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ENSAIO SOBRE O POEMA QUEM SOU? DE LUIZ GAMA

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CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO
LITERATURA BRASILEIRA COLONIAL E ROMÂNTICA 
CURSO DE LETRAS - LÍNGUA PORTUGUESA
	
CARINA CARVALHO BARBOSA
Professora: Maria Cristina De Oliveira Prates
Vitória da Conquista-BA
2020
Ensaio sobre o poema “Quem sou eu?” de Luiz Gama
Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em Salvador em 21 de junho de 1832, o mesmo, foi um abolicionista, orador, jornalista, escritor brasileiro e o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil. Filho de um descendente português e de uma escrava liberta, foi vendido aos 10 anos como escravo pelo próprio pai, tendo sua alforria aos 17. Logo depois, o autor iniciou os estudos na área de Direito e usando letras da lei, começou a defender os escravos.
“Foi o maior advogado da história do Brasil, por conta de sua trajetória, de seu brilhantismo. Era um sujeito que demostrava capacidade e manejo da tecnicalidade do Direito que são impressionantes até hoje”, elogia o jurista Silvio Luiz de Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama e professor de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Luiz Gama tentou se tornar oficialmente advogado, mas por conta da sua condição social e étnica, foi desprezado pela Faculdade do Largo São Francisco. Tendo assim, a inciativa de aprender sozinho as ciências jurídicas. O mesmo, também se dedicou a literatura, escrevendo diversos poemas, os quais satirizava a aristocracia e os poderosos de seu tempo. Em 1859 publicou uma coletânea de versos satíricos, “Primeiras Trovas Burlescas de Getulino” ao qual se encontra o poema “Quem sou eu?” popularmente chamado de “Bodarrada”, sendo “bode” uma gíria direcionada a população negra, criada pela burguesia da época como uma forma de os ridicularizarem.
O poema ‘’Quem sou eu? ‘’ de Luiz Gonzaga Pinto da Gama retrata os defeitos e vícios de uma sociedade preconceituosa e corrupta. O autor tenta demostrar a diversidade social existente daquela época, enfatizando a igualdade entres as pessoas independentemente de sua classe social, sexo, religião ou cor, sendo este último bastante enfatizado por ele. Pois vivenciou na pele o sofrimento de ser um escravo, um negro.
Podemos ver nos versos abaixo como o autor direciona o termo pejorativo “bode” a todas as pessoas de classe média ou alta para demostrar que não existem diferenças entre o branco e o negro, o pobre e o rico, ou seja, todos nós somos “bodes”, não apenas os mulatos de pele escura. Luiz Gama tinha como objetivo criticar a hipocrisia da sociedade, sem poupar até mesmo as pessoas da igreja. Fazia questão de defender o que ele achava correto sem olhar a quem.
 (...) Se negro sou, ou sou bode
 Pouco importa. O que isto pode? Bodes há de toda a casta,
 Pois que a espécie é muito vasta. 
 Há cinzentos, há rajados, 
 Baios, pampas e malhados, 
 Bodes negros, bodes brancos, 
 E, sejamos todos francos, 
 Uns plebeus, e outros nobres, 
 Bodes ricos, bodes pobres, 
 Bodes sábios, importantes, 
 E também alguns tratantes... 
 Aqui, nesta boa terra marram todos, tudo berra; 
 Nobres Condes e Duquesas, 
 Ricas Damas e Marquesas, 
 Deputados, senadores, 
 Gentis-homens, veadores; 
 Belas Damas emproadas, 
 De nobreza empantufadas; 
 Repimpados principotes, 
 Orgulhosos fidalgotes,
 Frades, Bispos, Cardeais, 
 Fanfarrões imperiais, 
 Gentes pobres, nobres gentes 
 Em todos há meus parentes. (...)
O poema é composto por uma estrofe única com 138 versos de sete sílabas poéticas (redondilha maior). E fala de um eu-lírico que usa como referência o Século das Luzes, sendo este o iluminismo, movimento que se desenvolveu durante o século XVIII na Europa e que defendia a razão e o conhecimento. Para questionar a sociedade que agia de forma contraditória a esse movimento, o autor referencia o fato por exemplo da compra dos negros e comendas (benefícios concedidos antigamente a eclesiastas e a cavaleiros de ordem militares, sendo que a concessão era feita pelo Papa.) É possível ver esse viés satírico do autor de forma mais intensa nos versos:
 (...) Não tolero o magistrado, 
 Que do brio descuidado, 
 Vende a lei, trai a justiça 
 _Faz a todos injustiça_ 
 com rigor deprime o pobre, 
 Presta abrigo ao rico, nobre, 
 só acha horrendo crime 
 No mendigo que deprime(...)
Luiz Gama buscava denunciar o falso moralismo da sociedade através da sua poesia satírica, defendeu uma população que para muitos era tida como inexistente, que não pertencia ao meio social, que não era digna de compaixão e que de certa forma, eram tratadas como um animal. Suas poesias foram precursoras para o desenvolvimento da consciência negra, na qual lutava inteligentemente contra um contexto histórico que marginalizava o negro e sua cultura, e por isso é considerado um dos maiores representantes da literatura negra no Brasil, exaltando sua etnia, algo que muitos escondiam por medo, pelo julgamento, esse poeta exaltava corajosamente sua personalidade, sua cor. 
O poema “Quem sou eu?” responde às ofensas ridicularizadoras dos escravocratas, chamando os de bodes. E demostra algo que infelizmente ainda faz parte da nossa contemporaneidade. A igualdade nunca existiu e a cor da pele para muitos ainda é sinônimo de inferioridade. O racismo é praticado com frequência em nossa sociedade, em que pessoas negras são vítimas de violência física e psicológica diariamente. Luiz Gama fez da literatura uma forma para expressar suas angústias, lutas sonhos e sentimentos. 
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Allyne de Oliveira. WANDERLEY, Naelza. A sátira em Luiz Gama: uma leitura do poema “Quem sou eu?”. Revista A Cor das Letras. Feira de Santana. Dez. de 2019. Disponível em: <http://periodicos.uefs.br/index.php/acordasletras/article/viewFile/4768/pdf>. Acesso em: 19 de dez. de 2020.
GAMA, Luiz. Primeiras trovas burlescas e outros poemas. Edição preparada por Lígia Fonseca Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2000. (Coleção Poetas do Brasil) GOLDSYEIN, NORMA. Versos, Sons, Ritmos.10. ed. São Paulo: Ática, 1998 (Série Princípios).
NASCIMENTO, Rubens. A poesia libertária de Luiz gama. Brasil Escola. Disponível em: <https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/literatura/a-poesia-libertaria-luiz-gama.htm> Acesso em: 19 de dez. de 2020.
OLIVEIRA, Sílvio Roberto dos Santos. GAMACOPÉIA: FICÇÕES SOBRE O POETA LUIZ GAMA. Campinas, 10 de fevereiro de 2004. Tese (Doutorado em Teoria e História Literária) – Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP, p. 255. 2004.
VEIGA, Edison. Luiz Gama, o ex-escravo que ajudou a libertar outras centenas. DW Mande for minds. 20 de nov. de 2019. Disponível em:<https://www.dw.com/pt-br/luiz-gama-o-ex-escravo-que-ajudou-a-libertar-outras-centenas/a-51291687>. Acesso em: 19 de dez. de 2020.

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