sem que isso prejudique seus aspectos interacionais. Contudo, num processo terapêutico, a ênfase em coleta de dados pode variar em diferentes momentos do tratamento. Por motivos óbvios, geralmente, a ênfase maior está nas primeiras sessões nas quais se procura a formulação de um diagnóstico preliminar. Considera-se, pois, que na entrevista clínica inicial se deva procurar a obtenção de dados, desde que isto não ocorra em prejuízo da interação. Os dados devem ser, principalmente, os pessoais e aqueles que indiquem e especifiquem o motivo da procura do tratamento, ou da queixa. Estes dados prelimi nares são gerais, podendo ser mais detalhados, dependendo da disponibilidade do cliente e da habilidade do terapeuta. Num programa de ensino, entende-se que um maior detalhamento, desde que pertinente, só beneficiará tanto o aprendizado do aluno quanto o atendimento ao cliente. Objetivos de intervenção - considera-se que, em qual quer entrevista clínica, possa ocorrer a intervenção, ou seja, modificações no comportamento do cliente em função de procedimentos adotados na entrevista. Contudo, geralmen te, é difícil que a ênfase da primeira sessão possa ser em intervenção de forma sistemática, uma vez que isto pressu 32 põe o estabelecimento de uma interação de qualidade entre cliente e terapeuta, e que este último tenha posse de dados consistentes sobre o primeiro, o que é muito difícil na pri meira entrevista. Dessa forma, considera-se que a interven ção possa ocorrer numa entrevista inicial, porém sem que se constitua em um objetivo obrigatório. Resumindo: entende-se que em programa de ensino da E.C.I, o mais importante é o aluno estabelecer, com o cliente, uma interação adequada, acompanhada de coleta de dados, a qual deverá ser tão ampla e detalhada quanto possível; mas sem a preocupação imediata com a intervenção. 2 - Modeio ou estrutura de entrevista inicial Em linhas gerais, parece haver quase um consenso entre os autores sobre a necessidade de estruturar a entrevista e como fazê-lo, Esta constatação já havia sido feita por BALAU (1980) e foi confimiada por esta autora, continuando, portanto, na literatura mais recente, Seguem-se algumas sugestões de como estruturar a entrevista clínica, principalmente a inicial. HAYNES (1978) propõe que, até um levantamento de to das as possíveis áreas problema, a entrevista seja aberta. O mesmo deve ocorrer sempre que se introduzir um assunto novo. Somentedepois, especifica-se cada área problema identificada. ZARO et al* (1980), em proposta semelhante, sugerem que to das as áreas sejam examinadas do geral para o particular e que, ao encerrar a entrevista, fique claro para o cliente qual será o próximo passo. Lembra ainda que, de início, pode ser necessá rio usar alguma técnica para baixar a ansiedade do cliente. Após ampla análise da atividade de entrevistar, BALAU (1980) adotou uma estrutura na qual dividiu a entrevista ini cial em quatro etapas: - "etapa inicial*1, incluindo o primeiro contato com o cliente, troca de informações gerais e levan tamento de dados pessoais e familiares; "queixa livre", utili- zando-se de técnicas para facilitar a expressão do cliente 33 e a identificação do problema; "queixa dirigida" para com plementar e esclarecer os dados da etapa anterior; e "en cerramento", quando se prepara a interrupção da entrevista e se define a continuidade do atendimento. Para KEEFE et al. (1980), deve-se iniciar procurando informações gerais, quando o cliente descreve o proble ma conforme seu estilo e, posteriormente, os dados são opéracionalizados. A entrevista deve ser estruturada e ocorrer num continum: inicia-se com um mínimo de estrutura e questões abertas para identificar o problema; depois de estabelecida a natu reza da dificuldade, aumenta-se a estrutura com questões que indiquem as variáveis controladoras (OLLENDICK & HERSEN, 1984). Ao atuar em treino de entrevista com estudantes de Me dicina, WELLS et al. (1985) sugerem uma estrutura seme lhante às anteriores. Para eles, de início, as questões devem ser abertas, acompanhadas de técnicas de facililação da ex pressão do cliente e audição ativa. Mais tarde, as questões devem ser específicas para esclarecer o problema e comple mentar informações anteriores. Enquanto isso, deve-se esta belecer uma boa interação através de demonstrações de in teresse, entendimento empático, preocupação e acompanha mento das associações do cliente. MARKS (1986) lembra que, na introdução, devem ser dadas informações e explicações ao cliente quanto ao trata mento e ao funcionamento da instituição e que, ao encerrar, o cliente deve ser informado das decisões do terapeuta. Finalmente, há as sugestões de BELLACK & HERSEN (1988), para que, de início, o entrevistador apenas ouça e estimule o cliente a falar, com estratégias, tais como: o para fraseado e a reflexão de sentimentos; e, só depois, façam-se questionamentos e especificações. Eles ainda sugerem que, no encerramento, sejam incluídos um resumo, as informa ções adicionais e a probabilidade de sucesso do tratamento. 34 í Da consulta a esses e vários outros autores e da experi ência desta autora, fez-se uma síntese de como poderia ser a estrutura básica da E.Cl.. No modelo aqui sugerido, a entre vista é dividida em três etapas: a) introdução; b) Desenvolvi mento; e c) Encerramento. Naturalmente, antes de inciar a entrevista, o aluno iniciante deve estar atento para algumas providências prévias a serem tomadas. Providências prévias: Antes de iniciar uma entrevista, o aluno terapeuta preci sa tomar providências no sentido de viabilizar a mesma. A seguir, são sugeridas algumas medidas essenciais: a) Entrosamento com a instituição responsável pelo aten dimento, informando-se sobre suas normas de funcionamento e serviços oferecidos; » ' b) Providenciar ou preparar um ambiente físico adequa do, com isolamento acústico, sem interrupções de terceiros, barufhos... ; c) Material- providenciar, se necessário, mesa, cadeira, pâpêl, lápis, gravador...; d) Prever horário para começar e terminar a entrevista; 0 Outras providências pertinentes. 2.1 - Um modelo de entrevista inicial Introdução O aluno cumprimenta o clientee acomponha-o à sala.de entrevista onde se apresenta, dizendo seu nome e função. Verifica se o cliente quer alguma informação geral sobre o tratamento. Se o cliente estiver ansioso, utiliza algum proce dimento para diminuir tal ansiedade. Ainda na introdução, é conferida a ficha de dados pessoais. Posteriormente, outros dados pessoais e biográficos poderão ser acrescentados. 35 Desenvolvimento Esta é a parte principal e mais extensa da entrevista, quan do deve ser conhecido o problema ou problemas do cliente, através de dados que permitam uma análise geral e prelimi nar dos mesmos. Nesta etapa, a entrevista deve ter uma seqüência na qual os assuntos sejam tratados, partindo-se do "geral para o par ticular". A participação do terapeuta deve iniciar-se de for ma não diretiva, ou seja, as perguntas iniciais devem ser bem abertas e, só posteriormente, mais fechadas. Observa-se que, nesta seqüência, vai se desenvolvendo, no decorrer da en trevista, um "afunilamento" quanto à especificação da infor mação obtida. De início, cabe ao terapeuta demonstrar interesse e aten ção pela fala do cliente e procurar estimulá-lo a falar bastan te sobre seus problemas. Procura-se dar liberdade ao clien te, para ele colocar espontaneamente suas queixas. Não se deve induzir o cliente a qualquer resposta, nem lhe pedir detalhes. Evita-se, apenas, que o cliente se desvie do motivo pelo qual procurou tratamento. Num segundo momento, quando o cliente já expôs amplamente seu problema, o terapeuta usará de estratégias mais diretivas para obter dados mais específicos e precisos. Introduzem-se questões mais fechadas, pedidos de esclare cimentos, pedidos de complementação, exemplos... Assim, um assunto que, no início da entrevista, foi colocado pelo cliente de forma muito geral, ao final da mesma poderá já estar bastante detalhado. É importante que o conteúdo a ser especificado refira-se ao problema anteriormente abordado pelo cliente de forma espontânea. Seria adequado, ainda, que esta forma de afunilamento na especificidade da informação e na diretividade da en trevista fosse adotada, não apenas na seqüência geral da en trevista, mas também na abordagem de diferentes assuntos, numa mesma entrevista. Assim, para cada novo assunto ou 36 problema, o terapeuta deixa que o cliente o exponha de sua maneira, mesmo que seja vaga ou geral e, só posteriormen te, solicita-lhe detalhes. Concluindo, numa entrevista, tanto a seqüência geral como cada um dos assuntos devem ser conduzidos do geral para o particular. Dessa forma, em diferentes momentos, a entrevista poderá ser mais ou menos diretiva. Note-se que esse modelo torna infrutífera a antiga discussão sobre a adequabilidade das entrevistas diretivas e não diretivas. A forma proposta acima de estruturar o corpo da entre vista é bastante adequada para'desenvolver um clima de confiança entre terapeuta e cliente, bem como para garantir que as informações obtidas sejam válidas, uma vez que evi ta a indução de respostas pelo terapeuta. A fase de desenvolvimento da entrevista deve ser con cluída em função do término do horário e/ou de um volume sufic iente de informações. Na conclusão dessa fase, é muito útil a elaboração, pelo terapeuta, de um iesumo dos dados obtidos até.QjnomentQ. Encerramento Pode-se encerrar a E. C. I,, através dos seguintes passos: - Dar pistas ao cliente de que o tempo está terminando; - Evitar a introdução de assuntos novos e/ou que gerem perturbação emocional; - Verificar se o cliente não está com dúvidas importan tes; - Deixar muito claro ao cliente qual será seu encami nhamento - se vai aguardar sua chamada numa ftla de espe ra, se já ficará marcada outra entrevista, ou se deverá ter outro encaminhamento. Finalmente, é bom insistir em obsevar que esta estruturação da entrevista - introdução, desenvolvimento e conclusão - nem sempre deve, ou pode ser seguida. Trata-se 37 de modelo útil para aqueles clientes que seguem o ritmo do terapeuta. Em muitos casos, a seqüência pode ser outra, por exemplo: clientes que, logo de início, começam a falar de seus problemas. Neste caso, o terapeuta acompanha-o e poderá completar a ficha de dados pessoais no meio ou nofinal da entrevista. Outro exemplo são certos clientes que respondem pouco a questões muito abertas e respondem me lhor a questões mais fechadas. Enfim, a estruturação da en trevista é um ponto de referência ou conjunto de orienta ções, as quais o terapeuta pode ir adaptando à condução de cada entrevista em particular. 3 - Dados a serem levantados na E.CX Quanto aos dados, na E.C.I., devem ser obtidos aqueles necessários para uma decisão no final da entrevista, quanto ao encaminhamento a ser dado ao cliente; ou seja, o míni mo que se espera da E.C.I. é que a mesma permita ao terapeuta decidir se o cliente deve ou não iniciar terapia. É interessante observar que os autores comportamentais, em geral, sugerem a utilização, na entrevista comportamental, das habilidades básicas de entrevistar definidas por outras abordagens tradicionais. Isto porque, segundo eles, a especificidade dessa entrevista está no tipo de dados que se procura. Portanto, é principalmente com base em seus da dos que se define a entrevista comportamental, dados estes necessários para uma análise funcional do comportamento. Trata-se, assim, não só de se abandonarem certos dados tra dicionalmente pesquisados, mas, principalmente, de se le vantarem outros normalmente não incluídos nas avaliações tradicionais. Quanto a isso, HAYNES (1978) já chamava a atenção para o fato de, na entrevista comportamental, a ênfase estar em áreas de conteúdos bastante específicos. Considerando-se que este texto se concentra na E. Cl., pode- se iniciar definindo quais dados ela deveria fornecer. Neste sen 38 tido, BALAU (1980), BELLACK & HERSEN (1988), GOLDFRIED & DAVI50N (1976), KEEFE et al. (1980), MARKS (1986), MAYER & TURKAT (1988), OLLENDICK & HERSEN (1984), RIMM & MASTERS (1983), entre outros, são quase unânimes em sugerir que, na E.Cl., levantem-se alguns ciados pessoais e familiares, identifiquem-se as queixas ou problemas que motivaram a pro cura do tratamento e levantem-se dados sobre as possíveis va riáveis controladoras dos problemas. Além desses, há alguma variação entre os autores quanto aos demais dados sugeridos para a primeira entrevista, todavia sempre dentro daqueles mais comuns na avaliação comportamental. Depois de vários anos trabalhando no ensino e treina mento de alunos em entrevista clínica inicial, a autora deste capítulo verificou que não é possível o aluno desenvolver um levantamento adequado de dados para triagem, se não estiver preparado para identificar, no geral, quais os dados pertinen tes ou críticos para a avaliação comportamental. Entende-se, pois, neste texto que, para o aluno fazer uma entrevista inicial adequada, precisa estar preparado para fazer uma avaliação comportamental completa. Por isso, neste tópico serão inclu ídos os principais dados necessários para uma ampla avalia ção comportamental, são dados possíveis de serem obtidos, os quais, sendo do conhecimento do terapeuta, podem facili tar e agilizar a E.C.I., tornando-a rica fonte de informação. Observações: a) os itens, a seguir, não constituem um questionário nem um roteiro de entrevista, portanto, não precisam ser investi gados nesta ordem; b) a maioria dos itens vem acompanhada de uma expli cação. Considera-se item o que está sublinhado e, explica ção ou exemplo> o que segue os dois pontos. Principais itens gerais: 1 - Dados pessoais do cliente: nome, idade, sexo, escola ridade, profissão, ocupação, estado civil, situação conjugal; 39 2 - Dados do núcleo familiar: pai, mae, irmaos, e outros agregados - incluir sexo, idade, e ocupação de cada um; 3 - Aparência geral do cliente durante a entrevista: da dos não verbais - destacar o nível de desconforto do mesmo na situação; 4 - Como o cliente chegou ao tratamento: quem lho in dicou e por que o fez; 5 - Biografia: acrescentar aos dados pessoais e aos do nú cleo familiar outros dados de experiências particulares da his tória do cliente, tais como: ter residido com outra família por algum período, profissões anteriores, casamentos anteriores...; 6 - Comportamentos - problema que motivaram a pro cura do tratamento: identificar o motivo preciso da busca de tratamento, ou seja, a queixa; 7 - Descrever operacionalmente ais) queixa(s): especifi car e detalhar cada problema do cliente, de maneira que fique claro para ambos: entrevistador e entrevistado - é uma descrição do problema na forma como o mesmo se apresen ta atualmente, não incluindo seu histórico; 8 - Hierarquização das queixas: no caso do cliente apre sentar vários problemas, ele deverá ordená-los por ordem de importância e/ou urgência; 9 - Especificação dos comportamentos pmblema: impli ca levantar, conforme for possível, todos os subitens abaixo para cada problema de interesse. A especificação só é possí vel, abordando-se cada problema em separado, ou seja, apli cam-se os subitens ao problema A, depois ao problema B, e assim sucessivamente.... Obviamente que o processo de en trevistar não precisa ocorrer nessa ordem rigorosa... . * 9.1 - Dimensões do comportamento problema: freqüência, intensidade e duração. Note-se que neste texto, por tratar-se de entrevista inicial, o termo problema se refere à queixa do cliente, e não a outros possíveis problemas inferidos pelo terapeuta. 9.2 - Eventos relacionados à ocorrência do problema, ou seja, circunstâncias nas quais o problema ocorre; 40 9.3 - Circunstâncias nas quais o problema não ocorre; 9.4 - Dados históricos do problema: como e quando se iniciou e como se desenvolveu até apresentar-se na forma atual não confundir com biografia, história do cliente. Neste item, pedem-se dados específicos do problema em questão; 9.5 - Um exemplo de ocorrência do problema: pedir para o cliente descrevê-lo; te depois da ocorrência do problema; 9.7- Conseqüências gerais do problema e conseqiiênci- 9.8 - Pensamentos, crenças, atitudes, e sentimentos do cliente, durante e depois da ocorrência do problema; 9.9 - O que outras pessoas dizem sobre o problema 10 - Objetivos ou metas do cliente para a terapia; 11 - Pontos positivos e negativos do cliente em relação às possibilidades de tratamento: o que poderia ajudar ou dificultar o tratamento, por exemplo, habilidades ou carac terísticas pessoais; 12 - Pontos positivos e negativos do amb i en te: por exem plo, mércado de trabalho, características da família, amiza des, condição financeira ...; 13 - Tratamentos anteriores: descrição e resultados - in cluir todas as tentativas de resolver o problema, mesmo as informais; 14 - Condições gerais de saúde: aspectos que poderiam interferir no comportamento-problema, tais como: doenças crônicas, uso de medicação ou drogas; 15 - Motivação, do cliente para o tratamento: pode-se usar uma escala de 0 a 10 para assinalar o grau de motiva ção do cliente e este grau pode ser inferido pelo terapeuta, a partir de diversos indicadores; 16 - Reforçadores potenciais: investigar quais os interes ses do cliente, de quais coisas, atividades ou pessoas ele 41 gosta, ou já gostou anteriormente; 17 - Avaliar riscos e possíveis crises imediatas: verificar o grau de urgência do tratamenlo e se é o caso de se tomar medidas imediatas; 18 - Identificar respostas emocionais ao(s) problema(s): verificar como o cliente vem "lidando" com seus problemas; 19 - Levantar dados de relação entre os diversos proble mas apresentados: no caso de clientes que apresentam di versos problemas, verificar semelhanças e interrelações en tre eles, as quais permitam uma análise integrada dos mes mos - problemas aparentemente independentes poderão re presentar processos semelhantes; 20 - Levantar quaisquer outros .dados que pareçam de interesse para a compreensão da(s) queixa(s). Os itens, sugeridos acima, referem-se a dados levanta dos em pesquisa ampla porém não exaustiva da literatura em Análise do Comportamento e englobam os principais, itens entre os necessários, a uma ampla análise funcional de problemas clínicos. Por isso,são numerosos e não se espe ram que sejam todos obtidos em uma única entrevista, nem para todos os clientes, mesmo porque, nem todos os itens são pertinentes a todos os problemas. Para os iniciantes em Análise do Comportamento cabe informar que esta é uma síntese dos dados clássicos que se buscam na entrevista comportamental. Inclusive, já foram submetidos à pesquisa de validade social por MILTENBERGER & FUQUA (1985) e MILTENBERGER & VELTUM (1988). Eles realizaram três estudos, nos quais foram consultados diver sos especialistas da área, ou seja, terapeutas comportamentais experientes, os quais sugeriram os dados por eles considera dos necessários à avaliação comportamental. Quase todos os itens, apresentados anteriormente, constam dos resulta dos das referidas pesquisas de validação social. 42 4 - Habilidades de entrevistar Para se executar a entrevista dentro do modelo anteriomente proposto e se obterem os dados de interesse, são necessárias a utilização de diversas estratégias de entre vistar. Pode-se dizer que a estrutura ou modelo é a estratégia geral a ser adotada, a qual é composta por um grande número de estratégias específicas, sendo que essas podem variar muito, dependendo de características do cliente e do terapeuta. Note-se que as estratégias de entrevista nada mais são que comportamentos, que o terapeuta deve apresentar para obter os resultados desejados, junto ao cliente. Sendo assim, elas são referidas como habilidades do terapeuta. O fato é que comportamentos verbais e não verbais do terapeuta têm significativos efeitos sobre as atitudes e comportamentos do cliente e sobre a informação por ele fornecida. Os métodos sugeridos, a seguir, diminuem a probabilidade de erros ou vieses na entrevista, enquanto maximizam a relação terapeuta-cliente. As habilidades de entrevistar são, certamente, o assunto mais desenvolvido na literatura dessa área. As atividades de ensino e de pesquisa mostram que o entrevistador pode de senvolver comportamentos altamente específicos e eficazes no sentido de se alcançar os objetivos da atividade de entre vistar. A literatura muitas vezes se refere ao conjunto de habilidades como método de entrevistar. O estudo desse as sunto é relativamente complexo, visto que uma mesma habi lidade aparece com nomes diferentes, em diferentes autores; ou, ao contrário, autores que utilizam os mesmos nomes para designar determinadas habilidades, na verdade apresentam profundas diferenças conceituais, derivadas de diferentes enfoques teóricos. Dessa forma, devido à complexidade e ao volume de informação sobre o tema e, para efeitos de clareza na exposição, decidiu-se agrupar em tópicos as principais ha bilidades levantadas. Em geral, os tópicos receberam como títulos os nomes de habilidades tradicionalmente conhecidas, 43 porém, quando isso não foi possível, a autora atribuiu-lhes um títu lo descritivo. Note-se que, na literatura, são variadíssimas as formas de se eleger e descrever as principais habilidades. A sistematização, apresentada a seguir, é desta autora e tem objetivos estritamente didáticos, nem sempre re presentando, portanto, classes discretas de comportamento. Como os diferentes referenciais teóricos que serviram como fonte não serão aqui discutidos, as habilidades serão apresentadas da forma mais descritiva possível. Além disso, numa tentativa de melhor auxiliar os iniciantes, a descrição de cada grupo de habilidades será complementada com uma pequena lista dos principais riscos de erros que os iniciantes, geralmente, cometem e que poderiam ser evitados. Seguem- se, então, os tópicos formulados, referentes a nove grupos de habilidades. 4.1 - Habilidades empáticas Refere-se às atitudes ou conjunto1 de sentimentos positi vos que o terapeuta deve apresentar em relação ao cliente. Os sentimentos e as atitudes mais comumente associados a este rótulo são autenticidade, sinceridade, genuinidade, ho nestidade, interesse, compreensão, abertura, estima, etc.. O termo pode referir-se também à percepção e à aceitação pelo terapeuta dos sentimentos do cliente; ou, ainda, colocar-se no lugar do mesmo. HACKNEY & NYE (1977) lembram que não basta sentir, é preciso demonstrar os sentimentos através de comporta mentos verbais e não verbais. Esses comportamentos serão descritos em outro tópico. HAYNES (1978) sugere, ainda, que o terapeuta seja reforçador, isto é, que as respostas posi tivas sejam contingentes às respostas desejadas do cliente. Para alguns terapeutas comportamentais, ser empático é ser uma pessoa reforçadora. 1 "Empatia" também é utilizada para referir-se não a uni conjunto de sentimentos, mas a um sentimento ou atitude entre os demais. 44 A empatia não envolve só a demonstração de sentimentos positivos; mas também a não demonstração de sentimentos ne gativos: raiva, aversão, pena... Para alguns, isto se refere à aceita ção incondicional do cliente, pelo terapeuta. Os principais auto res lembram que não se trata de não sentir de forma negativa, todavia, trata-se de controlar tais sentimentos. AUGER (1981) e BILLOW & MENDELSONHN (1990) sugerem, ao tratarem desse tema, que é importante o terapeuta se conhecer para identificar suas próprias fantasias e sentimentos positivos e/ou negativos em relação ao cliente, antes de poder desenvolver empatia. Enfim, a empatia implica compreender e aceitara outra pes soa como ela é, sem pré-julgamentos. Isto não implica, necessa riamente, aprovação ou perdão, no entanto, simplesmente, ad mitir que o cliente possa ser como é, inclusive, diferente do terapeuta. A empatia, conforme RUDIO (1987), não é unicamente uma estratégia opcional, mas deveria ocorrer em algum grau durante toda a entrevista, o que seria denominado de relação empática. WATKINS (1990) fez um estudo sobre o que ele considerou as quatro respostas básicas do conselheiro ou terapeuta, tendo sido a empatia uma das quatro respostas por ele estudadas. Além de amplamente divulgada entre os profissionais de Psicologia, ela foi também sugerida como habilidade bá sica de entrevistar, em diversos programas de ensino com estudantes de Medicina, descritos em BACORN et al. (1987), FAIRBAIRN et al. (1984), LONBORG et al. (1991) e POLLOCK et al. (1985), entre outros. Para concluir, cabe lembrar que outras habilidades, dentre as descritas a seguir, também podem intensificar a relação empática durante a entrevista. Riscos a serem evitados: - Preocupar-se demais com a informação e descuidar-se da interação; - Apresentar preconceitos em relação ao cliente. 45 4.2 - Habilidades não verbais Amplamente descritos entre as habilidades de entrevis tar, esses comportamentos geralmente se relacionam à voz, expressão facial, postura corporal e aos gestos, DUCKWORTH et al, (1993) e HACKNEY & NYE (1977) sugerem várias res postas não verbais adequadas à entrevista clínica, devido aos efeitos que exercem sobre o entrevistado. Entre esses efeitos, estão os de manter a atenção do cliente, estimulá-lo a falar e intensificar ou complementar a comunicação verbal. Seguem- se as habilidades não verbais mais comumente desenvolvidas nos programas de ensino da entrévista. - Voz modulada, suave e firme; - Animação da expressão facial; - Olhar direta e seguramente nos olhos do cliente; - Balançar ocasionalmente a cabeça; - Sorriso ocasional; - Gestos ocásionais com as mãos; - Velocidade moderada da fala; - Uso ocasional da expressão "hum-hum"; - O corpo deve estar relaxado; - Postura corporal adequada e dirigida ao cliente, etc.. DUCKWORTH et al. (1993) lembram, ainda, que to das as respostas não verbais sugeridas e outras, que poderão ser apresentadas, devem estar de acordo com a interação que se estabeleceu com o cliente e com o conteúdo verbal do momento. Sabe-se que tanto os reforçadores não verbais quanto os verbais dependem de diferentes parâmetros de cada cliente. Assim, não seria adequado decorar formas ge neralizadas a serem adotadas em todos oscasos. O terapeuta deve ficar atento também aos comportamen tos não verbais do cliente. Finalmente, como observam MCCREADY & WARING (1986) e POLLOCK et al. (1985), espera-se que o terapeuta 46 apresente comportamentos não verbais positivos e congruentes com os comportamentos verbais. Riscos a serem evitados: - Não perceber insinuações e respostas não verbais de cunho emocional, do cliente; - O terapeuta apresentar comportamento não verbal ne gativo e/ou incongruente com seu comportamento verbal. 4.3 - Habilidades de perguntar Nesse grupo de habilidades estão incluídas tanto a for mulação quanto a utilização de perguntas. As entrevistas tradicionais baseavam-se em perguntas, o que as tornavam semelhantes a um questionário ou interro gatório. Os autores não diretivos, entre eles BENjAMIN (1978) e GARRET (1974), analisaram o grande impacto que a forma e o conteúdo das perguntas têm sobre o cliente. Também os autores comportamentais como HACKNEY & NYE (1977), IWATA et al. (1982) e MILTENBERGER & VELTUM (1988), entre outros, sugerem cuidados especiais na formulação e na utilização de perguntas. A discussão desse assunto é mui to ampla e, sendo assim, sua apresentação será dividida em três tópicos, a saber: a) formulação e utilização de pergun tas, em geral; b) perguntas abertas e fechadas; e c) solici tações de esclarecimentos e complementação. a) Formulação e utilização de perguntas, em geral: As perguntas devem ser únicas: apresentadas uma de cada vez, diretas, precisas, breves, claras e completas: sem frases interrompidas, sem depender de gestos do terapeuta ou de suposições sobre o cliente, por exemplo, intelegíveis por este, de preferência com a sua linguagem e dentro dos limites em que o cliente possa ou saiba responder; A quantidade deve ser controlada, para não tornar-se um "bombardeio" de perguntas; Após cada pergunta, esperar a resposta do cliente, sem interrompê-lo; 47 As perguntas devem relacionar-se aos objetivos da en trevista, caso contrário, parecerão bisbilhotice; Deverão ser evitadas perguntas com "por que" ( RI MM & MASTERS, 1983), e as perguntas tão indutoras que já conte nham as respostas, ou induzam o cliente a dar a resposta que o terapeuta já espera; Sugere-se evitar que as perguntas tenham o tom de acu sação e/ou conduzam a antagonismos ou confrontos entre terapeuta e cliente. b) Perguntas abertas e fechadas: Um dos pontos mais delicados e discutidos na literatura que aborda a formulação de perguntas na entrevista clínica, refere-se à utilização adequada de questões "abertas e fe chadas". Em vista disso, essas questões mereceram, aqui, uma exposição mais extensa. O ponto básico a considerar é quando formular pergun tas. abartas ou fechadas. Uma pergunta aberta nunca leva a uma única resposta ou a "sim", ou "não", mas induz a uma descrição do con teúdo abordado. Na pergunta aberta, é o cliente quem ele ge os pontos a serem incluídos nas respostas. Além disso, questões abertas levam a um maior volume de informações. Esse tipo de pergunta evita que o cliente responda confor me sugestões do terapeuta, enquanto o induz a dar suas próprias respostas genuínas. São exemplos de questões aber tas: Como aconteceu? Como você se sentiu? Quais os prin cipais fatos? As questões abertas estimulam o cliente a falar mais eA por outro lado, geralmente fornecem informações mais gerais. Por isso, tais informações podem precisar de complementação e esclarecimentos. Neste caso, a pergunta adequada seria mais fechada e direta sobre o ponto que se quer esclarecer. A pergunta fechada , ao contrário da aberta, induz res postas sim ou não e produz respostas curtas, por não estimu 48 lar o cliente a falar. Seu conteúdo pode ser mais facilmente induzido pelo entrevistador; mas, também, facilita as res postas específicas e precisas, Do exposto, pode-se concluir que as questões abertas são adequadas para tratar de assuntos novos e amplos, enquanto as questões fechadas são as mais úteis a assun tos já relatados pelo cliente, mas que exigem informações adicionais e específicas. Neste caso, as questões fechadas ou diretas vão dirigir-se a tópicos já introduzidos e eleitos pelo cliente. Outro ponto a ser considerado é que, numa entrevista, o volume de questões de um ou outro tipo pode depender das características do cliente que está sendo entrevistado e dás especificidades daquela entrevista. A maioria dos auto res, porém, sugere que a preferência seja dada às questões abertas, Para concluir, como lembra GARRET (1974), as pergun tas não deveriam ser decoradas, o que provavelmente as tor nariam inoportunas; entretanto, formuladas conforme a interação. Deveriam ser feitas com critérios, pois represen tam apenas uma das estratégias que podem ser utilizadas pelo entrevistador. c) Solicitações de esclarecimentos e complementação: já foi sugerido acima que as perguntas fechadas são úteis para pedidos de esclarecimentos e complementação. Nos primeiros (esclarecimentos), o terapeuta pode inter romper a fala do cliente e solicitar-lhe esclarecimentos, quan do pequenos pontos da exposição, que pareçam importan tes, estiverem confusos. Isto pode ser feito rapidamente, sem prejuízo da continuidade do relato, Feito da maneira ade quada, além de esclarecer as dúvidas, indica para o cliente atenção e interesse por parte do terapeuta (BALAU, 1980). A mesma autora ainda explica os pedidos de complementação. Nestes, o terapeuta pede, ao final da exposição sobre um |§5sunto, informações adicionais pertinentes, as quais foram omitidas ou esquecidas pelo cliente. Não se trata de esclare cer confusões; e, sim, de pedir informações a mais, que complementem o que já foi dito. Riscos a serem evitados: - Bombardear o cliente com muitas questões, especial mente as fechadas; - Fazer perguntas sem objetivo e que pareçam bisbilho tice; - Fazer perguntas com tom de acusação; - Fazer várias perguntas ao mesmo tempo; -Fazer perguntas incom pletas, com gestos ou inintelegíveis - impossíveis de serem respondidas; - Perguntar e não esperar a resposta, ou interrompê-la; - Fazer perguntas vagas ou indiretas; - Fazer perguntas tão indutoras que já contêm a resposta ou induzir o cliente a dar as respostas que o terapeuta espera ou em que acreçlita. - Fazer muitas perguntas com "porquê11. - Entrar em confronto com o cliente, ao solicitar esclare cimentos sobre possíveis dados contraditórios. 4.4 - Operadonalizar informações Esta é uma habilidade introduzida pelos terapeutas comportamentais, uma vez que, no enfoque não diretivo a informação em si não é valorizada. É sugerida em todos os manuais comportamentais clássicos já amplamente citados. E também habilidade central nas pesquisas da área confor me BALLEWEC (1990), IWATA et al. (1982), KANFER & SASLOW (1979), MILTENBERGER & FUQUA (1985) e MILTENBERGER & VELTUM (1988), entre outros. Trata-se de ajudar o cliente fazer, com suas palavras, descrições inequívocas do problema que está relatando. Após a operãeionalização da informação, haverá a segurança de 50 que, ao referirem-se ao evenlo descrito, ambos, cliente e terapeuta, estarão Iralando do mesmo fato. Cabe ao terapeuta ir identificando, no decorrer da entrevista, se as informações fornecidas pelo cliente estão suficientemente operacionalizadas ou não. Comumente, é necessário intervir para tornar as in formações mais operacionais. Neste caso, pode-se utilizar vários recursos de entrevista, tais como: pedidos de esclare cimentos, exemplos e resumos. São exemplos de queixas apresentadas por clientes que precisam de descrições operacionais: "A crise", "Casamento ruim", "Insônia"... Quem já entrevistou muitos clientes sabe que essas expressões ou termos podem referir-se a um con junto de respostas ou eventos muito deferentes, dependen do de cada pessoa. Por exemplo, "casamento ruim" pode referir-se tanto a um relacionamento conjugal com muitas discussões ou brigas, quanto a um relacionamento