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Gestão de áreas degradadas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Bianca Mayumi Silva Kida Revisão Textual: Esp. Kelciane da Rocha Campos Recuperação de Áreas Degradadas 5 • Plano de Recuperação de Área Degradadas (PRAD) • Sistema de recuperação da vegetação • Recuperação de áreas contaminadas • Manejo dos solos para recuperação • Sistemas Agroflorestais • Sistemas agroflorestais pecuários • Considerações Finais · Introduzir aos alunos o processo de gestão de áreas degradadas e aplicação dos conceitos trabalhados; · Aplicar os conteúdos das unidades anteriores à prática profissional; · Apresentar as etapas do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD); · Desenvolver tópicos relacionados ao PRAD, como: diagnóstico da área degradada, levantamento físico, químico e biológico da área degradada, escolha do tratamento adequado, entre outros. Olá, caro(a) aluno(a)! Nesta unidade, veremos de uma forma geral como os conceitos e conteúdos já vistos nas unidades anteriores serão aplicados no processo de Recuperação de Áreas Degradadas e como se dão as etapas desse processo, como diagnóstico do ambiente degradado, suas características e as condições climáticas e geográficas da região para que seja realizada a escolha da melhor forma de tratamento da área degradada. Também veremos como é realizado o controle dos fatores de degradação. Não deixe de explorar os outros materiais, pesquise e busque saber mais, pois esse assunto é muito importante para a próxima unidade e, acima de tudo, para o seu conhecimento profissional. Bons estudos! Recuperação de Áreas Degradadas 6 Unidade: Recuperação de Áreas Degradadas Contextualização Você já percebeu o quão frequentes são as notícias sobre a degradação ambiental e as suas consequências? Vimos não só caso de degradação propriamente dito, mas também como há a preocupação com a reversão desse processo, bem como com a preservação ambiental. Então, diante dessa incidência sobre questões ambientais, percebemos que esse problema é recorrente e tem sido um caso preocupante nos últimos tempos, visto o desenvolvimento econômico e social, que acabou acontecendo indiscriminadamente, explorando a maioria dos recursos naturais sem que houvesse alguma forma de preservação desses ambientes. Resultado disso são as extensas áreas desmatadas, contaminadas e ocupadas pelo crescimento populacional, gerando efeitos em larga escala, principalmente as mudanças climáticas. Com base nisso, em 30 de junho de 2015, o Brasil fechou um acordo com os Estados Unidos que visa tomar decisões e compromissos para a diminuição da emissão de gases que causam o efeito estufa e, assim, as mudanças climáticas. Nesse acordo, o Brasil se compromete a reduzir 12 milhões de hectares de áreas degradadas até 2030, além de outras medidas, como aumentar o uso de energia renovável. Isso mostra que o processo de recuperação de áreas degradadas será extremamente importante para que essas novas medidas do país sejam colocadas em prática, e para isso são necessários muitos estudos e profissionais que garantam a recuperação de tamanha extensão, o que beneficiará não só o país nos aspectos ambientais, econômicos e sociais, mas também ajudará na manutenção do clima mundial. Os conhecimentos acerca do que causa a degradação e quais as formas de recuperação serão essenciais para as próximas etapas de preservação ambiental, que contará com especialistas na área para que isso se torne realidade. 7 Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) Com base no que vimos até agora nesta disciplina, podemos analisar quais são as principais causas de degradação dos solos, que vão desde a ação natural, como a erosão causada pela água ou pelo vento, até ação do homem, que resulta em diversas alterações no ambiente, decorrentes de atividades como a mineração e a agricultura inadequada, além do desmatamento. Essas atividades causam prejuízos ao solo, pois são responsáveis pelas mudanças na estrutura física, química e biológica do solo, que o tornam improdutivo e, assim, a diversidade biológica é afetada. No entanto, existem diversas leis e regras que exigem a recuperação dessas áreas quando as atividades são danosas ao meio ambiente e, para isso, existem muitos recursos capazes de tornar o solo produtivo novamente. A lei é bem clara no que diz respeito à obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados pelo usuário quando há a utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Segundo Salvador e Miranda (2007), a recuperação se dá através de um plano que considere os aspectos ambientais, estéticos e sociais, de acordo com a destinação que se pretende dar à área, permitindo um novo equilíbrio ecológico. Diante disso, a implantação de um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) tem por objetivo minimizar ou eliminar os efeitos adversos decorrentes das intervenções e alterações ambientais causadas principalmente por atividades antrópicas em uma determinada região, que são geradoras de impacto ambiental. Para um plano de recuperação, é necessário avaliar alguns tópicos, como: • Inspeção ambiental da área a ser reabilitada; • Análise da região fitogeográfica localizada nas áreas degradadas; • Análise da vegetação nativa da região; • Análise topográfica; • Análises físico-químicas do solo; • Atividades de reconformação de terrenos; • Identificação dos processos de transformação ambiental que deram origem aos itens de passivo identificados; • Caracterização ambiental dos itens de passivo, em termos de sua representatividade, assim como de seus processos causadores; • Documentação fotográfica dos itens de passivo identificados; • Seleção e definição do tipo de uso futuro das áreas degradadas; • Atividades de preparo e correção do solo para plantio; • Seleção de espécies vegetais a serem introduzidas; • Aquisição/produção de mudas; • Atividades de plantio; • Atividades de manutenção dos plantios (Salvador; Miranda, 2007). 8 Unidade: Recuperação de Áreas Degradadas O objetivo amplo dos PRADs é a garantia da segurança e saúde pública, através da reabilitação das áreas afetadas pelas ações antrópicas, de modo a retorná-las às condições desejáveis e necessárias à implantação de um uso após a degradação que seja previamente eleito e socialmente aceitável (Lima et al, 2006) e que atenda aos interesses dos envolvidos. O sucesso de um PRAD pode ser avaliado por meio de indicadores vegetais de recuperação e que geram resultados não só na composição do solo e na vegetação, mas que também nos permitam observar as melhorias na qualidade da água, do ar e da fauna da região, assim como benefícios para a sociedade (Martins, 2001), uma vez que as plantas voltam a se multiplicar e são recuperadas as relações ecológicas entre os vegetais e os animais, restabelecendo-se o equilíbrio perdido. Como se percebe claramente, cada processo de degradação requer atividades específicas para estabelecer os planos de recuperação. Esses planos devem ter critérios para que, de maneira prática, amenizem os efeitos da degradação em cada ambiente, de acordo com o nível do impacto a que este foi submetido. Através da recuperação, os recursos naturais das áreas degradadas são preservados para que as gerações futuras também possam utilizá-los (Brasil et al, 2009). 9 A seguir, na Figura 1, temos um esquema das etapas envolvidas em um PRAD, envolvendo profissionais, sociedade e empreendedores de uma mineração, e que mostra as etapas de um PRAD: Fonte: rc.unesp.br Para que ações do PRAD possam entrar em prática, existem técnicas e processos já estabelecidos para a reabilitação dos solos e para que este se torne produtivo novamente. Portanto, o manejo dos solos deve ser realizado a fim de que as próximas etapas aconteçam satisfatoriamente, uma vez que este interfere diretamente na cobertura vegetal e nas características do solo. 10 Unidade: Recuperação de Áreas Degradadas Sistema de recuperação da vegetação Ao analisaruma área degradada, é necessário determinar quais métodos serão adotados para a recuperação da vegetação natural da região, uma vez que cada região exibe características específicas, que exigem um tratamento ideal, que vise à recuperação com os menores custos e com a capacidade de autossustentação em longo prazo. Você sabia? O Instituto Terra é um exemplo de recuperação de áreas degradadas e que busca reverter a situação de áreas improdutivas com plantio de árvores, educação ambiental e pesquisa em questões ambientais. Veja o vídeo, disponível no link a seguir, sobre esse Instituto e o trabalho que ele vem desenvolvendo ao longo dos anos: https://www.youtube.com/watch?v=qyiial3eBZM Para a recuperação da vegetação, existem quatro possibilidades de reabilitação dessa área, que, de forma geral são, segundo Attanasio et al. (2006): Formação de uma comunidade florestal Esse sistema é normalmente usado em áreas cuja formação florestal original foi substituída por alguma atividade agropastoril altamente tecnificada, e a vegetação natural remanescente no entorno da área ou não é florestal ou foi totalmente destruída. Condução da regeneração Usada nas áreas com menor nível de perturbação, onde os processos ecológicos ainda estão atuantes e capazes de manter a condição de autossustentação da área, caso os fatores de degradação sejam identificados e interrompidos. Essa é a situação de mais fácil restauração, já que consiste apenas no isolamento da área dos fatores de perturbação, e de ações posteriores e sequenciais de manejo que potencializam a autorrecuperação dessas áreas, como controle de competidores, condução da regeneração natural, adensamento de alguns trechos mais degradados, enriquecimento da área para incremento da diversidade, entre outros. Sistema de adensamento É usado em situações em que é constatada a ocorrência de regeneração natural na área a ser restaurada, geralmente de indivíduos de espécies nativas das fases iniciais da sucessão ecológica. Essa ocorrência pode ser na forma de indivíduos remanescentes ou na forma de banco de sementes, que são aproveitados na recuperação. Nesse caso, faz-se o recobrimento da área sem árvores com mudas das mesmas espécies que já estão crescendo no local. Enriquecimento de espécies na comunidade Método a ser usado nas áreas com estágio intermediário de degradação, nas situações em que a área a ser recuperada já se encontra ocupada com espécies iniciais da sucessão ou a restauração foi feita apenas com espécies iniciais da sucessão, e para garantir a perpetuação dessa restauração é preciso o acréscimo de espécies de diferentes comportamentos e até de diferentes formas de vida, geralmente dos estágios mais finais da sucessão. Essa presença de espécies iniciais pode ser resultado de plantio de indivíduos, germinação do banco de sementes ou até mesmo da existência de indivíduos remanescentes na área. Você sabia? A sucessão ecológica pode ser definida como um processo gradual no qual a comunidade vegetal vai se alterando até se estabelecer um equilíbrio. É determinada por três fases: comunidade pioneira (gramíneas), comunidade intermediária (ervas, arbustos) e comunidade clímax (árvores). 11 Dessa forma, fica claro que os sistemas de restauração são interdependentes, podendo se complementar ao longo do tempo. A decisão de adoção de um ou outro é apenas uma tentativa de racionalizar a restauração, aproveitando ao máximo a capacidade autorregenerativa desses ambientes, nos seus vários níveis de degradação. É importante salientar que independentemente do sistema a ser adotado, as áreas passíveis de restauração sempre devem ser isoladas dos fatores de degradação (fogo, gado, águas pluviais, etc.), de modo a reduzir maciçamente os custos de recuperação, já que o potencial de autorrecuperação pode ser preservado ou até restabelecido no tempo, dependendo do histórico de uso e do entorno da situação (Attanasio et al, 2006). Vários são os efeitos benéficos da prática de reflorestamento: filtragem de sedimentos; proteção das barrancas e beiras de rio; grande profundidade e volume de raízes favorecendo a macroporosidade do solo; diminuição do escoamento superficial da água no solo; criação de refúgios para fauna e, ainda, fonte de energia (lenha). O reflorestamento também pode ser feito em faixas intercalando-se com culturas anuais (tipo consórcio), favorecendo o incremento de matéria orgânica ao solo (Figura 2). Figura 2 – Reflorestamento Fonte: tropicalguanandi.wordpress.com 12 Unidade: Recuperação de Áreas Degradadas Para esse processo, é necessário um estudo amplo sobre as espécies mais adequadas para cada tipo de região. Portanto, a EMBRAPA Agrobiologia destaca algumas espécies que variam de acordo com as características do solo e que apresentam rápido crescimento e tolerância a condições adversas, ideais para o processo de recuperação (Figura 3). Figura 3 – Tabela resumida de espécies arbustivas tolerantes a cada tipo de solo ESPÉCIE NOME VULGAR Espécies tolerantes a solos salinos Acacia auriculiformis Acácia Acacia mangium Acácia Albizia lebbeck Ébano oriental, coração negro Flaemingia macrophylla Flemingia Inga edulis Ingá Mimosa caesalpiniifolia Sabiá, Sansão do campo Prosopis juliflora Algaroba Espécies tolerantes a solos alcalinos Acacia auriculiformis Acácia Prosopis juliflora Algaroba Espécies tolerantes a solos mal drenados Acacia auriculiformis Acácia Acacia mangium Acácia Aeschynomene denticulata Aeschynomene fluminenses Chamaecrista nictitans Erytrina fusca Mulungu Inga spp. Algaroba Mimosa bimucronata Maricá Sesbania sesban Sebânia Sesbania virgata Sebânia Atenção Existem milhares de espécies vegetais; essa lista traz apenas algumas que apresentam tolerância às áreas degradadas. Lembrando que o estudo fitogeográfico da região é essencial para a seleção de espécies para reflorestamento. 13 Recuperação de áreas contaminadas Quando se trata de um solo contaminado, antes que haja a revegetação dessas áreas, é necessário realizar técnicas de descontaminação, a fim de que este se torne produtivo novamente. Portanto, inicialmente, é necessário fazer um levantamento das causas de contaminação. Uma vez identificadas, é preciso estabelecer as formas de tratamento dessa contaminação. Atualmente, consideram-se três métodos de descontaminação do solo: no local (“in-situ”); fora do local (“on/off-site”) e isolamento da área contaminada (Afonso, 2009). O isolamento da área contaminada não se trata verdadeiramente de um processo de descontaminação, mas sim de uma solução provisória para o problema. O tratamento do solo como metodologia de recuperação de áreas contaminadas é uma alternativa cada vez mais significativa, devido à incidência de casos como esse. Há diversas tecnologias desenvolvidas para esse tipo de degradação do solo, sendo que as técnicas “on/off site” exigem a extração, por escavação do solo contaminado. Após isso, o solo extraído pode ser tratado no local (“on-site”) ou em estações de tratamento (“off-site”), sendo depois reposto no local de origem ou outro, usado para outros fins, após a sua descontaminação. No entanto, os processos de descontaminação do solo ainda são custosos e muitas vezes não garantem 100% de descontaminação (Afonso, 2009). Basicamente, então, existem três formas de tratamento do solo contaminado, segundo Afonso (2009): Tratamento térmico Consiste em tratamentos que se utilizam do calor para a eliminação de um poluente e necessita de um tratamento também dos gases que serão emitidos. Tratamento físico-químico Baseia-se principalmente na lavagem do solo. Assim, para separar os contaminantes do solo, devem ser removidas as ligações entre estes e as partículas do solo, ou serem extraídas as partículas do solo contaminadas. Após isso, ocorre a etapa de separação do fluido com solo contaminado e, caso haja a liberação de compostos voláteis, será necessário o tratamento desses compostos para nãocontaminarem o ar. Tratamento biológico Tratamento realizado pelos microrganismos que possuem a capacidade de metabolizar os compostos químicos, que apresentam altos índices de carbono, utilizados como fonte de energia por esses seres vivos. Nesse tratamento, os microrganismos são estimulados para uma degradação controlada dos contaminantes (com condições adequadas, ou seja, condições físico-químicas necessárias para esse processo). Em determinadas situações (presença de poluentes muito persistentes), pode ser necessário recorrer a microrganismos específicos ou a microrganismos geneticamente modificados, de modo a conseguir eficácia na biodegradação. 14 Unidade: Recuperação de Áreas Degradadas Manejo dos solos para recuperação Os PRADs buscam desenvolver planos de recuperação específicos para o tipo de dano já causado ao solo, no entanto há formas de minimizar a degradação dos solos durante o processo produtivo. Sendo assim, existe o planejamento conservacionista, que é essencial para que sejam obtidos melhores rendimentos na exploração das culturas, como ter o aproveitamento máximo da terra por unidade de área plantada, que resultará em um desenvolvimento socioeconômico do produtor rural e sua família, assim como para a conservação dos recursos naturais da propriedade agrícola (Capeche et al, 2008). Ou seja, busca-se em um planejamento conservacionista preservar as condições do solo tomando medidas que diminuam a degradação desses solos durante as atividades. Portanto, técnicas que permitem que esse processo de degradação seja diminuído ou interrompido são essenciais para que o processo de recuperação seja menos custoso. São inúmeras as formas de recuperação das condições do solo, que envolvem muitas áreas de estudo. Portanto, de forma geral, destacaremos as principais formas de manejo do solo para que sua integridade seja restabelecida ou mantida ao longo das atividades. Controle da erosão Como já vimos, a erosão é uma das principais causas de degradação dos solos e pode ocorrer por ação natural ou antropogênica. Além disso, os dois fatores que atuam diretamente na erosão do solo são a declividade do terreno e o volume e intensidade da precipitação. Portanto, os métodos a seguir visam reduzir ou evitar a ação das águas das chuvas sobre o terreno, a fim de que essa água não “lave” os terrenos, retirando a camada fértil do solo, que, segundo Capeche et al., 2008, são: Terraceamento Método mecânico que visa formar obstáculos físicos que são colocados ao longo do terreno, permitindo a redução na velocidade das águas das chuvas, e assim aumentando a sua infiltração no solo. Não apenas isso, mas o terraceamento também permite direcionar o escoamento para um leito de drenagem, seja ele natural ou artificial (Figura 4). Esse é um tratamento custoso e exige um estudo detalhado da região, a fim de que se analisem as condições locais de clima, solo, sistema de cultivo, culturas a serem implantadas, declividade do terreno e equipamentos disponíveis, para que se tenha segurança e eficiência no controle da erosão. Figura 4 – Terraceamento de um terreno íngreme Fonte: iStock/Getty Images 15 Cobertura Vegetal A cobertura do solo pode ser alcançada com um rápido crescimento da cultura, o qual permitirá a proteção contra as gotas da chuva, e essa cobertura pode ser tanto da cultura em si, quanto das folhas caídas, que formam uma proteção do solo. O crescimento rápido dessas culturas depende das características do solo, e saber esses fatores é essencial para o agricultor se programar quanto ao melhor período de plantio e de adubação, o que permitirá conservar esse solo contra ao impacto causado pela quantidade e velocidade das águas das precipitações. Além disso, um crescimento rápido da cobertura vegetal garantirá a manutenção das características físicas, químicas e biológicas do solo, assim como dos nutrientes e umidade do solo devido ao alto teor de matéria orgânica (Figura 5). Figura 5 – Cobertura vegetal entre as plantações Fonte: agrisus.org.br Quebra-Ventos Ou Cortinas Vegetais Uma das principais técnicas utilizadas para minimizar os efeitos nocivos dos ventos sobre os solos e culturas é o uso de cortinas vegetais, formadas por vegetais como capim elefante, capim cidreira, feijão guandu, eucalipto, grevilea, cedrinho, acácia negra, entre outros (Figura 6), que visam formar uma barreira contra as ações dos ventos. Figura 6 – Cortina vegetal Fonte: webvila.com.br 16 Unidade: Recuperação de Áreas Degradadas Cordão Vegetal O cordão vegetal é formado por espécies vegetais de crescimento rápido, que impedem que a água das chuvas ganhe velocidade e assim cause a erosão, atuando então como uma barreira física. É ideal para terrenos que não possibilitam a construção de terraços, devido à declividade, ou onde a mecanização é realizada por tração animal. Além disso, algumas espécies utilizadas para formar o cordão vegetal podem ser usadas na alimentação animal, humana ou na industrialização caseira, fornecendo mais uma renda para a família (Figura 7). Figura 7 – Cordão vegetal Fonte: cultivehortaorganica.blogspot.com.br Cordão de Pedra Prática adaptada às pequenas propriedades que possuem pedras soltas na superfície. Logo, a organização dessas pedras permite também o controle da erosão, reduzindo a velocidade de escoamento das águas das chuvas (Figura 8). Figura 8 – Cordão de pedra Fonte: horizontegeografico.com.br Locação de estradas e caminhos Um dos principais fatores causadores de erosão nas áreas agrícolas são as estradas e vicinais utilizadas para o escoamento da produção, pois a má locação dessas estradas pode ser responsável pelos graves problemas de erosão e faz com que a água da enxurrada acumule em grande volume, ganhando velocidade, o que aumenta o seu potencial erosivo. Portanto, a construção deve levar em conta a sua declividade e a construção de caixas de retenção laterais que seguram a água que escorre na estrada. 17 Adição de Matéria Orgânica A adição de matéria orgânica ao solo tem por objetivo melhorar suas condições físicas, químicas e biológicas, permitindo um crescimento adequado das culturas. Esse aporte de matéria orgânica pode ser feito de várias maneiras, como: • Adubação verde (Figura 9); • Adubação com esterco de animais (bois, suínos etc.); • Restos de culturas; • Compostos orgânicos; • Húmus de minhocas, entre outros. Dentre essas opções, a adubação verde tem evoluído nos sistemas de plantio e participa do planejamento conservacionista dos solos, uma vez que esse processo permite que ocorra a rotação de cultura e a cobertura e proteção desse solo. Ela se baseia basicamente na incorporação de leguminosas, assim como na utilização de outras espécies vegetais, em rotação ou não, para cobertura do solo ou incorporação de nitrogênio ao sistema. Além disso, as gramíneas, com seu sistema radicular abundante, também contribuem para estruturar o solo, assim como aumenta o aporte de matéria orgânica abaixo da superfície. Figura 9 – Adubação verde realizada com restos de outras plantações Fonte: grupocorreiodosul.com.br 18 Unidade: Recuperação de Áreas Degradadas Compostagem A compostagem é um processo de decomposição aeróbia dos resíduos orgânicos em húmus, relativamente estáveis. Os dejetos animais, ricos em nitrogênio, podem ser compostados de forma exclusiva ou combinada com outros materiais de elevada relação carbono/ nitrogênio, como palhadas, bagaços de frutas, serragem etc. Uma vez que os resíduos de origem vegetal e animal contêm grandes quantidades de nutrientes, estes podem ser aproveitados através de um processamento simples como a compostagem, e que pode ser executada facilmente pelo produtor (Figura 10). Figura 10 – Sistema de compostagem na propriedade Fonte: blog.mfrural.com.br Para saber como funciona o sistema de compostagem, acesse este site, no link a seguir, e veja como é simples esse processo: http://planetaorganico.com.br/site/index.php/compostagem-4/Rotação de Culturas A rotação de culturas é a sequência ordenada de diferentes culturas no tempo e no espaço (Figura 11). O principal objetivo de uma rotação de cultura é adicionar matéria orgânica de forma contínua no solo, garantindo a sua qualidade. As principais vantagens da rotação são: otimização da fertilidade do solo, diminuição da incidência de pragas e doenças, melhora nos resultados econômicos, através de um adequado planejamento das culturas, e controle de ervas daninhas com o mínimo de despesas. Figura 11 – Rotação de culturas Fonte: tocadacotia.com 19 Sistemas Agroflorestais Os Sistemas Agroflorestais (SAF) são considerados como uma das alternativas de uso dos recursos naturais que normalmente causam pouca ou nenhuma degradação ao meio ambiente, uma vez que respeitam os princípios básicos do manejo sustentável dos agroecossistemas (Macedo et al, 2000). O objetivo desses sistemas é criar diferentes camadas ou estratos vegetais, a fim de imitar um bosque natural e a dinâmica do meio ambiente, levando-se em consideração as características específicas de cada região, como o clima, que pode variar. Além disso, mesmo em uma mesma sub-bacia podem existir diferentes microambientes devido a fatores como a topografia, que influencia sobre os tipos de solo e suas propriedades, como retenção de umidade, disponibilidade de nutrientes e de matéria orgânica. Esses fatores, então, acabam por determinar os tipos de espécies que viverão no local, aquelas que se adaptam as essas condições. Portanto, durante o planejamento, é muito importante que as características intrínsecas de cada espécie sejam consideradas no momento de planejar o SAF (Alves, 2009). Ao se escolher as espécies que comporão o sistema, é necessário ressaltar os seguintes aspectos para a seleção (Figura 12): • Escolher espécies adaptadas às condições edafoclimáticas do local; • Apresentar ciclos de vida diferenciados (curto, médio e longo); • Selecionar espécies “companheiras”, ou seja, que se complementem em vez de competirem, não prejudicando o crescimento de nenhuma das partes; • Espécies de fácil rebrotamento; • Plantas tolerantes a escassez de água e nutrientes; • Possuir um valor econômico, seja pela madeira, seja pela produção de frutos. • Plantas interessantes para a fauna local, que atuarão como dispersores de sementes nos SAFs. Figura 12 – Sistemas agroflorestais, com diferentes estratos vegetais Fonte: ecodebate.com.br 20 Unidade: Recuperação de Áreas Degradadas Com isso, podemos ver que os SAFs podem ser muito bem aplicados no processo de recuperação de áreas degradadas, pois esses sistemas permitem a estruturação do solo e aumenta os níveis de nutrientes no solo provenientes das raízes e pelo acúmulo de matéria orgânica (Vaz, 2000) e, assim, atuam diretamente na melhoria da estrutura e fertilidade dos solos, pois os SAFs permitem que exista uma diversificação dos componentes arbóreo, arbustivo e herbáceo, que exercem grande influência sobre a base de todo o sistema: os solos (Alves, 2009). Portanto, a utilização de sistemas agroflorestais tem sido bastante difundida como alternativa para recuperação de áreas degradadas, não apenas pela mineração, mas de um modo geral, atribuindo-se à combinação de espécies arbóreas com culturas agrícolas e/ ou animais a melhoria nas propriedades físico-químicas de solos degradados, bem como na atividade de microrganismos, considerando-se o grande número de fontes de matéria orgânica (Reinert, 1998). Sistemas agroflorestais pecuários Os Sistemas Agroflorestais Pecuários também são conhecidos como sistemas silvipastoris e se caracterizam pela integração de componentes lenhosos, como árvores e arbustos; herbáceas, como gramíneas e leguminosas, juntamente com animais herbívoros, diferenciando-se dos SAFs vistos anteriormente. A inclusão de árvores e arbustos em pastagens de gramíneas pode resultar em diversos efeitos benéficos para a produção, além dos já citados para SAFs, como: • Fornecimento de sombra, promovendo conforto para os animais; • Incremento na rentabilidade da propriedade rural, com redução nos gastos com insumos, e, em alguns casos, a obtenção de pelo menos dois produtos comercializáveis (leite, carne, madeira, frutas etc.); • Redução das quantidades de concentrados a serem administrados aos animais; • Eliminação do uso de fertilizantes nitrogenados (Carvalho et al, 2003). Esse tipo de cultura permitirá o aproveitamento do terreno com a produção agrícola e pecuária, além de preservar as propriedades do solo, vista a reciclagem de nutrientes fornecida tanto pelas árvores quanto pelos animais. 21 Considerações Finais Em vista do exposto, podemos concluir que a redução da cobertura vegetal, a fragmentação e o isolamento de paisagens, além de promover a perda da biodiversidade e de suas funções, são resultados, principalmente, da degradação ambiental ocasionada principalmente por intervenções antrópicas. Assim, a necessidade de reverter o quadro atual da degradação ambiental gera o desafio de recuperar áreas desmatadas ou degradadas, com o principal objetivo de restabelecer as funções e estrutura dos ecossistemas, respeitando-se a diversidade de espécies, a sucessão ecológica e a representatividade genética entre populações (Rodrigues; Gandolfi, 1996). Para que haja o sucesso da recuperação de áreas degradadas, é muito importante que • se priorize a sustentabilidade e a capacidade de perpetuação da comunidade; • haja a resistência à invasão de organismos que não compõem determinado ecossistema e causem o desequilíbrio; • se obtenha a produtividade próxima ou semelhante ao ecossistema natural, dependendo do objetivo da recuperação; • se restabeleçam as interações bióticas e a qualidade do solo (Barbosa, 2006). Esses fatores permitirão que as interações complexas dos ecossistemas sejam compreendidas e analisadas no momento em que o plano de recuperação de áreas degradadas é desenvolvido, uma vez que apenas plantar árvores não é o suficiente para o sucesso da recuperação e, portanto, deve-se levar em conta a relação solo/planta/atmosfera, ou seja, considerar a interação desses fatores por meio de equipes multidisciplinares, que são capazes que detectar os problemas e buscar as melhores soluções para a degradação ambiental (Duarte; Casagrande, 2006). Partindo dessas considerações, sugere-se que um modelo de recuperação de áreas degradadas recomponha o potencial de produtividade do solo, restabelecendo suas principais características e propriedades, tornando o meio ambiente apto a se recuperar e retornar às condições iniciais, seja de forma total, como o original, ou torná-lo apto a sustentar um ecossistema novamente. O ideal seria que os interesses das políticas públicas fossem direcionados para a questão da poluição ambiental, e que a sociedade formasse uma relação amistosa e equilibrada com a natureza, de forma que se respeitassem todas as formas de vida do ambiente, e assim todos os esforços de recuperação dessas áreas não seriam necessários, já que não haveria degradação dos ambientes. Vimos, então, quais as características e procedimentos envolvidos em um PRAD, seja na caracterização do ambiente, seja na escolha de espécies para recuperação e métodos que vêm se tornando cada vez mais significativos no processo de recuperação, como os sistemas agroflorestais. Porém, atrás de todo o processo técnico, existe a parte burocrática, que envolve tópicos como licenciamento ambiental, passivo ambiental, relatórios ambientais como o EIA/ RIMA, entre outros, que serão vistos com mais detalhes na próxima unidade. 22 Unidade: Recuperação de Áreas Degradadas Material Complementar Sites: SOBRADE. Sociedade Brasileira de Recuperação de Áreas Degradadas: http://www.sobrade.com.br/ Acesso em: 28 jul. 2015. EMBRAPA. Empresa brasileira de agropecuária. Temas relacionados à recuperação de áreas degradadas, principalmente técnicas utilizadas pela Embrapa https://www.embrapa.br/agrobiologia/pesquisaedesenvolvimento/recuperacao-de-areas-degradadasAcesso em: 28 jul. 2015. EMBRAPA. Empresa brasileira de agropecuária. Embrapa agrobiologia: Conteúdo técnico https://www.embrapa.br/agrobiologia/ Acesso em: 28 jul. 2015. Vídeos: Rede Sul de Engenharia Natural e Recuperação de Áreas Degradadas: Vídeos interessantes http://engnatsul.ning.com/ Acesso em: 28 jul. 2015. 23 Referências AFONSO, A. A. Recuperação de áreas degradadas. Goiânia: Instituto Nacional de Engenharia e Agricultura e Agronomia, 2009. 56p. ALVES, L. M. Sistemas agroflorestais (SAF´s) na restauração de ambientes degradados. Juiz de fora: Pgecol, 2009. 18p. ATTANASIO, C. M., Rodrigues, R. R., Gandolfi, S., Nave, A. G. 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