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Betânia Vicente - Meu CEO Possessivo

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Prévia do material em texto

Copyright	©	2019	–	Betânia	Vicente
Capa:	LA	Capas
Diagramação:	Veveta	Miranda
Revisão:	Helen	Bampi
Esta	 é	 uma	 obra	 de	 ficção.	 Nomes,	 personagens,	 lugares	 e	 acontecimentos
descritos	 são	 produtos	 da	 imaginação	 do(a)	 autor(a).	 Quaisquer	 semelhanças
com	nomes,	datas	e	acontecimentos	reais	são	mera	coincidência.
É	proibido	o	armazenamento	e/ou	a	reprodução	de	qualquer	parte	destas	obras,
através	 de	 quaisquer	 meios	 -	 tangível	 ou	 intangível	 -	 sem	 o	 consentimento
escrito	do(a)	autor(a)	ou	da	editora.
Todos	os	direitos	reservados.
Criado	no	Brasil.
Sumário
Prólogo
Capítulo	1
Capítulo	2
Capítulo	3
Capítulo	4
Capítulo	5
Capítulo	6
Capítulo	7
Capítulo	8
Capítulo	9
Capítulo	10
Capítulo	11
Capítulo	12
Capítulo	13
Capítulo	14
Capítulo	15
Capítulo	16
Capítulo	17
Capítulo	18
Capítulo	19
Capítulo	20
Capítulo	21
Capítulo	22
Capítulo	23
Capítulo	24
Capítulo	25
Capítulo	26
Capítulo	27
Penúltimo	capítulo
Último	capítulo
Epílogo	1
Epílogo	2
Dedico	esse	livro	a	uma	pessoa	especial	que	foi	uma	guerreira	é	minha
verdadeira	rainha,	Minha	mãe	Rosa	Helena	Vicente!
Sinceramente,	eu	não	sei	como	consegui	chegar	em	casa.	Entro	em	silêncio
para	não	acordar	a	minha	irmã,	e	acabo	gemendo	quando	sem	querer	esbarro	no
corrimão	e	tranco	os	dentes	para	não	gritar,	soltando	apenas	um	pequeno	gemido
de	dor.
Vou	subindo	as	escadas,	ou	melhor,	vou	rastejando,	e	enfim	consigo	chegar
ao	meu	quarto.	Fecho	a	porta	e	não	acendo	a	luz	—	eu	tinha	medo	de	ver	como
estava	machucada.
Vou	 andando	 bem	 devagar,	 e	 cada	 passo	 que	 eu	 dava	 era	 uma	 tortura,	 e
sempre	me	apoiando	na	parede	até	chegar	à	minha	mesinha,	onde	eu	 tinha	um
notebook	e	também	alguns	livros.
Nem	sempre	eu	precisava	acender	a	luz	do	quarto,	sendo	que	eu	tinha	uma
luminária.	 Assim	 que	 consigo	 alcançá-la,	 acendo-a	 e	 vejo	 os	 meus	 dedos
machucados.	 Sinto	 as	 lágrimas	 já	 escorrerem.	 Abro	 o	 diário	 que	 eu	 tinha
ganhado	da	minha	irmã	e	começo	a	escrever.	Até	mesmo	escrever	dói.	Começo	a
chorar	baixinho.
	Só	consigo	escrever	isso,	e	deixo	o	diário.	Abro	a	gaveta,	onde	havia	um
pequeno	canivete.	Pego-o	e	sigo	para	o	banheiro.	Ao	chegar	lá,	acendo	as	luzes.
As	 lágrimas	 descem	 mais	 e	 mais	 e	 não	 consigo	 controlar.	 Eu	 estava
envergonhada,	com	dor,	com	raiva.
Meu	 rosto	 machucado,	 meus	 cabelos	 desgrenhados	 e	 minhas	 roupas
rasgadas.	 De	 uma	 coisa	 eu	 já	 tinha	 consciência:	 não	 saberia	 viver	 com	 esse
pesadelo,	 e	 a	 única	 coisa	 que	 eu	 tinha	 que	 fazer	 era	 me	 matar,	 era	 a	 única
solução.
Levo	o	estilete	direto	para	o	meu	pulso	e	começo	a	passar	a	lâmina.	Sinto	a
ardência	do	corte	e	já	vejo	o	sangue	saindo.	Faço	a	mesma	coisa	no	outro,	e	não
demorou	muito	 eu	 estava	 caindo	 no	 chão.	Um	pouco	 antes	 de	 fazê-lo,	 ouço	 o
grito	da	minha	irmã:
—	Me	perdoa…	—	peço,	e	finalmente	sinto	a	morte	vir	e	me	entrego	a	ela
em	paz,	sabendo	que	nada	no	mundo	me	faria	mal.
A	melhor	maneira	de	terminar	uma	noite	é	estar	com	um	pau	dentro	de	uma
bucetinha.	Ouço	o	gemido	da	puta,	e	não	sinto	nada	daquela	emoção	que	meus
amigos	 dizem	 sentir	 quando	 estão	 fodendo,	 ou	 melhor,	 quando	 estão	 fazendo
amor	com	as	suas	mulheres.	A	emoção	de	que	 falam,	eles	chamam	de	amor,	e
isso	eu	não	sei	o	que	é!
—	Esse	pau	é	tão	gostoso,	Leon!	—	fala	a	puta.
—	Eu	sei	que	é!	—	concordo	com	ela.	Eu	sei	muito	bem	que	as	mulheres
desejam	o	meu	corpo.	Desde	que	eu	era	adolescente,	sabia	chamar	atenção.
—	Você	não	quer	me	foder?	—	ela	me	pergunta,	com	voz	de	queixa.	É	claro
que	 eu	 iria	 foder	 ela.	 Afinal,	 um	 homem	 como	 eu	 sabe	 como	 foder.	 Não
precisava	nem	 tocar	nela	para	 saber	 que	 ela	 já	 estava	 excitada	o	bastante	para
enfiar	o	meu	pau	dentro	da	sua	bucetinha.
—	 Você	 é	 uma	 putinha	 que	 está	 desesperada	 pelo	 meu	 pau,	 não?	 —
pergunto,	já	sabendo	a	resposta.
Tiro	 o	 meu	 pau	 de	 dentro	 da	 boca	 dela	 e	 pego	 o	 preservativo	 que	 se
encontrava	no	bolso,	rasgo	a	embalagem,	deslizo	pelo	meu	pau	e	a	viro,	abrindo
aquelas	pernas	e	deixando	a	bunda	dela	no	ar.	Sem	ela	esperar,	enfio	com	tudo,
fazendo-a	gritar	e	gemer.
—	Quer	que	eu	tire	o	meu	pau	de	dentro,	quer?	—	provoco-a.
—	 Não,	 eu	 não	 quero!	 —	 ela	 diz,	 gemendo	 e	 balançando	 a	 bunda,
incentivando-me	a	continuar,	e	não	me	faço	de	rogado	e	vou	com	tudo	mesmo.
Tiro	o	pau	e	enfio	novamente,	e	continuo	a	fazer	isso	direto.	A	puta	sabia	gritar
que	era	uma	coisa,	às	vezes	esses	gritos	me	deixavam	quase	estressado.
Meus	 amigos	 falam	que	 eu	 ainda	 vou	 encontrar	 o	 grande	 amor	 da	minha
vida,	 e	 só	 dou	 risada	 da	 cara	 deles,	 para	mim	 essa	 história	 de	 amor,	 como	 já
disse,	não	existe.
—	Me	fode,	Leon,	mais	forte!	—	ela	pede,	e	dou	o	que	ela	quer.	Puxo	seus
cabelos	com	força	e	a	fodo	mais	e	mais	forte,	fazendo	a	cama	balançar.
Logo	a	ouço	dizer	que	está	gozando	e	a	deixo	gozar	primeiro,	e	depois	vou
logo	atrás.	Eu	sou	filho	da	puta,	mas	também	sei	ser	generoso.	Tiro	o	meu	pau	de
dentro	dela	e	vou	até	o	banheiro,	tiro	a	camisinha	e	jogo	no	lixo.	Antes	de	sair,
lavo	as	mãos	e	me	visto.	Ela	me	olha	espantada.
—	Você	vai	embora?	—	me	questiona,	e	odeio	isso.
—	Você	sabe	que	eu	não	durmo	com	nenhuma	mulher	—	respondo,	grosso.
—	E	eu	pensando	que	eu	era	especial	para	você!
—	Não,	minha	querida,	nenhuma	mulher	é	especial	para	mim!	—	é	o	que
respondo,	e	ela	não	precisa	falar	nada,	seu	olhar	diz	tudo,	ela	está	com	os	olhos
cheios	de	lágrimas.	Está	apaixonada	por	mim.
—	Eu	amo,	você,	Leon!
Eu	 deveria	 ter	 me	 tocado	 de	 que	 quando	 você	 fode	 uma,	 duas	 vezes	 ou
mais,	ela	já	acha	que	me	amarrou.
—	 Eu	 já	 te	 disse	 quando	 comecei	 a	 te	 foder	 que	 seríamos	 amigos	 com
benefício	e	não	existiria	amor.
—	Leon,	eu	sei	disso!	—	ela	diz,	pesarosa,	sentando-se	na	cama	e	fazendo-
me	olhar	o	seu	corpo.	Eu	sabia	que	era	bonito.
—	 Então	 já	 sabe	 que	 não	 devemos	 mais	 nos	 ver	—	 digo	 simplesmente.
Pego	o	meu	relógio	e	a	chave	do	carro	e	vou	em	direção	à	porta.	Quando	estou
saindo,	ouço-a	me	chamando	e	me	viro.
—	Um	dia	você	vai	se	arrepender	de	como	está	me	tratando!
—	Não	vou!	—	e	viro	novamente.	Quando	estou	saindo	finalmente	daquele
quarto,	a	ouço	novamente	me	chamar	chorosa	e	pergunto,	já	sem	paciência:	—	O
que	você	quer	ainda,	Laura?
—	Eu	te	juro,	Leon,	que	vou	fazer	a	sua	vida	um	inferno	e	que	logo,	logo
você	vai	ser	meu	novamente.
—	Nunca	 fui	e	nunca	vou	ser	 seu,	Laura.	Adeus!	—	digo,	e	vou	embora.
Chegando	à	recepção	do	hotel,	deixo	pagos	a	diária	e	o	dia	seguinte	e	mais	o	que
ela	deveria	comer	e	vou	embora	para	nunca	mais	voltar.
Assim	que	chego	à	 entrada	do	hotel,	 o	manobrista	vem	ao	meu	encontro.
Dou-lhe	a	chave	do	carro,	e	não	demora	muito	ele	já	chega.	Agradeço,	dando-lhe
uma	bela	gorjeta,	e	vou	embora	logo.
Ao	entrar	no	carro,	conecto	o	celular	e	ligo	o	rádio,	para	ouvir	as	notícias.
Logo	 estou	 em	 casa.	Moro	 em	um	 condomínio	 de	 luxo.	Antes	mesmo	que	 eu
chegue	ao	portão,	ele	já	é	aberto.	Entro,	paro	e	cumprimento	os	seguranças.
—	Boa	noite,	Senhor	Vitorino.
—	Boa	noite,	Arthur.	Tudo	em	ordem	por	aqui?	—	desligo	o	rádio	e	tiro	o
meu	celular	do	suporte.
—	Graças	a	Deus,	tudo	tranquilo!	—	solto	um	suspiro	de	alívio.
—	Que	bom!	—	agradeço	e	 lhe	dou	boa	noite.	Logo	estou	 seguindo	para
minha	 casa.	 Finalmente	 vou	 ter	 uma	 boa	 noite	 de	 sono.	 Andava	 tendo	 festas
demais	 por	 aqui,	 às	 vezes	 eu	 tinha	 vontade	mesmo	 era	 de	me	mudar	 para	 um
apartamento.
Penso	sempre	sobre	isso,	e	acabo	desistindo.	Com	alívio	chego	em	frente	à
minha	garagem.	Quando	estou	para	entrar	em	casa,	a	porta	se	abre.
—	Boa	noite,	senhor!	—	me	cumprimenta	a	Senhora	Olívia.
—	Boa	noite,	Olívia.	Tudo	OK?	—	dou-lhe	o	meu	casaco.
—	Sim	senhor!	—	ela	me	olha.
—	Algum	problema?
—	Nenhum,	senhor,	gostaria	de	saber	se	o	senhor	já	jantou	—	me	pergunta,
meio	sem	graça.
—	Ainda	não.
—	Então	já	vou	providenciar.
—	Agradeço,	Olívia,	vou	estar	em	meu	quarto.
—	Daqui	a	pouco	te	chamo,	senhor.
—	Obrigado!	—	agradeço,	e	sigo	em	direção	ao	meu	quarto.	Ao	chegar	lá,
vou	tirandoa	roupa	e	a	jogo	no	cesto.	Sigo	para	o	chuveiro.	Ligo-o	e	entro.	Logo
a	água	quente	cai	sobre	o	meu	corpo,	lavando	todo	o	suor	e	cheiro	que	tenham
ficado	do	sexo	que	eu	tinha	tido.
Fico	ali	durante	algum	tempo	sentindo	a	quentura	da	água.	Passo	o	sabonete
pelo	meu	corpo,	e	não	demoro	muito	no	chuveiro.	Volto	para	o	meu	quarto	e	lá
me	 seco,	 colocando	meu	pijama.	Quando	 estou	penteando	meu	cabelo,	 ouço	 a
Olívia	me	chamar,	me	avisando	da	janta.
—	Obrigado,	Olívia!	—	agradeço,	e	logo	desço	para	jantar.	Não	me	demoro
e	volto	para	o	quarto.	Deito-me	na	cama	e	pego	o	notebook,	fico	mexendo	nele,
lendo	alguns	artigos,	e	acabo	dormindo	com	o	aparelho	ligado.
Há	 dois	 anos	 eu	 não	 sei	 o	 que	 é	 ter	 paz.	 E	 aqui	 estou,	 me	 olhando	 no
espelho	do	banheiro,	tentando	esquecer	o	meu	pior	pesadelo.	Desde	aquela	noite
eu	não	comemoro	mais	o	meu	aniversário.	Não	tenho	razão	para	festejar.	Como
eu	gostaria	de	ter	morrido!	É	errado	eu	ainda	ter	esses	tipos	de	pensamentos?	É
errado	 eu	 ainda	 me	 sentir	 suja?	 São	 tantos	 sentimentos	 contraditórios	 que	 eu
ando	sentindo!
No	 início,	 eu	 não	 conseguia	 dormir	 devido	 aos	 acontecimentos.	 Eu	 era
sedada	e	também	era	restringida	no	leito	do	hospital.	A	dor	que	eu	sinto	na	alma
é	 tão	 grande,	 que	 acabei	 tirando	 o	 soro	 da	 veia	 que	 estava	 me	 hidratando	 e
machucando-me	mais	ainda,	só	via	o	sangue	saindo	novamente,	e	sorria	entre	as
lágrimas	que	já	estavam	escorrendo.
Para	 mim	 era	 tão	 bom,	 porque	 a	 morte	 viria	 e	 me	 levaria	 do	 meu
sofrimento.	 De	 uma	 coisa	 eu	 tinha	 certeza:	 eu	 não	 saberia	 como	 viver	 com
aquilo.	 Só	 que	 eu	 não	 contava	 que	 as	 enfermeiras	 fossem	 entrar	 tão	 rápido	 e
gritando.	E	apaguei	novamente.
E	aqui	estou	eu	novamente	posicionada	no	mesmo	lugar,	onde	eu	tentei	me
matar	da	primeira	vez.	E	mais	uma	vez	não	funcionou.	Minha	irmã	foi	avisada
que	eu	tinha	tentado	novamente	me	matar.	Agora	ela	me	olha	chocada.
—	O	que	você	fez,	Duda?	—	ela	me	questiona,	com	lágrimas	nos	olhos.
—	Você	não	entende!	—	sussurro.
—	 Então	 me	 faça	 entender!	 —	 ela	 diz,	 séria.	 Tento	 me	 mexer,	 e	 não
consigo.	 Vendo	 o	 que	 eu	 estava	 fazendo,	 ela	 explica:	—	 Eles	 tiveram	 que	 te
amarrar.
—	Deu	para	perceber	—	resmungo.
—	Então,	vai	ou	não	me	fazer	entender	o	que	está	acontecendo	com	você?
—	Há	quanto	tempo	eu	estou	aqui?
—	Há	quase	dois	dias.	Você	se	lembra	daquela	noite?
—	Sim…	—	sussurro.
—	 Então	 é	 verdade?	 —	 ela	 me	 questiona,	 e	 sinto	 meu	 sangue	 fugir
completamente	do	meu	rosto.
—	Sim…	—	volto	a	sussurrar,	com	vergonha	de	mim	mesma.
—	Duda,	você	não	quer	saber	o	que	aconteceu	com	você?
—	Sinceramente,	acho	que	você	não	precisa	me	lembrar	do	que	aconteceu
exatamente	comigo!	—	sem	querer,	sou	grossa,	e	logo	estou	me	desculpando:	—
Me	perdoa,	não	queria	ser	grosseira.
—	Eu	sei	que	não!	Você	não	sabe	o	que	eu	senti	quando	te	vi	no	chão	do
banheiro	toda	ensanguentada.
Minha	 irmã	linda…	Ela	não	 tinha	 ideia	de	como	eu	a	admirava,	me	criou
desde	pequena,	a	nossa	diferença	é	de	dez	anos.
—	Me	perdoa!	—	peço	novamente,	e	ela	me	abraça,	colocando	a	cabeça	em
meu	colo.	Começa	a	chorar.	Muito.
—	Eu	pensei	que	você	estava	morta!	—	ela	sussurra.
—	Era	o	que	eu	queria	naquele	momento	—	confesso,	sentindo	as	lágrimas
dela	em	minha	barriga.
—	Não,	eu	não	quero	que	você	atente	mais	contra	a	 sua	vida!	—	ela	diz,
brava,	e	se	levanta.	Assim	pude	reparar	em	como	ela	estava	abatida.
—	Eu	preciso	morrer!
Ela	me	olha	chocada.
—	Nunca	mais	fale	uma	merda	dessas!
—	Você	acha	que	é	fácil?
—	Eu	imagino	que	não	deva	ser	fácil.
—	Não,	você	não	imagina!	—	praticamente	grito,	e	tento	me	controlar:	—
No	dia	do	meu	aniversário	eu	fui	estuprada!
—	Duda,	fica	calma	—	ela	pede,	ao	ver	como	estava	agitada.
—	Eu	não	posso	ficar	calma!	—	olho	firme	para	ela.	—	Além	de	ter	sido
violentada,	posso	estar	grávida	e	ainda	correr	o	risco	de	ter	pegado	uma	DST.
—	Eles	fizeram	o	teste	de	gravidez	e	DST.
—	E	qual	foi	o	resultado?	—	pergunto,	com	medo.
—	 O	 resultado	 mostra	 que	 você,	 Senhorita	 Sanches,	 não	 está	 grávida	 e
também	não	 contraiu	o	vírus	—	ouço	uma	voz	de	um	homem	e	 fico	 tentando
saber	 quem	 é.	 Não	 preciso	 muito,	 pelo	 jeito	 da	 minha	 irmã,	 que	 ficou	muito
vermelha.
—	Oi,	doutor	Leão	—	minha	irmã	diz,	ainda	corada.
Ele	abre	um	sorriso	que	acho	sensual	e	nos	cumprimenta.
—	Então	eu	não	estou	grávida?
—	Não	 senhorita!	Mas	 isso	 não	 significa	 que	 a	 senhorita	 não	 tenha	 que
tomar	a	pílula	do	dia	seguinte	e	muito	menos	o	coquetel,	pois	vai	 tomar	como
prevenção.
—	Mas	o	senhor	não	disse	que	eu	não	estou	grávida	e	também	não	contraí
DST?	Por	que	eu	tenho	que	tomar?	—	questiono,	já	ficando	nervosa.
—	Senhorita,	como	eu	estava	dizendo,	a	senhorita	tem	que	tomar,	e	vamos
fazer	mais	exames.	Você	também	vai	ser	acompanhada	por	um	psicólogo.
—	Eu	 não	 preciso	 de	 nenhum	 psicólogo	—	 respondo,	 grossa,	 e	 a	minha
irmã	me	olha	feio.
—	Ela	vai,	sim,	doutor	Leão!
—	Ótimo,	 a	 enfermeira	 já	 vai	 trazer	 as	 medicações,	 e	 vamos	 fazer	 logo
mais	exames.
—	Eu	estou	bem!	—	resmungo.
—	A	senhorita	passou	por	um	grande	 trauma,	e	sei	que	está	abalada,	mas
precisa	fazer	mais	exames	e	também	começar	a	tomar	a	medicação,	 tudo	bem?
—	 aceno	 a	 cabeça	 em	 concordância.	 Não	 demora	 muito,	 ele	 sai,	 e	 vem	 uma
enfermeira,	 e	 sou	 tirada	 da	 restrição.	 Foi	 assim	 que	 comecei	 a	 minha	 longa
jornada	para	esquecer	o	meu	pesadelo.
		
—	Dudaaaaaa!	—	ouço	a	minha	irmã	me	chamar	e	sou	tirada	do	passado.
Logo	desço	as	escadas	e	vejo-a	toda	arrumada.
—	Aonde	você	vai?	—	pergunto,	curiosa.
—	Eu	vou	trabalhar,	esqueceu?	—	ela	brinca.	—	E	a	senhorita	 tem	que	ir
para	a	aula,	e	não	se	esqueça	de	vir	logo	para	casa.
Ela	 me	 dá	 um	 beijo	 e	 sai	 correndo	 como	 louca.	 Minha	 irmã	 ama	 e	 ao
mesmo	 tempo	 odeia	 o	 trabalho	 como	 secretária	 do	 Senhor	 Leon	 Vitorino.
Sinceramente,	 eu	 ainda	 não	 o	 conheci,	 e	 nem	 quero.	 Minha	 irmã	 diz	 que	 o
homem	é	um	gato	e	que	eu	deveria	arrumar	um	namorado.
Decidi	que	nunca	vou	me	relacionar	com	ninguém.	O	medo	ainda	bate	em
mim	quando	algum	homem	se	aproxima.	Mesmo	sabendo	que	não	pode	me	fazer
nada	de	mal,	eu	ainda	fico	com	um	pé	atrás.
Pego	a	mochila	e	sigo	para	o	curso,	pedindo	mais	uma	vez	a	Deus	para	me
fazer	 esquecer	 de	 tudo	 que	me	 aconteceu.	 Será	 que	 é	 pedir	 muito?	 Solto	 um
longo	suspiro	triste.
Eu	andava	muito	estressado,	e	a	única	pessoa	que	me	aguentava	era	a	minha
secretária.	Acho	que	ela	merece	até	mesmo	um	bônus	por	me	aguentar	tanto.
—	 O	 que	 houve	 agora,	 Senhor	 Vitorino?	—	 ela	 me	 pergunta,	 com	 uma
calma	que	invejo.
—	Problemas,	Vanessa,	como	sempre!	—	digo,	querendo	tranquilizá-la.	Ela
era	a	única	mulher	que	não	 tentava	me	 levar	para	a	cama	ou	vice-versa.	Acho
que	ela	era	 imune	a	mim.	Meu	pau	nunquinha	 levantou	para	ela	em	saudação.
Acho	que	estou	ficando	velho	mesmo.
—	Então,	hoje	o	senhor	recebeu	a	ligação	da	Senhorita	Munhoz	—	ela	diz,
e	gemo	em	silêncio.	Essa	mulher	virou	mesmo	uma	praga.
—	O	que	ela	disse?
—	Para	o	senhor	ligar	para	ela	—	Vanessa	dá	de	ombros,	como	se	achasse
normal.
—	Depois	eu	retorno	—	mas	eu	não	iria	ligar	merda	nenhuma	para	aquela
louca.	Ela	cumpriu	mesmo	a	promessa	de	tornar	a	minha	vida	um	inferno.	Agora
a	louca	disse	que	estava	achando	que	eu	a	tinha	engravidado.
—	Bom,	o	 senhor	 tem	 reunião	com	os	 fornecedores	de	chocolate	daqui	 a
pouco	pelo	Skype	—	ouço	a	Vanessa	falando,	e	eu	pensando	em	como	me	livrar
da	Laura.
—	Droga,	tinha	me	esquecido	disso	—	comento,	já	estressado	por	isso.
—	Mas	eu	não!
Dou	um	sorriso.
—	OK,	 o	 que	mais	 temos	 hoje?	—	 pergunto,	 desejando	 estar	 de	 volta	 à
minha	cama.
—	Já	acertei	 tudo	com	o	Buffet	para	fazer	o	jantar	de	confraternização	de
fim	de	ano.
—	Sério?	—	olho-a	espantado.
—	Sério,	está	tudo	organizado	para	a	próxima	semana,	as	cestas	de	Natal	e
também	 as	 de	 chocolate	 estão	 sendo	 organizadas	—	 ela	 vai	 falando	 o	 que	 eu
tinha	para	hoje	e	também	o	que	adiantou.Ainda	estava	em	choque	com	ela,	por
ter	 resolvido	mais	 rápido	o	que	a	minha	antiga	secretária	 levaria	 semanas	para
fazer.
—	Meu	Deus,	mulher,	se	você	não	fosse	a	minha	secretária	eu	me	casava
com	você!
—	Não,	obrigada	—	ela	brinca,	e	dou	risada.	Sei	que	a	Vanessa	namora	um
médico.
—	Nossa,	você	magoou	o	meu	coração!	—	brinco,	piscando	o	olho.
—	Hã…	sei!	—	ela	ri,	e	continua:	—	Eu	não	faço	o	seu	tipo,	e	mesmo	que
fizesse	estou	muito	feliz	com	o	meu	namorado.
—	Nossa,	assim	não	tem	como	competir,	não	—	brinco	novamente.
Vanessa	era	a	única	mulher	de	quem	eu	gostava,	e	que	não	queria	abrir	as
pernas	para	eu	foder.
—	Vanessa,	há	quanto	tempo	você	trabalha	para	mim?
—	Hum…	—	ela	fica	pensativa	e	depois	abre	um	sorriso:	—	Já	tem	um	ano
e	meio,	por	quê?
—	Por	 nada,	 não,	 só	 curiosidade	mesmo.	 E	 aí,	 vai	 trazer	 alguém	 da	 sua
família?
—	Estou	vendo	se	convenço	a	minha	irmã	a	vir.
—	Sério?	Eu	gostaria	muito	de	conhecê-la.
—	Vamos	ver	se	ela	vem,	ela	é	meio	reclusa.
—	Bom,	me	avisa,	que	mando	fazer	uma	cesta	para	ela	também.
—	Ah,	 não	 se	 preocupe,	 não,	 a	Duda	 come	os	meus	 chocolates	—	 ri.	—
Bom,	vou	 lá	para	a	minha	mesa,	e	o	senhor	 já	 faça	a	chamada	 logo,	antes	que
seus	fornecedores	e	diretores	fiquem	putos	com	o	senhor	—	ela	volta	a	brincar,	e
me	deixa	sozinho.
Abro	 o	 meu	 Skype,	 e	 não	 demora	 muito	 aparecem	 os	 diretores,	 e
começamos	a	 falar	 sobre	a	minha	empresa	de	chocolate.	Graças	a	Deus,	 tenho
ótimas	vendas.
Algumas	horas	depois…
Eu	me	estico	na	cadeira.	Estava	 todo	dolorido.	Não	 tinha	comido	nada,	 e
não	demora	muito	a	Vanessa	entra	com	o	meu	almoço.	Minha	boca	se	enche	de
água.
—	Vanessa,	preciso	me	casar	com	você!	—	volto	a	brincar	ao	ver	que	ela
tinha	feito	pedido	de	arroz	branco	com	strogonoff	de	frango	e	batata	palha	e	um
suco	de	laranja.
—	Eu	já	disse	que	não	quero	me	casar	com	você	—	ela	rebate,	ironizando,	e
deixa	a	comida.	Volto	para	a	mesa	e	ataco.	Deus,	aquilo	estava	muito	bom.
Não	demoro	muito	e	já	acabo	com	a	comida	e	o	suco.	Levanto-me	e	vou	ao
banheiro,	onde	tenho	uma	nécessaire	com	as	minhas	coisas	pessoais.
Volto	para	a	minha	mesa	e	continuo	a	trabalhar	até	o	fim	do	expediente.	Sou
novamente	interrompido	quando	a	Vanessa	entra	para	me	avisar	que	estava	indo
embora.
—	Também	 já	vou	—	aviso,	 e	 logo	nos	despedimos.	Fico	ainda	mais	um
pouco	 no	 escritório.	 Quando	 vou	 embora,	 em	 vez	 de	 ir	 atrás	 de	 um	 “rabo	 de
saia”,	sigo	para	casa.
A	 empresa	 da	 qual	 eu	 sou	 presidente	 foi	 fundada	 pelo	 meu	 pai,	 agora
aposentado.	Ele	sempre	dizia	que	o	chocolate	é	mais	do	que	afrodisíaco,	é	amor,
e	quando	você	ama	uma	pessoa	você	a	presenteia	com	chocolates.	Foi	assim	que
ele	conheceu	a	minha	mãe,	dando	chocolates	como	presente.
Chego	logo	em	casa	e,	como	sempre,	a	Olívia	já	deixou	a	janta	preparada.
Subo	 para	 o	 meu	 quarto	 e	 tomo	 um	 longo	 banho.	 Quando	 estou	 saindo	 do
chuveiro,	o	meu	celular	toca.	Reparo	que	é	a	minha	mãe	e	atendo.
—	Oi,	mãe,	boa	noite!	—	a	cumprimento.
—	Filho	desnaturado!	—	ela	se	queixa,	e	dou	risada.
—	Mãe,	pelo	amor	de	Deus,	eu	te	vi	no	final	de	semana!	—	replico,	ainda
rindo.
—	Filho,	eu	tenho	saudades	de	você!	—	ela	diz,	em	tom	de	queixa.
—	Eu	também	te	amo!	—	respondo,	tentando	imaginar	por	que	ela	estava
me	ligando.
—	 Meu	 filho,	 você	 precisa	 arranjar	 uma	 bela	 mulher	 —	 lá	 vinha	 ela
novamente	com	essa	história.
—	Mãe,	você	 sabe	que	eu	nunca	vou	me	casar	—	 lembro-a,	 e	penso	que
também	nunca	vou	amar	ninguém.
—	Meu	filho,	escuta	o	que	eu	vou	te	dizer!	Não	vai	demorar	e	você	logo	vai
conhecer	uma	boa	pessoa	e	com	certeza	vai	se	apaixonar.
—	Mãe,	não	fui	feito	para	o	amor	—	confesso,	sentindo	pela	primeira	vez
uma	solidão.
—	Bobagem,	meu	filho!	Todo	mundo	foi	 feito	para	amar,	e	você	 também
vai	amar	alguém	algum	dia	—	ela	fala	com	tanta	convicção,	que	quase	acredito
nela.
E	 fiquei	 mais	 uma	 noite	 sem	 dormir.	 Acho	 que	 isso	 está	 virando	 rotina
mesmo.	Aqui	estou,	sentada	na	cama	com	os	joelhos	dobrados	tentando	relaxar,
mesmo	sabendo	que	não	iria	conseguir.
Olho	 para	 o	 relógio	 do	 criado-mudo	 e	 reparo	 que	 já	 são	 quase	 cinco	 da
manhã.	 Resolvo	me	 levantar,	 sigo	 para	 a	 cozinha	 e	 começo	 a	 fazer	 o	 café	 da
manhã.	Logo	a	Vanessa	iria	acordar,	com	uma	baita	fome.
Às	vezes	eu	tenho	uma	grande	inveja	dela.	Minha	irmã	é	perfeita	em	tudo.
Tem	 um	 corpo	 de	 dar	 inveja.	 Lindos	 cabelos	 negros	 e	 compridos.	 Somos
completamente	diferentes,	eu	sou	ruiva	de	cabelos	ondulados.
Vanessa	 sempre	 fala	 que	puxei	 à	 nossa	mãe	—	que	Deus	 a	 tenha	 em	um
bom	lugar.	Às	vezes	é	difícil	pensar	que	nossos	pais	acabaram	morrendo	em	um
acidente	de	avião	alguns	anos	atrás.
Faço	um	café	não	muito	forte	e	começo	a	tomar,	sentindo	logo	o	seu	sabor
maravilhoso.	 Fico	 ali	 mergulhada	 em	 pensamentos	 profundos,	 quando	 dou	 de
cara	com	a	Vanessa.
—	Você	está	aí	parada	há	muito	tempo?	—	pergunto,	curiosa.
—	Na	verdade	não.	Perdeu	o	sono?
—	Sinceramente,	nem	dormi	ainda.
—	Você	teve	pesadelos	novamente?
—	Sim.
—	Duda,	você	precisa	procurar	ajuda	novamente.
—	Eu	não	 acho	que	preciso	—	desconverso.	Não	me	 sinto	 bem	em	 ficar
falando	da	minha	vida	para	um	desconhecido.
—	Duda,	minha	irmã,	é	claro	que	precisa!
—	Melhor	mudarmos	de	assunto.
—	OK,	por	ora	vamos	deixar	quieto	—	ela	cede,	e	dou	graças	a	Deus.
—	 Me	 conta	 sobre	 a	 festa	 do	 trabalho,	 vai	 me	 trazer	 chocolate?	 —
pergunto,	não	vendo	a	hora	de	comer	aqueles	chocolates	maravilhosos.
—	Então,	 já	 fechei	o	Buffet,	e	as	cestas	estão	preparadas	com	chocolates,
fora	a	nossa	cesta	de	Natal.
—	Oh,	delícia,	Vane,	eu	amo	aqueles	chocolates.
—	Eu	sei,	e	estava	falando	com	o	meu	chefe	sobre	você	—	ela	diz,	sem	me
olhar.
—	Vane!	—	alerto-a,	e	olho	feio	para	ela,	que	me	olha	como	se	não	tivesse
falado	nada.
—	Fique	tranquila,	eu	não	estou	querendo	juntar	vocês	dois,	não!
—	Isso	é	muito	bom	—	fico	mais	tranquila.
—	 Então,	 deixa	 te	 contar,	 ele	 pediu	 para	 te	 convidar	 para	 ir	 à	 festa	 dos
funcionários.
—	Ah,	é	claro	que	você	disse	que	eu	não	iria,	né?
—	Então…	—	ela	demora	para	responder,	e	volto	a	olhar	feio	para	ela.
—	Droga,	Vane!	—	desde	que	fui	violentada,	peguei	um	tipo	de	trauma,	ou
melhor,	vários,	e	um	deles	é	sair	de	casa	para	ir	a	alguma	festa.
—	 Ei,	 não	 falei	 nada,	 só	 disse	 que	 eu	 precisava	 te	 perguntar	 —	 ela	 se
defende.
—	Hum,	sei	—	olho-a	desconfiada.
—	 Mas	 é	 verdade,	 e,	 sinceramente,	 eu	 acho	 que	 está	 na	 hora	 de	 você
começar	a	sair.
—	Vane,	eu	ainda	não	me	sinto	pronta.
—	Duda,	se	você	não	sair	de	casa,	nunca	vai	achar	que	está	pronta!
Eu	sei	que	o	que	ela	está	dizendo	é	verdade.	O	único	problema	é	que	toda
vez	que	sou	convidada	para	ir	a	alguma	festa	ou	mesmo	um	barzinho	eu	tenho
algum	tipo	de	bloqueio.
—	Duda,	acorda!	—	Vane	me	chacoalha.
—	O	que	houve?	—	pergunto,	sem	entender	nada.
—	Parecia	que	você	estava	em	transe	—	ela	brinca.
—	Estava	pensando	no	que	você	estava	dizendo.
—	E	aí,	você	vai?	—	ela	pede,	toda	esperançosa.
—	Ainda	não	decidi.
—	Duda,	vamos	fazer	o	seguinte,	que	tal	a	gente	ir	ao	shopping	depois	do
trabalho?	—	Vane	pergunta,	 toda	animada,	e	não	quero	estragar	a	alegria	dela,
então	decido	ceder	por	ora.
—	Eu	te	encontro	lá	no	shopping,	o	que	acha?
—	O	que	acha	de	você	ir	me	encontrar	lá	no	serviço?
—	Bom…	não	sei.
—	 Ora,	 vamos,	 ninguém	 vai	 morder	 você!	 —	 ela	 brinca,	 e	 fico	 com	 a
sensação	de	que	isso	poderia	acontecer.
—	 OK,	 OK!	 Eu	 te	 encontro	 lá	—	 respondo,	 já	 me	 arrependendo	 de	 ter
concordado	com	esse	passeio.
—	Ótimo!	Eu	quero	comprar	uma	roupa	bem	bonita	para	sair	com	o	meu
doutor	—	Vane	fala,	bem	sonhadora.
Minha	irmã	acabou	mesmo	namorando	o	meu	médico.	É	claro	que	isso	não
podia	acontecer	quando	eu	estava	internada.	Mas	isso	não	foi	empecilho	para	o
meu	ex-médico,	que	agora	é	meu	cunhado	e	amigo.
Ele	é	o	único	homem	que	eu	deixo	se	aproximar	de	mim.	Sei	que	ele	não
me	faria	mal.	Eu	devo	muito	ao	doutor	Lucas	Leão,	meu	futuro	cunhado.
—	Vane,está	na	hora	de	vocês	dois	oficializarem	a	união,	não?	—	brinco,
sabendo	que	ela	sempre	fala	nisso.
—	Sim!	—	ela	concorda,	toda	emocionada.
—	Graças	a	Deus!
—	Então,	ele	me	convidou	para	jantar	amanhã,	acho	que	ele	vai	me	fazer	a
proposta.
—	Você	merece	tanto,	minha	irmã!	—	falo,	com	sinceridade.
—	E	você	também,	Duda,	é	só	deixar	o	amor	bater	à	porta.
Olho	para	o	relógio	e	vejo	que	são	seis	horas	da	manhã.
—	Bom,	vamos	mudar	de	assunto,	preciso	tomar	um	banho	e	me	arrumar,
daqui	a	pouco	eu	tenho	que	ir	para	o	curso	—	desconverso,	me	levantando	e	indo
em	direção	às	escadas,	quando	a	ouço	me	chamando.	Finjo	que	não	a	ouço,	mas
quando	já	estou	no	primeiro	degrau	escuto	o	grito	dela.
—	Duda!	—	percebo	a	advertência	em	sua	voz.
—	O	que	foi?	—	me	faço	de	desentendida.
—	Você	sabe	que	não	pode	fugir	para	sempre!
Eu	sei	que	não,	e	só	respondo:
—	Sim,	eu	sei!	—	e	subo	correndo,	não	querendo	responder	a	mais	nada.
Chego	à	fábrica	e	logo	sinto	o	aroma	de	chocolate	vindo	em	minha	direção.
Gemo	de	prazer.	Amo	chocolate.	Nossa,	e	ele	usado	no	meu	pau	fica	perfeito!
Entro	no	elevador	e	logo	ouço	um	grito	pedindo	para	segurar	a	porta.	Como
todo-cavalheiro	 que	 eu	 sou,	 seguro-a.	 Logo	 vem,	 praticamente	 descabelada,	 a
minha	secretária.
—	Oh,	não	acredito	que	é	você	—	brinco.
—	Quem	você	achava	que	era?	A	Branca	de	Neve?	—	ela	ironiza.
—	Nossa,	o	que	deu	em	você?	—	eu	tenho	que	a	tratar	bem,	senão	é	bem
capaz	de	ela	colocar	veneno	no	meu	café.
—	Mal	dormi	—	ela	resmunga.
—	Bom,	isso	dá	para	ver	na	sua	cara	—	brinco,	e	recebo	um	olhar	mortal.
Fico	em	silêncio.
—	Não	começa,	Leon!
—	Você	não	quer	me	contar	por	que	não	dormiu?
—	Minha	 irmã	 teve	 pesadelos	 novamente	—	 ela	 dá	 de	 ombros,	 como	 se
fosse	normal.
—	Nossa,	ela	deve	ter	passado	por	algo	bem	pesado	mesmo!
—	Sim,	as	coisas	para	ela	não	foram	fáceis.
—	Sua	irmã	deve	ter	assistido	a	algum	filme	de	terror	—	brinco,	querendo
aliviar	o	clima,	que	de	repente	ficou	tenso.
—	Quem	dera!	—	ela	diz,	triste.
—	Você	não	quer	me	contar?
Quando	ela	ia	responder,	as	portas	do	elevador	se	abrem,	e	deixo	a	Vanessa
sair	primeiro.	Ela	segue	para	a	copa,	e	vou	também.
Vanessa	está	muito	quieta,	e	eu	não	quero	forçá-la.	E	ali	fico,	observando-a
fazer	o	café.	Logo	a	máquina	libera	um	aroma	delicioso.
—	Eu	quero	café,	Vane	—	peço,	e	ela	toma	um	susto.
—	 Meu	 Deus,	 homem,	 não	 me	 assuste	 assim,	 não!	 —	 ela	 diz,	 brava,
colocando	a	mão	no	coração.
—	Desculpa,	mas	você	está	muito	calada.
—	Me	desculpa,	eu	estava	perdida	em	meus	pensamentos.
—	Fica	tranquila.
Ela	agradece	e	logo	está	me	servindo	uma	caneca	de	café.	Do	nada,	diz:
—	Leon,	minha	irmã	vai	vir	aqui	hoje.
—	 Sem	 problema	—	 concordo	 com	 tudo,	 não	 quero	 a	 minha	 secretária
chateada	mesmo	não	sendo	eu	o	culpado.	Porque	ela	zangada	ou	chateada	é	uma
coisa	do	demônio.
—	Que	bom!	—	ela	abre	um	sorriso,	e	fico	aliviado	que	agora	ela	está	mais
tranquila.
—	E	aí,	pronta	para	o	Natal?
—	Sim,	em	casa	vai	 ser	 como	 todo	ano,	 só	que	agora	meu	namorado	vai
passar	com	a	gente.
—	Vane,	posso	te	fazer	uma	pergunta?	—	questiono,	meio	receoso.
—	Ah,	é	claro.
—	Por	que	você	nunca	fala	dos	seus	pais?
—	Bom,	 não	 sou	mesmo	 de	 comentar,	 meus	 pais	 morreram	 alguns	 anos
atrás	em	um	acidente	de	avião,	e	ficamos	a	minha	irmã	e	eu.
—	Nossa,	eu	não	sabia	—	respondo,	meio	sem	graça.
—	Fique	tranquilo,	aconteceu	há	alguns	anos	já.
—	Bom,	 vamos	mudar	 de	 assunto,	 que	 hoje	 vou	 dar	 uma	 volta	 para	 ver
como	andam	os	chocolates.	Você	vem	comigo?
—	 Não,	 obrigada,	 já	 fiquei	 muito	 de	 papo-furado,	 e	 meu	 chefe,	 quando
aparecer,	vai	me	dar	a	maior	bronca	—	ela	brinca,	piscando	o	olho.
—	Ah,	ele	é	de	boa!	—	respondo	à	brincadeira,	e	ela	ri.
Vou	para	a	minha	sala.	Hoje	é	o	dia	de	fazer	verificação	na	fábrica,	e	para
deixar	uma	boa	 aparência	 acabei	vestindo	um	 terno,	 sem	gravata.	Não	estou	 a
fim	de	morrer	cozido,	aliás,	não	vejo	a	hora	de	tudo	acabar	e	ir	para	casa,	o	dia
mal	começou	e	já	estou	cansado.
Quando	estou	saindo	para	ir	fazer	a	vistoria	pela	fábrica,	o	meu	celular	toca.
Atendo	sem	nem	ver	quem	era.
—	Alô?
—	 Oi,	 meu	 amor,	 estou	 morrendo	 de	 saudades	 de	 você!	—	 ouço	 a	 voz
melosa	da	Laura.
—	O	que	você	quer,	Laura?	—	me	arrependo	de	ter	atendido	à	ligação	e	tiro
o	 celular	do	ouvido.	Olho	para	o	número	de	 chamada	 ativo	 e	percebo	que	 era
restrito.	Oh,	merda.
—	Você	não	veio	mais	me	ver!	—	ela	se	queixa.
—	Laura,	a	gente	terminou.
—	Meu	amor,	você	deve	estar	enganado,	nós	apenas	tivemos	uma	pequena
discussão.
—	Laura,	você	enlouqueceu?
—	É	claro	que	não!
—	Pois	para	mim	parece	que	sim!
—	Leon,	como	você	pode	falar	assim	com	a	mãe	do	seu	filho?	—	ela	diz,
agora	com	voz	de	choro.
—	Que	filho?	Você	não	está	grávida	porra	nenhuma!	—	grito,	perdendo	a
paciência.
—	É	claro	que	estou!
—	Laura,	você	precisa	se	tratar,	é	sério!
—	Escuta	o	que	vou	te	falar,	se	eu	descobrir	que	você	está	me	traindo,	vou
acabar	com	a	sua	raça	—	a	puta	louca	desliga	na	minha	cara,	e	jogo	o	celular	em
cima	da	mesa.	Percebo	que	a	Vanessa	está	parada	na	porta	do	escritório.
—	Problemas?	Eu	sei	que	está	estressado,	mas	precisa	 fazer	a	verificação
na	fábrica.
—	Obrigado,	Vane!
E	assim	foi	o	meu	dia,	que	começou	um	desastre,	 resolvendo	pepinos.	As
horas	 passaram	 tão	 rápido,	 que	 quando	 volto	 para	 a	minha	 sala	 encontro	 uma
bela	jovem	ruiva,	e	meu	pau	resolve	dar	sinal	de	vida	—	e	eu	pensando	que	ele
não	iria	mais	ficar	ereto	depois	das	loucuras	da	Laura.	Acho	que	me	enganei.
Ela	 estava	 conversando	 com	 a	minha	 secretária,	 e	 fico	 imaginando	 quem
seria	aquela	mulher.	É	quando	a	Vanessa	me	vê	e	diz:
—	Leon,	venha	conhecer	a	minha	irmã!
A	 sua	 irmã	 se	 vira,	 e	 naquele	momento	 eu	 soube	 que	 estava	 encrencado:
acabei	de	me	apaixonar	pela	irmã	da	Vane,	e	de	uma	coisa	eu	já	tenho	certeza:
ela	logo	será	minha!
Depois	que	minha	irmã	sai	para	ir	ao	trabalho,	eu	fico	em	casa	pensando	no
que	ela	disse.	Ligo	para	o	meu	cunhado.
—	Oi,	Duda,	como	está?
—	Bem,	Lucas,	graças	a	Deus!	Está	ocupado?
—	Para	minha	cunhadinha,	nunca!	Em	que	posso	ajudar?
—	Lucas,	estava	pensando	no	que	a	minha	irmã	falou.
—	O	que	ela	disse?
—	Que	 eu	 tenho	 que	 sair	 de	 casa	 e	 me	 divertir,	 e	 também	 falou	 que	 já
passou	da	hora	de	eu	procurar	ajuda.
—	Duda,	a	sua	irmã	está	certíssima,	eu	mesmo	já	tinha	comentado	com	ela
sobre	isso.	E	então,	você	está	disposta	a	se	ajudar?
Eu	penso,	e	sim,	está	na	hora	de	me	curar,	mesmo	que	poderia	demorar	um
pouco,	mas	eu	logo	ficaria	bem.
—	Alô,	Duda?
—	Desculpa,	e,	respondendo	à	sua	pergunta,	sim,	estou	querendo	me	curar.
—	Maravilha,	eu	posso	te	indicar	uma	psicóloga.
—	Eu	agradeço!
—	Depois	te	ligo	—	nos	despedimos.
Volto	para	a	cozinha	e	guardo	o	que	restou	do	café,	limpando	tudo.
Assim	 que	 termino,	 subo	 para	 o	 quarto	 e	 tomo	 um	 banho	 rápido.	 Saio
correndo,	para	não	chegar	atrasada	ao	meu	curso.
Eu	 não	 poderia	 saber	 se	 foi	 intuição	 ou	 prevenção,	mas	 sinto	 alguém	 se
sentando	ao	meu	lado,	e	nem	preciso	me	virar	para	ver	que	é	o	idiota	do	Pedro.
—	Ora,	ora,	se	não	é	a	esquisita!
E	 ali	 fiquei,	 tranquila,	 ou	melhor,	 tentando	 ficar	 tranquila	 com	uma	peste
bem	 do	 meu	 lado.	 Não	 estava	 dando	 certo	 mesmo.	 O	 babaca	 andava	 me
perturbando	muito	com	brincadeiras	idiotas	e	decidiu	ficar	no	meu	pé.
—	Pedro,	me	deixa	em	paz!	—	peço,	já	perdendo	a	paciência.
—	Sabe,	quanto	mais	você	me	despreza,	mais	fico	gamado	em	você!	—	ele
diz,	e	sinto	ânsia	de	vômito.
—	Você	é	nojento	—	comento,	com	desprezo.
—	Qualquer	 hora	 vou	 te	 ensinar	 uma	 bela	 lição!	—	 ele	 fala,	 em	 tom	 de
ameaça,	 e	 gelo	 na	 hora,	 tenho	 certeza	 de	 que	 fiquei	 pálida.	 Pego	 as	 minhas
coisas	e,	sem	olhar	para	ele,	acabo	me	mudando	de	mesa.	Quando	acho	que	vou
ficar	tranquila,	a	praga	volta	a	me	atormentar.
—	O	que	você	quer,	Pedro?
—	Você	ainda	não	entendeu,	né?	—	ele	provoca.
—	Não,	 e	 nem	 quero	—	me	 levanto	 e	 saio	 de	 perto	 dele,	 ouvindo-o	 rir.
Quando	acho	quea	praga	vai	vir	para	o	meu	lado	novamente,	o	professor	chega,
e	sinto	um	alívio	muito	grande.
—	 Você	 está	 bem,	 Maria	 Eduarda?	—	 o	 professor	 pergunta,	 ao	 me	 ver
quieta.
—	Hã…	 Estou,	 professor!	—	 respondo,	 com	 voz	 trêmula,	 e	 o	 professor
começa	a	passar	a	matéria.	Fico	ali,	ainda	em	transe.
As	horas	vão	passando.	Hoje	com	certeza	não	prestei	atenção	a	nada	que	foi
passado,	e	não	posso	ficar	desse	jeito.
O	professor	dispensa	todo	mundo	e	me	chama:
—	Algum	problema,	Maria	Eduarda?	Você	é	uma	das	alunas	mais	aplicadas
no	 curso	 de	 Administração,	 e	 hoje	 você	 não	 estava	 tão	 presente	 como	 é	 nas
outras	aulas.	Tem	certeza	de	que	está	bem?
O	 que	 eu	 devo	 dizer?	 “Olha,	 professor,	 fui	 violentada	 há	 dois	 anos,	 e	 o
babaca	 do	 seu	 aluno	 fez	 insinuações	 sexuais	 dando	 a	 entender	 que	 quer	 me
foder”?	Não	 posso	 falar	 uma	 coisa	 dessas,	 porque	 por	 incrível	 que	 pareça	 é	 a
minha	palavra	contra	a	dele.
—	Nenhum,	professor.	Posso	ir?
—	Sim,	está	dispensada.
Agradeço	e	saio	correndo,	com	a	sensação	de	que	estou	sendo	seguida,	mas
olho	para	trás	e	não	vejo	ninguém.	Pode	ser	impressão	minha.
Volto	para	casa	o	mais	rápido	possível.	Quando	chego,	tranco	tudo	e	subo
correndo	 as	 escadas.	Vou	 para	 o	meu	 quarto	 e	 o	 tranco	 também.	 Pode	 até	 ser
mesmo	paranoia,	mas	não	quero	pagar	para	ver.
Sento	no	chão	do	quarto	e	começo	a	chorar,	e	muito.	Eu	não	posso	passar
por	aquilo	novamente.	Quando	decido	que	eu	poderia	finalmente	tentar	esquecer,
o	babaca	do	Pedro	resolveu	deixar	as	manguinhas	de	fora.
Desde	que	comecei	o	curso,	sempre	evitei	qualquer	contato	com	os	colegas.
Se	 eles	 chegam	 muito	 perto,	 sem	 querer	 acabo	 travando	 e	 fico	 morrendo	 de
medo.
—	 Minha	 Nossa	 Senhora,	 me	 ajude	 a	 superar	 esse	 pesadelo	 —	 peço,
olhando	 para	 a	 imagem	 que	 a	 nossa	 mãe	 colocou	 no	meu	 quarto.	—	 Eu	 não
quero	mais	sofrer,	preciso	esquecer	—	e	desabo	a	chorar	novamente.	E	ali	fico
durante	algum	tempo,	depois	seco	as	lágrimas	ao	lembrar	que	estava	sem	comer
nada	e	desço	para	preparar	algo.	Assim	que	termino,	limpo	tudo	e	volto	para	o
meu	quarto,	 onde	me	 tranco	novamente.	O	meu	 celular	 toca,	 e	 a	 única	pessoa
que	me	liga	é	a	Vanessa.
—	Oi,	Vane!	—	cumprimento-a.
—	Aqui	não	 é	 a	Vane	—	diz	uma	voz	 abafada,	 e	 começo	 a	 tremer	 como
vara	curta.
—	Quem	é	você?	—	pergunto,	trêmula.
—	Ah,	 sou	 a	 pessoa	 que	 vai	 infernizar	 a	 sua	 vida,	 vadia!	—	 ele	 desliga.
Bloqueio	o	número	e	volto	a	chorar,	 imaginando	que	deveria	 ser	aquela	peste.
Como	ele	conseguiu	meu	número?
Meu	Deus,	mais	uma	vez	não!	Corro	para	o	banheiro	e	jogo	toda	a	comida
que	tinha	comido	no	vaso.	E	fico	ali	um	bom	tempo.	Quando	acho	que	não	vai
sair	 mais	 nada,	 pego	 a	 minha	 escova	 e	 escovo	 os	 dentes	 para	 tirar	 o	 gosto
amargo	do	vômito.
Assim	que	termino,	ligo	o	chuveiro	e	entro,	deixando	a	água	quente	cair	em
meu	corpo.	Lavo-me	querendo	tirar	a	sujeira	que	estava	não	no	meu	corpo,	mas
na	alma.
Não	querendo	deixar	a	minha	irmã	preocupada,	saio	correndo	do	banheiro,
me	troco	rápido,	pego	a	bolsa	e	saio	correndo.	Logo	vejo	um	táxi,	entro	nele	e
passo	o	endereço.
Não	demoro	a	chegar.	Quando	o	faço,	pago	o	motorista,	agradeço	e	entro	no
prédio.	Aviso	na	recepção	que	vim	encontrar	com	a	minha	irmã,	e	não	deu	cinco
minutos	já	estava	frente	a	frente	com	ela.	Abraço-a,	e	estamos	brincando	quando
ela	fala,	sobre	o	meu	ombro:
—	 Leon,	 venha	 conhecer	 a	 minha	 irmã!	 —	 dou-lhe	 um	 olhar	 de
advertência,	e	quando	me	viro	dou	de	cara	com	o	homem	mais	perfeito	que	eu	já
vi	na	minha	vida.
Ele	parecia	o	deus	Adônis,	o	deus	da	beleza,	e	uma	coisa	eu	posso	dizer:
nunca	fiquei	tão	excitada	e	ao	mesmo	tempo	confusa	por	causa	de	um	homem.	A
minha	 calcinha	 tinha	 acabado	 de	 inundar	 só	 de	 ver	 aquele	 deus	 ali	 na	minha
frente.
O	andar	dele	era	de	predador,	e	fez-me	andar	para	trás.	Não	sei	o	que	está	se
passando	comigo,	mas	uma	coisa	eu	posso	dizer	de	olhos	fechados:	ele	nunca	me
faria	mal.	O	seu	olhar	tinha	o	poder	de	me	levar	direto	para	os	seus	braços,	e	fico
chocada	com	esses	pensamentos.
E	 ali	 ficamos,	 nos	 olhando	 durante	 um	 bom	 tempo,	 era	 como	 se
estivéssemos	presos	em	uma	bolha	só	nossa,	e	eu	não	queria	sair	dela.
Ela	 é	 a	mulher	mais	 linda	 que	 já	 conheci.	Nunca	 fui	 ligado	 em	 ruivas,	 e
agora	sei	que	tenho	preferência,	ou	melhor,	por	ela.	Que	corpo	é	esse?	Nunca	fui
ligado	 em	 mulher	 cheinha,	 e	 agora	 posso	 dizer	 que	 amo	 mulher	 gordinha	 e
fofinha,	com	carne	onde	posso	segurar	para	poder	foder	bem	gostoso.
Mal	conheci	essa	mulher	e	não	vejo	a	hora	de	tê-la	em	minha	cama	e	fazer
amor	com	ela,	tão	delicado	e	ao	mesmo	tempo	foder	seu	corpo	com	gosto.	Como
não	a	conheci	antes?
—	 Ei,	 está	 tudo	 bem?	 —	 pergunta	 Vanessa,	 e,	 com	 um	 esforço	 sobre-
humano,	 paro	 de	 olhar	 essa	 bela	 rainha	 e	me	 concentro	 em	 sua	 irmã.	Vanessa
está	me	olhando	com	curiosidade.
—	Sim,	estou	bem!	—	respondo,	e	me	aproximo	delas,	e	a	minha	rainha	se
afasta,	como	se	estivesse	com	receio.	Acho	isso	estranho	e	olho	novamente	para
ela,	 percebendo	 que	 está	 com	 sinais	 de	 que	 tinha	 chorado.	 Aquilo	 me
incomodou,	e	muito.
—	Que	bom.	Deixa	te	apresentar	a	minha	irmã,	Leon	—	ela	diz,	alegre,	e
sorrio	com	a	sua	animação:	—	Essa	é	a	Maria	Eduarda.
—	Muito	prazer,	Leon	Vitorino,	ao	seu	dispor!	—	cumprimento-a	com	um
belo	sorriso.	Estendo	a	mão	para	ela,	que	me	olha	meio	sem	jeito,	e	fico	ali	um
bom	tempo	esperando	o	cumprimento.	Quando	estou	para	desistir,	ela	estende	a
mão	pequena	e	bem	rápido.	Toco	nela	em	um	cumprimento.
—	Prazer	é	meu,	Senhor	Vitorino.
Porra,	 que	 voz	 é	 essa	 que	 ela	 tem?	 Sexy	 pra	 caramba.	 Não	 preciso	 nem
olhar	 para	 o	 meu	 pau	 para	 saber	 que	 ele	 já	 está	 ali	 de	 pé	 como	 se	 estivesse
reverenciando	a	sua	rainha.
—	Pode	me	chamar	de	Leon!	—	peço,	querendo	que	ela	dissesse	meu	nome
só	para	saber	como	sairia	daquela	boca.
—	OK,	Leon!
Droga,	 eu	 poderia	 ficar	 ali	 só	 ouvindo	 a	 sua	 voz	 sexy.	 Ela	 me	 olha	 nos
olhos,	e	é	quando	tenho	a	confirmação	de	que	ela	esteve	mesmo	chorando.	Será
que	foi	por	algum	namoradinho?
Ela	não	pode	ter	um	namorado.	Eu	não	quero	que	ela	tenha.	Quero-a	para
mim,	 e	 farei	 de	 tudo	 para	 conquistar	 o	 seu	 coração.	 Mesmo	 que	 essa	 minha
rainha	tenha	um	namorado,	irei	tratar	logo	de	fazer	com	que	eles	terminem	essa
relação.
—	Vane,	falta	muito	para	você	sair?	—	ela	pergunta,	e	solta	a	minha	mão,	e
eu	sinto	a	falta	do	seu	contato.	Para	um	homem	da	minha	idade,	ter	esses	tipos
de	sentimentos	é	bem	perturbador.
—	Ah,	não,	já	estou	encerrando.
Olho	para	o	relógio	do	corredor	e	percebo	que	estava	mesmo	se	encerrando
o	expediente.	Não	queria	que	ela	fosse	embora,	queria	ela	ali	comigo.
—	Que	bom	—	ela	diz,	me	olhando	meio	sem	jeito.	Estava	corada.	Como
ela	ficava	mais	linda	corada	daquele	jeito!	Como	queria	experimentar	a	sua	boca
para	saber	o	seu	gosto.
—	Leon,	 você	 pode	 ficar	 fazendo	 companhia	 para	 a	minha	 irmã?	—	 ela
pergunta,	e	pisca	o	olho	para	mim.	Essa	Vanessa	é	muito	esperta	mesmo.
—	Então,	me	conta	um	pouco	sobre	você?	—	pergunto,	curioso	por	saber
mais	sobre	a	vida	da	minha	rainha.
—	 Bom,	 não	 tenho	 nada	 de	 interessante	 sobre	 a	 minha	 vida	—	 ela	 diz,
quase	em	um	sussurro.
—	Em	minha	opinião,	você	tem	—	ela	olha	para	mim	surpresa.
—	Não	tenho.
—	 Me	 conta,	 você	 estuda?	 Quantos	 anos	 você	 tem?	 —	 solto	 rápido	 as
perguntas.
—	Por	acaso	eu	estou	passando	por	uma	entrevista?
—	Não,	a	menos	que	você	queira	vir	trabalhar	comigo	—	flerto	com	ela.
—	Não,	obrigada!	—	ela	responde	rápido.
—	Caramba,	você	não	gostou	daqui,	não?
—	Imagina,	desculpa	se	eu	te	dei	a	impressão	errada,	Senhor	Vitorino.
—	Já	pedi	para	me	chamar	de	Leon.
—	Ah,	sim,	é	claro!	Desculpa,	novamente	—	ela	dá	um	sorriso	tímido.
—	 Então,	 não	 vai	 me	 contar?	—	 ela	 olha	 para	 a	 minha	 boca	 fixamente,
como	se	estivesse	concentrada.
—	Hã…	Desculpa,	fiquei	distraída.	Eu	não	viria	trabalhar	aqui	só	por	causa
dos	chocolates.—	Ufa,	que	alívio	—	brinco,	e	ela	me	olha	curiosa.
—	Por	quê?
—	Pensei	que	você	não	viria	trabalhar	aqui	por	minha	causa!
—	Por	que	o	senhor	acha	isso?
—	Sabe,	 Duda…	Posso	 te	 chamar	 assim?	—	 tento	 encontrar	 as	 palavras
certas	para	poder	dizer	a	ela	o	que	eu	estava	querendo	dizer.
—	Sim,	é	claro	—	ela	responde,	e	enrubesce.	Acho	que	nem	percebeu	que
havia	concordado.
—	Então,	sei	que	você	deve	achar	estranho	o	que	vou	te	falar	—	começo,
olhando	para	ela.	Eu	estava	suando	frio.	Que	droga,	nunca	fiquei	tão	nervoso	por
causa	de	uma	mulher	do	jeito	que	estava	por	ela.	Quando	ia	lhe	contar	que	estava
interessado	e	gostaria	de	chamá-la	para	jantar,	a	sua	irmã	aparece	novamente,	e
olho	feio	para	ela.
—	E	aí,	já	se	conheceram?
—	Não	o	suficiente	—	comento,	ganhando	um	olhar	feio	da	Vanessa.
—	Meu	Deus,	 como	vocês	 são	moles	—	ela	 exclama,	 e	 a	Duda	desvia	 o
olhar	do	meu	e	fala:
—	Vane!
—	O	quê?
—	Eu	te	conheço,	Vanessa!	—	ela	diz,	brava.	E	não	é	que	ela	fica	linda	toda
bravinha?!
—	Eu	não	estou	fazendo	nada	de	errado	—	ela	se	defende.
—	Até	parece!	—	Duda	olha	feio	para	a	irmã.
—	 O	 que	 você	 anda	 aprontando,	 Dona	 Vanessa?	 —	 brinco,	 na	 onda,
sabendo	muito	bem	o	que	ela	tinha	aprontado.
—	Meu	Deus,	como	vocês	dois	são	injustos	—	ela	se	faz	de	vítima.
—	Vane,	está	ficando	tarde!
—	 Droga,	 é	 verdade,	 Duda,	 temos	 que	 ir	 para	 o	 shopping	—	 Vane	 diz,
rápido,	e	sai	correndo.	Volta	trazendo	a	bolsa	e	olha	para	mim:
—	Chefinho,	tenho	que	ir.
—	Foi	um	prazer	ter	te	conhecido,	Senhor	Leon	—	Duda	comenta.
—	O	prazer	 foi	meu!	—	respondo,	com	sinceridade,	 e,	não	querendo	que
ela	 fosse	 embora,	me	 surge	 uma	 ideia:	—	Que	 tal	 acompanhar	 vocês	 duas	 ao
shopping?	—	a	Duda	me	olha	chocada,	e	a	Vane	abre	um	sorriso	de	vitória.
—	Hã…	Você	 deve	 estar	 bem	 ocupado,	 não?	—	Duda	 diz,	 como	 se	 não
quisesse	que	eu	fosse.
—	Na	verdade	eu…	—	quando	ia	responder,	a	Vanessa	o	faz	por	mim.
—	É	claro	que	não,	Duda!	—	e	me	olha	com	deboche:	—	Leon	não	trabalha
mesmo!
—	Ei!	—	eu	protesto.
—	Agora,	 vamos	 embora	 logo	—	Vanessa	 diz,	 e	 seguimos	 todos	 para	 o
estacionamento.	 Ao	 chegarmos	 lá,	 cada	 um	 vai	 direto	 para	 o	 seu	 carro,	 mas,
como	um	bom	cavalheiro	que	sou,	abro	a	porta	do	carro	para	a	minha	rainha,	que
agradece	com	um	sorriso	 tímido,	e	depois	 faço	a	mesma	coisa	com	a	Vanessa,
que	sussurra	em	meu	ouvido:
—	Não	deixa	a	minha	irmã	fugir	de	você,	Leon.
—	Não	se	preocupa,	eu	não	vou	deixar	—	respondo,	e	ela	pisca	o	olho	e
entra	no	carro.	Vou	para	o	meu	e	dou	partida,	seguindo-as,	não	vendo	a	hora	de
chegar	 logo	 àquele	 bendito	 shopping	 para	 finalmente	 voltar	 a	 ficar	 perto	 da
minha	rainha.	—	Duda,	eu	não	vou	desistir	de	você!	Porque	você	já	é	minha!
Eu	não	sabia	onde	enfiar	a	cara,	tamanha	era	a	vergonha	que	tinha	passado.
Minha	irmã	passou	completamente	dos	limites	me	oferecendo	para	o	chefe	dela.
OK,	o	chefe	dela	não	era	de	se	jogar	fora.
—	Por	que	você	está	em	silêncio?	—	Vane	me	pergunta.
—	Pensando	sinceramente	se	você	não	enlouqueceu.
—	E	por	que	você	acha	isso?
Olho	para	ela	sem	acreditar	no	que	acabou	de	falar.
—	Vane,	 tem	certeza	de	que	não	sabe	do	que	estou	falando?	—	pergunto,
pedindo	a	Deus	a	paciência	que	não	estou	tendo.
—	Sinceramente,	eu	não	sei!
—	Vanessa,	puta	que	pariu,	 tinha	que	agir	daquele	 jeito?	—	explodo	com
ela,	que	nem	se	abala.
—	Agir	como?
—	Me	jogando	nos	braços	do	seu	chefe!	—	elevo	a	minha	voz.
—	Eu	não	sei	do	que	está	falando.
—	Ah,	sei,	então	foi	impressão	minha	você	me	jogar	para	o	seu	chefe?
—	É	claro	que	sim!	—	ela	volta	a	se	defender,	e	ficamos	em	silêncio.	Eu
estava	louca	para	bater	nela.	—	Oh,	Duda!
—	O	que	é?
—	O	que	você	achou	dele?
Eu	sei	muito	bem	que	ela	gostaria	de	saber	o	que	eu	estava	achando	dele.
Ela	queria	que	eu	falasse	o	quê?	Que	ele	é	bonito?	Sim,	ele	é!	Que	ele	é	gostoso?
Sim,	 também	é!	Que	quando	nossas	mãos	 se	 tocaram	eu	 senti	 uma	espécie	de
choque?	A	isso	eu	não	sei	responder.
—	O	que	você	quer	saber?
—	Duda,	ele	é	gato!
—	Não	achei!	—	minto.
—	Ah,	me	poupe!	—	ela	resmunga.
—	O	que	você	quer	de	mim?
—	Eu	quero	ver	você	feliz!
—	Mas	eu	sou	feliz!	—	respondo,	com	firmeza.
—	Não,	minha	irmã,	você	não	é	feliz.
—	Por	que	você	acha	isso?
—	Porque	você	precisa	de	um	homem	que	 te	 ajude	a	 superar	o	que	você
passou.
—	E	você	acha	que	seu	chefe	pode	me	ajudar	nisso?
—	É	claro	que	sim!	Ele	é	o	que	você	precisa.	Um	homem	forte,	bom	e	que
vai	saber	te	respeitar,	e	o	melhor	de	tudo:	vai	poder	te	amar	como	você	merece.
—	Vane,	você	não	pode	ficar	querendo	me	jogar	nos	braços	de	todo	homem
que	conhece.
—	Eu	não	estou	te	jogando	em	qualquer	um,	e	sim	nos	braços	do	Leon!	—
ela	volta	a	se	defender.
—	Meu	Deus,	Vane,	ele	deve	estar	rindo	da	nossa	cara!
—	E	por	que	você	acha	isso?
—	Vane,	pelo	amor	de	Deus!	Ele	deve	estar	se	divertindo	vendo	que	você
está	oferecendo	a	sua	irmãzinha	na	bandeja	para	ele.
—	Ah,	então	você	acha	ele	um	lobo	sexy	e	feroz?	—	ela	brinca.
—	Meu	Deus,	tem	certeza	de	que	não	bateu	a	cabeça	em	algum	lugar,	não?
—	Ah,	vamos	lá,	Duda,	só	para	mim,	ninguém	vai	saber!	—	ela	insiste.
—	Você	quer	que	eu	diga	o	quê?
—	A	verdade!
—	OK,	ele	é	bonito,	sim.
—	Não	era	exatamente	o	que	eu	queria	ouvir,	mas	fazer	o	quê?!	Isso	vale
também.
—	Graças	a	Deus,	estamos	chegando	ao	shopping,	e	pode	me	comprar	um
sorvete	bem	grande.
—	E	por	que	eu	tenho	que	fazer	isso?	—	ela	brinca.
—	Eu	estou	nervosa,	e	você	vai	me	pagar	um	sorvete	decente	—	resmungo.
—	E	eu	tenho	culpa?
—	 Sim,	 você	 tem	 culpa!	 —	 só	 respondo	 isso,	 e	 meu	 corpo	 se	 arrepia
quando	tenho	a	sensação	de	que	estou	sendo	observada.
—	Duda,	está	tudo	bem?
Começo	 a	 olhar	 de	 um	 lado	para	 o	 outro,	 desejando	que	 fosse	 impressão
minha.
—	Duda,	meu	Deus!	Você	está	pálida	—	Vane	me	olha	preocupada.
Minha	irmã	me	abraça,	e	sinto	uma	leve	fraqueza	nas	pernas.	Quando	acho
que	vou	cair,	sinto	os	braços	do	Leon	me	pegando.
—	O	que	houve?	—	ele	pergunta	à	minha	irmã.
—	Não	sei!
—	Eu	estou	bem	—	sussurro.	Não	queria	contar	o	que	acho	que	vi.
—	Não,	você	não	está	bem!	—	ele	diz,	com	firmeza.
—	Leon,	será	que	aqui	tem	uma	clínica	médica	tipo	“doutor-consulta”?
—	Vane,	eu	estou	bem!
—	Não,	você	não	está	—	quem	responde	é	o	Leon.	Ele	me	pega	no	colo,	e
seguimos	direto	para	a	entrada	do	shopping.	Lá,	vejo	a	minha	irmã	perguntando
se	tinha	a	tal	clínica.	Logo	estou	sendo	levada.
—	Leon,	me	solta!
—	Não!	—	ele	nega,	e	não	sinto	medo	de	ficar	em	seus	braços	e	acho	isso
muito	estranho.
—	 Eu	 estou	 bem	—	 resmungo,	 querendo	 sair	 do	 seu	 colo	 e	 ao	 mesmo
tempo	gostando	de	ficar	ali,	me	sentindo	protegida.
—	Que	droga,	Duda!	—	ele	diz,	bravo.	E	não	é	que	fico	excitada?	O	que
está	acontecendo	comigo?
—	Eu	não	quero	ser	carregada	—	falo,	puxando	o	seu	rosto	em	direção	ao
meu,	fazendo-o	parar.	—	Eu	estou	muito	bem	e	não	preciso	ficar	sendo	levada	de
um	lado	para	o	outro!	E	outra,	sou	pesada,	ou	você	não	percebeu	isso?
—	 Eu	 já	 disse	 que	 não	 vou	 te	 soltar!	 Meu	 Deus,	 mulher,	 para	 de	 ser
teimosa!	 Vamos	 deixar	 uma	 coisa	 bem	 clara	 entre	 a	 gente?	 Eu	 estou	 amando
segurar	uma	mulher	com	curvas!	—	ele	pisca	o	olho,	e	fico	ainda	mais	excitada.
Como	isso	é	possível?
—	Leon,	esquece,	não	entra	na	onda	da	minha	irmã	—	peço.
—	E	quem	disse	que	estou	fazendo	isso	pela	sua	irmã?
—	Eu	sei	que	ela	quer	me	jogar	em	seus	braços	—	resmungo,	na	hora	sem
nem	saber	o	que	dizer	direito.
—	Eu	não	estou	reclamando	de	nada!
—	Que	 droga,	 homem	 de	 Deus!	 Eu	 não	 quero	 namorar	 ninguém	—	 ele
volta	a	andar	pelo	corredor,	e	grito:	—	Esse	“ninguém”	serve	para	você	também!
—	Eu	não	sou	“ninguém”	mesmo	—	tenho	vontade	de	dar	uns	tapas	nele.
—	 Eu	 sou	 Leon	 Vitorino,	 e	 você	 gostando	 ou	 não	 vou	 cuidar	 de	 você!	 Vou
venerar	e	amar	você!
—	Acabou?	—	ironizo.
—	 Não,	 minha	 rainha,	 isso	 é	 só	 o	 começo	 —	 ele	 fala	 isso	 em	 tom	 de
promessa,	e	droga,	achei	até	fofo,	só	que	ele	não	precisa	saber	disso.
De	 uma	 coisa	 eu	 já	 podia	 tercerteza:	 o	 Leon	 veio	 para	 mudar
completamente	a	minha	vida.	E	isso	seria	bom	ou	ruim?	Ainda	não	sei	o	que	iria
acontecer!	Minha	única	preocupação	era	saber	quem	estava	me	seguindo.
Será	que	foi	o	mesmo	homem	que	ligou?	Seria	o	Pedro	querendo	fazer	trote
só	 porque	 não	 dou	 bola	 para	 ele?	 Parece	 que	 eu	 vou	 ficar	 por	 enquanto	 sem
saber	o	que	fazer.
Olho	para	o	Leon,	tão	sério,	tão	seguro	de	si	e	ainda	tão	determinado	a	que
eu	 fique	 com	 ele.	 Seria	 ele	 o	 homem	 certo	 para	 mim,	 uma	 menina	 mulher
machucada	pela	vida?
Ele	me	olha	e	pisca	o	olho	ao	ver	como	eu	o	estava	olhando	fixo:
—	Você	não	tem	ideia	de	como	é	perfeita	para	mim,	e	não	consigo	tirar	os
meus	 olhos	 de	 você	 nem	 em	 pensamentos	—	 seu	 tom	 rouco	 me	 deixa	 mais
excitada,	e	acho	que	devo	estar	muito	doente.
—	Eu	acho	que	não	sou	perfeita	para	ninguém	—	confesso,	com	tristeza.
—	Isso	não	é	verdade!	Minha	rainha,	o	que	você	não	entendeu	é	que	você
me	 pertence,	 e	 vai	 descobrir	 que,	 quando	 Leon	 Vitorino	 ama,	 ele	 ama	 para
sempre!	—	ele	me	diz,	com	convicção.	Por	que	será	que	sinto	que	esse	homem
está	me	dizendo	a	verdade?
A	 forma	 como	 a	 Duda	 estava	 querendo	 me	 dispensar	 chegava	 até	 a	 ser
cômica.	Ela	 ainda	 não	me	 conhecia	 bem	o	 suficiente	 para	 saber	 que	 eu,	Leon
Vitorino,	nunca	desisto	do	que	quero,	e	como	eu	quero	essa	menina!
Quando	 chegamos	 a	 tal	 clínica	 que	 a	Vanessa	 comentou,	 coloco	 a	minha
rainha	 sentada	na	 cadeira	 e	 dou	uma	última	olhada	nela,	 que	 está	me	olhando
feio.	Deu	vontade	de	pegá-la	no	colo	novamente	e	beijá-la	até	ficarmos	sem	ar,
para	ver	se	desmanchava	a	sua	linda	carranca.
Faço	 o	 pagamento	 da	 consulta,	 enquanto	 a	Vanessa	 vai	 pegar	 a	 bolsa	 da
Duda	com	a	sua	documentação.	Sou	levado	com	a	minha	rainha	para	dentro	do
consultório,	e	não	demora	muito	a	Duda	está	sendo	examinada	pelo	médico.
Duas	coisas	que	me	chamaram	atenção:	a	Duda	não	queria	deixar	o	médico
examiná-la,	ficou	até	mesmo	pálida,	como	se	tivesse	fobia	de	médico.
Outra	 coisa	 era	 que	 o	 médico	 a	 estava	 olhando	 de	 uma	 forma	 nem	 um
pouco	profissional,	e	isso	não	gostei	de	maneira	alguma.	Quando	ele	vai	tocá-la,
não	aguento	e	falo:
—	Algum	problema	aí,	doutor?	—	vejo	que	as	mãos	dele	estão	 indo	para
perto	dos	seios	dela.
—	Nenhum,	só	estou	examinando.
—	Então	 usa	 um	 estetoscópio	 em	 vez	 de	 suas	mãos,	 por	 favor!	—	peço,
querendo	pegar	esse	médico	pelo	colarinho.
—	Ah,	sim,	é	claro!	—	ele	se	desculpa,	envergonhado.
O	médico	 coloca	 o	 aparelho	 de	 pressão	 no	 braço	 dela,	 e	 fico	 observando
como	se	fosse	um	gavião	protegendo	o	que	é	seu.	Dava	para	perceber	que	esse
médico	tinha	ficado	interessado	na	minha	rainha,	e	isso	eu	não	vou	permitir.
—	E	aí,	doutor,	como	estou?	—	minha	rainha	pergunta.
—	Muito	bem!
Eu	fico	aliviado.
—	Ótimo!
—	Eu	não	te	falei?	—	ela	diz,	brava,	e	dou	de	ombros.
—	E	eu	já	disse	que	eu	cuido	do	que	é	meu!	—	falo,	deixando	bem	claro
que	a	minha	 rainha	é	minha.	O	médico	olha	para	mim	e	percebe	que	aquilo	 é
para	ele.
—	Bom,	a	senhora	está	bem.	Foi	uma	simples	queda	de	pressão.
—	Obrigada,	doutor	—	ela	agradece.	Eu	me	levanto	e	a	ajudo	a	se	levantar.
Saímos	da	sala	do	babaca	e,	assim	que	chegamos	à	porta	de	entrada,	avistamos	a
Vanessa,	que	nos	olha	e	diz:
—	Algum	problema?
—	Leon	achando	que	é	o	meu	dono	—	ela	comenta,	ainda	me	fuzilando.
—	E	 você	 acha	 que	 não	 sou?	—	provoco-a,	 amando	 ver	 o	 fogo	 em	 seus
olhos.
—	Pelo	amor	de	Deus,	vocês	vão	ficar	brigando	aqui?
—	Eu	não	estou	fazendo	nada!	—	me	defendo.
—	Vane,	você	tinha	que	ver	o	Leon	falando	com	o	médico,	bem	estúpido.
—	Estúpido	 o	 cara!	Estava	 querendo	 tocar	 em	 seus	 peitos	—	volto	 a	me
defender.	A	mulher	é	minha	e	ninguém	toca	no	que	é	meu.
—	Meu	Deus,	fala	sério	isso!	—	ela	diz,	brava,	e	sai	na	minha	frente	toda
furiosa,	e	eu	louco	para	ir	atrás	dela.	Mas	a	Vanessa	me	segura:
—	Nem	pense!
—	O	quê?!	Eu	não	fiz	nada	de	errado.
—	Leon,	tenta	controlar	essa	sua	possessão	aí!
—	Eu	não	consigo!
—	Você	tem	que	conseguir!
—	Vanessa,	o	que	você	está	me	escondendo?
—	Isso	não	é	um	assunto	meu	que	posso	me	abrir	com	você.
—	Vanessa,	a	Duda	está	bem	de	saúde,	não?	—	fico	preocupado.
—	Sim,	ela	está	bem.
—	Você	sabe	que	eu	estou	gostando	da	sua	irmã!
—	Sei	disso.	E	ela	também,	só	que	não	quer	dar	o	braço	a	torcer.
—	O	que	eu	devo	fazer,	então?	—	pergunto,	quando	conseguimos	alcançar
a	minha	rainha	na	sorveteria.
—	Ter	paciência	—	ela	diz,	como	se	isso	fosse	fácil.
—	Vou	tentar.
—	Obrigada.
Assim	que	chegamos	lá,	a	minha	rainha	estava	tomando	um	sorvete,	e	sua
expressão	de	prazer	fez	o	meu	pau	entrar	em	modo	ativo.
—	Droga…	—	gemo,	vendo-a	passar	a	língua	entre	os	lábios,	fazendo-me
ficar	bem	duro.
—	Algum	problema,	Senhor	Vitorino?	—	Duda	pergunta,	provocante.	Ah,
que	vontade	de	dizer	que	sim,	meu	problema	é	você,	mulher!	Você	não	tem	ideia
do	que	está	fazendo	comigo.
—	Nenhum	problema	—	por	dentro,	estou	grunhindo,	morrendo	de	inveja
da	sua	língua.
—	Que	bom!	Vocês	não	vão	querer	nada?
—	 Eu	 estou	 vendo	—	 responde	 a	 Vanessa.	 Seu	 celular	 toca	 e	 ela	 pede
licença	para	atender,	deixando	nós	dois	sozinhos.
—	Então,	é	bom?
—	O	quê?
—	Esse	sorvete.
—	Sim,	muito	bom,	você	deveria	pedir.
—	Ah,	então	eu	vou	querer!
—	Só	ir	ali	no	caixa	e	fazer	o	pagamento.
—	Você	não	entendeu,	né?
—	Depende	do	que	você	está	querendo	que	eu	entenda.
Eu	gosto	das	suas	respostas	rápidas.
—	 Eu	 quero	 experimentar	 o	 seu!	—	 pisco	 o	 olho,	 e	 não	 é	 que	 ela	 fica
vermelha?	Eu	amo	vê-la	corada.
—	Não!
—	Por	que	não?
—	 Porque	 no	 meu	 sorvete	 ninguém	 toca,	 ele	 é	 só	 meu!	—	 ela	 repete	 a
minha	frase,	com	algumas	alterações.
—	Engraçado	você	dizer	isso.
—	O	que	é	engraçado?
—	O	que	é	seu	é	meu!	E,	como	eu	já	disse,	você	é	minha!	—	vejo	o	sorvete
escorrendo	pela	sua	boca	e	passo	o	meu	dedo	nela,	sentindo	o	toque	macio	dos
seus	 lábios,	 e	 levo	 aos	meus	 e	 comento:	—	Sorvete	 e	Duda,	 uma	 delícia	 essa
mistura.
Ela	me	olha	como	se	estivesse	chocada	com	o	que	eu	disse,	e	logo	seu	rosto
fica	mais	vermelho	ao	entender.
—	Você	é	babaca,	grosseiro	—	ela	mostra	a	língua.
—	Você	é	linda!	—	respondo	ao	seu	“elogio”,	tomo	coragem	e	pergunto:	—
Será	que	a	sua	boca	é	tão	gostosa	quanto	a	dona	dela?	—	minha	voz	sai	rouca.
—	Meu	Deus,	homem!	—	ela	exclama,	sem	graça	e	ainda	vermelha.
—	O	quê?	É	errado	eu	dizer	isso?	—	provoco-a.
—	Sim!	—	ela	se	remexe	na	cadeira	e	desvia	os	olhos	dos	meus.
—	Ah,	minha	 linda	rainha,	 logo	você	vai	ver	que	 tudo	que	eu	falo	e	 faço
para	você	é	verdadeiro.
—	E	eu	já	disse	que	eu	não	quero	você!
—	E	eu	ouvi	o	que	disse,	só	que	eu	não	sou	um	homem	de	desistir.
—	E	o	que	vai	fazer?
—	Isso,	minha	rainha,	você	vai	descobrir,	e	logo!	—	respondo,	abrindo	um
belo	 sorriso	 de	 vitória.	 Seu	 olhar	 é	 de	 puro	 espanto,	 e	 acho	 que	 ela	 nunca	 foi
conquistada.	Pego	em	sua	mão	e	faço	um	carinho	com	o	polegar.	—	E	eu	sou	o
homem	que	vai	fazer	você	ver	como	o	amor	é	maravilhoso.
—	Como	você	pode	achar	que	está	apaixonado	por	mim?	—	ela	tenta	puxar
a	sua	mão	de	volta,	mas	não	deixo.
—	E	você,	como	pode	achar	que	não	está	apaixonada	por	mim?	—	minha
pergunta	a	deixa	espantada.
—	 Eu	 não	 sei	 o	 que	 é	 amor!	 —	 ela	 confessa,	 e	 seu	 semblante	 mostra
tristeza.
—	Eu	também	não	sei,	Duda!	Só	sei	que	o	que	eu	sinto	por	você	vai	além
de	uma	atração	sexual.
—	Eu	não	posso	amar	nenhum	homem,	Leon!
—	Então	o	único	homem	por	quem	você	vai	se	apaixonar	loucamente	sou
eu!	—	brinco.
—	Meu	Deus,	 você	 é	 louco?	—	 ela	 ri,	 e	 amo	 sua	 risada.	 Sim,	 eu	 estava
louco	por	ela.
Estou	querendo	jogar	alguma	coisa	na	cabeça	do	Leon.	O	filho	da	mãe	teve
a	 ousadia	 de	 vir	 nos	 acompanhar	 para	 nos	 fazer	 segurança.	 Ah,	 como	 tive
vontade	 de	 tirar	 o	 sorrisinho	 daquele	 babaca	 bonito.	 A	 vontade	 é	 tanta,	 que
chego	até	a	abrir	um	sorriso	de	satisfação.
—	Duda,	que	sorriso	é	esse?	—	Vane	pergunta.
—	Ah,	nenhum	interessante.
—	O	que	você	achou	do	Leon?
—	Eu	nãoachei	nada!
—	Como	assim?	Você	não	achou	nada?	—	ela	pergunta,	espantada.
—	É	isso	mesmo,	eu	não	achei	nada!	—	eu	não	vou	lhe	dizer	que	o	achei
lindo	e	que	ele	me	deixa	confusa	com	os	meus	próprios	sentimentos.
—	Sei!	—	ela	me	olha	desconfiada.
—	Vane,	ainda	não	te	perdoei	sobre	o	seu	chefe	—	resmungo.
—	Ah,	qual	é?!	—	ela	ri.
—	Estou	falando	sério!
—	Eu	vi	vocês	dois	juntos,	e	pareciam	tão	fofos	—	ela	faz	um	coração	com
as	mãos.
—	Meu	Deus,	Vane,	para	de	ver	romance	em	tudo!	—	ironizo.
—	E	você	não	tem	ideia	de	como	estava	feliz	conversando	com	o	Leon!
—	Como	assim,	feliz?	Seu	chefe	está	me	atormentando!	—	me	defendo.	Eu
tinha	gostado	apenas	um	pouco	de	sua	companhia.
—	Não	parecia	que	ele	estava	te	atormentando.
—	Você	não	viu	nada,	então	—	dou	de	ombros.
—	Ah,	é?	E	o	que	foi	que	eu	perdi?
—	Ele	ficou	querendo	me	controlar!	—	resmungo.
—	E	é	claro	que	você	odiou,	não?	—	ela	pisca	o	olho.
—	É	 claro	 que	 sim!	Não	gostei	 de	 ouvi-lo	 dizer	 “Você,	Duda,	 é	 a	minha
rainha”	—	ironizo,	mesmo	que	no	fundo	tenha	achado	meio	fofo.
—	Ai,	meu	Deus,	que	coisa	mais	linda.
—	Pode	ficar	para	você	—	brinco.
—	Não,	obrigada,	ele	não	faz	o	meu	tipo.
—	E	por	que	você	acha	que	ele	faz	o	meu?
—	Porque	ele	está	caidinho	por	você!
—	Vamos	esquecer	esse	assunto,	por	favor?
—	“Bora”	para	a	cozinha,	estou	querendo	tomar	um	suco	antes	de	deitar.
—	 Sim,	 eu	 ainda	 tenho	 que	 estudar!	—	 gemo	 ao	 lembrar	 que	 hoje	 nem
prestei	atenção	na	aula.
—	Algum	problema?
—	Nenhum,	só	hoje	não	estava	muito	disposta	para	estudar	—	desconverso,
não	queria	contar-lhe	o	que	tinha	acontecido	comigo.
—	Tem	certeza?	—	ela	pergunta,	ao	me	servir	o	suco	de	goiaba.
—	Sim.
—	Bom,	então	vou	tomar	um	banho,	que	amanhã	é	outro	dia.
—	Vai	lá,	e	pode	deixar	que	lavo	essa	louça.
—	Ah,	você	é	um	amor!	—	ela	diz,	me	abraçando,	e	dou	risada.
—	Eu	sou,	sim,	um	amor.
—	Como	você	é	convencida!	—	ela	debocha.
—	Sim,	e	você	me	ama	 também	—	brinco.	Dou	boa	noite	para	ela	e	vou
lavar	a	louça.
Termino	 de	 lavar	 rápido	 e	 deixo	 secando	 no	 escorredor.	Vou	 para	 o	meu
quarto	e	encontro	o	meu	celular	no	chão.	Fico	meio	receosa	se	o	pego	ou	não.
No	fim	acabo	cedendo,	pego	o	celular	do	chão	e	o	coloco	em	cima	da	cama.
Resolvo	seguir	a	minha	irmã	e	também	vou	direto	para	o	chuveiro.	Sentir	a
água	 caindo	 pelo	meu	 corpo	 foi	muito	 bom.	Não	me	 demoro	 e	 logo	 saio,	me
seco	 e	 coloco	 um	 baby-doll,	 pego	 meus	 livros	 e	 meus	 cadernos	 e	 começo	 a
estudar.	Fico	assim	durante	um	bom	tempo.
Estava	tão	entretida	com	a	matéria,	que	quase	não	ouço	o	meu	celular	tocar.
Fico	meio	indecisa,	não	sabendo	se	verificava	ou	não.	Amanhã	sem	falta	tenho
que	trocar	o	chip.
Pego	o	meu	celular	e,	ainda	meio	receosa,	o	desbloqueio.	Percebo	que	não
tinha	nenhuma	 ligação	perdida,	 e	 sim	um	 recado	no	WhatsApp.	Quando	 abro,
me	 deparo	 com	 uma	mensagem	 que	me	 deixou	 feliz	 e	 ao	mesmo	 tempo	 com
vontade	de	esganar	a	minha	irmã.
“Boa	noite,	minha	rainha,	espero	que	sonhe	comigo!”
Esse	homem	é	mesmo	impossível.	Ele	é	irritante.	Gostoso,	mas	irritante.
“Sinto	te	decepcionar,	eu	não	sei	o	que	é	sonho	bom!”
Termino	de	escrever	a	mensagem	e	envio.	Não	demora	muito,	ele	me	envia
outra:
“Ah,	minha	rainha,	ao	meu	lado	você	sempre	terá	sonhos	bons!”
Por	incrível	que	pareça,	acredito	nele.	Eu	não	posso	me	envolver	com	ele!
“E	quem	disse	que	eu	quero	você?”
Envio	a	mensagem	rápido,	com	o	coração	acelerando.
“Minha	rainha,	como	já	disse	antes,	você	me	pertence!”
Acabo	 rindo	da	mensagem	dele,	 e	devo	concordar	com	a	minha	 irmã,	ele
me	faz	rir.
“Meu	Deus,	como	você	é	brega!”
Mal	acabo	de	mandar	a	mensagem,	chega	outra:
“Brega	não,	minha	rainha,	sou	apenas	um	homem	a	fim	de	uma	bela	mulher!”
Meu	coração	dá	um	pulo	quando	leio	essa	mensagem.	E	escrevo	o	que	acho
das	palavras	dele.
“Então	você	mandou	mensagem	por	engano,	eu	não	sou	uma	bela	mulher!”
“Ao	 contrário	 do	 que	 você	 pensa,	 vou	 te	 mostrar	 como	 você	 é	 a	 minha	 bela
rainha!	Escreve	o	que	vou	te	dizer:	muito	em	breve	você	será	minha!”
Fico	 mexida	 com	 a	 forma	 como	 ele	 escreveu,	 mesmo	 ele	 dizendo	 essas
palavras	bregas	e	fofas	ao	mesmo	tempo.	Uma	coisa	eu	posso	dizer:	não	sou	a
mulher	certa	para	ele,	e	talvez	nunca	seja.
As	 lágrimas	 escorrem	 sem	 eu	 perceber,	 ao	 ver	 que	 tinha	 um	homem	que
estava	a	fim	de	mim,	só	que	nunca	poderia	ter,	e	respondo,	com	dor	no	coração:
“Eu	sou	uma	mulher	que	não	pode	amar	e	muito	menos	ser	amada	por	um
homem	como	você,	Leon!	Acho	melhor	você	procurar	outra	mulher	que	te	faça
feliz	e	que	não	carregue	um	passado	cheio	de	dor	e	sofrimento!”
Quando	ia	desligar	o	celular,	ele	acaba	tocando:
—	Nada	que	você	disser	me	fará	desistir	de	você,	minha	rainha!
—	 Leon,	 eu	 não	 posso	 me	 envolver	 com	 ninguém!	—	 digo,	 com	 a	 voz
embargada	pelo	choro.
—	Não	chore,	minha	rainha,	que	eu	sempre	estarei	ao	seu	lado!
—	Leon,	não	me	procure	mais	—	peço,	chorando	mais	ainda.
—	Eu	sempre	vou	te	procurar,	minha	rainha,	e	não	chore,	porque	eu	vou	te
proteger.
—	Você	não	entende!
—	Então	me	faça	entender!
—	A	gente	não	vai	se	ver	mais!	—	decido.	Preciso	procurar	ajuda	o	mais
rápido	possível.
—	O	 caralho	 que	 a	 gente	 não	 vai	 se	 ver	mais!	—	 ele	 protesta,	 bravo,	 e
sorrio.
—	 Você	 não	 tem	 o	 que	 querer!	 —	 respondo,	 com	 uma	 calma
impressionante.
—	O	que	eu	quero	é	você,	Duda,	e	vou	te	ter	custe	o	que	custar.	Escuta	o
que	vou	te	dizer:	nada	que	você	disser	vai	nos	separar!
—	Sabe	de	uma	coisa,	Leon?	Tem	coisas	que	podem	separar	um	casal.
—	Então	me	diga!
—	Ainda	não	posso,	não	estou	pronta.
—	Deixe-me	ajudá-la	com	o	que	for.
—	 Não	 posso,	 isso	 só	 eu	 posso	 resolver!	—	 respondo,	 dando	 um	 ponto
final,	e	desligo	o	celular.	Fico	ali	chorando	mais	ainda	ao	perceber	que	talvez	eu
tenha	mandado	embora	o	homem	que	poderia	me	fazer	esquecer	o	meu	pesadelo.
—	 Amanhã	 vou	 procurar	 ajuda!	—	 falo	 comigo	 mesma.	 Nunca	 me	 senti	 tão
sozinha	como	me	sinto	agora.
Quando	começo	a	dormir,	finalmente	sonho	com	o	Leon,	e	choro	dormindo,
porque	no	sonho	estamos	abraçados	e	nos	beijando,	e	no	outro	vem	o	pesadelo
de	estar	sendo	violentada	novamente.	Choro	mais	ainda,	porque	peço	a	ajuda	do
Leon,	e	ele	se	afasta	de	mim.
Acordo	com	o	 rosto	banhado	de	 lágrimas	e	 fico	deitada	em	posição	 fetal,
com	medo	do	que	poderia	acontecer.	A	perseguição	do	Pedro	no	curso,	a	ligação,
o	encontro	com	o	Leon	e	a	sensação	de	estar	sendo	seguida	me	deixaram	muito
abalada.
Quando	volto	a	dormir	do	 jeito	em	que	estava,	em	vez	de	voltar	a	sonhar
com	o	Leon,	sonho	com	o	estupro,	e	me	sinto	suja	novamente.	Percebo	que	estou
certa	mesmo	em	afastar	o	Leon,	ele	não	merece	ficar	com	uma	mulher	suja	como
eu!
Dois	anos	antes…
Eu	 já	 me	 encontrava	 logo	 cedo	 acordado.	 Quero	 dizer,	 mal	 dormi	 essa
noite.	 Estava	 tão	 preocupado	 com	 a	minha	 rainha,	 que	mal	 consegui	 pregar	 o
olho.
Ouvir	seu	choro	me	fez	quase	sair	de	casa	e	 ir	para	a	casa	dela	durante	a
madrugada.	Como	eu	queria	saber	o	que	estava	acontecendo	com	ela!
A	minha	vontade	foi	ligar	para	a	Vanessa	assim	que	a	minha	rainha	desligou
a	chamada.	Mas	não	achei	certo	acordá-la	sendo	que	o	problema	 tinha	que	ser
resolvido	entre	a	minha	rainha	e	eu.
Mesmo	que	ela	não	queira	falar	comigo,	eu	a	tenho	que	procurar,	e	é	o	que
vou	fazer	assim	que	terminar	de	amanhecer.	Levanto-me	da	cama	e	sigo	para	o
chuveiro	para	tirar	o	cansaço	que	estava	em	meu	corpo.
A	forma	como	ela	ficou	em	meus	braços	foi	perfeita,	e	logo	a	imagino	aqui
em	minha	 casa	 e	 em	nossa	 cama.	Ela	 chamou	minha	 atenção	 não	 só	 pelo	 seu
corpo	maravilhoso,	mas	também	pela	força	que	me	mostrava.
Depois	do	episódio	da	sorveteria,	fiquei	com	uma	bela	ereção	da	porra	ao
imaginá-la	coberta	com	o	chocolate	da	minha	fábrica.	A	forma	como	seu	corpo
ficaria	ali	regado	de	chocolate	na	cama…	Eu	teria	o	maior	prazer	em	lamber	seu
corpo	 pedacinho	 por	 pedacinho.	Mesmo	 que	 ficasse	 uma	 lambuzeira,	 eu	 faria
essa	pequena	fantasia	acontecer.
Pego	 o	 sabonete	 e	 passopelo	 meu	 corpo,	 desejando	 que	 fosse	 ela	 que
estivesse	me	tocando.
Isso	 sim	seria	muito	gostoso.	Tê-la	 aqui	 ao	meu	 lado	me	acariciando,	me
tocando,	 e	 juntos	 fazendo	 amor	 bem	 gostoso.	 Meu	 pau	 estava	 bem	 duro	 e
precisando	de	uma	foda.	Se	fosse	em	outra	ocasião,	eu	iria	procurar	a	Laura,	ou
outras	mulheres	com	as	quais	fiz	sexo.
Desligo	o	chuveiro	e	mudo	a	temperatura	para	o	frio,	deixando	cair	o	jato
de	água	fria	para	ver	se	desse	jeito	poderia	acalmar	o	desejo	que	estava	sentindo
e	também	a	preocupação	com	a	minha	rainha.
Quando	 olho	 para	 baixo,	 vejo	 que	meu	 pau	 estava	 meio	 duro	 e	 dou	 um
suspiro	de	alívio,	não	fazia	bem	eu	aparecer	com	uma	bela	ereção	na	casa	dela	e
assustá-la.	Eu	preciso	ver	se	ela	está	bem,	e	nada	melhor	do	que	ir	já.	Troco-me
rápido	e	logo	estou	indo	para	lá.	Espero	que	ela	me	receba.
Assim	que	chego	à	casa	dela,	toco	a	campainha,	e	quem	vem	me	atender	é	a
Vanessa,	que	fica	surpresa	ao	me	ver	ali	parado.
—	Leon,	tudo	bem?
—	Mais	ou	menos,	Vane.	A	Duda	está	acordada?	—	pergunto,	ansioso	para
vê-la.
—	Sim.	Acho	que	ela	mal	dormiu	essa	noite.	Aliás,	parece	que	vocês	dois
mal	dormiram.
—	Posso	falar	com	ela?
—	Ela	não	está,	Leon	—	Vane	me	olha	curiosa.
—	Aonde	ela	foi	logo	cedo?	—	já	fico	preocupado.
—	Para	o	curso	—	ela	responde,	e	fico	mais	tranquilo.
—	E	você	poderia	me	passar	o	endereço	do	curso	dela?
—	É	claro	que	sim.	Aguarde	só	um	momento.	Você	quer	entrar?
—	Não	tem	problema?
—	É	claro	que	não!	Assim	você	me	conta	o	que	veio	fazer	atrás	da	minha
irmã	a	esta	hora	da	manhã	—	ela	brinca.
—	E	você	 tem	que	 ir	para	o	 trabalho,	não?	—	brinco	 também,	um	pouco
mais	aliviado.
—	Ah,	não,	meu	chefe	é	bem	tranquilo!
—	 Ah,	 sim,	 ele	 é	 um	 chefe	 bem	 tranquilão,	 então!	 —	 respondo	 à
brincadeira	e	entro	na	casa,	que	é	bem	simples	e	ao	mesmo	 tempo	com	muito
bom	gosto.	Vou	olhando	ao	redor	da	sala	e	percebo	que	há	vários	porta-retratos
delas	e	também	de	um	casal	que	imagino	serem	seus	pais.
Pego	um	porta-retrato	da	minha	rainha,	o	que	me	fez	matar	um	pouco	das
saudades	suas.
—	O	que	exatamente	aconteceu	com	vocês	dois?
—	Por	que	você	acha	que	houve	algo?
—	Leon,	deu	para	ver	nas	caras	de	vocês.
—	Vane,	o	que	aconteceu	depois	que	deixei	vocês	em	casa	ontem?
—	Bom,	que	eu	saiba	nada,	por	quê?
—	Porque	ontem	a	sua	irmã	me	dispensou!
—	 Então	 por	 isso	 ela	 estava	 triste	 —	 Vane	 fala	 consigo	 mesma,	 e	 fico
curioso.
—	Vane,	ela	disse	que	tinha	algo	que	estava	acontecendo	com	ela.	E	ela	não
quis	me	contar.
—	Então,	Leon,	é	só	ela	que	pode	te	contar!	—	ela	diz,	sem	graça.
—	É	o	que	eu	vou	fazer!	Vane,	obrigado	por	ter	me	apresentado	a	sua	irmã.
—	Leon,	escute	o	que	vou	te	dizer	agora,	meu	amigo.
—	Estou	ouvindo.
—	Minha	 irmã	 é	 uma	 pessoa	 maravilhosa,	 só	 que	 às	 vezes,	 ou	 melhor,
quase	 sempre	 ela	 se	 esconde,	 é	 como	 se	 ela	 tivesse	 medo	 de	 enfrentar	 a
realidade.	Mas	peço	que	não	desista	dela.
—	Percebi	que	ela	esconde	algo	e	não	quer	me	contar.
—	Sim,	mas	só	ela	pode	te	contar,	eu	não	tenho	esse	direito.
—	Eu	sei	que	não,	Vane.	Só	preciso	que	ela	me	veja	e	diga	na	minha	frente
que	não	quer	nada	comigo.
—	Então	você	vai	procurá-la?
—	Sim,	e	não	vejo	a	hora	de	ficarmos	frente	a	frente.	Vou	indo	para	lá!
—	Leon,	ainda	é	cedo.
—	Eu	sei	disso,	mas	vou	ficar	mais	tranquilo	quando	a	vir.
—	 Então	 o	 Senhor	 Leon	 está	 mesmo	 gostando	 da	 minha	 irmã?!	 —	 ela
brinca,	e	noto	suas	lágrimas	de	alegria.
—	Pois	é,	minha	amiga,	a	sua	irmã	deve	ser	alguma	bruxinha	que	colocou
um	feitiço	em	mim,	não	consigo	tirá-la	da	cabeça,	e	mesmo	que	ela	me	rejeite	eu
vou	 lutar	 até	 o	 fim!	 —	 me	 despeço	 e	 vou	 em	 direção	 ao	 curso,	 onde	 fico
esperando	a	minha	rainha.
Algumas	horas	depois…
Saio	do	 carro	 e	 percebo	que	os	 alunos	 estão	 saindo.	Reparo	que	 a	minha
rainha	não	me	vê	e	corro	atrás	dela	para	não	a	assustar.	É	quando	ela	vê	que	sou
eu	e	para	de	andar.	Noto	as	expressões	em	seu	rosto,	que	variam	entre	medo	e
alívio.
—	Leon,	graças	a	Deus	que	é	você!	—	mal	dá	tempo	de	eu	responder,	e	ela
desmaia,	 houve	 apenas	 tempo	 de	 correr	 e	 segurá-la.	 Grito	 por	 ajuda,	 mas
ninguém	aparece.
—	 Vamos,	 minha	 rainha,	 acorde,	 não	 me	 deixe	 assim,	 não!	 —	 peço,
apreensivo	ao	ver	que	ela	não	acordava.
Arrumo-a	 em	 meus	 braços	 e	 pego	 a	 sua	 mochila,	 colocando-a	 em	 meus
ombros,	 e	 saio	 correndo	 em	 direção	 ao	 prédio.	Ao	 chegar	 lá,	 encontro	 alguns
funcionários	e	pergunto:
—	Vocês	têm	alguma	enfermaria?	—	logo	estão	me	levando	direto	para	lá.
Ao	me	ver	com	a	minha	rainha,	a	enfermeira	exclama,	preocupada:
—	Meu	Deus,	é	a	Duda!
—	Ela	desmaiou	assim	que	me	viu.
—	O	 senhor	 é	 o	 que	dela?	Antes	 que	me	 responda,	 coloque-a	 aqui	 nessa
maca.
—	Sou	o	namorado	dela.
—	Senhor,	houve	alguma	coisa	com	ela?
—	Que	eu	saiba	ela	se	encontra	bem	—	minto,	não	vou	contar	que	a	gente
brigou.
—	Então	tudo	bem!	—	ela	pega	um	frasco	do	que	parecia	álcool	e	passa	em
uma	gaze,	levando	até	o	nariz	da	minha	rainha.
Não	demora	muito,	a	Duda	começa	a	se	mexer	na	maca.	Logo	está	abrindo
os	olhos.	Fico	aliviado,	pois	ao	me	ver	ela	abre	um	sorriso	e	sussurra:
—	Leon,	eu	pensei	que	tinha	sido	um	sonho!	—	ela	leva	a	sua	mão	ao	meu
rosto,	fazendo	um	carinho.	Só	de	ver	que	ela	está	bem	eu	fico	mais	tranquilo.
—	Não	 é	 um	 sonho,	minha	 rainha,	 sou	 eu	mesmo!	—	 é	 a	minha	 vez	 de
fazer	carinho	nela,	que	não	se	afasta	do	meu	toque	como	da	primeira	vez.
—	Me	abraça,	Leon!	—	ela	pede,	e	obedeço,	sentindo	seu	corpo	tremer	ao
meu	toque.
—	Está	tudo	bem?	—	pergunto,	preocupado.
—	Sim!	Agora	que	você	está	aqui,	me	sinto	protegida	—	ela	me	abraça	com
força,	e	com	ela	nos	meus	braços	eu	faço	um	juramento.	Puxo	seu	rosto	e	digo:
—	Eu	juro	te	amar	e	te	proteger,	minha	rainha!	—	selo	o	juramento	com	um
beijo.
Dois	anos	atrás
Eu	 não	 acredito	 que	 finalmente	 chegou	 o	 dia	 do	 meu	 aniversário.	 Hoje
estou	fazendo	18	anos,	e	graças	a	Deus	alcancei	a	maioridade.	E	aqui	estou,	me
arrumando	para	ir	para	a	escola.	Eu	não	vejo	a	hora	de	terminar	o	ensino	médio.
Penteio	meus	longos	cabelos	ruivos	e	passo	uma	leve	maquiagem	em	meu
rosto.	 Sempre	 fui	 vaidosa	 e	 gosto	 do	 jeito	 como	 me	 visto.	 Gosto	 de	 chamar
atenção	como	toda	adolescente.	Sei	que	sou	bonita	e	vivo	atraindo	olhares.
—	Nossa,	Duda,	como	você	está	linda!	—	minha	irmã	diz,	e	olho	para	ela,
que	estava	ali	parada	na	porta.
—	São	seus	olhos!	—	brinco.
—	E	aí,	como	você	está	se	sentindo	tendo	18	anos	agora?
—	Sinceramente,	me	sinto	ótima,	sei	que	parece	estranho,	mas	parece	que
ganhei	a	minha	liberdade.
—	Você	falando	assim	até	parece	que	eu	te	deixava	em	uma	cela!	—	Vane
debocha,	e	eu	rio.
—	Não	é	isso,	Vane.
—	Eu	sei	o	que	você	está	tentando	dizer.
—	E	você,	passou	por	isso?
—	Ah,	sim!	Mamãe	e	papai	acharam	graça	também	quando	disse	que	agora
estava	 livre	 para	 fazer	 o	 que	 quisesse	—	 ela	 diz,	 com	 um	 sorriso	 triste,	 que
acabou	me	contagiando.
Nossos	 pais	 morreram	 quando	 eu	 era	 criança,	 e	 a	 Vane	 tornou-se	 minha
guardiã.	 A	 nossa	 sorte	 é	 que	 os	 nossos	 pais	 nos	 deixaram	 dinheiro	 e	 não
precisávamos	nos	preocupar	durante	toda	a	nossa	vida.
—	Você	ainda	sente	a	falta	deles,	não?
—	Sim.	E	você?
—	Sempre	—	confesso.
—	 Bom,	 agora	 chega	 de	 tristeza	 —	 ela	 tira	 uma	 sacola	 que	 estava
escondida.	Eu	não	tinha	nem	percebido.
—	Para	mim?	—	pergunto,	toda	feliz.
—	Sim,	hoje	é	o	seu	aniversário,	minha	irmã!	—	ela	me	dá	um	abraço.	—
Nossos	 pais	 teriam	 ficado	 orgulhosos	 de	 ver	 como	 você	 cresceu	 linda	 e	 com
muita	saúde.
—	Eu	sinto	a	falta	deles,	Vane!	—	sinto	as	lágrimas	caírem.
—	Eu	sei,	minha	irmã,	eu	sei!	—	ela	faz	carinho	em	meu	rosto.
—	Vane,	eles	morreram	muito	novos.
—	Sim!	—	ela	enxuga	minhas	lágrimas,	e	seco	as	dela	também.
—	Bom,	vamos	mudar	de	assunto!
—	Sim,	você	não	quer	saber	o	que	ganhou?
—	 É	 claro	 que	 sim!	 —	 ela	 me	 estende	 a	 sacola.	 Quando	 a	 abro,	 fico
surpresa.
—	Talvez	 você	 não	 soubesse,	mas	 toda	mulher	 da	 nossa	 famíliatem	 um
diário.	E	a	mamãe	me	pediu	para	 te	dar	um	quando	fizesse	18	anos	se	ela	não
estivesse	mais	aqui.
—	Ah,	 Vane,	 eu	 não	 acredito,	 ele	 é	 lindo!	—	 falo,	 com	 sinceridade.	 Eu
nunca	soube	que	todas	as	mulheres	da	família	tinham	um	diário.
—	Ele	é,	sim!	E	agora	ele	é	seu,	Duda!	—	volto	a	abraçá-la.
—	Hoje	vou	começar	a	escrever	nele!
—	 Que	 bom!	 Agora,	 me	 conta	 o	 que	 vai	 fazer	 hoje,	 no	 dia	 do	 seu
aniversário?
—	Bom,	como	eu	sou	maior	de	idade,	vou	para	a	balada!	E	é	claro	que	você
vai	comigo!
—	Duda,	 só	 peço	 que	 tome	 cuidado,	OK?	—	 aceno	 com	 a	 cabeça,	 e	 ela
continua:	—	Você	agora	é	maior	de	idade	e	não	é	bom	ter	uma	irmã	sempre	ao
seu	lado.
—	Credo,	Vane!	—	exclamo,	olhando-a	chocada.	—	Você	é	nova	e	tem	que
sair.
—	 Duda,	 menina,	 vamos	 fazer	 o	 seguinte:	 que	 tal	 a	 gente	 ir	 jantar	 no
restaurante	de	sua	escolha	e	depois	disso	você	segue	para	sua	balada	e	eu	volto
para	cá,	tomo	um	belo	banho	de	banheira	com	um	bom	copo	de	vinho?
—	Menina,	você	deve	ir	para	a	balada	comigo!	—	insisto.
—	 Não,	 Duda,	 eu	 preciso	 descansar,	 e	 outra:	 meu	 trabalho	 anda	 me
estressando	um	pouco.
—	Já	falei	para	você	sair	de	lá!
—	E	você,	mocinha,	está	na	hora	de	ir	para	a	escola!
—	Mas,	Vane,	eu	não	aguento	mais	lá	—	resmungo.
—	Duda,	aproveita,	que	é	o	seu	último	ano!
—	Eu	sei	disso.
—	Então,	o	que	está	te	incomodando?
—	Sinceramente,	 eu	não	 sei.	Quero	 terminar	 logo	esses	estudos	e	dar	um
tempo	para	descansar.
—	Duda,	 lembra	 que	 eu	 deixo	 você	 ficar	 alguns	meses	 sem	 estudar	 e	 só
depois	você	vai	fazer	a	faculdade?
—	Eu	sei,	Vane.	Eu	já	decidi	que	vou	fazer	Administração	de	Empresas,	e
quem	sabe	um	dia	vamos	montar	um	negócio	—	brinco.
—	E	você	não	quer	trabalhar	numa	empresa,	não?
—	Deus	me	livre!
—	 Agora,	 vamos	 lá,	 que	 eu	 te	 levo	 para	 a	 escola	 e	 depois	 sigo	 para	 o
trabalho.
—	Tá	bom!	Vamos!	—	acabo	cedendo.	Coloco	o	meu	presente	em	cima	da
minha	mesinha,	pego	as	minhas	coisas	e	saio	logo	atrás	da	Vanessa.
Quando	a	Vane	me	deixa	na	escola,	me	despeço	dela	e	sigo	para	a	sala	de
aula;	como	sempre,	já	tinha	gente	idiota	na	sala.	Os	moleques	eram	tão	idiotas	e
as	meninas	só	pensavam	em	meninos.
—	Ora,	ora,	se	não	é	a	gostosa	da	Maria	Eduarda	—	ouço	a	voz	irritante	de
ninguém	mais	e	ninguém	menos	do	que	Pedro,	o	babaca.	Desde	que	ele	entrou
na	escola,	vive	me	atormentando.
—	Não	enche,	Pedro!	—	 respondo,	 sem	nem	olhar	para	 ele.	Ele	vive	me
aborrecendo,	dizendo	que	eu	sou	gostosa.	E	de	uma	coisa	eu	tenho	certeza:	ele
fala	isso	só	para	ficar	me	zoando.	A	única	coisa	que	sinto	por	ele	é	nojo.
—	Nossa,	 hoje	 eu	 estou	metida!	—	 ele	 diz,	 ironizando.	 Eu	 sinceramente
não	o	entendo	mesmo.	O	cara	é	um	babaca	completo	que	só	sabe	me	infernizar.
—	Pedro,	você	não	bate	bem	da	cabeça,	não,	né?
—	Ah,	sim,	eu	bato	bem	da	cabeça,	e,	quero	dizer,	das	duas!	—	ele	pisca	o
olho,	e	olho	para	ele	com	nojo.
Deixo-o	 ali	 falando	 sozinho.	 Eu	 não	 vejo	 a	 hora	 de	 ir	 para	 a	 boate	 e
comemorar	meu	aniversário.	Logo	vêm	algumas	colegas	conversar	comigo,	me
desejando	feliz	aniversário	e	perguntando	onde	eu	iria	comemorar.
—	Estou	querendo	ir	à	boate	nova	que	inaugurou,	a	Devassa.
—	Obaaa,	eu	também	vou,	e	já	comemoramos	o	seu	níver,	o	que	acha?	—
pergunta	a	Adriana.
—	Com	certeza,	está	marcado!	—	fecho	com	as	meninas	o	nosso	encontro.
Sinto	que	 estou	 sendo	observada,	 e	quando	me	viro	vejo	que	o	Pedro	 está	me
olhando.	Não	gosto	muito	do	seu	olhar.
Algumas	horas	depois…
E	 aqui	 estamos,	 na	 boate	 Devassa.	 Está	 cheia	 e	 bem	 badalada.	 Eu	 estou
gostando	 do	 que	 vejo.	 Encontrei	 as	 meninas	 ali	 mesmo	 na	 porta	 da	 boate,
entramos	logo	e	seguimos	para	a	parte	do	bar.
Assim	que	chegamos	ao	bar,	 pedimos	a	nossa	bebida.	Brindamos	à	nossa
saúde	e	ao	meu	aniversário.
—	Como	 você	 está	 se	 sentindo	 agora,	 com	 18	 anos,	 Duda?	—	 pergunta
Lorena.
—	Maravilhosamente	bem!	—	grito,	e	rimos.
—	Ah,	menina,	 eu	 percebi	 que	 o	 Pedro	 está	 dando	 em	 cima	 de	 você	—
Adriana	comenta.
Olho-a	 e	 reviro	 os	 olhos	 sabendo	 do	 que	 ela	 estava	 falando.	 Ele	 era	 um
babaca	completo,	e	era	uma	pena	que	o	curso	que	eu	estava	querendo	fazer	ele
também	faria.	Bom,	era	o	que	eu	ouvia	sempre	dele.
—	Eu	não	gosto	dele!	Ele	se	acha	o	maior	gostosão,	fica	dando	em	cima	de
todas	e	ainda	acha	que	eu	vou	querer	alguma	coisa	com	ele.
—	Ele	me	perguntou	sobre	o	seu	aniversário.
—	E	o	que	você	respondeu?
—	Bem,	ele	queria	vir	aqui.
—	Pelo	amor	de	Deus,	eu	não	quero	esse	moleque	aqui!	—	protesto.
—	Amiga,	fica	tranquila,	eu	mesma	disse	isso	a	ele!	—	fico	mais	tranquila	e
volto	a	beber,	dançando	muito.
Algumas	horas	depois…
Eu	estava	um	pouco	cansada,	pedi	licença	para	as	meninas	e	avisei	que	iria
pedir	 água	 para	 ajudar	 a	 controlar	 a	 bebida.	 Quando	 chego	 lá,	 ouço	 uma	 voz
irritante.
—	Ora,	 ora,	 se	 a	Dona	Maria	Eduarda	não	 está	 bêbada!	—	quando	olho,
vejo	ninguém	mais,	ninguém	menos	do	que	o	Pedro.	Sinto	que	a	minha	noite	já
tinha	se	encerrado.
—	O	que	você	está	fazendo	aqui,	Pedro?
—	Ora,	o	mesmo	que	você!	—	fico	de	costas	para	 ele,	pego	o	copo	com
água	 e	 tomo,	 para	 ver	 se	me	 ajudava	 a	melhorar	 para	 pedir	 um	 carro	 e	 irmos
embora.	—	O	que	você	está	bebendo?
—	Agora	água	—	ele	me	estende	o	copo	e	diz:
—	Quer	 tomar?	—	me	mostra	 o	 seu	 copo.	 Ele	 se	 senta	 do	meu	 lado,	 eu
termino	a	minha	água	e	peço	uma	Coca-Cola	bem	gelada.	Sou	distraída	com	um
cara	que	chega	ao	meu	lado	e	me	oferece	uma	bebida.
—	Não,	obrigada!	—	respondo,	e	termino	de	beber	o	refrigerante.
—	A	gatinha	me	dá	seu	número?
—	Não	dou	o	meu	número	para	nenhum	estranho	—	respondo,	e	olho	para
o	Pedro,	e	por	incrível	que	pareça	ele	me	deixou	sozinha	ali	com	o	idiota.
Saio	 dali,	 sentindo	 que	 estou	 com	 muito	 sono,	 e	 resolvo	 procurar	 um
banheiro	e	ligar	para	um	táxi,	ou	mesmo	um	Uber.
—	Droga,	bebi	demais!	—	resmungo,	cada	vez	com	mais	sono,	se	isso	era
possível,	e	tonta.	Não	encontro	o	bendito	do	banheiro,	e	quando	finalmente	acho
que	é	e	empurro	a	porta,	do	nada	sou	empurrada	para	fora.	Não	era	um	banheiro,
mas	 uma	 saída	 de	 emergência.	—	 Puta	 que	 pariu,	 o	 que	 estou	 fazendo	 aqui?
Quem	 foi	que	me	empurrou?	—	pergunto	 a	mim	mesma,	 e	quando	vou	entrar
ouço	uma	voz	abafada:
—	Aonde	você	pensa	que	vai,	sua	putinha?	—	naquele	momento,	sinto	que
algo	horrível	poderia	me	acontecer.
—	Quem	 é	 você?	—	 sussurro,	 e	 começo	 a	 dar	 passos	 para	 trás.	Quando
sinto	que	esbarrei	na	pessoa,	eu	gelo	de	medo.
—	Eu	sou	aquele	que	vai	cuidar	com	muito	carinho	de	você!
Quando	tento	correr,	ele	me	puxa,	e	começo	a	chorar	de	dor	e	grito:
—	Socorroooooo…
Levo	um	tapa	no	rosto	e	sinto	o	gosto	do	sangue	em	minha	boca,	e	sei	que
estou	machucada.	Nessa	hora	desejei	nunca	ter	vindo	para	essa	maldita	boate.
—	Agora	seja	uma	boa	menina	e	deixa	que	eu	vou	te	cuidar.
Eu	tento	enxergar	o	seu	rosto,	e	não	consigo.	Tento	descobrir	a	sua	voz,	e
também	não	consigo.	Estou	morrendo	de	medo.
—	 Me	 deixa	 em	 paz,	 seu	 idiota!	 —	 grito,	 rezando	 para	 que	 alguém
aparecesse,	e	nada.
—	Então	quer	dizer	que	você	é	valente,	não?	—	ele	diz,	em	tom	ameaçador,
e	 sinto	 suas	mãos	 em	meu	 pescoço	 apertando	 com	 tanto	 gosto,	 que	 sinto	 que
estou	ficando	sem	ar.
—	 Por	 favor,	 não	 me	 machuque…	 —	 peço,	 chorando,	 e	 o	 aperto	 se
intensifica	 e	 começo	 a	 tossir,	 percebendo	 que	 logo	 estaria	 perdendo	 a
consciência.
—	Ah,	não	vou	te	machucar,	não!	—	ele	diz,	com	convicção,	e	não	tenho
tanta	certeza.	Quando	estou	a	ponto	de	desmaiar,	o	homem	me	joga	no	chão,	e
desejo	do	fundo	do	coração	que	ele	tenha	se	arrependido	e	peço	novamente:
—	Por	favor,	me	deixa	ir	embora?
Ouço	o	barulho	de	cinto	de	calça	e	sei	que	não	teria	volta.
—	Não,	hoje	você	vai	ser	a	minha	putinha!	—	logo	as	suas	mãos	estão	em
meu	corpo.	Sinto-me	suja.
—	Me	larga,	por	favor!	—	peço,	mais	uma	vez.
—	Não!	Eu	tenho	uma	coisinha	muito	especial	para	você!	—	ele	diz,	e	enfia
uma	coisa	em	minha	boca.	Percebo	que	é	o	seu	pênis

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