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Sistema Metabólico – Fígado A função hepática é complexa, e a ocorrência de disfunção hepática afeta todos os sistemas orgânicos. Por esse motivo, a enfermeira deve compreender como o fígado funciona e deve ter habilidades especializadas na avaliação clínica e no manejo de clientes submetidos a procedimentos diagnósticos e terapêuticos complexos. A enfermeira também precisa compreender os avanços tecnológicos no manejo dos distúrbios hepáticos. Os distúrbios hepáticos são comuns e podem resultar de vírus, obesidade e resistência à insulina, ou de exposição a substâncias tóxicas (p. ex., álcool etílico) ou de tumores. O fígado – a maior glândula do corpo – pode ser considerado como uma fábrica química, que produz, armazena, metaboliza e excreta um grande número de substâncias envolvidas no metabolismo. A localização do fígado é essencial, visto que ele recebe sangue rico em nutrientes diretamente do trato gastrintestinal (GI) e, em seguida, armazena ou transforma esses nutrientes em substâncias químicas, que são utilizadas em outras partes do corpo para suprir as necessidades metabólicas. O fígado é particularmente importante na regulação do metabolismo da glicose e das proteínas; ele produz e secreta a bile, que desempenha uma importante função na digestão e na absorção das gorduras no trato GI. Além disso, o fígado remove os produtos de degradação da corrente sanguínea e os secreta na bile. A bile produzida pelo fígado é armazenada temporariamente na vesícula biliar, até que seja necessária para a digestão, quando a vesícula biliar se esvazia e a bile entra no intestino. Anatomia O fígado é um grande órgão altamente vascularizado, que se localiza atrás das costelas, na parte superior direita da cavidade abdominal. Pesa entre 1.200 e 1.500 g no adulto de constituição média e é dividido em quatro lobos. Cada lobo é circundado por uma camada fina de tecido conjuntivo, que se estende para dentro do próprio lobo e que divide a massa hepática em pequenas unidades funcionais, denominadas lóbulos. A circulação do sangue para dentro e para fora do fígado é de extrema importância para a função hepática. O sangue que perfunde o fígado provém de duas fontes. Aproximadamente 80% do suprimento sanguíneo provém da veia porta, que drena o trato GI; trata-se de um sangue rico em nutrientes, mas que carece de oxigênio. O suprimento sanguíneo remanescente entra pela artéria hepática e é rico em oxigênio. Os ramos terminais desses dois vasos sanguíneos unem-se para formar leitos capilares comuns, que constituem os sinusoides do fígado. Por conseguinte, as células hepáticas (hepatócitos) são banhadas por uma mistura de sangue venoso e arterial. Os sinusoides desembocam em vênulas, as quais ocupam o centro de cada lóbulo hepático e são denominadas veias centrais. Estas se unem para formar a veia hepática, que constitui a drenagem venosa do fígado e desemboca na veia cava inferior, próximo ao diafragma (Hall, 2011). Além dos hepatócitos, o fígado apresenta células fagocíticas, que pertencem ao sistema reticuloendotelial. Outros órgãos que contêm células reticuloendoteliais são o baço, a medula óssea, os linfonodos e os pulmões. No fígado, essas células são denominadas células de Kupffer. Como fagócito mais comum do corpo humano, sua principal função consiste em ingerir materiais particulados (p. ex., bactérias) que entram no fígado através do sangue portal. Os ductos biliares menores, denominados canalículos, localizam-se entre os lóbulos do fígado. Os canalículos recebem secreções dos hepatócitos e as transportam até os ductos biliares maiores, que finalmente formam o ducto hepático. O ducto hepático do fígado e o ducto cístico da vesícula biliar unem-se para formar o ducto colédoco, que desemboca no intestino delgado. O esfíncter de Oddi (localizado na junção em que o ducto colédoco entra no duodeno) controla o fluxo da bile para dentro do intestino. Funções do fígado Metabolismo da glicose O fígado desempenha uma importante função no metabolismo da glicose e na regulação da concentração da glicose no sangue. Depois de uma refeição, a glicose é captada do sangue venoso portal pelo fígado e convertida em glicogênio, que é armazenado nos hepatócitos. Subsequentemente, o glicogênio é convertido de volta em glicose (glicogenólise), que é liberada, quando necessário, na corrente sanguínea para manter os níveis normais de glicemia. No entanto, esse processo fornece uma quantidade limitada de glicose. Uma quantidade adicional de glicose pode ser sintetizada pelo fígado por meio de um processo denominado gliconeogênese; para isso, o fígado utiliza os aminoácidos da degradação de proteínas ou o lactato produzido pelos músculos em atividade. Esse processo ocorre em resposta à hipoglicemia (Hall, 2011). Conversão da amônia O uso de aminoácidos das proteínas para a gliconeogênese resulta na formação de amônia como subproduto. O fígado converte essa amônia metabolicamente produzida em ureia. A amônia produzida pelas bactérias no intestino também é removida do sangue portal para a síntese de ureia. Dessa maneira, o fígado converte a amônia, uma toxina potencial, em ureia, um composto que é excretado na urina (Hall, 2011; Porth & Matfin, 2009). Metabolismo das proteínas O fígado também desempenha uma importante função no metabolismo das proteínas. Ele sintetiza quase todas as proteínas plasmáticas (exceto a gamaglobulina), incluindo a albumina, as alfaglobulinas e as betaglobulinas, os fatores da coagulação sanguínea, as proteínas de transporte específicas e a maioria das lipoproteínas plasmáticas. A vitamina K é necessária para o fígado na síntese de protrombina e de alguns outros fatores da coagulação. Os aminoácidos são utilizados pelo fígado para síntese de proteína (Hall, 2011; Porth & Matfin, 2009). Metabolismo dos lipídios O fígado também é ativo no metabolismo dos lipídios. Os ácidos graxos podem ser clivados para a produção de energia e corpos cetônicos (ácido acetoacético, ácido betahidroxibutírico= e acetona). Os corpos cetônicos são pequenos compostos que podem penetrar na corrente sanguínea e que proporcionam uma fonte de energia para os músculos e outros tecidos. A decomposição dos ácidos graxos em corpos cetônicos ocorre principalmente quando a disponibilidade de glicose para o metabolismo é limitada, como na inanição ou no diabetes melito descontrolado. Os ácidos graxos e seus produtos metabólicos também são usados para a síntese de colesterol, lecitina, lipoproteínas e outros lipídios complexos (Hall, 2011; Porth & Matfin, 2009). Armazenamento de vitaminas e ferro As vitaminas A, B e D e várias vitaminas do complexo B são armazenadas em grandes quantidades no fígado; assim como ocorre com determinadas substâncias, como o ferro e o cobre. Como o fígado é rico em tais substâncias, extratos hepáticos têm sido utilizados, há mais de um século, na terapia de uma ampla variedade de distúrbios nutricionais. Contudo, é preciso ter cautela quanto ao uso de qualquer extrato de órgãos animais, devido ao possível risco de exposição a microrganismos patogênicos. Formação da bile A bile é continuamente formada pelos hepatócitos e coletada nos canalículos e ductos biliares. É composta principalmente de água e eletrólitos (p. ex., sódio, potássio, cálcio, cloreto e bicarbonato), e também contém quantidades significativas de lecitina, ácidos graxos, colesterol, bilirrubina e sais biliares. A bile é coletada e armazenada na vesícula biliar e esvaziada no intestino quando necessária para o processo da digestão. As funções da bile são excretoras, como na excreção de bilirrubina; além disso, atua como auxiliar na digestão por meio da emulsificação das gorduras pelos sais biliares. Os sais biliares são sintetizados pelos hepatócitos a partir do colesterol; após a sua conjugação ou ligação a aminoácidos (taurinae glicina), eles são excretados na bile. Juntamente com o colesterol e a lecitina, os sais biliares são utilizados para a emulsificação das gorduras no intestino, que é necessária para a digestão e a absorção eficientes. Em seguida, os sais biliares são reabsorvidos, principalmente no íleo distal, para dentro do sangue portal, retornando ao fígado para serem novamente excretados na bile. Essa via dos hepatócitos para a bile, o intestino e de volta aos hepatócitos é denominada circulação êntero-hepática. Devido à circulação êntero-hepática, apenas uma pequena fração dos sais biliares que entram no intestino é excretada nas fezes. Isso diminui a necessidade de síntese ativa de sais biliares pelas células hepáticas (Hall, 2011; Porth & Matfin, 2009). Excreção da bilirrubina A bilirrubina é um pigmento derivado da decomposição da hemoglobina pelas células do sistema reticuloendotelial, incluindo as células de Kupffer do fígado. Os hepatócitos removem a bilirrubina do sangue e a modificam quimicamente por meio de sua conjugação com ácido glicurônico, o que torna a bilirrubina mais solúvel em soluções aquosas. A bilirrubina conjugada é secretada pelos hepatócitos nos canalículos biliares adjacentes e é, finalmente, transportada na bile para o duodeno. No intestino delgado, a bilirrubina é convertida em urobilinogênio, que é parcialmente excretado nas fezes e parcialmente absorvido através da mucosa intestinal para o sangue portal. Grande parte desse urobilinogênio reabsorvido é removida pelos hepatócitos e secretada mais uma vez na bile (circulação ênterohepática). Parte do urobilinogênio penetra na circulação sistêmica e é excretada na urina pelos rins. A eliminação da bilirrubina na bile representa a principal via de sua excreção. Metabolismo dos medicamentos O fígado metaboliza muitos medicamentos, tais como barbitúricos, opioides, sedativos, anestésicos e anfetaminas (Karch, 2012). Em geral, o metabolismo resulta em inativação do medicamento, embora também possa ocorrer ativação. Uma das vias importantes para o metabolismo dos medicamentos envolve a conjugação (ligação) do medicamento com uma variedade de compostos, como o ácido glicurônico ou o ácido acético, formando substâncias mais solúveis. Essas substâncias podem ser então excretadas nas fezes ou na urina, de modo semelhante à excreção da bilirrubina. A biodisponibilidade refere-se à fração do medicamento administrado que alcança efetivamente a circulação sistêmica. A biodisponibilidade de um medicamento oral (absorvido pelo trato GI) pode ser diminuída se o medicamento for metabolizado, em grande parte, pelo fígado antes de alcançar a circulação sistêmica; esse processo é conhecido como efeito de primeira passagem. Alguns medicamentos apresentam um efeito de primeira passagem tão grande, que o seu uso fica essencialmente limitado à via parenteral, ou as doses orais precisam ser substancialmente maiores que as doses parenterais para obter o mesmo efeito.
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