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Projeto de Recuperação Final – 1ª Série EM GRAMÁTICA MATÉRIA A SER ESTUDADA VOLUME CAPÍTULO ASSUNTO 3 10 Substantivo 4 13 Pronomes 4 14 Morfossintaxe dos Pronomes 5 15 Adjetivo 5 18 Verbo 5 19 Vozes e aspecto Verbal 6 20 Emprego das Formas Verbais 6 21- texto Polissemia LISTA DE EXERCÍCIOS PARA ENTREGAR 1. Apelo Dalton Trevisan Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho. Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia. Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor. Observando este período, responda: Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. a) Que tipo de relação se estabelece entre as duas orações por meio da conjunção E? b) Como pode ser justificado o emprego do segundo verbo do período no presente, enquanto o primeiro se apresenta no pretérito? 2. PESQUISA Mário Quintana Na gostosa penumbra da Biblioteca Municipal leio velhos jornais e dos anúncios prescritos das novidades caducas dos poetas mortos há tanto tempo que parecem de novo estreantes das ferocíssimas batalhas políticas do ano de 1910 - brotam como balões meus sábados azuis. As horas bebidas aos goles (num copo azul) e as ruas de poeira e sol onde bailam sozinhos os meus sapatos de colegial. a) A leitura atenta do poema de Mário Quintana permite que se identifiquem, de maneira clara, referências a dois momentos diferentes: o presente e o passado. Transcreva palavras e expressões do poema que remetem a esses dois momentos. b) Como se explica que, no poema, formas verbais no presente possam fazer referência tanto ao tempo presente quanto ao tempo passado? 3. Aves de rapina Há muitos anos que os caminhos se arrastavam subindo para as montanhas. Percorriam as florestas perseguindo a distância, longos e lentos deslizavam nas planícies. Passaram chuvas, passaram ventos, Passaram sombras aladas… Um dia os aviões surgiram e libertaram a distância, Os aviões desceram e levaram os caminhos. a) Na primeira estrofe, fala-se do passado como o tempo dos acontecimentos que deslizavam “lentos e longos.” O emprego do pretérito imperfeito e o uso do gerúndio reforçam essa ideia. Explique por quê. b) Por meio do título o poema apresenta ao leitor uma avaliação sobre o progresso. Essa avaliação é positiva ou negativa? Justifique sua resposta, a partir de uma passagem do poema. 4. Leia a propaganda abaixo, publicada na revista VEJA, em 17/11/99, e responda às perguntas: EU GRAVO, EU ASSISTO EU OUÇO, EU DANÇO, EU PENDURONA PAREDE, EU DECORO MINHA CASA, EU LEVO PARA VIAJAR, EU LIGO, EU FAÇO A FESTA, E DOU O SHOW. EU E A PHILIPS a) Qual o tempo verbal predominante nesse anúncio? b) Qual o sentido desse tempo verbal nesse anúncio? c) Por que razão você acredita que se preferiu utilizar nesse anúncio esse sentido desse tempo verbal? Que contribuição a mensagem anunciada ganha com essa forma verbal? d) Há uma repetição excessiva do pronome pessoal EU durante o anúncio. No entanto, no final, constatamos que o sujeito, na verdade, são dois: EU E A PHILIPS. Justifique esse procedimento, mostrando as vantagens que ele traz para o anúncio. 5. (...) Num tempo página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória Das nossas novas gerações Dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída Em tenebrosas transações (...) a) É correto afirmar que o verbo DORMIA tem uma conotação positiva ou negativa, tendo em vista o contexto em que ocorre? Justifique sua resposta. b) O verbo dormia apresenta-se em qual tempo e modo? Justifique seu uso no contexto do poema. 6. Em um jornal de circulação restrita, vemos, na capa, a seguinte chamada: Inspire saúde! Sem fumar, respire aliviado! No interior do Jornal, a matéria começa da seguinte forma: Desperte o não-fumante que há em você!, seguida logo adiante de O fumante passivo – aquele que não fuma, mas freqüenta ambientes poluídos pela fumaça do cigarro – também tem sua saúde prejudicada. Jornal da Cassi – Publicação da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, ano IX, n. 40, junho/julho de 2004. Levando em consideração os trechos citados, observamos, na chamada da capa, um interessante jogo polissêmico. a) Apresente dois sentidos de ‘Inspire’ em ‘Inspire saúde!’. Justifique. b) Apresente dois sentidos de ‘aliviado’ em ‘respire aliviado!’. Justifique 7. (...) Ainda é cedo, amor Mal começaste a conhecer a vida Já anuncias a hora de partida Sem saber mesmo o rumo que irás tomar Preste atenção, querida Embora eu saiba que estás resolvida Em cada esquina cai um pouco a tua vida Em pouco tempo não serás mais o que és (...) Na linguagem coloquial do Brasil, ocorre com frequência a mistura de tratamento. Transcreva a forma do texto incorretamente empregada e reescreva-a de forma correta. Justifique sua resposta. 8. A China detonou uma bomba e pouca gente percebeu o estrago que ela causou. Assim que abriu as portas para as multinacionais oferecendo mão-de-obra e custos muito baratos, o país enfraqueceu as relações de trabalho no mundo. Em uma recente análise, a revista inglesa The Economist mostra que a entrada da China, da Índia e da ex-União Soviética na economia mundial dobrou a força de trabalho.Com isso, o poder de barganha de sindicatos do mundo inteiro teria se esfacelado. Provavelmente por isso, diz a revista, salários e benefícios tenham crescido apenas 11% desde 2001 nas empresas privadas dos Estados Unidos, ante 17% nos cinco anos anteriores. (Você s/a, setembro de 2005) a) Transcreva uma oração do texto introduzida pelo pronome relativo que. b) Qual é o antecedente desse pronome, isto é, a palavra a que ele se refere? 9. . Complete as frases com os verbos indicados entre parênteses. “Se você ________ (vir) à exposição e se ________ (dispor) a visitar o terceiro andar, poderá notar duas grandes fotos iluminadas. Quando as ________ (ver),observe seus efeitos de luz e sombra. para bem comparar a técnica utilizada, será conveniente que você ________ (manter-se) a uma boa distância. Se isso não ________ (satisfazer) sua curiosidade, poderá adotar outra perspectiva. 10. O termo ONDE encontra-se corretamente empregado na frase: a) A suspeita de falsificação nasceu por causa daquela folha onde havia uma rasura. b) Não sei onde foi que te decepcionei: ao não responder à tua carta? Ao não me desculpar por isso? c) Nos piores momentos é onde podemos reconhecer os verdadeiros amigos. d) Não tenho saudades de minha infância, onde sofri tantas injustiças. e) À saída dos torcedores é onde costuma haver muito tumulto. 11. Indicar a ÚNICA frase correta na relação a seguir: a) O rapaz colocou-se entre eu e você; b) Entre mim e você há um grande segredo; c) Aquela notícia chegou até eu; d) Você trouxe o livro para mim ler; e) Nunca vi ele tão zangado. 12. Dê os adjetivos equivalentesàs expressões em destaque. a) programa da tarde b) ciclo da vida c) representante dos alunos 13. Leia os textos abaixo e faça o que se pede: “(…) No fundo o imponente castelo. No primeiro plano a íngreme ladeira que conduz ao castelo. Descendo a ladeira numa disparada louca o fogoso ginete. Montado no ginete o apaixonado caçula do castelão inimigo de capacete prateado com plumas brancas. E atravessada no ginete a formosa donzela desmaiada entregando ao vento os cabelos cor de carambola.” (A. de Alcântara Machado, Carmela). “(…) íamos, se não me engano, pela rua das Mangueiras, quando voltando-nos, vimos um carro elegante que levavam a trote largo dois fogosos cavalos. Uma encantadora menina, sentada ao lado de uma senhora idosa, se recostava preguiçosamente sobre o macio estofo e deixava pender pela cobertura derreada do carro a mão pequena que brincava com um leque de penas escarlates.” José de Alencar, Lucíola). Nesses excertos, observa-se que a maioria dos substantivos são modificados por adjetivos ou expressões equivalentes. Comparando os dois textos: a) aponte em cada um deles o efeito produzido por tal recurso linguístico b) justifique sua resposta. 14. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas da frase inicial: Vossa Excelência ............ que eu ............ traga ............ jornal? a) quer - lhe – vosso b) quer - vos - seu c) quereis - vos - vosso d) quer - lhe - seu e) quereis - lhe – vosso 15. Una as orações usando o pronome relativo adequado. Traga a segunda oração para a primeira. a) Jorge trabalha em um grande escritório. Na frente do escritório há um restaurante francês. b) Esta é a aluna. Eu me referi a ela. 16. Classifique os substantivos que seguem quanto ao gênero: a) Cobra – b) Carrasco - c) Artista - d) Cônjuge – e) Formiga – 17. Complete as orações empregando respectivamente o pretérito perfeito e o futuro do presente dos verbos entre parênteses: a) (correr) - Ontem eles __________, amanhã vocês ___________ . b) (ler) - Ontem eles __________ o texto, amanhã vocês __________ . c) (ir) - Ontem eles __________ ao cinema, amanhã vocês __________ . d) (vir) - Ontem eles __________ à cidade, amanhã vocês __________ . e) (ver) - Ontem eles __________ a exposição, amanhã vocês __________ . 18. Passe os verbos e pronomes da primeira pessoa do singular para a primeira pessoa do plural. a) Se eu assistisse ao filme, participaria do debate. b) Se eu acordasse cedo, não perderia a aula. 19. Classifique o grau dos adjetivos: a) Eles são os menos baixos do time b) Ela era menor do que a amiga. c) Elas estavam felicíssimas. d) Há um aluno da sexta série que é muito estudioso. e) Ele é o aluno mais calmo da sala. 20. Passe a frase abaixo para a voz passiva analítica e depois para a sintética. Nós havíamos encontrado os livros de Matemática na biblioteca da escola. Leia a tirinha. . 21. Encontramos o efeito polissêmico empregado na seguinte palavra a) vaca. b) humano c) costela. d) radiografia. e) conversa. 22. Diga qual o sentido da palavra destacada em cada caso. a) Aquele menino do nono ano é um gato. b) Foram processados por fazerem um gato na rede elétrica. c) Os boias-frias eram aliciados por um gato. d) Camila usava grampo nos cabelos. e) As gravações telefônicas foram possíveis porque fizeram um grampo. f) Carla é uma fera em informática g) É preciso domar a fera antes de adestrá-la h) Ela ficou uma fera porque ele estragou a almofada. LITERATURA Matéria a ser estudada (conteúdo): Apostila/Volume: Capítulo: Assunto: Livro 3 8 Romantismo no Brasil – 1ª fase Livro 3 9 Romantismo no Brasil – 2ª e 3ª fases Livro 3 10 Romantismo no Brasil – prosa indianista e histórica Livro 3 11 Romantismo no Brasil – prosa urbana e regional Livro 4 14 Realismo no Brasil Livro 5 15 Machado de Assis – Romance Livro 5 17 Naturalismo no Brasil – Autores e obras Livro 5 18 Aluísio Azevedo Livro 6 20 Parnasianismo Livro 6 21 Simbolismo LISTA DE EXERCÍCIOS PARA ENTREGAR 1. Leia atentamente o poema abaixo: I-Juca Pirama Gonçalves Dias Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo Tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi. Aos golpes do imigo, Meu último amigo, Sem lar, sem abrigo Caiu junto a mi! Com plácido rosto, Sereno e composto, O acerbo desgosto Comigo sofri. Meu pai a meu lado Já cego e quebrado, De penas ralado, Firmava-se em mi: Nós ambos, mesquinhos, Por ínvios caminhos, Cobertos d’espinhos Chegamos aqui! Eu era o seu guia Na noite sombria, A só alegria Que Deus lhe deixou: Em mim se apoiava, Em mim se firmava, Em mim descansava, Que filho lhe sou. Ao velho coitado De penas ralado, Já cego e quebrado, Que resta? — Morrer. Enquanto descreve O giro tão breve Da vida que teve, Deixai-me viver! Não vil, não ignavo, Mas forte, mas bravo, Serei vosso escravo: Aqui virei ter. Guerreiros, não coro Do pranto que choro: Se a vida deploro, Também sei morrer. A partir do trecho apresentado, extraído do clássico poema do indianismo brasileiro I-Juca Pirama, julgue verdadeiros ou falsos os itens a seguir. Reescreva os itens falsos, corrigindo-os. a) No contexto da literatura brasileira do século XIX, era incomum a presença de protagonistas ameríndios em poemas épicos e romances. Especialmente os autores que se filiaram ao romantismo tenderam a dar destaque, nos seus textos, a heróis de origem europeia, como forma de rejeitar o projeto de uma identidade brasileira. b) Ao utilizar como recurso de composição a narrativa em primeira pessoa do singular, o autor potencializa o apelo romântico do texto, fazendo que o drama do personagem Tupi seja sublinhado pela perspectiva íntima, a partir da qual os fatos são apresentados. c) O índio, nesse poema de Gonçalves Dias e nas demais obras do indianismo romântico brasileiro, é representado segundo técnica literária realista, por meio da qual se pretende revelar o índio como legítimo dono das terras e da identidade cultural do país. d) O movimento romântico brasileiro, do qual o poema I-Juca Pirama é produção exemplar, procurou estabelecer as bases literárias da identidade cultural brasileira, objetivando a superação do cosmopolitismo expresso pela estética neoclássica, característica do Arcadismo. 2. Leia o poema abaixo: MEU ANJO Meu anjo tem o encanto, a maravilha Da espontânea canção dos passarinhos; Tem os seios tão alvos, tão macios Como o pelo sedoso dos arminhos. Triste de noite na janela a vejo E de seus lábios o gemido escuto. É leve a criatura vaporosa Como a froixa fumaça de um charuto. Parece até que sobre a fronte Angélica Um anjo lhe depôs coroa e nimbo… Formosa a vejo assim entre meus sonhos Mais bela no vapor do meu cachimbo. Como o vinho espanhol, um beijo dela Entorna ao sangue a luz do paraíso. Dá morte num desdém, num beijo vida, E celestes desmaios num sorriso! Me quis a minha sina que seu peito Não batesse por mim nem um minuto, E que ela fosse leviana e bela Como a leve fumaça de um charuto. (AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.) Quais características da Segunda Geração Romântica podem ser percebidas no poema de Álvares de Azevedo? Explique cada uma dessas características e depois exemplifique com versos do texto. Textos para a questão 3: Texto I Texto II Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura...se é verdade Tanto horror perante os céus... Ó mar! Por que não apagas Co'a esponjade tuas vagas Do teu manto este borrão? Astros! Noite! Tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares tufão! [...] Ontem plena liberdade, A vontade por poder... Hoje... cúm’lo de maldade, Nem são livres p’ra morrer... Prende-os a mesma corrente - Férrea, lúgubre [fúnebre] serpente – Nas roscas da escravidão. E assim zombando da morte, Dança a lúgubre coorte Ao som do açoute [chicote] ... Irrisão [zombaria]! [...] 3. a) O texto I foi produzido por um autor contemporâneo, Edgar Vasques, enquanto o texto II é de autoria de Castro Alves. A partir de informações trabalhadas em aula, indique a qual geração romântica o autor do texto II pertence e apresente duas características dessa geração que estejam presentes no poema. b) Os dois textos apresentam um caráter de denúncia social. A partir dos elementos presentes nos textos e também de seus conhecimentos prévios, explique se as duas produções abordam a mesma problemática. A seguir, você lerá dois textos. O primeiro é um fragmento de Memórias de um sargento de milícias, escrito por Manuel Antônio de Almeida; o segundo, de Senhora, escrito por José de Alencar. Para responder aos exercícios 4 e 5, leia-os observando as diferenças de linguagem e de ambiente social: Texto I: “Ao sair do Tejo [rio de Portugal], estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos. Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos [enjoo]: foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história. Chegou o dia de batizar-se o rapaz: foi madrinha a parteira; sobre o padrinho houve suas dúvidas: o Leonardo queria que fosse o Sr. juiz; porém teve de ceder a instâncias da Maria e da comadre, que queriam que fosse o barbeiro de defronte, que afinal foi adotado. Já se sabe que houve nesse dia função [espetáculo]: os convidados do dono da casa, que eram todos dalém-mar, cantavam ao desafio, segundo seus costumes; os convidados da comadre, que eram todos da terra, dançavam o fado. O compadre trouxe a rabeca, que é, como se sabe, o instrumento favorito da gente do ofício. A princípio, o Leonardo quis que a festa tivesse ares aristocráticos, e propôs que se dançasse o minuete [antiga dança francesa com movimentos delicados e equilibrados] da corte. Foi aceita a ideia, ainda que houvesse dificuldade em se encontrarem pares. Afinal levantaram-se uma gorda e baixa matrona, mulher de um convidado; uma companheira desta, cuja figura era a mais completa antítese da sua; um colega do Leonardo, miudinho, pequenino, e com fumaças de gaiato, e o sacristão da Sé, sujeito alto, magro e com pretensões de elegante. O compadre foi quem tocou o minuete na rabeca; e o afilhadinho, deitado no colo da Maria, acompanhava cada arcada com um guincho e um esperneio. Isto fez com que o compadre perdesse muitas vezes o compasso, e fosse obrigado a recomeçar outra tantas. Depois do minuete, foi desaparecendo a cerimônia, e a brincadeira aferventou, como se dizia naquele tempo. Chegaram uns rapazes de viola e machete: o Leonardo, instado pelas senhoras, decidiu-se a romper a parte lírica do divertimento. Sentou-se num tamborete, em um lugar isolado da sala, e tomou uma viola. Fazia um belo efeito cômico vê-lo, em trajes do ofício, de casaca, calção e espadim, acompanhando com um monótono zunzum nas cordas do instrumento o garganteado de uma modinha pátria. Foi nas saudades da terra natal que ele achou inspiração para o seu canto, e isto era natural a um bom português, que o era ele. [...] O canto do Leonardo foi o derradeiro toque de rebate para esquentar-se a brincadeira, foi o adeus às cerimônias. Tudo daí em diante foi burburinho, que depressa passou à gritaria, e ainda mais depressa à algazarra, e não foi ainda mais adiante porque de vez em quando viam-se passar através das rótulas da porta e janelas umas certas figuras que denunciavam que o Vidigal andava perto.” Texto II: “Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela. Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro [bastão usado pelos reis]; foi proclamada a rainha dos salões. Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade. Era rica e formosa. [...] Aurélia era órfã; e tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade. Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos da sociedade brasileira, que, naquele tempo, não tinha admitido ainda certa emancipação feminina. Guardando com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse. [...] Na sala, cercada de adoradores, no meio das esplêndidas reverberações de sua beleza, Aurélia bem longe de inebriar-se da adoração produzida por sua formosura, e do culto que lhe rendiam; ao contrário parecia unicamente possuída de indignação por essa turba [multidão] vil [que se compra por baixo preço] e abjeta [desprezível]. [...] Convencida de que todos os seus inúmeros apaixonados, sem exceção de um, a pretendiam unicamente pela riqueza, Aurélia reagia contra essa afronta, aplicando a esses indivíduos o mesmo estalão [padrão]. Assim costumava ela indicar o merecimento de cada um dos pretendentes, dando-lhes certo valor monetário. Em linguagem financeira, Aurélia cotava os seus adoradores pelo preço que razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial. [...] Riam-se todos destes ditos de Aurélia, e os lançavam à conta de gracinhas de moça espirituosa; porém a maior parte das senhoras, sobretudo aquelas que tinham filhas moças, não cansavam de criticar desses modos desenvoltos, impróprios de meninas bem-educadas. Os adoradores de Aurélia sabiam, pois ela não fazia mistério, do preço de sua cotação no rol da moça; e longe de se agastarem com a franqueza, divertiam-se com o jogo que muitas vezes resultava do ágio de suas ações naquela empresa nupcial. [...] 4. Os dois textos apresentam em comum o ambiente urbano do Rio de Janeiro do século XIX e o relacionamento entre homem e mulher. a) Que classe social cada um dos textos retrata? b) Que importância ou significado tem o casamento para as personagens do texto II? c) Nas duas obras, as personagens femininas transgridem as regras sociais, porém de forma diferente. Qual a transgressão de cada uma delas? 5. Senhora e Memórias de um sargento de milícias são obras consideradas precursoras do Realismo – movimento literário da segunda metade do século XIX, que se caracteriza pela objetividade e pela crítica ostensiva à sociedade burguesa – em virtude do retrato mais direto, crítico e objetivo que fazem da realidade. Contudo, as duas obras ainda estão presas a certas convenções românticas. a) Qual dos dois romances foge mais às convenções românticas, tais como linguagem metafórica, amor e mulher idealizada? b) Qual dos dois romances aprofundamais a crítica à sociedade, já apresentando elementos próprios da crítica realista? Justifique. 6. O quadro abaixo pertence ao período do Realismo, estilo artístico baseado na fiel e minuciosa reprodução de modelos da natureza e da vida contemporânea. Aponte e explique as características da literatura realista que também podem ser observadas no quadro ao lado. 7. Leia os fragmentos a seguir, retirados de romances de Machado de Assis, e responda à questão abaixo. "Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem ..." (Memórias Póstumas de Brás Cubas) "A leitora que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da cavatina de ontem para a valsa de hoje quer fechá-lo às pressas, ao ver que beiramos um abismo. Não faça isso, querida; eu mudo de rumo." (Dom Casmurro) Identifique duas características típicas da prosa machadiana presentes nos dois fragmentos acima e explique-as. 8. Leia o trecho abaixo, de Memórias Póstumas de Brás Cubas: O emplasto Um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cambalhotas. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te. Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti- hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. COURBET: Os Quebradores de Pedra, 1849. Óleo sobre tela, 159 x 259 cm. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas e, enfim, nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro, sede de nomeada. Digamos: — amor da glória. Um tio meu, cônego de prebenda inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia outro tio, oficial de um dos antigos terços de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem e, consequentemente, a sua mais genuína feição. Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao emplasto. Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. Obra completa, v. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p. 514-5 (com adaptações). Com relação ao texto acima, à obra Memórias Póstumas de Brás Cubas e a aspectos por eles suscitados, julgue verdadeiros ou falsos os itens a seguir. Reescreva os itens falsos, corrigindo-os. a) O compromisso do narrador com a verdade dos fatos, honestidade decorrente da vida além-túmulo, e o seu interesse pela ciência e pela filosofia aproximam a narrativa de Memórias Póstumas de Brás Cubas da forma de narrar do Naturalismo, ou seja, da descrição objetiva da realidade. b) As “arrojadas cambalhotas” (segundo parágrafo) da ideia inventiva de Brás Cubas relacionam-se à forma como Machado de Assis compôs esse romance, no qual o narrador intercala a narrativa de suas memórias com divagações acerca de temas diversos, o que produz constante vaivém na condução do enredo. c) A partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas, o conjunto da obra machadiana divide-se em duas fases: a primeira é constituída por obras em que o foco narrativo é em terceira pessoa e o tema revela interesse pela sorte dos pobres, como em Helena, por exemplo; a segunda é formada de obras construídas a partir da perspectiva do narrador-personagem associado à classe dominante local, a exemplo de Dom Casmurro. d) O romancista Machado de Assis é considerado o responsável pela introdução de um novo modelo narrativo no romance nacional ao lançar um olhar crítico para a sociedade de sua época. e) A história de Memórias Póstumas é narrada de acordo com a memória do personagem, quebrando a linearidade do enredo, que não apresenta a ordem: começo, meio e fim. 9. Considere as seguintes afirmativas: I. "Esforço-me por entrar no espartilho e seguir uma linha reta geométrica: nenhum lirismo, nada de reflexões, ausente a personalidade do autor." Gustav Flaubert (Cf. BOSI, Alfredo. "História concisa da literatura brasileira." São Paulo: Cultrix, 1994. p.169) II. "Em "Thérese Raquin", eu quis estudar temperamentos e não caracteres. Aí está o livro todo. Escolhi personagens soberanamente dominadas pelos nervos e pelo sangue, desprovidas de livre-arbítrio, arrastadas a cada ato de sua vida pelas fatalidades da própria carne [...]." Émile Zola (Cf. BOSI, Alfredo. "História concisa da literatura brasileira." São Paulo: Cultrix, 1994. p.169) Os princípios estéticos introduzidos por Flaubert e Zola, respectivamente, os mentores do Realismo e do Naturalismo, servem como parâmetro para que se possam estabelecer as diferenças básicas entre essas duas escolas literárias. Reflita sobre as afirmações dos referidos escritores franceses e destaque os pontos convergentes e divergentes entre as manifestações da prosa de ficção realista-naturalista no Brasil. 10. Leia o fragmento abaixo, retirado do livro O Bom-crioulo, de Adolfo Caminha: “O convés, tanto na coberta como na tolda, apresentava o aspecto de um acampamento nômade. A marinhagem entorpecida pelo trabalho, caíra numa sonolência profunda, espalhada por ali ao relento, numa desordem geral de ciganos que não escolhem o terreno para repousar. Pouco lhe importavam o chão úmido, as correntes de ar, as constipações, o beribéri. Embaixo era maior o atravancamento. Macas de lona suspensas em varais de ferro, umas sobre as outras, encardidas como panos de cozinha, oscilavam à luz moribunda e macilenta das lanternas. Imagine-se o porão de um navio mercante carregado de miséria. No intervalo das peças, na meia escuridão dos recôncavos moviam-se corpos seminus, indistintos. Respirava-se um odor nauseabundo de cárcere, um cheiro acre de suor humano diluído em urina e alcatrão. Negros, de boca aberta, roncavam profundamente, contorcendo-se na inconsciência do sono. Viam-se torsos nus abraçando o convés, aspectos indecorosos que a luz evidenciava cruelmente. De vez em quando uma voz entrava a sonambular cousas ininteligíveis. Houve um marinheiro que se levantou, no meio dos outros, nu em pelo, os olhos arregalados, medonho, gritando que o queriam matar.” O livro de Adolfo Caminha pertence ao Naturalismo, movimento que tematiza alguns dos problemas da realidade urbana brasileira vividos pelas classes mais desfavorecidas no final do século XIX. Para isso, utiliza-se de uma visão científica fortemente influenciada pela teoria do “determinismo”. a) Explique a teoria determinista e qual sua relação com os textos naturalistas. b) Indique, no texto acima, como o ambiente pode ter influenciado o caráter de Amaro, um escravo foragido que, no início da trama, é gentil com todos, mas, no final, termina matando,por ciúmes, seu amante Aleixo. Os dois fragmentos abaixo pertencem à obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Leia-os com atenção para responder aos exercícios 11 e 12: “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia. A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostrava uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas. Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíram mulheres que vinham dependurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia.” “Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão.” (AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Cirando Cultural, 2010) 11. a) Retire do texto um trecho que demonstre a personificação do cortiço. Explique como essa personificação influencia a construção da obra. b) Explique, com trecho do texto, como os cinco sentidos humanos são explorados na obra. c) Identifique uma das correntes filosófico-cientificistas do final do século XIX utilizadas no texto lido. 12. O que é zoomorfismo? Exemplifique sua resposta com uma passagem dos trechos acima. 13. O trecho abaixo descreve o velho Botelho, agregado à casa de Miranda, vizinho do cortiço de João Romão: Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro, como escova, barba e bigode do mesmo teor; muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo com seu nariz adunco e com a sua boca em lábios: viam-se lhe ainda todos os dentes, mas, tão gastos, que pareciam limados até ao meio. Andava sempre de preto, com um guarda-chuva debaixo do braço e um chapéu de Braga enterrado nas orelhas. Fora em seu tempo empregado de comércio, depois corretor de escravos; contava mesmo que estivera mais de uma vez na África negociando negros por sua conta. Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do Paraguai, ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave de rapina. E agora, coitado, já velho, comido de desilusões, cheio de hemorróidas, via-se totalmente sem recursos e vegetava à sombra do Miranda, com quem por muitos anos trabalhou em rapaz, sob as ordens do mesmo patrão, e de quem se conservara amigo, a princípio por acaso e mais tarde por necessidade. a) Por que podemos afirmar que a descrição de Botelho é tipicamente naturalista? b) Copie um pequeno trecho que justifique sua resposta. 14. O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo ocorreram concomitantemente, na segunda metade do século XIX. Todos esses movimentos tinham, em comum, a crítica ao Romantismo. Quais características românticas eram criticadas? O que os autores desses movimentos propunham no lugar? 15. Leia o poema abaixo, de Olavo Bilac. A Um Poeta Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma de disfarce o emprego Do esforço; e a trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua, Rica mas sóbria, como um templo grego. Não se mostre na fábrica o suplício Do mestre. E, natural, o efeito agrade, Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade, Arte pura, inimiga do artifício, É a força e a graça na simplicidade. a) De acordo com o eu lírico, como é o trabalho do poeta parnasiano? b) Aponte características formais do poema que comprovem a preocupação parnasiana com a perfeição da forma. 16. Explique o princípio da “arte pela arte” defendido pelo Parnasianismo. 17. Leia os textos abaixo. O primeiro é um poema de Olavo Bilac e o segundo, uma música de Caetano Veloso. Texto 1: LÍNGUA PORTUGUESA Última flor do Lácio, inculta e bela És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim desconhecida e obscura, Tuba de alto clangor, lira singela, que tens o trom e o silvo da procela E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: "meu filho!" E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! Texto 2: LÍNGUA Gosto de sentir a minha língua roçar A língua de Luís de Camões. Gosto de ser e de estar E quero me dedicar A criar confusões de prosódia E uma profusão de paródias Que encurtem dores E furtem cores como camaleões. Gosto do Pessoa na pessoa Da rosa no Rosa, E sei que a poesia está para a prosa Assim como o amor está para a amizade. E quem há de negar que esta lhe é superior? E deixa os portugais morrerem à míngua, "Minha pátria é minha língua" - Fala Mangueira! Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que quer O que pode Esta língua? A leitura do poema de Bilac revela que sua atitude ante a Língua Portuguesa é solene e respeitosa. Pelo acúmulo de adjetivos e pelo recurso a imagens rebuscadas, típicas do Parnasianismo, o poeta tenta demonstrar sua admiração ante as riquezas e potencialidades expressivas do idioma falado em nosso País. Confrontando o poema de Bilac e a letra da música de Caetano, percebemos neste uma atitude em parte semelhante à de Bilac mas com alguns ingredientes próprios. Faça um comentário sucinto a esse respeito. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Alma fatigada Nem dormir nem morrer na fria Eternidade! mas repousar um pouco e repousar um tanto, os olhos enxugar das convulsões do pranto, enxugar e sentir a ideal serenidade. A graça do consolo e da tranquilidade de um céu de carinhoso e perfumado encanto, mas sem nenhum carnal e mórbido quebranto, sem o tédio senil da vã perpetuidade. Um sonho lirial d'estrelas desoladas, onde as almas febris, exaustas, fatigadas possam se recordar e repousar tranquilas! Um descanso de Amor, de celestes miragens, onde eu goze outra luz de místicas paisagens e nunca mais pressinta o remexer de argilas! (CRUZ E SOUSA. Obra completa. Riode Janeiro: Editora José Aguilar, 1961, p. 191-192.) 18. O poema simbolista de Cruz e Sousa mostra a relação entre a vida e a morte ou entre a vida e a eternidade. Releia atentamente o soneto e, partindo do pressuposto de que o Simbolismo brasileiro desenvolveu e ampliou algumas características do Romantismo, identifique no desenvolvimento do conteúdo do soneto, sobretudo no desejo manifestado nos últimos três versos, uma característica típica do Romantismo. A questão a seguir toma por base um texto do poeta simbolista brasileiro Alphonsus de Guimaraens (1870-1921). ERAS A SOMBRA DO POENTE Eras a sombra do poente Em calmarias bem calmas; E no ermo agreste, silente, Palmeira cheia de palmas. Eras a canção de outrora, Por entre nuvens de prece; Palidez que ao longe cora E beijo que aos lábios desce. Eras a harmonia esparsa Em violas e violoncelos: E como um voo de garça Em solitários castelos. Eras tudo, tudo quanto De suave esperança existe; Manto dos pobres e manto Com que as chagas me cobriste. Eras o Cordeiro, a Pomba, A crença que o amor renova... És agora a cruz que tomba À beira da tua cova. ("Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte", 1923. In: GUIMARAENS, Alphonsus de. POESIAS - I. Rio de Janeiro: Org. Simões, 1955, p. 284.) 19. O texto em pauta, de Alphonsus de Guimaraens, apresenta nítidas características do simbolismo literário brasileiro. Releia-o com atenção e, a seguir: a) aponte duas características tipicamente simbolistas do poema; b) com base em elementos do texto, comprove sua resposta. 20. Leia o poema abaixo, de Cruz e Sousa: Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras... Formas do Amor, constelarmente puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas... Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... Visões, salmos e cânticos serenos, Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes... Dormências de volúpicos venenos Sutis e suaves, mórbidos, radiantes... Infinitos espíritos dispersos, Inefáveis, edênicos, aéreos, Fecundai o Mistério destes versos Com a chama ideal de todos os mistérios. Do Sonho as mais azuis diafaneidades Que fuljam, que na Estrofe se levantem E as emoções, todas as castidades Da alma do Verso, pelos versos cantem. Que o pólen de ouro dos mais finos astros Fecunde e inflame a rima clara e ardente... Que brilhe a correção dos alabastros Sonoramente, luminosamente. Forças originais, essência, graça De carnes de mulher, delicadezas... Todo esse eflúvio que por ondas passa Do Éter nas róseas e áureas correntezas... Cristais diluídos de clarões álacres, Desejos, vibrações, ânsias, alentos, Fulvas vitórias, triunfamentos acres, Os mais estranhos estremecimentos... Flores negras do tédio e flores vagas De amores vãos, tantálicos, doentios... Fundas vermelhidões de velhas chagas Em sangue, abertas, escorrendo em rios... Tudo! vivo e nervoso e quente e forte, Nos turbilhões quiméricos do Sonho, Passe, cantando, ante o perfil medonho E o tropel cabalístico da Morte... a) Explique o papel dos substantivos abstratos e dos adjetivos na construção do texto. b) Identifique um exemplo de sinestesia e comente a proposta simbolista que justifica esse emprego.
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