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Prévia do material em texto

Literatura 
Afro-brasileira
1ª edição
2017
Literatura 
Afro-brasileira
Presidente do Grupo Splice
Reitor
Diretor Administrativo Financeiro
Diretora da Educação a Distância
Gestor do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas 
Gestora do Instituto da Área da Saúde
Gestora do Instituto de Ciências Exatas
Autoria
Parecerista Validador
Antônio Roberto Beldi
João Paulo Barros Beldi
Claudio Geraldo Amorim de Souza 
Jucimara Roesler
Henry Julio Kupty
Marcela Unes Pereira Renno
Regiane Burger
Angela Grillo
Daniella Caruso
Luciana Lauria
Rosangela Silveira
Gleides Ander
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência.
Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte 
desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos 
direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
44
Sumário
Unidade 1
Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual 
do termo .........................................................................6
Unidade 2
O espaço da prosa na Literatura Afro-Brasileira .....24
Unidade 3
A Literatura Juvenil Afro-Brasileira ...........................36
Unidade 4
O espaço da poesia na Literatura Afro-Brasileira ...58
Unidade 5
Outras linguagens: expressões artísticas da cultura 
afro-brasileira ..............................................................79
Unidade 6
Cultura e identidade emergente da Literatura 
Afro-brasileira .............................................................94
Unidade 7
Literatura Afro-Brasileira nas escolas brasileiras: 
o que dizem as Políticas Públicas.............................113
Unidade 8
A literatura Afro-brasileira no cenário brasileiro: 
do escritor à personagem negra ..............................130
5
Palavras do professor
Olá, caro aluno! Seja bem-vindo à disciplina Literatura Afro-brasileira! 
Você já pensou sobre a importância da literatura afro-brasileira no con-
texto da literatura nacional? Sabia que há leis que regulamentam o ensino 
de Literatura, História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas escolas? Já 
teve acesso a autores e obras de grande relevância na literatura afro-bra-
sileira?
Nesta disciplina, você terá a oportunidade de mergulhar nesse mundo 
fascinante da cultura e da literatura afro-brasileira. Como futuro docente, 
vai apropriar-se de conceitos importantes e identificar as especificidades 
dessa literatura e seus principais autores, e entenderá a aplicabilidade e a 
relevância do ensino da literatura afro-brasileira no contexto educacional.
A partir dos conhecimentos adquiridos nesta disciplina, você terá subsí-
dios para aplicar os novos saberes: adaptando-os à sua prática pedagó-
gica, como na escolha de livros de literatura para trabalhar em sala de aula; 
na reflexão sobre o papel do educador no cotidiano escolar com relação 
aos preconceitos étnicos; avaliando a importância do tratamento dado à 
cultura e aos problemas étnicos e identitários no panorama nacional.
Dessa forma, você desenvolverá, com os conhecimentos adquiridos, a 
competência de organizar e estimular situações de aprendizagem e prá-
ticas educativas mais eficientes e interdisciplinares, bem como promover 
situações significativas de aprendizagem que propiciemaos seus alunos a 
apropriação do conhecimento e a possibilidade de tornarem-se de leito-
res críticos.
1
6
Unidade 1
Literatura Afro-brasileira: 
uma discussão conceitual do 
termo
Para iniciar seus estudos
Para compreender a importância da Literatura Afro-brasileira no con-
texto da literatura nacional, você deve entender, primeiramente, qual o 
conceito dessa terminologia. Dessa forma, nesta unidade, você integrará 
a discussão conceitual sobre o uso do termo Literatura Afro-brasileira a 
partir do enfoque de distintos e renomados teóricos da área. Conhecerá 
e identificará, também, as especificidades que compõem o cenário con-
temporâneo da Literatura Afro-brasileira.
Vamos começar!
Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar discussão conceitual sobre o uso do termo Literatura 
Afro-brasileira. 
• Compor o cenário contemporâneo da Literatura Afro-brasileira. 
7
Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
1.1 Conceito de Literatura Afro-brasileira: perspectiva 
cultural e literária
Você já pensou sobre a importância da literatura afro-brasileira no contexto da literatura nacional? Pois, nesse 
momento, em conjunto, vamos enfrentar esse desafio. 
Para discutir sobre a importância da Literatura Afro-brasileira, primeiramente, temos que compreender de que 
forma esse conceito foi construído – antes, no campo da cultura; posteriormente, no campo dos estudos literá-
rios.
1.1.1 Diálogos com a cultura africana
Cultura, uma palavra com um significado tão amplo, tão discutido, tão divulgado. Mas afinal, o que é cultura? A 
cultura nos remete a uma série de reflexões, pois está presente em diferentes grupos humanos e em diferentes 
tempos históricos. 
Bakhtin (2010), em sua obra “Questões de Literatura e Estética”, faz uma crítica à idealização heroicizante na 
obra literária, situando-a como uma idealização abstrata afetada por forças culturais, sociais. No caso da litera-
tura afro-brasileira, observamos esse efeito produzido por meio da cultura de um povo dominante em um povo 
dominado, situação que mais tarde se torna visível na apresentação das obras contemporâneas.
Heroicizante – Ato de tornar heroico, sendo heroísmo a virtude excepcional própria do herói. 
Qualidade do que é heroico (arrojo, coragem, magnanimidade, bravura que leva a praticar 
ações extraordinárias). 
Glossário
Há a nossa cultura e a cultura das outras pessoas; há a minha cultura e a cultura da minha vizinha; há a cultura 
das pessoas menos favorecidas financeiramente e a da elite econômica. Então, cultura, segundo Zucon e Bra-
gav (2013, p. 18), “[...] é um conjunto de conhecimentos, saberes e fazeres [...]” que pertence às populações do 
mundo inteiro. Gastronomia, dança, música, religiosidade, arte, literatura, formas de vestir, noções de higiene, 
entre tantos outros aspectos que variam de população para população, podem ser considerados manifestações 
culturais; porém, nem sempre a cultura foi vista dessa forma.
8
Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
Figura 1.1: Orquestra Sinfônica
Legenda: Orquestras são consideradas parte da cultura erudita.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
A cultura brasileira é plural, pois encontramos nela influência dos nativos indígenas, dos primeiros imigrantes 
portugueses e de outros lugares do mundo, além da influência dos povos africanos escravizados que foram tra-
zidos para o Brasil. 
Portanto, a cultura brasileira não é homogênea e não existe um conceito único que possa envolver toda a sua 
complexidade, uma vez que devemos levar em consideração as mais variadas influências étnicas e históricas na 
formação do Brasil. Por formação, devemos considerar não apenas a tríade (indígenas, europeus e negros) que 
compôs a população do país no início de sua colonização, mas também o processo contínuo de desenvolvimento 
e influência da política, da sociedade e, consequentemente, da cultura.
Apesar de, em algum momento, ter havido uma preocupação com a etnologia das culturas, houve também invi-
sibilização, distorção e estereotipação das culturas indígenas e das culturas africanas no Brasil. Em determinado 
momento, os povos tradicionais, que ocupavam todo o território brasileiro antes da invasão portuguesa, foram 
descritos como selvagens.
Estereotipação – Que vem de estereótipo: padrão estabelecido pelo senso comum (de um 
pensamento compartilhado) e fundamentado na ausência de conhecimento sobre o assunto 
em questão. Concepção baseada em ideias preconcebidas de algo ou alguém, sem o seu 
conhecimentoreal, geralmente de cunho preconceituoso e/ou repleta de afirmações gerais, 
construída sobre inverdades. Fonte: <https://www.dicio.com.br/estereotipo/>. Acesso em: 
12 mar. 2018. 
Glossário
https://www.dicio.com.br/estereotipo/
9
Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
Em outros momentos, tiveram suas imagens higienizadas (pele clara) e foram considerados pessoas doces e 
ingênuas. Houve também um branqueamento – termo usado como referência à estética do homem português 
de cor de pele considerada branca ‒ de escritoras e escritores negros, invisibilizando suas culturas e vivências. 
Durante muito tempo, essas contribuições para a cultura brasileira foram ignoradas.
A influência da cultura negra foi bem mais forte que a indígena no país devido ao grande número de pessoas 
africanas que foram trazidas para cá como escravas. A dança, a religiosidade, a comida, as vestimentas e a língua, 
características das culturas dessas pessoas, estão presentes até hoje na cultura brasileira. Como os indígenas, os 
negros trazidos da África não tiveram sua integridade e seus valores respeitados. Foram trazidos na condição de 
escravos, e os europeus não os viam como pessoas, mas como objetos que precisavam passar por um processo 
de civilização de acordo com seus próprios parâmetros eurocêntricos. 
Muitos africanos, de nações e culturas diferentes, foram trazidos para o Brasil. E, a fim de dificultar a comunica-
ção e na tentativa de destituí-los de sua humanidade e de seus valores, pessoas de uma mesma nação, língua, 
costumes – ou mesmo da mesma família – eram propositadamente separadas e ficavam na companhia de outros 
negros de línguas e culturas diferentes – tudo isso em um país estranho e dominado por brancos europeus.
Figura 1.2: Dança tribal: símbolo da cultura indígena
Legenda: A figura expressa a dança indígena, representando sua cultura.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Durante séculos, a cultura privilegiada foi somente a cultura das elites. No Brasil, vemos esse panorama ser alte-
rado, principalmente com a Semana de Arte Moderna. Obras como “A negra”, da artista Tarsila do Amaral, retra-
tam de forma fiel as rupturas culturais em um país efervescente.
10
Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
1.2 Literatura afro-brasileira: diálogo com os estudos 
literários
A partir de estudos de Fonseca (2004 apud SOUZA; LIMA, 2006) e Duarte (2007; 2010), vamos apresentar o que 
estudiosos consideram como literatura afro-brasileira.
Fonseca (2004 apud SOUZA; LIMA, 2006) alerta que, apesar de os termos literatura negra e literatura afro-brasi-
leira serem comumente usados no contexto acadêmico, ainda assim são insuficientes quando se integra a inter-
locução com os estudos da crítica literária, da cultura e da educação. A autora apresenta dois aspectos relevantes 
nessa construção: 
a. no que tange à expressão literatura negra, destaca sua inserção nas antologias literárias, principalmente 
aquelas ligadas a discussões de movimentos nos Estados Unidos e no Caribe. Tal terminologia incentivava 
um tipo de literatura com base em questões relacionadas ao reconhecimento e à valorização da identidade 
e da cultura dos povos africanos e afrodescendentes; 
b. no que se relaciona ao uso do termo afrodescendente, analisa que o termo afro está mais voltado à 
caracterização de uma particularidade artística, literária, de uma cultura específica.
Você viu durante seus estudos a discussão sobre o termo literatura negra e literatura afro-
descendente. No contexto macroliterário, qual o termo você acredita ser o mais adequado 
a usar? 
De acordo com Fonseca (2004 apud SOUZA; LIMA, 2006, p.12), os usos desses termos são excludentes, 
[...] porque particularizam questões que deveriam ser discutidas levando-se em consideração a 
cultura do povo de um modo geral e não apenas as suas particularidades. No caso do Brasil, por 
exemplo, se deveria levar em conta a cultura brasileira e não apenas a cultura negra.
Fonseca (2004 apud SOUZA; LIMA, 2006, p.13) ressalta ainda que 
Mesmo entre os escritores que se assumem como negros, alguns deles muito sensíveis à exclu-
são dos descendentes de escravos na sociedade brasileira, existe resistência quanto ao uso de 
expressões como “escritor negro”, “literatura negra” ou “literatura afro-brasileira”. Para eles, essas 
expressões particularizadoras acabam por rotular e aprisionar a sua produção literária. Outros, ao 
contrário, consideram que essas expressões permitem destacar sentidos ocultados pela generali-
zação do termo “literatura”. E tais sentidos dizem respeito aos valores de um segmento social que 
luta contra a exclusão imposta pela sociedade.
A autora destaca em sua análise que alguns teóricos ainda defendem o uso da expressão literatura negra, mesmo 
depois do estabelecimento do termo literatura afro-brasileira. Considera que esse fato se deve às lutas pela cons-
cientização e pela constituição da identidade de excluídos socialmente. Em síntese, expressa que a denominação 
“literatura negra” busca sua inserção na cultura e a constituição de uma identidade de grupo, que traz como con-
sequência a conversão da imagem do termo “negro”, construído histórica e socialmente, a um aspecto positivo; já a 
11
Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
designação “literatura afro-brasileira” conecta o termo “literatura” ao ato criativo e as correlações desse ato criativo 
às origens africanas, seja a África dos homens escravizados, seja a África berço da civilização. 
Assim como Fonseca (2004 apud SOUZA; LIMA, 2006), Duarte (2010) ressalta os distanciamentos dos sentidos 
dados aos termos literatura negra e literatura afro-brasileira. Entretanto, para o autor, o uso do termo “literatura 
negra” como bandeira da busca identitária de um grupo excluído acaba por enfraquecer e limitar a eficácia do 
conceito como operador teórico-crítico de estudos literários, mesmo porque carrega ainda em si marcas de nega-
tividade, inferioridade. Já o termo afro-brasileiro marca um processo de hibridismo étnico, linguístico, religioso e 
cultural, já observado em sua essência semântica que remete à confluência das culturas brasileiras e africanas.
Hibridismo étnico – Hibridismo é a característica daquilo que provém de naturezas distintas. 
Étnico refere-se à característica de um povo, especialmente falando de um grupo social com 
uma cultura própria, específica. 
Glossário
Figura 1.3 – Imagens representativas da cultura africana
Legenda: A figura expressa símbolos da cultura africana.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
Duarte (2007, p. 1), em suas indagações sobre “O que torna a escrita afro-brasileira distinta do conjunto das 
letras nacionais? Que elementos diferenciam e conferem especificidade à produção literária dos brasileiros des-
cendentes de africanos?”, aponta um conjunto de cinco fatores de identificação, como você observará no quadro 
a seguir. 
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
 Quadro 1.1: Fatores de identificação da literatura afro-brasileira
Fator Características Exemplos
Temática A temática negra envolve as tradições 
culturais ou religiosas transplantadas 
para o Brasil, destacando a riqueza de 
mitos, lendas e de todo um imaginário 
circunscrito muitas vezes à oralidade. 
Contempla o resgate da história do povo 
negro.
Canto dos Palmares, de Solano Trindade (1961), 
e Dionísio esfacelado (1984), trazem os feitos 
gloriosos dos quilombolas. Em Contos crioulos 
da Bahia, Mãe Beata de Yemanjá, Caroço de dendê 
e no recém-publicado Histórias que minha avó 
contava figuram na linha de recuperação de 
uma multifacetada memória ancestral.
Autoria Volta-se à escrita proveniente de autor 
afro-brasileiro. A autoria não pode ser 
vista apenas como um dado exterior, mas 
na condição de traduzida emconstante 
discursiva integrada à materialidade da 
construção literária, ou seja, indissociável 
do autor que a produz e do contexto em 
que é produzida
Obras de Machado de Assis. O lugar de onde 
Machado fala é o dos subalternos e esse é 
um fator decisivo para incluir ao menos parte 
de sua obra no âmbito da afro-brasilidade, 
embora canonizado como escritor branco.
Ponto de vista O ponto de vista adotado configura-se 
em indicador preciso não apenas da 
visão de mundo autoral, mas também 
do universo axiológico vigente no texto, 
ou seja, do conjunto de valores morais e 
ideológicos que fundamentam as opções 
até mesmo vocabulares presentes na 
representação. Apresenta um sujeito de 
enunciação que se afirma e se quer negro.
Úrsula, de Maria Firmina dos Reis (1859), que 
adota a mesma perspectiva ao colocar o 
escravo Túlio como referência moral.
Linguagem A linguagem é, sem dúvida, um dos 
fatores instituintes da diferença 
cultural no texto literário. Assim, a afro-
brasilidade tornar-se-á visível já a partir 
de uma discursividade que ressalta 
ritmos, entonações, opções vocabulares 
e mesmo toda uma semântica própria, 
empenhada muitas vezes em um trabalho 
de ressignificação que contraria sentidos 
hegemônicos na língua.
Termos como negro, negra, crioulo ou mulata, 
para ficarmos nos exemplos mais evidentes, 
circulam no Brasil carregados de sentidos 
pejorativos e tornam-se verdadeiros tabus 
linguísticos no âmbito da “cordialidade” que 
caracteriza o racismo à brasileira.
Como exemplo, os versos de Manuel Bandeira 
(1990): “Irene preta, Irene boa, Irene sempre 
de bom humor” ou da mulata assanhada, que 
nunca é mulher diurna, só noturna; nunca é 
espírito, só carne; nunca é família ou trabalho, 
só prazer?
Público leitor A formação de um público específico, 
marcado pela diferença cultural e pelo 
anseio de afirmação identitária, compõe 
a faceta algo utópica do projeto literário 
afro-brasileiro.
A faceta algo utópica do projeto literário afro-
brasileiro inicia-se sobretudo a partir do Teatro 
Experimental do Negro (1944), de Abdias do 
Nascimento.
Fonte: Adaptado de Duarte (2007, p. 2-4; 2010, p. 113-116).
13
Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
Os fatores apresentados no quadro têm sido utilizados, segundo Duarte (2007; 2010), como critério de con-
figuração da literatura afro-brasileira, atuando como pressupostos teóricos na composição de um distancia-
mento entre a concepção de literatura afro-brasileira e literatura brasileira. Conforme destaca Lobo (1993 apud 
DUARTE, 2007, p. 9):
Para arrancar a literatura negra do reduto reducionista da literatura em geral que a trata como 
tema folclórico, exótico, ou como estereótipo, é preciso que ela seja, necessariamente, uma lite-
ratura afro-brasileira.
Não deixe de participar do nosso desafio da disciplina. Nele, você terá a oportunidade de 
aplicar os assuntos aprendidos nas unidades. 
1.3 Cenário contemporâneo da Literatura Afro-brasileira 
Já no século XIX, a escrava Isaura, personagem de Bernardo Guimarães, e o mulato Raimundo, de Aluísio Aze-
vedo, são personagens negros apresentados com características embranquecidas (pele e olhos claros) e certa 
nobreza (boa educação e estudos formais). 
A descrição que Bernardo Guimarães (2013, p. 3-4) faz de Isaura é: “A tez é como marfim do teclado, alva que não 
deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não sabereis se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada”. 
As características dadas a Isaura são as de uma mulher branca. 
Nesse sentido, a personagem, embora tivesse ancestralidade negra, vivia em melhores condições que seus pares 
por conta de sua cor. Isaura foi esbranquiçada e enobrecida, ganhando um local de prestígio, enquanto os outros 
negros viviam em condições precárias. Já em “O mulato”, de Aluísio de Azevedo, a personagem principal, Rai-
mundo (o mulato), é um mestiço de tez morena, mas com feições finas e olhos azuis, que encanta a filha de um 
comerciante rico e grosseiro, vivendo um romance proibido com ela, sendo levado à morte por isso.
Castro Alves, o poeta dos escravos, autor de produções como “Navio Negreiro” e outros poemas, também não 
escapou de branquear os negros escravizados. 
‘Stamos em pleno mar... Doudo no espaço 
Brinca o luar — dourada borboleta; 
E as vagas após ele correm... cansam 
Como turba de infantes inquieta.
Era um sonho dantesco... o tombadilho 
Que das luzernas avermelha o brilho. 
Em sangue a se banhar. 
Tinir de ferros... estalar de açoite... 
Legiões de homens negros como a noite, 
Horrendos a dançar...
14
Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
Negras mulheres, suspendendo às tetas 
Magras crianças, cujas bocas pretas 
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas, 
No turbilhão de espectros arrastadas, 
Em ânsia e mágoa vãs!
(ALVES, 2015, p. 125-126)
Podemos observar que o negro, no cenário proposto no poema de Castro Alves, é descrito em agonia. Os excertos 
nos possibilitam recriar, figurativamente, pelas mãos do poeta, a temática da escravidão de povos africanos.
No trecho final do poema, entretanto, “Levantai-vos heróis do Novo Mundo! Andrada! Arranca esse pendão dos 
ares! Colombo! Fecha a porta dos teus mares!”, Castro Alves evoca não negros, zumbis e dandaras para a liber-
tação dos escravos, e sim “os heróis do mundo novo”, os Andradas ou o próprio Colombo. Ou seja, a libertação 
da escravidão dos afrodescendentes viria dos brancos e não deles próprios, atribuindo assim aos negros certa 
incapacidade de luta e resistência.
O negro, além de parecer mais branco em suas características físicas ou de ter sua cultura aproximada da cultura 
europeia trazida para o Brasil, ainda foi representado como infantil, ignorante, sexualizado ou escravizado.
Considerando essa questão, tratemos da personagem Bertoleza, da obra “O cortiço”, de Aluísio Azevedo. O 
trecho final do livro relata da seguinte forma o fim trágico dessa personagem: “Os policiais, vendo que ela se não 
despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de 
um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado 
a lado. E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue” (AZE-
VEDO, 2003, p. 162). As palavras “anta” e “esfocinhando” desumanizam a personagem, atribuindo-lhe caracte-
rísticas animalescas e justificando a óptica naturalista, segundo a qual o homem é um ser instintivo, regido pelas 
influências do meio, da história e da hereditariedade.
Vários estereótipos, como os de preguiçosos, sensuais, baderneiros, serviçais, domesticáveis, animalizados, 
impróprios para o trabalho ou adequados apenas para trabalhos muito pesados, entre outros, foram repetidos 
dentro da literatura. 
No caso das novelas brasileiras, durante muito tempo observou-se que os personagens negros, geralmente, 
representavam papéis que reforçam estereótipos tradicionais sobre o negro. É a personagem que mora na peri-
feria, onde existe pobreza, criminalidade e violência; que quando atua junto ao núcleo mais central, assume 
papéis de empregadas domésticas, motoristas ou secretários. 
Em 1969, “A Cabana do Pai Tomás” trouxe a primeira protagonista negra em uma novela. A atriz que fez o papel 
de Tia Cloe foi Ruth de Souza.
Nesta mesma novela, para viver um negro, Sérgio Cardoso pintava o rosto e o corpo de preto, 
usava peruca e punha rolhas no nariz. A técnica, conhecida como blackface, havia sido utilizada 
no início do cinema americano.
Gerou controvérsia a escalação de Sérgio Cardoso, um ator branco, para interpretar um negro. 
Plínio Marcos chegou a comandar uma série de manifestações de repúdio à decisão através da 
sua coluna diária  Navalha na Carne, publicada no jornal Última Hora de São Paulo (Disponível 
no canal de memória da Tv Globo; http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/a-cabana-do-pai-tomas/curiosidades.htm).
Muitos perduram até hoje na representação das pessoas negras, principalmente em filmes, seriados, livros e his-
tórias das mais diversas. Em novelas e outros programas televisivos, ainda vê-se uma supremacia branca entre os 
artistas e são poucos os papéis relevantes ou de protagonismo dados aos negros.
http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/a-cabana-do-pai-tomas/curiosidades.ht
http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/novelas/a-cabana-do-pai-tomas/curiosidades.ht
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
Observe que, ainda hoje, seja em telenovelas ou filmes, empregadas domésticas e trabalha-
dores braçais são, em sua grande maioria, representados por atores negros. 
No século XX, Jorge Amado valorizou as contribuições dos negros à cultura brasileira e deu a eles características 
mais simpáticas, embora tenha mantido vários estereótipos, como a ingenuidade e a sexualidade de Gabriela, 
em “Gabriela, cravo e canela”: 
Mas Clemente a via esguia e formosa, a cabeleira solta e o rosto fino, as pernas altas e o busto 
levantado. Fechou ainda mais o rosto, queria tê-la com ele para sempre. Como viver sem o calor 
de Gabriela? [...] Foi ela quem veio, certa noite, com seu passo de dança e seus olhos de inocência, 
para junto dele, puxar conversa. (AMADO, 2012, p. 57).
Já na década de 1960, houve um comprometimento maior com a etnia, como no caso dos contos de Edibelto 
Coutinho, que fez denúncia a partir da figura do negro ressentido com a sua condição. Em 1954, Vinicius de 
Moraes, com “O Orfeu da Conceição”, trouxe uma crítica à condição do negro no país.
Por ser uma peça de teatro, Vinicius colocou como condição que “todas as personagens da tragédia devem ser 
normalmente representadas por atores da raça negra, não importando isto em que não possa ser, eventual-
mente, encenada com atores brancos” (MORAES, 1976, p. 400 apud LIMA, 2015, p. 139). Isso colocou os artistas 
negros sob os holofotes, em uma tentativa de contrapor a supremacia de artistas brancos, os quais conseguiam 
quase todos os papéis de destaque disponíveis.
Machado de Assis tem em suas obras muitas passagens sobre a pessoa negra, sobre a condição de escravos e 
sobre seus sentimentos. Diversos autores e autoras debruçam-se para indicar nas obras machadianas a maneira 
como ele retratava a pessoa negra e a escravidão. Oliveira e Bora (2010),, por exemplo, discutem o tema em 
“Representações do negro livre em Machado de Assis”. Vamos citar aqui a personagem Prudêncio, da obra 
“Memórias póstumas de Brás Cubas”, escravo de Brás durante a infância, que mais tarde (já alforriado) se trans-
forma em dono de escravos e maltrata-os.
Já Cruz e Sousa, considerado um dos maiores poetas brasileiros, reflete em suas poesias a angústia de ser negro, 
como podemos observar nesse trecho do poema “Dor Negra” (SOUSA, 1961 apud PRANDINI, 2011, p. 57), em 
que o título já nos chama a atenção para o tema abordado:
[...] devorada pelo incêndio solar como por ardente lepra
Sidérea, és a alma negra dos supremos
Gemidos, o nirvana negro, o rio grosso e torvo
De todos os desesperados suspiros, o
Fantasma gigantesco e noturno da Desolação,
A cordilheira monstruosa dos ais, múmia das
Múmias mortas [...]
16
Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
A palavra “negra” aparece em um sentido espiritual e a angústia é retratada nas palavras “gemido”, “desespe-
rado”, “fantasma”, “desolação” e “morte”. Há um profundo desabafo de um homem situado em um período em 
que pessoas negras como ele eram tratadas de forma desumana.
Títulos de antologias publicadas a partir da década de 1980: Cadernos Negros, coletânea 
publicada, a partir de 1978, pelo Movimento Quilombo Hoje, de São Paulo; Antologia con-
temporânea da poesia negra brasileira (1982), organizada pelo poeta Paulo Colina; Poesia 
negra brasileira (1992), organizada por Zilá Bernd. 
Segundo Duarte (2010, p. 133):
Desde a década de 1980, a produção de escritores que assumem seu pertencimento enquanto 
sujeitos vinculados a uma etnicidade afrodescendente cresce em volume e começa a ocupar 
espaço na cena cultural, ao mesmo tempo em que as demandas do movimento negro se ampliam 
e adquirem visibilidade institucional.
Outros expoentes literários devem ser considerados, tais como:
• Ricardo Aleixo: explora a sonoridade das palavras e outros efeitos que a escrita pode produzir, ainda que presa 
à folha de papel. Publicou “Festim” (1992) e “A roda do mundo” (1996), escrito em parceria com Edimilson de 
Almeida Pereira. O poeta apresenta vários orikis, poemas compostos seguindo a tradição ioruba.
Orikis – Orações que exaltam os poderes e feitos dos orixás; esses orikis são formas de rezas 
dos fiéis às divindades criadas por Deus (Olorún). 
Glossário
• Edimilson de Almeida Pereira: poeta que discute a temática afro-brasileira de forma menos contestatória 
e política, mesmo quando voltado à reflexão de questões sociais.
A maioria de seus livros deixa claro para o leitor que o material trabalhado em seus poemas pro-
vém de várias fontes e das várias áreas de conhecimento pelas quais o poeta transita: a do magis-
tério superior, da antropologia e a do estudioso que se preocupa com a preservação da memória e 
de costumes próprios do universo em que a voz se mistura aos gestos e o indivíduo é sempre parte 
de uma coletividade (FONSECA et. al, 2004 apud SOUZA; LIMA, 2006, p. 131).
O poema a seguir traz as especificidades emergentes da obra de Edimilson de Almeida Pereira. Podemos situar 
de forma crítica o contexto histórico da escravização. Na perspectiva da intertextualidade, o poema “Cartografia 
II” aproxima-se da poética de Castro Alves na obra “Navio Negreiro”.
17
Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
CARTOGRAFIA II
o norte é labirinto 
ainda que o mar 
se resolva 
em continente
e o continente vertido 
em corpo 
se admire da própria 
ganância
a superfície 
os embates são fábricas 
de artifícios 
e mortos
o que foi lançado 
às ondas 
sobe ao maxilar 
da história
mas por si não 
reinventa a máquina 
é preciso revolver 
o eclipse
que serviu 
de leme à barca 
e de venda 
aos embarcados
para o norte outro 
norte 
como se a viagem não 
fosse cárcere.
((PEREIRA, 2011 apud BERND, 2011, p. 449).
• Elisa Lucinda publicou “O semelhante” (1995), “Contos de vista” (2005) e “A menina transparente” 
(2000). A representatividade do negro já começa pelas capas, com pessoas negras na ilustração.
• Chico César compartilha o olhar suburbano e múltiplo do negro contemporâneo, partícipe e solidário ao 
que seja da periferia. 
• Mel Adún traz em seus escritos uma forte presença feminina negra. Publicou o livro infantil “Lua cheia 
de vento” (2016).
• Jônatas Conceição da Silva, poeta, cronista e contista. Essencialmente, em seus poemas encontramos o 
registro da memória do passado.
Onde nasci não passa um rio,
Passa um rego.
Refletindo toda miséria margeada.
18
Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
O rio que gostaria que passasse onde nasci
Não existe.
Uma esperança: quando chovia o rego demudava:
Desciam lata, pano, colher, caco.
O que nos sobrava.
(FERNANDES; WIMMER; ALVAREZ, 2011, p. 42).
• Conceição Evaristo tem como obras “Ponciá Vicêncio” (2003), “Becos da memória” (2006), “Olhos d’água” 
(2014) e “Insubmissas lágrimas de mulheres” (2011), entre outras. No livro “Ponciá Vicêncio”, a autora 
aborda o preconceito racial e as questões de gênero. Também tem participação em cadernos e coletâneas.
De acordo com Fonseca et al. (2006, p. 160), Conceição Evaristo “marca sua produção acadêmica e literária com 
um discurso que possa refletir a sua vivência de mulher negra na sociedade brasileira”. Esse contexto é bem 
exemplificado no poema“Eu-mulher”:
EU-MULHER
Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
(EVARISTO, 2008 apud FONSECA et al., 2006, p. 161).
• Fatima Trinchão, poetisa, teve trabalhos publicados em jornais e revistas e participou de coletâneas.
• Ana Maria Gonçalves escreve “Um defeito de cor” (2006), vencedor do Prêmio Casa de Las Americas.
O branco criou a alta sociedade, lá não entra o negro.
Só a terra é que não tem orgulho. No mundo a humanidade nasce e morre. Quando o homem 
está vivo, vive com os cereais que saem da terra. E quando morre vai para o seio da terra. Ela não 
fala, mas é sábia. É a melhor obra de Deus.
Eu gostava de frutas, mas era difícil conseguir dinheiro para comprá-las. 
Eu já estava notando que o pobre vive mais com as pretensões.
Um dia ouvi a minha mãe contando que o meu tio Joaquim estava tomando água numa torneira 
pública
– o chafariz – quando o filho do Juca Barão chegou
19
Literatura Afro-brasileira | Unidade 1 - Literatura Afro-brasileira: uma discussão conceitual do termo
e disse-lhe:
— Sai daí negro sujo! Quem deve beber água primeiro sou eu, que sou branco – e empurrou meu 
tio, que ficou nervoso e retirou uma faquinha de arco de barril que ele fez, e deu um golpe na nuca 
do filho do Juca
Barão, que caiu no solo sem vida.
O meu tio não foi preso por ser menor.
O juiz de direito era o doutor Brand. Os brancos reuniram-se e foram xingar o vovô:
— Agora que os negros são livres, vão matar os brancos e já são protegidos pela lei.
Estas cenas eram motivo para os portugueses ufanarem:
— Estes atos selvagens são a consequência da liberdade.
E vocês vão ver as coisas piores, pois o Rui chegou a dizer que, se o negro estudar, poderá ser 
governador, presidente, deputado, senador e até diplomata.
Os negros que ouviam não respondiam, porque os portugueses eram ricos. Eles eram livres, mas 
pobres. Na questão de negro com o branco, ninguém procura saber com quem é que está a razão. E o 
negro é quem acaba sendo o bode expiatório (GONÇALVES, 2006, p. 62-63). 
A obra supracitada, assim como “Quarto de Despejo” (1960), com cunho muito acentuadamente biográfico, 
retrata e expõe – de forma crítica – o preconceito racial de uma São Paulo no início de sua modernização. 
Os exemplos citados aqui de forma alguma esgotam a lista de autores que tanto contribuíram para a constru-
ção de uma literatura afro-brasileira, mas servem como ponto de entendimento e compreensão de como essa 
representatividade foi elaborada e do cenário contemporâneo da literatura afro-brasileira no contexto nacional.
20
Considerações finais
Nesta unidade, conceituamos literatura afro-brasileira a partir de uma 
perspectiva cultural e também pelo viés da perspectiva literária. Vamos 
retomar os pontos principais estudados até aqui?
• O conceito de cultura e a influência da cultura negra e da cultura 
indígena no Brasil.
• A discussão sobre o uso dos termos literatura afro-brasileira e 
literatura negra. 
• A partir de estudos Duarte (2007; 2010), vimos os fatores utilizados 
como critério de configuração da literatura afro-brasileira.
• Conhecemos um pouco sobre autores que tanto contribuíram 
para a construção de uma literatura afro-brasileira, expoentes 
da literatura, como Bernardo Guimarães, Aluísio Azevedo, Castro 
Alves, Jorge Amado, Edibelto Coutinho, Vinicius de Moraes, 
Machado de Assis, Cruz e Souza; e os contemporâneos Ricardo 
Aleixo, Elisa Lucinda, Chico César, Mel Adún, Conceição Evaristo, 
Fatima Trinchão e Ana Maria Gonçalves
Referências
21
ALVES. C. O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Melhoramen-
tos, 2015 (Série Clássicos Melhoramentos).
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BAKHTIN, M. M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. 
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BERND, Z. Antologia de poesia afro-brasileira: 150 anos de consciência 
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In: AFOLABI, Niyi; BARBOSA, Márcio; RIBEIRO, Esmeralda (Org.) A mente 
afro-brasileira. Trenton NJ, EUA / Asmara, Eritreia: África World Press, 
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EVARISTO, C. Poemas da recordação e outros movimentos. Belo Hori-
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FERNANDES, M. G.; WIMMER, N; ALVAREZ, R. G. H. Lugares de identi-
dade: Manifestações do Literário, São Paulo: UNESP, 2011.
22
FONSECA. M. N. S. Literatura negra, literatura afro-brasileira: como res-
ponder à polêmica? In SOUZA, Florentina; LIMA, Maria Nazaré. (Org.). 
Literatura Afro-Brasileira. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; 
Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. 220p.
FONSECA. M. N. S.; JOVINO, I.; MACHADO, V.; OLIVEIRA, S. Autores afro-
-brasileiros Contemporâneos. In: SOUZA, F.; LIMA, M. N. (Org.). Literatura 
Afro-Brasileira. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: 
Fundação Cultural Palmares, 2006. 220p.
GONÇALVES, Ana Maria. Um defeito de cor. Rio de Janeiro: Record, 2006.
GUIMARÃES, B. A escrava Isaura. Rio de Janeiro: Obliq Press, 2013 (Série 
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JESUS, C. de. Diário de Bitita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
LIMA, M. de. Várias tessituras: personagens marginalizados da literatura. 
Londrina, PR: EDUEL, 2015.
PRANDINI, P. Cruz e Sousa. Rio de Janeiro: Selo Negro, 2011.
ZUCON, O.; BRAGA, G. G. Introdução às Culturas Populares no Brasil. 
Curitiba: InterSaberes, 2013.
24
2Unidade 2
O espaço da prosa na 
Literatura Afro-Brasileira
Para iniciar seus estudos
Podemos considerar a literatura afro-brasileira como sendo um corte 
dentro dos escritores da tradição literária brasileira. Ela possui uma nar-
rativa mais focada nas questões étnicos-raciais. Sendo assim, nesta uni-
dade, conheceremos os principais autores da prosa literária afro-brasi-
leira, as características marcantes em suas obras e sua importância dentro 
do cenário literário brasileiro.
Vamos começar!
Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar os principais autores da prosa afro-brasileira.
• Apresentar as principais características nas obras da prosa 
afro-brasileira.
• Fazer uma análise literária de algumas obras.
25
Literatura Afro-brasileira | Unidade 2 - O espaço da prosa na Literatura Afro-Brasileira
2.1 Prosa Afro-Brasileira: um pouquinho sobre sua história
Podemos compreender o estilo “prosa” como sendo um estilo utilizado de forma mais constante na linguagem 
do cotidiano, pois expressa o pensamento racional. A prosa afro-brasileira pretende, dentro da sua narrativa, 
questionar o racismo brasileiro, valorizar as raízes afro-brasileira, afrodescendente ou as raízes negras.
A potência na linguagem evidencia a resistência, as reivindicações e as denúncias das condições de vida impostas 
por uma sociedade opressora. A literatura afro-brasileira é uma demanda do movimento negro nas décadas de 
1970 e 1980. Ela começa a receber a atenção da academia e das universidades a partir do século XXI.XXI.
2.2 Grandes autores, grandes obras
É na literatura negra ou afro-brasileira que as questões relativas à identidade e às culturas dos povos africanos 
e afrodescendentes são abordadas, por meio de uma escrita que valoriza a herança cultural africana e garante o 
direito à memória desses povos, afirma a poetisa Conceição Evaristo (2013). Há muitos trabalhos sobre a literatura 
negra que não conhecemos e que precisam ser discutidos, pois representam a historicidade do povo brasileiro. A 
etnia negra teve, na nossa literatura, uma série de representações,em geral, pelos olhos dos intelectuais europeus. 
Além de conhecer a história, esse tipo de literatura também aborda as aflições da alma e do cotidiano vivido por 
personagens negras. O reconhecimento da contribuição negra para a literatura brasileira dá-se por meio de 
nomes historicamente consagrados; vamos conhecer um pouco sobre eles agora.
Vamos lá?
Figura 2.1: Memória dos povos afro-brasileiros por meio da literatura.
Legenda: Livros representando a contribuição negra para a literatura brasileira.
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
26
Literatura Afro-brasileira | Unidade 2 - O espaço da prosa na Literatura Afro-Brasileira
• Domingos Caldas Barbosa (1738-1800)
Poeta e violeiro, radicalizado em Lisboa, escreveu modinhas, lundus e seus poemas foram preparados para serem 
cantados. Costumava usar o pseudônimo de Lereno Selinuntino. Utilizava uma linguagem com vocabulários vol-
tados para as camadas mais populares. Sua obra mais conhecida é “Viola de Lereno” (1798).
Lundus e modinhas. A modinha nasceu no Brasil no século XVII e caracterizou-se por ampliar 
temas amorosos. O lundu era uma dança de origem africana e, no Brasil, tornou-se um tipo 
de canção de fundo melódico. 
• Antônio Cândido Gonçalves Crespo (1846-1883)
Nascido no Rio de Janeiro, o poeta foi cedo para Portugal (1860) para estudar Direito em Coimbra. O escritor 
expressou em seus poemas a saudade das paisagens brasileiras, muito relacionadas ao homem negro. Ao mesmo 
tempo, reproduziu o realismo presente no cotidiano em suas obras. Também colaborou em diversas revistas lite-
rárias, expressando formas parnaisanas e pontos de vista tradicionais.
• Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882)
Luís Gonzaga Pinto da Gama era filho da africana livre Luiza Mahin com um fidalgo branco de origem portuguesa, 
de uma rica família baiana. Foi um abolicionista negro que se empenhou na libertação do escravo durante déca-
das do século XIX. A sua produção valoriza a presença do negro no Brasil.
Abolicionismo – Movimento do século XIX que congregou representantes de diversos seto-
res da sociedade de sentimento antiescravocrata. 
Glossário
• João da Cruz e Souza (1861-1898)
É considerado o mestre do simbolismo brasileiro e também o maior poeta negro de língua portuguesa. Poeta, 
escritor e advogado, relacionou-se com outros poetas dedicados ao simbolismo, mostrando preocupação social 
relativa à situação escrava e à discriminação sofrida pelo negro em geral.
• Bernardino da Costa Lopes (1859-1916)
O poeta Bernardino nasceu no arraial de Boa Esperança (Rio Bonito), estado do Rio de Janeiro. Obteve a aceitação 
literária na sociedade devido principalmente a suas poesias. Foi um dos fundadores da Folha Popular. Por ser con-
siderado um percursor do Simbolismo no Brasil, pode ter influenciado a primeira fase poética de Cruz e Souza.
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 2 - O espaço da prosa na Literatura Afro-Brasileira
• Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908)
Machado de Assis apaixonou-se pela leitura ainda cedo. É considerado um de nossos melhores escritores. Entre 
suas obras, citamos a trilogia “Memórias póstumas de Brás Cubas” (1881), “Quincas Borba” (1892) e “Dom Cas-
murro” (1900). Em sua poesia, incidem menções esparsas ao negro, com o autor demonstrando preocupação em 
atenuar os aspectos ligados à cor negra.
• Tobias Barreto de Menezes (1839-1889)
Tobias Barreto de Menezes nasceu na Vila de Campos do Rio Real, em Sergipe. Formou-se em Direito na tradi-
cional Faculdade do Recife. Foi professor e poeta. Dedicou-se às análises filosóficas sobre o homem brasileiro e a 
questões direcionadas aos direitos sociais. Refletiu sobre a situação do escravo também em sua poesia.
• José Carlos do Patrocínio (1853-1905)
Defensor ardente da abolição. Como jornalista, escreveu inúmeros textos sobre o seu pensamento antiescravista. 
Escreveu obras em prosa de caráter realista, nas quais evidenciou sua intenção de analisar questões sociais, como 
“Coqueiro ou a pena de morte” (1877), “Os retirantes” (1877) e “Pedro Espanhol” (1884).
• Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922)
O romance social de Lima Barreto expôs as contradições de nosso ambiente social. Escreveu romances, sátiras, 
textos jornalísticos e críticas, abordando em suas obras as grandes injustiças sociais. Fez críticas ao regime polí-
tico da República Velha e possuía um estilo literário fora dos padrões da época. Foi um escritor de transição entre 
o Realismo e o Modernismo. 
Existem outros escritores e escritoras negros que ainda não têm a visibilidade de alguns que já citamos, como 
Machado de Assis, Lima Barreto ou Cruz e Sousa. Vejamos agora autoras que têm alcançado certo destaque:
• Maria Firmina dos Reis – escreveu “Úrsula” (1859), o primeiro romance abolicionista brasileiro, e, além 
disso, o primeiro escrito por uma mulher negra no Brasil. Escreveu ainda “A Escrava” (1887), “Gupeva” 
(1861), “Parnaso maranhense” (1861) e “Cantos à beira-mar” (1871), além de poemas e artigos publicados 
em jornais. 
• Carolina Maria de Jesus – aliou criação literária e experiência de vida para compor uma obra que merece 
análises mais detalhadas, Quarto de despejo (1960), que alcançou repercussão internacional, revelando 
uma produção de caráter documental e de contestação social. Outras obras da escritora são “Casa de 
alvenaria” (1961), “Pedaços da fome” (1963), “Diário de Bititia” (1982) e “Meu estranho diário” (1996), 
entre outras. 
Atualmente, escritoras como Elisa Lucinda, Mel Adún, Conceição Evaristo e Fátima Trinchão falam muito sobre a 
representação do negro na literatura.
• Elisa Lucinda publicou “O semelhante” (1995), “Contos de vista” (2005) e “A menina transparente” 
(2000). A representatividade do negro já começa pelas capas, com pessoas negras na ilustração. 
• Mel Adún traz em seus escritos uma forte presença feminina negra. Publicou o livro infantil “Lua cheia 
de vento” (2016). 
• Conceição Evaristo tem como obras “Ponciá Vicêncio” (2003), “Becos da memória” (2006), “Olhos d’água” 
(2014) e “Insubmissas lágrimas de mulheres” (2011), entre outras. No livro “Ponciá Vicêncio”, a autora 
aborda o preconceito racial e as questões de gênero. Também tem participação em cadernos e coletâneas.
• Fatima Trinchão, poetisa, teve trabalhos publicados em jornais e revistas e participou de coletâneas.
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 2 - O espaço da prosa na Literatura Afro-Brasileira
Não deixe de participar do nosso desafio da disciplina. Nele, você terá a oportunidade de 
aplicar os assuntos aprendidos nas unidades. 
2.3 Características marcantes da prosa Afro-Brasileira
A prosa poética recorre a figuras típicas da poesia, como a aliteração, que é a repetição de fonemas idênticos ou 
parecidos no início de várias palavras; a metáfora, que produz sentidos figurados por meio de comparações implíci-
tas; a elipse, que consiste em omitir um termo que pode ser subentendido no texto; e a sonoridade das frases. 
No histórico da literatura brasileira, a figura do negro, quando presente, aparece mais como tema do que como 
voz autoral. Na esfera da literatura negra ou afro-brasileira, podemos identificar linguagem e ponto de vista 
comprometidos em resgatar a humanidade e o papel histórico dos escravizados e seus descendentes. Fica clara 
a posição do negro. Ele fala de si mesmo. É outro o lugar do negro. 
Como estudamos, essa visão constitui-se aos poucos, tendo como marco inicial o trabalho de predecessores 
como Domingos Caldas Barbosa, com sua Viola de Lereno, ainda no século XVIII; Luiz Gama, com suas “Trovas 
Burlescas de Getulino” (1859); e Maria Firmina dos Reis, cujo romance “Úrsula” (também de 1859) traz, pela pri-
meira vez às nossas letras, a África e o porão do navio negreiro.
 Na descrição dessas obras, o texto apresenta uma nova visão do negro com outros traços, outros contornos. 
Na prosa, Maria Firmina dos Reis coloca o negro como sendo referência moral da narrativa. A autora condena o 
escravismo ao trazer o comovente relatoda preta Suzana sobre a própria captura e a viagem no navio negreiro. 
O texto possui imediações fortemente realistas devido à afinidade com relatos memorialísticos de ex-escravos. 
Nas escritas de Machado de Assis, podemos enxergar uma crítica ao mundo dos brancos. Suas obras são mar-
cadas por ironia e por um conjunto de procedimentos dissimuladores. Machado é precursor da literatura afro-
-brasileira por inúmeras razões; podemos destacar duas delas: 
• ponto de vista afroidentificado, não branco e não racista, apesar de toda a discrição; e
• o fato de matar o senhor de escravos em seus romances, criando um universo ficcional que é alegoria do 
fim da escravidão e da decadência da classe que dela se beneficiava.
Nas demais obras de outros escritores da época, podemos enxergar a figura do negro surgindo marcado pela pers-
pectiva interna. Essa perspectiva pode ser facilmente identificada na ficção de Lima Barreto, que faz dele um ser 
humano livre de estereótipos, como em “Recordações de Isaías Caminha” (1909) ou em “Clara dos Anjos” (1948). 
Sendo assim, identificamos como características marcantes na literatura afro-brasileira: 
• a presença de sátiras e lirismo;
• linguagem com vocabulário voltado para as camadas mais populares do Brasil;
• destaque para a dor da saudade da terra natal;
• escritas de cunho abolicionista;
• valorização da presença negra no Brasil; 
29
Literatura Afro-brasileira | Unidade 2 - O espaço da prosa na Literatura Afro-Brasileira
• contradições e impressões sobre a sociedade escravocrata do século XIX;
• presença forte da descrição da identidade do povo brasileiro; e 
• discriminação sofrida pelo negro em geral. 
Nos dias de hoje, existem professores pesquisadores, como Eduardo Assis Duarte, que buscam mostrar que ainda 
existem autores negros que são ignorados com suas obras. Alguns autores buscam traçar o percurso do negro 
na literatura brasileira como objeto, em uma visão distanciada, e como sujeito, em uma atitude compromissada. 
Mostram, ao longo de suas obras literárias, a existência de estereótipos de visão preconceituosa, seja esta explí-
cita ou velada. Alguns buscam marcar a ultrapassagem do estereótipo e a assunção do negro como sujeito de seu 
discurso e de sua ação em defesa da identidade cultural. 
Os poetas daquela época viviam um grande dilema: assumir-se negro no século XIX era a 
mesma coisa que dizer que pertenciam a uma classe menos favorecida, a um grupo despres-
tigiado. Na sua opinião, esse posicionamento tão comum entre alguns escritores do século 
XIX têm vergonha de assumirem sua real identidade? 
2.4 Obras importantes dentro do cenário literário afro-
brasileiro
Sobre a representação dos negros na literatura brasileira, já no século XVII, temos os versos de Gregório de Matos, 
que ainda colocava os negros sob uma perspectiva de objeto. Como podemos perceber no poema “Epigrama” 
(1992, [s. p.]):
[...]
Quais são os doces objetos?... Pretos
Tem outros bens mais maciços?... Mestiços
Quais desses lhe são mais gratos?... Mulatos.
[...]
O poema faz uma crítica à sociedade baiana. Em uma leitura rápida e superficial, parece que Gregório de Matos 
apenas retrata a realidade das pessoas negras da época. Mas esse tipo de representação traz uma ideia errônea 
sobre negros e negras, afinal, estes eram combatentes e resistentes e foram tratados de forma “objetificada” 
pelos não negros. 
O autor reforça estereótipos atribuídos às pessoas negras e ainda deixa de enfatizar a luta, as fugas e a constru-
ção dos quilombos como símbolos reais e ainda atuais da resistência do povo negro no Brasil. No caso específico 
da mulher negra ou mulata (termo pejorativo utilizado na época na tentativa de embranquecer essas mulheres), 
temos o poema desse autor sobre Anica. 
30
Literatura Afro-brasileira | Unidade 2 - O espaço da prosa na Literatura Afro-Brasileira
Anica era uma mulher negra que lavava roupas, a quem ele se refere de forma sexualizada e desumanizada, como 
vemos no trecho publicado em “Crônica do Viver Baiano Seiscentista”: “Não me espanto, que nascessem tais 
efeitos de tal causa, que de Mulata sai mula, como de mula Mulata. Um dia dizeis, que é íngua, no outro, que não 
é nada, e eu digo, se não for mula, que será burra burrada” (1992, [s.p.]). 
Percebe-se claramente a diferença no tratamento em outro poema, escrito para Ângela (uma mulher branca), 
em que os termos utilizados insinuam quase um endeusamento dessa mulher: “[...] não vi em minha vida a for-
mosura, ouvia falar nela cada dia, e ouvida me incitava e movia, a querer ver tão bela arquitetura” (1992, [s.p.]).
No primeiro poema, os instintos mais selvagens de Gregório (ou do seu eu lírico) dirigem-se à “mulata”; já no 
segundo, embora Gregório também deseje a mulher, utiliza termos mais rebuscados, suaves e respeitosos 
para referir-se a ela. Com relação à mulata, essa seria “burra burrada”, mas quanto à branca, queria ver “tão 
bela arquitetura”. 
A representatividade estereotipada da mulher negra está ligada à sensualidade, à sexualidade e aos instintos, 
auxiliando na construção dessa figura como objeto sexual animalesco.
Como vimos, a representação da etnia negra foi, em sua maioria, deturpada na literatura brasileira, fundamen-
talmente pelo fato de essa produção literária ser escrita por pessoas brancas e com preconceitos muito interna-
lizados sobre o que era ser indígena ou negro.
Na versão online da revista “Fórum” (2015), Cidinha da Silva, escritora negra, fala sobre a importância de Elisa 
Lucinda, Conceição Evaristo e Lívia Natália. Cidinha comemora o sucesso dessas três escritoras como um novo rumo 
na história da literatura. Para exemplificar a grandiosidade da obra dessas três escritoras, confira na sequência a 
poesia de Conceição Evaristo, intitulada “Vozes-mulheres”. 
A voz de minha bisavó
Ecoou
criança nos porões do navio.
Ecoou lamentos
De uma infância perdida.
A voz de minha avó
Ecoou obediência
Aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagem sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
31
Literatura Afro-brasileira | Unidade 2 - O espaço da prosa na Literatura Afro-Brasileira
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
A voz de minha filha
recorre todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
(EVARISTO, 1990, [s. p.]).
Nesse poema, Conceição faz um relato dos passos trilhados pelas mulheres negras de sua família que, de uma 
perspectiva mais ampla, representam a trajetória da maioria dos negros. A bisavó foi obrigada à escravidão; a 
mãe teve como herança a favela; ela ainda denuncia o racismo; e sua filha é quem vivenciará o alcance dos direi-
tos às pessoas negras.
Dando sequência a essa representação da literatura produzida por mulheres negras, confira o poema de Elisa 
Lucinda, “Mulata exportação”:
Mas que nega linda
E de olho verde ainda
Olho de veneno e açúcar!
Vem nega, vem ser minha desculpa
Vem que aqui dentro te cabe
Vem ser meu álibi, minha bela conduta
Vem, nega exportação, vem meu pão de
Açúcar
(Monto casa procê, mas ninguém pode
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 2 - O espaço da prosa na Literatura Afro-Brasileira
Saber, entendeu
Meu dendê?)
(LUCINDA, 1995, [s. p.]). 
Esse poema denuncia a forma como a mulher negra é usada pela sociedade. Quando bonita, é apelidada de 
“tipo exportação” e, embora cause frenesi nas pessoas, não serve para companheira oficial ou para um relacio-
namento exposto. Fica sempre protelada ao papel de amante a fim de dar prazer ao outro.
Por fim, a última, mas não menos importante, representante da literatura negra, embora não parte da tríade 
citada, é Fátima Trinchão, que possui uma página na internet em que reúne seus escritos,entre artigos, poesias e 
livros. Para demonstrar a riqueza lírica dessa escritora, reproduzimos a seguir o poema “A Pele”. 
“Esta pele que me cobre,
Esta pele que me envolve
O corpo.
Esta pele que me marca
E me faz único em meio a tantos,
Esta pele que me define
Manto de extrema leveza,
Como a noite
Repleta de estrelas [...]”
(TRINCHÃO, 2017, [s. p.]). 
A autora faz uma homenagem à sua pele negra. O poema, que descreve a sensação de leveza e beleza proporcio-
nada pela pele negra, pode ser considerado um símbolo de um movimento que busca valorizar a sua cor, a sua etnia. 
Mel Adún, em seu livro “A Lua cheia de Vento” (2016), faz referência aos deuses e às entidades do panteão afro-
-brasileiro (Erê, Vunji, Ibejis). A autora conta a história de dois personagens, Gotinha e Ventania, que são seres 
encantados da natureza.
É interessante observar como, com o decorrer dos tempos e com novas discussões e perspectivas, os cenários 
vão modificando-se. Se antes tínhamos poucos autores negros, negras e indígenas na literatura, hoje a realidade 
modifica-se. O desafio é lançar essas discussões nas escolas e apresentar essa realidade para o conhecimento 
geral. Esse trabalho auxiliará na valorização da literatura brasileira por meio de diversos olhares.
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Considerações finais
Nesta unidade, estudamos como o espaço da prosa literária afro-brasi-
leira foi tomando força e lutando pela valorização dos elementos étnicos. 
Vamos relembrar os pontos principais estudados até aqui?
• Conhecemos um pouco sobre os principais autores da prosa afro 
-brasileira e suas principais obras relacionadas à temática afro 
-brasileira, como Machado de Assis, Lima Barreto, José do Patrocínio, 
Tobias Menezes, Cruz e Souza, Bernardino da Costa Lopes, Luiz 
Gama, Antônio Cândido e Domingos Caldas Barbosa.
• Estudamos as obras de mulheres negras, como Marina Firmina 
dos Reis, Conceição Evaristo, Fátima Trinchão e Carolina Maria de 
Jesus, todas lutando pela valorização da identidade negra, pela 
ressignificação dos estereótipos ligados à mulher negra e com 
demonstração forte de preocupação abolicionista.
• Conhecemos as características marcantes da literatura afro-
brasileira, como a presença de sátiras e lirismo, linguagem 
com vocabulário voltado para as camadas mais populares do 
Brasil, destaque para a dor da saudade da terra natal, escritas 
de cunho abolicionista, valorização da presença negra no Brasil, 
contradições e impressões sobre a sociedade escravocrata do 
século XIX, presença forte da descrição da identidade do povo 
brasileiro e a discriminação sofrida pelo negro em geral. 
Referências
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BAKHTIN, M. M. Questões de literatura e de estética: a teoria do 
romance. 6. ed. São Paulo: UMESP, 2010 439 p. (Linguagem e Cultura; 18).
Portal EBC. Escritoras negras debatem importância da literatura não 
racista. 25/07/2013. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/cul-
tura/2013/07/escritoras-negras-debatem-importancia-da-literatura-
-nao-racista>. Acesso em 24 de maio de 2018. 
SOUZA, Florentina; LIMA, Maria Nazaré. (Org.). Literatura Afro-Brasi-
leira. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cul-
tural Palmares, 2006. 220p.
http://www.ebc.com.br/cultura/2013/07/escritoras-negras-debatem-importancia-da-literatura-nao-racist
http://www.ebc.com.br/cultura/2013/07/escritoras-negras-debatem-importancia-da-literatura-nao-racist
http://www.ebc.com.br/cultura/2013/07/escritoras-negras-debatem-importancia-da-literatura-nao-racist
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3Unidade 3
A Literatura Juvenil 
Afro-Brasileira
Para iniciar seus estudos
A literatura infantojuvenil – termo que utilizaremos por uma adequação 
teórica aos estudos da crítica literária – faz-se presente tanto no contexto 
da pesquisa como das práticas docentes e no cotidiano infantojuvenil.
No cotidiano infantil, antes mesmo da inserção da criança em práticas de 
leitura e escrita, a literatura faz-se presente por meio de histórias de ninar, 
contos infantis, lendas e rodas de histórias nas escolas.
No cotidiano juvenil, já letrados e inseridos no mundo da cultura e da lei-
tura, a literatura faz-se presente na vida juvenil na produção de conheci-
mento, no prazer da leitura e na integração à cultura.
Nesse contexto, insere-se a literatura infantojuvenil afro-brasileira, tema 
de estudo deste encontro. 
Com esse propósito, discutiremos aspectos do folclore, mitos e lendas, 
que são as bases de composição e de influências na construção da lite-
ratura infantojuvenil afro-brasileira; os efeitos da Lei nº 10.639 na pro-
dução literária; apresentaremos as características e os principais autores 
desse gênero.
Convido você a trilhar esse caminho.
Vamos começar!
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Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar os principais autores da literatura juvenil afro-brasileira.
• Apresentar as principais características nas obras da literatura 
juvenil afro-brasileira.
• Realizar a análise literária de algumas obras. 
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 3 - A Literatura Juvenil Afro-Brasileira
3.1 Literatura (infanto) juvenil afro-brasileira: cenário em 
construção
Preliminar ao pensar sobre a literatura infantojuvenil afro-brasileira, é necessário situá-la como gênero literário 
e, pontualmente, conhecer as bases que constituíram sua origem. 
Encontramos em Bakhtin (2010) uma definição de gênero como formas-padrão “relativamente” estáveis produ-
zidas na enunciação, sendo esses gêneros determinados social e historicamente. É com um novo olhar sobre o 
gênero que Bakhtin (2010) discute a atualização dos gêneros – conforme a sociedade e as relações atualizam-se. 
Para ele, há uma renovação dos gêneros, até mesmo os literários: 
Por sua natureza mesma, o gênero literário reflete as tendências mais estáveis, “perenes” da evo-
lução da literatura. O gênero sempre conserva os elementos imorredouros da arcaica. É verdade 
que nele essa arcaica só se conserva graças à sua permanente renovação, vale dizer, graças à 
atualização. O gênero sempre é e não é o mesmo, sempre é novo e velho ao mesmo tempo. O 
gênero renasce e se renova em cada nova etapa do desenvolvimento da literatura e em cada obra 
individual de um dado gênero. Nisto consiste a vida do gênero. Por isso, não é morta nem uma 
arcaica com capacidade de renovar-se. O gênero vive do presente, mas sempre recorda o seu 
passado, o seu começo. É o representante da memória criativa no processo de desenvolvimento 
literário. É precisamente por isto que tem a capacidade de assegurar a unidade e a continuidade 
desse desenvolvimento. (BAKHTIN, 2010, p. 101).
O estilo, nesse contexto, como apontado por Bakhtin (2010), produz-se na escolha dos recursos linguísticos e de 
acordo com as finalidades de comunicação – ou seja, com a relação intersubjetiva entre o querer dizer do enun-
ciador e a imagem que ele concebe do enunciatário.
Nas obras infanto-juvenis [sic] contemporâneas, podemos encontrar textos (gêneros) oriundos 
da tradição oral africana, por exemplo, adaptações feitas a partir dos mitos, das lendas e de con-
tos. É também comum encontrar histórias que nos permitem ver uma ressignificação da persona-
gem negra. (JOVINO, 2006 apud SOUZA; LIMA, 2006, p. 189, grifo nosso).
Esse aspecto é de extrema relevância quando se discute uma literatura que, durante muito tempo, ficou relegada 
a um segundo plano, como uma subliteratura ainda sem espaço no campo literário.
Trata-se de um cenário que sofre alteração a partir, principalmente, da promulgação da Lei nº 10.639/2003, que 
estabelece a obrigatoriedade do ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira nos currículos escolares. 
A literatura infantojuvenil afro-brasileira enquanto gênero literário traz marcas da busca da identidade cultural 
afro-brasileira – tanto das personagens que vão sendo construídas como da identificação temática do autor-
-criador. Enquanto estilo, também é de forma acentuada que identificamos traços de uma busca identitária e as 
bases matrizes da literatura infantojuvenil afro-brasileira advindas dasexpressões culturais africanas orais, como 
o folclore, a lenda e o mito.
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 3 - A Literatura Juvenil Afro-Brasileira
“Literatura oral é o conjunto de manifestações literárias de uma sociedade ou civilização 
preservadas por meio da palavra falada e ou cantada. A literatura produzida na vasta área 
subsariana do continente africano distingue-se da literatura escrita em línguas europeias da 
tradição oral feita em línguas nativas” (LOPES, 2004, p. 392). 
3.1.1 Expressões culturais na composição literária infantojuvenil
Nas culturas africanas, ainda hoje, compreende-se a história a partir da literatura oral, como é o exemplo do Oriki.
Oriki – Canto de louvor, existente na literatura oral africana, ressalta a importância daquele 
ou daquela que é cantado(a). Existe na literatura oral africana. 
Glossário
A memória das antigas sociedades africanas se apoiava na transmissão continuada de histórias, 
contendo conhecimentos, princípios e valores que preservavam, entre outros, o sentido agrega-
dor enquanto família e vinculação à terra. Portanto, o ato de lembrar está na essência das tra-
dições que sustentam a organização comunitária e formas de governar nessas sociedades. [...] 
Embora os antigos africanos das mais diversas etnias que foram trazidos para o Brasil não mais 
existam, o universo cultural que veio com eles permaneceu como memória. A comunicação das 
chamadas “culturas orais” ou “tradição viva” mantém um processo interdinâmico, pessoal, inte-
gral tão importante quanto a tradição escrita. (MACHADO, 2006, p. 80).
As expressões culturais manifestam-se nos símbolos, nas várias brincadeiras infantojuvenis e em outras ativida-
des que estão registradas no folclore, na lenda, no mito. 
Agora, vamos conhecer um pouco mais sobre cada uma dessas expressões culturais.
Folclore
Para o folclore no Brasil, existe uma data a ser comemorada: 22 de agosto. Essa data foi criada em 1965 e cos-
tuma ser celebrada nas escolas com atividades que relembram personagens folclóricos e suas histórias fantásti-
cas, como o Saci-Pererê, a Mula Sem Cabeça e a Cuca.
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 3 - A Literatura Juvenil Afro-Brasileira
No entanto, essas atividades escolares não apresentam ou representam toda a complexidade do estudo de fol-
clore. A palavra “folclore” foi cunhada pelo arqueólogo inglês Willian John Thoms, em 1856: folk significa “povo” 
e lore significa “sabedoria”. Ou seja: sabedoria popular.
Os primeiros a pesquisarem o folclore brasileiro foram Celso Magalhães (em artigos publicados, em 1873, em 
Recife e em São Luís), José de Alencar (com publicação de cinco cartas, sendo quatro no Jornal O Globo, do Rio 
de Janeiro, e uma no jornal o País, em 1875) e Silvio Romero. Esses estudos foram realizados especialmente no 
período do Brasil Colonial.
Além disso, outros três fatores lhes eram comuns:
1. a busca de uma identidade nacional, com a percepção de que a cultura portuguesa em solo brasileiro 
havia modificado-se;
2. o entendimento de que a manifestação popular só ocorria no meio rural;
3. o fim das manifestações populares.
Em relação ao primeiro tópico de convergência citado anteriormente, no que concerne à modificação, Celso 
Magalhães dizia que a cultura se corrompia; já Alencar e Romero entendiam que a cultura brasileira se renovava.
O segundo ponto da reflexão era o de que a cultura popular, mais forte no meio rural, estava em consonância 
com a forma de pensar da época, que considerava o meio urbano como um local civilizado e de pessoas moder-
nas, enquanto o meio rural era visto como atrasado, povoado por pessoas rudes e até ingênuas. Esse pensa-
mento influenciou o status que a cultura popular assumiu: rude, atrasada, ingênua e não civilizada. 
O terceiro ponto refere-se à ideia da ameaça ao folclore. Os autores acreditavam que, a partir do momento em 
que o meio rural passasse a modernizar-se, suas tradições morreriam, uma vez que a modernização traria civi-
lidade às pessoas que viviam nessa área. Então, já que a ideia era a morte do folclore, a motivação era reunir o 
maior número possível de manifestações populares e documentar todas elas. A metodologia utilizada para ana-
lisar essas manifestações era comparativa, tentando sempre encontrar origens étnicas e raciais.
Além disso, a análise dos documentos possuía caráter moralizador, Como exemplos, pode-se citar o fato de que 
José de Alencar corrigia as poesias populares, colocando-as na língua culta, e que Celso Magalhães, agindo como 
uma espécie de censor, transformou profundamente poesias que ele considerava obscenas, descaracterizando-
-as. A desconstrução dessas poesias era tamanha que ficava difícil definir com precisão o que passavam a ser.
Seguindo nossa linha cronológica, na década de 1920, temos Amadeu Amaral e Mário Andrade. Amaral propôs 
uma nova metodologia de pesquisa para o folclore com foco na poesia e na linguagem. Sua proposta tinha como 
intuito formar sociedades de estudos particulares que consistiam em documentar as manifestações populares 
no Brasil para, em seguida, mapear as tradições populares por região. 
Para isso, era necessário ampliar o foco de pesquisa e refletir sobre o contexto no qual está inserida a manifesta-
ção folclórica, quem fala sobre ela e sobre a manifestação em si, entre outras considerações. Essa manifestação 
deveria ser encarada tal como ela é, e não a partir de preconceitos.
Mário de Andrade, que em 1924 começou a interessar-se pelas manifestações populares, tinha preocupações 
que coincidiam com as de Amadeu Amaral, como a documentação nos mesmos moldes e o maior número de 
materiais para pesquisa. Ele interessou-se por vários campos das manifestações populares, com destaque para 
a música. 
Seus estudos foram detalhados (registrando aspectos como datas e descrição do local do evento, entre outros) 
e tentaram descrever, com bastante fidedignidade, ao que assistia ou ouvia. Esse último ponto, em especial, 
representa a diferença entre os estudos sobre folclore realizados por Mário de Andrade e os feitos anteriormente. 
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 3 - A Literatura Juvenil Afro-Brasileira
Outro ponto das pesquisas dele (em concordância com Amaral, inclusive) foi a concepção de folclore: se antes era 
visto como presente apenas no meio rural, agora era também percebido no meio urbano. Os critérios moralistas 
também perderam espaço com Mário de Andrade, que, em 1935, conseguiu desenvolver projetos sobre folclore 
financiados pelo governo, tornando-os parte de uma política pública, uma vez que esteve à frente do Departa-
mento de Cultura do município de São Paulo – ao contrário do que ocorreu com Amadeu Amaral, que tentou 
realizar uma sociedade para pesquisas nesse campo, mas não foi bem-sucedido. 
Para ser folclórico, aos olhos de Mário de Andrade, era necessário ter tradição. Porém, algumas manifestações 
populares eram difíceis de serem caracterizadas como antigas.
Outro estudioso do assunto, Roger Bastide, foi professor universitário e trouxe outras perspectivas para o estudo 
de folclore. Ayala e Ayala (2002), no livro “Cultura Popular do Brasil”, afirmam que, para Bastide, o folclore não 
morre, não acaba, pois é um processo de produção e reprodução, o qual vai modificando-se por meio de influ-
ências (como da economia, dos aspectos sociais e do governo operante). Em seus estudos, o espaço físico e o 
contexto social tornam-se estrutura de análise, considerando então um contexto social mais amplo.
Florestan Fernandes, de 1942 a 1962, ampliou sua visão sobre folclore e, assim como Bastide, considerou que a 
cultura popular deve ser analisada em um contexto sociocultural mais amplo, enfatizando que deve ser estudada 
também qual a função social das manifestações populares. 
O folclore é, então, uma realidade social e não algo do passado, cuja relação com o presente está limitada apenas 
ao estudo histórico. Dessa forma, o folclore é o resultado emocional dos conhecimentos daquela manifestaçãoe não o resultado em si. 
As pesquisas sobre folclore tornam-se mais subjetivas; uma festa, por exemplo, é vista em seus ritos, vestimentas 
e músicas, entre outros dados, mas para Fernandes, o que deveria ser levado em consideração é a subjetividade 
que envolve as crenças, as emoções compartilhadas ou o motivo da realização de tal festa. Então, a “evolução” no 
pensamento de Florestan Fernandes levou o folclore para um campo mais subjetivo.
Percebemos, assim, que definir folclore ou metodologias para seu estudo não é algo fácil, não é mesmo?
Contemporâneo de Florestan Fernandes, Oswaldo Elias Xidieh publicou trabalhos em revistas acadêmicas e jor-
nais entre 1943 e 1949. O mais interessante acerca desse pesquisador é como ele traz, em seus estudos, as 
noções de classe dominante e de classe dominada. Sua proposta foi estudar a relação da cultura popular com a 
cultura, a sociedade, a economia e o contexto brasileiros, enfatizando que a cultura popular vai modificando-se, 
porém, não perde caraterísticas de identidade. Xidieh trabalhou com a ideia de três culturas distintas e comple-
mentares: a cultura erudita, a cultura de massas e a cultura popular.
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 3 - A Literatura Juvenil Afro-Brasileira
Figura 3.1 – Mídias: Cultura de Massa
 
Legenda: A imagem representa um controle remoto direcionado para uma TV com diversas imagens.
Fonte: Plataforma Deduca (2018). 
Essas imagens são representativas de elementos encontrados nas diferentes culturas. Enquanto a ópera e apre-
sentações de sinfônicas são consideradas cultura erudita, reservada a classes altas do contexto urbano, o carna-
val é compreendido como uma cultura popular emergente das classes mais pobres. Já exemplificando o termo 
cultura de massa usado pelo autor, temos como representação, no contexto contemporâneo, as mídias digitais.
Toda essa riqueza faz parte do folclore brasileiro, do dia a dia das pessoas, e é constitutiva dos universos rural e 
urbano, transitando no meio de classes sociais distintas e sendo recitada e contada em várias regiões do Brasil. 
Você pode estar perguntando-se: e quanto às contribuições do povo africano, que colaborou de forma efetiva na 
construção do folclore nacional e que faz parte da diversidade cultural de nosso país?
Além de inúmeras contribuições para a música, para a religião, para a culinária e para festas populares, temos, na 
literatura afro-brasileira, por exemplo:
Contos e lendas, que hoje integram o folclore brasileiro: (a) Contos totêmicos, ou seja, contos de ani-
mais, como: tartaruga, lebre, sapo, antílope, elefante, crocodilo, etc. (b) Contos de assombrações e 
entidades sobrenaturais, como a lenda do Quibungo, que significa “lobo”. É uma espécie de entidade 
sobrenatural, meio homem, meio animal, que possui um enorme buraco no meio das costas, no qual 
atira os meninos que persegue para comer. Essa lenda se fixou na Bahia (PINA; PINA, 2007, p. 1).
O Quibungo situa-se próximo ao folclore relacionado ao bicho-papão e à cuca. Meio homem, meio animal, faz 
parte do folclore baiano. Sua principal função é disciplinar as crianças por meio do temor infantil (FRANCHINI, 2011).
 Acesse o Fórum Desafio da disciplina. Nele, você terá a oportunidade de aplicar os 
assuntos aprendidos nas unidades. É muito importante para a sua formação. 
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 3 - A Literatura Juvenil Afro-Brasileira
Lenda
Atualmente, há uma gama variada de pesquisas sobre o folclore e as manifestações populares, que misturam fatos 
reais e fictícios, contados oralmente (como as lendas) ou expressos em narrativas escritas que tentam explicar fenô-
menos da natureza física e humana, além de outros sentidos do mundo com base em símbolos, como os mitos. 
Lenda é uma narrativa popular, que pode ser escrita ou oral. Ela pode contar histórias de seres 
maravilhosos ou encantados, de origem humana ou não. Uma lenda também pode trazer fatos 
(JOVINO, 2006 apud SOUZA; LIMA, 2006, p. 212).
O folclore brasileiro é vasto e possui variados personagens representativos da região a que pertencem, cujas 
histórias são transmitidas de geração a geração. O Boto, por exemplo, da região amazônica, é uma lenda que 
persiste até os dias de hoje por lá, e reflete o símbolo da sedução ao despertar o desejo das mulheres e deixar sua 
semente germinando dentro delas.
Outra lenda bastante conhecida é a do Curupira, inspirado no hábito que índios tinham de andar para trás a fim 
de despistarem os portugueses no meio das matas. Tal personagem é representado por um pequeno homem 
(anão), de cabelos compridos e com os pés virados para trás, cuja função é proteger a natureza, as matas e as 
florestas. Logo, quando alguém desaparece nesse ambiente, os habitantes acreditam ser obra desse ente.
Também é popular entre nós a história da Mula sem Cabeça. Originada na Península Ibérica e trazida pelos europeus, 
ela espalhou-se pelos interiores do Nordeste e Sudeste brasileiros, onde as pessoas são mais conservadoras. Narra a 
história de uma mulher que viveu um romance com um padre, mas foi castigada, sendo transformada nas noites de 
quinta para sexta-feira em um animal quadrúpede, o qual galopa e salta sem parar, soltando fogo pelas narinas.
De acordo com Jovino (2006 apud SOUZA; LIMA, 2006), o livro “Lendas Negras”, de Júlio Emílio Braz, é uma cole-
tânea das lendas mais representativas da cultura, trazendo diversas narrativas populares presentes na memória, 
na história e nas tradições de diversos povos de diferentes países africanos, como você pode observar na obra 
transcrita a seguir: 
Quem perde o corpo é a língua
Conta-se em Angola que há muito tempo um caçador,
voltando para sua aldeia, encontrou uma caveira
num oco de pau. Assustado, olhou desconfiadamente
de um lado para o outro, temendo alguma
armadilha ou uma das muitas artimanhas dos espíritos
que faziam da floresta seu lar. Mesmo ainda
muito espantado, tomou coragem e se aproximou
para observar.
[....]
O caçador voltou para casa e contou aos companheiros
o que acontecera. Ninguém acreditou, mas conversa
vai, conversa vem a história da Caveira que falava no
meio da floresta foi se espalhando, espalhando, até que
muita gente dela falava. Dias mais tarde o caçador passou
pelo mesmo pedaço escuro e sombrio da floresta e
tornou a ver a Caveira no mesmo lugar, ajeitada caprichosamente num oco de uma enorme e 
igualmente assustadora árvore. Tornou a fazer as mesmas perguntas
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Literatura Afro-brasileira | Unidade 3 - A Literatura Juvenil Afro-Brasileira
e, como era de esperar, ouviu as mesmas respostas. Mais
que depressa o caçador correu para a aldeia e, todo
orgulhoso de si mesmo, pois afinal era o único que encontrava
e conversava com a misteriosa Caveira, teimou
em contar a história aos companheiros. A verdade
é que tanto ele contou que muitos começaram a ficar
com raiva dele... afinal de contas, que Caveira era aquela
que só falava com ele?
[....]
Pobre caçador!
Todo machucado, o corpo dolorido, ficou estirado no
chão, gemendo. Só com muito esforço, conseguiu
forças para ficar de pé. Quando finalmente conseguiu
se levantar, olhou cheio de raiva para a Caveira
e resmungou:
— Olha bem, coisa do diabo, o que fez comigo!
Os olhos dela cintilaram quase zombeteiramente e,
depois de algum tempo, ela afirmou:
— Quem perde o corpo é a língua, meu amigo, é a
língua...
E cá entre nós, com toda razão!
O caçador, bem machucado, foi para casa e, dessa
vez, calou-se, guardando para si aquilo que somente
ele ouvira.
Mukuendangó, Mukúfuangó, Mukuzuelangó,
Mukuiangó. (Por andar à toa, morre-se à toa; por falar à toa, vai-se à toa!). (BRAZ, 2001, p. 23-31).
Para Jovino (2006 apud SOUZA; LIMA, 2006, p. 216):
Muitos livros de literatura infantojuvenil têm buscado uma representação não estereotipada do 
negro e da cultura negra. Lendas Negras pode contribuir para uma visão outra de África, diferente 
da que temos conhecido, ou melhor, vemos com frequência divulgada, como palco de guerras

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