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Gestão em Programas e Projetos Sociais

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GESTÃO EM 
PROGRAMAS 
E PROJETOS 
SOCIAIS
Professor Dr. Edson Marques Oliveira
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; OLIVEIRA, Edson Marques. 
Gestão em Programas e Projetos Sociais. Edson Marques 
Oliveira. 
 
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. Reimpresso em 2021.
180 p.
“Graduação - EaD”.
1. Gestão. 2. Projetos. 3. Sociais. 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0581-3
CDD - 22 ed. 361
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Supervisão do Núcleo de Produção de 
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Coordenador de Conteúdo
Maria Cristina Araujo de Brito Cunha
Qualidade Editorial e Textual
Daniel F. Hey, Hellyery Agda  
Design Educacional
Giovana Cardoso
Iconografia
Isabela Soares
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Matheus Felipe Davi
Revisão Textual
Pedro Afonso Barth
Daniela Ferreira dos Santos
Cintia Prezoto Ferreira
Ilustração
Marcelo Goto
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Diretoria Operacional 
de Ensino
Diretoria de 
Planejamento de Ensino
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou 
seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de 
Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista 
às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis-
so, lembre-se que existe uma equipe de professores 
e tutores que se encontra disponível para sanar suas 
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza-
gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e 
segurança sua trajetória acadêmica.
A
U
TO
R
Professor Dr. Edson Marques Oliveira
Pós-doutorado em ciências sociais pela Universidade de Coimbra (UC/2015), 
Portugal. Pós-doutorado em Administração pela Universidade Federal do 
Paraná (UFPR/2015). Doutor em Serviço Social pela Universidade Estadual 
Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp/2004). Mestre em Serviço Social 
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP/1996). Bacharel 
em Serviço Social pela Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS/1989). 
Certificado Internacional de Coach e Trainer Coaching pela Lambent do 
Brasil e Neurocoaching pelo IBC, Brasil. Professor associado da Universidade 
Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), no curso de Serviço Social. Membro 
Grupo Gepec e coordenador Grupo Gesicur da Unioeste. Ganhador do Prêmio 
Ethos-Valor de Responsabilidade Social Empresarial e Sustentabilidade 
edição de 2007. 
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) aluno(a), sou o Prof. Edson Marques Oliveira, seja bem-vindo(a) à disciplina Ges-
tão de Programas e Projetos Sociais. Preparei este material com o intuito de apresentar a 
você os principais conceitos e elementos que envolvem a gestão social (o planejamen-
to, a organização, a direção e controle) na elaboração de planos, programas, projetos e 
serviços na área social. Esse conhecimento é de fundamental importância, visto que é a 
forma em que o trabalho profissional do assistente social se materializa e se diferencia 
do trabalho de um leigo e um amador. 
Essa tarefa envolve vários fatores, tais como: pessoas, organizações, recursos, meio am-
biente, tecnologias e vários problemas a serem resolvidos, demandas que são reivindi-
cadas, entre outros. O que torna essa tarefa complexa, mas, também, muito gratificante, 
estimulante e desafiadora, pois exige imaginação e muita criatividade quanto ao exer-
cício prático de valores tão preciosos, como ética, solidariedade, cooperação, participa-
ção e, sobretudo, objetividade, além da promoção de uma ação concreta, inovadora e 
transformadora. 
Considerando essa importância e complexidade é que preparei esse nosso estudo de 
forma a explicitar os principais conhecimentos que você poderá usar em sua prática 
profissional e ser bem-sucedido em suas ações. Espero, também, que, a partir da leitura 
das unidades, você possa saber apresentar e concretizar ações que possam, de fato, fa-
zer valer o seu preparo como profissional, que tem como principal foco ler a realidade 
criticamente, e iralém disso. Isso é, intervir e modificá-la juntamente com os atores que, 
dessa realidade, fazem parte. 
Por isso, veremos cinco unidades. Na Unidade I, faremos uma análise a partir de três 
configurações, a saber: contexto, organizações e pessoas. O objetivo dessa análise con-
figurativa é perceber que o ato e processo de gestão de programas e projetos sociais 
envolvem vários fatores, que são advindos dos mais diversos setores e dimensões da 
vida em sociedade. Isso é, fatores culturais, políticos, organizacionais, em que as ações 
estão inseridas. Além disso, os fatores comportamentais, interesses e modos de opera-
cionalização ligados ao estilo de liderança, de recursos, entre outros elementos que in-
fluenciam o processo da gestão social, de modo geral e dos planos, programas, projetos 
e serviços de modo específicos.
Na Unidade II, apresento os principais elementos conceituais e as principais caracterís-
ticas do processo de Gestão Social e suas derivações, principalmente no tocante aos 
conceitos que se diferenciam, como administração e gestão, bem como as diferenças e 
semelhanças de processo nos tipos e esferas de organizações e de poder, notadamente, 
primeiro, segundo e terceiro setor. 
Na Unidade III, veremos os elementos de inovação social e os modelos de projetos so-
ciais que se apresentam na atualidade, bem como destacar como a lógica do empreen-
dedorismo social vem influenciando o processo de elaboração de gestão de projetos na 
área social, tanto pública, privada e na sociedade civil organizada. 
APRESENTAÇÃO
GESTÃO EM PROGRAMAS E PROJETOS SOCIAIS
Na Unidade IV, considerando os demais tópicos vistos, apresento a configuração da 
gestão e estruturação para elaboração de planos, programas, projetos e serviços so-
ciais, detalhando aspectos que vão desde seu planejamento até sua avaliação, nas 
dimensões tanto, políticas, econômicas como técnicas. Também saliento a lógica de 
organicidade necessárias para a boa gestão desta atividade. 
E finalizando, na Unidade V, fechamos essa disciplina com uma reflexão e uma pro-
posição. A reflexão é relacionada aos desafios da intersetorialidade que, devido aos 
processos de descentralização de ações e as novas configurações organizacionais, 
bem como os elementos que interferem no campo da gestão social, precisam ser 
observados. Também apresento um exemplo prático de projeto em forma de estu-
do de caso para que se tenha um modelo real que foi elaborado e executado por 
assistentes sociais e serve como referência real do que pode ser feito em uma visão e 
perspectiva socioempreendedora. E a proposição é, em linhas gerais, olhar a prática 
do assistente social no campo da gestão de programas e projetos sociais como um 
artífice do design social, ou seja, assim como um artífice, construir sua arte, usando 
a cabeça e o corpo. Assim, também devemos ancorar o trabalho de desenhar, exe-
cutar e avaliar programas e projetos, pois cada projeto é único e digno de atenção e 
esforço específico, como vamos mostrar ao longo das aulas. 
Com isso, espero que esse conteúdo e a forma como ele está sendo apresentado, 
possa contribuir não só para uma formação técnica consistente, mas também de 
uma visão humana integral e integrada e profundamente crítica e, sobretudo, pro-
positiva, frente à complexidade e desafios do campo social no cenário da sociedade 
do século XXI. 
Ótimos estudos!
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM 
NO PROCESSO DA GESTÃO SOCIAL
15 Introdução 
16 Por uma Visão e um Pensar mais Dialógico do que Dialético 
17 O Paradigma Predominante no Campo da Gestão e Análise de 
Configurações: Pragmático, Sistêmico e Crítico
23 Configuração Contexto: Eixos de Contextualizadores que Influenciam no 
Processo de Gestão na Atualidade
32 Configuração Pessoas: Elementos que Minam o Bom Pensar e a Gestão de 
Planos, Programas, Projetos e Serviços no Campo Social 
36 Configuração Organizações: Velhos e Novos Arranjos Sócio-Organizacionais 
39 Considerações Finais 
44 Referências 
46 Gabarito 
UNIDADE II
CONCEITUAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃO 
SOCIAL
49 Introdução 
50 Importância e Consonância da Área e Atividade Administrativa no Serviço 
Social
51 Administração ou Gestão? 
60 Gestão Social ou Gestão do Social? 
SUMÁRIO
10
63 Elementos Básicos e Funções da Gestão
68 Considerações Finais 
73 Referências 
75 Gabarito 
UNIDADE III
INOVAÇÃO SOCIAL, MODELOS DE PROJETOS SOCIAIS E INFLUÊNCIA 
DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL
79 Introdução
80 Inovação Social 
82 Influência da Lógica do Empreendedorismo Social como Inovação Social 
84 Mudança na Lógica de Elaboração e Gestão de Projetos na Perspectiva do 
Empreendedorismo Social 
99 Um Modelo de Gestão Social Integral e Integrado 
102 Considerações Finais 
108 Referências 
110 Gabarito 
UNIDADE IV
GESTÃO E ESTRUTURAÇÃO DE PLANOS, PROGRAMAS, PROJETOS E 
SERVIÇOS SOCIAIS
113 Introdução
114 Plano Conceitual da Estrutura de Projetos 
SUMÁRIO
11
123 Modelos de Estrutura de Projetos 
133 Estratégia Básica para Elaboração e Gestão de Projetos e sua Aplicação na 
Prática do Assistente Social
138 Considerações Finais 
143 Referências 
144 Gabarito 
UNIDADE V
DESAFIOS DA INTERSETORIALIDADE NO PROCESSO ESTRATÉGICO DE 
GESTÃO DE PROJETOS SOCIAIS NO SERVIÇO SOCIAL E A FILOSOFIA DO 
ARTÍFICE
147 Introdução 
148 A Gestão de Projetos, Intersetorialidade e os Desafios para a Prática do 
Serviço Social
154 Desafios da Gestão de Projetos: um Estudo de Caso 
165 A Filosofia do Artífice para o Assistente Social Junto ao Campo de Gestão 
de Projetos
172 Considerações Finais 
178 Referências 
179 Gabarito 
 
180 CONCLUSÃO
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ID
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E I
Professor Dr. Edson Marques Oliveira
CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES 
E PESSOAS: ELEMENTOS QUE 
INTERFEREM NO PROCESSO
DA GESTÃO SOCIAL
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Captar os principais eixos contextualizadores que marcam o cenário 
do século XXI.
 ■ Compreender como esses eixos contextualizadores podem interferir 
no campo da gestão social, de forma geral e na elaboração dos 
planos, programas, projetos e serviços na área social.
 ■ Ampliar e saber estabelecer uma visão reflexiva e crítica, mas 
também propositiva, quanto a um olhar profissional do Serviço 
Social, frente aos cuidados que deve ter ao lidar com os processos e 
os elementos básicos que caracterizam a gestão social.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Por uma visão e um pensar mais dialógico do que dialético
 ■ O paradigma predominante no campo da gestão e análise de 
configurações: pragmático, sistêmico e crítico
 ■ Configuração contexto: eixos de contextualizadores que influenciam 
no processo de gestão na atualidade
 ■ Configuração pessoas: elementos que minam o bom pensar e a 
gestão de planos, programas, projetos e serviços no campo social 
 ■ Configuração organizações: velhos e novos arranjos 
sócio- organizacionais
INTRODUÇÃO
Caro(a) Aluno(a), nesta primeira unidade, o objetivo é alertar você, futuro(a) 
profissional do Serviço Social, de alguns elementos que, muitas vezes, não são 
destacados nos livros, artigos e manuais de elaboração de projetos e, infelizmente, 
em grande parte da literatura do Serviço Social Brasileiro.
Explico melhor: você já tentou organizar uma atividade, simples que seja? 
Vamos imaginar uma festa junina para arrecadar fundos para uma Organização 
Não Governamental (ONG) em que você faz parte. Digamos que essa ONG 
seja de defesa e proteção de animais. Você tem esse compromisso e sensibili-
dade por essa causa, mas existem pessoas que, além de não serem simpáticas, 
podem ser hostis, alegando, por exemplo, que a crise está muito grande e que 
devemos priorizar as pessoas e não os animais. Nesse sentido, você não encon-
trará unanimidade para realizar a sua festa junina, bem como terá dificuldades 
para alcançar sua finalidade que é arrecadar fundos para aONG e garantir uma 
melhor condição de cuidados e proteção aos animais.
Observe as palavras que, propositadamente, deixei em negrito: Organizar, 
atividade, arrecadar, priorizar, compromisso, entre outros. Fiz isso para chamar 
a sua atenção em três aspectos. Primeiro, que qualquer atividade que envolva a 
gestão de um projeto, você terá: a) um contexto, no nosso exemplo uma crise 
que leva as pessoas a darem outras prioridades; b) organizações, no caso, uma 
ONG de proteção a animais que tem objetivos, metas, necessidades para sua 
sobrevivência e estratégias para alcançar seus objetivos, no caso arrecadar fun-
dos financeiros para suas atividades e, por fim, c) pessoas, que são motivadas 
ou desmotivadas, são comprometidas ou descomprometidas. O fato é que em 
tudo que você for realizar nessa área de gestão de projetos, essas três configu-
rações: contexto, organizações e pessoas irão influenciar profundamente. Com 
isso, espero que você aguce sua visão crítica desse processo. Bom estudo!
Introdução
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CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E16
POR UMA VISÃO E UM PENSAR MAIS DIALÓGICO DO 
QUE DIALÉTICO
Como afirma Maturama (2001, p. 14),“Tudo é dito por um observador”, o que 
significa que o explicar, seja cientificamente ou não, está relacionado aos limites 
de que temos como observadores na convivência de nossas relações e da expe-
riência do viver em sociedade. Nessa perspectiva, quero fazer um convite para 
exercermos um olhar e o modo diferente de reflexão que denomino como dia-
lógico e não dialético.
O pensar dialético sempre leva, necessariamente, a uma síntese (tese, antese 
e síntese) o que, via de regra, significa que uma ideia deva prevalecer sobre outra, 
na medida em que a argumentação seja mais “convincente”. 
Na perspectiva dialógica, não há necessidade de uma prevalência de uma 
ideia sobre outra, parte-se do princípio que tudo é aprendizado e que uma ideia 
pode conter elementos que podem ser importantes tanto quanto outras ideias. 
O importante é que as ideias sejam claras, congruentes e tenham sentido e sig-
nificado quanto a sua formulação e o resultado que sua aplicação proporciona. 
Veremos isso de forma mais detalhada nos próximos tópicos. 
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O Paradigma Predominante no Campo da Gestão e Análise de Configurações
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17
O PARADIGMA PREDOMINANTE NO CAMPO 
DA GESTÃO E ANÁLISE DE CONFIGURAÇÕES: 
PRAGMÁTICO, SISTÊMICO E CRÍTICO
A palavra paradigma significa visão e teoria 
predominante de uma determinada época 
histórica e, na atualidade, em praticamente 
todas as áreas do conhecimento humano, 
no século XXI, é do pensamento sistêmico 
(VASCONCELOS, 2015). O campo da gestão 
não foge à regra (CHIAVENATO, 2003). Isso é 
de máxima importância, pois o Serviço Social 
tem como grande desafio criar condições inova-
doras de intervenção na realidade, o que passa 
pela elaboração de planos, programas, proje-
tos e serviços sociais. Mas o fazer não está destituído do pensar. É nessa perspectiva 
e constatação que acredito que possa surgir a inovação e formas alternativas, críti-
cas e criativas de exercer a profissão na área do Serviço Social. Com isso, a área pode 
se destacar de forma geral e na questão da gestão social. Tal destaque é fundamen-
tal, uma vez que o campo de trabalho de Serviço social vem exigindo a aplicação da 
intersetorialidade e a da interdisciplinariedade, pois temos que conviver com outros 
saberes e profissionais e precisamos, além de um discurso bem alinhado, mostrar 
de forma prática o que podemos e devemos fazer. É o que reforço na unidade cinco.
Entretanto, nesse momento da unidade, é preciso ter uma visão e paradigma 
predominante no campo da gestão. Isso é formulado a partir de duas matrizes 
que se interligam. Refiro-me a perspectiva do pragmatismo e da abordagem sis-
têmica, o qual aqui dou um novo sentido e um olhar dialógico que chamo de 
perspectiva pragmática-sistêmica-crítica. 
Pragmática com base nos clássicos desse método de pensamento, principal-
mente em Charles S. Peirce (1998) e em autores contemporâneos, como Richard 
Sennett (2004; 2012) tendo como principal base e preocupação a busca de con-
gruência entre o que se propõe, sua aplicação e seus resultados e impactos na 
vida humano-social. 
CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E18
Sistêmica porque dialogando com os clássicos dessa corrente de pensamento, 
como os trabalhos de Ludwig Von Bertalanffy (1995) e do entendimento de sis-
tema como elementos que estão interligados entre si e como sistema aberto, que 
tanto influencia quanto é influenciado pelo meio ambiente em que está inserido. 
Porém, entendendo também e de forma mais contemporânea, a existência de 
sistemas complexos e autopoéticos, como é o caso da abordagem sistêmica em 
Maturana (1997) que permite ampliar os horizontes do processo de construção 
do conhecimento da realidade com vistas à intervenção. 
A perspectiva também pode ser considera como crítica, pois ambas as matrizes 
permitem ir a raiz dos problemas na ordem temporal da vida e da história da huma-
nidade. Isso é, o ser humano e sua interação e relações sociais em um meio ambiente 
complexo e paradoxal como o que se apresenta no atual século XXI. O que, em se 
tratando de gestão, é um fator de máxima importância a ser dar a devida atenção.
Tanto que sua teoria e seus estudos foram realizados no meio acadêmico mais 
progressista da América do Norte, em sua época, ou seja, na escola de Chicago, junto 
com intelectuais como John Dewey (1859-1952) e George Hebert Mead (1863-1931) 
(ARANDA, 2013). Foi o ponto de partida para a construção, na década de 1930 
do século XX, do que hoje tem sido identificado como uma visão e uma aborda-
gem interacionista simbólica, utilizada por vários pensadores tidos pós-modernos, 
como Michel Foucault (1926-1984), Jacques Derrida (1930-2004), entre outros.
Nesse sentido, e já parafraseado um princípio da Biologia do conhecido de 
Maturana, (2001, p. 14) “tudo é dito por um observador”, logo, eu como obser-
vador estou me dirigindo a outros observadores, vocês, juntos fazemos parte do 
que podemos chamar de comunidade profissional, em que procuramos compar-
tilhar conhecimentos tanto do mundo acadêmico como do mundo da prática, 
de modo que um e outro estejam em sintonia. 
Essa perspectiva nos ajuda a ter uma visão em que se pode focar mais na 
solução do que só ficar focando o problema, que, a meu ver, é típico da relação 
dialética e do pensamento hegemônico atual no Serviço Social. Algo que para o 
campo da academia até certo ponto é interessante, mas em se tratando de uma 
profissão interventiva, cuja maior exigência da própria realidade em que está 
inserido é dar respostas às demandas cotidianas, isso se torna limitador. Isso é, 
ficar só na análise do problema sem dar a solução congruente e efetiva. 
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Podemos ilustrar isso com uma anedota (TADEU, 2012, p.129):
Um paciente diz ao psiquiatra: 
—Toda vez que estou na cama, acho que tem alguém embaixo. Ai eu 
vou embaixo da cama e acho que tem alguém em cima...
Pra baixo, pra cima, pra baixo, pra cima... Estou ficando maluco! 
Psiquiatra: — Deixe-me tratar de você durante dois anos. Venha três 
vezes por semana e eu curo esse problema – diz o psiquiatra.
Paciente: — E quanto o senhor cobra?
Psiquiatra: — R$120,00 por sessão.
Paciente: —Bem, eu vou pensar – conclui o sujeito. 
Passados seis meses, eles se encontram na rua. 
Psiquiatria: — Por que você não me procurou mais? 
Paciente: — A R$ 120,00, 3x por semana durante 2 anos, daria 
R$ 37.440,00, ia ficar muito caro. Aí um sujeito me curou por 10,00 
reais.
Psiquiatra: —Ah é? Como? 
Paciente: — Por 10,00 reais ele cortou os pés da cama!!! 
Moral da história: é preciso dar mais atenção às soluções do que gastar esforço 
e tempo só no problema.
Com isso, já sinalizo uma forma diferente de pensarmos o Serviço Social de 
forma geral e de forma específica. Principalmente a sua inserção no campo da 
gestão de projetos sociais. É preciso, aqui, exercitar o que chamo de uma con-
versa e reflexão do tipo carne e osso, o que só pode ser feito em uma perspectiva 
dialógica e pragmática-sistêmica-crítica. Explico melhor. 
Por conversas e reflexões de carne e osso, me inspiro na proposta exitosa do 
filósofo espanhol Miguel de Unamuno, principalmente em sua obra, Do sentimento 
trágico da vida (UNAMUNO, 2013). Unamuno é considerado um pragmático 
existencialista ou transcendental, devido a sua forte influência teórica em Sören 
Kierkegaard (1813-1855) e dos pragmáticos clássicos William James(1842-1910) 
e John Dewey (1859-1952). Defende que filosofar não é uma questão de filóso-
fos, somente, mas de todo ser humano (o que inclui os assistentes sociais, que 
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também são pessoas que trabalham com pessoas) e que devemos fazer uma filo-
sofia e uma reflexão no estilo “carne e osso”, que tem a seguinte compreensão: 
Também não é estranho para mim o humano nem a humanidade, 
nem o adjetivo simples, nem o adjetivo substantivo, mas o substantivo 
concreto: o homem [...] o homem de carne e osso, aquele que come e 
bebe e joga e dorme e pensa e deseja, o homem que é visto e ouvido, 
[...] homem de carne e osso; eu, você, meu leitor; aquele de lá, todos 
que pisam a terra (UNAMUNO, 2013, p. 19, grifo nosso).
Nesse sentido, pensar o Serviço Social frente à questão da gestão social e de 
projetos, requer, antes de tudo, pensar objetivamente, de forma concreta (prag-
mática) e com uma visão de fato e não de conversa, de totalidade (sistêmica), por 
tanto, de carne e osso. O que difere da proposta hegemônica, que leva a pensar 
um ideário de sociedade (socialismo e comunismo) que é imposto à população 
atendida pelos profissionais e que expressa o desejo de um grupo e não de uma 
população que, via de regra, nem quer saber disso, e, sim, de ter suas necessi-
dades atendidas. O que denota nitidamente vários dos males tóxicos do bom 
pensar, de forma geral e pior ainda para a gestão social e de programas e projetos. 
Pensar a prática profissional no campo da gestão na perspectiva carne e osso, 
é, antes de tudo, encarar com maturidade as limitações que temos como pro-
fissão e profissionais. Isso porque estamos prestando serviços para outros seres 
humanos, nunca devemos esquecer isso. Em outros termos: 
Todo o conhecimento tem uma finalidade. Saber por saber é apenas, 
digam o que digam, uma tétrica petição de principio [...] Mas, assim 
como um conhecimento científico visa a outros conhecimentos, a fi-
losofia que formos abraçar tem outra finalidade extrínseca, refere-
-se a todo nosso destino, a nossa atitude perante a vida e o universo 
(UNAMUNO, 2013, p. 30, grifo nosso).
Logo, é preciso que certas “verdades” absolutas, que têm sido reproduzidas no 
Serviço Social, sejam revistas à luz dessa análise de carne e osso. “Verdades” que 
mais dificultam do que facilitam a inserção do profissional no campo da ges-
tão social e de projetos, entre elas, a expressão mais sentimentalista, romântica 
e politicamente correta do que uma fusão profissional, está a declaração quase 
que messiânica: “garantia de direitos”. 
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Em outros termos, defender esse tipo de ideia como sendo uma finalidade 
de uma profissão é, no mínimo, inadequada e pensando no estilo carne e osso 
(de forma concreta e objetiva) e, acima de tudo, com honestidade, muitas vezes 
nós não conseguimos garantir os nossos direitos, quanto mais nos responsabi-
lizarmos por querer garantir os direitos de outros cidadãos.
Outro ponto muito importante a ser observado em nossa realidade profis-
sional, é a discussão sobre o objeto de nossa profissão. Ouso discordar que seja 
“as expressões da questão social”, seja lá o que de fato isso significar. Mas qual-
quer estudo sério de sociologia da profissão mostra claramente que o objeto de 
uma profissão de uma disciplina científica é aquilo que ela trabalha diretamente. 
Ora, as expressões da questão social são, em última instância, o resultado 
dos processos contraditórios de uma sociedade em constate movimento e com 
correlação de forças que produzem a concentração de renda e a desigualdade, 
que não se restringe à questão econômica, mas cultural, religiosa, emocional etc. 
O que requer uma visão mais ampla do problema. Lembra a história no iní-
cio da unidade? Precisamos focar mais nas soluções do que só nos problemas. 
Em outros termos, precisamos descobrir como inovar, melhorar e aprimorar os 
programas, projetos e serviços sociais, por meio de um agir profissional pau-
tado em pesquisar e propor novas alternativas de enfrentamento a essa realidade 
complexa e paradoxal. 
Nesse sentido, o que é, sempre foi e, a meu ver, sempre será o objetivo da prá-
tica profissional do Serviço Social? É o ser humano, seja ele de qual for o estrato 
social, mas sem dúvida e com prioridade os que estão em situação de risco e 
vulnerabilidade social, tanto quanto nós, profissionais que fazemos esse atendi-
mento. Isso é pensar carne e osso, são pessoas, seres humanos trabalhando para 
seres humanos. 
Como vimos a partir da afirmação de Unamuno em relação à filosofia, que 
deve ser concreta e que também serve para o Serviço Social. “O problema mais 
trágico da filosofia [Serviço Social] é conciliar as necessidades afetivas e voli-
tivas [...] Não basta pensar, devemos sentir o nosso destino" (UNAMUNO, 
2013, p. 31, grifo nosso).
O Paradigma Predominante no Campo da Gestão e Análise de Configurações
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Com isso, quero dizer que devemos pensar o Serviço Social como uma 
profissão (não um partido político ideológico, nem um movimento socialista, 
nem um sindicato, nem um movimento libertário revolucionário) que se ocupa 
do cotidiano, em que as relações sociais e humanas são realizadas e ações são 
pensadas para melhorar a sua qualidade de vida, o que é feito por pessoas para 
pessoas, visando o bem-estar comum, justo e digno. 
O que é diferente do atual pensamento hegemônico que vê a profissão como 
um meio de militância para consecução de uma ideologia específica (socialismo 
e comunismo), em que o profissional deve defender um projeto ético-político 
profissional, ideológico e partidário, que mais representa um programa político 
e tem pouca ou nenhuma aplicabilidade congruente com uma profissão que, via 
de regra, enfrenta as limitações dos espaços sócio-ocupacionais e o desafio de 
materialização e justificativa de sua participação na divisão social do trabalho. 
O que fica ainda mais desafiador quando pensamos na atuação no campo da 
gestão social e de projetos, que requer mais objetividade do que ideologia como 
mostro mais à frente nas demais unidades. 
Nos mais de 20 anos de carreira como professor em Serviço Social, sempre 
que encontro um(a) aluno(a) pergunto qual a principal exigência das organiza-
ções que o contrata.A resposta é quase sempre a mesma, “elaborar projetos”. Por 
isso que é necessário, e é esse o meu convite a todos(as), de termos uma disposi-
ção mental e epistemológica diferenciada. Mas para exercitarmos essa reflexão 
mais dialógica do que dialética e em uma perspectiva pragmática-sistêmica-
-crítica, é preciso eliminar alguns males que têm impedido a nossa reflexão e, 
consequentemente, uma visão mais ampla do Serviço Social como profissão, de 
forma geral e no campo da gestão social de forma específica. Como veremos no 
próximo tópico. 
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CONFIGURAÇÃO CONTEXTO: EIXOS DE 
CONTEXTUALIZADORES QUE INFLUENCIAM NO 
PROCESSO DE GESTÃO NA ATUALIDADE
É importante salientar que quando pensamos 
o Serviço Social como profissão de carne e 
osso, ou seja, de forma concreta, deparamos-
-nos tanto com avanços como também com 
limitações efetivas, principalmente quanto aos 
espaços sócio-organizacionais. Por exemplo, 
quanto ao desafio do trabalho intersetorial, 
em que fica ainda mais complexo e desafia-
dor a atuação dos profissionais. Pois a cada 
dimensão da atuação profissional, requer uma 
maior precisão quanto a sua clareza e propó-
sito profissional frente às demais disciplinas 
e demais profissionais. 
Nesse sentido, é preciso dizer com clareza, objetividade o que se faz, como 
se faz e por que se faz. O que remete a explicitação de questões concretas, como 
métodos, técnicas, e também, e fundamentalmente, a postura ética frente a essas 
questões. 
Da mesma forma os saberes que, no caso do Serviço Social, considerando sua 
histórica, origem e natureza interventiva, não há como negar que o seu saber é 
um saber que se alimenta da realidade, o que leva a um modo específico de pro-
duzir conhecimento. No caso, um tipo de praxiologia (práxis =prática pensada) + 
logia (estudo) = estudo da prática pensada), ou seja, conhecimento crítico da rea-
lidade para um objetivo específico, intervir na realidade. E a forma mais concreta 
dessa intervenção é por meio dos planos, programas, projetos e serviços sociais. 
Por isso, conhecer somente não é suficiente, é preciso intervir. Diante disso, 
os dois mundos precisam estar sempre em diálogo (dialógico preferencialmente): 
o mundo da academia e o mundo do mercado ou da prática profissional. Quando 
o primeiro quer ser dono da verdade e se apropria de uma única forma de pen-
sar e ver o mundo e formar os profissionais em uma única cosmovisão, podemos 
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correr o risco de, teoricamente, estarmos indo em uma direção, enquanto a prá-
tica e as exigências e demandas sociais da sociedade correm em outra. E isso 
ocorre principalmente pela falta de clareza e objetividade junto aos demais seto-
res, saberes e profissionais no campo da gestão social. 
Vejamos melhor essa questão. Primeiro é importante resgatar a história e 
origem do Serviço Social que teve, há mais de 100 anos, o seu primeiro marco 
científico e profissional registrado na proposta de Mary Richmond nos livros 
Diagnóstico Social, em 1917 e O que é Serviço Social de Casos, em 1922. 
Não é o propósito e nem teríamos espaço e tempo para apresentar a arqui-
tetura dessa proposta. Basta afirmar e lembrar que esses trabalhos foram fruto 
de um contexto que requeria uma ação mais profissional e mais científica do 
trato com a pobreza e as pessoas em situação de marginalização. Um contexto 
em que o Estado ainda não tinha uma maior participação, em que a miséria e 
pobreza assolavam as sociedades em crescimento industrial e que movimentos 
sociais buscavam gerar reformas na sociedade. 
Exemplo do movimento feminista a favor do sufrágio universal, no qual 
assistentes sociais pioneiras, como Mary Richmond e Jane Adams tiveram par-
ticipação efetiva. Jane inclusive recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1931, além 
de projetos, como os Centros Comunitários e a Residência Social e as primeiras 
escolas de formação de profissionais. A proposta, principalmente de Richmond, 
foi pautada em experiência profissional efetiva. Ela entrevistou e analisou mais 
de 2.800 casos,e não foi só uma observadora, ou uma “intelectual” que formula 
teorias e que as práticas ficam a cabo dos profissionais de campo, como acontece 
atualmente no Brasil, principalmente em relação à produção do Serviço Social, 
muita teoria e ideologia e pouca prática e instrumentalidade. 
O que, no processo de intersetorialidade, nos dá uma desvantagem muito 
grande, pois outros profissionais e saberes têm tido essa preocupação, a qual, ao 
que parece, o Serviço Social do século XXI se esqueceu. Por isso é importante 
que se recupere essa capacidade de pulsar conforme o contexto e as demandas 
exigem dessa profissão dinâmica. É nessa perspectiva que é necessário, mesmo 
que brevemente, destacar o que chamo de eixos contextualizadores do século 
XXI, que, em grande medida, afetam o fazer profissional e, consequentemente, 
no processo de gestão social. Esses eixos seriam: 
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a. Males da modernidade: esse primeiro eixo é defendido por Charles Taylor, 
principalmente em suas obras, Ética da Autenticidade (2009), Imaginários 
Sociais (2004) e Fontes do Self (2013). Esse autor considera que não passa-
mos para uma pós-modernidade, pois ainda não esgotamos os impactos 
da passagem da idade média para a modernidade, desta o que ele deno-
mina de principais males da modernidade, são três: 
1. Individualismo: vivemos uma época de niilismo radical, relativista 
centrada no ego, no eu, o que ressalta o narcisismo exacerbado e leva 
a perda do interesse pelas outras pessoas e pela sociedade de forma 
geral, ou seja, perde-se o horizonte de uma visão de vida em sociedade 
e busca pelo bem-comum.
2. Razão instrumental: avanço das novas tecnologias e da lógica de 
acumulação de capital, a centralidade está na busca de resultados por 
resultados, do uso dos meios somente para fins, sem se preocupar 
como os processos.
3. Despotismo e fragilidade do espaço público: cada pessoa está cen-
trada em si mesma ou grupos que lutam por seus próprios interesses, 
que se concentram em garantir as suas reivindicações, busca de reco-
nhecimento e autorrealização, sem se importar com os outros de seu 
entorno, gerando uma identidade do EU DESENGAJADO, pois a for-
mação das identidades na modernidade não se dá isoladamente, mas a 
partir das relações e convivência como seu meio e seus pares. 
b. Sociedade do Hiperconsumo: esse eixo é de máxima importância na 
atualidade, pois segundo Lipovetsky (2007), principalmente em sua obra 
A felicidade paradoxal, o consumo deixa de ser uma questão de status para 
ser uma necessidade emocional, o que altera profundamente o modo de 
conduta social das pessoas, ou seja: 
De um consumidor sujeito às coerções sociais da posição, passou-se a 
um hiperconsumidor à espreita de experiências emocionais e de maior 
bem-estar, de qualidade de vida e de saúde, de marcas e de autentici-
dade, de imediatismo e de comunicação (LIPOVETSKY, 2007, p. 27). 
Essa constatação faz com que as pessoas que tenham recursos, atendam a esses 
apelos de consumo. Mas, e as pessoas que não têm recursos para saciar esse 
desejo de consumo, o que fazem? 
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Em grande medida explica a busca por alternativas, 
como o crime, as drogase os meios ilícitos para apla-
car o desejo de consumo de reconhecimento, mesmo 
que com o risco de ser preso e de perder a vida. O 
que também desafia as políticas sociais.
Por exemplo, enquanto programas sociais ofe-
recem bolsas auxílio para jovens saírem do crime, 
cujos valores são ínfimos, muitos preferem voltar ao 
crime, ao tráfico, pois em pouco tempo ganham mais e têm 
acesso mais rápido aos bens de consumo que atendem 
às necessidades geradas pela cultura do hiperconsumo, 
levando a um vazio profundo existencial (LIPOVETSKY, 
2010) e uma cultura-mundo (conceito de mundialização do 
consumo), sem identidade própria, mas uma identidade forjada, superficial e 
performática (LIPOVETSKY, 2013).
Essa constatação eleva o desafio de pensar intersetorialmente, em que saberes 
diferentes têm que negociar leituras e formas alternativas. Isso porque se tiver-
mos uma visão única e limitada a só críticas à política econômica, não teremos 
como contribuir com processos interventivos de impacto. O que leva a refletir 
sobre outro eixo de contextualização. 
c. Nova cultura do capitalismo: essa nova cultura está muito atrelada ao 
eixo do hiperconsumo, que também é destacado por Sennett (2006) no 
livro A nova cultura do Capitalismo. 
O autor destaca que os processos recentes da globalização do capital pro-
duziram vários impactos, entre eles a fragmentação das instituições que 
desafiam os valores e práticas que sejam capazes de manter as pessoas uni-
das, integradas, solidárias. E para enfrentar essa complexidade, os seres 
humanos têm que enfrentar três grandes desafios, a saber: 1º- tempo: 
como fazer mais, em menos tempo? 2º - talento: como criar novas capa-
cidades num mundo em que tudo fica rapidamente obsoleto? 3º - deixar 
o passado para trás, viver na incerteza. 
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E esses desafios, levam as pessoas a viverem de forma desfavorável, pois 
percebe-se que um dos elementos de maior importância e natural do ser 
humano, o ato ou a habilidade social de cooperar e de estar junto, vem se 
perdendo. Em seu lugar reina um processo de cooperação fraca e solida-
riedade fingida (SENNETT, 2012) e um processo crescente de desrespeito, 
principalmente por meio das políticas sociais (SENNETT, 2004). 
d. Sociedade do cansaço: expressão utilizada pelo filósofo coreano e natu-
ralizado alemão Byung-Chul Han na obra A Sociedade do Cansaço (HAN, 
2014). Tendo como referência a distinção entre a negatividade e positi-
vidade em Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770- 1831), ou seja, entre a 
oposição de uma relação baseada na alteridade e uma relação centrada na 
permissividade do idêntico, Han (2014) faz uma aguda crítica às impli-
cações das transformações culturais, destacando os meios e tecnologias 
comunicacionais do nosso tempo e principalmente em relação às novas 
configurações do trabalho, da atenção e da doença mental. 
Han (2014) destaca que a hipercomunicação é, no contexto do século 
XXI, uma modalidade de violência da sociedade positiva (por oposição 
à sociedade negativa). Está ligada a vários excessos, particularmente a 
uma sobrecarga da produtividade e dos estímulos midiáticos e da busca 
de resultados só positivos, do sucesso pelo sucesso ou ainda da ditadura 
da felicidade. 
Reforçando esse entendimento e impacto da sociedade do cansaço e con-
forme a reflexão do autor apresentado anteriormente, podemos verificar 
que enquanto o século XX foi considerado como uma era viral, o século 
XXI é caracterizado como uma era neural. 
Ou seja: “de um ponto de vista patológico, não é o princípio bacteriano 
nem o viral que caracterizam a entrada no século XXI, mas, sim, o prin-
cípio neural” (HAN, 2014, p. 9). Ainda nessa direção, o autor destaca:
A violência neural não parte de uma negatividade alheia ao sistema, 
mas é, sim, uma violência sistemática, ou seja, imanente ao sistema. 
Tanto a depressão como o TDAH ou a SB apontam para um excesso de 
positividade (HAN, 2014, p. 17).
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Isso faz com que as doenças mentais, sejam de déficit de atenção, TOC, doen-
ças degenerativas, se mostrem como a marca do desgaste mental do cidadão 
do século XXI, em que a imagem, potencializadas pelas mídias e redes sociais, 
gere tipos alterados de relações sociais, tanto para o bem (mobilização social e 
transparência da informação) como para o mal (superficialidade e distorção do 
conhecer mais profundo).
Isso faz com que o modo de se trabalhar com as pessoas e, consequentemente, 
junto às políticas públicas e sociais, seja cada vez mais desafiador. Cada profissão 
e profissional deve saber qual a sua contribuição frente a esse eixo e demandas 
que são encaminhados e que exigem respostas a sua efetividade, o que vai além 
de mera “leitura crítica da realidade” ou da pretensão de “garantir direitos”. 
e. Capitalismo afetivo e terapêutico: corroborando com os demais eixos 
destacados, a contribuição da socióloga Israelense Illouz, no traba-
lho O amor nos tempos do capitalismo (ILLOUZ, 2011), nos alerta quanto 
a essa dimensão extremamente potencializa pelos impactos da moder-
nidade, principalmente a apontada por Taylor, sobre o individualismo, 
em que o sentimentalismo deixa de ser uma questão aparentemente só 
da psicologia ou das ciências do comportamento e se apresentem como 
objeto de máxima importância para o campo social. Como destaca a 
autora sobre o assunto. 
O afeto é uma entidade psicológica, sem dúvida, mas é também, e tal-
vez até mais, uma entidade cultural e social: através dos afetos nós po-
mos em prática as definições culturais da individualidade, tal como se 
expressam em relações concretas e imediatas, mas sempre definidas em 
termos cultuais e sociais (ILLOUZ, 2011, p. 10). 
No tocante à gestão social e, principalmente, o pensar do agir em con-
junto com outros saberes (intersetorialidade e interdisciplinaridade), essa 
constatação é vital, pois explica, em grande parte, porque muitas ações 
não recebem o apoio e adesão das populações alvo dessas políticas, pois 
os sentimentos, segundo Illouz, “[...] organizam-se hierarquicamente, e 
esse tipo de hierarquia afetiva, por sua vez, organiza implicitamente os 
arranjos morais e sociais.” (ILLOUZ, 2011, p. 11). 
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Um exemplo real desse fator. Em minha cidade, Toledo-PR, há algum 
tempo, um vereador, para mostrar serviço à comunidade que o elegeu, 
conseguiu construir uma praça num bairro. Praça dá visibilidade, logo, 
ele achou que garantiria os votos para a próxima eleição. Foi realizada a 
obra, feito a inauguração com toda divulgação possível. Em outro ponto 
da cidade, um grupo de moradores de um bairro reivindicou, a Prefei-
tura, a urbanização de um espaço público que estava ocioso e servindo de 
ponto de marginais e no local construir uma praça, sendo que a comuni-
dade teria o compromisso de dar manutenção à praça solicitada. E assim, 
foi atendido a reivindicação da população desse outro bairro. 
O que aconteceu: a primeira praça, pouco tempo depois da inauguração, o 
espaço já está quase destruída pelos próprios moradores. Já a outra praça 
existe até os dias atuais em plena conservação. Veja como sentimentos, 
intenções e valores são importantes, principalmente para projetos no 
campo social e, sobretudo, com o dinheiro público. 
Esse fator afeta substancialmente a construção do imaginário social (visão 
de vida e de mundo que as pessoas têm) da população. Eu fiz essa cons-
tatação num estudo que realizei no pós-doutoramento, em que fiz um 
estudo de caso específico do fracassoda gestão dos empreendimentos de 
economia solidária (OLIVEIRA, 2014). Veja, estou gastando um tempo 
maior dando ênfase a essa questão, por ela ser vital.
No referido estudo sobre os empreendimentos sociais solidários, por 
exemplo, constatei que os sentimentos e imaginário social dos militantes 
e gestores sobre o ideal da economia solidaria é um, e dos trabalhado-
res é outro. O que faz com que se desperdíce recursos, tempo e não se 
alcance os resultados desejados por uma política pública e social que, de 
fato, faça diferença. Isso também pode ser um fracasso no campo da ges-
tão social, dos planos, programas, projetos e serviços sociais. 
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Além de que, essa questão do afeto, da emoção, do sentimentalismo leva 
a outra constatação: o surgimento de um tipo de política-afetiva, em que 
o uso dos recursos das políticas públicas e sociais, se observarmos com 
maior criticidade e objetividade, no fundo, estão mais a serviço dos interes-
ses de movimentos e grupos sociais e ideológicos específicos, que buscam 
muito mais a sua autenticidade e o reconhecimento do que o bem-comum 
ou o direito e justiça para todos, ou seja “o Capitalismo afetivo reali-
nhou as culturas dos sentimentos, tornando emocional o eu econômico 
e fazendo os afetos se atrelarem mais estreitamente à ação instrumen-
tal” (ILLOUZ, 2011, p. 39, grifo nosso). A mesma autora acrescenta que: 
[...] a narrativa terapêutica surge do fato de o indivíduo ter se inseri-
do na cultura impregnada pela ideia dos direitos. Indivíduos e grupos 
têm reivindicado cada vez mais seu “reconhecimento”, ou seja, exigin-
do que seu sofrimento seja reconhecido e remediado pelas institui-
ções. (ILLOUZ, 2011, p. 82, grifo nosso).
Essa constatação é muito importante, principalmente para o Serviço 
Social, pois nos faz repensar, com maior profundidade e concretude 
(carne e osso), sobre o papel e função de “garantir direto”, um discurso 
muito comum e recorrente na categoria, fortemente influenciada pelo 
pensamento hegemônico (predominante, que é o marxismo). Pois, corre 
o risco de estarmos alimentado um sentimentalismo irrealista que mais 
contribui para fugirmos de nossos reais e efetivos desafios na construção 
da cidadania plena em nossos dias. Isso porque se pensarmos em carne e 
osso, muitas vezes não garantimos os nossos direitos, quanto mais que-
rermos garantir os direitos dos outros. Além do que, há os promotores 
públicos para fazer isso, não é mesmo? 
f. Sociedade Excitada: por fim, reforçando a corroboração dessa constata-
ção e em outra matriz teórica, é possível constatar o desafio do viver e de 
trabalhar no campo da intersetorialidade, a partir da análise de Christoph 
Türcke no livro Sociedade excitada –filosofia da sensação (TÜRCKE, 2010). 
O autor, a partir da junção e diálogo entre a matriz freudiana e marxista e 
em uma visão crítica, apresenta um tipo de arqueologia da sensação como 
um diagnóstico e caracterização do mundo contemporâneo. Destaca a 
força do “espetáculo” com a fisiologia da sensação, em outras palavras: 
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[...] o mais notável é que, justamente, a alta pressão noticiosa do pre-
sente, que quase automaticamente associa ‘sensação’ a ‘causar sensação’, 
não apenas se sobrepõe ao sentido fisiológico antigo de sensação, mas 
também o movimenta de uma nova maneira. Ou seja, se tudo o que não 
está em condições de causar uma sensação tende a desaparecer sob o 
fluxo de informações, praticamente não sendo mais percebido, então 
isso quer dizer, inversamente, que o rumo vai na direção de que apenas 
o que causa sensação é percebido (TÜRCKE, 2010, p. 20, grifo nosso). 
Nesse sentido e com esse eixo, quero destacar que o autor corrobora com a 
ideia de que o cenário do século XXI é mais emocional do que racional, é 
uma “Sociedade da sensação”, em que o que mais as pessoas querem é o espe-
tacular, o sensacional. Basta vermos o crescimento das chamadas palestras 
“espetáculos”, em que as pessoas riem de piadas e palavras pré-fabricadas de 
jargões motivacionais e são apresentados como “capacitação” para os funcioná-
rios. Passados alguns minutos, as pessoas nem sabem qual foi o tema tratado. 
Isso é, as pessoas querem mais entretenimento do que conhecimento, o que 
pode ser visto no crescimento da literatura de autoajuda. O que, decorrente 
à potencialização dos meios da tecnologia, gera um tipo de vício da exci-
tação, o que leva, conforme destaca Türcke (2010), a surgir uma sociedade 
distraída, em que questões de maior importância e de maior impacto coletivo 
deixam de ser percebidos, pois exist,e hoje, uma intensificação dos estímulos. 
Nisso, se políticas e ações de intervenção social, seja de qual for a área ou 
disciplina, não se preocuparem com esse efeito e talvez até não desen-
volverem ações que gerem essa “excitação”, é bem provável que teremos 
sérios problemas com a adesão da população às atividades, principal-
mente intersetoriais. 
Até aqui, vimos como pensar a intersetorialidade leva, inevitavelmente, 
a outras temáticas que estão entrelaçadas e que as disciplinas e setores 
são afetados por esses eixos que, resumidamente, foram aqui sinalizados. 
Partindo do pressuposto, de que o Serviço Social é uma disciplina que 
vem sendo renovada e buscando sempre estar atendendo as demandas 
do contexto em que está inserida, a questão é, hoje, mais do que nunca, 
refletir sobre o que e como o Serviço Social se apresenta. É o que pre-
tendo mostrar no próximo tópico. 
Eixos de Contextualizadores que Influenciam no Processo de Gestão na Atualidade
CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO
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CONFIGURAÇÃO PESSOAS: ELEMENTOS QUE 
MINAM O BOM PENSAR E A GESTÃO DE PLANOS, 
PROGRAMAS, PROJETOS E SERVIÇOS NO CAMPO 
SOCIAL 
Como futuros profissionais em Serviço Social e considerando, ainda, a influên-
cia do pensamento hegemônico como sendo, para muitos, a base e parâmetro 
teórico-metodológico, é importante ressaltar que no campo da gestão social e 
entre outros profissionais e outras disciplinas, a visão é outra. Como mostrei 
acima, é predominantemente pragmática e sistêmica, o que requer dos(as) assis-
tentes sociais um esforço maior para se apropriarem dessa cultura e linguagem 
própria da gestão. 
Como nos ensina um grande teórico italiano Bobbio (1999), não basta só 
repetir o mantra marxista “é preciso transformar o mundo” sem dizer como e 
quando, ou seja: 
Por isso mesmo não tem nenhum sentido dizer, como faz o revolu-
cionário repetindo o mote de Marx, que é necessário transformar 
o mundo, se não se diz, repito, quais os resultados que se pretende 
alcançar e quais os meios a utilizar para isso (BOBBIO, 1999, p. 108, 
grifo nosso). 
Você sabia que o pensamento de Mary Ellen Richmond (1861-1928), pionei-
ra do Serviço Social, principalmente apresentado no trabalho Diagnóstico 
Social lançado em abril de 1917, nos E.U.A, e que em 2017 completará 100 
anos, tem sido alvo de muitos estudos que revelam a sua importância his-
tórica, mas também e principalmente sua pertinência na atualidade? Como 
exemplo, ver o estudo de Dellavalle (2011) sobre a atualidade do pensamen-
to de Richmond, na Itália, e de Aranda (2003), na Espanha, e que mostra, 
de forma contundente, a história desse pensamento e sua vinculação com 
o pragmatismo e o interacionemos simbólico. E ainda o trabalho de Silva 
(2004), professora da PUC-RJ, que mostra como o pensamento de Mary Ri-
chmond aqui no Brasil é importante para os fundamentos da profissão e seu 
modo peculiar de produzir conhecimento.Fonte: o autor.
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Esses eixos contextualizadores afetam principalmente os profissionais da área 
social. No entanto, existe o que chamo de males que minam o bom pensar, de 
forma geral e de forma específica no Serviço Social, tanto na comunidade aca-
dêmica como em sociedade de forma geral, chamo de “problemas tóxicos do 
bom pensar”. Seriam eles: 
a. Praga do Politicamente “correto”. E o que seria isso? Em linhas gerais, 
seria falar o que agrada a maioria e no fundo não ter opinião própria. O 
que leva as pessoas a falarem mais do mesmo só pra agradar e serem aceitos 
no grupo, na categoria, receber aplausos, elogios, o que gera um pensa-
mento do tipo manada. Como muito bem explicado por Dalrymple sobre 
o termo politicamente correto, ou seja, “o politicamente correto é muitas 
vezes a tentativa de tornar o sentimentalismo socialmente obrigatório ou 
aplicável por lei” (DALRYMPLE, 2015 p. 33). Esse tipo de postura tem 
feito com que o debate no Serviço Social não saia da mesmice. Quando 
uma pessoa sai da “caixinha”, no caso do atual pensamento hegemônico, 
marxista, é rotulado e estigmatizado como neoliberal, favorável ao sis-
tema capitalista, funcionalista, positivista, conservador, liberal como se 
essa coisas fossem as mais horríveis do mundo e, portanto, politicamente 
incorretos e que devem ser combatidos. Isso é uma postura dialética e não 
dialógica. E precisa mudar, pois se só falarmos mais do mesmo, só tere-
mos os mesmos resultados, não há crescimento, inovação e sem isso, no 
mundo atual, corremos o risco de morrermos. 
b. Maniqueísmo. Como consequência do pensamento do “politicamente 
correto”, vemos, no Serviço Social brasileiro e na atualidade (2016), uma 
cultura marcada pelo discurso e pensamento maniqueísta, mesmo que 
não admitido explicitamente. A palavra e expressão maniqueísmo vêm da 
existência de um movimento dualista religioso e sincretista que se origi-
nou na Pérsia e foi amplamente difundido no Império Romano entre os 
séculos III d.C. e IV d.C. A principal característica desse movimento era 
uma doutrina que consistia basicamente em afirmar a existência de um 
conflito cósmico entre o reino da luz (o Bem) e o das sombras (o Mal), 
em outros termos ou as pessoas eram desse movimento e eram do reino 
da luz portanto do eixo do bem ou estando fora desse grupo automatica-
mente faz parte do reino das trevas e, portanto do eixo do mal. Semelhante 
à lógica de Guerra nas Estrelas, “lado escuro da força”. Isso, no campo 
das ideias, só faz com que se perca a oportunidade de aprendermos uns 
CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO
Reprodução proibida. A
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com os outros, e isso no Serviço Social no Brasil e na atualidade, é muito 
claro, pois as rotulações quando você não é politicamente correto, por-
tanto, marxista e do eixo do bem, automaticamente você é do eixo do 
mal, é conservador e, logo, defensor do capitalismo, da burguesia, a favor 
da injustiça, da exploração etc. Para o campo da gestão social, isso não é 
relevante e, portanto, pouco produtivo ter uma visão e discurso manique-
ísta, pois precisamos saber nos relacionar com outras vertentes e campos 
e disciplinas do conhecer humano. 
c. Gripto-identidade ou identidade forjada. Essas duas posturas anteriores 
levam a um terceiro elemento tóxico. Como as pessoas do eixo do bem 
e politicamente corretos são austeros na defesa de seus projetos, de suas 
crenças e de seus fundamentos levam as pessoas que não têm coragem de 
pensar por si mesmas ou fora da caixinha a criarem uma gripto-identi-
dade ou uma identidade forjada, falsa. Gripto no sentido de griptografia 
como sendo um código, uma forma secreta de se esconder a verdadeira 
identidade ou forma de pensar da pessoa, em outros termos, fala uma 
coisa e vive outra. Muito semelhante do que aconteceu com os Judeus na 
época da inquisição. Muitos se “converteram” ao Cristianismo pra sobre-
viver, mas de uma maneira culpada e secreta continuavam a cultivar suas 
crenças. Na frente dos outros uma coisa, no privado outra. Igual ao que 
ocorre no Serviço Social de forma geral, muitos não dizem o que real-
mente pensam, com medo de serem reprimidos, corrigidos, rotulados, 
levando a serem politicamente corretos e maniqueístas. 
d. Sentimentalismo, romantismo e irracionalidade. Esses elementos per-
meados pelo ressentimento são característicos de outro elemento tóxico 
do bom pensar, que é o sentimentalismo, o romantismo e a irracionali-
dade do debate acadêmico e filosófico, que se torna mais ideológico do que 
lógica e racional. Theodore Dalrymple, um autor inglês, no livro, Podres 
de mimados: as consequências do sentimentalismo tóxico (DALRYMPLE, 
2015), destaca que o sentimentalismo é a expressão da emoção sem jul-
gamento. E ressalta: 
Talvez ela (sentimentalismo) seja pior do que isso: é a expressão sem 
reconhecimento de que o julgamento deveria fazer parte de como de-
vemos reagir ao que vemos e ouvimos [...] O sentimentalismo é, por-
tanto, infantil (porque são as crianças que vivem em um mundo tão 
facilmente dicotomizável) e redutor de nossa humanidade (DALRYM-
PLE, 2015, p. 87).
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Outra estudiosa do assunto, Eva Illouz, socióloga Israelense, no livro, O amor 
nos tempos do capitalismo, destaca: “[...] os sentimentos, portanto, organizam-se 
hierarquicamente, e esse tipo de hierarquia afetiva, por sua vez, organiza impli-
citamente os arranjos morais e sociais” (ILLOUZ, 2011, p. 11) e ainda, conclui: 
O afeto é uma entidade psicológica, sem dúvida, mas é também, e 
talvez até mais, uma entidade cultural e social: através dos afetos nós 
pomos em prática as definições culturais da individualidade, tal como 
se expressam em relações concretas e imediatas, mas sempre definidas 
em termos cultuais e sociais (ILLOUZ, 2011, p. 10, grifo nosso). 
Nesse sentido, toda e qualquer discussão que leva mais para o lado do sentimen-
talismo do que da razão e da lógica se apresenta como sendo romântica, que fica 
só com base nos sentimentos e não nos fatos, o que leva a uma visão de mundo 
aparentemente com algum sentido, mas totalmente irracional. Imagine você, 
quando estiver discutindo estratégias para elaboração de um plano de progra-
mas, projetos e serviços com essa característica? 
No caso do Serviço Social, um dos exemplos mais expressivos desse roman-
tismo, sentimentalismo e irracionalidade é a defesa quase que religiosa do “projeto 
ético político profissional”. Por exemplo, é muito comum em eventos da catego-
ria, em que os principais palestrantes soltam frases de efeito do tipo: “temos que 
defender o projeto ético político profissional a todo custo, mesmo que signifique 
a nossa demissão”. Sim, temos que defender e ter parâmetros éticos profissio-
nais, mas como qualquer outra profissão, ao darmos essa conotação e ter como 
principal eixo desse projeto a consolidação de uma nova ordem sociedade (vide 
socialismo e comunismo), deixamos de ser uma profissão para sermos qualquer 
coisa, movimento social, sindical etc., mas não uma profissão. Isso é sentimen-
talismo, romantismo e irracionalidade, levar esse tipo de mentalidade para o 
processo de gestão social é, no mínimo, limitante e limitador. 
O que reforça a tese do capital afetivo de Illouz, em que: “o Capitalismo afe-
tivo realinhou as culturas dos sentimentos, tornando emocional o eu econômico e 
fazendo os afetos se atrelarem mais estreitamente à ação instrumental” (ILLOUZ, 
2011, p. 39). No campo da gestão, esses elementos podem fazer a diferença, tanto 
no campo privado, público como da sociedadecivil, e principalmente, quando 
hoje se dá uma grande importância ao trabalho intersetorial e interdisciplinar, 
Configuração Pessoas: Elementos que Minam o Bom Pensar e a Gestão de Planos
CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO
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em que clareza, objetividade e determinação são fundamentais, o que certas ide-
ologias limitam. Isso gera outro problema, que veremos a seguir. 
Finalizando essa parte de nosso estudo, quero sugerir o antídoto para essas 
patologias intelectuais tóxicas para o bom pensar no Serviço Social e que afe-
tam diretamente o processo de gestão, a saber:
1. Ousar em ter e construir opinião própria e com fundamentação.
2. Ser valente, corajoso e autêntico e ser o que realmente é.
3. Uma visão mais ampla do ser humano e da sociedade de forma mais 
clara, objetiva e menos sentimentalista e romanizada.
4. Maturidade, humildade e honestidade intelectual.
5. Vigilância epistemológica que permite ver, ler e intervir na realidade 
humano-social de fato e de verdade e não só de forma ilusória e fictícia.
6. Relações e debates dialógicos e não dialéticos e fortalecer a pluralidade 
de fato e de verdade e não mera tolerância e subordinação passiva e 
inferioridade de uma hegemonia com base em uma ideologia ultrapas-
sada e de pouca aplicabilidade prática e profissional. 
Agora vamos à última configuração, que enfatiza a questão das organizações. 
CONFIGURAÇÃO ORGANIZAÇÕES: VELHOS E NOVOS 
ARRANJOS SÓCIO-ORGANIZACIONAIS 
Um dos maiores intelectuais no campo da gestão é, sem dúvida, Peter Drucker. 
Em um livro do final da década de 1980 e quase que em uma visão profética, 
Drucker enfatiza que a marca do século XX, e consequentemente, do século XXI, 
é que vivemos e dependemos das organizações e, assim, a função de administra-
ção adquire uma dimensão social, ou seja: 
Numa esmagadora maioria, as pessoas nas sociedades desenvolvi-
das são empregadas de alguma organização; ganham a vida graças 
à renda coletiva de uma organização, encaram suas oportunidades de 
carreira e sucesso basicamente como oportunidades dentro de uma or-
ganização [...] e cada uma dessas organizações, por sua vez, depende 
Configuração Organizações: Velhos e Novos Arranjos Sócio-Organizacionais 
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da administração o que de outro modo seria uma massa [...] Numa 
sociedade de organizações, a administração passa a ser uma função 
social fundamental, e as equipes administrativas se transformam no 
órgão determinante e diferencial da sociedade (DRUCKER, 1986, p. 
168, grifo nosso).
Note você a importância que esse grande mestre da administração, já no final da 
década de 1980, sinalizava o que outros autores na atualidade vêm aprofundando, 
ou seja, que vivemos em uma era regida por organizações e que elas, dada a sua 
importância, veem na administração, ou seja, na gestão, um elemento vital. E é 
importante salientar que é por meio das organizações que planos, programas, 
projetos e serviços sociais são materializados. 
Reforçando a importância dessa configuração, é possível, e necessário, des-
tacar a proposta dos estudos de desenho das organizações eficazes. Refiro-me ao 
trabalho de Henry Mintzber, principalmente em sua obra prima sobre o tema, 
Criando Organizações eficazes: estruturas em cinco configurações (MINTZBER, 
2012), em que defende a ideia de que as organizações, conforme é estruturada, 
pode definir seu sucesso ou fracasso, bem como determinar seu ritmo e coexis-
tência com o ambiente em que está inserida. 
O autor supracitado defende uma configuração de cinco pontos, a saber: 1) 
cúpula estratégica; 2) Tecnoestrutura; 3) Assessoria de apoio; 4) Linha intermediária 
e 5) núcleo operacional. O autor explica que a estrutura de uma organização pode 
ser definida a partir da maneira como as atividades são divididas e a forma como 
são coordenadas as tarefas. Quanto mais a organização cresce, mais ela fica com-
plexa, exigindo um maior saber administrativo, gerando elementos e estilos de gestão, 
tanto formal quanto informais que devem ser observados e levados em consideração.
Um bom exemplo disso, percebi quando trabalhei como assistente social na 
área de Recursos Humanos em uma empresa multinacional alemã de autopeças. 
Era uma estrutura de fábrica gigantesca, com mais de 2.000 funcionários e em 
uma formatação clássica, olhando de maneira formal. Mas havia um fenômeno 
informal chamado “radio pião” que em si seria entendido como “fofoca” ,que 
gerava muitos falatório. Mas também mexia com o comportamento dos funcio-
nários, principalmente se a rádio pião sinalizava cortes e desemprego, isso gerava 
um clima muito ruim. Isso é, mesmo sendo informal essa estrutura de comuni-
cação influenciava o comportamento humano dentro da organização.
CONTEXTO, ORGANIZAÇÕES E PESSOAS: ELEMENTOS QUE INTERFEREM NO PROCESSO
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Em outros termos, é preciso que no processo de gestão social, se analise essa 
configuração, organização, pois ela pode determinar a qualidade desse processo, 
pois: “[...] uma estrutura eficaz requer a criação de uma nova configuração, uma 
combinação original, embora consistente, dos parâmetros de design e dos fato-
res situacionais” (MINTZBER, 2012, p. 327). 
Para ilustrar essa perspectiva, ao final desse livro, Mintzber (2012) relata o 
momento muito interessante da mudança não só de nome, mas também de missão 
e de configuração de uma organização antiga. A presidente estava se encaminhando 
para o último ato antes de sua aposentadoria. Então, ocorreu um acidente quando 
se dirigia para uma cerimônia da pedra fundamental de uma fábrica que seria a 
maior na área da produção de cerâmica. Ela tropeçou em uma pá e caiu em uma 
poça de lama, sujando o seu vestido. Nesse momento, houve um misto de indig-
nação e de nostalgia, pois ao cair na lama, teve um contato direto com a terra, 
que a fez lembrar-se de seus primeiros passos rumo ao que se tornou uma grande 
empresa. Percebeu e confirmou que o mais importante do que ganhar dinheiro 
com vasos, é fazer vasos funcionais, úteis e importantes para a vida das pessoas. 
Como último ato, mudou o nome da empresa, passando a se chamar de Vasos da 
Terra, o que deu nova configuração, sentido e significado à empresa e aos seus 
funcionários, alterando, assim, os seus planos, programas, projetos e serviços. 
Se isso ocorre em empresas privadas, o que se pode dizer de organizações 
públicas e da sociedade civil? Será diferente? Claro que não! E muito ao contrário, 
as organizações públicas e da sociedade civil são geridas e envolvidas por valores 
que são muito mais subjetivos e que tornam sua gestão ainda mais complexas e, 
consequentemente, ainda mais desafiador o fazer na gestão de programas e projetos.
Como um discurso ideológico pode sustentar uma prática concreta que 
requer a elaboração de planos, programas, projetos e serviços sociais que 
colocados em prática produzem efeitos efetivos? Como manter a coerência 
e a relação entre teoria e prática?
Considerações Finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aluno(a), chegamos ao final dessa primeira unidade. Procurei mostrar a impor-
tância de darmos atenção a alguns fatores e elementos que, muitas vezes, não 
são destacados na literatura especializada, de forma geral e no Serviço Social 
de forma específica. Mostrei isso por meio de três configurações: a) contexto, 
b) pessoas e c) organizações. Esses elementos e configurações são relacionados 
ao bom pensar, ter um paradigma mais adequado, no caso, apontamos como 
predominantemente hoje na área de gestão, opensamento sistêmico e pragmá-
tico crítico. Chamei a atenção para o fato de que no Serviço Social é preciso, dar 
a atenção a essas três configurações para realizar um processo de intervenção 
profissional mais eficaz, principalmente considerados os desafios do trabalho 
intersetorial e interdisciplinar. 
Isso requer; dos profissionais, mais do que discursos bem intencionados de 
revolução. Pois, não basta ler criticamente a sociedade e dizer que tem que trans-
formá-la, mas é preciso saber como fazer isso. É esse o maior desafio da atualidade 
para o Serviço Social, dar visibilidade, materialidade e, sobretudo, resultados 
congruentes com o falar e o fazer. O que me faz lembrar uma verdade dita a 
quase 100 anos por Mary Richmond (apud SILVA, 2004, p. 105) que afirma que 
assim como o escritor é um artífice em sua profissão, assim também o assistente 
social deve ser em sua área de atuação, ou seja, “um artífice das relações sociais”. 
Com isso, ouso afirmar, e espero que você concorde comigo, que o assis-
tente social no século XXI é um profissional artífice do design social, em que, 
junto com os nossos usuários e clientes, encontramos os recursos e estratégias 
para superar a pobreza, desigualdade e injustiças de nosso tempo. Vamos abrir 
as mentes e corações para realizar um ótimo trabalho no campo da gestão social.
40 
1. Dos eixos de contextualização que apresentamos e que interferem no pensar e 
agir na área de gestão social, qual que lhe chamou mais atenção? Explique essa 
escolha.
2. Conceitue, com suas palavras, o que seria o paradigma-sistêmico-crítico?
3. Por que uma ideológica revolucionária tem problemas de materialização de 
ações concretas na intervenção social por meio do Serviço Social?
4. Das três configurações apresentadas, qual, na sua opinião, mais interfere na ela-
boração e gestão de programas, projetos e serviços sociais?
5. Na sua opinião, considerando o que foi apresentado nessa primeira unidade, 
qual a importância da habilidade e competência de gestão de projetos sociais 
para o assistente social na atualidade? 
41 
RESENHA: AS FONTES DO SELF, DE CHARLES TAYLOR 
O filósofo canadense Charles Taylor, autor do excelente Hegel-Sistema, Método e Estru-
tura, procurou analisar, em sua obra As Fontes do Self, a evolução da consciência de si no 
mundo ocidental desde suas origens gregas até o mundo moderno. Taylor procura ser 
bastante honesto com o leitor desde o início, portanto, não esconde suas preferências 
pessoais durante todo o livro. Começando com Homero, esse o representante clássico 
da ética do guerreiro que busca a glória nesse mundo em incontáveis batalhas, Taylor 
crê que essa mentalidade, que não consegue estabelecer qualquer conceito de um bem 
maior do espírito, nunca deixou de existir no Ocidente. Basta lembrarmo-nos da cava-
laria medieval e da prática dos duelos. Com Platão, surge uma filosofia que situa o Bem 
fora desse mundo, pois Platão cria o conceito do hiperbem. Platão associa esse Bem 
à imagem do Sol (o Filho que se mostra na narrativa platônica), situada no alto e que 
ilumina a todos os seres humanos. Para ele, a felicidade não era possível nesse mundo, 
nem mesmo por meio da prática da virtude, o que é uma opinião bem diferente de vá-
rios outros filósofos ao longo da história. Platão, de certa maneira, cria a vida interior na 
alma do homem, situando o Bem em um mundo imaterial, o qual pode ser alcançado 
pelo autocontrole e pela criação dentro do homem do “Estado interior”, desconfiando 
sempre de qualquer apoio do mundo material para alcançarmos essa meta.
Aristóteles, como sempre, vai tentar desfazer de mais um alto pensamento de Platão, 
pois, para ele, a noção do hiperbem não é válida. Aristóteles desconfiava desse ascetis-
mo platônico e tentou criar uma concepção de Bem que abrigasse a comida, a bebida, o 
sexo etc., diz Taylor. De certa forma, Aristóteles vai negar qualquer tentativa de um filó-
sofo platônico e do monge cristão de elevar-se acima do mundo a nossa volta. Séculos 
mais tarde isso vai ser incorporado ao protestantismo.
O platonismo, contudo, irá gerar um belíssimo fruto que é a filosofia de Santo Agostinho, 
que é muito elogiado por Taylor, e com muita justiça. Agostinho aceita a ideia platônica 
do hiperbem, mas a associa a Deus. Agostinho, segundo Taylor, também absorve e en-
sina a existência das Ideias arquetípicas. Todas as coisas do mundo são expressões do 
pensamento divino. Por meio de sua obra Confissões, Agostinho coloca, pela primeira 
vez em um livro, toda uma experiência de vida, que irá servir de modelo para os euro-
peus por vários séculos, desde Montaigne até Rousseau.
Passando pela Idade Média e chegando à Filosofia Moderna, Taylor é bastante duro com 
John Locke e seu liberalismo (Taylor é um crítico famoso do pensamento liberal). Ele 
acusa Locke de atomizar a sociedade e ignorar qualquer tentativa do ser humano de si-
tuar a mente em algum Bem extramundano. Filósofos modernos que seguem a linha de 
pensamento liberal também são criticados, como John Rawls, isso porque o liberalismo, 
segundo Taylor, evita sair da linha de pensamento que define o bem como algo localiza-
do e individualizado, pois para os liberais o bem tende a ser muito relativo. É o famoso o 
que é bom para você não é bom para mim.
42 
Taylor escreve que o pensamento liberal é claramente fruto do nominalismo de Ockham. 
Não só o liberalismo mas também o protestantismo. O nominalismo destruiu o universal 
e atomizou a sociedade e a ciência, produzindo muitos dos seus efeitos durante séculos, 
mesmo nos dias de hoje. Nenhum Bem situado acima deste mundo, juntamente com 
seres isolados e buscando por conta própria sua felicidade produziu um ressurgimento 
do aristotelismo dentro da religião calvinista, afirma Taylor. Calvino (e os protestantes), 
criando a conceito de vocação, valorizaram as atividades diárias do ser humano, mas 
isso ao custo altíssimo de negar qualquer tentativa do homem transcender o mundo 
através do isolamento e das práticas ascéticas, como era na Antiguidade e no mundo 
Medieval. O resultado foi talvez nem tanto uma elevação das atividades manuais, mas 
sim um notável rebaixamento do Filósofo e do monge.
Como afirmei, Taylor é um defensor da concepção platônica do hiperbem. O mundo 
moderno tende a ver a natureza como uma fonte de amoralidade, como o próprio Taylor 
demonstra na parte final. Isso não é surpreendente, pois como afirma Bertrand Russell, 
a partir desse mundo não podemos ter qualquer ideia dos bens eternos e da verdadeira 
fonte moral. Sim, o mundo foi criado por um ato de bondade divina, mas isso não quer 
dizer que devemos ter uma visão de “sapo”, olhando apenas para baixo como quiseram 
muitos ao longo da história. É preciso olhar para a origem da bondade da Criação, e isso 
quer dizer olhar para o alto. As Ideias platônicas continuam sendo a fonte que ilumina o 
pensamento humano há mais de 2300 anos.
Fonte: Pinta e Felipe (2015, on-line)1.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Serviço Social e Sustentabilidade Humana: o 
empreendedorismo social como estratégia de efetivação de 
Direitos. 
Edson Marques Oliveira
Editora: Appris
Ano: 2013
Sinopse: este livro apresenta uma visão diferenciada do Serviço Social 
como disciplina cientifi ca e profi ssional no contexto da sociedade do 
conhecimento e da informação. Tendo o empreendedorismo social e o 
conceito de sustentabilidade humana como escopo teórico-metodológico 
estratégico na dinâmica de efetivação de direitos já conquistados e de 
busca de novos direitos.
Um Plano Brilhante
Ano: 2008
Sinopse: um fi lme de 2008, com duas grandes feras do cinema norte-americano. 
Michael Caine e Demi Moore. Ela, fazendo o papel de uma executiva de uma 
grande empresa global, na cidade de Londres, Inglaterra na década de 30 do 
século XX, sofre a discriminação de ser mulher em um mundo corporativo 
machista e vê as oportunidades de promoção ser roubadas vez após vez apenas 
por causa de sua condição feminina e consequente

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