Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONSTIPAÇÃO INTESTINAL E DIARREIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA FMU Disciplina : Nutrição na Infância e adolescência 3 “A constipação intestinal é a alteração do trânsito intestinal caracterizada por aumento no intervalo das evacuações (menos que três evacuações por semana), com a eliminação de fezes endurecidas, dificuldade ou dor e/ou ocorrência de comportamento de retenção e escape fecal. Outras manifestações clínicas podem ocorrer, como sangramento em torno das fezes, sensação de esvaziamento retal incompleto após a evacuação e dor abdominal” (VIANI; MATTAR, 2014; CURY, 2009). 4 A constipação pode ser classificada como aguda ou crônica. A constipação aguda, em geral, é observada em pós- operatório, na presença de doenças agudas ou mudança de ambiente. A constipação crônica, é considerada quando os sintomas ultrapassam duas semanas, podendo ser de origem funcional ou orgânica. Constipação Constipação 5 A constipação crônica intestinal funcional decorre basicamente de mudanças alimentares, podendo estar relacionada com o não atendimento ao reflexo de defecação. Constipação 6 Já a constipação intestinal orgânica pode estar associada a uma doença básica como malformação anorretal (estenose anal ou retal), tumores, hipotireoidismo, espinha bífida, paralisia cerebral, doença celíaca, fibrose cística, etc. A maior parte dos casos de constipação crônica se deve a alterações funcionais. (CURY, 2009; VIANI; MATTAR, 2014; WELFORT, LAMONIER, 2009). Constipação 7 A evacuação depende de um reflexo condicionado. É importante a educação da criança, nos primeiros anos de vida, requer que aprenda a controlar a defecação, sendo este controle efetuado por meio da inibição dos reflexos naturais desta função. (CURY, 2009) Constipação 8 Se a criança não responder ao reflexo de defecação ou fizer uso constante de laxantes para substituir o funcionamento natural do intestino, este reflexo, no decorrer do tempo, vai tornando-se cada vez mais fraco, levando à atonia do cólon. (CURY, 2009) Constipação 9 O pico de incidência da constipação é entre 2 e 4 anos, época na qual ocorre o treinamento de toalete (controle esfincteriano). Não há uma idade definida para o seu início, mas não deve ser iniciado antes dos 2 anos de idade, porque a criança precisa passar pelas etapas do seu desenvolvimento. (CURY, 2009). 10 Escala de Bristol - consistência de fezes: (MARTINEZ; AZEVEDO, 2012) 11 Temos poucos estudos que trazem a relação da ingestão de líquidos com a constipação intestinal, mas é um hábito importante para a prevenção e tratamento desta queixa. 12 13 1) Auxiliar o estabelecimento do trânsito intestinal normal; 2) Aumentar o volume e melhorar a consistência das fezes; 3) Estimular reflexos colônicos; 4) Proporcionar conforto ao paciente, evitando dor e esforço; 5) Evitar impactação (fecaloma). CONDUTA NUTRICIONAL Objetivos da dieta na constipação intestinal em pediatria: 14 A dieta deve ser adequada em fibras alimentares e estar associada à oferta hídrica recomendada, uma vez que para as fibras agirem alterando o peso e a maciez das fezes, é essencial a ingestão apropriada de água. CONDUTA NUTRICIONAL Objetivos da dieta na constipação intestinal em pediatria: 15 FONTE RECOMENDAÇÃO DIÁRIA American Heart Association Mínimo: 14g/1000kcal American Health Foundation (Williams e col) Mínimo: idade + 5g Máximo: idade + 10g Institute of Medicine, Dietary Reference Intakes (AI) 1-3 anos = 19g 4-8 anos= 25g Meninos = 9-13 anos =31g 14-18 anos = 38g Meninas = 9-13 anos = 26g 14-18 anos= 26g Chao e col. 3-7 anos: 10g 8-14 anos: 15g Recomendações de fibras em pediatria Fonte: VIANI; MATTAR, 2014 16 Recomendação da ingestão hídrica em pediatria segundo Institute of Medicine: IDADE (anos) ÁGUA TOTAL (L/DIA) LÍQUIDOS (L/DIA) 1-3 1,3 0,9 4-8 1,7 1,2 Meninos 9-13 14-18 Meninas 9-13 14-18 2,4 3,3 2,1 2,3 1,8 2,6 1,6 1,8 17 A utilização de probióticos no tratamento da constipação intestinal infantil ainda apresenta estudos muito limitados (BENNINGA, 2016). Mas o Lactobacillus acidophilus ou Lactobacillus bifidus ajudam a criar uma microbiota intestinal favorável, útil para evitar a constipação (CURY, 2009). 18 Orientações dietéticas: Na constipação aguda, a correção dos erros alimentares pode ser suficiente, já na constipação crônica, as correções no hábito alimentar acompanham tratamento medicamentoso e o treinamento de toalete. Recomenda-se a adequada ingestão de fibras. Alimentos como cereais integrais, hortaliças, leguminosas e frutas (com casca e bagaço), coco, frutas secas, aveia em flocos constituem as maiores fontes de fibras na dieta, portanto devem fazer parte dela. 19 Deve-se oferecer fruta inteira ou em pedaços, sempre que possível com a casca, fornece mais fibra do que na forma de suco . (CURY, 2009). Orientações dietéticas: 20 Uma maneira prática de aumentar a quantidade de fibras na dieta de crianças que não aceitam legumes e vegetais folhosos é misturar esses alimentos ao arroz, em massa de bolo, torta, e também substituir parte da farinha de trigo por aveia em flocos ou farelo de aveia ou de arroz. Orientações dietéticas: 21 Ainda assim, esses alimentos devem ser oferecidos isoladamente, para que a criança aprenda a gostar deles. A educação alimentar e nutricional é essencial. Plano alimentar com horários regulares, evitando omissão das refeições. (CURY, 2009). Orientações dietéticas: 22 Adequação da ingestão hídrica para manter a hidratação do corpo e propiciar o bom funcionamento do trânsito intestinal. Evitar guloseimas. (CURY, 2009). Orientações dietéticas: 23 Como um hábito de vida importante, o incentivo à prática de atividade física contribui na regulação do trânsito intestinal, estimulando o peristaltismo intestinal (WEFFORT; LAMOUNIER, 2009; CURY, 2009). A prescrição de suplementação de fibras para auxiliar no tratamento da constipação intestinal infantil não apresenta evidência científica suficiente. (MELLO, 2017). Orientações dietéticas: 24 Uma opção de custo baixo é o farelo de trigo, a sugestão é de acrescentar o farelo de trigo às preparações, para melhorar a aceitação, mas deve ser usado com moderação e nos casos de constipação intestinal mais intensa, pois é possível elaborar uma dieta rica em fibras sem a utilização desses produtos (CURY, 2009). Orientações dietéticas: 25 IDADE + 5g = 8g/dia REFEIÇÃO ALIMENTOS/PREPARAÇÕES CAFÉ DA MANHÃ 1 copo de leite 3 colheres de sopa de cereal infantil ½ pão francês 1 ponta de faca de margarina 1 fatia de mamão LANCHE DA MANHÃ ½ mexerica ALMOÇO 2 colheres de sopa de arroz 1 colher de sopa de feijão 1 pedaço de frango cozido Salada de alface (3 folhas médias) ½ pera LANCHE DA TARDE 1 copo de leite 4 biscoitos doces JANTAR 2 colheres de sopa de macarrão 2 colheres de sopa de carne moída 1 colher de sopa de cenoura cozida Salada de escarola (3 folhas médias) LANCHE DA NOITE 1 copo de leite ½ colher de sobremesa de açúcar Total de fibras 8 g MODELO DE CARDÁPIO PARA UM PRÉ-ESCOLAR (3 ANOS) Adaptado de VIANI; MATTAR, 2014 26 IDADE + 5g = 13g/dia REFEIÇÃO ALIMENTOS/PREPARAÇÕES CAFÉ DA MANHÃ 1 tigela de leite (200mL) com cereal matinal (30g) 1 fatia fina de melão LANCHE DA MANHÃ 1 pote de iogurte2 fatias de pão de forma com geleia de frutas ALMOÇO 4 colheres de sopa de arroz 2 colheres de sopa de ervilha 1 bife pequeno Salada de repolho (2 colheres de sopa) com cenoura (2 colheres de sopa) 2 ameixas LANCHE DA TARDE 1 copo de vitamina de leite com morango 6 unidades de bolacha salgada JANTAR 1 ½ unidade de batata cozida 1 filé de peixe 2 colheres de sopa de brócolis Salada de tomate (5 fatias) 1 cacho pequeno de uva (10 unidades) LANCHE DA NOITE 1 copo de leite 1 fatia de bolo simples Total de fibras 13 g MODELO DE CARDÁPIO PARA ESCOLAR (8 ANOS) 27 IDADE + 5g = 13g/dia REFEIÇÃO ALIMENTOS/PREPARAÇÕES CAFÉ DA MANHÃ 1 tigela de leite (200mL) com cereal matinal (30g) 1 fatia fina de melão LANCHE DA MANHÃ 1 pote de iogurte 2 fatias de pão de forma com geleia de frutas ALMOÇO 4 colheres de sopa de arroz 2 colheres de sopa de ervilha 1 bife pequeno Salada de repolho (2 colheres de sopa) com cenoura (2 colheres de sopa) 2 ameixas LANCHE DA TARDE 1 copo de vitamina de leite com morango 6 unidades de bolacha salgada JANTAR 1 ½ unidade de batata cozida 1 filé de peixe 2 colheres de sopa de brócolis Salada de tomate (5 fatias) 1 cacho pequeno de uva (10 unidades) LANCHE DA NOITE 1 copo de leite 1 fatia de bolo simples Total de fibras 13 g MODELO DE CARDÁPIO PARA ESCOLAR (8 ANOS) 28 IDADE + 5g = 20g/dia REFEIÇÃO ALIMENTOS/PREPARAÇÕES CAFÉ DA MANHÃ 1 caneca de leite com café 1 pão francês com requeijão 1 banana nanica LANCHE DA MANHÃ 1 pacote individual de bolacha salgada 1 caixinha de suco de uva ALMOÇO 4 colheres de sopa de arroz 1 concha de feijão 1 fatia de carne cozida 2 colheres de sopa de couve refogada Salada de beterraba (3 fatias médias) 1 fatia média de melancia LANCHE DA TARDE 1 copo de leite com achocolatado 4 torradas com geleia JANTAR Macarrão (2 pegadores) com brócolis (4 colheres de sopa) 1 filé de frango Salada de rúcula (5 folhas) 1 maçã LANCHE DA NOITE 1 copo de leite 6 bolachas doces sem recheio Total de fibras 20 g MODELO DE CARDÁPIO PARA ADOLESCENTES (15 ANOS) 29 - O consumo excessivo de fibras na dieta sem acompanhamento profissional pode agravar o quadro clínico do paciente e favorecer a impactação das fezes, promovendo diminuição do apetite. - Elevada quantidade de fibra na dieta possui fatores antinutricionais (fitatos e taninos), bem como a própria fibra alimentar que possui capacidade quelante de minerais. - Pode causar flatulência, distensão e desconforto abdominal. Excesso de fibras na alimentação: 30 DIARRÉIA 31 Caracteriza-se pela eliminação de fezes líquidas 3 ou mais vezes ao dia. É usualmente sintoma de infecção gastrointestinal, que pode ser causado por vírus (Rotavírus), bactérias (Escherichia coli, Shigella spp, Salmonella spp, Vibrium cholerae, Campylobacter jejuni), parasita (Giardia lamblia, Entamoeba histolytica e Cryptosporidium spp). (LACERDA, ACCIOLY, 2009; SBP, 2017). A principal causa da diarreia infantil é a probreza. (OLIVEIRA, 2017). DIARRÉIA Quatro tipos clínicos de diarreia: 32 - Diarreia aguda: dura horas ou dias, com risco maior de desidratação e até perda de peso. - Diarreia aguda com sangue: é a disenteria, com risco maior de causar danos à mucosa intestinal, sepse e desnutrição, desidratação. - Diarreia persistente: dura mais de 14 dias, com risco de desnutrição. - Diarreia com desnutrição grave (marasmo ou kwashiorkor), risco de infecção grave sistêmica, desidratação, falência cardíaca. Consequências da diarreia: 33 • diminuição do apetite, • má-absorção de nutrientes, • perda de nutrientes pela febre ou vômito, e após períodos repetidos de diarreia causam prejuízos no crescimento, sistema imunológico, e risco de morte (LACERDA, ACCIOLY, 2009). A PREVENÇÃO DA DIARREIA AGUDA é muito importante, e pode ocorrer pela adoção das seguintes medidas: 34 - Uso de água fervida ou clorada; - Limpeza das mãos após higiene da criança, antes das refeições, e antes da oferta da alimentação à criança; - Consumo de alimentos limpos, frescos e bem cozidos, práticas de higiene local. TRATAMENTO DA DIARREIA 35 •Terapia de Reidratação Oral (TRO), sugerida pela OMS (Organização Mundial da Saúde), é um dos componentes mais importantes do tratamento da diarreia aguda, o oferecimento de solução contendo sais para a reidratação oral (cloreto de sódio, cloreto de potássio e glicose). Aprenda a preparar o Soro de Sais de Reidratação Oral oferecido gratuitamente nas Farmácias Populares 36 37 https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwi865G54rnaAhXIUZAKHbr6AhsQjRx6BAgAEAU&url=https://www.drogariaprimus.com.br/soro-de-reidrataao-po-babydrax-27-9gr-1-envelope-p222535/&psig=AOvVaw2vlisv1Xhq-lPVES17ru6b&ust=1523795260733071 38 •Oferecer líquidos: SRO (Sais para reidratação oral), líquidos caseiros (caldos, sopa de galinha ou vegetais), refresco de frutas sem açúcar, água de coco ou água potável. •As bebidas como refrigerantes, sucos de frutas industrializados, chá adoçado e café não são indicadas, pois podem causar diarreia osmótica. •O soro caseiro só deve ser utilizado se não houver acesso aos SRO. 39 IDADE Quantidade de líquidos que devem ser administrados/ingeridos após cada evacuação diarreica Menores de 1 ano 50-100mL De 1 a 10 anos 100-200mL Mariores de 10 anos Quantidade que o paciente aceitar Fonte: SBP, 2017 40 •A OMS indica a prescrição de suplemento de zinco para crianças menores de 5 anos (10 mg até seis meses de idade e 20mg para crianças maiores de seis meses de idade – SBP, 2017) durante 10 a 14 dias, na forma de xarope ou comprimidos para serem dissolvidos, com objetivo de repor perdas, diminuir a gravidade, duração e ocorrência de novos casos de diarreia. O zinco auxilia no sistema imunológico, na manutenção da integridade da mucosa intestinal, auxilia na regulação da perda de água nas fezes. •A SBP reforça a importância da administração de vitamina A em populações com risco de deficiência da vitamina, pois reduz a hospitalização, a morte por diarreia (SBP, 2017) ORIENTAÇÕES 41 •Manter a alimentação habitual da criança para não prejudicar o estado nutricional e para recuperação do epitélio intestinal. O jejum é contraindicado. A renovação das células da mucosa intestinal depende de estímulos proporcionados pelos alimentos. •Oferecer refeições com volume reduzido e frequência maior que a habitual. •Não é necessário diluir o leite ou as fórmulas lácteas, e as fórmulas lácteas sem lactose podem ser úteis para os lactentes hospitalizados com diarreia aguda. (SBP, 2017). ORIENTAÇÕES 42 43 44 •A ESPGHAN (Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição em Pediatria) considera que determinados probióticos podem ser utilizados como coadjuvante no tratamento da diarreia aguda, pois os estudos científicos demonstraram redução do tempo de duração da diarreia. 45 •As cepas mais utilizadas são: Lactobacillus GG (não é comercializado no Brasil), Saccharomyces boulardii e Lacotobacillus reuteri DSM 17938 (SBP, 2017). - Saccharomyces boulardii- 250-750mg/dia (habitualmente 5-7 dias) - Lactobacillus GG: ≥ 1010 CFU/dia (habitualmente 5-7 dias) - L reuteri: 108 a 4 x 108 (habitualmente 5-7 dias) - L acidophhilus LB: min 5 doses de 1010 CFU >48 h; máximo 9 doses de 1010 CFU por 4 a 5 dias. 46
Compartilhar