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Do grau mais leve ao mais alto, como a arquitetura pode ajudar um autista a se encontrar em seu mundo? Isabela Silva e Lara 1. Objetivos 1.1 Objetivo Geral O objetivo geral desta pesquisa, é apresentar e abordar como a arquitetura pode mudar e ajudar no desenvolvimento de um autista, quando se relaciona com a escola e moradia. 1.2. Objetivos Específicos • Compreender a relação dos indivíduos autista e o meio; • Entender como a arquitetura contribui com o autismo, através dos aspectos sensoriais; • Assimilar como os ambientes podem auxiliar no dia a dia de pessoas com TEA; • Apresentar como a arquitetura pode ajudar dentro de uma moradia e no ambiente escolar para inclusão de autistas. 2. Sumário Explicativo 2.1. Autismo + Arquitetura Neste tópico, adentrará como a arquitetura pode ajudar na inclusão das necessidades dos portadores do autismo nos lugares em gerais, tendo que o ‘sentir deslocado’, é algo que os autistas sentem diariamente seja em lugar público ou em casa. Através de pesquisas da arquiteta Magda Mostafa, sendo a pioneira no estudo da arquitetura para o autista e de um artigo da pesquisadora Rachna Kare e do professor Abir Mullick, sobre o ambiente de aprendizado para o autismo. 2.2. Autismo + Arquitetura + Moradia Como o texto já aborda anteriormente a integração do autismo com a arquitetura, nesse tópica irá tratar a integração de mais uma questão dentro do mesmo assunto, porém mais específico, a moradia para pessoas que portam o TEA, um tema tão pouco discutido, mas muito relevante, pois todas as pessoas merecem uma casa com conforto, e nem sempre é o que os autistas podem ter, e muitas vezes, pela falta de um projeto de residência, pensado para eles. Assim será apresentado, uma pesquisa autoral feita a pais de autistas, que procura o entendimento de como seria a moradia ideal ao autista. 2.3. Autismo + Arquitetura + Escola Tendo agora a abordagem da relação da arquitetura, moradia com o autismo, será discutido a mesma integração, só que na escola, que traz questões semelhantes e diferentes das necessidades da inclusão do autista. E em como pode ser projetado uma escola para o portador de TEA, um lugar de ensino que não o distraia em aulas, mas que consiga o estimular e trazer o sentimento de paz e liberdade. 1. Introdução O presente trabalho visa compreender as necessidades de ambientes terapêutico voltado para pessoas com Transtorno do Espectro Autista, dentro dos lugares que eles mais frequentam, como sua própria moradia e a escola, e a importância na área da arquitetura incluir essas necessidades. Tendo em vista que o autismo apresenta muitos desafios às pessoas afetadas e suas famílias, independentemente de seu grau, muitas vezes eles não se sentem ‘encaixados’ nesses locais e têm a necessidade de ter um espaço de refúgio, assim a intenção é compreender, como que a arquitetura irá ajudar, no momento da criação de um espaço a essas pessoas. Segundo a DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), o transtorno do espectro do autismo (TEA)1 é um distúrbio neurológico que difere de pessoa para pessoa em graus diferentes, alguns sintomas mais comuns são caracterizados por déficits na comunicação e na interação social e pela complexidade de sua relação com aspectos sensoriais. As pessoas que têm o transtorno, têm uma diferente forma de percepção sensorial, mais fragmentada, que pode se manifestar por excesso ou falta de estímulos no meio que se insere, por isso é importante pensar nessa relação do meio com uma pessoa autista, e nessa ligação que entra a arquitetura. Esse tema foi pensado, por conta da vivência com o autismo, e visto que dentro da arquitetura, muitas vezes se pensam em várias inclusões, mas nessa maioria não se chegam a pensar no autista, e segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que há 70 milhões de pessoas com autismo em todo o mundo, sendo 2 milhões somente no Brasil, e estima-se que uma em cada 88 crianças apresenta traços de autismo. Percebe-se que são poucas as pesquisas para inclusão do autismo, ainda mais quando o assunto é sobre a moradia, sendo que é o lugar onde pessoas com TEA, procuram sentir mais segurança, conforto e acolhimento. Assim, vemos quão necessário é trazer 1 De acordo com o Ministério da Saúde, o transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades. esse assunto e pesquisas que podem ajudar nessa relação, da construção de uma casa para um autista. Dessa forma, o trabalho irá apresentar uma pesquisa autoral que procura compreender, como seria essa moradia ideal, ou como seria um ambiente dentro dela que trouxesse esse bem-estar, e local de refúgio a um autista. Se os lugares mais próximos e frequentados por pessoas com TEA, fossem projetados com foco a eles e com estratégias que auxiliam no conforto e confiança, irão estar contribuindo de uma forma gradativa no desenvolvimento desses indivíduos, de habilidades sociais, além de promover bem-estar e segurança. 2. Autismo + Arquitetura São poucos projetos e lugares que são pensados para o autismo, ou que ao menos pensam na inclusão. E existe um lado na arquitetura, de projetar pensando nos aspectos sensoriais, além de vários outros elementos que podem ser um ponto de partida para construir esses lugares pensando na inclusão de pessoas com TEA. Há uma arquiteta renomada, que é referência em pesquisas acadêmicas relacionadas ao autismo e arquitetura, Magda Mostafa, em sua pesquisa de campo, ela analisa e conceitua aspectos importantes na observação e utilização do espaço por autistas, classificando a influência de elementos como a acústica, coloração, padrões, texturas, iluminação, sensação olfativa e sequenciamento espacial, através de questionários a pais e professores e por observação comportamentais específicos de cada indivíduo, que sinalizam melhora ou piora em ambientes de teste e controle. Em uma entrevista dada ao ArchDaily (2013), Magda Mostafa2 responde sobre seus critérios que formam a base para uma matriz de design, que podem ajudar nas soluções de design para projetos específicos. O primeiro seria sobre a acústica, o principal critério, nele é aconselhado que o ambiente acústico seja controlado para diminuir o ruído de fundo, eco e reverberação, até pelo fato de que a maioria dos autistas são hipersensíveis aos sons, que acabam os distraindo. Esse controle deve variar dependente do nível de foco requerido pelo usuário no espaço. Segundo temos a Sequência Espacial, este é pensado no mantimento da rotina que é necessário para o conforto da pessoa autista, muitos autistas têm essa necessidade de ter uma rotina, costume, adaptações fixas, que se fazem sentir mais confortáveis. Sendo assim, esse critério, pensa no conceito da rotina do usuário, sem tirá-lo da zona de segurança, quando tem mudança de ambientes e atividades. Os espaços devem ter uma transição suave nessas mudanças, através da circulação unidirecional sempre que possível, com interrupção e distração mínima. O Espaço de fuga é o terceiro critério, ele é adotado para quando o autista não está em um ambiente familiar, ou fora de sua zona de conforto. As vezes, eles sentem uma necessidade de fugir para onde se sente seguro, e muitos quando não encontram esse 2 Entrevista dada ao site ArchDaily em 2013, Magda Mostafa recebeu seu Ph.D. da Universidade do Cairo, onde sua tese de doutorado estudou projeto arquitetônico para crianças com necessidades especiais e disfunções sensoriais, com foco no autismo.escape, costuma tampar os ouvidos e gritar. Esse critério, é observado por esses momentos, e propõe a criação de um espaço de refúgio sensorial, uma pequena área que seria sem grandes estimulações visuais e auditivas, mas tendo elementos controlados que auxiliariam no relaxamento do autista, para ele ficar por um tempo até conseguir voltar as atividades. A pesquisa por Magda Mostafa, aponta que tendo essa área de escape visível ao autista, permite uma sensação de segurança. Outro critério seria o de Compartimentação, que é pensado na redução sensorial do autista, através do isolamento de atividades, mudando o layout, permitindo menos usuários e um menor estímulo visual e auditivo, sendo uma única atividade claramente definida por espaço compartimentalizado, essa separação pode ser por móveis, diferença de piso ou de nível, ou até por iluminações diferentes. O quinto é o Espaços de transições, que propõe a transição de atividades de forma mais suave, caracterizando por zonas neutras de atividades de baixa intensidade, como jardins terapêuticos nos ambientes externos entre uma zona de atividade ou outra, ou circulações internas neutras. Isso ajuda o usuário a reequilibrar seus sentidos à medida que se deslocam de um nível de estímulo para o próximo. O sexto, que é a Zona Sensorial, os espaços devem ser organizados de acordo com sua qualidade sensorial, é necessário que agrupe espaços de acordo com seu nível de estímulo, pode ser alto ou baixo, e impede, juntamente com os espaços de transição e o sequenciamento espacial, a mudança brusca de uma atividade suave para outra mais intensa, garantindo uma segurança sensorial. E por último, e muito importante é a Segurança, que já é necessário, mas para autistas esse quesito tem que ser ainda mais reforçado, este critério é para garantir que o autista se sinta seguro ao usar o espaço, através de elementos arquitetônicos e de design que impedem qualquer dano. Outra pesquisa que também traz pontos importantes nessa relação da arquitetura e autismo, é de um artigo da pesquisadora Rachna Khare3 junto com o professor Abir Mullick, que de acordo com o trabalho de Miranda (2018), eles fizeram uma sintetização do tema através de pesquisa teórica, inclusive usam Mostafa como 3 De acordo com o artigo Incorporating The Behavioral Dimension In Designing Inclusive Learning Environment For Autism, da própria Rachna Khare, é ativista e secretária de uma ONG chamada ‘Movimento para Intervenção, Treinamento e Reabilitação de Autistas’(MITRA). E fez várias pesquisas na área de design inclusivo em todo o mundo. referência, em dezoito parâmetros dominantes que definem a proposta arquitetônica para o autismo e realizaram uma avaliação prática no estudo de pós-ocupação em pré- escolas, escolas primárias e ensino médio, inclusivas e especializadas na Índia e EUA, com três ferramentas: concordância ambiental, medição de desempenho para a criança com autismo e escala de avaliação de parâmetros de projeto. Em seus resultados, perceberam que além de terem tido um ótimo desempenho para alunos com autismo, foi importante também para os quais não tinha. Temos então dezoito parâmetros arquitetônicos citados por Khare e Mullick em seu artigo. O primeiro é proporcionar estrutura física, que diz em questão de permitir que o autista perceba o tipo de atividade de acordo em como são colocados os mobiliários. Em seguinte, maximizar a estrutura visual, como indicadores visuais, através da forma da estrutura da edificação e do ambiente, para entenderem como funciona o espaço. O terceiro é proporcionar instruções visuais, mas agora com a utilização de simbologias, sinais, escritas, para manter uma comunicação visual direta. É analisado também, o parâmetro de oferecer oportunidades para participação da comunidade, assim inserindo o autista nas atividades sociais do dia a dia, para promover oportunidades de aprender tarefas das rotinas, como ir ao mercado, atravessar e rua ou pegar ônibus. Também, apresentar oportunidades em participação familiar, junto com pais e cuidadores nas atividades, avaliações e reunião. E oportunidades para inclusão com outras pessoas, para evitar a segregação e o sentimento de exclusão. Maximizar a futura independência, é necessário para promover uma maior independência no autista, criar espaços para aprendizagem doméstica e social. Oferecer padrões espaciais generosos, é importante ter espaços amplos para as atividades, por suas dificuldades sensoriais e espaciais. Proporcionar espaços de fuga, tem que ter um espaço de refúgio, para quando o autista se sentir cansado mentalmente ou sobrecarregado. Ter mais segurança, é sempre importante dar uma atenção maior nesse quesito, pois nem sempre eles percebem as situações de risco. Também ter mais compreensão, organizar os espaços, zoneamentos, formas e marcadores visuais de uma forma clara e direta. Ter também mais acessibilidade, promovendo facilidade de acesso em todos os ambientes, dando atenção ao item de segurança, pois alguns autistas podem possuir outras síndromes e deficiências associadas. Proporcionar assistência a eles, ter um espaço extra para assistência individual do autista em algumas atividades. Aumentar a durabilidade e manutenção dos ambientes, oferecer ambientes de fácil limpeza, reparo e reposição e obter mobiliário e equipamentos resistentes. Diminuir distrações sensoriais, evitando ambientes que distraem, por conta de muitos autistas terem dificuldades para concentrar em algumas atividades. Proporcionar integração sensorial, ter áreas próprias para essa integração, para ajudar a lidarem e entender melhor seus sentidos. Proporcionar flexibilidade de espaços, para mudanças de atividades. E por último proporcionar monitoramento, para avaliação e planejamento. As pesquisas de Mostafa e Khare, obtém bastantes semelhanças e bons critérios para servir como base de pesquisa para o desenvolvimento de projetos arquitetônicos pensados no usuário dentro do espectro autista, tanto para ambientes comuns, como para escolas, e são ideias que podem ser aperfeiçoadas ou acrescentadas, de com mais pesquisas ou experiências. É um grande passo para essa inclusão e qualidade de vida aos autistas em todo o mundo. Planta das zonas sensoriais dos critérios de Magda Mostafa. Fonte: ArchDaily. 2.1. Autismo + Arquitetura + Moradia Quando se convive e observa como um autista vivencia sua rotina dentro de casa, você percebe que é preciso pensar em vários cuidados. Claro, que cada um apresenta diferentes jeitos, mas descrevendo pela própria experiência, percebi como eles tem seu próprio mundo, eles tem uma visão diferente, vê o mundo com outros olhos e te olham profundamente, as vezes tentando nos compreender e as vezes tentando serem compreendidos, um pedido só por um olhar, vemos como tem suas manias, toc, agonias, incômodos e como algumas coisas os tranquilizam, gostam de entender tudo, são inteligentes e espertos, as vezes querem estar por perto, mas gostam de seu espaço, de ficarem sozinhos e terem seus próprios momentos. O ambiente em que estão, tem que estar do seu próprio jeito, suas coisas no devido lugar, sejam elas organizadas ou bagunçadas, as vezes precisam de mais acessibilidade dependendo da idade, gostam de ter todas suas coisas por perto e a vista, é importante um bom ar fresco, com uma boa iluminação, o barulho pode incomodar de um jeito terrível, mas alguns sons podem ser suas maiores diversões, os eletrônicos para muitos autistas, é uma grande fascinação, adoram e querem entender cada detalhe. Independente do grau, podemos entender que eles têm e vivem dentro de um mundo que é visto por eles mesmos, mas podemos ajudar a viver mais tranquilos, em nosso mundo tão agitado e caótico, com tantos lugares sem inclusões. Por isso, esse tópico se torna tão relevante, visto que o trabalho tem o objetivo demostrar que a arquitetura pode ajudar na inclusão do autismo, mas a moradia, ela sim, tem que ser devidamente pensada. O tema do morar do TEA em relação com a arquitetura, não poderia deixar de ser falado e discutido nesse trabalho, mas pelo fato, dele ser tão pouco abordado. Felizmente, nos últimos anos é um assunto que vem a ser mais discutido, e a sociedade demonstra estar mais preocupada com as questões e direitos do autismo, porém ainda sim, não é encontrado tantos trabalhos, e sempre que se encontra, são projetos mais relacionados a centros de apoio, sedes ou escolas, mas e a moradia? O principal lugar que deve oferecer conforto, como a arquitetura pode influenciar e ajudar nesse quesito? Normalmente, nosso lar é onde encontramos nosso refúgio, segurança, conforto e sempre temos algum ambiente dentro, que é o nosso favorito. Na arquitetura, quando é feito um projeto residencial, o objetivo, é que essa residência, seja o mais ideal para o usuário, tem que ter a identidade dele, as vezes o que irá ser o principal no projeto, é a cozinha, pois pode ser o lugar que a pessoa mais gosta de ficar, ou uma sala, ou quarto. Sempre terá um ambiente que vai ser o especial, essa questão da arquitetura, é o que leva a pergunta de como seria a moradia mais ideal ao autista, ou que ambiente dentro dela, seria o refúgio a ele, de bem-estar e conforto, como compreender isso e como a arquitetura pode ajudar ao pensar e projetar na residência de um usuário com autismo. São várias perguntas, e é difícil obter a resposta, pelo fato de o autismo ser um espectro, ou seja, varia muito de autista para autista, porém tem muitas semelhanças dos jeitos e manias que podem auxiliar nessas repostas. Para compreender melhor todas essas questões, foi feito um questionário autoral, para pais de autistas e profissionais que são especializados na área do TEA, e foi respondido por dezesseis pessoas, que compartilharam um pouco de suas experiências dentro de casa, através de quatro questões. A primeira, é uma pergunta para saber se a pessoa já havia pensado antes nessa relação, de uma casa projetada com espaços para um autista. Nas respostas, treze pessoas já haviam pensado e três que não. Isso demonstra em como o assunto realmente é relevante, e faz diferença dentro do TEA. A segunda, entra mais nesse quesito de tentar compreender um ambiente interessante dentro de casa, é perguntado, na opinião da pessoa, que ambiente seria ideal dentro de casa, que pudesse gerar conforto e bem-estar, ao autista e quais elementos não poderiam faltar nesse espaço. O que mais foi apontado dentre todas as respostas, em seis delas, foi ter um espaço específico para atividades e brincadeiras, com bastantes estímulos e com seus brinquedos específicos, foi bem citado a cadeira de balanço nesse ambiente. Dentre cinco, também apontam o quarto, como o lugar ideal, algumas acham que deve ter elementos com estímulos e outras não. Outras questões bem mencionadas para esses ambientes ideias, foi a questão da segurança, de não ter muitos obstáculos e recursos que auxiliam na passagem para lugares que tem mais elementos perigosos, também ter boa ventilação e iluminação, o uso de tons claros e suaves e, pensar em banheiros acessíveis, que não tenham vidro e box. A terceira, é para entender se para essas pessoas, tem uma relevância, de que os lugares que frequentam, ofereçam ambientes inclusos. Dentre as dezesseis, três pessoas acham que não há essa necessidade ter lugares inclusos para autistas. E a última, é sobre quais elementos dentro de casa proporcionam mais estímulos, os eletrônicos são os mais citados, como também a sala, que é onde mais se encontra esses itens. Também é citados elementos que giram, tenham movimento. Cada resposta, tem bastante relevância para entender melhor, como é na realidade para o autista, e pode perceber, que muitas coisas, entram dentro dos critérios e parâmetros que foram apresentados de Magda Mostafa e Rachna Khare. 2.2. Autismo + Arquitetura + Escola Como foi apresentado, a arquitetura lida com a adequação do ambiente físico, podendo provocar uma percepção sensorial no usuário e seu comportamento naquele espaço, através de elementos sensoriais dentro desse ambiente, como textura, cores, acústica e vários outros como mostrado nas pesquisas. E nem sempre uma arquitetura escolar, é pensada em pessoas com deficiências, ou como no caso do nosso tema discutido, para pessoas com TEA, lembrando que a educação é para todos, por isso será apresentado e discutido, em como a arquitetura escolar, deve e pode facilitar na inclusão de alunos autistas. A princípio, os critérios mostrados da arquiteta Magda Mostafa são requisitos importantes para um projeto de uma escola pensada nessa inclusão, pensando no conforto, bem-estar, nas estimulações e todos cuidados, mas para ir a mais a profundo nesse tema da arquitetura escolar para alunos com autismo, tem alguns temas norteadores para um ambiente escolar, que Rodrigues (2019), apresenta em sua dissertação, são aspectos importantes para também pensar no projetar. O primeiro é a ergonomia, tem o foco de buscar a segurança, bem-estar, satisfação dos usuários e seu relacionamento com o ambiente construído, esse já é um requisito importante quando pensamos no autismo, são as principais relações que devem conter em um projeto pensado neles. O segundo é a psicologia ambiental, ela estuda a relação entre o comportamento humano e o espaço (GÜNTHER, 2009). As percepções e sensações do usuário está diretamente relacionada ao ambiente que se insere, e afeta seu comportamento, o que faz sentido quando relacionamos isso com o TEA, pois eles são sensíveis a essas sensações que podem interferir em seu comportamento. O terceiro é o design universal, que difunde de sete princípios, a informação perceptível, a tolerância a erro, a flexibilidade no uso, o uso equitativo, o uso simples e intuitivo, o baixo esforço físico e tamanho e o espaço para aproximação e uso (SILVA R. L., 2009). E os autores Steinfeld e Maisel (2012), ainda desenvolveram, oitos objetivos do desenho universal, para deixar mais claro que são a adaptação ao usuário, o conforto, a conscientização, o entendimento, o bem-estar, a integração social, a personalização e adequação cultural. O desenho universal tem diretrizes que garante um projeto de qualquer espaço de forma universal, mais um item que garante a inclusão do TEA ao projetar. É importante pensar também, como seriam esses elementos utilizados dentro do ambiente escolar, sendo eles de estimulação sensorial, construtivos e conforto ambiental, Epifanio (2018), apresenta em sua dissertação algum desses elementos que possam constituir dentro do projeto, que envolve a relação da integração social (que busca propor a organização das informações de diferentes sentidos), com a psicologia ambiental (já discutido antes, que relaciona fatores e elementos ambientais), com a ambiência (onde é expressam os sentidos humanos através das texturas, iluminações, sons e cores). São nove elementos de estimulação sensorial apresentado por Epifanio (2018). A multifuncionalidade em ambientes internos, mas é importante que neles, as estimulações sejam controladas para despertar as potencialidades dos indivíduos. As texturas e cores, que são sempre importantes para qualquer estimulação, e nos autistas podem desenvolver sua consciência corporal e cognitiva. A iluminação, que proporciona a interação física e lúdica das crianças, sendo interessante, ter a possibilidade de alterar as configurações para diferentes atividades mais focadas ou distraídas. Os mobiliários, também contam muito nesse papel, principalmente no quesito da ergonomia, podem ter o uso de indicações visuais, serem barreiras, podendo destacar o espaço seja individual ou coletivo. O layout é um dos principais itens a serem pensado,é ele que vai trazer a segurança e bem-estar, vai estabelecer a flexibilidade e destacar os mais diversos elementos, e é interessante ele proporcionar diferentes formas de usos. A amplidão, é o elemento que vai possibilitar a adaptabilidade do ambiente e permitir os ajustes das distâncias interpessoais e é relacionada com a flexibilidade. As distâncias interpessoais é um conceito de Gifford (1997), que aborda a partir da distância adequada para o contanto ou não contato, para não gerar ao autista a sensação de invasão de espaço. A identidade visual e legibilidade, são importantes elementos do espaço para estimular a independência de pessoas com TEA. E espaços ao ar livre, que vão proporcionar a sensação de independência, além das relações sensoriais com a paisagem, para isso é importante o uso de vegetação. E temos mais seis elementos construtivos, que são importantes destacar. A dinamicidade, que quer dizer sobre os espaços dinâmicos e são associados a multifuncionalidade, é interessante usar paredes curvas que além da dinamicidade, auxiliam os autistas no deslocamento dos ambientes, pois procuram evitar os ‘cantos’. Os elementos que diferenciam ambiente interno e externo, também é importante propor essa separação, através da paisagem urbana e da criação de paisagens naturais, como o paisagismo, para auxiliar no desenvolvimento da consciência corporal e cognitiva. O zoneamento, oferecer zonas funcionais baseadas nas percepções do usuário, mas tem que ser simples e de fácil compreensão. A volumetria pode ser de forma livre, mas sem interferir na funcionalidade e acessibilidade do espaço, é bom sempre buscar a estimulação da autonomia do autista. As cores do lugar, tem que ser usadas de forma coerente com os estímulos que se pretendem ter ali. E os materiais que devem ser explorados de forma harmônica, possibilitando diferentes texturas e percepções sensoriais, mas que não sobrecarreguem o ambiente. Sobre o conforto ambiental, tem três que devem ser pensados e que fazem a diferença no projeto, principalmente quando se pensamos na relação com o TEA. O conforto acústico, tem função importante em ambientes terapêuticos, tanto pelo produzido no interior, como o que vem do exterior. Por isso, é importante determinar a materialidade em relação a absorção de ruído, recursos que promovem qualidade acústica, os autistas não costumam ter uma boa relação com barulhos muitos altos e confusos. O conforto lumínico, tem a tarefa nesse tipo de projeto, de ampliar ao máximo a incidência da luz natural, para atribuir a concepção da visão nítida e direta do mundo para os autistas, e a iluminação artificial é necessário evitar um único ponto de luz, a não ser que seja para atividades específicas. E o conforto térmico, que seria o fator que vai manter a qualidade interna do ambiente, é necessário oferecer ventilação natural, de forma cruzada, e caso for utilizar ventilação artificial, que seja equipamentos silenciosos, para não distrair os usuários. 3. Conclusão Para concluir, vimos que há uma falta de estudo arquitetônico voltado para a inclusão do TEA, e foi encontrado poucas pesquisas e artigos que adentram mais na realidade, principalmente sobre a moradia. Mas foram apresentados dois estudo que ajudaram muito na compreensão do assunto, como o de Magda Mostafa, a pioneira no estudo voltado para a relação entre arquitetura e o autismo, que tem pesquisas e critérios com resultados satisfatórios com relação a aprimoramentos em organização de layout, setorização, reorganização estrutural em relação a iluminação e acústica, escala, elementos visuais. Outro mostrado também, que trouxe mais quesitos importantes foi de Khare at al, reforçou e priorizou outros aspectos a serem idealizados na hora de projetar uma ambientação educacional para a pessoa no transtorno do espectro autista, como reforçar a necessidade de inclusão, adaptação sensitiva e projeção de um entendimento direto da situação de cada ambiente. O questionário sobre a moradia do autista e arquitetura, também trouxe boas respostas para apresentação desse trabalho, é visto que a maioria dos cuidadores tem essa preocupação dos ambientes para o autista, que pensam em vários elementos e espaços que poderiam ajudar no dia a dia, mostrando como é importante esse papel da arquitetura na sociedade. Nas respostas, foi encontrado também que nem todos acham importante a questão de os lugares serem inclusos, mas ao mesmo tempo, pensam na residência voltada para o autista, sendo que é uma causa bastante discutidas pela sociedade, sobre a inclusão de todos. Em relação a arquitetura escolar, vimos através de estudos que há total possibilidade de trazer ambientes escolares pensados no autistas, e que são bons não só para aqueles que estão dentro do espectro autista, mas também para aqueles que não. Há várias formas de fazer essa inclusão, é só preciso de dar mais relevância a esse assunto, para que as escolas possam também ter a consciência, de transformar a escola para todos, afinal, é um direito que todos nós temos, de estudar. Por fim, esse é trabalho é de grande importância, para trazer a sociedade um assunto que nem sempre é discutido, principalmente dentro da arquitetura, que foi mostrado como ela pode ajudar, os arquitetos também podem trazer mais o tema dentro da área, não adianta pensar na acessibilidade somente para alguns. Todos os estudos, trazem resultados de bons benefícios aos usuários, a arquitetura tem o poder de transformar ambientes mal planejados, em lugares de conforto e bem-estar, e por que não fazer isso para o autista. Referências Bibliográficas AMERICAN Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatísticos de transtornos mentais: DMS-5. Artmed. 2014. 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