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Produzido por Ana Gabriela Vasconcelos Cavalcante Licencianda em História pela UFRPE Resumo da obra: História de Bizâncio. Autor: Paul Lemerle Capítulo I- Constantino, A monarquia Cristã e Oriental. Lemerle explana o debate sobre a fragmentação do império entre Ocidente e Oriente, e suas implicações internas, o que lhe permite explorar as medidas políticas do imperador Diocleciano, iniciando-se pela instauração da Tetrarquia que objetivou uma melhor administração para o império, pois, dada a sua vasta extensão territorial, foi evidente a necessidade de descentralizar o poder para que este fosse mais efetivo. O autor evidencia, contudo, que apesar da fragmentação da instituição política, a ruptura entre o ocidente e o oriente não aconteceu de maneira brusca. E o declínio do império teve como causa um conjunto de fatores, como uma severa crise de ordem política e socioeconômica e desestabilização por fatores externos. Além disso, Lemerle explora aspectos do reinado de Constantino. Nesse ponto é interessante quando o autor aborda a questão da fundação de Constantinopla, evidenciando que a fundação e o desabrochar do poderio de uma nova capital fez com Roma perdesse sua hegemonia, o que o autor situa como um dos pontos de início do declínio do poderio ocidental e de concepção futura de uma nova hegemonia, centrada em Bizâncio. O autor situa como um dos mais importantes feitos de Constantino justamente a fundação de Constantinopla, pois dada a sua localização geográfica ela era estratégica para ser utilizada nas transações comerciais, além de servir como bom refúgio contra as migrações, vistas em dados contextos como invasões. Pela sua riqueza, no contexto de sua fundação, era tida como a capital mais próspera e bela arquitetonicamente. Capítulo II- De Constantino a Justiniano. A Luta contra os Hereges e Contra os Bárbaros (337-518) Neste fragmento Lemerle se dedica a tratar da oposição que se instaurava entre os governadores do Ocidente e do Oriente, no qual um deles se sobressaia no poderio. O que evidencia que a ruptura na instituição política não se concretizou imediata e bruscamente. Desse modo, a própria manifestação da cristandade passou a se configurar de distintas maneiras na unidade ocidental e oriental. Além disso, os movimentos migratórios causaram impactos distintos nos respectivos fragmentos geopolíticos. Acentuava-se assim o conflito de credos da cristandade, e com a postura hostil de Teodósio I contra a corrente ariana de credo, foram desencadeadas uma série de mudanças que impactaram a estabilidade do poderio do bispo de Roma. Além disso, o autor ressalta que o Ocidente era acometido por um índice maior de invasões, o que impactava sua estabilidade, haja vista o estado já fragilizado em que se encontrava. Capítulo III- O Século de Justiniano (518- 610) Com o sistema da Tetrarquia adotado por Diocleciano, o império foi geopoliticamente fragmentado. Assim, posteriormente, conforme o autor explana, uma das medidas adotadas por Justiniano foi a de recentralizar o poder, reintegrando os territórios imperiais. Além de investir numa política que estivesse munida no conflito com os persas, com os hunos e com os eslavos, haja vista a desproporcionalidade do exército se comparada ao contingente militar desses povos. Num estado de instabilidade interna pelas ações políticas, que afetava diretamente a população, o império foi submetido a reformas administrativas e legislativas, visando sanar tais problemáticas. Entretanto, Justiniano acaba por ir contra tais medidas desobedecendo- as. Além disso, a fragilidade econômica figurava de forma acentuada tal contexto do império. Nesse ponto é necessário salientar que administrar um império que possuía uma delimitação territorial tão extensa e que se expandia num imperialismo desenfreado, demandava muitos investimentos econômicos, tanto para manutenção de um exército que seria responsável também pela segurança das fronteiras contra ataques inimigos. É muito interessante quando o autor destaca que a esposa de Justiniano- Teodora-, influenciou significativamente a política religiosa do império, incitando-o a agir com mais complacência e tolerância para com os adeptos da corrente monofisita. Ademais, dentre os grandes feitos realizados pelo imperador, destaca-se a construção de Santa Sofia em Constantinopla. Capítulo IV- A Dinastia de Heráclio e o Fim do Império Romano (610- 717) Achando-se sem recursos para frear e combater as incursões dos eslavos e dos búlgaros, o império viu-se obrigado a aceitar a instalação desses povos em seu território. Ademais, o autor enfatiza que o movimento de expansão árabe também não conseguia ser contida, mediante a fraqueza de bizâncio. Com a acentuação de conflitos no âmbito religioso, o império achava-se também inábil para apaziguar tal cenário, ao ponto de perder províncias monofisistas, que se tornaram separadas de bizâncio. É muito interessante quando o autor explana o processo de helenização ao qual vinha acontecendo por volta do século VII, quando o idioma grego é inserido e ganha relevância. Capítulo V- As dinastias Isáurica e Amórica. O Iconoclasmo (717-867) Este fragmento da obra me chamou bastante atenção, pois Lemerle aborda como eclodiu o movimento iconoclasta, iniciado oficialmente por Leão III, tais manifestações de rebelião afetaram a capital Constantinopla, e pelo caráter político e religioso que fomentou a criação de leis iconoclastas, até mesmo o culto dos santos passou a ser condenado. Entretanto, no reinado de Irene, primeira imperatriz de Bizâncio, as leis iconoclastas são abolidas, o que acaba por apaziguar tais conflitos. Lemerle pontua ainda que Leão III adotará medidas que permitam que os árabes sejam derrotados, ainda que temporariamente, já que posteriormente tal controle torna-se cada vez mais inviável, e apesar da ameaça, ademais, dos búlgaros e dos russos, a possibilidade de controle ainda é atingível. Capítulo VI- A Dinastia “Macedônia” e o Apogeu do Império (867-1081) Considerada como uma Idade do Ouro, tal conjuntura foi marcada como uma época de prestígio em decorrência das medidas tomadas por vários imperadores. E, no âmbito cultural, os macedônios atentam-se à aplicação da legislação pela tradição antiga. Lemerle destaca que em tal contexto os conflitos contra a Bulgária foram bastante presentes, e que quanto às medidas de retomada às conquistas árabe, apesar do momentâneo sucesso, a estabilidade e segurança não estavam garantidas a Bizâncio, pois tal fator não significava o fim das ameaças. É abordada, ainda, a aliança estabelecida com o príncipe russo, que implicou no batismo deste e de seu povo. Tal fator chama atenção para o caráter estrategista do Império, pois além de apaziguar os ânimos, acabou por difundir a influência bizantina na respectiva região. Capítulo VII- Bizâncio e as Cruzadas. Os Comnenos e os Angelos. O Estado Latino e o Império Grego da Nicéia Ao discutir quem eram os Comnenos, o autor evidencia que eram proprietários de terras na Ásia Menor, destacando a forte influência militar exercida por Aleixo Comneno. O autor aborda também a chegada de Andrônico ao poder, destacando a relação brutal que estabeleciam com os latinos. Posteriormente, com a ascensão ao poder de Aleixo, este concede aos venezianos uma série de privilégios e vantagens comerciais. Em seguida, é muito minuciosa e interessante a explanação acerca das cruzadas, que caracterizou-se como um movimento de libertação dos lugares santos, entretanto imbuído de ambições econômicas. Por fim, o império de Nicéia é figurado como representante autêntico de Bizâncio, marcada por um florescimento do helenismo. Capítulo VIII- Os Paleólogos e a Queda do Império Bizantino (1261- 1453) O império achava-se num estado de acentuada fragilização interna, influenciada tanto pelo esgotamento dos recursos econômicos, como pela fragmentação do território. Porém, é importante não desconsiderar a influência causada pelas cruzadas e pela dominação latina para a consolidação deste cenário. Nesse ínterim é destacadopor Lemerle o último reinado Bizantino, o de Miguel VIII, que não obteve sucesso na tentativa de resgatar a glória e o prestigio outrora presentes no império, pois tornava-se impossível reverter em poucos anos um processo longo de declínio que já vinha acontecendo anteriormente. Entretanto, apesar de tal cenário de instabilidade, os últimos séculos do império foram marcados pelo que fora considerado como um segundo renascimento bizantino. Pois, houve um considerável florescimento artístico e das letras. Conclusão A leitura da obra de Lemerle me foi muito enriquecedora, pois ele explora com minúcia e riqueza de detalhes a história do império bizantino. E, ao remontar esse cenário, ele evoca como causas da queda de Bizâncio as cruzadas e os conflitos nas instituições religiosas, além das disputas comerciais que fazendo ascender outras potência, fez decair o poderio bizantino. Entretanto, é válido considerar que, como as conjunturas históricas são marcadas por rupturas e continuidades, apesar da decadência institucional, do Império Bizantino manteve-se um legado cultural e até linguístico, com a transmissão do idioma grego. Assim, o mundo bizantino fez permanecer sua marca na posteridade, com forte influência artística que se mantém viva, inclusive na contemporaneidade. Referência Bibliográfica principal: LEMERLE, Paul. História de Bizâncio. São Paulo: Martins Fontes, 1991 .
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