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Problemas Éticos Contemporâneos na Bioética

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FILOSOFIA 
CONTEMPORÂNEA
Mayara Joice Dionizio
Moralidade e 
problemas éticos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer os problemas éticos contemporâneos.
  Analisar o significado da bioética.
  Relacionar diferentes perspectivas sobre o aborto e a eutanásia.
Introdução
A bioética é uma área recente. Surgida no século XX, ela trata de casos 
médicos, biológicos e científicos que envolvem questões morais relativas 
à vida humana, animal e vegetal. Desde o início do século passado, os 
avanços científicos e tecnológicos fazem com que transplantes de órgãos, 
transfusões de sangue e abortos, por exemplo, integrem a pauta de 
discussões acirradas. Entretanto, a bioética não é um sistema fechado 
que propõe uma solução final a todas as problematizações. Ela é um 
estudo que se atualiza com o surgimento de casos novos.
Neste capítulo, você vai conhecer os problemas éticos da contem-
poraneidade. Assim, vai ver de que forma questões morais e sociais se 
ligam à tecnologia, à medicina e à ciência. Você também vai verificar 
como o conceito de bioética é importante na relação entre profissionais 
da saúde e pacientes, tanto em procedimentos médicos quanto em 
pesquisas científicas. Por fim, vai avaliar as perspectivas relacionadas ao 
aborto e à eutanásia.
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Problemas éticos contemporâneos
Muito se fala atualmente sobre ética e moral. Hoje, com o desenvolvimento 
tecnológico e a globalização da economia, dos costumes e dos modos de agir, 
a discussão ética está sempre presente, ainda que implicitamente. Por isso, 
você deve conhecer melhor esse debate para identifi car alguns problemas 
éticos importantes que permeiam a sua vida.
A palavra “ética” vem do grego éthos, que se refere ao modo de ser, a um 
hábito ou costume. Já o termo “moral” deriva etimologicamente da palavra 
mos, moris, que frequentemente designa costume e é a tradução latina de éthos. 
Assim, em sua origem, ambas as palavras eram sinônimos. Porém, desde o 
surgimento dos termos até os dias atuais, já se passaram mais de 2 mil anos. 
Assim, foi adotada uma distinção entre ambas as palavras.
A maioria dos pesquisadores do tema concorda que a moral é o conjunto de 
regras, valores e princípios que norteiam as ações das pessoas em uma sociedade 
(MÖLLER, 2005). Ela provém do costume, das tradições e da cultura de uma 
sociedade. A ética, por sua vez, designa o próprio estudo dos preceitos morais, de 
seus fundamentos e princípios; é a disciplina filosófica, o estudo racional e crítico. 
Considere este exemplo prático: a segregação social definida pela hereditariedade 
é considerada moral em uma sociedade de castas, a exemplo da sociedade hindu 
ou da divisão entre nobres e servos durante a Idade Média na Europa. Contudo, 
na sociedade ocidental contemporânea, essa segregação é totalmente repudiada. 
A discussão sobre a justiça dessa norma é tema da ética.
Por isso, ao investigar a correção das condutas, a demarcação entre certo e 
errado e bem e mal no campo filosófico, você está frente a uma investigação 
ética (MÖLLER, 2005). Muitas questões éticas gerais — por exemplo, o que 
define uma ação boa, ou o que é o bem — permeiam toda a história da filoso-
fia. Porém, muitas outras questões éticas têm origem na contemporaneidade 
e decorrem do próprio processo histórico, ou seja, surgem a partir de novas 
relações sociais, reivindicações de grupos sociais específicos. Além disso, 
podem surgir a partir de fenômenos como guerras e desenvolvimento de 
novas tecnologias, entre outros. Dessa maneira, a complexidade das relações 
humanas e das relações do homem com a natureza ocasiona novos problemas 
éticos. A seguir, você pode ver alguns exemplos.
Como você sabe, o século XX foi marcado pela ascensão de movimentos 
antirracistas. É o caso da luta contra o Apartheid, que promovia a segregação 
racial na África do Sul e que teve Nelson Mandela como uma das suas principais 
figuras. Outro exemplo é o movimento pelos direitos civis dos afroamericanos 
nos Estados Unidos entre os anos 1950 e 1980. O movimento feminista, surgido 
Moralidade e problemas éticos2
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no século XIX, com fortalecimento no século XX, é outro importante exemplo 
de movimento social contemporâneo. Esses exemplos levantam questões éticas 
importantes relacionadas à igualdade entre etnias e gêneros, respectivamente.
A percepção da degradação da natureza pelos seres humanos também é um 
problema ético relevante e bastante presente na atualidade. O desenvolvimento 
industrial-tecnológico, o consumo desenfreado e o grande aumento da popula-
ção mundial tiveram consequências relevantes e bastante negativas na biosfera. 
Ocorrem, por exemplo, a poluição dos oceanos, a redução da vida marinha, 
a extinção de espécies, o desmatamento de florestas, a poluição dos grandes 
centros urbanos, o aquecimento global, entre várias outras consequências. Por 
isso, atualmente, ao se discutir a responsabilidade dos seres humanos sobre a 
biosfera ou a responsabilidade ambiental de empresas, ingressa-se no campo 
da ética, na medida em que estão envolvidos assuntos como a responsabiliza-
ção, as correções de práticas, etc. Ainda nesse campo, você pode considerar 
a atual discussão sobre o direito dos animais, que, inclusive, endossa práticas 
alimentares como o vegetarianismo e o veganismo.
Os refugiados de guerras ou mesmo imigrantes em busca de melhores condições de 
vida apontam para outros problemas éticos. A responsabilidade da comunidade global 
sobre refugiados e imigrantes e o problema da xenofobia, a aversão a estrangeiros, 
são temas éticos.
Você também deve considerar os avanços médicos e científicos do século 
XX, que são diversos, como a descoberta dos antibióticos, novas técnicas no 
tratamento do câncer, decodificação do DNA humano, entre outros. Esses 
avanços são frutos de intensa pesquisa e de experimentos científicos. Atual-
mente, há grande preocupação ética com experimentos, principalmente aqueles 
que necessitam de testes nos seres humanos.
Um grande marco da experimentação em seres humanos foi o código de 
Nuremberg, que surgiu após a Segunda Guerra Mundial e decorre dos processos 
de guerra de Nuremberg, quando foram expostos os experimentos nazistas nos 
campos de concentração. O código de Nuremberg elenca diversos princípios, 
como a necessidade de consentimento voluntário daquele que se submete 
ao teste, a necessidade de o experimento efetivamente produzir resultados 
3Moralidade e problemas éticos
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vantajosos à sociedade, entre outros. Tais princípios são incorporados pelos 
códigos de ética médica de diversos países (MÖLLER, 2005).
A seleção artificial que os seres humanos promovem sobre a natureza é 
bastante antiga. As espécies de cães, bois, galos e galinhas decorrem de uma 
seleção promovida pela humanidade ao longo dos séculos. Também ocorre 
seleção e cruzamento de plantas com objetivos diversos, como melhor adaptação 
a determinado tipo de solo ou ambiente, maior produção de frutos, etc. Porém, 
com o sequenciamento genético, a manipulação das espécies assume outro nível, 
no qual as alterações das espécies podem ser muito mais profundas. O problema 
torna-se ainda maior quando se considera a alteração genética em relação a seres 
humanos. Diversos genes relacionados a doenças hereditárias específicas já 
foram identificados. Assim, em uma inseminação artificial, é possível selecionar 
embriões que, por exemplo, não portam o gene de determinada doença.
A partir dos experimentos já realizados em genes de plantas e animais, se 
sabe que é perfeitamente possível a manipulação genética de seres humanos. 
Mas você acha que há limites para esse tipo de procedimento? E quais são as 
consequências dessas manipulações para a espécie, ou as suas consequências 
sociais? Esses são alguns dos grandes dilemaséticos atuais. De início, você 
pode considerar que não se sabem as consequências que uma manipulação 
genética causa a longo prazo. É possível pensar em uma alteração profunda 
da espécie e até mesmo na evolução de outra espécie, ou ainda no desenvol-
vimento de novas doenças em razão da alteração genética. Sob um aspecto 
social, pode-se supor uma casta de “super-humanos”, mais inteligentes, fortes 
e longevos do que os demais. Essa casta poderia se resumir àqueles capazes de 
pagar por melhoramentos, aprofundando ainda mais as desigualdades sociais.
As questões relacionadas à ética na pesquisa médica, à responsabilidade 
dos cientistas e aos limites das pesquisas fazem parte da bioética e dominam 
boa parte das discussões éticas atuais (MÖLLER, 2005). Como você viu até 
aqui, o questionamento ético esteve e está presente na história da humani-
dade. Além disso, por uma ampla gama de fatores, constantemente surgem 
novos problemas éticos e antigos dilemas se rearranjam de outras formas, em 
constante mudança e problematização sobre a vida.
O conceito de bioética
O termo “bioética” é a junção das palavras gregas bio (vida) e éthos (ética). 
Ou seja, esse termo designa uma ética aplicada à vida. Tal estudo pertence a 
correntes teóricas divergentes: biologia, direito, fi losofi a, entre outras. Nesse 
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contexto, a bioética se concentra em buscar um tratamento respeitável à vida 
humana, mesmo em questões que não são unanimidade. O termo “bioética” 
foi utilizado pela primeira vez em 1927 por um protestante alemão, Fritz Jahr, 
em um artigo em que se referia à bioética relacionada à vida animal e vegetal. 
Posteriormente, em 1971, Van Rensselaer Potter escreveu uma proposta a que 
deu o nome de “bioética”. Tal proposta tratava da junção do estudo da biologia 
e suas extensões com os valores morais.
Dessa forma, a bioética surge também a partir do desenvolvimento técnico 
e científico dos últimos cem anos (CHANGEUX, 1997). Ou seja, dadas as 
mudanças em relação às soluções e alternativas sobre questões médicas, am-
bientais e morais, se fez necessário um estudo que atendesse reflexivamente a 
essas problemáticas. A partir do início do século XX, devido a experimentos 
médicos que aconteciam em humanos, surgiu uma regulamentação ética da 
medicina e das pesquisas científicas. Nesse contexto, ainda não existia um 
código que regulasse a conduta médica-científica. Assim, os pacientes muitas 
vezes passavam por experimentos sem mesmo saber.
Foi o que aconteceu, por exemplo, no processo de investigação sobre o 
parto cesariano. Apesar de a cesariana ser um processo cirúrgico datado da 
Antiguidade, em que o feto era retirado por meio de um corte após a morte 
da mãe, foi na virada do século XIX para o século XX que o procedimento 
conseguiu êxito medicinal, ou seja, que foi possível preservar a mãe e o bebê. 
Entretanto, até ter êxito, os médicos faziam experimentos nas próprias ges-
tantes, que muitas vezes não sobreviviam, assim como os bebês. Na maioria 
das vezes, o parto envolvia risco, e por diversas vezes as mães nem sabiam 
que seriam submetidas a uma cirurgia.
Apesar de existir um primeiro código de ética prussiano, datado de 1900, em 
que se exigia que os pacientes fossem informados e consentissem em participar 
de experimentos e procedimentos médicos, muitos profissionais o ignoravam. 
Em 1931, após a morte de cerca de cem crianças na Alemanha pela aplicação 
de uma vacina-teste contra tuberculose sem o consentimento dos responsáveis, 
foram estabelecidas as Diretrizes para Novas Terapêuticas e Pesquisa em Seres 
Humanos. Entretanto, essas diretrizes passaram a ser ignoradas com a ascensão 
nazista. No governo nazista, eram feitas “pesquisas” em judeus e qualquer tipo de 
opositor capturado. Ocorriam procedimentos como a aplicação de tinta azul nos 
olhos de um judeu vivo a fim de verificar se era possível melhorar a raça alemã. 
Após a Segunda Guerra Mundial e a criação do código de Nuremberg, em 1949, 
ainda continuaram a surgir casos de abuso científico-medicinal em humanos.
Nos Estados Unidos, aconteceram alguns dos casos mais famosos da 
segunda metade do século XX, como o caso de Tuskegee Syphilis Study. 
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Nesse caso, cerca de 400 pessoas negras foram submetidas à infecção de 
sífilis sem garantia do medicamento de cura, a penicilina. Os pesquisados 
desejavam entender como o vírus funcionava, principalmente em pessoas 
negras. Posteriormente, em 1963, em Nova Iorque, cerca de 20 idosos já 
doentes desenvolveram cânceres devido à aplicação de injeções com células 
cancerígenas sem o consentimento deles ou de seus responsáveis. Outro caso 
famoso aconteceu em 1950, quando pesquisadores aplicaram injeções com o 
vírus da hepatite A em crianças residentes em uma instituição para doentes 
mentais, com a finalidade de pesquisar uma vacina contra a doença.
Para conhecer melhor o caso Tuskegee Syphilis Study, assista ao filme Cobaias, dirigido 
por Joseph Sargent.
Você deve ter em mente que a bioética se propõe pensar não só esses casos de 
abusos, mas também os avanços medicinais e científicos (CHANGEUX, 1997). 
Por exemplo, desde o século XX, vê-se o desenvolvimento da biomedicina e 
da tecnologia voltado a buscar soluções e curas para doenças consideradas 
incuráveis, assim como para melhorar a vida de pessoas que poderiam viver 
mais ou com melhor qualidade. É o caso de tecnologias como o transplante de 
órgãos e de sangue. Um dos embates que acontecem em torno de tal tecnologia 
no Brasil, por exemplo, é em relação a determinados segmentos religiosos que 
não permitem transfusão de sangue ou transplantes de órgãos.
O problema maior se dá quando se trata de um infante que precisa de 
transplante ou transfusão e a família não permite que o procedimento seja 
realizado. Nesses casos, é necessária intervenção jurídica. Outro caso co-
mum é a questão da eutanásia em pacientes terminais, ou que estão sendo 
mantidos por aparelhos sem previsão de melhora. Há ainda a questão do 
aborto, primeiramente relacionado a casos de estupros e de bebês acéfalos. 
Nesses casos, entra em jogo o direito das mulheres de decidir em relação 
ao próprio corpo, ou seja, de optar por levar uma gestação adiante ou não. 
Atualmente, os Conselhos Nacionais de Saúde seguem protocolos éticos e 
têm, em seus núcleos, grupos dedicados à discussão bioética dos casos que 
chegam aos hospitais.
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Diferentes perspectivas sobre o aborto 
e a eutanásia
Dois temas bastante relevantes e que são alvo de intensas discussões éticas referem-
-se aos dois extremos da vida: seu início e seu fi m (MÖLLER, 2007). Tratam-se do 
aborto e da eutanásia, que envolvem questões éticas relacionadas à própria vida.
A discussão sobre o aborto é extremamente complexa. Ela envolve fatores 
sociais, como o consentimento da gestante no ato sexual, condições sociais 
após o nascimento e fatores médico-biológicos, como a discussão sobre o início 
da vida e o risco de morte da gestante. Mesmo cientificamente, há diversas 
posições sobre o início da vida, como você pode ver a seguir.
  Concepção genética: a vida se inicia na concepção, ou seja, quando 
espermatozoide e óvulo se combinam. Nessa concepção, a fertilização 
in vitro, por geralmente descartar alguns embriões, e a utilização da 
chamada “pílula do dia seguinte”, que dificulta a fecundação ou impede a 
fixação do óvulo na parede uterina, são consideradas homicídio ou aborto. 
Como você sabe, muitos abortos ocorrem espontaneamente nessa fase.
  Concepção embriológica: a vida se inicia na terceira semana de gesta-
ção, pois até tal data não se pode estabelecer a individualidade humana, 
uma vez que o embrião é capaz de dar origem a mais de uma pessoa 
(gêmeos). Nessa concepção, os casos de fertilização ouuso da pílula 
do dia seguinte não são considerados aborto.
  Concepção neurológica: a vida se inicia com o início da atividade 
neurológica, pois, se você considerar que a morte é o fim da atividade 
neurológica, o seu início deve ser marcado por essa característica. Isso 
ocorreria após o terceiro mês de gestação, apesar de haver divergência 
quanto à data exata, por isso a interrupção da gestação antes dessa data 
não deveria ser criminalizada.
  Concepção ecológica: a vida se inicia quando o feto é capaz de sobreviver 
de forma independente fora do útero. Isso ocorre aproximadamente entre 
a 20ª e a 24ª semanas, quando ocorre o desenvolvimento dos pulmões.
Essas concepções sobre o início da vida demarcam também o que é aborto 
ou até quando é possível a interrupção da gravidez sem que se possa dizer 
que uma vida é eliminada. Porém, a questão do aborto é mais complexa do 
que apenas a definição do início da vida. Em defesa do aborto, argumenta-se 
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também o direito da mulher sobre seu próprio corpo, uma vez que o embrião 
é parte dele. Outro aspecto é a questão do consenso da gestante no ato sexual. 
Nesse sentido, há o direito social da mulher de praticar o aborto em casos de 
estupro, independentemente de o embrião ou feto ser considerado uma vida, 
levando em consideração o trauma da violência sexual e suas consequências. 
Outra possibilidade é a descriminalização do aborto em casos em que a gestação 
representa um risco para a vida da gestante (MÖLLER, 2007).
No Brasil, o aborto é descriminalizado em três casos: estupro, em caso 
de risco para a vida da gestante e em casos de anencefalia (fetos com subde-
senvolvimento do cérebro), uma vez que nesses casos os fetos que nascem 
vivos morrem logo após ou, no máximo, nas semanas ou meses seguintes. A 
justificativa da legislação nesses termos é a defesa do direito da mulher de 
proteger a própria vida (nos casos em que a gravidez representa um risco), a 
minimização do trauma de levar uma gestação adiante com a certeza de que 
o feto irá morrer (nos casos de anencefalia), ou ainda a tentativa de minimizar 
as consequências de um caso de estupro.
Como você pode notar, os preceitos que envolvem a discussão sobre o aborto 
não são nada consensuais. Para grupos que defendem que a vida se origina 
na concepção e que ela possui valor absoluto, qualquer tipo de interrupção ou 
forma de evitar o início da gravidez são injustificáveis. Por isso, mesmo as 
excludentes de ilicitude brasileiras seriam moralmente incorretas.
Nas hipóteses previstas no Brasil, defende-se uma relativização do valor 
da vida em prol da preservação da autonomia da liberdade reprodutiva, da 
busca de minimizar os efeitos físicos e psíquicos da violência sofrida e do 
direito de defesa da vida da gestante nos casos em que gestação represente 
um risco. Ou seja, busca-se a preservação dos direitos relacionados ao prin-
cípio da dignidade da pessoa humana previstos na Constituição Federal. Por 
outro lado, como crítica à legislação brasileira, é possível dizer que defende 
apenas um aspecto moralista, pois, ao permitir o aborto em caso de estupro, 
toma como cerne da questão o consentimento sexual. Dessa maneira, a maior 
preocupação não é com a vida, e sim com o fato de a mulher consentir ou não 
com a relação sexual.
Em defesa do aborto, argumenta-se que pouco se olha para a escolha 
feminina e a condição social da mãe após o nascimento da criança. Como 
você sabe, em muitas situações a mulher não possui condições financeiras 
ou sociais para criar um filho. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE) de 2015 apontam que, nos arranjos familiares com filhos, 
“mulheres sem cônjuge e com filho” somam 26,8% do total, enquanto “homens 
sem cônjuge e com filho” somam 3,6%. Isso mostra que, em caso de criação de 
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filhos por apenas um dos pais, as mulheres representam um número muito mais 
preponderante. Além disso, em muitos casos, a gravidez ocorre na adolescência 
(no Brasil, a relação sexual com adolescentes a partir dos 14 anos deixa de ser 
estupro presumido), o que tende a dificultar a formação escolar da mãe, tendo 
em vista os cuidados necessários e inerentes a um filho (VELASCO, 2017).
Outro tema de muita discussão na bioética é a eutanásia. Ela pode ser 
definida como o ato de provocar a morte de forma indolor a uma pessoa 
acometida por uma enfermidade incurável e/ou dolorosa. A eutanásia não se 
aplica apenas a casos de doentes terminais. Ela ocorre em casos de doenças 
debilitantes, doenças que causam grande sofrimento físico, paralisias, entre 
outros fatores que reduzem a capacidade de vida.
A eutanásia difere-se do suicídio assistido, que consiste no ato de fornecer meios 
para que a própria pessoa provoque sua morte. Ela também não é o mesmo que a 
ortotanásia, que consiste no ato de permitir a morte natural de um doente terminal, 
sem a interferência da ciência, muitas vezes buscando reduzir o sofrimento e eventuais 
dores que uma doença pode causar. A ideia é evitar o suporte artificial e despropor-
cional para a manutenção da vida de um enfermo em estágio terminal como forma 
de proporcionar uma morte digna a ele.
A eutanásia é necessariamente um ato de uma pessoa que causa a morte 
de outra. Ela é voluntária quando o próprio doente expressa a sua vontade de 
morrer. Pode também ocorrer de a pessoa incapaz de expressar seu sentimento 
ter feito isso quando possuía capacidade para tanto. Além disso, a eutanásia 
pode ocorrer mesmo quando o doente não tenha expressado seu desejo; nesse 
caso, trata-se de eutanásia involuntária.
Entre os principais argumentos pró-eutanásia, está o da autodeterminação 
de vida e morte. Segundo ele, as pessoas têm autodeterminação sobre a sua 
vida. Além disso, têm o direito de morrer quando desejarem. Assim, deve ser 
garantida a toda pessoa a assistência à morte se o pedido for feito de forma 
consciente e voluntária. Apesar de os críticos afirmarem que a decisão de uma 
pessoa em estágio terminal de uma doença ou submetida a forte sofrimento 
não é totalmente voluntária dado a esses fatos, argumenta-se que todas as 
decisões da vida são influenciadas por fatores sociais e psicológicos. Portanto, 
a escolha por morrer é mais uma dessas decisões.
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Outro importante argumento é acabar com o sofrimento prolongado, forne-
cendo uma morte indolor ou o mais indolor possível, ou seja, uma morte mais 
digna. A eutanásia é uma medida extrema que se destina aos casos em que o 
sofrimento e a dor não podem ser aliviados de outra forma. Nesse sentido, se 
defende que há maior dignidade na morte voluntária e consciente do que na 
espera por estágios avançados de enfermidade, que podem causar a perda da 
consciência ou a necessidade de sedação do doente.
Contra a eutanásia, argumenta-se que o ato de matar é moralmente errado 
praticamente em todas as sociedades, seja do ponto de vista cultural ou re-
ligioso. Por isso, a eutanásia, por ser o ato de causar a morte a outra pessoa, 
ou mesmo de auxiliá-la a morrer, é um ato moralmente condenável. Nesse 
sentido, afirma-se também a impossibilidade dos médicos de realizá-la, por ser 
contrária à ética médica. Esse argumento baseia-se no juramento de Hipócrates, 
considerado o pai da medicina ocidental. Ele defende que o papel do médico 
é tratar o paciente, preservar sua vida, não promover seu fim.
Outro argumento contrário à eutanásia é o risco potencial de abuso. Nesse 
sentido, a eutanásia poderia ser utilizada de forma indiscriminada, inclusive 
em casos não justificáveis. Alega-se o risco de ocorrer manipulação ou forte 
influência direta, por exemplo, de médicos, instituições e familiares (movi-
dos por interesses egoístas, econômicos e outros) sobre enfermos para que 
solicitem aeutanásia ou o suicídio assistido. Afirma-se que o risco é ainda 
maior porque as vítimas pertencem a grupos vulneráveis, como o de doentes 
crônicos, sujeitos a grandes sofrimentos, idosos e doentes terminais.
A eutanásia é uma prática legal na Holanda, na Bélgica, em Luxemburgo 
e na Colômbia, sujeita a regulamentação própria em cada um dos países. No 
Brasil, tanto a eutanásia como o suicídio assistido são crimes tipificados no 
Código Penal respectivamente como homicídio e auxílio ao suicídio.
Como você viu, o aborto e a eutanásia são assuntos complexos e envolvem um debate 
multidisciplinar. A adoção de qualquer posição exige um debate crítico e profundo 
com os argumentos e fatos envolvidos em cada uma das discussões.
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BARRETTO, V. P. As relações da bioética com o biodireito. In: BARBOZA, H. H.; BARRETTO, 
V. P. (Org.). Temas de biodireito e bioética. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. 
CHANGEUX, J.-P. Introduction: le débat éthique dans une société pluraliste. In: CHAN-
GEUX, J.-P. (Coord.). Comité Consultatif National d’Éthique Pour les Sciences de la Vie et de 
la Santé: une même éthique pour tous? Paris: Odile Jacob, 1997.
MÖLLER, L. L. Bioética e direito: limites éticos e jurídicos à ciência. Revista do Direito, 
Santa Cruz do Sul, n. 23, p. 71-87, jan./jun. 2005. 
MÖLLER, L. L. Direito à morte com dignidade e autonomia: o direito à morte de pacientes 
terminais e os princípios da dignidade e autonomia da vontade. Curitiba: Juruá, 2007.
VELASCO, C. Em 10 anos, Brasil ganha mais de 1 milhão de famílias formadas por mães 
solteiras. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/em-10-anos-
-brasil-ganha-mais-de-1-milhao-de-familias-formadas-por-maes-solteiras.ghtml>. 
Acesso em: 14 jan. 2019.
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