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A obra fundadora de Ludwig Binswanger (1881- 1966) DASTUR, F. & CABESTAN, P. “A obra fundadora de Ludwig Binswanger (1881-1966)”, cap. II.A, pg.64-101 A daseinanalyse de Ludwig Binswanger • Psiquiatra suíço • Residência médica com Carl G. Jung • Supervisão com Eugen Bleuler • Neto do fundador de Bellevue • Fases: – Pré-fenomenológica – 1ª husserliana – Heideggeriana – 2ª husserliana (antropologia filosófica) Ludwig Binswanger – Elementos biográficos e bibliográficos • Supervisão de Eugen Bleuler (introdutor de estudos sobre esquizofrenia e autismo) • Orientado por Jung em sua monografia • Visita Freud em 1907 e troca correspondências por 30 anos • Terapeuta de Nietzsche em Iena • Prefácio de “Sonho e Existência” por Michel Foucault • Falece aos 85 anos, deixando 60 de produção científica Husserl e Heidegger em Binswanger • “O fenomenólogo que analisa a vivência psicopatológica não considera a mesma vivência de início como um tipo conceitualmente fixado (species) de um genêro psicopatológico, para continuar trabalhando aí de maneira pensante, mas busca imiscuir nos significados, que a expressão falante do doente estimula nele, olhar para o fenômeno psíquico mesmo anormal que se insinua linguisticamente (BINSEANGER, 1922/2013, P.137) • “Por analítica existencial (Daseinanalytik) eu entendo a classificação filosófico-fenomenológica da estrutura a priori ou transcendental do ser- presente como ser no mundo, devido a Martin Heidegger; por análise existencial (Daseinanalyse), a análise empírico-fenomenológica, científica dos modos e das estruturas do ser-presente factuais. (BINSWANGER, 1951/1970D, P.86) Freud Husserl Heidegger • Abertura para a compreensão do sentido do sintoma (mas conceituando libido como energia) • Método de investigação na compreensão dos fenômenos psicopatológicos / fenômenos da consciência • Via ontologia, base teórica fundante à uma compreensão mais abrangente do ser humano: antropologia! Antropologia fenomenológica JASPERS WEIZSÄCKER MINKOWSKI ERWIN STRAUSS • A psicopatologia geral – Karl Jaspers (1913) – Origem somática X Idiopáticos ou endógenos X Diagnóstico tipológico – Tipo ideal: a partir de um caso, retira-se a essência patológico • Constituição epistemológica à psicopatologia “Por Daseinsanalyse nós entendemos uma pesquisa antropológica, isto é, uma pesquisa científica dirigida sobre a essência do ser-homem” Ludwig Binswanger – A questão do sonho • A interpretação do sonho – Freud (início do século XX) • “Variações na apreensão e interpretação do sonho desde os gregos até nossos dias” – Binswanger (1928) • Espiritualidade X Mecanismo de Defesa • Significado imediato pela relação homem-mundo x simbolismo • “tentativa de elaborar uma interpretação existencial e biográfica do sonho” • Conteúdo latente X conteúdo manifesto • Não separação da imagem e tonalidade afetiva do sonho Ludwig Binswanger – A questão do sonho • “É o tema que o Dasein se dá no sonho que é importante, não o que ele simboliza, e é, então, o conteúdo desse drama, dessa ação que é o sonho, que constitui seu elemento decisivo” (p.72) • Modalidade particular do ser humano • A espacialidade – Relação espaço, tonalidade afetiva e corporeidade – “espaço afinado” • Experiência vivida da decepção, em compreensão de queda • Ascensão e queda é de significação existencial, e não só somática e/ou espiritual • Estrutura ontológica do Dasein é a fonte da linguagem, imaginação e sonho Ludwig Binswanger – A questão do sonho • Âmbito psicopatológico do sonho: tonalidade afetiva como única via • Sonho como fenômeno ontológico e não simplesmente psicológico • Universalidade X Individualidade – A “mal” separação • Compreensão da transferência como possibilidade de espiritualização autêntica • “o homem que sonha ‘é’ uma vida biológica, ao passo que o homem acordado ‘faz’ uma vida histórica” Ludwig Binswanger – As Grundformen de 1942 • O amor constitui a forma fundamental maior sobre o fundo da qual todo conhecimento e toda compreensão do ser do homem devem se edificar • “O erro produtivo” – interpretação antropológica de Heidegger • Martin Buber (1878 – 1965) – Filósofo, pedagogo e teólogo austríaco/israelita – Vocação Dialógica do Homem – Relação eu-tu, eu-isso, encontro Ludwig Binswanger – As Grundformen de 1942 Análise existenciária/Ontologia heideggeriana X Análise existencial/Antropologia fenomenológica binswangeriana • Dasein humano em geral, Dasein como “humanidade” • Nostridade (contraproposta de ser-com-outro) e Ipseidade (ex: identidade coletiva = baixa ipseidade) • Dasein coimplica ser-com-outro em sua essência Ludwig Binswanger – As Grundformen de 1942 • Sorge – cuidado/preocupação + Nostridade/ser-com-outro = amor • Amor interpretado não a luz da finitude (ser-para-morte), mas na infinitude e eternidade do encontro amoroso • O amor transcende o cuidado • Quebra do quadro solipsista(além de nós, apenas nossas) experiências heideggeriano da existência • Nostridade como um nós dual, precede a relação eu-tu, já que um não existe sem o outro. Unidade originária, tornando possível o si-mesmo e a ipseidade. • Na realidade do amor, há o mais real de nosso Dasein Ludwig Binswanger – A volta a Husserl • Conjuração da intencionalidade e ser-no-mundo; e transcendentalismo e facticidade • “formas psiquiátricas do Dasein como facticidades psicopatológicas empíricas” • Descrição das doenças mentais em sua constituição do ser; modalidades particulares da existência • Melancolia e mania: contribuição à metodologia psiquiátrica • “procurar os momentos responsáveis pela falha da organização estrutural dessas formas do Dasein que são as psicoses” • “compreender a constituição particular dos mundos psicótico, esquizofrênico, melancólico e maníaco por meio da investigação dos momentos estruturais desses universos” Ludwig Binswanger – A volta a Husserl • Psicopatologia: Causa & efeito X transformação (gênese) • Ephokè espontânea na doença mental – Coloca entre parênteses a mundanidade, considerando apenas “elementos constituintes do mundo” – ‘uma quebra na atitude natural de Husserl’ • A “confiança transcendental” (fé primordial) – Consciência da realidade se dá na persistência da correlação entre o que se apresenta no mundo e o que é antecipado pela consciência – As falhas da “confiança transcendental” põem em questão a consequência ou a continuidade da experiência – Experiência aniquilada na esquizofrenia; alteração da organização estrutural transcendental na mania e melancolia (alterações da estrutura temporal) Ludwig Binswanger – A volta a Husserl • Melancolia e Mania: alterações da estrutura temporal intencional, diferentes – Melancolia: tentativa de “organização” da retenção com a protenção, de modo afrouxado, que não alcança o presente – Não se constitui apenas numa alteração da Disposição (Encontrar-se) – a distimia melancólica é a expressão da melancolia como estrutura – Distúrbio da temporalidade no relaxamento da síntese temporal; estilo da perda, protenção infiltrada de momentos retentivos (futuro percebido como já realizado, independente da experiência “real”) – O outro visto como destinatário de queixas infatigavelmente repetidas; ouvinte passivo de autorreprovações, medos e angústia Ludwig Binswanger – A volta a Husserl • Melancolia e Mania: falhas diferentes da constituição temporal – Mania: relaxamento da estrutura temporal, desaparecendo a retenção e protenção, vivendo apenas de “momentaneidade” – Queda no nível constitutivo da relação intersubjetiva; nível da “coisidade” – Impossibilidade de relação autêntica com o outro (como na melancolia) Ludwig Binswanger – A volta a Husserl • Temporalidade em Husserl – “enquanto falo, então na presentificação, já tenho protenções, caso contrário não poderia jamais terminar a frase; do mesmo modo ponho no ‘enquanto’ da presentificação igualmente a retenção, caso contrário não saberia a respeito do que eu falo”“A percepção do Tempo em Husserl” Alfredo Pereira Jr., 1990. Ludwig Binswanger – A volta a Husserl • “o melancólico vive num passado ou num futuro alterado na sua constituição intencional e não alcança nenhum presente” (se eu tivesse, se eu não tivesse: possibilidades vazias de protenções puras que se arrancam do passado) • “o maníaco (...) retirada de momentos retencionais e protencionais (...) esteja apenas no instante, seu modo de temporalização sendo a momentaneidade.” • “mania e melancolia são modos de constituição da consciência humana, no sentido mais amplo desse termo, que se desenvolvem sem regras, modos amplamente privados do controle do puro ego e, nessa medida, sem lei.” • Ego puro X Eu empírico X Eu transcendental (Eugen Fink) – Ego não exerce regulação das experiências e sentidos/significados – Experiências empírica e transcendental em impossibilidade de adequação, assim como a consciência dessa inadequação Daseinanalyse como terapia 1. Deve se basear na exploração da história de vida do doente, por meio da qual as singularidades patológicas são compreendidas como flexões da estrutura total do ser-no-mundo 2. Ajudará o paciente a “aprender por experiência”, isto é, conduzirá o paciente pelo caminho do descobrimento de suas possibilidades como ser humano 3. A base da análise existencial é o encontro, que é um estar junto num presente intrínseco, isto é, no presente tal que se temporaliza absolutamente fora do passado e carrega também em si as possibilidades do futuro 4. Com respeito à compreensão do sonho, observa-se que este deve ser entendido como um modo particular de ser-no-mundo, como um modo particular de existir 5. A análise existencial só será eficaz se ela abrir no homem a compreensão da estrutura de ser-presente humanamente
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