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Universidade Veiga de Almeida Licenciatura em Letras: Habilitação Português e Inglês Polo Tijuca - EAD BEATRIZ DE ASSIS DE CARVALHO Literatura Brasileira Colonial e Romântica Entrega da Avaliação – Trabalho da Disciplina [AVA 2] RIO DE JANEIRO 2022 Luiz Gama nasceu em junho de 1830 em Salvador, na Bahia, era filho de uma mãe negra e um pai branco. Foi vendido como escravo pelo seu pai aos 10 anos de idade e permaneceu analfabeto até os 17 anos, quando um dos hóspedes de seu “senhor” o ensinou a ler. Após reconquistar sua liberdade, passou a atuar na advocacia em prol dos escravizados e é considerado o maior abolicionista do Brasil por libertar mais de 500 pessoas. Irreverente e inovador, Gama atraiu atenção por ter coragem de se expressar como negro em suas poesias, deixando clara a sua visão diferenciada em relação às causas do negro no Brasil e dando fim a hegemonia de discurso. Em 1859, foi publicado seu único livro de poesias “Primeiras Trovas Burlescas do Getulino” que reúne uma coletânea de poesias satíricas com a intenção de desconstruir a estrutura preconceituosa da sociedade. Neste livro está incluso o poema “Quem sou eu?”, também conhecido como “A bodarrada”, este que foi uma resposta crítica ao apelido que era dado aos negros naquela época, bode, que era usado para ridicularizá-los. Quando Gama citou a palavra “bode” em sua poesia, ele assumiu para sociedade que os negros estavam ali e faziam parte dela. Como a leitura faz parte do cotidiano da grande elite, a representação negra chegou ao topo da pirâmide da classe social brasileira com uma crítica forte. Leia o trecho abaixo: “Se negro sou, ou sou bode Pouco importa. O que isto pode? Bodes há de toda casta Pois que a espécie é muito vasta… Há cinzentos, há rajados, Baios, pampas e malhados, Bodes negros, bodes brancos, E, sejamos todos francos, Uns plebeus e outros nobres. Bodes ricos, bodes pobres, Bodes sábios importantes, E também alguns tratantes… Aqui, nesta boa terra, Marram todos, tudo berra;” O poema de Luiz Gama é extremamente importante para o campo da literatura, mas principalmente para o estopim do conhecimento em massa da literatura negra no Brasil. Segundo LIEBIG, 2003, “[…] a literatura negra – enquanto construção de uma subjetividade – medeia o combate entre uma identidade que é atribuída ao negro e que, usando uma expressão de Bernd, “se coagula em estereótipo”” (p. 58). Dessa forma, Gama produziu um “eu lírico negro”, que emana o discurso subjetivo individual e coletivo como forma de expressão e com o poder de construir ideologias, posicionamentos, representações de identidades da etnia africana e ocupa um papel social de espaço de denúncia retratando a trajetória do negro na sua poesia. Luiz Silva Cuti diz: “É a expressão da vontade que fez Luiz Gama assumir o lugar subjetivo para realizar alguns de seus textos. É a vontade coletiva que permite intelectuais romperem com a subserviência a uma expectativa branca, seja na área ficcional ou poética, seja na área da crítica.” Embora nosso povo seja formado pela miscigenação racial, o Brasil tem problemas relacionados ao “apagamento” e não reconhecimento desse “sujeito negro” que foi marginalizado ao longo do tempo. O simbolismo dessa manifestação de escritores negros pode ser identificado como elemento de resistência estética e política, resultando na compreensão e articulação do mundo a partir de novas perspectivas históricas e sociais. Os resultados contribuem para o estabelecimento de sistemas literários baseados na heterogeneidade, pluralidade e diversidade. “Gama faz abertamente referência a si próprio como negro, dirigindo sua crítica a todos os descendentes afro-brasileiros que tentavam escapar de sua origem ocultando-se atrás de uma máscara de falsa brancura”. (BROOKSHAW, 1983) Essa construção de “identidade” está intimamente ligada aos interesses econômicos, sociais, políticos e culturais, e Gama soube trabalhar isso assim como entendeu que a forma que a política funciona desde a burocracia até a corrupção enraizada no Estado. Recentemente, em 2018, Luiz Gama foi declarado oficialmente o patrono da abolição dos escravos no Brasil e foi escrito no Livro dos Heróis da Pátria. Uma homenagem tardia, mas que, com certeza, carrega todo peso que o escritor e advogado teve durantes os anos mais difíceis da história do povo negro no país. REFERÊNCIAS: LIEBIG, S. M. Dossiê Black & Branco: Literatura racismo e opressão nos Estados Unidos e no Brasil/ Sueli Meira Liebig. João Pessoa: Idéia, 2003. CUTI, Luiz Silva. Literatura negro-brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2010 (coleção consciência em debate/coordenada por Vera Lúcia Benedito). BROOKSHAW, David. Raça e cor na literatura brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. Luiz Gama e a sátira racial como poesia da transgressão: poéticas diaspóricas como contra narrativa à ideia de raça. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/alm/a/VHv5qzZC3wSXkGpp9scs5TN/?format=pdf&lang=pt > Luís Gama é reconhecido por lei como Patrono da Abolição da Escravatura do Brasil. Disponível em: < https://www.gov.br/mdh/pt-br/sdh/noticias/2018/janeiro/luis-gama-e-reconhecido-por-lei-como-patrono-da-abolicao-da-escravatura-do-brasil >.
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