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Livro Texto - Unidade II TEORIA DA HISTÓRIA

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45
TEORIA DA HISTÓRIA
Unidade II
Falaremos sobre o marxismo e as correntes de pensamento que dele derivaram. Também trataremos 
das influências do marxismo na construção de teorias da história, bem como das suas variantes, por 
exemplo, o caso inglês. O contexto histórico diz respeito ao final do século XIX e início do século XX.
5 O MARXISMO
O final do século XIX viu acontecer a primeira crise geral do capitalismo. A miséria social produzida e 
intensificada pela revolução industrial estimulou os levantes trabalhistas e o surgimento de movimentos 
contrários à industrialização. A insatisfação era geral, atingindo não apenas o proletariado; com exceção 
dos grandes capitalistas, todos sofriam com os baixos salários e as péssimas condições de vida.
Eventuais crises anunciavam que o desenvolvimento contínuo do capitalismo podia ter seus dias 
contados. Além disso, em função da miséria crescente, o proletariado começava a se organizar em 
sindicatos. Novas ideias de cunho socialista, anarquista, comunista ou reformista ganhavam terreno 
entre aqueles que tentavam entender o capitalismo e buscavam uma saída para as condições ultrajantes 
de vida que esse sistema representava (COSTA, 2003). Não à toa, esse período ficou marcado pela 
disseminação das correntes do socialismo utópico, pela publicação do Manifesto Comunista (1848), 
pela organização da Primeira Internacional (1864), pela Segunda Internacional (1889), pela publicação 
de O Capital (1867), pelos escritos anarquistas, pela Comuna de Paris (1871) e pela mobilização política 
sindical e partidária do operariado.
Enquanto o socialismo utópico teorizava acerca dos ideais de uma sociedade justa e igualitária, 
Marx (1818 – 1883) e Engels (1820 – 1895) seguiram outro caminho: para eles, não era possível ignorar 
a questão de classe inerente à desigualdade social. Em 1848, eles publicaram o Manifesto Comunista, 
convocando todos os operários do mundo para que se unissem e se comprometessem com a revolução 
socialista. O pressuposto dessa convocatória era o de que a classe trabalhadora deveria funcionar como 
vetor revolucionário, cabendo a ela conquistar a própria emancipação. Mais: os autores propunham uma 
união internacionalista de todo o operariado para que fosse destruído o processo injusto de acumulação 
do capital que causava tanto malefício ao bem‑estar dos trabalhadores.
Para Marx e Engel havia uma contradição inerente ao capitalismo.
O fato de que enquanto a produção em si é cada vez mais socializada, o 
resultado do trabalho coletivo, a apropriação, é privado, individual. O trabalho 
cria, o capital se apropria. No capitalismo, a criação pelo trabalho já se 
tornou uma empresa conjunta, um processo cooperativo com milhares de 
operários trabalhando em conjunto (frequentemente, para produzir apenas 
uma coisa, como por exemplo o automóvel). Mas os produtos, socialmente 
46
Unidade II
produzidos, são apropriados não pelos seus produtores, mas pelos donos 
dos meios de produção – os capitalistas. E ai está o problema – a origem 
do conflito. A produção socializada contra a apropriação capitalista 
(HUBERMAN, 1974, p. 293).
Em O Capital, Marx definiu o eixo fundamental que caracterizaria seu pensamento: a base do 
capitalismo era a exploração da força de trabalho e a obtenção de mais‑valia, uma reduzida parcela 
do trabalho do proletário era destinada ao pagamento do seu salário, sendo o restante revertido em 
lucro para o proprietário dos meios de produção. E, justamente em função desse processo, o sistema 
capitalista estava fadado à destruição. A produção não planejada, a desorganização do sistema e as 
constantes oscilações de preços seriam responsáveis por essa derrocada. Ao considerar o determinismo 
histórico e as condições de desenvolvimento do capital, Marx declarou: o capitalismo se destruiria por 
si mesmo.
O sistema, simplesmente, era complexo demais; desencaixava‑se de maneira 
constante, perdia o ritmo, produzia determinada mercadoria em excesso e 
outra de menos. A segunda, o capitalismo deveria produzir seu sucessor 
sem o saber. Dentro de suas grandes fábricas ele precisaria não apenas criar 
a base técnica para o socialismo — produção racionalmente planejada —, 
mas teria, além disso, que criar uma classe bem treinada e disciplinada 
que viria a ser o agente do socialismo, o amargurado proletariado. Por sua 
própria essência dinâmica, o capitalismo iria produzir a própria queda e, no 
processo, alimentaria o inimigo (HEILBRONER, 1996, p. 141).
Figura 4 – O Capital, de Karl Marx
47
TEORIA DA HISTÓRIA
 Saiba mais
Para saber mais, no dicionário a seguir, pesquise: 
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. 3. ed. São 
Paulo: Contexto, 2007.
Busque os termos:
• marxismo, p. 267;
• comunismo, p. 70;
• dialética, p. 97;
• discurso, p. 101;
• burguesia, p. 94;
• modo de produção, p. 301;
• capitalismo, p. 43.
Em sua análise, Marx concluiu: a única forma de o capitalista sobreviver era acumulando cada vez 
mais capital. No entanto, a concentração econômica provocava a queda da taxa de lucro. Como a taxa 
de lucro tendia à diminuição, a única forma de compensar essa queda era aumentar a exploração do 
trabalhador, mantendo os salários ao nível de subsistência. Os operários sem emprego formariam o 
exército industrial de reserva e competiriam pelos poucos postos de trabalho. Aos operários, portanto, 
apenas restava destruir o capitalismo.
Além da análise do funcionamento da economia capitalista, Marx também propôs um método de 
investigação (o materialismo histórico) que, posteriormente, serviu de instrumental para várias outras 
áreas do saber e deu início a uma corrente de pensamento que, ainda hoje, se revela muito influente. 
Seu ponto de partida foi a reflexão sobre o sistema filosófico de Hegel e, por meio dela, Marx elaborou 
sua dialética filosófica como forma de crítica interventora.
“A concepção materialista da História”, escreveu Engels, [...] “origina‑se do 
princípio que a produção, e com a produção a troca de seus produtos, é a 
base de toda ordem social; que em cada sociedade que apareceu na História 
a distribuição dos produtos, e com ela a divisão da sociedade em classes ou 
estados, é determinada pelo que é produzido, como é produzido e como 
o produto é trocado. De acordo com esta concepção, as causas finais das 
mudanças sociais e das revoluções políticas devem ser vistas, não na mente 
dos homens nem em seu crescente impulso em direção da eterna verdade 
e da justiça, mas sim nas mudanças das maneiras de produção e de troca; 
48
Unidade II
devem ser vistas não por meio da filosofia, mas sim da economia da época 
concernente” (HEILBRONER, 1996, p. 138).
Para Prado Júnior (1973), embora Marx raramente tenha discursado sobre o seu método de trabalho, 
a aplicação de seus pressupostos epistemológicos permitem que refaçamos o caminho da teoria do 
conhecimento que o norteou. Em outras palavras: ele não discorreu sobre o método, apenas o utilizou.
Quando ele discute método ele o faz sempre conectando a discussão do 
método a um objeto preciso. Isso por uma razão óbvia: na medida em que 
põe a teoria como reprodução ideal do movimento real do objeto, a relação 
do sujeito que queira reproduzi‑lo (o objeto) não pode ser aleatória, mas 
deve ser uma relação determinada, numa perspectiva que permita apreender 
a dinâmica do objeto (NETTO, 1998, p. 79).
A metaleitura de sua obra, portanto, possibilita que entendamos que, para ele, o conhecimento 
resultava das construções efetuadas pelo pensamento e pelas suas operações: esse conhecimento surgia 
a partir da apreensão da realidade e que, compreendida pelo pensamento, tornava‑se conhecimento. 
De que forma a realidade era apreendida? Por meio da análise das relações existentes entre os objetos 
(PRADO JÚNIOR, 1973).
Segundo Prado Júnior (1973), de fato, para Marx, não se tratava de compreender individualmente 
cada objeto, mas de ser capaz de entender as relações existentes entre os vários objetos que criavamuma nova unidade: os objetos se entrosavam e se fundiam numa nova totalidade, diferente da soma 
deles ou de suas individualidades. Essa “unidade na diversidade” tornava‑se algo concreto e foi esse o 
caminho que Marx percorreu para compreender o sistema capitalista.
Inicialmente, Marx considerou tratar‑se o capitalismo de um sistema, um conjunto em que os 
elementos se integravam numa unidade, embora cada um dos elementos pudesse ser compreendido em 
função de sua individualidade. Dessa forma, o capitalismo seria uma forma de organização econômica 
em que diferentes agentes se inter‑relacionavam e se comunicavam. O papel que cada um dos agentes 
desempenhava dependia do papel que os demais desempenhavam. Assim, capital era capital porque era 
investido em atividades produtivas, comprando força de trabalho. De outra forma: o capital não seria 
capital sem a força de trabalho. A força de trabalho não faria sentido algum tomada individualmente; 
ela só era força de trabalho quando pensada como insumo de produção que o capitalista iria adquirir 
para produzir mercadorias.
Na obra marxiana, o conhecimento avançou na medida em que essas relações foram determinadas 
progressivamente. As coisas não precisavam ser conhecidas na sua essência; era necessário conhecer 
as relações existentes entre elas, sendo essas relações representadas mentalmente por meio de ideias 
e conceitos. Para Marx, o conjunto estava em constante transformação e nisso residia a dialética: 
tratava‑se de uma unidade em constante transformação (PRADO JÚNIOR, 1973).
Qual era o papel da Ciência? À Ciência caberia elaborar os conceitos que representariam as relações 
observadas na realidade. O conceito (o fato mental) era representativo do concreto (o fato real). Ao 
49
TEORIA DA HISTÓRIA
perceber a realidade, Marx a representou a partir das relações estabelecidas no processo social da 
produção, contexto em que cada uma das circunstâncias foi definida em termos de suas relações com 
as demais. Procedendo dessa forma, Marx apreendeu o funcionamento e a dinâmica do capitalismo.
Segundo Prado Júnior (1973), Marx não tratou de decompor o sistema, isolando as suas variáveis; 
ele apreendeu o funcionamento do sistema por meio da investigação das relações existentes entre as 
variáveis. A análise tornou‑se síntese, tal como a formulação de uma equação matemática que aponta 
a incógnita na presunção de sua posição relativa na totalidade da qual faz parte. Em termos modernos 
(quer dizer, não nos termos utilizados por Marx), esse método permitiu identificar o sincronismo 
(coincidência) das relações e o diacronismo (sucessão) existente entre elas.
Qual a incógnita da equação para Marx? A pergunta à qual ele se propõe a responder é sobre as 
formas a partir das quais se efetivava a exploração da mão de obra. Se para os economistas clássicos 
o salário era a justa retribuição devida ao trabalhador, como surgia então o lucro? Lembremos: para os 
clássicos, o valor de troca correspondia ao valor de trabalho. Se o trabalhador recebia seu salário em 
função do valor de troca de seu trabalho, como ocorria então a exploração e o surgimento do lucro?
Para Prado Júnior (1973), Marx ofereceu uma resposta a essa pergunta. A exploração ocorria por 
meio da apropriação da mais‑valia, forma de comportamento social que se encontrava disfarçada nas 
relações de produção capitalista. Ao fazer a arqueologia crítica das teorias clássicas (todas elas com 
base nos conceitos de valor de uso e valor de troca), Marx percebeu ser o trabalho uma mercadoria 
diferente: o trabalho era adquirido pelo capitalista e utilizado para a produção de mercadorias. As 
mercadorias eram vendidas e sua receita voltava para o capitalista. Em resumo, o trabalho era comprado 
do trabalhador por um preço (salário) e vendido no mercado, por meio das mercadorias produzidas, 
por outro. O trabalhador vendia seu trabalho pelo custo de sua sobrevivência, mas produzia mais do 
que o seu nível de subsistência. Assim, enquanto o trabalhador trabalhava para se manter, o capitalista 
utilizava esse recurso comprado para produzir mercadorias e auferir lucro; essa diferença de valor (entre 
o valor de troca do trabalhador e o valor de troca das mercadorias) surgia da apropriação das horas 
trabalhadas pelo operário, mas não pagas, ou seja, da mais‑valia.
Podemos resumir o pensamento marxiano desta maneira: partindo da teoria de valor dos clássicos, 
Marx aprofundou a análise do sistema capitalista por meio da investigação do processo social de 
trabalho. Essa investigação partiu do estudo das relações econômicas, sociais, políticas e ideológicas 
existentes dentro do processo social de produção, e que se apresentava como um momento do processo 
histórico da humanidade.
6 O MARXISMO E A PROPOSTA DE UMA TEORIA DA HISTÓRIA
Da mesma forma como a Escola Metódica havia pretendido criar uma história científica, o 
materialismo dialético de Marx buscou afirmar‑se como um método científico para a investigação 
do material histórico. Qual a base do materialismo histórico de Marx? Para ele, “o material histórico é 
analisável, observável, objetivável, quantificável. Esse material [...] são as ‘estruturas econômico‑sociais, 
consideradas a raiz de toda representação, de todo simbolismo, de todo o sentido de uma época” 
(REIS, 2004, p. 51).
50
Unidade II
[A realidade histórica] é regular e irregular, permanência e mudança, e 
sua abordagem precisa reconstruir a dialética de sua sincronia e de sua 
diacronia. Seu método de abordagem dessa ‘estrutura‑processo’ é ‘científico’ 
e consiste na descoberta da estrutura interna das formações sociais, o modo 
de produção, que se oculta sob o seu funcionamento visível; o modo de 
produção é uma estrutura invisível que subjaz e dá sentido às relações 
visíveis (REIS, 2004, p. 56).
A partir desse modelo, haveria uma ciência da História coerente, total e dinâmica, em vista das 
constantes mudanças às quais a humanidade estava sujeita. Sustentando essa teoria, o conjunto de três 
hipóteses construiria um sentido histórico, “racionalmente estruturado”:
a) a produtividade é a condição necessária da transformação histórica, isto 
é, se as forças produtivas não se modificam, a capacidade de criação da vida 
humana se imobiliza, e se elas se modificam tudo se move; b) as classes 
sociais, cuja luta constitui a própria trama da história, não se definiriam 
pela capacidade de consumo e pela renda, mas por sua situação no processo 
produtivo; c) a correspondência entre forças produtivas e relações de 
produção constitui o objeto principal da história‑ciência, que a aborda com 
os conceitos de ‘modo de produção’ e ‘formação social’ (VILAR, 1982 apud 
REIS, 2004, p. 52).
Para Marx, a realidade histórica era estruturada a partir de grupos humanos que ocupavam lugares 
contraditórios no sistema produtivo e que, por isso, entravam em conflito. “Permanência e mudança 
formam uma totalidade e se explicam reciprocamente. A abordagem da ‘realidade material’ seria ‘científica’. 
Aquela realidade é [...] algo em si, concreta, materialista” (REIS, 2004, p. 53). Para Marx, a história era
uma processualidade que porta[va] em si mesma uma especificidade 
primariamente independente das representações que dela fa[ziam] 
os sujeitos; segundo, esse processo [era] contraditório já que ele [era] 
marcado pela tensão entre os interesses sociais que circunscrev[iam] os 
diferentes sujeitos em presença; terceiro, [era] um processo com sujeitos 
[...], grupos sociais vinculados por interesses comuns; quarto, os projetos 
[eram] conduzidos por sujeitos determinados [...], segundo imperativos e 
possibilidades que se coloca[vam] concretamente nos espaços e tempos 
precisos; quinto, [eram] sujeitos conscientes [...]. E seis, [era] um processo [...] 
marcado pela ação dos sujeitos [com] finalidades, sendo pois um processo 
tencionado por sujeitos com suas próprias teleologias (NETTO, 1998, p. 76).
A teoria histórica marxista, portanto, pressupunha que a estrutura econômico‑social funcionavacomo eixo explicativo e condutor das mudanças históricas. As relações explicavam a história, e elas 
substituíam a sucessão cronológica de eventos como fio condutor da narrativa histórica. Não havia 
metafísica alguma no pensamento marxiano, embora possamos identificar uma ontologia que estava 
relacionada ao “ser”, representado pelas relações históricas determinadas. Dessa forma, o marxismo 
51
TEORIA DA HISTÓRIA
apresentava a história como se fosse um jogo de grandes massas, disputando espaço em direção a um 
movimento determinado pela história.
Cada objetivo do processo histórico respondia com um aparente paradoxo; os 
seus sujeitos atuavam com intencionalidades determinadas mas o processo 
em si mesmo carecia de intencionalidade, vale dizer, a história não tinha 
uma finalidade imanente e o reconhecimento daquelas intencionalidades, 
se quiser, os projetos que mobilizavam tais sujeitos, afirmavam a história 
como um espaço de tensão entre a necessidade posta pelas determinações 
sociais concretas e a liberdade posta pelo horizonte de fins que animavam os 
sujeitos, mas concretamente, afirmavam a história como um campo aberto 
de possibilidades (NETTO, 1998, p. 77).
Para Chauí (2007, p. 20), “Marx se esforçava para evidenciar a história como produção de um sentido 
no qual o destino da humanidade estava posto em jogo, porém, ao mesmo tempo, não cessava de 
descrever as forças mobilizadas para desarmar os efeitos do novo”.
A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a 
história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão 
e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e 
oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, 
ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma 
transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das 
duas classes em luta (MARX; ENGELS, 1999, p. 7).
Segundo Reis (2004), a ciência histórica marxista se apoiou nos seguintes pressupostos:
• os conflitos sociais eram investigados a partir das contradições que apresentam. Não havia 
unidade, harmonia ou continuidade subjacentes; havia luta e movimentos de oposição;
• a estrutura sobre a qual a sociedade se organizava era feita de contradições que levariam ao 
surgimento de outra estrutura. “A realidade histórica é uma ‘estrutura em processo’, pois 
internamente contraditória” (REIS, 2004, p. 56);
• os homens construíam a história, não sendo ela fruto da ação de qualquer agente metafísico.
Para Marx, a história da humanidade era a história da luta de classes. Não apenas isso: essa história 
apresentava sucessivos modos de produção, de forma quase evolutiva, sendo que o seguinte sempre 
surgia a partir das contradições de seu anterior. Assim, essa história também seria fruto das revoluções 
e de movimentos de ruptura. “Evolução e revolução formariam a estrutura do ‘desenvolvimento’ da 
história em direção à síntese qualitativa superior no futuro” (REIS, 2004, p. 59).
Em Marx não há um determinismo no sentido de imaginar a história com teleologia. Os 
sujeitos históricos operam teleologicamente, mas a história não tem teleologia. O aspecto 
52
Unidade II
final é a ideia de evolucionismo. É claro que Marx tem uma leitura evolutiva da sociedade 
humana, quanto a isso não resta a menor dúvida. O que me parece fundamental é distinguir 
uma concepção evolutiva de uma concepção evolucionista, que supõe que haja uma teleologia 
já contida no princípio (NETTO, 1998, p. 83).
 Observação
Caso queiramos entender o marxismo como uma filosofia da história 
(e essa é uma das críticas que os historiadores não marxistas fazem em 
relação ao pensamento marxiano), identificaremos em seu escopo traços 
dos iluministas, de Comte e até mesmo de Darwin.
Para Marx, a história era uma sucessão de processos particulares que ocorriam depois de uma ruptura 
e provocando, mais adiante, outra ruptura. Para a burguesia, esse pensamento era uma ameaça, já que 
vaticinava a derrota de quem, um dia, derrotou outra classe. “O presente é consumido pelo futuro, não 
pela evolução gradual e pacífica, mas pela ‘crise permanente’” (REIS, 2004, p. 64).
A exploração do passado conduziu Marx a reduzir a história a leis essenciais, 
chaves de uma mecânica que se repetiria rigorosamente durante o período 
da evolução. No marxismo, a classe dos explorados destruía a classe dos 
exploradores e a tirava do poder; e esta superação estava ligada não a 
uma vontade de potência, a uma maturidade moral, mas a um estado de 
desenvolvimento econômico‑técnico. A burguesia eliminaria a nobreza 
graças à substituição pelo capitalismo comercial da economia senhorial. 
O proletariado eliminaria a burguesia quando a propriedade social tivesse 
substituído a propriedade individual (ARIÈS, 1989, p. 37).
Para Chauí (2007), no pensamento de Marx estão presentes e se opõem duas visões distintas 
da história: a transformação e a repetição. Assim, em termos teóricos, o tratamento que Marx deu 
à história requer que se faça uma distinção entre devir e desenvolvimento: o devir representava a 
sucessão dos modos de produção, enquanto o desenvolvimento era o movimento interno daquele 
modo de produção. Assim, o devir dizia respeito ao surgimento de um modo de produção, enquanto o 
desenvolvimento dizia respeito ao movimento cíclico que determinado modo de produção realizava, 
repondo seus pressupostos e, de forma dialética, transformando‑se a cada ciclo e se complementando 
a partir do momento em que surgia uma nova contradição, que não podia ser resolvida sem a 
destruição do modo de produção.
O fio que tece a história é o desenvolvimento das forças produtivas, 
desenvolvimento que é contraditório com as relações sociais de produção e 
por isso o fio é rompido pela luta de classes. Esse fio produz o movimento 
imanente ou o desenvolvimento de uma forma singular, um modo de 
produção determinado, e a ruptura desse fio pela luta de classes engendra o 
devir histórico dos modos de produção (CHAUÍ, 2007, p. 11).
53
TEORIA DA HISTÓRIA
Por isso, não era possível que o historiador escondesse suas opções, escolhas e perspectivas de 
classe. Cada indivíduo pertencia a determinadas classes sociais e o mesmo ocorria para o historiador, 
que não podia ficar alheio às tensões, conflitos e lutas entre classes. Para o marxismo, a verdade estava 
submetida ao interesse social, da mesma forma como a ele se submetia o falseamento.
Para Marx, o sujeito do conhecimento deve assumir integralmente sua 
subjetividade e admitir que sempre sustenta um ponto de vista parcial, e 
que não pode produzir um discurso universal. O universal puro é impensável, 
pois não há sujeito que possa ter uma visão universal, global, da realidade 
social (REIS, 2000, p. 334).
Assim, conhecer era tomar partido; o conhecimento teórico era necessariamente conhecimento 
político. Se a categoria fundante do pensamento de Marx era a categoria de classes, isso significava 
estar o sujeito autoimplicado no objeto. “Não há uma relação de exterioridade na pesquisa do social, na 
pesquisa do sócio‑histórico, na pesquisa do cultural, há uma relação de autoimplicação, que não é uma 
relação de identidade, mas uma relação de unidade” (NETTO, 1998, p. 81).
O marxismo chega a um enunciado surpreendente: a parcialidade a favor da 
classe revolucionária corresponderia à objetividade no conhecimento social e 
histórico, pois essa classe não tem ‘interesse’ em esconder as divisões da realidade, 
em ocultar o processo social, pelo contrário, tem interesse em revelá‑la em toda 
sua contraditoriedade, em seu caráter tenso, conflitual (REIS, 2004, p. 66).
6.1 O marxismo inglês
Dentre todas as correntes do marxismo que se desenvolveram ao longo do século XX, interessa‑nos 
falar sobre a vertente inglesa, presente nos mais importantes manuais de História e de grande importância 
nos cursos de História das universidades ocidentais. E, para que possamos falar sobre o marxismo inglês, 
faz‑se necessárioresgatarmos os rumos tomados pela Revolução Russa de 1917.
Essa revolução ocorreu quando da piora significativa da situação econômica russa em função do 
envolvimento do país na I Guerra Mundial: saques, racionamento e miséria faziam parte do dia a dia 
do povo russo que, insatisfeito, organizava‑se politicamente. A Rússia havia mantido a estrutura feudal 
baseada nas grandes propriedades de terra e no uso de mão de obra servil. A vida dos camponeses não 
poderia ser mais aviltante.
A derrubada do czar conduziu ao poder a burguesia, que tinha como projeto transformar a Rússia 
em um estado liberal. O novo governo pretendia manter o país na guerra, mas a Rússia estava esgotada. 
Além disso, os problemas econômicos eram inúmeros e os soldados, descalços na frente de guerra e sem 
qualquer munição, desertavam.
Por força da perseguição do Governo Provisório, Lênin (1870 – 1924) se refugiou na Finlândia. 
Quando retornou, começou a preparar o povo para uma revolta armada. Em 1917, os bolcheviques 
e Lênin tomaram o poder. As grandes propriedades foram confiscadas e as fábricas passaram a ser 
controladas por comitês de trabalhadores.
54
Unidade II
 Saiba mais
Para mais informações, leia:
MATTAR, J. Introdução à filosofia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 
2010. Cap. 6, item 6.8 – Marxismo, p. 94.
Ver também:
Marx – o peso da economia. Materialismo Histórico. In: FERRÉOL, G. 
Introdução à sociologia. São Paulo: Ática, 2007. p. 23 e seguintes.
Figura 5 – Lênin, líder da Revolução Russa
 Saiba mais
Sugerimos o filme:
REDS. Dir. Warren Beatty. Estados Unidos, 1981. 194 min.
Sugerimos a leitura:
SEGRILLO, A. Os russos. São Paulo: Contexto, 2011. 
55
TEORIA DA HISTÓRIA
Em 1922, vários estados que haviam se separado da Rússia durante a Revolução voltaram a se reunir, 
formando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Figura 6 – Criação da União Soviética
A partir de 1924 (e até 1953), a URSS foi governada por Josef Stálin (1879 – 1953). Stálin foi 
responsável pela organização de um estado burocratizado e extremamente autoritário, tendo promovido 
uma implacável perseguição aos seus opositores.
Figura 7 – Joseph Stálin, líder soviético de 1929 a 1953
56
Unidade II
Entre os que foram perseguidos, estava Trótsky. Trótsky (1879 – 1940) discordava da ascensão de 
Stálin na estrutura burocratizada do partido e também tinha opiniões contrárias ao companheiro em 
relação à expansão da revolução: Stálin desejava mantê‑la na URSS, enquanto Trótsky queria vê‑la 
disseminada por todos os cantos do mundo.
Em 1929, Trótsky foi banido da União Soviética. Em 1938, no México, escreveu o panfleto que deu 
origem ao programa de fundação da 4ª Internacional Comunista. Em 1940, um agente infiltrado por 
Stálin invadiu a residência de Trótsky no México e o matou com uma picareta.
Figura 8 – Leon Trótsky, que disputou com Stálin o controle do governo 
da URSS, exilou‑se no México, onde foi assassinado
 Saiba mais
Sugerimos o filme:
O ASSASSINATO de Trotsky. Dir. Joseph Losey. Itália: Cinerama Releasing 
Corporation, 1972. 103 min.
Por que esse tópico sobre o marxismo inglês está sendo precedido da narrativa sobre a Revolução 
de 1917? A explicação é simples: a Teoria de História de Marx não se prestou unicamente a oferecer 
um método para o trabalho historiográfico. Ela serviu também como base para a criação de um 
modelo de Estado no qual a propriedade privada foi abolida. Por meio de uma revolução, a posse 
dos meios de produção deixou as mãos dos capitalistas para ir para as mãos do Estado, quer dizer, 
para as mãos dos trabalhadores.
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TEORIA DA HISTÓRIA
Esse foi o princípio norteador: se antes a mais‑valia era extraída dos capitalistas que possuíam 
os meios de produção, agora o Estado se apropriaria dela, devolvendo‑a aos trabalhadores. Se tudo 
pertencia ao Estado, tudo pertencia aos trabalhadores. No entanto, os desdobramentos da Revolução 
causaram desconforto entre alguns intelectuais, em particular quando dos assassinatos promovidos por 
Stálin no afã de se livrar dos opositores. Como a elite acadêmica podia fazer a apologia de um corpus 
teórico que servia de suporte para um sistema que promovia tanta morte?
A partir de Stálin,
o marxismo‑leninismo torna‑se um sistema ideológico cuja função é 
justificar a ditadura do partido‑Estado. Dado que encarna a classe operária, 
dado que fez a revolução, dado que determina o curso da história, o partido 
comunista não pode enganar‑se. O seu saber legitima o seu poder. (...) De 
imediato, o materialismo histórico é promovido à categoria de ciência exata, 
capaz de estabelecer leis permitindo conhecer o passado e prever o futuro 
(BOURDÉ; MARTIN, 1990, p. 169).
 Observação
Em 1956, Nikita Khrushchov denunciou os crimes de Stálin, calculando 
que pelo menos quatro milhões de pessoas haviam sido assassinadas por 
motivos políticos.
Em meio à luta de classes, o Partido Comunista ganhou um papel de importância. Estar contra ele 
era estar contra a revolução. Estar contra ele era estar a favor da burguesia liberal, insatisfeita com a 
chegada dos operários ao poder. Foi preciso “esperar o fim dos anos 1950 e o início dos anos 1960 para 
que as obras de A. Gramsci, O. Bauer, G. Lukács e outros autores, que mantiveram viva a reflexão marxista 
apesar da esclerose estalinista, sejam conhecidas e discutidas nos círculos de militantes” (BOURDÉ; 
MARTIN, 1990, p. 173).
A Guerra Fria adicionou mais um componente de tensão entre os que haviam dado continuidade 
à tradição da análise histórica marxista: agora não mais aliados na luta contra o nazismo, os países 
capitalistas e socialistas se colocavam em estado de latente conflito, disputando áreas de influência na 
Terra e as estrelas no espaço. Como conciliar esse conflito com a adoção de uma corrente metodológica 
para investigar os fatos históricos?
É provável que os marxistas ingleses tenham conseguido superar esse dilema por meio do 
distanciamento em relação às questões políticas soviéticas. Assim, temos inúmeros historiadores ingleses 
marxistas que trataram de avançar nas críticas e contribuições à teoria de Marx, entre eles Christopher 
Hill, John Saville, Raphael Samuel, Raymond Williams, Eric Hobsbawm e Edward Thompson, pensadores 
que formaram, sob a influência de Maurice Dobb, o grupo dos “marxistas humanistas”.
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Unidade II
Figura 9 – O historiador marxista inglês Eric Hobsbawm (1917 – 2012)
A partir da tradição marxista, esses intelectuais buscaram debater os conceitos de classe social e 
luta de classes. Em especial, desenvolveram obras que buscavam compreender o “aburguesamento” 
da classe operária em função da diminuição das disparidades na distribuição de renda e do aumento 
do poder de consumo dos trabalhadores. Grande parte desses estudos visava compreender os 
motivos do contínuo antagonismo entre operários e administradores ou pessoas de classes sociais 
mais privilegiadas.
Com exceção de Hobsbawm e Dobb, a maior parte dos intelectuais ingleses procurou se afastar do 
Partido Comunista por ocasião da invasão da Hungria.
Esse distanciamento, de alguma forma, salvou a produção intelectual desses pensadores, agora não 
mais comprometidos em justificar a política do Estado soviético. Tratava‑se, àquele momento, de fazer 
avançar a análise marxista, revisitando o materialismo histórico como fez, por exemplo, Thompson 
(MATTOS, 2006).
Em 1957, com a publicação de Socialist Humanism, Thompson indicou que a 
dicotomia base‑superestrutura levava a um modelo estático e determinista, 
o qual operaria de forma autônoma, independente da ação humana 
consciente, levando o marxismo ortodoxo a afastar‑se dos homens e 
mulheres reais. Neste texto, já podem ser encontradas as bases da produção 
thompsoniana futura, a qual, rejeitando o aprisionamento ao determinismo 
econômico, buscava a construção de um modelo analítico que resgatasse 
a ação humana e a complexidade das relações socioculturais no estudo da 
história (MUNHOZ, 2007, p. 154).
59
TEORIA DA HISTÓRIAObservação
Em 1963, Thompson publicou A Formação da Classe Operária, obra 
que o colocou na posição de grande historiador. Às vezes chamado de 
“culturalista”, Thompson buscou desenvolver um trabalho bastante original, 
abrangendo a política popular, as tradições religiosas, os rituais, os hinos, as 
danças e as bandeiras (MUNHOZ, 2007, p. 154).
Vários outros pensadores marxistas ingleses deixaram sua marca no conjunto de obras históricas. 
A influência deles marcou o pensamento historiográfico de tal forma que é praticamente impossível 
falar de teoria da história sem estudar com profundidade o pensamento marxiano e as correntes que 
dele derivaram.
 Resumo
No contexto do final do século XIX e início do século XX, Marx 
desenvolveu uma obra que, ainda hoje, marca de maneira profunda o 
trabalho dos historiadores. Marx partiu da seguinte constatação: havia uma 
contradição inerente ao capitalismo já que, enquanto o trabalho criava, o 
capital apenas se apropriava.
Em O Capital, Marx definiu o eixo fundamental que caracterizaria seu 
pensamento: a base do capitalismo era a exploração da força de trabalho e 
a obtenção de mais‑valia: uma reduzida parcela do trabalho do proletário 
era destinada ao pagamento do seu salário, sendo o restante revertido em 
lucro para o proprietário dos meios de produção. O trabalhador vendia 
seu trabalho pelo custo de sua sobrevivência, mas produzia mais do que o 
seu nível de subsistência. Assim, enquanto o trabalhador trabalhava para 
se manter, o capitalista utilizava esse recurso comprado para produzir 
mercadorias e auferir lucro; essa diferença de valor (entre o valor de troca 
do trabalhador e o valor de troca das mercadorias) surgia da apropriação 
das horas trabalhadas pelo operário, mas não pagas, ou seja, da mais‑valia.
Em sua análise, Marx concluiu: a única forma de o capitalista sobreviver 
era acumulando cada vez mais capital. Contudo, a concentração econômica 
provocava a queda da taxa de lucro e, como a taxa de lucro tendia à diminuição, 
a única forma de compensar essa queda era aumentar a exploração do trabalhador, 
mantendo os salários ao nível de subsistência. Aos operários, portanto, apenas 
restava destruir o capitalismo.
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Unidade II
Embora Marx raramente tenha discursado sobre o seu método de 
trabalho, a aplicação de seus pressupostos epistemológicos permitem 
que refaçamos o caminho da teoria do conhecimento que o norteou. 
Em outras palavras: ele não discorreu sobre o método, apenas o utilizou.
Para Marx, o conhecimento surgia a partir da apreensão da realidade e 
que, compreendido pelo pensamento, tornava‑se conhecimento. A realidade 
era apreendida por meio da análise das relações existentes entre os objetos; 
assim, as relações existentes entre os vários objetos criavam uma nova 
unidade. Essa “unidade na diversidade” tornava‑se algo concreto e foi esse o 
caminho que Marx percorreu para compreender o sistema capitalista.
Qual era o papel da Ciência? À Ciência caberia elaborar os conceitos 
que representarão as relações observadas na realidade. O conceito (o fato 
mental) era representativo do concreto (o fato real). Ao perceber a realidade, 
Marx a representou a partir das relações estabelecidas no processo social 
da produção, contexto em que cada uma das circunstâncias foi definida em 
termos de suas relações com as demais.
A teoria histórica marxista, portanto, pressupunha que a estrutura 
econômico‑social funcionava como eixo explicativo e condutor 
das mudanças históricas. As relações explicavam a história, e elas 
substituíam a sucessão cronológica de eventos como fio condutor da 
narrativa histórica.
Dentre as várias correntes que se desenvolveram a partir da obra de 
Marx, demos destaque aos marxistas ingleses que trataram de avançar 
nas críticas e contribuições à teoria marxiana, entre eles Christopher Hill, 
John Saville, Raphael Samuel, Raymond Williams, Eric Hobsbawm e Edward 
Thompson, pensadores que formaram, sob a influência de Maurice Dobb, o 
grupo dos “marxistas humanistas”.
A partir da tradição marxista, esses intelectuais buscaram debater os 
conceitos de classe social e luta de classes.
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TEORIA DA HISTÓRIA
 Exercícios
Questão 1. Em O Capital, Marx fez uma inestimável contribuição à economia e ao método dialético, 
retirando‑o de sua matriz idealista e reconhecendo‑o como o movimento geral das forças produtivas 
ao longo da História. É uma obra que surgiu em meio às agitações operárias que abalaram a Europa 
pós‑1848. Apesar de ser um livro bastante complexo, podemos concluir que, em linhas gerais, seu eixo 
norteador passa pela:
A) exploração do trabalho e pela obtenção da mais‑valia, ou seja, a produção de lucro mediante a 
alienação do trabalho do operário; tal situação, no entanto, contribuiria para a própria derrocada 
do sistema.
B) ideia da não intervenção do Estado na economia, o que garantiria a prosperidade geral e a 
limitação da exploração do trabalho pela burguesia.
C) noção de que a sociedade é um todo coerente e que o conflito social é uma anomalia que deve 
ser superada pela Revolução Socialista.
D) economia como um fenômeno a ser analisado em separado da política e da cultura.
E) ideia de que um Espírito Universal se manifesta dialeticamente na história em busca de 
autorrealização, mediante a ação dos homens.
Resposta correta: alternativa A.
Análise das alternativas
A) Alternativa correta.
Justificativa: o capitalismo possui a semente de sua própria destruição, segundo Marx. A exploração 
do trabalho, a oscilação de preços, as constantes crises e o próprio mecanismo concorrencial levariam o 
capitalismo à destruição mediante uma revolução operária.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a alternativa refere‑se ao ideal liberal, extremamente caro à burguesia, que pauta seus 
esforços pela ideia de oferta e procura, ou seja, pela lei geral do mercado.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a alternativa se refere à ideia de Durkheim, explicitada em sua obra Da divisão social do 
trabalho. Opõe‑se às ideias de Marx, que considerava o conflito entre classes como inerente à sociedade.
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Unidade II
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: para Marx, a infraestrutura (a economia) determina os outros fenômenos sociais, como 
a política – a favor dos detentores do capital ‑ e a cultura – que produz a ideologia, cujo objetivo seria 
legitimar a dominação de classe.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: tal questão aproxima‑se da dialética hegeliana, à qual Marx buscou criticar aplicando 
a lógica dialética às forças produtivas. Assim, seu método materialista se opõe ao método idealista 
de Hegel.
Questão 2. (Enade 2011) A forma mercadoria e a relação de valor dos produtos de trabalho, na 
qual ele se representa, não têm que ver absolutamente nada com sua natureza física e com as relações 
materiais que daí se originam. Não é mais nada que determinada relação social entre os próprios homens 
que para eles assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Por isso, para encontrar uma 
analogia, temos de nos deslocar à região nebulosa do mundo da religião. Aqui, os produtos do cérebro 
humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas, que mantêm relações entre si e com os 
homens. Assim, no mundo das mercadorias, acontece com os produtos da mão humana. Isso eu chamo 
o fetichismo que adere aos produtos de trabalho, tão logo são produzidos como mercadorias, e que, por 
isso, é inseparável da produção de mercadorias.
MARX, K. O Capital. Trad. Regis Barbosa e Flávio Kothe. São Paulo: Abril Cultural, 1983. Livro I, Vol. 1, p. 71.
Considerando o texto apresentado e a abordagem de Marx acerca da relação de trabalho, avalie as 
afirmações que se seguem. 
I − A religião é um poderoso instrumento de análise e denúncia da escravidão e exploração nas 
relações de trabalho e tem um significativo papel para explicar os verdadeiros conteúdos existenciais do 
ser humano.
II − No modo de produção capitalista, o trabalho adquire uma dimensão abstrata,que leva ao 
falseamento da sua verdadeira dimensão, e à fetichização da mercadoria, que oculta as dimensões 
sociais do trabalho.
III − Marx, com sua investigação sobre a relação mercadoria e trabalho, sinaliza que, na forma de 
produção estabelecida pelo capitalismo, o homem perde seu valor como ser humano e passa a ter valor 
apenas por aquilo que consegue produzir.
IV − O texto leva ao entendimento de que a mercadoria determina as novas relações sociais, 
com isso, seres humanos também se tornam mercadorias alienadas, com valores predeterminados 
e preestabelecidos, que serão julgados pelo seu poder financeiro ou pela sua força de trabalho.
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TEORIA DA HISTÓRIA
É correto apenas o que se afirma em:
A) I e II.
B) II e III.
C) I, II e IV.
D) I, III e IV.
E) II, III e IV.
Resposta correta: alternativa E.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: na perspectiva marxista, a religião não tem o poder de explicar os verdadeiros conteúdos 
existenciais do ser humanos, sendo tão somente um instrumento ideológico de controle das classes 
detentoras do capital para justificar sua dominação.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: segundo Marx, o trabalho inserido nos objetos é oculto e a mercadoria, por fatores 
diversos, parece surgida ao acaso. O trabalho humano é subtraído da visão imediata.
III – Afirmativa correta.
Justificativa: uma vez inserido na lógica capitalista de produção, o trabalhador é alienado de seu 
próprio trabalho e passa a ser apenas uma engrenagem a mais na linha de produção.
IV – Afirmativa correta.
Justificativa: o ser humano, como mercadoria, está sujeito, portanto, às leis do mercado, e seu salário 
será sempre menor do que o trabalho exercido. Tal situação levaria inevitavelmente à revolução e, 
consequentemente, ao desenrolar do processo histórico.

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