Buscar

psicologia clínica comportamental (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 160 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 160 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 160 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Este manual foi disponibilizado em sua versão digitai a fim de proporcionar acesso à pessoas com 
deficiência visual, possibilitando a leitura por meio de aplicativos TTS (Text to Speech), que 
convertem texto em voz humana. Para dispositivos móveis recomendamos Voxdox 
(www.voxdox.net).
LEI N° 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.(Legislação de Direitos Autorais)
Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:
I - a reprodução:
d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sempre 
que a reprodução, sem fins comerciais, seja feita mediante o sistema Braille ou outro 
procedimento em qualquer suporte para esses destinatários; 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1998/lei-9610-19-fevereiro-1998-365399-
normaatualizada-pl.html
http://www.voxdox.net
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1998/lei-9610-19-fevereiro-1998-365399-
Bdwlges Ferreira de Mattos Silvares 
M aura Alves Manes Gongora
PIICOUXHA CLINICA 
COMPORTAMENTAL
A INSERÇÃO DA ENTREVISTA 
COM ADULTOS E CRIANÇAS
Ê ÍCON
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CEP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Silvares, Edwiges Ferreira de Mattos
Psicologia clínica comportamental: a inserção da 
entrevista com adultos e crianças / Edwiges Ferreira de 
Mattos Silvares e Maura Alves Nunes Gongora. --1. ed -
- São Paulo : EDICON, 1998.
ISBN 85-290-0081-1
1. Comportamento humano 2. Psicologia I. Gongora, 
Maura Alves Nunes. II Título.
índices para catálogo sistemático:
1. Comportamento : Psicologia clínica 153.85
Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor: 
Impresso no Brasil - Printed in Brasil 
Ref: 9824
98-1933 CDD-153.85
EDICON
Ed i t o ra e Co n s u l t o r i a Lt d a
R. H e f c u l a n o d e Frô l t as , l B l
O T 3 0 8 -0 2 0 - S ã o P a u l o - SP
Cabia Posten 1243 - Dl 059-970 SP - SP 
e d i c o n @u -n e t s y s .c o n n . b r 
Tel / Fax : 2 5 5 -1 0 0 2 / 2 5 5 -9 8 2 2
SUMARIO
PARTE I - A ENTREVISTA CLÍNICA COM ADULTOS: FUNDAMENTOS, 
MODELO E HABILIDADES ENVOLVIDAS, um manual para alunos iniciantes - 9
CAP.1 DA ENTREVISTA DE PESQUISA À ENTREVISTA CLÍNICA: DO 
CONTEÚDO AO PROCESSO -11
1. A entrevista enquanto conteúdo e sua comparação com a 
observação direta -11
2. A entrevista enquanto processo - 17
2.1 A visão não diretiva - 17
2.2 A entrevista como interação - 18
2.2.1 Considerações sobre variáveis do terapeuta na interação com o 
cliente - 19
2.2.2 Características interacionais da entrevista clínica - 22 
CAR 2 MANUAL PARA ENTREVISTA CLÍNICA INICIAL - 27
1. A entrevista clínica inicial: conceitos e objetivos - 28
2. Modelo ou estrutura de entrevista inicial - 33
2.1 Um modelo de entrevista inicial - 35
3. Dados a serem levantados na E.C.I, - 38
4. Habilidades de entrevistar - 43
4.1 Habilidades empáticas - 44
4.2 Habilidades não verbais - 46
4.3 Habilidades de Perguntar - 47
4.4 Operacionalizar informações * 50
4.5 Parafrasear - 52
4.6 Refletir sentimentos - 53
4.7 Sumariar ou resumir - 54
4.8 Controlar a entrevista - 55
4.9 Manter seqüência - 56
5. Dificuldades comuns entre os iniciantes - 59
CAP. 3 ENSINANDO ENTREVISTA CLÍNICA: sugestões aos professores - 61
1. Estudos desenvolvidos com alunos de Psicoiogia - 62
2. Estudos desenvolvidos com alunos de Medicina - 75
3. Considerações gerais sobre os programas de ensino - 84
4. Um modelo de checklist - 85
5
PARTE II - A ENTREVISTA CLÍNICA DO PSICÓLOGO 
COMPORTAMENTAL NO TRABALHO COM CRIANÇAS - 91
CAP 4. POR QUE ENTREVISTAR PAIS E PROFESSORES, ALÉM DA 
CRIANÇA ENCAMINHADA PARA ATENDIMENTO PSICOLÓGICO - 93
CAP 5. ENTREVISTANDO OS PAIS DA CRIANÇA ENCAMINHADA 
PARA ATENDIMENTO PSICOLÓGICO - 99
1. Propósitos das entrevistas iniciais com os pais - 99
1.1 Identificando e descrevendo o (s) comportamento (s) problemático 
(s) infantil com os pais ou caracterizando comporta mentalmente a 
queixa - 101
1.2 Conhecendo as expectativas da família com relação as causas do 
comportamento infantil e sobre como proceder a mudança - 105
1.3 Estabelecendo um bom rapport com a família - 107
1.4 Formulando análises funcionais hipotéticas - 109
1.5 Obtendo dados quantitativos sobre comportamentos problemáticos - 112
1.6 Inteirando-se das variações naturais, nos comportamentos 
problemáticos, derivadas de tentativas promovidas pela própria família 
para obter alterações comportamentais - 113
1.7 Levantando o “menu" de informações infantis - 114
1.8 Avaliando o potência! de mediação - 115
1.9 Descobrindo os pontos fortes da criança - 117
1.10 Levantando dados do desenvolvimento infantil e da evolução do 
caso - 118
1.11 Definindo comportamentos alternativos como objetivos do 
trabalho psicológico * 119
1.1 2 A entrevista de feedback do psicólogo com os pais - 119
CAP 6. ENTREVISTANDO A CRIANÇA ENCAMINHADA PARA 
ATENDIMENTO PSICOLÓGICO - 121
CAP 7. ENTREVISTANDO OS PROFESSORES DA CRIANÇA 
ENCAMINHADA PARA ATENDIMENTO PSICOLÓGICO - 131
CAP 8. A ENTREVISTA CLÍNICA DE "FEEDBACK" A FAMÍLIA - 139
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - 151
6
APRESENTAÇÃO
Este livro surgiu da necessidade sentida pelas autoras, ambas 
professoras supervisoras de disciplinas do curso de graduação 
em Psicologia, com prática em abordagem comportam en tal, de 
se ter um referencial nacional prático, sobre entrevista, para clí 
nicos iniciantes. O aluno de Psicologia e, por sua proximidade 
com esta área, também os estudantes de áreas da saúde (como 
por exemplo: Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, 
etc) ao se iniciarem na prática clínica, seja ao fazer a triagem dos 
clientes ou ao proceder à avaliação ou mesmo ao iniciar um 
procedimento terapêutico, precisam contar com um texto no qual 
fiquem claros os principais aspectos de um dos intrumentos clí 
nicos mais utilizados nestas práticas: a entrevista. Em outras pa 
lavras, o aluno precisa de um texto que lhe ofereça, além dos 
fundamentos da entrevista, formas de agir para melhor entrevis 
tar. Neste sentido, o presente livro também se constitui numa 
obra de interesse para quem ensina as habilidades de entrevistar.
Os livros, voltados para esse tema, disponíveis no mercado, 
além de não seguirem a orientação comportamental, na maioria 
das vezes, são muito gerais, isto é, deixam pouco claras as estra 
tégias possíveis de serem aplicadas para se fazer uma entrevista 
de qualidade, seja ela inicial ou não. Em outras palavras, não 
dão subsídios ao clínico iniciante quanto às formas de atuar du 
rante a entrevista, de modo a atingir seu objetivo primeiro, qual 
seja, auxiliar o cliente na sua necessidade imediata.
7
O presente texto, derivado em parte da tese de doutorado da 
segunda autora, desenvolvida sob a orientação da primeira, de 
fendida no programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica 
da Universidade de São Paulo, busca suprir essa lacuna encon 
trada na literatura psicológica brasileira.
O livro se divide em duas partes de modo a facilitar sua 
leitura. Cada uma destas partes foram escritas, separadamente, 
por uma das duas autoras. Assim, o leitor que busca orientação 
sobre os fundamentos da entrevista em geral e busca desenvol 
ver entrevista com adultos deve voltar-se, prioritariamente, para 
os três primeiros capítulos, os quais foram escritos pela professo 
ra doutora Maura Alves Nunes Gongora. O leitor que busca 
orientação para trabalhar com crianças, usando entrevistas, de 
verá voltar-se para os cinco últimos capítulos, escritos pela pro 
fessora doutora Edwiges Ferreira de Mattos Silvares.
Como pode ser depreendido dessa exposição, os capítulos 
do livro são independentes e o leitor poderá lê-los na ordem que 
julgar mais conveniente.
Não é demais acrescentar, à guisa de finalização, que inde 
pendentemente da orientação teórica, que norteia o clínico 
iniciante ou o professor supervisor de práticas que utilizam a 
entrevista, o presente livro poderá ser útil pelas dicas que apre 
senta e pelos casosque relata para ilustrar seus pontos essenciais.
Esperamos que o leitor, ao finalizar a leitura deste livro, pos 
sa sentir que alcançou os objetivos com ele propostos: identificar 
os fundamentos e os processos caracteristícos da entrevista clíni 
ca, bem como dar início à aprendizagem de múltiplas habilida 
des envolvidas no entrevistar, cujo aperfeiçoamento, entretanto, 
depende fundamentalmente de seu exercício.
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares 
Maura Alves Nunes Gongora
8
PARTE I
A ENTREVISTA CLÍNICA COM 
ADULTOS: FUNDAMENTOS, 
MODELO E HABILIDADES 
ENVOLVIDAS.
Um manual para alunos iniciantes.
CAP. I
DA ENTREVISTA DE PESQUISA 
À ENTREVISTA CLÍNICA: 
DO CONTEÚDO AO PROCESSO
Historicamente, a entrevista ficou conhecida por integrar a 
lista de instrumentos utilizados em coleta de dados nas ciênci 
as sociais, inclusive na Psicologia. Enquanto utilizada apenas 
como instrumento de pesquisa, os cuidados metodológicos, 
que se tomavam, visavam somente garantir a validade dos da 
dos com ela obtidos. Portanto, é pelos dados fornecidos que a 
entrevista é explorada e avaliada na pesquisa.
Quando, mais recentemente, a entrevista foi adotada com 
objetivos clínicos, passou a ser abordada sob outro prisma: pro 
cesso de interação e intervenção. Sendo assim, atualmente, em 
Psicologia clínica, a entrevista é entendida e explorada em duas 
dimensões: a já tradicional denominada de conteúdo ou coleta 
de dados, e uma segunda, denominada processo.
Nas próximas seções serão abordadas, em separado, cada 
uma dessas duas dimensões, iniciando-se pela de conteúdo.
1 - A entrevista enquanto conteúdo 
e sua comparação com a observação direta
A dimensão conteúdo refere-se às informações espe 
cíficas que se procura obter ao se realizar uma entrevista. 
Embora, a rigor, essas informações não se constituam, ne-
11
acer
cessariamente, em dados, nos manuais, a dimensão ora refe 
rida tem sido denominada por "coleta de dados". Para maior 
clareza do que se entende por ela, basta recordar todos os 
roteiros encontrados nos manuais, os quais especificam os 
dados a serem obtidos na entrevista clínica.
Há uma vasta e tradicional literatura analisando e criti 
cando a entrevista no que se refere à validade de seus dados, 
ou seja, ao seu conteúdo. No entanto, considerando a im 
portância do assunto para alunos iniciantes, para a Psicolo 
gia em geral e para a Psicologia clínica em particular, parece 
não ser demais incluir aqui uma síntese dos aspectos mais 
pertinentes dessas análises.
Em primeiro lugar, é de se lembrar que a entrevista é um 
instrumento de relato verbal e que, portanto, as análises e 
críticas que recebe, geralmente, são as mesmas que se apli 
cam aos instrumentos desse tipo.
Os analistas do comportamento, principalmente os au 
tores da Análise Experimental do Comportamento (A.E.C.), 
têm sido grandes críticos dos instrumentos de coleta de da 
dos, baseados em relato verbal.
Uma primeira crítica aponta o fato de que a pessoa 
relata sua percepção do comportamento e não como ele 
realmente ocorreu. Além disso, a análise do comportamen 
to exige dados não só sobre as respostas, mas também so 
bre as contingências presentes. Os leigos, em geral, não 
estão atentos a todos esses fatos. Como afirmam 
GOLDFRIED & DAVISON (1976), muitas vezes, o compor 
tamento relevante envolve respostas super-aprendidas, não 
percebidas pelos clientes.
Há ainda, na entrevista, os limites da linguagem utili 
zada - entrevistador e entrevistado podem decodificar di 
ferentemente as mesmas palavras - e, neste caso, o resul 
tado da entrevista será enviesado. Segundo MUCCHIELLI 
(1978), o código escolhido é influenciado por variáveis 
culturais, educativas, históricas e pessoais, entre outras.
12
acer
acer
acer
acer
acer
acer
acer
acer
KANFER & PHILUPS (1974) relataram vários resultados 
de pesquisa sobre as variáveis do experimentador e os apli 
caram à situação de entrevista, no sentido de apontar os seus 
limites. Esses autores lembram que a década de 1960 foi rica 
em estudos desse tipo e, embora a maioria deies não fosse 
realizada diretamente em condições clínicas, permitiram uma 
ampla avaliação da situação de entrevista clínica, cujas for 
mulações se tornaram clássicas. Seguem-se alguns dos resul 
tados dessas pesquisas, por eles descritos: 1 - Dependendo 
de como são os experimentos, não há congruência entre o 
que as pessoas dizem e seu comportamento, diretamente 
observado; 2 - Os sujeitos tendem a responder como eles 
pensam que deveria ser a resposta apropriada 3 - Os pes 
quisadores tendem a induzir os sujeitos para darem as res 
postas que confirmam suas hipóteses; 4 - Estímulos 
reforçadores mínimos, como sinais de cabeça, sorrisos e 
murmúrios verbais, influenciam o tipo de produção verbal 
do cliente - isto ocorre inclusive com terapeutas não diretivos;
5 - As técnicas clássicas de interpretação, reflexão e con 
frontação, quando aplicadas de forma contingente, produ 
zem mudanças previsíveis na produção verbal do cliente;
6 - Há correlação entre o efeito do reforço social e a ambi 
güidade - pouca informação sobre a tarefa -; 7 - Característi 
cas sociais do experimentador e do sujeito podem 
correlacionar-se com o condicionamento verbal, resultante 
na pesquisa; 8 - Estudos também mostraram correlação entre 
variáveis do entrevistador: demonstração de ansiedade, de 
hostilidade e de especificidade das indagações; e as respos* 
tas fisiológicas do entrevistado.
Frente a essas e outras críticas formuladas e, talvez, por 
outras razões teóricas, como a adoção de um behaviorismo 
metodológico, o instrumento eleito, principalmente pela 
Análise Experimental do Comportamento, foi a observação 
direta. Até recentemente, para que um autor comportamental 
pudesse publicar um trabalho, era quase um requisito a uti 
lização da observação direta (BELLACK & HERSEN, 1988).
13
acer
acer
acer
acer
acer
acer
acer
acer
acer
acer
acer
Contudo, a prática desenvolvida com a observação direta, 
principalmente na área clínica, revelou que a mesma tam 
bém apresenta uma série de limites.
Entre os problemas encontrados em sua utilização, exis 
tem os seguintes:
- Dificuldades para avaliar comportamentos de freqüên 
cia baixa;
- Em geral, demanda muito tempo e altos custos, o que 
pode torná-la inviável;
- É difícil aplicá-la a comportamentos íntimos como os 
sexuais, por exemplo, ou outros que envolvam aspectos mo 
rais;
- Não é aplicável diretamente aos comportamentos en 
cobertos, cuja importância tem sido reconhecida e acentua 
da na área clínica;
- Tende a fornecer poucas informações;
- E, finalmente, o fato de suas informações apresenta 
rem fidedignidade1 não implica que também apresentem 
validade2. Por isso, BELLACK & HERSEN (1988) lembram 
que a observação direta pode, inclusive, ser utilizada para 
avaliar comportamentos-problema que não apresentem 
validade social3. Ainda, na opinião desses autores, houve, 
nos últimos anos, um desencanto com a superioridade da 
observação direta.
O que se pode concluir do exposto é que ambas as for 
mas de avaliação possuem seus limites.
A maioria dos autores comportamentais defendem, atual 
mente, a utilização da entrevista como instrumento de traba 
lho imprescindível, ao menos na área de Psicologia clínica.
1 Fidedígnidade - consiste na concordância entre os avaliadores.
2 Validade • consiste em realmente se medir aquilo que se pretende.
3 Validade sod&l - implica tratar-se de problemas considerados socialmente relevantes.
14
BALAU (1980); BELLACK & HERSEN (1988); IWATA et 
al. (1982); KEEFEet al. (1980); KOHLENBERG & TSAI (1991 ); 
LAZARUS (1979); e OLLEND1CK & HERSEN (1984), entre 
outros, indicam a entrevista como sendo essencial para se 
estabelecer os primeiros contatos com o cliente, identificar 
seu problema, definir objetivos de tratamento, levantar hi 
póteses e, inclusive, verificar a necessidade de outras formas 
de avaliação. Isto, porque todos eles defendem a adoção de 
várias formas de avaliação,todavia, geralmente, iniciando- 
se pela entrevista. Alguns deles lembram, também, que a 
entrevista é muito prática, não exigindo nem material, nem 
local sofisticado; mas, apenas, um entrevistador habilitado.
Ainda sobre a utilização da entrevista, HAYES (1987) 
apresenta uma divisão do comportamento humano em três 
categorias: respostas motoras, físico-emocionais, e cognitivo- 
verbais, as quais ele chama de "sistema tríplice de respos 
tas." Segundo ele, para cada uma dessas categorias de res 
posta aplica-se um instrumento de avaliação. Assim, para as 
respostas motoras é mais adequada a observação direta; para 
as respostas cognitivo-verbais aplicam-se os instrumentos de 
relato verbal, incluindo a entrevista; e, para as respostas ffsi- 
co-emocionais aplicam-se as medidas fisiológicas e, também, 
o relato verbal, para se ter idéia do que e como o cliente 
percebe essas respostas.
BARLOW et al. (1986) afirmam que, embora estudos 
demonstrem não haver correlação entre os três sistemas de 
resposta, citados acima, isto não implica serem os relatos 
verbais inferiores; mas, apenas, que eles são diferentes: a 
medida da experiência subjetiva e cognitiva. KANFER & 
PHILLIPS (1974) já afirmavam que as medidas de relato ver 
bal não devem ser entendidas simplesmente como relatos 
de eventos. O que medem é o que o cliente pensa dos even 
tos, no entanto, isto também é importante do ponto de vista 
clínico. Estes autores já defendiam que
UA falta de correlação alta entre medidas verbais e não 
verbais não implica em uma subordinação de um sistema de
15
acer
acer
acer
acer
resposta a outro(...). Ao invés disso,, demonstra a necessida 
de de relacionar medidas de resposta que sejam relevantes à 
questão a ser respondida" (p. 181 ),
OLLENDICK & HER5EN (1984) acham que a entrevista 
é especialmente útil na clínica, por ser um veículo usado 
continuamente para monitorar o progresso do tratamento e 
obter feedback para reformulações. Dizem, ainda, ser um 
instrumento muito flexível - permite obter dados muito am 
plos e também muito específicos, o que aumenta a 
confiabilidade de ambos -. Além disso, lembram que, para 
muitas pessoas, é mais fácil expressar-se falando, sem contar 
sua aplicabilidade aos analfabetos. E, por último, lembram 
que, enquanto se entrevista, também se observa.
Parece importante enfatizar que o fato da entrevista não 
ser totalmente planejada e seguir certa improvisação, atra 
vés de trocas verbais imediatas, confere-lhe uma grande pos 
sibilidade de autocorreção.
Em síntese,’ os clínicos atuais, em sua maioria, enten 
dem que, pelo fato de boa parte das variáveis que interferem 
na entrevista serem já identificáveis, pode-se traçar os limi 
tes de sua aplicação e mesmo aperfeiçoá-la. Assim, a entre 
vista pode ser extremamente útil, desde que se leve em con 
ta o impacto de uma série de variáveis que podem afetá-la, e 
que a mesma seja escolhida em situações para as quais for 
apropriada. Deve-se lembrar que grande parte das técnicas 
ou estratégias de entrevista foi desenvolvida para controlar a 
interferência de variáveis estranhas e maximizar a validade 
de seus dados. No capítulo dois estão relatadas as principais 
estratégias desse tipo.
Finalmente, parece importante observar que a polêmica 
travada quanto ao uso da observação direta em contraposição 
ao da entrevista só faz sentido se a mesma é vista simples 
mente como instrumento de coleta de dados. Atualmente, 
ao se considerar a entrevista enquanto processo, parte dessa 
polêmica esvaziou-se, pois a mesma passou ater outras fun 
ções clínicas, não encontradas na observação direta.
16
2 - A entrevista enquanto processo
O termo processo é utilizado para referir-se à forma como 
se desenrola uma dada entrevista ou, ainda, à interação 
terapeuta-cliente.
2.1 - A visão não diretiva
Não se pode descrever ou analisar a entrevista clínica 
em sua dimensão processo, sem se referir à grande contri 
buição que todos os enfoques teóricos receberam, nesta 
área, da abordagem não diretiva. Foram os estudiosos des 
se enfoque, os primeiros a chamarem a atenção para a com 
plexidade do que ocorre durante uma entrevista clínica, 
principalmente em seus estudos sobre Aconselhamento Psi 
cológico. A década de 1970 foi especialmente rica nesses 
estudos. A visão não diretiva, neles contida, está claramen 
te expressa em BENJAMIN (1978) e MUCCHIELLI (1978), 
os quais aplicam à entrevista os mesmos pressupostos não 
diretivos utilizados ao abordarem o desenvolvimento hu 
mano, em geral. Estes pressupostos estão amplamente de 
senvolvidos em algumas obras de CARL R. Rogers, enlre as 
quais se pode citar, "A PESSOA como centro" ( ROGERS & 
ROSENBERG, 1977 ).
Para MUCCHIELLI (1978), a entrevista é uma forma de 
indução cujo objetivo é levar o cliente a expressar seu pro 
blema, o que só seria possível através da do tipo não diretivo. 
Ainda em sua opinião, são características desse método a 
ausência de investigação que inclua muitas perguntas, prin 
cipalmente as diretas ou fechadas; também a ausência da 
interpretação, do apoio, de conselhos e de qualquer tipo de 
avaliação, ou de julgamento. O trabalho de BENJAMIN 
(1978) trata especificamente da análise dos tipos de pergun 
tas que, geralmente, são feitas na entrevista clínica, e do efeito 
das mesmas sobre o cliente. Aliás, uma das influências 
marcantes desse enfoque sobre as práticas de entrevista de 
outras abordagens foi, exatamente, quanto à utilização de
17
acer
acer
acer
acer
perguntas abertas, como se poderá ver adiante, na seção so 
bre estratégias de entrevista.
Além dos últimos dois autores, MIRANDA & MIRANDA 
(1986) destacam, ainda, a pessoa do entrevistador como outro 
elemento fundamental na não diretiva, principalmente por 
tratar-se de entrevista de ajuda ou aconselhamento. Eles afir 
mam que o entrevistador precisa ter qualidades pessoais: 
conhecer-se a si mesmo, estar livre de problemas e disponí 
vel para o cliente; precisa doar-se, ser sincero, genuíno e 
honesto. Precisa, ainda, estar seguro de si, aceitar o cliente 
incondicionalmente e compreendê-lo totalmente. Para tan 
to, o entrevistador ou conselheiro precisa aprender e aplicar 
um método rigoroso e preciso: o método centrado no clien 
te. As técnicas básicas para desenvolver esse método são o 
silêncio, as reflexões de sentimentos e de cognições - para 
fraseados - e as reformulações, acompanhadas de expres 
sões variadas de compreensão e empatia. Perguntas deverão 
ser evitadas; todavia, se utilizadas, só do tipo aberta.
Na visão não.diretiva, além das características já citadas, 
entende-se que o terapeuta não ajuda diretamente o cliente, é 
o próprio cliente quem se ajuda. O terapeuta é apenas um 
facilitador para o cliente conhecer-se, decidir e escolher se 
quer mudar (ROGERS & ROSENBERG, 1977). Como foi apon 
tado por KANFER & PHILLIPS (1974), o ambiente é muito 
pouco importante na abordagem não diretiva. Trata-se de uma 
visão do desenvolvimento calcada no espontanefsmo.
2.2 - A entrevista como interação
Os autores comportamentais, entre outros, vêem a en 
trevista como uma interação verbal entre duas ou mais pes 
soas, através da qual se desenvolve uma complexa rede de 
influências mútuas. Neste sentido, BALAU afirma que "... a 
atuação do entrevistador no contexto de sua interação com 
o cliente, afetará o resultado dessa interação tanto para res 
tringir, distorcer ou facilitar a expressão verbal do cliente" 
(1980, p.2-3).
18
acer
acer
acer
acer
acer
Nesta visão, uma das formas de se obter conhecimento 
sobre entrevista pode ser através do estudo das variáveis do 
entrevistador e do entrevistado, durante a interação. Além 
dessas, podem-se estudar outras variáveis da história anteri 
or de cada um e do ambiente.
2.2.1 - Considerações sobre variáveis do terapeuta na 
interação com o ciiente
Na seção anterior que trata da dimensão conteúdo, fo 
ram citados vários resultados de pesquisa descritos por 
KANFER & PHILLIPS (1974), sobre as variáveis do 
experimentador,as quais se aplicam, também, aos 
terapeutas.
Além daqueles, em levantamento recente, realizado pela 
autora deste capítulo, foram encontrados alguns estudos so 
bre as variáveis do terapeuta e da situação de entrevista, prin 
cipalmente na área de Aconselhamento Psicológico, os quais 
serão suscintamente apresentados a seguir.
No primeiro deles, os autores compararam oito respos 
tas de conselheiros experientes e iniciantes, a fim de avaliar 
o efeito da experiência sobre tais respostas. Os resultados 
indicaram que os mais experientes utilizaram mais domina 
ção, imediaticidade, confrontação e correspondência à de 
manda - ou timing-. Além disso, foram mais flexíveis - vari 
aram mais as estratégias de entrevistar -, enquanto os nova 
tos tenderam a afinar-se com certas habilidades e utilizaram- 
nas de maneira rígida (TRACEY et al., 1988).
HERMANSSON et al. (1988) estudaram a relação entre 
inclinações posturais deliberadas do conselheiro e a comu 
nicação de intensidade, entendimento empático, respeito e 
genuinidade. Verificou-se que, em geral, os terapeutas pare 
cem fazer algum ajuste entre a sua fala e as mudanças de 
postura. A comunicação das atitudes acima foi maior, para 
todas elas, com a inclinação para trás e, menor, com a incli 
nação para a frente.
19
acer
acer
acer
acer
HILL & STEPHANY (1990) desenvolveram uma pesqui 
sa com terapeutas conselheiros com o objetivo de avaliar 
como os comportamentos não verbais dos clientes 
correspondem às reações relatadas por estes e como tais 
comportamentos são percebidos pelo terapeuta. Os resulta 
dos mostraram pouca relação entre os comportamentos ver 
bais e não verbais, tanto relatadas pelo cliente quanto perce 
bidas pelos terapeutas. Em nove categorias observadas, hou 
ve relação em apenas uma delas. Os autores concluíram que, 
embora se fale tanto que o terapeuta deve perceber e res 
ponder adequadamente às pistas do cliente, parece que, de 
fato, essas são de difícil decodificação.
Continuando os estudos de variáveis específicas, 
KIVLIGHAN (1990) examinou a relação entre as intenções 
do conselheiro e a classificação do cliente quanto ao esta 
belecimento do vínculo. Os resultados mostraram que a 
relação acima foi apenas moderada. Apontou, porém, uma 
forte correlação negativa entre o fortalecimento do vínculo 
percebido pelo cliente e os procedimentos sistemáticos de 
avaliação e exploração do problema, então utilizados.
SHAFFER et al. (1990) realizaram um estudo para ve 
rificar se características anteriores do entrevistador, em ha 
bilidades sociais, facilitariam a auto-expressão do cliente. 
Para isso, os entrevistadores e entrevistados foram classi 
ficados como sendo do tipo "aberto" ou "fechado", social 
mente. Os resultados indicaram três tipos de relação: 1 - 
Ambos, terapeuta e cliente, sendo do tipo aberto; a aber 
tura do entrevistador não facilitava; 2 - Apenas o terapeuta 
sendo do tipo aberto, isto facilitava a exposição do clien 
te, que era do tipo fechado; 3 - e ambos, terapeuta e c li 
ente, sendo do tipo fechado; a auto-exposição do cliente 
era ainda mais facilitada.
KIVLIGHAN & SCHMITZ (1992) pesquisaram a relação 
entre algumas características de Aconselhamento e o forta 
lecimento do vínculo percebido pelo cliente e verificaram 
que três características parecem associadas à melhora do
20
vínculo: exigência, focalização sobre as interações do aqui 
e agora, e focalização sobre temas mais gerais.
Parece que as pesquisas atuais apontam para os efeitos 
de algumas variáveis isoladas da situação terapêutica; mas não 
foram encontrados indícios de um modelo de atendimento 
que as integrasse. Esse problema já havia sido levantado por 
KANFER & PHILLIPS (1974). Estes autores afirmam que os 
enfoques tradicionais supõem que, na terapia, o conteúdo da 
fala do cliente, ou seja, suas respostas verbais são resultantes 
de conteúdo de pensamento, de personalidade ou de experi 
ência passada, Eles, no ehtanto, sugerem, e alguns dos resul 
tados acima confirmam que tais suposições precisam ser 
reexaminadas no sentido de ver o comportamento do 
entrevistador como um dos determinantes do material e resul 
tados obtidos na entrevista clínica. KANFER & PHILLIPS (1974) 
sugeriram que esse reexame deveria ser feito à luz do paradigma 
operante, isto por entenderem que a entrevista clínica apre 
senta características particularmente propícias ao condicio 
namento verbal: dependência do sujeito para com as regras 
do terapeuta, falta de instruções específicas sobre a tarefa ou 
papel do cliente e a natureza verbal da interação com uso 
maciço, pelo terapeuta, de reforçadores generalizados.
Atualmente, os psicólogos comportamentais parecem ter 
consciência do processo interacional da entrevista e tendem 
a adotar, frente à mesma, um modelo operante, o qual pode 
ria ser o modelo integrador das pesquisas. Isto implica reco 
nhecer a enorme influência do terapeuta sobre os relatos do 
cliente e, além disso, associar o estudo da entrevista ao do 
comportamento verbal.
SKINNER (1978) em sua obra - O COMPORTAMEN 
TO VERBAL - lançou as bases conceituais de um modelo 
operante para o estudo da linguagem. Embora fuja aos 
objetivos deste texto descrever e analisar esse modelo, 
cabe ao menos lembrar seu principal conceito sobre o 
assunto. Para ele, a linguagem deve ser analisada, 
mantidas as suas especificidades, como qualquer com-
21
acer
acer
acer
acer
acer
portamento operante, ou seja, ela é desenvolvida e mantida 
por contingências de reforço. Por isso, refuta as explicações 
da aquisição da mesma, como se esta fosse instrumento para 
expressar emoções, pensamentos ou desejos. Também afir 
ma que não se pode analisá-la, como fazem os estruturalis- 
tas e desenvolvimentistas, apenas pela sua topografia, sem 
considerar as condições nas quais aquela topografia foi ad 
quirida. Segundo SKINNER, uma concepção mais produtiva 
é "... a de que comportamentos verbais são antes de tudo 
comportamentos ... ( 1986, p. 79)", por isso, as maneiras da 
pessoa falar e, inclusive o que ela fala, depende das práticas 
da comunidade verbal a qual pertence. Portanto, entender a 
linguagem implica, segundo ele, estudá-la conforme um 
modelo operante.
Concluindo, seja através de um modelo operante ou de 
outros modelos teóricos, o que se constata é que, uma vez 
reconhecido, na entrevista clínica, o processo interacional, 
as possibilidades de estudos das variáveis do terapeuta, e 
também as do cliente, tornaram-se extremamente amplas.
2.2.2 - Características interacionais da entrevistacfínicá
Por tratar-se de interação, a literatura clínica atribui à 
entrevista uma série de características, além daquelas já re 
latadas anteriormente. Na seqüência, serão apresentadas al 
gumas delas.
A maioria dos autores entende que, por tratar-se de uma 
interação, a entrevista não pode ser totalmente previsível. 
Neste sentido, MUCCHIELLI (1978) lembra que não se repe 
te uma entrevista, ou seja, nunca há duas iguais.
KAHN & CANNELL (1957) situam a entrevista como 
padrão especializado de interação verbal, com propósito 
específico e conseqüente eliminação de material estranho.
Para BALAU (1980), a entrevista requer alguma espon 
taneidade e liberdade e, embora com objetivo específico, 
não é um interrogatório e, por isso, um requisito para a ca 
22
acer
acer
acer
acer
acer
pacidade de entrevistar é o dom ínio de habilidades 
facilitadoras da expressão do cliente.
A entrevista é habilidade que pode ser desenvolvida com 
a prática, é técnica a ser examinada e aperfeiçoada, todavia 
isto, em vez de diminuir, só aumenta a compreensão huma 
na (GARRET, 1974).
GORDON & TOLLE (1991); MAGUIRE (1990) e 
WHITEHOUSE et al. (1984) referem-se às habilidades de 
entrevistar, como as em "comunicação" interpessoal. Neste 
sentido, MCCREADY & WARING afirmam:"... entrevista é a 
habilidade de encorajar a exposição de informação pessoal 
com um propósito profissional específico (...) entrevista é 
um tipo de comunicação interpessoal efe tiva (1986, p.317).
Em resumo, pode-se destacar como características da en 
trevista: não ser totalmente previsível e, portanto, não comple 
tamente planejável como o questionário, por exemplo; mas, 
mesmo assim, não se trata de conversa comum, por ter sempre 
objetivos específicos de natureza profissional. Existe sempre o 
interesse do entrevistador em obter: ou determinadas informa 
ções do entrevistado, quando tratar-se de coleta de dados, ou, 
mudanças comportamentais do cliente, quando tratar-se de in 
tervenção. O próprio fato de não ser completamente planejável 
torna-a uma atividade complexa a exigir a adoção de métodos, 
que permitam ao entrevistador alcançar seus objetivos.
Considerações finais
Para finalizar esta seção sobre a entrevista enquanto pro 
cesso, serão resumidas duas formas básicas pelas quais esta 
dimensão tem se inserido na prática clínica com porta mental:
a) Pelo fato da entrevista constituir-se em instrumento 
de coleta de dados, uma primeira forma de preocupar-se com
o processo de entrevistar é no sentido de garantir a qualida 
de dos dados com ela obtidos. Essa maneira de abordar o 
processo levou ao desenvolvimento de estratégias de entre 
vistar, que visam controlar as variáveis presentes na situação
23
acer
acer
acer
acer
de entrevista, a fim de maximizar a validade dos dados 
coletados.
b) Uma segunda forma de enfocar o processo de entre 
vistar é analisá-lo ou utilizá-lo como método de interven 
ção. Neste caso, as estratégias de entrevista desenvolvidas 
atendem não apenas à validade dos dados, mas visam, prin 
cipalmente, mudanças terapêuticas no comportamento do 
cliente. Os conselheiros não diretivos abordam o processo 
de entrevistar dessa maneira.
Os terapeutas e os pesquisadores comportamentais, ini 
cialmente, preocuparam-se, basicamente, com a coleta de 
dados sem dar muita atenção ao processo. No entanto, in- 
fluenciados pelos estudos sobre as variáveis do 
experimentador e pelas críticas aos instrumentos de relato 
verbal, passaram, nas duas últimas décadas, a ater-se tam 
bém ao processo, na sua primeira forma acima descrita: para 
controlar as variáveis que contaminam os dados, ou até como 
domínio periférico dos procedimentos terapêuticos. São 
exemplos aproximados desse enfoque BELLACK & HERSEN 
(1988); GOLDFRIED & DAVISON, (1976); HAYNES (1978); 
KEEFE et al. (1980); OLLENDICK & HERSEN (1984) e ZARO 
et al. (1980). Mais recentemente, principalmente na última 
década, tem havido, entre os terapeutas comportamentais, 
um amplo debate sobre o papel da relação terapêutica nos 
resultados da Psicoterapia. De uma posição complementar, 
a relação terapêutica tem passado a assumir posição cada 
vez mais essencial nos procedimentos terapêuticos. Sendo 
assim, uma das tendências mais recentes em Terapia 
Comportamental é a segunda forma de utilização do proces 
so de entrevista: como intervenção. KOHLENBERG & TSAI 
(1987; 1991) são exemplos típicos desse enfoque. Eles afir 
mam que, tradicionalmente, os terapeutas comportamentais 
vêem na relação terapêutica apenas um fato motivador para 
a continuidade do tratamento ou faciíitador da coleta de 
dados. Todavia, para eles, a própria terapia é uma complexa 
interação terapeuta-cliente e é, basicamente, através da rela 
24
acer
acer
acer
acer
ção terapêutica, que desenvolveram seu modelo de interven 
ção denominado FAP - Functional Analytic Psychotherapy
Para concluir, pode-se dizer que, considerando-se a en 
trevista clínica em suas duas dimensões básicas: conteúdo e 
processo, o mais im portante para uma análise 
comportamental e para o seu ensino, é entendê-la como um 
método de trabalho que implique um conjunto de habilida 
des as quais podem ser aprendidas. Quase todos os autores 
da área, inclusive alguns de abordagem não diretiva, enten 
dem que, da análise da atividade de entrevistar e da utiliza 
ção dos conhecimentos produzidos pela Psicologia, pode- 
se desenvolver estratégias ou técnicas variadas, as quais fa 
zem da entrevista um instrumento de trabalho mais efetivo, 
seja para coleta de dados ou para intervenção.
É com base nesta visão que esta autora desenvolveu pro 
gramas de ensino de entrevista para alunos de graduação, 
em Psicologia. Como parte do programa, formulou um ma 
nual para os alunos iniciantes, o qual está apresentado, na 
íntegra, no próximo capítulo.
25
acer
acer
CAP. 2
MANUAL PARA 
ENTREVISTA CLÍNICA INICIAL
Este texto destina-se aos alunos de graduação, iniciantes 
na área de Psicologia Clínica. Trata-se de um pequeno ma 
nual de orientações gerais quanto às características e à utili 
zação da Entrevista Clínica, com ênfase na entrevista inicial. 
Foi desenvolvido como parte de um programa de ensino desse 
tipo de entrevista. É oportuno lembrar que, em se tratando 
de aprender entrevista clínica, a simples leitura ou estudo do 
manual não é, absolutamente, suficiente. Os manuais têm se 
mostrado úteis, sim, para agilizar o aprendizado de alunos 
em programas de ensino, que lhes permita executar entrevis 
tas, seja em situações simuladas ou natural. Esta é a forma 
recomendada para a utilização deste texto. Para tanto, a for 
ma de relatar será bastante sintética e, vez por outra, poderá 
referir-se a programas de ensino.
A experiência com ensino, nessa área, demonstrou que 
uma das maiores dificuldades do aluno tem sido com a en 
trevista inicial; ou seja, o primeiro contato com o cliente, 
quando não se tem qualquer informação prévia sobre sua 
queixa. Isto não ocorre nas entrevistas diagnósticas posterio 
ri», para as quais a literatura oferece uma série de roteiros, 
inventários e outros instrumentos para se avaliar problemas 
específicos. São exemplos destes instrumentos os inventári 
os de problemas conjugais, sexuais, medo, depressão ...
27
Além da experiência da autora deste capítulo, a elabo 
ração deste texto apoiou-se em exaustiva revisão de literatu 
ra, o que resultou em uma composição com os seguintes 
tópicos:
- A Entrevista Clínica Inicial: conceito e objetivos:
- Conceito geral de entrevista;
- A entrevista clínica;
- A entrevista clínica inicial; e
- Objetivos da entrevista clínica inicial.
- Estrutura ou modelo de entrevista clínica inicial;
- Dados a serem levantados na entrevista clínica;
- Habilidades de entrevistar;
- Dificuldades mais comuns entre os iniciantes.
Embora a composição do texto enfatize a entrevista clí 
nica inicial, seu conteúdo inclui muitos aspectos relevantes 
ao aprendizado da atividade psicoterápica em geral, uma 
vez que grande parte do desempenho do terapeuta é co 
mum a ambas as atividades.
1 - A entrevista clínica inicial: conceitos e objetivos
Conceito geral de entrevista:
A entrevista tem sido considerada pelos estudiosos e clí 
nicos como uma interação verbal entre pessoas. Sendo as 
sim, pode-se aplicar à entrevista os mesmos princípios, leis, 
ou processos gerais que se aplicam a qualquer interação 
verbal. Observar, por exemplo, o que se passa, quando duas 
pessoas conversam, principalmente no que e como se influ 
enciam mutuamente, parece uma forma adequada de se en 
tender muito do que ocorre durante uma entrevista, seja ela 
clínica ou de outro tipo.
Uma consequência desse conceito interacional é a 
constatação de que uma entrevista não pode ser totalmente
28
previsível e planejável, como outras formas de coleta de da 
dos, tais como os questionários, por exemplo.
Por outro lado, a entrevista não é uma interação ou con 
versa qualquer, por ter sempre objetivos específicos, seja em 
coleta de dados ou em intervenção.
Constatando-se que a entrevista não é um interrogató 
rio, nem uma conversa informal, conclui-se que a mesma é 
uma atividade complexa, que exige do entrevistador forma 
ção e método.
C ontribu ir para a formação do entrevistador - 
psicoterapeuta - é o objetivo deste texto.
A entrevista clínica:
Em função dos diferentes objetivos da entrevista, têm-se 
os seus diversos tipos: entrevista clínica, de pesquisa, de se 
leção ...
Na entrevista clínica,o objetivo é sempre obter dados 
pertinentes à intervenção terapêutica. São dados bastante di 
ferentes daqueles procurados pelo psicólogo, por exemplo, 
numa entrevista de seleção para emprego ou de opinião.
A entrevista clínica tem uma característica completamen 
te diferente das demais: visa ao estabelecimento de uma 
interação especial, facilitadora do processo terapêutico a 
qual, no decorrer de uma psicoterapia, assume formas bas 
tante complexas, sendo denominada relação terapêutica 
(GOLDFRIED & DAVISON, 1976); (RANGÉ, 1988).
A qualidade da interação estabelecida entre cliente e 
terapeuta altera a validade dos dados obtidos e os resultados 
do tratamento (HAYNES, 1978); (OLLENDICK & HERSEN 
1984). Isso é fundamental porque, na entrevista clínica, não 
se pode ter confiabilidade nos dados, se a interação não for 
adequada. É de se observar que a própria interação pode ser 
um instrumento terapêutico, por isso a expressão: relação 
terapêutica.
29
A entrevista clínica inicial (E.C.I.)*
A primeira entrevista é crucial na formação de primeiras 
impressões pelo cliente (LAZARUS, 1979). Estas impressões 
referem-se não apenas ao psicólogo, mas abrangem, tam 
bém, a psicoterapia em geral e a instituição na qual se reali 
za o atendimento.
O cliente que procura atendimento, pela primeira vez, 
geralmente o faz em duas situações típicas, as quais definem 
dois tipos de entrevista clínica inicial: a entrevista de tria 
gem e a que se poderia denominar terapêutica. Vários auto 
res, entre eles LAZARUS (1979), BALAU (1980), MAYER & 
TURKAT (1988) eZARO et al. (1980), fazem uma distinção 
entre a entrevista clínica inicial e as demais, porém, a litera 
tura quase não trata especificamente da entrevista de tria 
gem, sendo uma exceção MARKS (1986).
A entrevista é considerada de triagem, quando visa fazer 
um diagnóstico rápido, mas suficiente, para que o cliente 
seja encaminhado ao tratamento adequado. Define-se nesta 
entrevista se a instituição procurada pode atender o cliente, 
ou se deve encaminhá-lo para outros serviços. Neste senti 
do, todas as entrevistas iniciais fazem triagem de alguma for 
ma. No entanto, costuma-se denominar de entrevistas de tri 
agem psicológica, aquelas feitas em instituições que ofere 
cem o serviço de triagem em separado do de psicoterapia ou 
outras intervenções. Esses serviços são comuns nas institui 
ções públicas, nas quais, geralmente, a demanda é maior 
que a capacidade de atendimento ocorrendo, então, as filas 
de espera. Sendo assim, é importante que se determine, ain 
da, na entrevista de triagem, a urgência do tratamento, e que 
as instituições tenham mecanismos para que os casos urgen 
tes sejam atendidos de imediato. O psicólogo que faz as tri 
agens não tem, por diversos motivos, condições de atender 
todos os clientes triados. O tratamento posterior, em geral, é 
feito por outro psicoterapeuta.
No outro tipo de entrevista clínica inicial, aqui denomi 
nada terapêutica, o cliente é entrevistado por um profissio-
30
nal, o qual dará imediata continuidade ao tratamento. Isto 
geralmente ocorre nas clínicas particulares, onde não há gran 
des filas de espera e o cliente costuma procurar nominal 
mente o terapeuta. Nestes locais, geralmente, nem há servi 
ços de triagem. Eventualmente, após esse tipo de entrevista 
inicial, o cliente pode, também, ser encaminhado para ou 
tros tratamentos.
Embora ambas as entrevistas iniciais tenham algumas di 
ferenças, decorrentes das condições descritas acima, neste texto 
não se fará diferenciação técnica entre elas, por considerar-se 
que as mesmas diferem apenas quanto a detalhes e, não, em 
conteúdo e objetivos. Parece importante os psicólogos trata 
rem com os mesmos cuidados todos os clientes que se sub 
metem a uma entrevista, pela primeira vez. Sendo assim, en 
tende-se que a entrevista inicial de triagem é tão importante 
quanto a inicial terapêutica para se obterem dados relevantes, 
para informar adequadamente o cliente e para estabelecer uma 
interação de qualidade, a qual não se limita necessariamente 
entre cliente e terapeuta, mas, entre cliente e instituição. 
MARKS (1986) enfatiza que, na triagem, o terapeuta precisa 
estar completamente informado sobre o funcionamento da 
instituição na qual está atendendo e que, ao final, precisa in 
formar aò paciente qual a sua decisão sobre o tratamento. Na 
opinião desta autora, essas condições devem ser preenchidas 
em qualquer E.C.I. (a fim de facilitar a leitura, daqui em dian 
te, ao invés de colocar as expressões entrevista clínica inicial 
por extenso usa-se a abreviatura E.C.I), mesmo que não se 
trate de triagem, ou seja, toda primeira entrevista envolve uma 
importante tomada de decisão.
Os objetivos da E.C.I:
Entende-se que, no decorrer de um processo terapêutico, 
o psicólogo, geralmente, utiliza-se da entrevista para alcan 
çar três objetivos: interacionais, de coleta de dados, e de 
intervenção. Aseguir, serão descritos, rapidamente, como se 
apresentam tais objetivos na E.C.I..
31
Objetivos interacionais - durante a entrevista é impor 
tante que se desenvolva uma relação de confiança mútua 
entre as partes, a qual possibilite ao cliente:
- sentir-se confortável na situação;
- não sentir constrangimentos em se expor ao terapeuta;
- sentir-se motivado para continuar o tratamento.
Esta relação de confiança já deve ocorrer na entrevista 
inicial, inclusive na de triagem psicológica.
Objetivos de coleta de dados - a entrevista clínica 
pode ser estruturada de forma a maximizar a obtenção de 
informações, sem que isso prejudique seus aspectos 
interacionais. Contudo, num processo terapêutico, a ênfase 
em coleta de dados pode variar em diferentes momentos do 
tratamento. Por motivos óbvios, geralmente, a ênfase maior 
está nas primeiras sessões nas quais se procura a formulação 
de um diagnóstico preliminar.
Considera-se, pois, que na entrevista clínica inicial se deva 
procurar a obtenção de dados, desde que isto não ocorra em 
prejuízo da interação. Os dados devem ser, principalmente, 
os pessoais e aqueles que indiquem e especifiquem o motivo 
da procura do tratamento, ou da queixa. Estes dados prelimi 
nares são gerais, podendo ser mais detalhados, dependendo 
da disponibilidade do cliente e da habilidade do terapeuta. 
Num programa de ensino, entende-se que um maior 
detalhamento, desde que pertinente, só beneficiará tanto o 
aprendizado do aluno quanto o atendimento ao cliente.
Objetivos de intervenção - considera-se que, em qual 
quer entrevista clínica, possa ocorrer a intervenção, ou seja, 
modificações no comportamento do cliente em função de 
procedimentos adotados na entrevista. Contudo, geralmen 
te, é difícil que a ênfase da primeira sessão possa ser em 
intervenção de forma sistemática, uma vez que isto pressu 
32
põe o estabelecimento de uma interação de qualidade entre 
cliente e terapeuta, e que este último tenha posse de dados 
consistentes sobre o primeiro, o que é muito difícil na pri 
meira entrevista. Dessa forma, considera-se que a interven 
ção possa ocorrer numa entrevista inicial, porém sem que se 
constitua em um objetivo obrigatório.
Resumindo: entende-se que em programa de ensino da 
E.C.I, o mais importante é o aluno estabelecer, com o cliente, 
uma interação adequada, acompanhada de coleta de dados, 
a qual deverá ser tão ampla e detalhada quanto possível; mas 
sem a preocupação imediata com a intervenção.
2 - Modeio ou estrutura de entrevista inicial
Em linhas gerais, parece haver quase um consenso entre 
os autores sobre a necessidade de estruturar a entrevista e como 
fazê-lo, Esta constatação já havia sido feita por BALAU (1980) 
e foi confimiada por esta autora, continuando, portanto, na 
literatura mais recente, Seguem-se algumas sugestões de como 
estruturar a entrevista clínica, principalmente a inicial.
HAYNES (1978) propõe que, até um levantamento de to 
das as possíveis áreas problema, a entrevista seja aberta. O 
mesmo deve ocorrer sempre que se introduzir um assunto novo. 
Somentedepois, especifica-se cada área problema identificada. 
ZARO et al* (1980), em proposta semelhante, sugerem que to 
das as áreas sejam examinadas do geral para o particular e que, 
ao encerrar a entrevista, fique claro para o cliente qual será o 
próximo passo. Lembra ainda que, de início, pode ser necessá 
rio usar alguma técnica para baixar a ansiedade do cliente.
Após ampla análise da atividade de entrevistar, BALAU 
(1980) adotou uma estrutura na qual dividiu a entrevista ini 
cial em quatro etapas: - "etapa inicial*1, incluindo o primeiro 
contato com o cliente, troca de informações gerais e levan 
tamento de dados pessoais e familiares; "queixa livre", utili- 
zando-se de técnicas para facilitar a expressão do cliente
33
e a identificação do problema; "queixa dirigida" para com 
plementar e esclarecer os dados da etapa anterior; e "en 
cerramento", quando se prepara a interrupção da entrevista 
e se define a continuidade do atendimento.
Para KEEFE et al. (1980), deve-se iniciar procurando 
informações gerais, quando o cliente descreve o proble 
ma conforme seu estilo e, posteriormente, os dados são 
opéracionalizados.
A entrevista deve ser estruturada e ocorrer num continum: 
inicia-se com um mínimo de estrutura e questões abertas 
para identificar o problema; depois de estabelecida a natu 
reza da dificuldade, aumenta-se a estrutura com questões 
que indiquem as variáveis controladoras (OLLENDICK & 
HERSEN, 1984).
Ao atuar em treino de entrevista com estudantes de Me 
dicina, WELLS et al. (1985) sugerem uma estrutura seme 
lhante às anteriores. Para eles, de início, as questões devem 
ser abertas, acompanhadas de técnicas de facililação da ex 
pressão do cliente e audição ativa. Mais tarde, as questões 
devem ser específicas para esclarecer o problema e comple 
mentar informações anteriores. Enquanto isso, deve-se esta 
belecer uma boa interação através de demonstrações de in 
teresse, entendimento empático, preocupação e acompanha 
mento das associações do cliente.
MARKS (1986) lembra que, na introdução, devem ser 
dadas informações e explicações ao cliente quanto ao trata 
mento e ao funcionamento da instituição e que, ao encerrar, 
o cliente deve ser informado das decisões do terapeuta.
Finalmente, há as sugestões de BELLACK & HERSEN 
(1988), para que, de início, o entrevistador apenas ouça e 
estimule o cliente a falar, com estratégias, tais como: o para 
fraseado e a reflexão de sentimentos; e, só depois, façam-se 
questionamentos e especificações. Eles ainda sugerem que, 
no encerramento, sejam incluídos um resumo, as informa 
ções adicionais e a probabilidade de sucesso do tratamento.
34
í Da consulta a esses e vários outros autores e da experi 
ência desta autora, fez-se uma síntese de como poderia ser a 
estrutura básica da E.Cl.. No modelo aqui sugerido, a entre 
vista é dividida em três etapas: a) introdução; b) Desenvolvi 
mento; e c) Encerramento. Naturalmente, antes de inciar a 
entrevista, o aluno iniciante deve estar atento para algumas 
providências prévias a serem tomadas.
Providências prévias:
Antes de iniciar uma entrevista, o aluno terapeuta preci 
sa tomar providências no sentido de viabilizar a mesma. A 
seguir, são sugeridas algumas medidas essenciais:
a) Entrosamento com a instituição responsável pelo aten 
dimento, informando-se sobre suas normas de funcionamento 
e serviços oferecidos; » '
b) Providenciar ou preparar um ambiente físico adequa 
do, com isolamento acústico, sem interrupções de terceiros, 
barufhos... ;
c) Material- providenciar, se necessário, mesa, cadeira, 
pâpêl, lápis, gravador...;
d) Prever horário para começar e terminar a entrevista;
0 Outras providências pertinentes.
2.1 - Um modelo de entrevista inicial 
Introdução
O aluno cumprimenta o clientee acomponha-o à sala.de 
entrevista onde se apresenta, dizendo seu nome e função. 
Verifica se o cliente quer alguma informação geral sobre o 
tratamento. Se o cliente estiver ansioso, utiliza algum proce 
dimento para diminuir tal ansiedade. Ainda na introdução, é 
conferida a ficha de dados pessoais. Posteriormente, outros 
dados pessoais e biográficos poderão ser acrescentados.
35
Desenvolvimento
Esta é a parte principal e mais extensa da entrevista, quan 
do deve ser conhecido o problema ou problemas do cliente, 
através de dados que permitam uma análise geral e prelimi 
nar dos mesmos.
Nesta etapa, a entrevista deve ter uma seqüência na qual 
os assuntos sejam tratados, partindo-se do "geral para o par 
ticular". A participação do terapeuta deve iniciar-se de for 
ma não diretiva, ou seja, as perguntas iniciais devem ser bem 
abertas e, só posteriormente, mais fechadas. Observa-se que, 
nesta seqüência, vai se desenvolvendo, no decorrer da en 
trevista, um "afunilamento" quanto à especificação da infor 
mação obtida.
De início, cabe ao terapeuta demonstrar interesse e aten 
ção pela fala do cliente e procurar estimulá-lo a falar bastan 
te sobre seus problemas. Procura-se dar liberdade ao clien 
te, para ele colocar espontaneamente suas queixas. Não se 
deve induzir o cliente a qualquer resposta, nem lhe pedir 
detalhes. Evita-se, apenas, que o cliente se desvie do motivo 
pelo qual procurou tratamento.
Num segundo momento, quando o cliente já expôs 
amplamente seu problema, o terapeuta usará de estratégias 
mais diretivas para obter dados mais específicos e precisos. 
Introduzem-se questões mais fechadas, pedidos de esclare 
cimentos, pedidos de complementação, exemplos... Assim, 
um assunto que, no início da entrevista, foi colocado pelo 
cliente de forma muito geral, ao final da mesma poderá já 
estar bastante detalhado. É importante que o conteúdo a ser 
especificado refira-se ao problema anteriormente abordado 
pelo cliente de forma espontânea.
Seria adequado, ainda, que esta forma de afunilamento 
na especificidade da informação e na diretividade da en 
trevista fosse adotada, não apenas na seqüência geral da en 
trevista, mas também na abordagem de diferentes assuntos, 
numa mesma entrevista. Assim, para cada novo assunto ou
36
problema, o terapeuta deixa que o cliente o exponha de sua 
maneira, mesmo que seja vaga ou geral e, só posteriormen 
te, solicita-lhe detalhes.
Concluindo, numa entrevista, tanto a seqüência geral 
como cada um dos assuntos devem ser conduzidos do geral 
para o particular. Dessa forma, em diferentes momentos, a 
entrevista poderá ser mais ou menos diretiva. Note-se que 
esse modelo torna infrutífera a antiga discussão sobre a 
adequabilidade das entrevistas diretivas e não diretivas.
A forma proposta acima de estruturar o corpo da entre 
vista é bastante adequada para'desenvolver um clima de 
confiança entre terapeuta e cliente, bem como para garantir 
que as informações obtidas sejam válidas, uma vez que evi 
ta a indução de respostas pelo terapeuta.
A fase de desenvolvimento da entrevista deve ser con 
cluída em função do término do horário e/ou de um volume 
sufic iente de informações. Na conclusão dessa fase, é muito 
útil a elaboração, pelo terapeuta, de um iesumo dos dados 
obtidos até.QjnomentQ.
Encerramento
Pode-se encerrar a E. C. I,, através dos seguintes passos:
- Dar pistas ao cliente de que o tempo está terminando;
- Evitar a introdução de assuntos novos e/ou que gerem 
perturbação emocional;
- Verificar se o cliente não está com dúvidas importan 
tes;
- Deixar muito claro ao cliente qual será seu encami 
nhamento - se vai aguardar sua chamada numa ftla de espe 
ra, se já ficará marcada outra entrevista, ou se deverá ter 
outro encaminhamento.
Finalmente, é bom insistir em obsevar que esta 
estruturação da entrevista - introdução, desenvolvimento e 
conclusão - nem sempre deve, ou pode ser seguida. Trata-se
37
de modelo útil para aqueles clientes que seguem o ritmo do 
terapeuta. Em muitos casos, a seqüência pode ser outra, por 
exemplo: clientes que, logo de início, começam a falar de 
seus problemas. Neste caso, o terapeuta acompanha-o e 
poderá completar a ficha de dados pessoais no meio ou nofinal da entrevista. Outro exemplo são certos clientes que 
respondem pouco a questões muito abertas e respondem me 
lhor a questões mais fechadas. Enfim, a estruturação da en 
trevista é um ponto de referência ou conjunto de orienta 
ções, as quais o terapeuta pode ir adaptando à condução de 
cada entrevista em particular.
3 - Dados a serem levantados na E.CX
Quanto aos dados, na E.C.I., devem ser obtidos aqueles 
necessários para uma decisão no final da entrevista, quanto 
ao encaminhamento a ser dado ao cliente; ou seja, o míni 
mo que se espera da E.C.I. é que a mesma permita ao 
terapeuta decidir se o cliente deve ou não iniciar terapia.
É interessante observar que os autores comportamentais, 
em geral, sugerem a utilização, na entrevista comportamental, 
das habilidades básicas de entrevistar definidas por outras 
abordagens tradicionais. Isto porque, segundo eles, a 
especificidade dessa entrevista está no tipo de dados que se 
procura. Portanto, é principalmente com base em seus da 
dos que se define a entrevista comportamental, dados estes 
necessários para uma análise funcional do comportamento. 
Trata-se, assim, não só de se abandonarem certos dados tra 
dicionalmente pesquisados, mas, principalmente, de se le 
vantarem outros normalmente não incluídos nas avaliações 
tradicionais. Quanto a isso, HAYNES (1978) já chamava a 
atenção para o fato de, na entrevista comportamental, a 
ênfase estar em áreas de conteúdos bastante específicos.
Considerando-se que este texto se concentra na E. Cl., pode- 
se iniciar definindo quais dados ela deveria fornecer. Neste sen 
38
tido, BALAU (1980), BELLACK & HERSEN (1988), GOLDFRIED 
& DAVI50N (1976), KEEFE et al. (1980), MARKS (1986), MAYER
& TURKAT (1988), OLLENDICK & HERSEN (1984), RIMM & 
MASTERS (1983), entre outros, são quase unânimes em sugerir 
que, na E.Cl., levantem-se alguns ciados pessoais e familiares, 
identifiquem-se as queixas ou problemas que motivaram a pro 
cura do tratamento e levantem-se dados sobre as possíveis va 
riáveis controladoras dos problemas. Além desses, há alguma 
variação entre os autores quanto aos demais dados sugeridos 
para a primeira entrevista, todavia sempre dentro daqueles mais 
comuns na avaliação comportamental.
Depois de vários anos trabalhando no ensino e treina 
mento de alunos em entrevista clínica inicial, a autora deste 
capítulo verificou que não é possível o aluno desenvolver um 
levantamento adequado de dados para triagem, se não estiver 
preparado para identificar, no geral, quais os dados pertinen 
tes ou críticos para a avaliação comportamental. Entende-se, 
pois, neste texto que, para o aluno fazer uma entrevista inicial 
adequada, precisa estar preparado para fazer uma avaliação 
comportamental completa. Por isso, neste tópico serão inclu 
ídos os principais dados necessários para uma ampla avalia 
ção comportamental, são dados possíveis de serem obtidos, 
os quais, sendo do conhecimento do terapeuta, podem facili 
tar e agilizar a E.C.I., tornando-a rica fonte de informação.
Observações:
a) os itens, a seguir, não constituem um questionário nem 
um roteiro de entrevista, portanto, não precisam ser investi 
gados nesta ordem;
b) a maioria dos itens vem acompanhada de uma expli 
cação. Considera-se item o que está sublinhado e, explica 
ção ou exemplo> o que segue os dois pontos.
Principais itens gerais:
1 - Dados pessoais do cliente: nome, idade, sexo, escola 
ridade, profissão, ocupação, estado civil, situação conjugal;
39
2 - Dados do núcleo familiar: pai, mae, irmaos, e outros 
agregados - incluir sexo, idade, e ocupação de cada um;
3 - Aparência geral do cliente durante a entrevista: da 
dos não verbais - destacar o nível de desconforto do mesmo 
na situação;
4 - Como o cliente chegou ao tratamento: quem lho in 
dicou e por que o fez;
5 - Biografia: acrescentar aos dados pessoais e aos do nú 
cleo familiar outros dados de experiências particulares da his 
tória do cliente, tais como: ter residido com outra família por 
algum período, profissões anteriores, casamentos anteriores...;
6 - Comportamentos - problema que motivaram a pro 
cura do tratamento: identificar o motivo preciso da busca de 
tratamento, ou seja, a queixa;
7 - Descrever operacionalmente ais) queixa(s): especifi 
car e detalhar cada problema do cliente, de maneira que 
fique claro para ambos: entrevistador e entrevistado - é uma 
descrição do problema na forma como o mesmo se apresen 
ta atualmente, não incluindo seu histórico;
8 - Hierarquização das queixas: no caso do cliente apre 
sentar vários problemas, ele deverá ordená-los por ordem de 
importância e/ou urgência;
9 - Especificação dos comportamentos pmblema: impli 
ca levantar, conforme for possível, todos os subitens abaixo 
para cada problema de interesse. A especificação só é possí 
vel, abordando-se cada problema em separado, ou seja, apli 
cam-se os subitens ao problema A, depois ao problema B, e 
assim sucessivamente.... Obviamente que o processo de en 
trevistar não precisa ocorrer nessa ordem rigorosa... . *
9.1 - Dimensões do comportamento problema: freqüência, 
intensidade e duração. Note-se que neste texto, por tratar-se de 
entrevista inicial, o termo problema se refere à queixa do cliente, 
e não a outros possíveis problemas inferidos pelo terapeuta.
9.2 - Eventos relacionados à ocorrência do problema, 
ou seja, circunstâncias nas quais o problema ocorre;
40
9.3 - Circunstâncias nas quais o problema não ocorre;
9.4 - Dados históricos do problema: como e quando se 
iniciou e como se desenvolveu até apresentar-se na forma atual 
não confundir com biografia, história do cliente. Neste item, 
pedem-se dados específicos do problema em questão;
9.5 - Um exemplo de ocorrência do problema: pedir 
para o cliente descrevê-lo;
te depois da ocorrência do problema;
9.7- Conseqüências gerais do problema e conseqiiênci-
9.8 - Pensamentos, crenças, atitudes, e sentimentos do 
cliente, durante e depois da ocorrência do problema;
9.9 - O que outras pessoas dizem sobre o problema
10 - Objetivos ou metas do cliente para a terapia;
11 - Pontos positivos e negativos do cliente em relação 
às possibilidades de tratamento: o que poderia ajudar ou 
dificultar o tratamento, por exemplo, habilidades ou carac 
terísticas pessoais;
12 - Pontos positivos e negativos do amb i en te: por exem 
plo, mércado de trabalho, características da família, amiza 
des, condição financeira ...;
13 - Tratamentos anteriores: descrição e resultados - in 
cluir todas as tentativas de resolver o problema, mesmo as 
informais;
14 - Condições gerais de saúde: aspectos que poderiam 
interferir no comportamento-problema, tais como: doenças 
crônicas, uso de medicação ou drogas;
15 - Motivação, do cliente para o tratamento: pode-se 
usar uma escala de 0 a 10 para assinalar o grau de motiva 
ção do cliente e este grau pode ser inferido pelo terapeuta, a 
partir de diversos indicadores;
16 - Reforçadores potenciais: investigar quais os interes 
ses do cliente, de quais coisas, atividades ou pessoas ele
41
gosta, ou já gostou anteriormente;
17 - Avaliar riscos e possíveis crises imediatas: verificar 
o grau de urgência do tratamenlo e se é o caso de se tomar 
medidas imediatas;
18 - Identificar respostas emocionais ao(s) problema(s): 
verificar como o cliente vem "lidando" com seus problemas;
19 - Levantar dados de relação entre os diversos proble 
mas apresentados: no caso de clientes que apresentam di 
versos problemas, verificar semelhanças e interrelações en 
tre eles, as quais permitam uma análise integrada dos mes 
mos - problemas aparentemente independentes poderão re 
presentar processos semelhantes;
20 - Levantar quaisquer outros .dados que pareçam de 
interesse para a compreensão da(s) queixa(s).
Os itens, sugeridos acima, referem-se a dados levanta 
dos em pesquisa ampla porém não exaustiva da literatura 
em Análise do Comportamento e englobam os principais, 
itens entre os necessários, a uma ampla análise funcional de 
problemas clínicos. Por isso,são numerosos e não se espe 
ram que sejam todos obtidos em uma única entrevista, nem 
para todos os clientes, mesmo porque, nem todos os itens 
são pertinentes a todos os problemas.
Para os iniciantes em Análise do Comportamento cabe 
informar que esta é uma síntese dos dados clássicos que se 
buscam na entrevista comportamental. Inclusive, já foram 
submetidos à pesquisa de validade social por MILTENBERGER
& FUQUA (1985) e MILTENBERGER & VELTUM (1988). Eles 
realizaram três estudos, nos quais foram consultados diver 
sos especialistas da área, ou seja, terapeutas comportamentais 
experientes, os quais sugeriram os dados por eles considera 
dos necessários à avaliação comportamental. Quase todos 
os itens, apresentados anteriormente, constam dos resulta 
dos das referidas pesquisas de validação social.
42
4 - Habilidades de entrevistar
Para se executar a entrevista dentro do modelo 
anteriomente proposto e se obterem os dados de interesse, 
são necessárias a utilização de diversas estratégias de entre 
vistar. Pode-se dizer que a estrutura ou modelo é a estratégia 
geral a ser adotada, a qual é composta por um grande número 
de estratégias específicas, sendo que essas podem variar muito, 
dependendo de características do cliente e do terapeuta.
Note-se que as estratégias de entrevista nada mais são 
que comportamentos, que o terapeuta deve apresentar para 
obter os resultados desejados, junto ao cliente. Sendo assim, 
elas são referidas como habilidades do terapeuta. O fato é 
que comportamentos verbais e não verbais do terapeuta têm 
significativos efeitos sobre as atitudes e comportamentos do 
cliente e sobre a informação por ele fornecida. Os métodos 
sugeridos, a seguir, diminuem a probabilidade de erros ou vieses 
na entrevista, enquanto maximizam a relação terapeuta-cliente.
As habilidades de entrevistar são, certamente, o assunto 
mais desenvolvido na literatura dessa área. As atividades de 
ensino e de pesquisa mostram que o entrevistador pode de 
senvolver comportamentos altamente específicos e eficazes 
no sentido de se alcançar os objetivos da atividade de entre 
vistar. A literatura muitas vezes se refere ao conjunto de 
habilidades como método de entrevistar. O estudo desse as 
sunto é relativamente complexo, visto que uma mesma habi 
lidade aparece com nomes diferentes, em diferentes autores; 
ou, ao contrário, autores que utilizam os mesmos nomes para 
designar determinadas habilidades, na verdade apresentam 
profundas diferenças conceituais, derivadas de diferentes 
enfoques teóricos. Dessa forma, devido à complexidade e ao 
volume de informação sobre o tema e, para efeitos de clareza 
na exposição, decidiu-se agrupar em tópicos as principais ha 
bilidades levantadas. Em geral, os tópicos receberam como 
títulos os nomes de habilidades tradicionalmente conhecidas,
43
porém, quando isso não foi possível, a autora atribuiu-lhes 
um títu lo descritivo. Note-se que, na literatura, são 
variadíssimas as formas de se eleger e descrever as principais 
habilidades. A sistematização, apresentada a seguir, é desta 
autora e tem objetivos estritamente didáticos, nem sempre re 
presentando, portanto, classes discretas de comportamento.
Como os diferentes referenciais teóricos que serviram 
como fonte não serão aqui discutidos, as habilidades serão 
apresentadas da forma mais descritiva possível. Além disso, 
numa tentativa de melhor auxiliar os iniciantes, a descrição 
de cada grupo de habilidades será complementada com uma 
pequena lista dos principais riscos de erros que os iniciantes, 
geralmente, cometem e que poderiam ser evitados. Seguem- 
se, então, os tópicos formulados, referentes a nove grupos 
de habilidades.
4.1 - Habilidades empáticas
Refere-se às atitudes ou conjunto1 de sentimentos positi 
vos que o terapeuta deve apresentar em relação ao cliente. 
Os sentimentos e as atitudes mais comumente associados a 
este rótulo são autenticidade, sinceridade, genuinidade, ho 
nestidade, interesse, compreensão, abertura, estima, etc.. O 
termo pode referir-se também à percepção e à aceitação pelo 
terapeuta dos sentimentos do cliente; ou, ainda, colocar-se 
no lugar do mesmo.
HACKNEY & NYE (1977) lembram que não basta sentir, 
é preciso demonstrar os sentimentos através de comporta 
mentos verbais e não verbais. Esses comportamentos serão 
descritos em outro tópico. HAYNES (1978) sugere, ainda, 
que o terapeuta seja reforçador, isto é, que as respostas posi 
tivas sejam contingentes às respostas desejadas do cliente. 
Para alguns terapeutas comportamentais, ser empático é ser 
uma pessoa reforçadora.
1 "Empatia" também é utilizada para referir-se não a uni conjunto de sentimentos, mas a 
um sentimento ou atitude entre os demais.
44
A empatia não envolve só a demonstração de sentimentos 
positivos; mas também a não demonstração de sentimentos ne 
gativos: raiva, aversão, pena... Para alguns, isto se refere à aceita 
ção incondicional do cliente, pelo terapeuta. Os principais auto 
res lembram que não se trata de não sentir de forma negativa, 
todavia, trata-se de controlar tais sentimentos. AUGER (1981) e 
BILLOW & MENDELSONHN (1990) sugerem, ao tratarem desse 
tema, que é importante o terapeuta se conhecer para identificar 
suas próprias fantasias e sentimentos positivos e/ou negativos em 
relação ao cliente, antes de poder desenvolver empatia.
Enfim, a empatia implica compreender e aceitara outra pes 
soa como ela é, sem pré-julgamentos. Isto não implica, necessa 
riamente, aprovação ou perdão, no entanto, simplesmente, ad 
mitir que o cliente possa ser como é, inclusive, diferente do 
terapeuta.
A empatia, conforme RUDIO (1987), não é unicamente uma 
estratégia opcional, mas deveria ocorrer em algum grau durante 
toda a entrevista, o que seria denominado de relação empática. 
WATKINS (1990) fez um estudo sobre o que ele considerou as 
quatro respostas básicas do conselheiro ou terapeuta, tendo sido 
a empatia uma das quatro respostas por ele estudadas.
Além de amplamente divulgada entre os profissionais 
de Psicologia, ela foi também sugerida como habilidade bá 
sica de entrevistar, em diversos programas de ensino com 
estudantes de Medicina, descritos em BACORN et al. (1987), 
FAIRBAIRN et al. (1984), LONBORG et al. (1991) e 
POLLOCK et al. (1985), entre outros.
Para concluir, cabe lembrar que outras habilidades, 
dentre as descritas a seguir, também podem intensificar a 
relação empática durante a entrevista.
Riscos a serem evitados:
- Preocupar-se demais com a informação e descuidar-se 
da interação;
- Apresentar preconceitos em relação ao cliente.
45
4.2 - Habilidades não verbais
Amplamente descritos entre as habilidades de entrevis 
tar, esses comportamentos geralmente se relacionam à voz, 
expressão facial, postura corporal e aos gestos, DUCKWORTH 
et al, (1993) e HACKNEY & NYE (1977) sugerem várias res 
postas não verbais adequadas à entrevista clínica, devido aos 
efeitos que exercem sobre o entrevistado. Entre esses efeitos, 
estão os de manter a atenção do cliente, estimulá-lo a falar e 
intensificar ou complementar a comunicação verbal. Seguem- 
se as habilidades não verbais mais comumente desenvolvidas 
nos programas de ensino da entrévista.
- Voz modulada, suave e firme;
- Animação da expressão facial;
- Olhar direta e seguramente nos olhos do cliente;
- Balançar ocasionalmente a cabeça;
- Sorriso ocasional;
- Gestos ocásionais com as mãos;
- Velocidade moderada da fala;
- Uso ocasional da expressão "hum-hum";
- O corpo deve estar relaxado;
- Postura corporal adequada e dirigida ao cliente, etc..
DUCKWORTH et al. (1993) lembram, ainda, que to 
das as respostas não verbais sugeridas e outras, que poderão 
ser apresentadas, devem estar de acordo com a interação 
que se estabeleceu com o cliente e com o conteúdo verbal 
do momento. Sabe-se que tanto os reforçadores não verbais 
quanto os verbais dependem de diferentes parâmetros de 
cada cliente. Assim, não seria adequado decorar formas ge 
neralizadas a serem adotadas em todos oscasos.
O terapeuta deve ficar atento também aos comportamen 
tos não verbais do cliente.
Finalmente, como observam MCCREADY & WARING 
(1986) e POLLOCK et al. (1985), espera-se que o terapeuta
46
apresente comportamentos não verbais positivos e 
congruentes com os comportamentos verbais.
Riscos a serem evitados:
- Não perceber insinuações e respostas não verbais de 
cunho emocional, do cliente;
- O terapeuta apresentar comportamento não verbal ne 
gativo e/ou incongruente com seu comportamento verbal.
4.3 - Habilidades de perguntar
Nesse grupo de habilidades estão incluídas tanto a for 
mulação quanto a utilização de perguntas.
As entrevistas tradicionais baseavam-se em perguntas, o 
que as tornavam semelhantes a um questionário ou interro 
gatório. Os autores não diretivos, entre eles BENjAMIN (1978) 
e GARRET (1974), analisaram o grande impacto que a forma 
e o conteúdo das perguntas têm sobre o cliente. Também os 
autores comportamentais como HACKNEY & NYE (1977), 
IWATA et al. (1982) e MILTENBERGER & VELTUM (1988), 
entre outros, sugerem cuidados especiais na formulação e 
na utilização de perguntas. A discussão desse assunto é mui 
to ampla e, sendo assim, sua apresentação será dividida em 
três tópicos, a saber: a) formulação e utilização de pergun 
tas, em geral; b) perguntas abertas e fechadas; e c) solici 
tações de esclarecimentos e complementação.
a) Formulação e utilização de perguntas, em geral:
As perguntas devem ser únicas: apresentadas uma de 
cada vez, diretas, precisas, breves, claras e completas: sem 
frases interrompidas, sem depender de gestos do terapeuta 
ou de suposições sobre o cliente, por exemplo, intelegíveis 
por este, de preferência com a sua linguagem e dentro dos 
limites em que o cliente possa ou saiba responder;
A quantidade deve ser controlada, para não tornar-se 
um "bombardeio" de perguntas;
Após cada pergunta, esperar a resposta do cliente, sem 
interrompê-lo;
47
As perguntas devem relacionar-se aos objetivos da en 
trevista, caso contrário, parecerão bisbilhotice;
Deverão ser evitadas perguntas com "por que" ( RI MM & 
MASTERS, 1983), e as perguntas tão indutoras que já conte 
nham as respostas, ou induzam o cliente a dar a resposta 
que o terapeuta já espera;
Sugere-se evitar que as perguntas tenham o tom de acu 
sação e/ou conduzam a antagonismos ou confrontos entre 
terapeuta e cliente.
b) Perguntas abertas e fechadas:
Um dos pontos mais delicados e discutidos na literatura 
que aborda a formulação de perguntas na entrevista clínica, 
refere-se à utilização adequada de questões "abertas e fe 
chadas". Em vista disso, essas questões mereceram, aqui, uma 
exposição mais extensa.
O ponto básico a considerar é quando formular pergun 
tas. abartas ou fechadas.
Uma pergunta aberta nunca leva a uma única resposta 
ou a "sim", ou "não", mas induz a uma descrição do con 
teúdo abordado. Na pergunta aberta, é o cliente quem ele 
ge os pontos a serem incluídos nas respostas. Além disso, 
questões abertas levam a um maior volume de informações. 
Esse tipo de pergunta evita que o cliente responda confor 
me sugestões do terapeuta, enquanto o induz a dar suas 
próprias respostas genuínas. São exemplos de questões aber 
tas: Como aconteceu? Como você se sentiu? Quais os prin 
cipais fatos?
As questões abertas estimulam o cliente a falar mais eA por 
outro lado, geralmente fornecem informações mais gerais. Por 
isso, tais informações podem precisar de complementação e 
esclarecimentos. Neste caso, a pergunta adequada seria mais 
fechada e direta sobre o ponto que se quer esclarecer.
A pergunta fechada , ao contrário da aberta, induz res 
postas sim ou não e produz respostas curtas, por não estimu 
48
lar o cliente a falar. Seu conteúdo pode ser mais facilmente 
induzido pelo entrevistador; mas, também, facilita as res 
postas específicas e precisas,
Do exposto, pode-se concluir que as questões abertas 
são adequadas para tratar de assuntos novos e amplos, 
enquanto as questões fechadas são as mais úteis a assun 
tos já relatados pelo cliente, mas que exigem informações 
adicionais e específicas. Neste caso, as questões fechadas 
ou diretas vão dirigir-se a tópicos já introduzidos e eleitos 
pelo cliente.
Outro ponto a ser considerado é que, numa entrevista, 
o volume de questões de um ou outro tipo pode depender 
das características do cliente que está sendo entrevistado e 
dás especificidades daquela entrevista. A maioria dos auto 
res, porém, sugere que a preferência seja dada às questões 
abertas,
Para concluir, como lembra GARRET (1974), as pergun 
tas não deveriam ser decoradas, o que provavelmente as tor 
nariam inoportunas; entretanto, formuladas conforme a 
interação. Deveriam ser feitas com critérios, pois represen 
tam apenas uma das estratégias que podem ser utilizadas 
pelo entrevistador.
c) Solicitações de esclarecimentos e complementação:
já foi sugerido acima que as perguntas fechadas são 
úteis para pedidos de esclarecimentos e complementação.
Nos primeiros (esclarecimentos), o terapeuta pode inter 
romper a fala do cliente e solicitar-lhe esclarecimentos, quan 
do pequenos pontos da exposição, que pareçam importan 
tes, estiverem confusos. Isto pode ser feito rapidamente, sem 
prejuízo da continuidade do relato, Feito da maneira ade 
quada, além de esclarecer as dúvidas, indica para o cliente 
atenção e interesse por parte do terapeuta (BALAU, 1980). A 
mesma autora ainda explica os pedidos de complementação. 
Nestes, o terapeuta pede, ao final da exposição sobre um 
|§5sunto, informações adicionais pertinentes, as quais foram
omitidas ou esquecidas pelo cliente. Não se trata de esclare 
cer confusões; e, sim, de pedir informações a mais, que 
complementem o que já foi dito.
Riscos a serem evitados:
- Bombardear o cliente com muitas questões, especial 
mente as fechadas;
- Fazer perguntas sem objetivo e que pareçam bisbilho 
tice;
- Fazer perguntas com tom de acusação;
- Fazer várias perguntas ao mesmo tempo;
-Fazer perguntas incom pletas, com gestos ou 
inintelegíveis - impossíveis de serem respondidas;
- Perguntar e não esperar a resposta, ou interrompê-la;
- Fazer perguntas vagas ou indiretas;
- Fazer perguntas tão indutoras que já contêm a resposta 
ou induzir o cliente a dar as respostas que o terapeuta espera 
ou em que acreçlita.
- Fazer muitas perguntas com "porquê11.
- Entrar em confronto com o cliente, ao solicitar esclare 
cimentos sobre possíveis dados contraditórios.
4.4 - Operadonalizar informações
Esta é uma habilidade introduzida pelos terapeutas 
comportamentais, uma vez que, no enfoque não diretivo a 
informação em si não é valorizada. É sugerida em todos os 
manuais comportamentais clássicos já amplamente citados. 
E também habilidade central nas pesquisas da área confor 
me BALLEWEC (1990), IWATA et al. (1982), KANFER & 
SASLOW (1979), MILTENBERGER & FUQUA (1985) e 
MILTENBERGER & VELTUM (1988), entre outros.
Trata-se de ajudar o cliente fazer, com suas palavras, 
descrições inequívocas do problema que está relatando. Após 
a operãeionalização da informação, haverá a segurança de
50
que, ao referirem-se ao evenlo descrito, ambos, cliente e 
terapeuta, estarão Iralando do mesmo fato. Cabe ao terapeuta 
ir identificando, no decorrer da entrevista, se as informações 
fornecidas pelo cliente estão suficientemente operacionalizadas 
ou não. Comumente, é necessário intervir para tornar as in 
formações mais operacionais. Neste caso, pode-se utilizar 
vários recursos de entrevista, tais como: pedidos de esclare 
cimentos, exemplos e resumos.
São exemplos de queixas apresentadas por clientes que 
precisam de descrições operacionais: "A crise", "Casamento 
ruim", "Insônia"... Quem já entrevistou muitos clientes sabe 
que essas expressões ou termos podem referir-se a um con 
junto de respostas ou eventos muito deferentes, dependen 
do de cada pessoa. Por exemplo, "casamento ruim" pode 
referir-se tanto a um relacionamento conjugal com muitas 
discussões ou brigas, quanto a um relacionamento

Mais conteúdos dessa disciplina