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DIREITO CIVIL VI – SUCESSÕES (CCJ0017) Profa: MARÍLIA COSTA BARBOSA FERNANDES 1. CONCEITOS INICIAIS: 1.1. Sucessão: - Do latim, succedere, significa vir no lugar de alguém. - Sucessão, em sentido amplo, significa o ato pelo qual uma pessoa assume o lugar da outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens. - No Direito das Sucessões (ou Direito Hereditário), no entanto, a expressão sucessão é utilizada em sentido estrito, para identificar a transmissão do patrimônio apenas em razão da morte, como fato natural, de seu titular, tornando-se o sucessor sujeito de todas as relações jurídicas que àquele pertenciam. 1.2. Direito das Sucessões: Ramo do Direito Civil, constituído pelo complexo de normas e princípios que se destinam a regular a passagem de titularidade do patrimônio (ativo e passivo) de alguém que veio a falecer (chamado autor ou de cujus ou de cuius) aos seus sucessores (herdeiros e legatários). Art. 1.786, CC. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade. 1. CONCEITOS INICIAIS: 1. CONCEITOS INICIAIS: O Direito das Sucessões envolve basicamente duas figuras: - O falecido Principal personagem da transmissão de bens mortis causa. Para tal figura também são utilizados os termos morto, autor da herança e de cujus (de quem), que simplifica a expressão aquele de quem a herança se trata. - O herdeiro ou sucessor Que recebe a transmissão dos bens pelo falecimento do primeiro. Função do Direito das Sucessões Função nitidamente social. Distribuição de riqueza do modo mais apropriado ao bem-estar dos indivíduos;Conservação da família;conotação afetiva. Para além dos sucessores, há a satisfação das dívidas do de cujus, sem prejudicar terceiros. Na herança declarada jacente (sem testamento e sem herdeiros legítimos) e depois vacante, transfere-se os bens para o ente público, ao município, em regra; e à União, excepcionalmente, passando a integrar patrimônio público. Deve estar em consonância com os interesses combinados da sociedade,da família e dos indivíduos. Função e Fundamentos do Direito das Sucessões Resguardar o direito de propriedade e a sua função social (art. 5.º, XXII e XXIII, da CF/1988). Art. 5.º. (...) XXII - é garantido o direito de propriedade; XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; Valorização constante da dignidade humana, seja do ponto de vista individual ou coletivo, conforme os arts. 1.º, inciso III, e 3.º, inciso I, da CF/1988. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana; Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; Função e Fundamentos do Direito das Sucessões O direito à herança é garantido como um direito fundamental pelo art. 5.º, XXX, da CF/1988: Art. 5º. (...) XXX - é garantido o direito de herança; ORIGEM DO DIREITO SUCESSÓRIO Na Antiguidade grega e romana: motivos religiosos, para assegurar a continuidade do culto doméstico. Posteriormente, para os romanos: além deste aspecto religioso, destacava-se o aspecto político da sucessão. Lei das XII Tábuas: plena liberdade de testar do pater familias. Se não houvesse testamento, a sucessão se daria na seguinte ordem: sui (os filhos, os netos, a esposa), agnati (o colateral de origem exclusivamente paterna, como irmão consanguíneo, o tio que fosse filho do avô paterno, o sobrinho, filho desse mesmo tio) e gentiles (membros da gens, que é o grupo familiar em sentido lato). ORIGEM DO DIREITO SUCESSÓRIO Imperador Justiniano: a sucessão legítima passou a se concentrar apenas no parentesco natural, com a seguinte ordem de vocação hereditária: a)descendentes; b)ascendentes, com irmãos bilaterais; c)irmãos consanguíneos ou uterinos; d)outros parentes colaterais. Mas, havia ainda uma superioridade dos testamentos. Idade Média: o direito germânico passou a conhecer apenas a sucessão decorrente do parentesco e, no mesmo sentido operou por bom tempo o direito francês. Direito contemporâneo: conciliar a sucessão legítima e a testamentária, reconhecendo em ambas formas de sucessão. CONTEÚDO E OBJETO DO DIREITO DAS SUCESSÕES O direito sucessório é considerado um direito fundamental (art. 5o., XXX, CF), mas possui conteúdo eminentemente patrimonial ou econômico. O livro referente ao Direito das Sucessões é o último do Código Civil de 2002: LIVRO V, que inicia no art. 1784. O Código Civil (arts. 1.784 a 2.027) divide o Direito das Sucessões em quatro títulos: I. Da sucessão em geral (regras de transmissão, aceitação, renúncia e excluídos da herança, herança jacente e petição de herança); II. Da sucessão legítima; III. Da sucessão testamentária; IV. Do inventário e da partilha. Lei de regência da sucessão: A lei vigente ao tempo da abertura da sucessão será a norma que regerá a sucessão (art. 1.787, CC). Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela. Por isso, a data do falecimento será necessariamente indicativa da legislação a ser aplicada. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL 2.1. Abertura da sucessão: - Art. 1.784, CC: Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. • Denota-se, dessa forma, que a abertura da sucessão (independente da causa da morte ou de ter sido ela presumida*) se faz automaticamente (ipso facto e ipso iure), a partir do evento “morte”, abrangendo todo o patrimônio do de cujus (universalidade de direito), tratando-se esta transmissão de uma ficção jurídica. *Morte presumida: A existência da pessoa natural termina com a sua morte, ainda que presumida: Art. 6o., CC: A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL 2.1. Abertura da sucessão: - A herança é, na verdade, um somatório, em que se incluem os bens e as dívidas, os créditos e os débitos, os direitos e as obrigações, as pretensões e as ações de que era titular o falecido, e as que contra ele foram propostas, desde que transmissíveis. - Compreende, portanto, o ativo e o passivo (CC, arts. 1.792 e 1.997), imitindo-se o herdeiro na posse independente de qualquer pedido judicial. Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; (...) Art. 1.997. A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido; mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção da parte que na herança lhe coube. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL - Para que haja a transmissão da herança é preciso que: o herdeiro exista ao tempo da sua abertura; que o herdeiro, neste momento, não seja incapaz de herdar. - Por isso, é importante se identificar (por meio da certidão de óbito ou declaração judicial de morte presumida) o momento em que ocorreu a morte. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL Momento da transmissão da herança: - A morte, a abertura da sucessão e a transmissão da herança aos herdeiros, ocorrem exatamente no mesmo momento, independente de saberem ou não os herdeiros da abertura da sucessão, uma vez que se opera ipso jure. - Embora a transmissão da herança ocorra independente do conhecimento dos herdeiros, aos mesmos é exigido que, em ato posterior, aceitem a herança, bem como, é-lhes permitido repudiá- la, uma vez que ninguém pode ser herdeiro contra sua própria vontade. - Destaque-se, no entanto, que a aceitação da herança apenas torna definitiva a transmissão já efetivada e a recusa faz cessar os efeitos desta mesma transmissão. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL Princípio da saisine: - Consubstanciado no art. 1.784 do CC, que prevê que o próprio de cujus transmite ao sucessor a propriedade e a posse da herança (tomada de posse da herança). Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herançatransmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. - Embora não se confundam a morte com a transmissão da herança, sendo aquela pressuposto e causa desta, a lei, por uma ficção, torna-as coincidentes em termos cronológicos, presumindo que o próprio de cujus investiu seus herdeiros no domínio e na posse indireta de seu patrimônio. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL Princípio da saisine: - Consequências: • A sucessão e a legitimação para suceder são regulados pela lei vigente ao tempo da abertura daquela (art. 1.787, CC); • O imposto causa mortis é devido pela alíquota vigente na data do óbito. Súmula 112, STF: O imposto de transmissão "causa mortis" é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL 2.2. Indivisibilidade da herança: - A herança, conforme o art. 1.791, CC, defere-se como um todo unitário, ainda que vários os herdeiros e regular- se-á pelas normas relativas ao condomínio. Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros. Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL 2.3. Liberdade de testar (art. 1.789, CC): Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança. - A liberdade de testar só será plena quando não houver herdeiros necessários, podendo o testador afastar da sucessão os herdeiros colaterais (art. 1.850, CC). Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar. Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL 2.4. Espécies de Sucessão: I. Quanto à fonte: a) Sucessão legítima (ab intestato ou legal). É a sucessão que decorre da lei (art. 1.786, CC, parte inicial), ou seja, decorre de vontade presumida do de cujus (forma de testamento tácito). Art. 1.786.A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade. b) Sucessão testamentária. É sucessão que decorre de disposição de última vontade expressa em testamento ou codicilo (art. 1.786, CC, parte final) e, por isso, reflete a verdadeira intenção do de cujus. Art. 1.786.A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL II. Quanto aos efeitos: a) Sucessão a título universal. Ocorre quando o herdeiro é chamado a suceder na totalidade do acervo hereditário. Pode ocorrer na sucessão legítima e na testamentária. Na sucessão a título universal o sucessor sub-roga-se na posição do de cujus, entrando desde logo na posse e propriedade da herança. A sucessão legítima é sempre a título universal. b) Sucessão a título singular. Ocorre quando se transfere determinada porção de bens; o testador deixa ao beneficiário um bem certo e determinado (chamado legado). Neste caso, o legatário apenas toma o lugar do de cujus no bem certo e individualizado, devendo pedir aos herdeiros a entrega da coisa legada. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL Pactos sucessórios (sucessão contratual). Não são permitidos no Direito brasileiro, portanto, não se admite a sucessão contratual porque vedado negócio jurídico sobre herança de pessoa viva (pacta corvina- art. 496, CC). Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. A doutrina admite algumas exceções como, por exemplo: o art. 2.018, CC, que afirma ser válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos, ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários. Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL Sucessões irregulares ou anômalas. São reguladas por normas próprias como as previstas nos arts. 629, III, CC/16 (enfiteuse) combinado com o art. 2.038, CC/02; art. 520, CC (direito de preferência na compra e venda); art. 5o., XXXI, CF (sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil); entre outras. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL 2.5. Espécies de sucessores: a) Legítimos: Art.1.829.A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais. • Herdeiros necessários: são definidos em lei e entre os quais se partilha, no mínimo, metade da herança em quota ideais (arts. 1.789,1.845 e 1.846,CC), salvo os casos de deserdação. Art.1.789.Havendo herdeiros necessários,o testador só poderá dispor da metade da herança. Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge. Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima. • Herdeiros facultativos: são herdeiros legítimos que não compõem a categoria dos herdeiros necessários, como os colaterais até 4o. grau e, por isso, podem ser privados da herança por disposição de última vontade (art. 1.850,CC). Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL 2.5. Espécies de sucessores: b) Testamentário ou instituído: beneficiado pelo testador no ato de última vontade. c) Legatário: é o contemplado em ato de última vontade com bem certo e determinado. d) Universal: É o herdeiro único que recebe a totalidade da herança. 2. DA SUCESSÃO EM GERAL 2.6.Lugar da abertura da sucessão. - Preceitua o art. 1785, CC, que a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido. Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido. - Em caso de pluralidade domiciliar comprovada, haverá mais de uma opção para a abertura da sucessão: Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente: I - o foro de situação dos bens imóveis; II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio. - O domicílio do falecido também fixa a lei aplicável à sucessão, observadas as exceções: Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens. § 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. - Conforme o art. 23, inc. II, do CPC/2015: Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra, em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. ARTICULAÇÃOTEORIA E PRÁTICA 1 - Questão objetiva: Estão legitimados a suceder, na sucessão legítima: (a) Os nascidos, os já concebidos e a prole eventualde pessoas já existentes. (b) As pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão. (c) Apenas as pessoas já nascidas ao tempo da abertura da sucessão. (d) As pessoas físicas e jurídicas existentes ao tempo da abertura da sucessão.
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