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Sinopse Com mais de 2,8 milhões de visualizações na internet, Meu Delegado vem fazer parte da Amazon. Sophia Santos era ainda uma menina quando viu a sua vida virar de cabeça pra baixo ao ser estuprada por um dos bandidos mais procurados do Rio de Janeiro. Três anos se passaram e ela se vê, novamente em um beco sem saída, tendo que, agora mais do que nunca sair para procurar um emprego e sustentar sua mãe e seu filhinho de apenas três anos. Rodrigo Albuquerque no auge dos seus trinta e três anos é um delegado federal, um cara mal humorado, frio, que não admite que nada saia de seu controle. Gosta de tudo no seu tempo, do seu jeito. Não aceita um “não” como resposta. Em um dia na casa de sua amiga, Sophia recebe a proposta de trabalhar na casa de um homem solteiro, com gostos peculiares e sem um pingo de paciência. Sem ter como negar a oferta, por realmente precisar do emprego. Sophia aceita, sem saber que dali por diante sua vida não seria mais a mesma. Será que ela vai ceder a todo esse sentimento depois tudo? E ele, será capaz de mudar por ela? Agradecimentos Primeiramente... Agradeço a minha mente, né. Por que sem ela eu não seria nada! Depois, agradeço aos meus pais por me fazerem, porque se naquela determinada noite, daquele determinado dia, meu pai e minha mãe não tivessem... Eu não estaria aqui escrevendo essas putarias que com certeza darão desgosto a família. (rs rs) Agora sendo mais séria, agradeço a todos os leitores que me deram incentivos a continuar nessa jornada que não é nada fácil. Agradeço a Lene Silva também por fazer uma capinha legal e por ser uma amiga muito boa, amável e linda, que nunca saiu do meu lado nos momentos duros e me ouviu quando tive dúvidas nas partes HOTS que coloquei nesse livro. ( Só para deixar claro, foi ela quem escreveu essa parte ). Ah... Agradeço a você também por gastar seu dinheirinho comigo, sei que a crise está difícil, mas prometo que valerá a pena. E então sem mais delongas porque não sou dessas... Bem vindos ao Meu Delegado. Meu Delegado PRÓLOGO Sophia Três anos atrás... Estava subindo as escadarias do morro, já estava escuro e deserto, também, duas horas da manhã, aqui por esses lados costuma ser bastante deserto. Como hoje é sábado e tem baile na quadra, que fica para o outro lado da comunidade, todo mundo deve estar lá. Eu estava com medo. Por mais que fosse conhecida ali, nunca sabemos o que esses meninos com a cabeça cheia de drogas são capazes de fazer. Eu voltava da festa da Camila, uma amiga minha que mora no Leblon, ela e o irmão me trouxeram até o pé do morro. Eles até queriam subir comigo, mas eu achei melhor não. Faltavam apenas duas quadras para eu chegar a minha casa quando escuto um barulho de moto e logo em seguida um farol parando a minha frente. Reconheci como sendo a Kawasaki preta do DG, ele era o chefe do morro e eu o odiava, odiava o jeito que ele me olhava. Ele era nojento, me dava medo. Ele sempre dizia que um dia eu ainda seria dele. E todas às vezes, eu me arrepiava da cabeça aos pés, com medo do que ele poderia fazer comigo para conseguir isso. Muitas meninas do morro matariam e morriam pra ficar com ele. Elas o acham extremamente lindo, o que eu também não posso negar, ele tem lá sua beleza. Ele é loiro, não aqueles loiros exagerados, mas, mais puxado para um castanho claro, seus cabelos tinha um corte bem baixo, mas mesmo assim era um pouco arrepiado, seus olhos azuis, sua barba por fazer, seu físico forte de academia e algumas tatuagens pelo corpo. E o que me dava mais medo, era sua cara fechada. Toda a sua beleza ia por água abaixo quando eu olhava para aquele rosto fechado como se á qualquer momento ele fosse fazer algo de ruim comigo. Para muitas ele era um deus grego, mas eu não conseguia sentir nada do que elas sentiam. Já presenciei muitas brigas entre as mulheres para ver quem conseguiria ir pra cama com ele. Mas a única coisa que eu sentia por ele era medo e nojo. Ele me lança um olhar que faz o meu corpo inteiro se arrepiar, de medo, e desce da moto. Por incrível que pareça estava só. - Oi gatinha, não acha que está tarde demais pra ficar andando sozinha aqui na favela? – diz passando a mão nos meus cabelos cacheados. A vontade que eu tinha era sair dali correndo. - Nã...Não.... Eu já estava subindo... Com licença. – disse tentando passar, só que ele se põe na minha frente novamente. - Ei... Pra quê essa pressa toda? - Te..tenho que ir, minha mãe deve estar preocupada. – o que é verdade. - Então chega ai, te dou uma carona. – diz pegando no meu braço me levando para perto da moto. - Nã..não precisa, eu já estou chegando.- tento me desvencilhar do seu aperto no meu braço, mas é em vão. - Relaxa gata. – diz montando na moto. – Senta ai. Eu estava com medo, eu queria sair correndo dali, eu não tinha um pressentimento muito bom, mas se eu também não fosse ele poderia fazer algo depois. Respiro fundo, segurando a vontade de chorar de medo e subo na moto segurando sua cintura. Ele coloca a moto em movimento, e quando eu penso que ele vai virar na esquina da minha casa ele passa direto. Ena mesma hora um desespero começou a tomar conta de mim. - DG minha casa é ali. – digo um pouco nervosa. - Eu sei minha linda, mas a gente vai dar um passeio antes. – diz e pelo tom da sua voz sei que está sorrindo. Um calafrio sobe pela minha espinha e uma vontade de me jogar daquela moto e sair correndo, tomou conta de mim. Mas eu não consegui dizer nada, eu estava com medo, o meu corpo não reagiu na hora. Eu só queria que ele tivesse me levado para casa. Na verdade eu não queria nem ter cruzado com ele por aqui. Quando dou por mim o vejo parando a moto em frente a sua casa, que era no maior ponto da favela. Não penso duas vezes e desço da moto tremendo de medo do que ele poderia fazer comigo. Quando penso em sair andando de volta para a minha casa, o ouço me chamar e sinto sua mão no meu braço. - Vem... Vamos entrar. - Nã...não, eu vou pra casa. – digo com meus olhos já cheios de lágrima. - Calma ai. – diz chegando perto de mim me prendendo entre ele e a moto. – Vamos entrar e conversar um pouco. – Diz com sua boca no meu pescoço e sua mão segurava a minha cintura. - Não... me deixa ir embora, por favor. – nessa altura as lagrimas já desciam livremente pelos meu rosto. O medo dele querer me forçar a fazer algo com ele, tomou conta de mim. - Não precisa ficar com medo. – começa a beijar meu pescoço, e aquilo estava me matando, eu sentia um nojo tão grande, eu queria ir embora dali. – Vai ser rápido.- sussurra no meu ouvido. Suas ultimas palavras me provocaram ainda mais medo e certeza de que ele seria sim capaz de me forçar a fazer algo que eu não queira fazer.E mesmo sem querer, começo a chorar mais. Tento me desvencilhar do seu aperto, mas ele me prende mais contra si. Eu tentava chutá-lo, mas nada adiantava, ele era muito mais forte. E com essa força ele conseguiu me levar para dentro de sua casa. - DG, por favor, me deixa ir embora... Por favor. – as lágrimas caiam sem parar dos meus olhos e o desespero começou a crescer assim como o medo. Ele me joga no sofá e se deita por cima de mim. - Não se faça de difícil Sophia. –diz beijando meu pescoço e apalpando meu seio. – Eu sei que você quer. Todas me querem e com você não é diferente. - NÃO! EU NÃO QUERO, ME SOLTA! – eu estava desesperada. Eu tentava de todos os jeitos afastá-lo de mim, mas ele era mais forte. Seus braços conseguiam me segurar com força entre o seu corpo e o sofá. - Para de ficar fazendo cu doce, Sophia. – ele leva outra mão até minhas pernas, e sobe por toda a extensão, tocando minha intimidade por baixo do vestido. Eu comecei a me debater ali naquele sofá, eu não queria assim. Não queria que minha primeira vez fosse um estupro. - Por favor, DG, me deixa ir pra casa, eu não quero... me solta. – eu tentava de todos os jeitos o tirar de cima de mim, mas era em vão. Ele para, fecha a cara, sua expressão agora é de raiva. Seus olhos ficam escuros e como se não fosse possível eu ficocom mais medo ainda. - Foda-se que você não quer, eu quero caralho, e já estou cansado de ser bonzinho com você. Diz e rasga o meu vestido. Eu continuo me debatendo no sofá com ainda mais força, na esperança de conseguir tirá-lo de cima de mim. Mas não adianta, ele não desiste. Ele mais forte. - Você fica esse tempo todo me provocando e chega agora vem dizer que não quer? – ele parecia ter dez mãos ao invés de duas. Elas passavam rapadas e precisas por todo o meu corpo, não me dando chances nenhuma de sair debaixo dele. - VOCÊ É MALUCO, EU NÃO FIZ NADA. ME SOLTA. – grito desesperada quando o sinto rasgar a minha calcinha. - Ah Sophia, fez sim. Você com esse seu jeitinho quietinha me excita, me fascina. Você é diferente das putas aqui do morro... eu sei que você também me deseja. – diz passando a mão na minha intimidade. – Eu sempre imaginei como seria o meu pau aqui dentro dessa bucetinha virgem. - NÃO, NÃO, POR FAVOR! NÃO FAZ ISSO, POR FAVOR! Eu já estava sem voz, estava sem forças. Mas eu também não queria me deixar vencer por ele. Eu não queria que fosse assim. - Você vai gostar, eu sei que vai. – diz no meu ouvido e lambe a extensão do meu pescoço me deixando com ainda mais nojo de tudo isso. Quando ele se levanta para retirar sua bermuda, vejo ali a chance de me levantare fugir. E é isso que tento fazer, mas sou impedida por sua mão nos meus cabelos os puxando com toda força. Eu só consegui senti o meu corpo bater novamente no sofá, o que fez um gemido de dor sair da minha boca e as lágrimas descerem com mais força. Ele termina de tirar a boxer rapidamente e seu membro pulou para fora. Ali eu vi que não tinha mais volta, eu vi que ele não voltaria atrás no que estava fazendo. E eu não estava acreditando que Deus ia me deixar passar por uma coisa dessas. O que eu fiz pra merecer isso? Sinto o seu corpo cair por cima do meu e agora eu não tenho mais forças para impedir, eu não tinha mais como impedir. Fecho meus olhos com toda a força do mundo para não ver a pior cena da minha vida que viria em seguida. Sinto-o entrar com tudo dentro de mim, uma dor fora do normal toma conta, parecia que ele estava me partindo no meio. Um grito agudo saiu da minha boca, e o choro se intensificou. Ele beijava todo o meu rosto, apalpava os meus seios e eu só conseguia sentir nojo e ódio daquilo tudo. Ele começou a se mover dentro de mim, e dizia o quanto eu era gostosa, o quanto eu era apertada. E eu só ia ficando com ainda mais nojo dele. Foi uma hora de tortura, ele me fez ficar em varias posições e aquilo era humilhante, eu queria que ele me matasse ali mesmo, eu não me importaria nem um pouco. Assim que ele goza, sai de dentro de mim e se deita no chão. Eu ainda chorava muito, não acreditava que isso tinha acontecido, mais do que a dor física que eu sentia, a emocional me matava. Eu me sentia suja, imunda, humilhada... a pior pessoa do mundo. Todo o meu valor tinha ido embora. Depois de alguns segundos deitado no chão, ele se levanta e sai da sala. Mas eu não tenho forças para levantar, quero, mas não consigo. As lagrimas não param de descer, a dor no meu corpo e na minha alma só faziam-me me sentir pior. Minutos depois ele volta com uma toalha amarrada na cintura, seu cabelo molhado e um vestido na mão. - Para de chorar, porra. – diz parecendo irritado e eu forço-me a engolir o choro. – Toma, veste esse vestido da Isabela, deve dar em você. – diz jogando o vestido em cima de mim. - Po..pos.sso ir ao ban..heiro!? – digo ainda encolhida no sofá, tentando inutilmente cobrir o meu corpo com meus braços. - Vai lá.- diz se dirigindo para a cozinha. Com muito sacrifício me levanto do sofá e vou andando vagarosamente até o banheiro. Assim que fecho a porta desabo no chão chorando novamente. Eu ainda não consigo entender o porquê disso ter acontecido comigo. Sou obrigada a me levantar. Vou até o chuveiro, jogo uma agua no corpo apenas para tirar os vestígios de sangue. Saio, me seco com uma toalha que tinha ali e logo coloco o vestido que ele me deu, ficou parecendo uma blusa de tão curto. Enxugo minhas lágrimas e saio do banheiro de cabeça baixa. Quando chego á sala o encontro sentado no sofá, agora de bermuda e fumando um cigarro. O ódio que eu estou sentindo por esse homem agora é tão grande, que eu seria capaz de pegar essa arma que está em cima de sua mesa e atirar em sua cabeça. Me abaixo com muita dificuldade, pois as dores no meu corpo eram enormes. Pego minha bolsa no chão e quando estou quase abrindo a porta, sinto o corpo do DG me prensando nela.Ele segura na minha cintura, e um medo de que ele faça tudo novamente, toma conta de mim. - Se contar isso que aconteceu aqui pra alguém, eu mato a sua mãe e faço o mesmo contigo. - Minha mãe não, ela é a única pessoa que eu tenho, a pessoa que eu mais amo nesse mundo. - Entendeu!? – diz apertando forte o meu braço e eu balanço a cabeça afirmando que sim. – RESPONDE CARALHO. – grita no meu ouvido e me aperta com mais força. - Sim... entendi. - Tá... pode ir, se eu precisar de você de novo eu te chamo. – antes de desgrudar o seu corpo nojento do meu, ele deixa um tapa na minha bunda e um beijo no meu pescoço. Eu mordo minha boca de raiva e nojo e passo minha mão lentamente no pescoço tentando limpar o beijo. Sai o mais rápido que consegui de dentro daquela casa e fui andando, ou melhor, me arrastando pelos becos quase desertos da favela. Os únicos que se encontravam nas ruas eram os traficantes, que mexiam comigo por onde eu passava, acredito eu que pelo tamanho minúsculo do vestido que eu estou usando. E cada assovio ou cantada que eu recebia eu sentia ainda mais medo de alguém me agarrar novamente. Por conta disso eu passei a praticamente correr e nem ousava olhar para os lados. Apenas para baixo. Meu corpo doía, tanto física como emocionalmente. Eu ainda não conseguia acreditar que eu passei por isso... Meia hora depois eu finalmente chego em casa e graças a deus a minha mãe estava dormindo no sofá. Decido ir tomar um banho primeiro antes de acorda-la, eu não quero que ela me veja com essa roupa e com essa cara de choro, por mais que se eu tomar um banhosei que essa cara não vai sair. Fico algumas horas de baixo do chuveiro me esfregando com a bucha. Minha pele já estava vermelha e ardida, mas eu não me importava, eu queria era tirar todo o vestígio dessa noite horrível que tive. As lagrimas se misturavam com a água que caia do chuveiro, os soluços saiam baixos de minha boca. Deixo o meu corpo cair no chão do banheiro e junto os meus joelhos, esfrego com força as minhas pernas, braços e rosto. Mesmo com a dor que sentia no rosto e provavelmente machucaria por conta da força com que eu esfrego, eu não me importei. Machucado ou dor nenhuma nesse momento é maior do que a que eu estou sentindo agora. Depois que tive a total certeza de que estava realmente limpa, eu saí de dentro do box. Me sequei e coloquei o pijama que eu tinha pego antes. Assim que saio do banheiro eu dou de cara com a minha mãe no corredor. - Oi minha filha, você demorou. Eu estava preocupada. - Desculpa mãe, é que eu acabei me empolgando e perdi a hora de voltar. – digo de cabeça baixa. - Poxa, por que não me avisou? Poderia ter me ligado e eu ter ido lá embaixo te buscar. – diz um pouco brava e ao mesmo tempo eu via preocupação em seus olhos. - Eu imaginei que a senhora já estivesse dormindo. Eu vi o quanto estava cansada hoje, não queria atrapalhar, daqui a pouco a senhora tem que acordar pra ir ao trabalho... - Não importa, poderia ter me ligado mesmo assim. - Mãe, eu cheguei a senhora estava dormindo. - Eu apenas tirei um cochilo, sem nem perceber. Eu vi quando você chegou... – diz e levanta suas sobrancelhas de leve e pergunta. – Por que demorou tanto no banheiro? Merda! Eu não posso e nem vou falar nada pra ela do que aconteceu. Não vou mesmo. - Estava com dor de barriga. Comi muito brigadeiro na festa. Ela sorri e passa a mão pelos meus cabelos molhados. - Lavando o cabelo antes de dormir, garota, já disse que faz mal. Eu jáestava cansada de encará-la, de olhar pra ela e agir naturalmente como se nada tivesse acontecido nas ultimas horas. A única coisa que eu queria era que ela parasse de falar e me deixasse ir para o meu quarto e chorar mais e mais. - Eu passo o secador rapidinho antes de dormir, não tem problema. - Huum! E como foi a festa? – pergunta e pelo o que eu a conheço eu sei que se eu não cortar ela agora, ela vai querer falar até amanhecer. - Mãe, será que a gente pode conversar amanhã? Eu estou cansada, preciso dormir. Ela sorri de lado, leva a mão ao meu rosto e diz. - Tudo bem minha filha, pode ir. – ela deixa um beijo na minha testa e me olha. – Mas na próxima vez eu quero que você venha pra casa mais cedo ou que me liga pra eu ir te buscar. É perigoso pra você ficar andando por ai sozinha à noite. - Eu sei mãe. – minha voz sai meio tremula, mas eu não deixo transparecer. Só eu sei o quanto é perigoso andar por ai sozinha, mãe. Vou para o meu quarto antes que ela resolvesse conversar mais comigo e assim que entro, fecho a porta e me deito na cama, ignorando totalmente o meu cabelo molhado que provavelmente me deixaria doente por dormir com ele assim. Mas não me importo. Deito minha cabeça no travesseiro, as lágrimas voltam e eu não consigo segurar, as deixo descerem. [...] - O que você está me falando Sophia?! – diz a Camila com os olhos arregalados em surpresa. Duas semanas se passaram depois do abuso que eu sofri e eu não tive coragem de contar para ninguém. Eu estava na escola, nós estudamos no Pedro II, é um dos melhores colégios do Rio de Janeiro, eu consegui passar porque sempre fui muito estudiosa, e muito centrada em tudo que eu queria. A Camila é a minha melhor e única amiga, ela tem a mesma idade que eu, só que diferente de mim, ela tem dinheiro, mora em um condomínio de luxo no Rio e ao contrario de muitas, ela não se acha por isso. Está pra nascer menina mais doida e favelada que a Camila. Eu durante todas essas semanas, passei quieta no meu canto. Eu não queria sair de casa, não queria conversar com ninguém, só queria ficar na minha. Só queria ficar só e tentar de alguma forma tirar toda essa dor e nojo de mim mesma que eu estou sentindo.Mas eu nunca consigo esconder nada da Camila, ela estava enchendo o meu saco todos esses dias, querendo saber o que tinha acontecido. Querendo saber o porquê de eu estar tão longe. O porquê de eu estar chorando pelos cantos e tão sem vontade de tudo. Eu por outro lado queria contar pra alguém, eu necessitava, mas a vergonha, o medo de ser julgada, ou pior, do DG descobrir que eu disse á alguém e fazer mal á essa pessoa, me impedia de contar. Mas depois de muito fazê-la jurar que não contaria nada á ninguém, eu acabei contando tudo que tinha acontecido naquela noite para a Camila, não conseguindo segurar as lágrimas e a dor que dilacerava o meu peito, como sempre acontecia quando me lembrava do ocorrido. - Eu não estou acreditando no que você acabou de me falar, Sophia. – diz com lágrimas nos olhos. – Isso... isso... isso é horrível. Você tem que denunciar esse cara, Soph, não pode ficar assim! – ela também, assim como eu, já chorava muito. - Não... Mila, você me prometeu que não ia contar nada a ninguém, por favor, não conta. Ninguém pode saber. – peço desesperada segurando em suas mãos. - Mas amiga ele não... - Ele disse que ia matar minha mãe caso eu falasse pra alguém, por favor, não conta. Eu sei que ele tem poder pra isso, ele é o chefe do morro. Ele pode. – eu estava desesperada. - Soph, eu tenho um primo que é delegado, eu posso falar com ele e... - Não... Por favor, não conta nada, eu te peço, Mila. – seguro com mais força suas mãos nas minhas. Ela para um tempo parecendo observar o meu desespero e aflição. E parece que eu consegui convence-la. - Tudo bem amiga, mas é porque você está implorando. E também porque eu conheço muito bem esses caras, sei do que são capazes. – diz ainda chorando e ao mesmo tempo passava suas mãos pelo meu rosto. – Não acredito que não me contou isso antes, eu poderia ter te ajudado. Isso tudo é culpa minha, se eu tivesse subido com você... - Se não fosse naquela noite ia ser em outra, não é de hoje que ele me cerca, só que eu nunca pensei que ele realmente poderia fazer algo assim. – digo enxugando as lágrimas. - Ai amiga, eu sinto tanto por você. – diz me abraçando forte. Eu sabia que nela poderia confiar, ela era a irmã que eu nunca tive. Ficamos horas naquele banheiro, ela me consolando, e eu tentando de alguma forma apagar toda aquela noite horrível da minha mente. [...] - Amiga, já é a quinta vez que você vomita só hoje. – dizia a Camila segurando meu cabelo enquanto a minha cabeça estava praticamente dentro do vazo. Tinha se passado um mês, e pelo menos uma boa noticia eu tive em meio a isso tudo. O DG tinha sido preso semana passada em uma operação que teve lá no morro. Isso foi um alivio pra mim, me ver livre daquele cara nojento. Eu espero que ele apodreça naquela cadeia, ou melhor, que o matem lá dentro. - Já estou melhor. – digo levantando e indo até a pia lavar a boca. – Deve ter sido algo que comi. A Camila cruza os braços na altura dos seios e me olha de um jeito estranho. - O que foi!? - Sophia... isso me parece outra coisa. – diz chegando mais perto. Eu sabia muito do que ela falava. E não, eu não queria, eu não aceitaria isso. - Não Camila. – digo jogando água no rosto. - Não custa nada fazer um teste, Soph, só pra descartarmoslogo essa hipótese. [...] Depois de muito esperar, a recepcionista chama o meu nome, vou até o balcão de atendimento e pego o envelope de suas mãos. Eu estava ansiosa, nervosa e com medo de abrir e sair o resultado que eu tanto temo. Eu não queria carregar um fruto de um estupro dentro de mim. Eu não sei se saberei lidar com isso. Na verdade ninguém quer. Sinto a Camila pegar o envelope da minha mão e vejo-a guardar em sua bolsa. Logo em seguida ela segura na minha mão me levando até a entrada da clinica. Ela entra em um dos taxis que ali estava parado e eu entro também. Fiquei calada o tempo todo. Não conseguia dizer nada, só pensar, e torcer pra que esse exame dê negativo. Um tempo depois o taxi para em frente a grande casa da Camila, ela paga a corrida e logo descemos entrando em sua casa. - Pode ficar tranquila, minha mãe não está em casa. – disse assim que entramos no seu lindo quarto e ela fechou a porta em seguida. - Tá, abre logo esse exame, Mila. – eu estava aflita, ansiosa... com medo, muito medo. - Tá... Ela rasga o envelope e começa a ler o papel. - E ai Camila? – pergunto apertando minhas mãos com força uma na outra, o meu corpo tremia de nervoso e minha boca estava completamente seca. - De... deu positivo. – Ela diz e abaixa o papel , levando agora o seu olhar de encontro ao meu. Ela só não pareceu mais desesperada do que eu nesse momento. Na mesma hora eu senti o meu mundo desmoronar.Não! Não podia ser. Eu não estou gravida daquele homem, eu não aceito isso. - Vo...você leu direito!? – vou até ela e pego o papel de sua mão. – Deixa eu ver isso. Eu tremia, mal conseguia segurar o papel em minhas mãos. Quando eu vi escrito em letras garrafais um POSITIVO no papel eu não consegui segurar as lágrimas. Eu entrei em desespero. Não bastava eu ser estuprada, eu ainda teria que carregar pra sempre um fruto disso. Eu só queria saber o que eu fiz pra merecer algo assim. A minha vida acabou, todos os meus sonhos, os meus planos, tudo acabou. - Amiga calma. – diz se sentando ao meu lado na cama e me abraçando. - Como você quer que eu tenha calma Camila? Eu estou gravida, grávida de um bandido nojento, que sem pena nenhuma abusou de mim. Como você quer que eu fique calma? Minhas lágrimas caiam sem parar, eu consigo ver a minha vida terminando de ir para o buraco agora mesmo. O que eu faço da minha vida agora? - Você o quê?! – diz a tia Patrícia entrando no quarto. Ela tinha os olhos arregalados em surpresa, parecia horrorizada com o que acabou de ouvir. - Mãe, quantas vezes eu já disse que asenhora tem que bater na porta antes de entrar, caramba? – diz a Camila se levantando e logo em seguida me olhando como se pedisse desculpas pelo acontecido. Ela ignora totalmente o que a Camila disse, veio até a mim e se ajoelhou na minha frente. - Sophia, isso é sério? Você realmente foi... - Mãe, por favor, me dá licença. - Cala a boca Camila. – diz olhando para sua filha e logo se virando para me olhar. – Soph você pode confiar em mim, Okay? – diz passando as mãos nos meus cachos. Ela sempre foi bem atenciosa e carinhosa comigo. A tia Patrícia sempre foi uma pessoa super legal, não era nenhuma dondoca cheia de frescura, muito pelo contrario, sempre muito simples e atenciosa quando se tratava dos filhos. E pelo visto ela não vai sair daqui antes de ouvir novamente da minha boca o que aconteceu. - Si...sim. – digo não conseguindo segurar o choro. Ela levanta, me abraça forte e eu chorei mais ainda em seus braços. - Sua mãe sabe? – pergunta se sentando na cama no meu lado. Posso ver os seus olhos também marejados. - Não... Tia, olha, não conta nada disso pra ninguém, por favor! – imploro chorando. - Sophia, isso é muito sério, você está grávida, você foi estuprada. O cara que fez isso com você tem que pagar. - Quanto a isso a senhora não precisa se preocupar, ele já está preso. E eu espero que não saia nunca mais. - Você já sabe o que vai fazer em relação a essa gravidez? - Nã..não sei. Eu não quero isso... – digo com raiva. - Não pode ser assim também Soph, essa criança que está ai dentro de você não tem culpa de nada. - Eu sei, mas eu não vou conseguir carregar isso aqui dentro de mim, eu não vou conseguir amar essa criança. E se for pra ser assim é melhor eu tirar logo... Mas eu também sei se vou conseguir fazer isso. Que merda! Por que comigo Deus? Por que justo comigo? - Olha, você que sabe. Mas como experiência própria de quem já teve um aborto... - Mãe você já abortou!? - a Camila pergunta espantada. - Sim minha filha. – diz pra ela e logo se vira pra mim novamente. – E Sophia, não é uma das melhores sensações nem de longe, você não vai consegui colocar sua cabeça no travesseiro e dormir tranquila lembrando que matou uma vida, pior, que matou seu próprio filho. - Mas eu não sei o que fazer, eu não vou falar isso pra minha mãe. Eu não consigo. – levo minhas mãos ao rosto o tapando e um soluço alto sai de minha boca. - Tudo bem, eu te entendo, mas pensar melhor. Não vá fazer uma coisa que você vá se arrepender depois. Você pode ter a criança e depois que nascer você ainda não conseguir ter nem um pouquinho de sentimento por ela, se ele recordar todos os momentos horríveis que você passou. Você pode dar para adoção ou alguém que queira. O que não falta são casais doidos para terem filhos e não podem. - A senhora está certa. - Então você vai continuar com a gravidez? - Si..sim, eu vou tentar... tentar. Eu não teria coragem de matar alguém, seria desumano demais acabar com uma vida dessa maneira. Essa criança não tem culpa de eu ter passado por tudo o que eu passei, ele não merece. Eu não sei o que minha mãe vai falar sobre isso tudo, mas eu estou disposta a enfrentar. - Isso ai minha querida. – diz passando a mão nos meus cabelos. – E sempre que precisar, estaremos aqui. - É amiga, sempre. – diz a Camila ajoelhando na minha frente e segurando a minha mão com força. [...] - VOCÊ O QUÊ?! – minha mãe praticamente cuspiu essas palavras duramente na minha cara. Quando eu percebi que não daria mais para esconder da minha mãe, eu resolvi contar. Três meses, eu estou com três meses de gestação. Não foi fácil esconder a barriga, os enjoos, as lágrimas...Eu percebi que de qualquer jeito, uma hora ela ficaria sabendo, afinal de contas se eu decidi continuar com a gestação não tem mais como parar. Só que me faltava a coragem para dizer a ela o que aconteceu... Quer dizer, inventar uma historia para justificar essa gravidez. Pois se depender de mim a minha mãe nunca saberá a verdade. Olho para o seu rosto cansado e vejo os seus olhos em uma expressão de incredulidade, desgosto e raiva. Merda! - Mãe eu... me desculpa. – comecei a chorar mais ainda. Normal. Isso é o que eu mais venho fazendo ultimamente. Chorar. - Por que Sophia? Não foi por falta de conversa. Quantas vezes sentamos para conversar sobre o assunto e eu sempre te deixei a vontade pra me dizer quando você quisesse ou tivesse transado? Eu sempre te deixei a par dos cuidados que teria que tomar. - E..eu...se..seei ... mãe...desculpa. – me sento no sofá abaixando a cabeça com vergonha de encara-la. - Quem é o pai? Agora que ferrou tudo de vez, eu não podia dizer pra ela que essa criança é fruto de um estupro, até porque ela ia querer saber quem foi, e eu não colocaria minha mãe em risco. Por mais que ele agora esteja preso, eu sei do poder que ele tem. Se ele quiser, mesmo de lá de dentro ele mata minha mãe e a mim também. - ME RESPONDE, SOPHIA! – ela grita e me faz pular de leve no sofá, por conta do susto. - E...e..eu... não sei.- digo e vejo a decepção estampada no seu rosto. - Co...como assim você não sabe, Sophia?! - E..eu não sei mãe. - MINHA FILHA VIROU UMA PUTA AGORA, É ISSO?! As palavras dela me machucaram. Eu preferiria morrer ao escutar essas palavras saindo de sua boca. - Mãe não é assim tamb... - É assim sim, você virou uma puta, Sophia, está pior que essas garotas ai do morro, nem o pai do seu filho você sabe quem é. – ela chega na minha frente, pega comforça no meu queixo me fazendo olha-la. – Eu tenho vergonha de você, você não é minha filha, não é a menina que eu criei sozinha com todo o sacrifício do mundo... – ela solta meu rosto com força. – Eu me mato de trabalhar pra dar o melhor pra você, Sophia, e você faz isso? - De...desculpa mãe. - Eu fui a sua amiga esse tempo todo, sempre estive do seu lado. Eu pensava que você confiava em mim. – diz me olhando com raiva – Você não se deu nem o trabalho de me avisar que estava dando pra cidade inteira. - Não é assim, mãe eu não... - CALA A BOCA GAROTA. EU NÃO QUERO MAIS OUVIR SUA VOZ, SAI DA MINHA FRENTE. – ela grita com o rosto próximo ao meu e aponto o braço em direção ao quarto. Não penso muito e me levanto, me arrasto para o meu quarto e me jogo na cama, deixando as lágrimas caírem a vontade pelo meu rosto. Eu prefiro ver minha mãe falando essas coisas de mim do que vê-la morta. Por ela eu suporto isso tudo. 1° CAPÍTULO Sophia Três anos se passaram e agora me vejo aqui desempregada com minha mãe sem poder trabalhar e o meu filho, que agora tem dois anos de idade. Sim, eu realmente tive o bebê, e não me arrependo nem um pouco da escolha que fiz.O Gustavo é a criança mais linda do mundo. Infelizmente ele se parece um pouco com o desgraçado do DG, os olhos, por exemplo, são os mesmos. Mas o meu amor que eu sinto por ele é tão grande que eu não consigo sentir raiva por ele de alguma forma me lembrar àquele desgraçado, muito pelo contrario, eu o amo muito e não me vejo sem ele. Minha relação com a minha mãe não é a mesma desde o dia em que eu contei que estava grávida, ela não me expulsou de casa, como eu pensei que faria, mas também não temos a mesma relação de antes. Sempre quando temos alguma discussão ela não perde a chance de jogar na minha cara o fato de eu não saber quem é o pai do meu filho. Eu acabei perdendo realmente a confiança da minha mãe. Eu consegui entender o lado dela de agir assim, eu realmente não tinha motivos nenhum para “Fazer o que fiz”. Ela não sabe o que realmente aconteceu então eu tento não sentir raiva dela por isso. É claro que me dói ver a minha mãe distante de mim. Mas eu não tiro sua razão por me tratar assim. Ela não aceita até hoje o fato de eu não saber quem é o pai do Gustavo. Por conta disso eu virei motivos de fofoca em toda a Rocinha. “A santinha que de um dia pro outro engravidou e não sabe quem é o pai do bebê.“ “A nova puta da favela.” E por ai vai. Eu tento não me importar com os rótulos que me deram depois disso, mas é difícil, aindamais para minha mãe. Ela sempre teve orgulho de mim, por eu ter conseguido entrar em uma das melhores escolas do Rio naquela época e por eu ser uma ótima filha. Ai de repente acontece tudo isso e minha vida vira de cabeça pra baixo. Como eu engravidei no ultimo ano escolar, eu consegui terminar os meus estudos. Claro, sofri também muito na escola por conta do preconceito por eu estar grávida aos 17 anos. Mas eu sempre tinha a Camila do meu lado pra me defender de todos. Mas infelizmente não deu pra eu fazer minha tão sonhada faculdade de Medicina. Um tempo depois de eu ter terminado os estudos e do Gustavo ter nascido eu até tentei fazer um cursinho de técnico de enfermagem. Não era a medicina que eu queria, mas pelo menos estaria trabalhando na área da saúde que é meu sonho. Mas não deu, na época o Gustavo estava com sete meses e eu não tinha como pagar alguém pra ficar com ele, então acabei desistindo. Quando meu filho completou um ano, eu consegui emprego em uma pizzaria aqui mesmo na comunidade. Não era muito o que eu ganhava, mas dava pra ajudar minha mãe com algumas coisas dentro de casa, e comprar leite para o meu filho, que pra mim era o essencial. Eu poderia passar fome, mas ele não. Como minha mãe trabalhava em casa de família ela chegava em casa cedo e eu só pegava no trabalho na parte da noite, então ela podia ficar com o Gustavo para eu trabalhar. Ele é a alegria da casa, parece que quando minha mãe está com ele esquece todos os problemas, esquece que eu sou o seu desgosto, esquece tudo. Ela diz que pelo menos eu fiz algo bom nessa vida.Pra falar a verdade de uns tempos pra cá ela vem me tratando um pouquinho melhor, ainda não temos a mesma relação de antigamente, mas pelo menos ela me dirige a palavra com mais frequência e de uma forma mais amena. Eu sinto que aos pouquinhos eu vou conseguir a confiança da minha mãe de volta. Fiquei bastante tempo nesse trabalho, não era lá grandes coisas, porém era uma grande ajuda. Mas infelizmente, há dois meses eu fui mandada embora, na verdade a pizzaria fechou. Desde então eu venho procurando emprego novamente. Agora mais do que nunca. Minha mãe acabou tendo um problema no joelho e não pôde mais trabalhar, agora por enquanto nós vivemos da aposentadoria que ela está recebendo, o que é muito pouco pra dois adultos e uma criança de dois anos que gasta muito. Eu já não sei mais o que fazer, onde procurar, a quem recorrer. Já coloquei currículos em todas as lojas possíveis e nada. Agora mesmo acabo de chegar em casa depois de passar o dia inteiro entregando currículos praticamente no Rio de Janeiro inteiro. Abro a porta e vejo aquela bolota branca de olhos incrivelmente azuis correndo em minha direção. - Mãmã... mãmã. – vem ele de braços abertos. - Oi meu amor. – digo o pegando no colo e o apertando nos meus braços. Ele pega o meu rosto em suas mãos e me dá um beijo bem molhado. - Que saudade que eu estava de você, meu amor. - Dade..dade – diz eufórico. Ele agora está começando a falar as coisas, está naquela fase de repetir o que os adultos falam. - Como foi hoje, Sophia? Conseguiu alguma coisa? – diz minha mãe na cozinha, lavando a louça. - Nada mãe. – Digo me sentando no sofá com o Gustavo no meu colo – Entreguei currículo em todas as lojas possíveis. Todas diziam o mesmo. Que se eu fosse escolhida entrariam em contato. - Tem que ter fé... Você vai consegui algum emprego, eu sei. - Deus te ouça, mãe. – digo e desço para o chão me sentando ali mesmo no tapete. Coloco o Gus sentado na minha frente e começo a brincar com ele. Não demorou muito e o celular começou a tocar. O pego dentro da minha bolsa e dou uma pequena olhada antes de atender vendo que é a Camila. - Oi Mila, como está de viagem? – ela tinha ido para Nova Iorque passar as férias. - Acabei de chegar em casa, Soph. E estou morrendo de saudade de vocês. - Nós também. Né Gus – digo brincando com o Gustavo. Ele faz um “ É ‘’ e eu começo a rir. - Que coisa mais fofa da dinda... – diz e pelo o que eu a conheço,está apertando a própria bochecha. – Traz ele aqui amanhã, vai ter um almoço aqui em casa. E eu quero matar a saudade de vocês dois. - Tá bom Mila, vamos sim. – aceito de imediato, eu estava com saudades da minha amiga um mês que eu não á vejo. E para nós duas, um mês sem nos ver é muita coisa. - Me fala. Como você está?! - Eu estou bem... cansada, mas bem. Andei hoje o dia inteiro atrás de um emprego e nada. - Ainda tá nessa amiga? Pensei que já tinha arrumado alguma coisa. Ela até tentou me colocar na empresa do pai dela, mas não tinha como. Todos os cargos estavam ocupados. E de jeito nenhum eu ia tirar o emprego de uma pessoa pra eu entrar, jamais. Eles precisam tanto quanto eu. - Quem me dera, acho que seria mais fácil eu ter um caso com o Caio Castro do que arrumar um emprego no Rio de Janeiro em meio essa crise toda. – digo e ela começa a rir do outro lado. Não aguento e começo a rir também. - Só você mesmo, Soph. - Estou falando sério, está muito difícil arrumar emprego hoje em dia. - É realmente... - Realmente o que Camila? Você é rica, não precisa trabalhar. - Ai que você se engana viu mocinha... Meu pai está enchendo o meu saco pra eu ir junto com ele pra empresa. - E não vai por quê? - Ai lá é muito chato, você sabe que o que eu gosto mesmo e de adrenalina, né. Eu estava falando com o meu primo Delegado da PF, e ele disse que vai começar as inscrições para a prova da Civil. – diz animada. - E você vai fazer? - Estou querendo... Lógico que se eu fizer vai ser escondido né, se meu pai souber ele corta minhas asinhas antes mesmo do voo... - Vem com a vovó, vamos comer. – diz minha mãe pegando o Gus do meu colo. Volto minha atenção a minha conversa com a Camila. - Eu não sei por que você não abre logo o jogo pra ele e diz que não quer assumir a empresa. Você já ficou três anos fazendouma faculdade que não gostava. Agora vai ficar também a vida trabalhando com o que não gosta? - Ah sei lá, eu queria ser igual ao meu irmão sabe, meio que foda-se pra vida, mas eu tenho medo de decepcionar o meu pai. - Pior que decepcionar o seu pai é passar a vida fazendo o que não gosta. - É... Você tem razão. Olho para a cozinha e vejo minha mãe e o Gustavo em uma guerra com a comida. É sempre assim minha mãe nunca consegue dar comida na boca dele. Quando consegue, ela já está cansada de tanto brigar. - Mila, vou desligar aqui, o Gus não quer deixar minha mãe dá comida pra ele, e eu vou dar uma mãozinha aqui, ela já deve estar cansada, coitada, de correr atrás dele o dia todo. - Gustavo sendo Gustavo. – diz rindo. – Tudo bem amiga, vai lá... E ó, te espero aqui amanhã em. - Pode deixar, estaremos ai. - Beijos. Desligo e logo me levanto indo em socorro a minha mãe. - Come meu filho, está gostoso. – diz minha mãe tentando enfiar a colherzinha com a comida, dentro de sua boca. Só que ele, turrão como sempre, não abria. Balançava a sua cabeça de um lado para o outro dizendo que não. Tive que rir com essa cena. - Mãe, deixa que eu dou, pode ir descansar que eu cuido dele agora. – digo e lhe dou um sorriso, fico feliz quando ela me retribui e sai em direção ao seu quarto. Sento-me na cadeira e puxo sua cadeirinha para mais perto de mim. Pego o prato na mão e encho a colher de comida. - Olha meu filho, aviãozinho. – começo a fazer a colher de aviãozinho o que o faz rir e eu sem perder tempo nenhum, coloco a colher dentro de sua boca. – Olha que gostoso, filho. Ele a principio faz uma carinha de choro, depois parece gostar e engole a comida, depois abrindo a boquinha pra eu colocar mais. Minutos depois ele já estava alimentado, já era oito horas da noite, e eu vi que ele já estava com seus olhinhos acanhados. Pego e levo ao banheiro lhe dando um banho, coloco sua fralda, a roupinha de dormir e me deito com ele na minha cama. Ele coloca sua mãozinha no meu rosto e dou leves palmadas em sua bunda. Ele sempre dormia rapidamente quando fazia isso. E hoje não foi diferente, ele rapidamente pegou no sono. Levanto-me, o pego no colo eo coloco dentro do berço ao lado da minha cama. Pego uma muda de roupa velha no guarda roupa e vou direto para o banheiro. Deixo a água quente cair sobre minha cabeça me fazendo relaxar do dia cansativo que eu tive hoje, e ao mesmo tempo sem nenhuma esperança de que conseguiria algo. Depois de um tempo debaixo do chuveiro, decido sair, visto minha roupa. Vou para a cozinha e esquento a comida no micro-ondas. Como e quando termino lavo a pequena louça que sujei. Volto para o quarto vou até o berço do Gus e lhe dou um beijo. Como estava muito cansada, me deito deixando que o sono me leve, com a esperança que amanhã será um novo dia, com novas oportunidades. E realmente, algo dentro de mim me dizia que amanhã seria um ótimo dia pra mim. [...] Rodrigo Que porra, eu não aguento mais, tanta coisa na minha cabeça, tantos problemas pra resolver. São os pepinos na Delegacia, os problemas na minha casa. Agora minha empregada resolveu que vai se aposentar. Vê se pode? Eu sou delegado federal, moro e trabalho aqui mesmo no Rio de Janeiro, foi onde eu nasci e cresci. Não tive uma infância muito boa de recordar. Mas também não vem ao caso agora. O problema agora é que eu tenho que arrumar uma porra de uma empregada logo. Eu não posso ficar sem empregada dentro de casa, eu não sei fazer porra nenhuma e odeio ficar tento que comer fora. Nada se compara a uma boa comida caseira. A Zeiva, minha empregada atual, disse que ficaria comigo só por mais duas semanas e que depois eu teria que me virar, pois ela não poderia mais ficar. Eu não sei mais o que fazer, minha cabeça está cheia, eu estou estressado... Resolvo ligar para a minha mãe, do que jeito que é, vai ficar feliz em poder me ajudar com isso. E ela provavelmente deve conhecer alguma agencia boa para contratar domésticas. - Oi meu filho como você está? Estou com saudades, faz tempo que não aparece aqui. – diz tudo rápido sem me dá chances nenhuma de falar. - Oi mãe, preciso da sua ajuda. – vou direto ao ponto. Não gosto dessa melação toda. Eu prefiro e gosto de ficar mais na minha, por isso que fui morar fora de casa bem cedo. - Nossa, filho! Não sei como ainda me surpreendo. Você só me liga quando quer algo, mesmo. Vai começar a porra do drama. - Mãe, a senhora vai poder me ajudar ou não?! – pergunto já sem paciência. - Fala filho, o que você quer? - Eu preciso de uma empregada nova, e eu não estou com tempo pra arranjar uma. - E a Zeiva? - Ela vai se aposentar... Mãe eu preciso de uma empregada pra ontem, a senhora consegue pra mim? - O que eu não faço por você né meu filho... Pode deixar que eu arrumo isso pra você. - Obrigado mãe. – já ia desligar quando ouço sua voz novamente. - Filho aparece qualquer dia, estou com saudades. – diz com uma voz de choro. Isso me parte o coração, não é que eu não ame minha mãe, é lógico que eu a amo muito. Mas eu não consigo expressar meus sentimentos por ninguém, principalmente por ela, que querendo ou não, foi a responsável por uma das fases, se não a pior, fase da minha vida. Que me deixou marcas e me fez ser o que sou hoje, um homem fechado, quebrado, com um coração intocável. Tudo isso por culpa daquele desgraçado que se dizia meu pai...Mas enfim, isso não vem ao caso agora. - Pode deixar mãe, quando der eu apareço. - Amanhã vai ter um almoço na casa da sua tia Patrícia, ela vai fazer um almoço pra comemorar a volta da Mila, aparece lá. - Eu vou ver mãe, não prometo nada. – digo me jogando no sofá. - Tá bom então, estaremos te esperando de qualquer forma... Boa noite meu querido, Te amo. - Boa noite mãe. Finalizo a ligação e olho no visor olhando as horas 20:30hrs. Eu preciso relaxar, ando com a cabeça muito cheia de tudo, preciso descarregar isso. Vou até minha agenda do celular e em meio a tantos números escolho a Lívia, a mais obediente. No segundo toque ela atende. - O que devo a honra da sua ligação, Mestre? – diz com uma alegria contida na voz. - Está livre hoje, Lívia? - Para o senhor eu estou sempre, Mestre. - Então se arruma que daqui a uma hora eu passo ai pra te buscar. - Alguma preferencia, Mestre?! - O de sempre, vestido preto, cabelos soltos, salto alto e o principal... sem calcinha. – ouço um leve gemido do outro lado da linha e abro um pequeno sorriso em satisfação. - Sim, Mestre. Finalizo a ligação e subo pro quarto pra me arrumar. Só essa sessão mesmo pra conseguir relaxar, é sempre assim quando estou estressado escolho uma das minhas submissas e as levo para o clube de dominação no qual eu sou um dos sócios. Lá eu saio leve e relaxado depois de uma ótima transa com uma submissa muito gostosa e obediente como a Lívia. E não, eu não sou um louco, sádico, viciado, não faço nada que machuque as mulheres, raramente eu procuro o clube, não é como se essa pratica fosse uma necessidade para mim. Não é como se eu não soubesse viver sem, pois eu sei e consigo. Mas eu gosto de variar de vez em quando e eu descobri que é bem prazerosa a sensação de estar fortemente no comando de tudo. 2° CAPÍTULO Sophia Acordo com o meu despertador de todas as manhãs: o choro do Gustavo. Levanto-me da cama e o vejo em pé dentro do berço fazendo beicinho, assim que me vê sentando na cama, ele para de chorar. Dou um pequeno sorriso com isso e saio da cama com toda a preguiça do mundo, vou até o berço o pegando no colo. O coloco em cima da cama, troco sua fralda, vou até a sala e o coloco no cueirinho, ligando a TV em seguida, no desenho que ele gosta. Vou até o banheiro e rapidamente faço minhas higienes. Volto para a sala e ele está do mesmo jeito que o deixei minutos atrás. Vou para a cozinha e faço sua mamadeira, o retiro do cueiro e sento-me no sofá com ele em meu colo. Dou a mamadeira para ele que rapidamente segura em suas pequenas mãos, mas sem desgrudar nenhum minuto os seus olhos da TV. Minha mãe entra na sala e nos cumprimenta. - Bom dia filha, bom dia meu querido. – diz dando um beijo no Gustavo. - Bom dia mãe. - Pelo visto o Gus madrugou hoje em. Ainda são sete da manhã. - É, mas em compensação ele também dormiu a noite todinha, não acordou nenhuma vez. - Vai se acostumando que agora vai ser sempre assim. Nessa idade eles costumam acordar bem mais cedo. - É, percebe-se. – digo dando um beijinho no rosto dele. Minha mãe vai para a cozinha, eu acredito que para fazer o café da manhã. Fico olhando para ele e observando pela milionésima vez os seus traços.É tão lindo é o meu filho. Hoje em dia não me imagino mais sem ele, não consigo nem acreditar que um dia eu cogitei a possibilidade de tirá-lo de mim. Apesar de todas as dificuldades que estamos passando agora, eu não me arrependo da escolha que eu fiz. Se eu pudesse mudar algo nisso tudo seria apenas na forma que ele foi concebido. Eu agradeço a Deus todos os dias por aquele desgraçado estar preso. Ele com certeza saberia que eu estava esperando um filho dele se não estivesse preso. E eu não ia querer que o meu filho nascesse no meio de bandidos. Tudo bem que de certa forma não mudou quase nada, eu continuo morando na favela, até porque não temos como sair daqui, tudo que temos é essa casa aqui no morro. E também minha mãe acharia muito estranho, eu querer sair daqui de repente. Mas conhecendo o DG como eu conhecia, ele me obrigaria a ficar com ele, e eu não ia querer decepcionar mais ainda a minha mãe, fazendo-a pensar que tinha tido um caso com um bandido. - Sophia o café já está pronto. – me chama da cozinha. Vejo que o Gus já mamou todo o leite, o desço do meu colo e coloco-o sentado no chão, e ele como sempre muito entretido com o desenho passando na TV. Vou até a cozinha me sento á mesa de forma que dava para vigiar o Gus na sala. Tomo o café da manhã junto com a minha mãe e a cada dia mais eu fico feliz da nossa relação aos poucos está voltando ao normal. Eu tento não forçar nada, eu deixo que as coisas aconteçam naturalmente. Conversamos um pouco sobre coisas aleatórias e quando terminamos de tomar o café da manhã a ajudo a lavar a louça. Vou para o quarto e arrumo umapequena bolsa com as coisinhas que vou levar do Gus para a casa da Mila. Por volta das nove horas vou me arrumar, apesar da casa dela não ser tão longe assim da favela, eu quero chegar lá cedo pra aproveitar o dia. Assim que me apronto, pego o Gustavo na sala e o arrumo também. Depois de prontos eu pego a bolsa, colocando-a no meu ombro, o Gustavo no colo e antes de sair de casa me despeço da minha mãe. - Mãe, eu já estou indo. Tem certeza que ficará bem sozinha? - Claro, Sophia, pode ir. - Qualquer coisa me liga, tá? - Pode deixar, fica tranquila. Vocês vão voltar tarde?! - Não, de tardinha a gente está de volta. – vou até a minha mãe dando um beijo em sua bochecha. – Tchau mãe. - Tchau, vão com Deus. Saio de casa e ao olhar aqueles tantos de escadas que tenho que descer já fico cansada. Tomo coragem e começo a descer. Alguns minutos depois, me encontro no pé do morro e pego uma vã que me levará até o ponto de ônibus que tenho que pegar para chegar até a casa da Mila. Algumas poucas horas depois eu chego ao condomínio e já encontro a Camila na portaria me esperando. Ela vem correndo na minha direção e me abraça. - Meu Deus que saudades que eu estava de vocês. – diz ainda agarrada a mim e ao Gus. - Eu também, amiga, você me fez tanta falta. - Ai! – o Gus geme entre a gente. Acabei esquecendo-me que estávamos nos abraçando muito forte e ele se encontrava entre nós duas. - Ai amor da dinda, vem aqui. – a Mila pega ele do meu colo e começa a aperta-lo em seus braços. Ela sabia que isso o deixava bastante irritado, mas sempre teimava em fazer. O Gus já estava vermelho de tanto tentar desgrudar aquela louca dele. – Eu também morri de saudades de você, meu amorzinho. - Como foi de vigem? - Ah foi fantástico, Nova Iorque é perfeita, da próxima vez que eu for eu vou levar vocês comigo. - Só que não né amiga, até parece que tenho dinheiro pra isso. - E eu disse que EU iria levar vocês, sendo assim, eu pagarei. - De jeito nenhum Camila. - Receba como um presente de aniversário para os dois. - Não Camila, eu nunca irei aceitar isso. E vamos parar com essa conversa... Eu estou cansada, quero sentar. – mudo de assunto tentando fazê-la esquecer dessa ideia louca. Eu nunca aceitaria isso. - Me empolguei tanto que esqueci que estávamos aqui na portaria ainda. Vamos o motorista está nos esperando ali. Ela pega na minha mão e me arrasta até o carro, entramos e dentro de cinco minutos já estávamos em frente a sua casa. Nós descemos e a tia Patrícia veio nos receber. - Sophia, menina que saudades. – me abraça, depois de me soltar vai até a Mila e pega o Gustavo dos seus braços. – Como esse menino está grande, ele está muito lindo. - É, e muito levadinho também. – digo rindo. - Vamos entrar meninas, já está todo mundo ai. Entramos e dou de cara com a família da Mila quase toda ali, tinha umas tias dela, os primos que conheço da época da escola e o Fernando, irmão da Mila, também estava. A maioria estava com roupa de banho, acredito que estavam na piscina, com esse calor que faz lá fora não esperava outra coisa mesmo. A Mila pega a bolsa do meu ombro e leva para o seu quarto. Cumprimento a todos e a tia Patrícia, como uma tia babona que é, saiu apresentando o Gustavo para todo mundo na casa, as mulheres ficaram encantadas com ele. - Amiga você trouxe biquíni? - Não, nem sabia que vocês iam tomar banho de piscina. E mesmo se eu soubesse não traria, eu morro de vergonha de usar biquíni ou qualquer coisa que não me deixe confortavelmente tampada. - Não importa, eu te empresto um. - Não, não precisa, eu não vou entrar na piscina. - Tem certeza Soph? Está muito quente. – diz levantando uma sobrancelha. Realmente está muito quente, mas não vou ficar de biquíni na frente dessas pessoas de jeito nenhum. - Tenho sim, estou naqueles dias. – minto. - Então tá bom. Diz e sobe as escadas novamente, acredito eu que pra trocar de roupa. E eu vou até onde está o meu filho, que faz a alegria da mulherada naquela rodinha. - Tia ele está atrapalhando a senhora? Se estiver pode me dá ele. - Que nada minha querida, pode deixar, ele é tranquilo. - O seu filho é muito lindo... Sophia né?! – diz uma mulher de cabelos castanhos e olho verde, muito linda. Já tinha um pouco de idade, da pra perceber, mas não era velha demais, muito pelo contrario, era bem conservada. - Sim. - Que cabeça a minha nem apresentei direito vocês. Soph, essas são minhas irmãs, a Fatima, Helena e a Julia. – diz apontando para cada uma delas. - Prazer. - O prazer é todo nosso. – diz a moça que tinha me dirigido a palavra minutos atrás, que descobri se chamar Julia. Vejo que a simpatia e beleza vêm de família mesmo. - Senta ai querida. – a Helena diz apontando para o espaço vago no sofá. Um pouco envergonhada me sento ao seu lado. - E o Rodrigo, Julia? Ele vai vim? – pergunta a minha tia. - Ai Patrícia, você sabe muito bem como é o seu sobrinho, né? Falei com ele ontem, disse que teria o almoço e ele disse que se desse, viria. - Eu não gosto nem um pouco desse jeito dele. Ele fica tão lá na dele, isso me preocupa. Eu estava boiando totalmente no assunto. Mas resolvi não prestar muito atenção. Olho para o Gustavo e o vejo em pé no colo da tia Patrícia, mexendo em seu cabelo. - Eu também não gosto. Ele é tão fechado, só sabe trabalhar e trabalhar... Ele ontem me ligou me pedindo pra arrumar uma empregada pra ele. Acendeu uma luzinha na minha cabeça quando ouvi a palavraempregada. Mas também não me atrevi a me pronunciar. - Mas e a empregada dele? – pergunta a Fatima. - Vai se aposentar. - Ela é que deve ter se cansado do homem ranzinza que é o seu filho, Julia, parece ter 60 anos ao invés de 33. – diz a Helena fazendo as outras rirem. - Mas a questão é; ele quer uma empregada pra ontem, não sei onde vou encontrar uma pessoa de confiança pra ficar lá na casa dele tão rápido assim. E vocês sabem bem como ele é com essa questão de segurança. Não posso colocar uma pessoa que ele considere perigosa lá dentro. Nossa, pelo jeito que elas falam esse cara, ele deve ser um saco. Penso distraída enquanto mexia em minhas unhas. - Sophia. - Sim tia? – digo levantando minha cabeça rapidamente para encará-la. - A Camila estava me falando que você estava atrás de um emprego, não é mesmo?! - Sim, mas não consegui nada até agora, está difícil. – solto uma respiração pesada. Ela olha para as irmãs de um jeito estranho e depois todas olham para mim. Espera ai, será que é o que eu estou pensando? Ela quer que eu... - Você tem alguma experiência em trabalhar em casa de família? – pergunta a Julia. Não eu não tenho, mas eu sempre fiz tudo dentro de casa. Quando minha saia para trabalhar eu que cuidava da casa. Mas era a minha casa, não a casa dos outros. - E..eu não dona Julia, mas eu não estou entendendo, a senhora quer que eu trabalhe para o seu filho? - Sim, porque não? Apesar de eu estar te conhecendo agora, você me parece ser uma pessoa bem confiável... - Até porque se não fosse eu não a deixaria entrar na minha casa. Eu te conheço há anos, Soph, sei que é de confiança e sei que meu sobrinho vai gostar de você. - Se a minha irmã diz, eu confio na palavra dela. Meu deus, eu não sei o que dizer. Quem diria que um emprego iria vir assim do nada. Mas eu também não sei o que fazer. Eu não estou em condições de ficar rejeitando trabalho, mas eu também não tenho experiência. - E ai Sophia, você aceita? - Eu não sei Julia, eu nunca trabalhei como empregada antes. Não que eu não saiba fazer os afazeres domésticos, não é isso. Mas é que eu realmente nunca trabalhei na casa de alguém. Ainda mais ricos iguais a vocês, eu não sei fazer aqueles tipos de comidas chiques, eu só sei fazer comida simples e... - Perfeito, o meu filho odeia esse tipo de comida “de rico“ – faz aspas com o dedo. – Ele valoriza é uma boa comida caseira. Eu não sei o que dizer, eu estou muito tentada a aceitar. - E o salario é ótimo, eu te garanto. Só tem um “porém”. - O quê? - Você terá que dormir lá, pois ele gosta de acordar e ter café damanhã pronto na mesa e também ter sempre alguém a sua disposição á hora que ele precisar. - Mas, eu tenho o Gustavo, eu não posso deixa-lo, minha mãe está com um problema na perna, ela não pode ficar correndo atrás dele o tempo todo. O tempo que ela fica com ele é curto, então não muda muito, agora a semana inteira, eu acho que não vai dá. – digo um pouco triste, eu até queria aceitar esse emprego, mas depois dessa. - Olha, então vamos fazer assim, eu vou te dar um tempo pra pensar direito sobre o assunto, só não demora muito, viu? - Tudo bem, eu vou pensar. – digo agora um pouco mais aliviada. - E ai Gustavo, vamos para a piscina com a titia?! – a Camila chega gritando com ele que parece entender, pois fica eufórico pulando no colo da tia Patrícia. Ela o pega do colo da mãe, tira sua roupa o deixando apenas de fralda e vai para a piscina. Fico ali conversando com as tias e a mãe da Camila, elas são bem legais. Mas era também inevitável eu não pensarna proposta que a Julia me fez, realmente é irrecusável, mas eu não tenho com quem deixar o Gustavo, e nem me atreveria a pedir para leva-lo para a casa desse tal de Rodrigo. Pelo o que eu ouvi delas, ele é bastante conservado, gosta da sua privacidade e eu levando uma criança pra lá mudaria completamente isso. Almoçamos todos juntos, foi um dia bem agradável. Quando já estava entardecendo eu resolvi ir embora, não gosto muito de ficar andando pelo morro a noite. E o Gustavo também já tinha caído de sono, a Camila se ofereceu para me levar em casa e eu aceitei, afinal estava cansada e não aguentaria ficar pegando ônibus com o Gustavo no colo. Sem falar que de carro eu levaria muito menos tempo do que de ônibus. - Você vai aceitar a proposta da minha tia pra trabalhar na casa do Rodrigo? – diz passando a mão pelos cabelos do Gus que dormia tranquilamente em seu colo. - Não sei Camila, eu vou pensar, eu não tenho com quem deixar o Gustavo, minha mãe não pode ficar com ele a semana inteira. - Posso ficar com ele se você quiser, eu não me importaria nem um pouco. - Lógico que não, Camila, você tem sua vida, não vou fazer isso com você. - Sophia, quando eu te disse que estaria com você sempre que precisasse eu estava falando sério. E ficar com o meu afilhado não é nenhum sacrifício. - Obrigada amiga. Mas eu vou tentar resolver isso de outro jeito. Eu preciso desse emprego. - Mas já sabe, se mudar de ideia, eu fico com ele sem problema nenhum. Dou o assunto por encerrado e seguimos o caminho em silêncio. Quarenta minutos depois o motorista estava parando o carro no pé do morro. - Quando chegar em casa me liga, tá? – me da o Gustavo e depois deixa um beijo no meu rosto. - Está bom, amiga. Tchau. - Tchau. Saio do carro e começo a subir o morro. Só Deus sabe o quanto eu estou cansada, minhas pernas ainda doem de ontem, mas forço-me a andar um pouco mais rápido. Chego em casa e encontro minha mãe na sala assistindo TV, vou até o quarto coloco o Gus no berço e ligo para a Mila avisando que havíamos chegado bem em casa. Volto para a sala e conto para a minha mãe a proposta que a dona Julia tinha me feito, ela achou o máximo. - Mas mãe, eu terei que dormir lá. Eu não tenho com quem deixar o Gustavo, a senhora não pode ficar correndo atrás dele o tempo todo. - Minha filha a gente dá um jeito, o que não pode é você perder essa oportunidade. Você mesma disse que o salario é ótimo. Eu com a minha aposentadoria posso te ajudar a pagar uma creche pra ele ficar, aqui no morro mesmo. Ai eu ficaria com ele só a parte da noite que ele não dá trabalho nenhum. - Não sei mãe, eu não sei se vou aguentar ficar longe dele. Não sei se vou consegui deixar ele na creche com pessoas que eu não conheço. - Fica tranquila, Sophia, a filha da Maria a minha amiga, trabalha naquela creche ali na rua de trás, é confiável. - Então a senhora me apoia mesmo a aceitar esse emprego? - Sim Sophia. Se o salario for bom mesmo como disse, você pode até mesmo ir juntando o dinheiro para a sua faculdade. - Ah mãe, eu já até desisti de fazer a faculdade faz tempo. - O quê? Como assim desistiu? Claro que não, sempre foi o seu sonho ser Médica. - Eu sei mãe, mas depois que o Gustavo nasceu eu cheguei á conclusão de que não vou conseguir, agora eu tenho um filho para sustentar, e a faculdade requer tempo, dinheiro, pelo menos agora, nesse momento, vai ser um pouco impossível. - Se você sou... – ela parece se arrepender do que iria dizer e não termina a frase. Mas eu sei bem o que ela iria me dizer. “Se você soubesse quem é o pai do seu filho isso não estaria acontecendo.“ - Desculpa, filha, eu não... Ela tenta pegar minha mão, mas me levanto do sofá me afastando dela. - Tudo bem, não tem problema, mãe, já estou acostumada da senhora estar sempre jogando isso na minha cara. Saio da sala a deixando sozinha. Sim eu já tinha de fato me acostumado, mas isso não mudava o fato de que doía ouvir tais palavras. Porque sim, eu sei muito bem quem é o pai do meu filho. Mas eu não poderia dizer para sua própria segurança. Entro no banheiro, tiro minhas roupas e entro debaixo do chuveiro, deixando minhas lágrimasmisturarem-se com a água que caia do chuveiro. [...] Rodrigo Estava com trabalho até o pescoço. Já não aguentava mais ficar trancado dentro daquela sala com aqueles papeis para ler, ainda bem que a Clara estava me ajudando, estávamos no meio de uma investigação do caso de um peixe muito grande. Estávamos investigando a participação do Deputado Federal Hernandes Felix em desvio de dinheiro publico. A investigação, claro é sigilosa, falta pouco, bem pouco para conseguimos as provas concretas para prendê-lo. Jogo os papeis em cima da mesa e me despreguiço na cadeira. Olho as horas no relógio e me assusto, a hora passou muito rápido. - Meu Deus, Clara, a hora passou tão rápido que eu nem percebi. Você deve estar morrendo de fome e eu te prendi aqui o dia inteiro. - Realmente, estou faminta, mas estava tão entretida aqui que nem liguei. - Pode ir comer alguma coisa, eu ainda vou ficar mais um tempinho aqui. - Não quer vim comigo? – diz dando um sorrisinho de lado. Eu sei que a Clara sente algo por mim, ela tenta disfarçar, mas eu já saquei e a vi várias vezes me olhando com desejo. Não sei se é só tesão ou algo a mais. Mas sente. - Não. – seu sorriso vai se desfazendo aos poucos. – Vou ficar mais um pouco aqui. - Quer que eu peça pra alguém trazer algo pra comer? - Não precisa, obrigado. Tudo o que eu preciso está aqui. – digo levantando minha inseparável garrafa térmica cheia de café. - Okay então. Ela sai e eu volto minha atenção para os documentos a minha frente, fico mais algumas horas ali até receber uma mensagem da Camila. Se tem uma pessoa na qual eu me dou bem, essa pessoa é a Camila, apesar de ser bem mais nova que eu, ela é a única que consegue me entender e me dar o meu espaço, que todo mundo tenta invadir. Aquela baixinha é além de prima uma irmã pra mim. Ela é a única que consegue tirar um Rodrigo mais carinhoso de dentro dessa rocha que eu sou. “Fiquei te esperando aqui em casa o dia inteiro e nada de você aparecer. Fiquei triste. :( “ Sorrio e respondo. “Desculpa Mila, é que eu estou atolado de trabalho, não tive nem tempo de sair de dentro da delegacia hoje. Me desculpa.“ Mando a mensagem e começo a arrumar as coisas em cima da mesa, já tinha quebrado a minha linha de raciocínio, vou levar esses documentos para casa, lá eu trabalho com mais calma. Arrumo todas as folhas dentro de uma pasta e me levanto sentindo meu pescoço doer. Ouço novamente o barulho de mensagem apitando no meu celular e pego vendo outra mensagem da Camila. “Tudo bem, você está desculpado só porque o assunto é trabalho. MAS É TRABALHO MESMO NÉ?” “Haha ciumenta nem um pouco, né? Sim é trabalho” Respondo e logo em seguida saio da sala. Daqui a pouco o delegado do plantão da noite iria chegar para pegar o meu lugar se é que ele já não chegou. Ouço outro barulho e abro a mensagem. “Já disse que não gosto de te dividir com essas putinhasque você surra.E acho muito bom mesmo que o motivo de não ter vindo seja apenas o trabalho.” Sorrio com isso. Ela é a única da minha família que sabe que eu sou um dominador. Acho que as outras pessoas não reagiriam muito bem com essa noticia. Ela um dia me pediu para leva-la ao clube, colocou na cabeça que queria ser a porra de uma submissa, eu claro não deixei. Eu lá vou deixar aqueles filhos das putas tocarem na minha priminha. Nunca. Entro no meu carro e respondo. “Te juro, só trabalho mesmo... Agora eu vou dirigir, depois nos falamos” Envio e em questão de segundos ela me responde. “Acho bom mesmo... E tudo bem, depois nos falamos. Beijos.” Coloco o celular no banco ao lado e vou em direção a minha casa. Minutos depois já estava estacionando o carro na garagem, assim que desço meu celular toca e vejo no visor que é a minha mãe. - Oi mãe! - Filho, como você está? Por que não foi no almoço na casa da sua tia? - Muito trabalho mãe. – respondo simples. - Você tem que descansar, só sabe trabalhar, trabalhar e trabalhar. - Tá mãe. A senhora me ligou para isso? – digo tentando não ser grosseiro com ela. Mas acho que acabei sendo. - Nossa, filho, não! Não foi pra isso, mas é que eu me preocupo. – sua voz sai triste. - Então foi pra quê? Entro em casa e um cheiro delicioso de comida caseira invade minhas narinas, fazendo minha barriga roncar alto. - Eu te liguei pra avisar que eu achei uma empregada pra você... Bom, ela ainda não aceitou de fato, mas eu sei que vai. - Como assim ela não aceitou ainda? Pensei que ia procurar em uma agência ou sei lá... Subo as escadas rapidamente, entro no meu quarto retirando o coldre junto com a minha arma colocando em cima da cama. Coloco as pastas com os relatórios em cima da cabeceira e me sento na cama tentando tirar o sapato. - Eu até ia meu filho, mas eu achei essa menina e... - Menina, mãe? – pergunto incrédulo. - Sim, ela é de confiança Rodrigo. - E onde encontrou essa pessoa? - Ela é amiga da Camila. - Amiga da Camila mãe, e por acaso as amigas dela sabem fazer algo a não ser ir ao shopping fazer compras e reclamar da vida? Eu pensei que a senhora iria me ajudar, mas estou vendo que não. - Calma meu filho, ela não é assim. E ela está precisando do emprego. Só que ela ainda vai pensar, pois ela tem um filho e não sabe se vai poder dormir ai. - Ela tem filho mãe? Isso não vai dar certo, dona Julia. Eu não quero uma empregada que tenha que ficar saindo sempre por causa de criança não, você sabe muito bem disso. - Eu sei, mas dá uma chance pra ela Rodrigo. Você tem que parar de ser assim, tão egoísta e só pensar em si mesmo. Tem um mundo aqui fora tem pessoas que precisam de ajuda, o que é o caso dela. - Eu estou pouco me fodendo pra isso mãe, eu só quero uma empregada que fique sempre a minha disposição sem que nada atrapalhe. - Olha o jeito que você fala comigo Rodrigo, eu sou sua mãe... – respiro fundo. – Dá uma chance para ela, vai. O que você acha dela ficar ai um tempo de experiência e depois se você não gostar você troca? - Não sei não mãe. Essa mulher ai deve nem saber lavar uma roupa direito. - Ai que você se engana viu... Vai Rodrigo, não custa nada. - Aaaaah – rosno bagunçando meus cabelos. – Esta bem, mãe, manda essa mulher vim, mas qualquer coisinha, eu digo qualquer coisinha mesmo que ela fizer de errado, eu a mando embora na mesma hora. - Tudo bem meu filho, mas a questão agora é esperar ela resolver a situação dela. - Porra agora eu vou ter que ficar esperando ela. É isso? - Meu filho entenda... - Tudo bem mãe, só não demore muito. A Zeiva só ficará aqui por mais duas semanas, esse foi o prazo que ela me deu. E se dentro desse prazo essa mulher já não estiver aqui em casa nem precisa vir mais. – digo e desligo o celular em sua cara. Porra, agora eu terei que ficar esperando a vontade da empregada de querer vir trabalhar. Já estou vendo que essa porra não vai dar certo. Tiro minha roupa e vou para o banheiro, entro debaixo do chuveiro e deixo a água quente cair sobre meu corpo fazendo-me relaxar. 3º CAPÍTULO Sophia Já tinha resolvido à questão do Gustavo, ele ficará o dia inteiro na creche e assim que fechasse a Helen, filha da amiga da minha mãe, o traria para a casa e minha mãe ficaria com ele na parte da noite. Pego o meu celular e procuro na agenda o numero da dona Julia, encontro e início a chamada. No quinto toque ela atende. - Alô. - Oi dona Julia, sou eu a Sophia. - Oi minha querida. Tudo bom com você? - Tudo sim. E com a senhora? - Bem também, obrigada... Bom se você está me ligando é porque já tem uma resposta pra minha proposta. Estou certa? - Sim senhora. Já tenho. - E então? - Eu aceito o emprego, lógico, se ainda estiver de pé. - É logico que está, fico feliz de ter aceitado. Tenho certeza que não vai se arrepender. - Eu sei que não. - Quando você pode começar? - Quando a senhora quiser. - Amanhã está bom? - Sim, está. - Então arruma as suas coisas que você vai precisar durante a semana, amanhã eu vou te buscar. - Não senhora, não precisa se incomodar. – até porque seria muito perigoso ela aparecer aqui no morro, sozinha. - Não é incomodo nenhum, faço questão de ir ai te buscar, eu sei onde você mora... - Então a senhora sabe que é perigoso e... - Não tem problema eu vou com o meu segurança, fica tranquila. - Então se é assim, tudo bem. – me dou por vencida depois de perceber que ela não desistiria de jeito nenhum. - Amanha ás 9:00hrs eu estarei ai te esperando, tudo bem? - Sim dona Julia, estarei lá no pé do morro a sua espera. - Então está bom, minha querida. Tenha um bom dia. - A senhora também... E dona Julia. – digo antes que ela desligue. – Muito obrigada pela confiança. - Não tem nada que agradecer minha querida. A gente se ver amanhã. - Sim senhora. Finalizo a ligação e aproveito que o Gustavo está tirando o sono da tarde e vou arrumar as coisas que vou precisar. Amanhã ainda é quarta-feira, então vou levar a quantidade de roupa que irei precisar para três dias. Segundo ela, no sábado eu já posso voltar para a casa. Coloco meus produtos higiênicos, roupas para dormir, e algumas roupas para trabalhar, eu ainda não sei se serei obrigada a usar uniformes ou não, então pra não correr o risco de ficar sem nada para vestir, coloco umas mudas de roupas mais velhinhas. Deixo a bolsa arrumada perto da cama e saio do quarto encontrando a minha mãe na sala assistindo TV. Depois do episodio de ontem à noite, nós quase não nos falamos direito. Ainda me dói ouvir essas coisas. Por mais que eu saiba que não é verdade isso que ela diz, dói. - Sophia? - Oi. – respondo catando uns brinquedos do Gustavo que estavam espalhados pelo chão. - Filha, me desculpa. Eu não quis dizer aquilo ontem... - Mas disse mãe, ou melhor, quase disse... Eu já entendi que a senhora se envergonha de mim pelo fato de eu não saber quem é o pai do meu filho, eu entendo sua raiva. Entendo que eu te decepcionei. Mas eu não mereço que a senhora lembre-me sempre que eu fui uma puta, vagabunda, que não sabe quem é o pai do próprio filho. - Também não é assim, Sophia. – ela diz com os olhos marejados. - É assim sim, mãe, ou a senhora se esqueceu das palavras que me disse há três anos? Porque eu não me esqueci, mãe, eu me lembro de cada palavra que você me disse naquele dia. - Filha me desculpa. Eu não devia ter te dito aquelas coisas, eu estava de cabeça quente. Tenta se por no meu lugar... - Eu não guardo magoas da senhora por conta disso não, mãe, mas eu não guardo mesmo. Eu só precisava colocar isso pra fora, só precisava mostrar pra senhora como eu me sinto todas as vezes que joga esse fato na minha cara. Ela se levanta e vem até a mim, pega na minha mão e me leva para sentar no sofá. As lágrimas caiam pelo seu rosto cansado e eu estava me segurando para não fazer o mesmo. - Me desculpa filha, eu mais do que você sofri com isso, você não sabe o quanto me doeu dizer aquelas coisas. O quanto eu me senti mal te rejeitando como filha, pois de certa forma foi isso que eu fiz... Mas não pense que eunão te amo, Sophia. – passa suas mãos pelos meus cabelos, e eu já estava a ponto de chorar. – Você é a minha filha, minha vida, você é tudo que eu tenho... Quer dizer, agora tem o Gus também. – diz e dá um sorriso – E apesar de tudo, eu te agradeço por trazer ele ao mundo. Eu nunca te disse isso... Mas eu sinto muito orgulho de você por querer continuar com a gravidez do mesmo jeito. Muitas garotas no seu lugar optariam por um aborto, mas você não. - Eu nunca teria coragem de fazer uma coisa dessas, mãe, é o meu filho, ele não tem culpa. Digo e minha mente volta para aquela noite e todas as cenas horríveis das coisas que passei, invadem a minha mente. Balanço a minha cabeça de leve e tento não demonstrar a minha repulsa. Realmente, o meu filho não tem culpa de nada mesmo. Ele é tão vitima quanto eu, nessa história toda. - Eu sei que não, minha filha, eu te conheço muito bem. E eu tenho muito orgulho de você por isso, por ter enfrentando isso como uma mulher... Meu deus, na época você só tinha 17 anos, e você me enfrentou, me disse toda a verdade, você poderia ter me inventado qualquer coisa, mas não, você me disse a verdade. Eu já não conseguia mais segurar as lágrimas, a dor no meu peito me corroía de tal forma que me deixava sem ar. Como eu queria contar toda a verdade. Como eu queria não ter precisado mentir. Como eu preferiria não saber de fato quem é o pai do meu filho, do que passar por essa situação. – Pra ser honesta com você eu não sei se no seu lugar eu teria feito o que você fez, não... Apesar de tudo o que aconteceu, das coisas que eu te falei até hoje, são sempre sem pensar, filha. Eu sinto orgulho de você, sinto orgulho da mulher que você se tornou tão cedo... Eu só queria te pedir uma coisa, que eu já deviria ter pedido há anos. – ela para, dá um suspiro e aperta forte as minhas mãos. – Me desculpa filha, me desculpa por tudo que eu te disse, você não sabe como eu me arrependo de cada palavra. - Não precisa pedir desculpas, mãe. - Precisa sim, eu não fui a mãe que eu deveria ser pra você naquela época, eu só pensei no que as outras pessoas achariam de mim, de você... Eu não me coloquei no seu lugar, eu não fiquei verdadeiramente do seu lado quando você mais precisou de mim. Você errou, mas eu também não tinha o direito de te julgar e nem dizer aquelas coisas pra você. Eu estraguei a relação maravilhosa que nós tínhamos, eu sou a culpada. Desculpa-me, filha. - Mã-mãe... – tento dizer, mas ela me corta. - Por favor, diz que me perdoa? – ela chorava muito, assim como eu. - Claro que sim, mãe. – ela não espera nenhum segundo mais e me abraça. E como eu senti falta desse abraço. Tanto tempo sem trocarmos esse pequeno gesto de carinho. Para muitos, isso não significa nada, mas pra mim esse abraço significa um recomeço... Para nós duas. É tão bom ter a minha mãezinha de volta. [...] - Mãe, qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, a senhora me liga, ouviu? - Filha, tudo bem, pode ir tranquila, não vai acontecer nada. Não é Gus?! – pergunta para o Gustavo que estava no seu colo. Ele olha pra ela e em seguida para mim e balança a cabeça dizendo que sim. São 08h30min da manhã e eu estou me despedindo dos dois. Só que eu ainda não consegui sair de casa. Eu não queria deixar meu filho, eu sei que ele vai estar em ótimas mãos, mas meu coração fica apertado, eu nunca fiquei um dia longe dele. Pego ele do colo da minha mãe e o abraço forte, não conseguindo segurar as lágrimas que sem eu ao menos perceber, caem pelo meu rosto. Meu deus, eu vou estar só algumas horinhas de distância longe dele, mas parece que eu vou para outro país. - A mamãe vai ficar alguns dias longe, tá? Eu falava como se ele realmente estivesse me entendendo. E eu acreditava que sim, pois ele me olhava atento a cada palavra que saia de minha boca. - Mas eu prometo que vou ligar todos os dias pra ouvir sua vozinha. Eu quero que se comporte com a vovó e não apronte, tudo bem? – ele balança a cabeça como quem diz “sim” e nós rimos. – Eu te amo muito, filho. – o aperto mais nos meus braços e dou-lhe um beijo. - Amo mamãe. – ele diz ainda abraçado a mim e com sua mãozinha passando de leve pelo meu cabelo, como se não fosse possível, eu chorei mais ainda. - Agora eu tenho que ir. –passo ele para o colo da minha mãe e dou-lhe um abraço e um beijo. - Se cuida, minha filha. Quando puder liga, tá? - Pode deixar, mãe, ligo sim. Saio de casa com o coração apertado por ter que deixa-lo, se eu pudesse o levava comigo. Mas isso é por ele, só por ele que estou fazendo esse sacrifício de ficar tanto tempo longe. Isso fez me lembrar de quando eu era criança e minha mãe tinha que fazer a mesma coisa comigo para ir trabalhar. Ela sempre procurou me dar tudo de melhor que estava ao seu alcance, já que éramos apenas nós duas. O meu pai eu nem cheguei a conhecer, ele morreu uns meses antes de eu nascer, e minha mãe, sem ajuda nenhuma, me criou sozinha. E eu tenho muito orgulho dela por isso. É por ela e pelo meu filho que estou fazendo isso, eu quero dar uma vida melhor pra eles, quem sabe um dia consiga tirá-los da favela. Não que eu não goste de viver aqui, mas é que me remete muitas lembranças horríveis que tento inutilmente esquecer. Todas as vezes que olho para esses becos, para esses bandidos andando pra cima e pra baixo na favela, eu me lembro dele, me lembro do que ele fez comigo. Eu sei que já muito tempo, mas não deixa de doer. Aquelas lembranças horríveis não deixam de ser vivas aqui dentro de mim. E um outro motivo pelo qual eu desejo sair daqui, é porque não temos sossego. Nós nunca sabemos quando pode acontecer algum tiroteio, uma invasão, e com isso, vivemos sempre com medo. Eu queria poder viver num lugar onde eu não me preocupasse em deixar o meu filho brincando em frente de casa. Eu sei que hoje em dia é um pouco complicado. Mas eu sei que existe lugares mais tranquilos do que aqui, pra se viver. Eu tenho fé de que um dia eu consiga sair desse lugar... Quando chego ao pé do morro já consigo avistar o carro preto parado, e na frente dele, a dona Julia estava encostada. Assim que chego perto do carro ela me surpreende com um abraço. - Bom dia, Sophia. - Bom dia, dona Julia. - Sem dona, por favor, assim me sinto mais velha do que já sou... – diz e sorri. – Vamos? - Claro, vamos. Ela abre a porta de trás e dá passagem para que eu entre no carro, logo em seguida ela entra e o motorista coloca o carro em movimento. - Sophia, antes de tudo eu tenho que te dizer algumas coisas. - Claro, pode falar. - É que... Como que eu vou dizer, o meu filho ele não é muito sociável e quando ele quer, até mesmo quando não, ele pode ser bem grosso. – ela parecia um pouco envergonhada dizendo aquilo. – Então eu quero que tenha um pouquinho de paciência com ele, eu sei que no fundo ele é um homem bom. Ele só não gosta que invadam a privacidade dele... E não sei se você sabe também, mas ele é um delegado, então não se espante se ele fizer algumas perguntas um pouco evasivas demais. Eu já sabia que ele é o primo delegado da Camila, ela sempre me falou dele, dizia o quanto ele era legal e a apoiava em seguir a carreira de policial. Mas parece que a dona Julia está me descrevendo um cara completamente diferente do que a Mila me descreve ele. - Entendi, pode ficar tranquila. Eu só irei fazer o meu trabalho. - E mais uma coisa... – ela respira fundo e parecendo estar um pouco envergonhada, continua. – É que quando eu disse que você era mãe e que não tinha muita experiência, ele não recebeu isso muito bem, então eu fiz um trato com ele de que você ficaria lá, digamos de teste, sabe? Se ele não gostar... - Ai eu vou embora. – completo. - Sim... Mas eu confio em você eu sei que vai dar tudo certo. É só você fazer as coisas do jeito que ele gosta e na hora certa. - Tudo bem, eu vou fazer o possível pra ele gostar de mim. – digo tentando tranquiliza-la. - Eu sei que vai, e também sei que ele vai gostar de você. – ela me direciona um sorriso que é impossível não retribuir. Demos o assunto por encerrado
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