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lhador estivesse de posse de seus próprios meios de produção e se
contentasse em viver como trabalhador, bastar-lhe-ia trabalhar o tempo
necessário para reproduzir seus meios de subsistência, digamos, 8 horas
por dia. Portanto, precisaria apenas de meios de produção para 8 horas
de trabalho. Ao contrário, o capitalista que o faz executar 4 horas de
mais-trabalho além daquelas 8 horas precisa de uma soma de dinheiro
adicional para adquirir os meios de produção adicionais. De acordo
com nossa suposição, porém, teria de empregar dois trabalhadores para
poder viver da mais-valia apropriada diariamente, como um trabalha-
dor, isto é, para poder satisfazer as suas necessidades indispensáveis.
Nesse caso, a finalidade de sua produção seria a mera subsistência, e
não a multiplicação da riqueza, e esta última está pressuposta na
produção capitalista. Para poder viver duas vezes melhor do que um
trabalhador comum e retransformar a metade da mais-valia produzida
em capital, ele teria de multiplicar por 8 ao mesmo tempo o número
de trabalhadores e o mínimo do capital adiantado. No entanto, ele
mesmo pode, como seu trabalhador, participar diretamente do processo
de produção, mas então será apenas um meio-termo entre capitalista
e trabalhador, um “pequeno patrão”. Certo grau de desenvolvimento
da produção capitalista exige que o capitalista possa aplicar todo o
tempo, durante o qual funciona como capitalista, isto é, como capital
personificado, à apropriação e portanto ao controle do trabalho alheio
e à venda dos produtos desse trabalho.581 O sistema corporativo da
Idade Média procurou impedir coercitivamente a transformação do mes-
tre-artesão em capitalista, limitando a um máximo muito reduzido o
número de trabalhadores que um mestre individual podia empregar.
O possuidor de dinheiro ou de mercadorias só se transforma realmente
em capitalista quando a soma mínima adiantada para a produção ul-
trapassa de muito o máximo medieval. Aqui, como nas ciências natu-
rais, comprova-se a exatidão da lei descoberta por Hegel, em sua Lógica,
OS ECONOMISTAS
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581 "O arrendatário não deve depender do seu próprio trabalho; e se assim o fizer, estará, na
minha opinião, perdendo. Sua atividade deve consistir na supervisão do conjunto: há de
prestar atenção a seu debulhador, pois senão em breve estará perdido o salário pago por
cereal que não foi debulhado; do mesmo modo seus ceifeiros, segadores etc. têm de ser
supervisionados; necessita revisar continuamente suas cercas; tem de cuidar para que nada
seja negligenciado; o que será o caso se se limitar a um único ponto." (ARBUTHNOT, J.
An Enquiry into the Connection between the Price of Provisions and the Size of Farms etc.
By a Farmer. Londres, 1773. p. 12.) Esse escrito é muito interessante. Nele pode-se estudar
a gênese do capitalist farmer* ou merchant farmer,** como é chamado expressamente, e
escutar sua autoglorificação em confronto com o small farmer,*** cujo objetivo essencial é
a subsistência. “A classe capitalista é liberada de início parcialmente e por fim totalmente
da necessidade do trabalho manual.” (Textbook of Lectures on the Pol. Economy of Nations.
By the Rev. Richard Jones. Hertford, 1852. Lecture III, p. 39.)
* Agricultor capitalista. (N. dos T.)
** Agricultor mercantil. (N. dos T.)
*** Pequeno agricultor. (N. dos T.)

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