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1 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP NÓDULOS DA MAMA (Diferenciar um tumor benigno de um maligno) DEFINIÇÃO Nódulos são lesões que podem ser delimitados em três dimensões (largura, comprimento e profundidade). O seu achado é em geral assimétrico, quando em comparação com a outra mama. 80% dos casos, os nódulos palpáveis são de origem benigna. Os adensamentos são diferentes dos nódulos porque são lesões delimitadas em apenas duas dimensões (largura e comprimento). ANAMNESE Em caso da presença de nódulos, deve-se investigar: Data da percepção Velocidade de crescimento Localização Consistência Relação com traumatismos ou ciclo menstrual Além disso, devem ser pesquisados fatores de risco para câncer de mama (idade superior a 50 anos). EXAME FÍSICO Deve responder as seguintes perguntas: 1º A lesão é realmente um nódulo? Os pseudonódulos são achados palpatórios fisiológicos que simulam tumores por diferenças de consistência do parênquima mamário. Tais achados podem conduzir a biópsias desnecessárias. Os exemplos de pseudonódulos incluem: Tecido adiposo aprisionado entre os ligamentos de Cooper (principalmente nos quadrantes inferiores de pacientes na pós-menopausa) Prolongamento axilar Junção costoesternal em pacientes magras Diferença de consistência na região subareolar com o parênquima 2º Se a lesão é um nódulo, ela deve ser bem caracterizada e outras perguntas devem ser respondidas: 1- Há quanto tempo existe o nódulo? 2- A lesão aumentou de tamanho com o tempo? 3- Há história de biópsias ou aspirações prévias de cistos? 4- A presença da lesão é acompanhada de dor? Se for, esta dor associa-se ao ciclo menstrual? 5- Qual é a idade da paciente? Mulheres na pré-menopausa comumente apresentam adensamentos, que decorrem das variações hormonais cíclicas e desaparecem no período pós- menstrual. As massas dominantes se diferenciam dos adensamentos, pois persistem em todo ciclo menstrual. 2 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP FIBROADENOMA É o tumor benigno mais prevalente da mama feminina. Sua manifestação mais comum é um tumor palpável. A faixa etária mais acometida é de mulheres jovens entre 20 e 35 anos. Pode ocorrer na puberdade. O risco de câncer subsequente é o mesmo da população geral. No entanto, sua associação com doenças proliferativas pode resultar em um aumento do risco para câncer mamário. Tipicamente, apresenta-se como tumor palpável de consistência fibroelástica, móvel, indolor, de 2 ou 3 cm em seu maior diâmetro, com rápido crescimento inicial, que posteriormente se estabiliza. Pode ser único, múltiplo ou subsequente a outro fibroadenoma, em uma mama ou em ambas as mamas. O tratamento conservador com acompanhamento pode ser empregado quando a imagem apresenta características de benignidade, e a paciente possui menos de 25 anos. Entre os 25 e 35 anos, a conduta deve ser individualizada. Já após os 35 anos, a retirada dos nódulos está indicada quando estas lesões são palpáveis, quando apresentam crescimento rápido, quando há história familiar de câncer de mama e em caso de imagem ultrassonográfica ou mamográfica duvidosa. Há uma forma especial de fibroadenoma conhecida como gigante. Ocorre na puberdade e causa importante assimetria mamária devido ao tamanho (20 a 30 cm). PAPILOMA INTRADUCTAL Corresponde a um tumor da árvore ductal, que acomete principalmente os ductos subareolares principais. É relativamente frequente. É solitário, normalmente não excede 2-3 mm e se localiza nos ductos terminais. Possui como apresentação clínica mais comum a presença de descarga papilar uniductal serossanguinolenta (50%) ou sanguinolenta (50%), muitas vezes espontânea ou à compressão do ducto dilatado a montante. A faixa etária mais acometida situa-se entre os 30 e 50 anos. Na presença de nódulo e derrame papilar predomina a investigação do nódulo. LIPOMA É uma proliferação benigna das células lipídicas. Apresenta-se como um nódulo amolecido, bem delimitado e que pode atingir grandes dimensões. Pode sofrer necrose (citoesteatonecrose) e apresentar áreas endurecidas, que o confundem com um carcinoma. A macroscopia é muito característica. O tratamento do lipoma é polêmico na literatura: algumas fontes informam que a conduta pode ser expectante. Outros advogam seu tratamento cirúrgico. TUMOR PHYLLODES OU FILOIDES São relativamente raros. Acometem pacientes entre a terceira e quinta décadas de vida. Distinguem-se pelo seu crescimento rápido, grande volume e tendência a recorrência local. 3 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP Apresentam aspecto histológico muito parecido com os fibroadenomas, mas se diferenciam deles pela celularidade de seu estroma. O tumor filoides possui estroma hipercelular, enquanto o fibroadenoma comum possui estroma de baixa celularidade. Raramente são bilaterais. Em torno de 20% dos casos sofrem transformação maligna. O tratamento habitual do tumor filoides consiste em excisão com margens livres. A exérese desses tumores sem margem de segurança (1-2 cm) predispõe a recidivas locais. HAMARTOMA Corresponde a um tumor benigno, que se manifesta com maior frequência na terceira e quarta décadas de vida (segundo os Tratados de Mastologia). Segundo o livro “Rotinas em Ginecologia”, 5ª edição, são mais frequentes na pós-menopausa. É formado por uma quantidade variável de tecido glandular, gordura e tecido conectivo fibroso. Clinicamente, são macios, com textura semelhante a do parênquima, e muito similares aos lipomas e aos fibroadenomalipomas. Apenas a histopatologia é capaz de diferenciá-los. O tratamento consiste na retirada completa do tumor. DIAGNÓSTICO Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF) A PAAF é o primeiro passo na investigação dos nódulos mamários, pois diferencia IMEDIATAMENTE as lesões císticas das lesões sólidas. É um procedimento ambulatorial, de simples realização e baixo custo. Possui sensibilidade e especificidade superiores a 90% em mãos hábeis e experientes. Pode ser empregada em tumores clinicamente identificáveis ou guiada por ultrassonografia ou exame radiológico. Demanda citopatologista com treinamento diferenciado. A PAAF pode ser empregada para fins diagnósticos ou terapêuticos. Neste último caso, diante de um diagnóstico de cisto simples palpável, a citopunção satisfaz o fim terapêutico. A USG permite movimentos multidirecionais. Já a MMG só possibilita a punção em trajeto único. Alguns fatores podem interferir na escolha do método guia, a saber: Método que assegura melhor visualização da lesão; Localização da lesão na mama; Mobilidade da lesão na mama; Experiência do operador; Disponibilidade do equipamento. É importante ressaltar que um resultado negativo não exclui a possibilidade de câncer, de forma que, em casos de alta suspeição, deve-se prosseguir com a propedêutica para confirmação diagnóstica através do exame histopatológico. 4 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP CISTOS: Definição: Os cistos mamários habitualmente surgem por uma obstrução nos ductos lobulares terminais, que são a porção do ducto lactífero mais próxima dos lobos. A obstrução do ducto causa acúmulo de líquido e formação do cisto. O seu líquido é uma mistura de água de sais minerais e sua coloração é amarelo- acastanhada, produzidas pela própria parede do cisto. Devem ser enviados para a citologia os líquidos aspirados sanguinolentos. Cistos Simples: o fluido aspirado não é sanguinolento. A massa desaparece após a aspiração. Carcinoma Intracístico ou Neoplasias Parcialmente Císticas: as situações que aumentam a suspeita destas entidades são: líquido aspirado sanguinolento, massa palpável persistente após aspiração do líquido, recidivafrequente dos cistos (normalmente maior do que duas recidivas de cistos simples). TUMORES SÓLIDOS: São diagnosticados após a falha em aspirar líquido com a PAAF. De qualquer forma, o material que for aspirado, deverá ser encaminhado para avaliação citológica. É importante lembrar que a citologia isoladamente não faz o diagnóstico de câncer. Assim, diante de um nódulo suspeito, a citologia só possui valor se positiva. Nesta situação, se for negativa, é obrigatória a realização de biópsia. Cabe aqui destacar que aspirados falso-positivos são muito infrequentes (menos que 1% dos casos). CONDUTA APÓS PAAF A saída de líquido amarelo-esverdeado e a ausência de massa residual dispensam o estudo citológico do líquido. Em outras palavras, o líquido pode ser desprezado. O próximo passo consiste na solicitação de exames de imagem para avaliar o sítio onde a lesão se encontrava. Caso estes exames sejam normais, a paciente só deverá retornar em quatro a seis semanas. Caso os exames revelem alterações sugestivas de malignidade, está formalmente indicada a biópsia. É importante salientar que o tipo de exame de imagem (USG ou MMG) a ser solicitado dependerá da idade da paciente. Indicação de estudo citológico acompanhado de exames de imagem: Presença de um nódulo sólido Nódulo de líquido sanguinolento Nódulo residual Mais de duas recidivas de cistos simples Mas atenção: a citologia negativa não encerra a investigação de um nódulo suspeito de malignidade. A aspiração de líquido sanguinolento, a presença de massa palpável após a retirada de todo líquido, mais de duas recidivas de coleções de líquido e a persistência de densidade mamográfica após a aspiração favorecem a hipótese de carcinoma intracístico ou carcinoma parcialmente cístico. Nestas situações, a realização de biópsia está formalmente indicada para estudo histopatológico. 5 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP Mamografia de Alta Resolução (MMG) É o método principal e seguro de auxílio ao exame clínico no câncer de mama. Definitivamente, é o método propedêutico mais importante no diagnóstico das lesões subclínicas. Em outras palavras, é um modificador direto do prognóstico da doença, pois reduz em torno de 30% a taxa de mortalidade por câncer de mama. Possibilita a identificação de lesões muito pequenas, com o mínimo de radiação. Auxilia na caracterização dos achados clínicos e evidencia outros focos de tumor. Útil na avaliação de nodularidades, adensamentos, calcificações e cistos em mamas adiposas. Cerca de 10 a 15% dos tumores podem não ser detectados. Na maioria das vezes, tal fato é atribuído a uma maior densidade mamária. Mamógrafo 2 incidências principais: mediolateral oblíqua e craniocaudal Avaliação é comparativa entre os dois lados e com exames prévios. Por vezes, para um estudo mais adequado das lesões, pode ser preciso a complementação do exame com outras incidências ou técnicas (compressão seletiva, ampliação). 6 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP Ultrassonografia das Mamas (USG) É um método indicado principalmente em mulheres jovens, lactantes e gestantes, para se evitar a exposição à radiação ionizante. Assegura boa diferenciação entre nódulos sólidos e císticos; Apresenta adequada eficiência na definição de imagem em mamas densas (pacientes jovens) e complementa o rastreio mamográfico; Garante boa acurácia na identificação de lesões vegetantes intracísticas; Permite a localização de pequenos tumores para retirada cirúrgica ou para punções; Possibilita a avaliação do resultado da quimioterapia primária. As desvantagens incluem a incapacidade na detecção de microcalcificações e a baixa resolução em mamas lipossubstituídas. Indicações: Diagnóstico diferencial entre lesão sólida e lesão cística; Alterações no exame físico (lesão palpável), no caso de mamografia negativa ou inconclusiva; Paciente jovem com lesão palpável; Mulheres com alterações do exame clínico no ciclo gravídico-puerperal; Doença inflamatória e abscesso mamário; No diagnóstico de coleções. Complementação Ultrassonográfica do Rastreamento com Mamografia A complementação da mamografia com a ultrassonografia pode ser considerada obrigatória e com grande benefício no diagnóstico nas seguintes situações: Quando há lesão palpável sem expressão na mamografia (pela alta densidade do parênquima mamário ou localização em “zonas cegas”); Nos nódulos regulares ou lobulados, que possam representar cisto; Nas lesões densificantes (assimetria difusa, área densa) que podem representar lesão sólida, cisto ou parênquima mamário. A complementação não está indicada nas lesões categoria 2, nas lesões categoria 5, nas microcalcificações e na distorção focal da arquitetura. A complementação pode ser dispensada nos pequenos nódulos de aspecto benigno em mamas adiposas. Nas mulheres assintomáticas com mama densa, a complementação não é obrigatória, porém existe benefício no grupo de alto risco. 7 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP Achados Ultrassonográficos Classificação de BI-RADS Ultrassonográfica O BI-RADS ultrassonográfico gradua os seus achados em risco para lesão maligna. Ressonância Magnética (RM) É um exame não invasivo, de custo elevado, de alta sensibilidade e valor preditivo positivo de 100% para os tumores invasores maiores de 2 mm. A RM não identifica microcalcificações ou tumores intraductais ou invasores menores que 2 mm. Os principais fatores limitantes do método correspondem à impossibilidade de localização das lesões subclínicas e sua baixa especificidade (35 a 50%). De acordo com alguns autores, a melhor época para a realização da RM é entre o 6º e o 17º dia do ciclo menstrual. Fora deste período, podem ser encontrados achados inespecíficos que podem conduzir a erros de diagnóstico. CLASSIFICAÇÃO DE BI-RADS O Colégio Americano de Radiologia propôs em 1992 uma padronização da nomenclatura dos achados mamográficos. O principal objetivo desta padronização foi a criação de uma linguagem universal, que facilitasse a interpretação da MMG e orientasse a conduta. Foi denominada sistema BI-RADS (Breast-Imaging Reporting and Data-System). O BI-RADS estabelece categorias para a classificação dos achados mamográficos, e foi adotada pela Sociedade Brasileira de Mastologia. 8 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP Mamografia de Rastreamento versus Mamografia Diagnóstica Mamografia de Rastreamento: é o exame solicitado para mulheres da população-alvo sem sinais e sintomas de câncer de mama; Mamografia Diagnóstica: é o exame solicitado para pessoas de qualquer idade com sinais e sintomas de câncer de mama (nódulo, espessamento, descarga papilar, retração de mamilo, outras). Vale lembrar que dor não é sintoma de câncer de mama. CORE BIÓPSIA (Punção com agulha grossa ou biópsia de fragmento ou biópsia percutânea com agulha grossa) A Punção por Agulha Grossa (PAG), ou core biopsy, é um procedimento ambulatorial, realizado sob anestesia local, que retira fragmento de tecido mamário para o exame histopatológico por meio de dispositivo automático para biópsia (pistola), que utiliza agulhas de core de 12 ou 14 Gauge e pistola própria que obtém fragmentos filiformes do tumor para exame histopatológico. Requer anestesia local (botão anestésico) e mini-incisão na pele com lâmina de bisturi. Posiciona-se a agulha pelo pertuito do bisturi até a superfície da lesão. A agulha é acoplada a uma pistola. Vários disparos são realizados, e amostras de fragmentos são obtidas. Com desempenho semelhante à biópsia cirúrgica, possui elevada precisão diagnóstica e tem as seguintes vantagens: custo 25 a 50% menor; não necessita internação e raramente apresenta complicações; causa menor trauma local,com mínimo de lesões cicatriciais que possam gerar imagens pseudotumorais na mamografia; é um procedimento rápido e bem tolerado pelas pacientes, com recuperação mais rápida e, portanto, menor afastamento das atividades do lar e/ou do trabalho; tem excelente resultado estético, fato de extrema importância, principalmente quando é comprovada a natureza benigna da lesão. No caso de lesões não palpáveis (subclínicas), a PAG pode ser guiada por raios X (estereotaxia) ou ultrassonografia. 9 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP MAMOTOMIA (biópsia percutânea a vácuo) A biópsia percutânea a vácuo utiliza um sistema de aspiração a vácuo em conjunto com um sistema de corte, com agulhas de 11 até 8 Gauge (mais calibrosas), que obtém maior amostra tumoral. Ele pode ser guiado por raios X (estereotaxia), ultrassonografia ou ressonância magnética. Em comparação com a biópsia percutânea com agulha grossa, a biópsia a vácuo tem as vantagens de obter maior número de fragmentos, maiores e mais consistentes, com melhor desempenho nas microcalcificações, com uma única inserção da agulha. As desvantagens são o custo elevado e a pequena disponibilidade. Exige treinamento particular para sua execução. Geralmente, não está indicada nos nódulos palpáveis, pois métodos menos sofisticados e de menor custo são recomendados neste caso. BIÓPSIA CIRÚRGICA A biópsia cirúrgica é o método mais tradicional e com maior disponibilidade. Pode ser incisional, quando há retirada de parte da lesão, e excisional, quando ocorre retirada total da lesão. No caso das lesões não palpáveis, a biópsia deve ser orientada por Marcação Pré-Cirúrgica (MPC), com a finalidade de marcar a lesão, proporcionando a retirada econômica de tecido mamário, importante parâmetro a ser considerado, principalmente se a lesão for de natureza benigna. A MPC pode ser guiada por raios X (estereotaxia), por ultrassonografia e por ressonância magnética. Para marcar a lesão, pode- se utilizar um fio metálico ou marcador radioativo. É considerado o padrão-ouro para obtenção de amostra dos tumores para exame histopatológico. É obrigatória na suspeita de falso-negativo da core biópsia ou da mamotomia. Em caso de dúvida também deve ser sempre realizada. Excisional Indicada nos casos de lesões menores. Consiste na retirada completa da lesão. O in print celular é obtido através da fixação, em lâmina, de material obtido por estas biópsias, no qual a lâmina é “carimbada” diversas vezes pela peça cirúrgica, que depois é encaminhada ao patologista. Incisional Indicada nos casos de tumores de grandes dimensões. Consiste na retirada de apenas um fragmento do tumor. A avaliação histopatológica determina o diagnóstico e orienta a conduta terapêutica. 10 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP CÂNCER DE MAMA CARCINOMA Em 2010, mais de 200.000 cânceres de mama invasivos foram diagnosticados em mulheres nos Estados Unidos, e cerca de 40.000 mulheres morreram dessa doença, fazendo com que essa praga perca apenas para o câncer de pulmão como causa de morte relacionada ao câncer em mulheres. O risco de desenvolver câncer de mama é de um em oito para mulheres nos Estados Unidos. Durante as últimas três décadas, a taxa de mortalidade entre os pacientes diagnosticados com câncer de mama caiu de 30% para 20%, principalmente como resultado da melhora na triagem e tratamento. FATORES DE RISCO 11 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP Idade. O risco aumenta progressivamente ao longo da vida, especialmente após a menopausa, atingindo um máximo em torno dos 80 anos de idade; 75% das mulheres com câncer de mama têm mais de 50 anos de idade, e apenas 5% têm menos de 40. Variações Geográficas. Diferenças surpreendentes nas taxas de incidência e mortalidade do câncer de mama têm sido relatadas por vários países. Essas diferenças parecem ser ambientais e não de origem genética. Acredita-se que hábitos alimentares, padrões reprodutivos e de amamentação estejam envolvidos. Raça/Etnia. A maior taxa de câncer de mama é em mulheres brancas não hispânicas. No entanto, mulheres hispânicas e afro-americanas tendem a desenvolver câncer em uma idade mais jovem e estão mais suscetíveis a desenvolver tumores agressivos que se apresentam em estágio avançado. Outros Fatores de Risco. A exposição prolongada ao estrogênio exógeno na pós- menopausa, como ocorre no tratamento de reposição hormonal, provou ser útil para a prevenção da osteoporose. No entanto, de acordo com estudos recentes, o uso de curto prazo relativo da terapia hormonal combinada de estrogênio e progestina está associado a um risco aumentado de câncer de mama, diagnóstico em estágio mais avançado de câncer de mama e maior incidência de mamografias anormais. Pelo fato de o relatório de 2002 da Women's Health Initiative ter sugerido maior dano que benefício na combinação de estrogênio e progestina, ocorreu uma queda acentuada no uso de estrogênio e progesterona, juntamente com uma reavaliação séria da terapia hormonal na perimenopausa. Os contraceptivos orais não mostraram afetar o risco de câncer de mama, mesmo em mulheres que tomaram a pílula por muito tempo ou em mulheres com história familiar de câncer de mama. A radiação ionizante do tórax aumenta o risco de câncer de mama. A magnitude do risco depende da dose da radiação, do tempo desde a exposição e da idade. Somente as mulheres nas quais a irradiação ocorreu antes dos 30 anos, durante o desenvolvimento da mama, parecem ser afetadas. Por exemplo, o câncer de mama desenvolve-se em 20-30% das mulheres que se submeteram à irradiação para linfoma de Hodgkin na adolescência e na faixa dos 20 anos, mas o risco para mulheres tratadas mais tarde na vida não é elevado. É importante salientar que as baixas doses de radiação associadas à triagem mamográfica não têm efeito significativo sobre a incidência de câncer de mama. Muitos outros fatores de risco bem menos estabelecidos, como obesidade, consumo de álcool e dieta rica em gordura, têm sido envolvidos no desenvolvimento do câncer de mama por análise de estudos da população. O risco associado à obesidade é provavelmente devido à exposição da mama ao estrogênio produzido pelo tecido adiposo. FISIOPATOLOGIA As causas do câncer de mama permanecem incompletamente compreendidas. No entanto, três conjuntos de influências parecem ser importantes: 1) alterações genéticas; 2) influências hormonais; 3) variáveis ambientais. Alterações Genéticas. Tal como acontece com todos os cânceres, as mutações que afetam proto-oncogenes e genes supressores tumorais no epitélio da mama são subjacentes à oncogênese. Entre as mais bem caracterizadas está a superexpressão do proto- oncogene HER2/NEU, que sofre amplificação em até 30% dos cânceres da mama invasivos. Esse gene é um membro da família do receptor do fator de crescimento da epiderme, e sua superexpressão está associada a um prognóstico sombrio. A amplificação dos genes RAS e MYC também tem sido relatada em alguns cânceres da mama humanos. As mutações dos bem conhecidos genes supressores de tumor RB e TP53 também podem estar presentes. Grande número de genes, incluindo o gene do receptor de estrogênio, pode ser inativado por hipermetilação do promotor. Sem dúvida, o processo de transformação envolve múltiplas alterações genéticas adquiridas, que podem ocorrer em várias combinações, dando assim origem a diferentes subtipos de câncer de mama. 12 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP O perfil da expressão gênica pode separar o câncer de mama em quatro subtipos moleculares: (1) luminal A (positivo para receptor de estrogênio, negativo para HER2/NEU); (2) luminal B (positivo para receptor de estrogênio, superexpressão de HER2/NEU); (3) positivo para HER2/NEU (superexpressão de HER2/NEU, negativo para receptorde estrogênio); e (4) semelhante ao basal (negativo para receptor de estrogênio e negativo para HER2/NEU). Esses subtipos estão associados a diferentes resultados e, em alguns casos, terapias diferentes. Aproximadamente 10% dos cânceres de mama estão relacionados a mutações hereditárias específicas. As mulheres que carregam um gene de suscetibilidade ao câncer de mama são mais propensas a ter câncer bilateral, a ter outras formas familiares de câncer (p. ex., câncer de ovário), a ter história familiar positivo (isto é, múltiplos parentes de primeiro grau afetados antes da menopausa), a desenvolver câncer de mama antes da menopausa e a pertencer a determinados grupos étnicos (p. ex., as pessoas de ascendência judaica asquenazi). Cerca de 33% das mulheres com câncer de mama hereditário apresentam mutações no BRCA1 (no lócus cromossômico 17q21.3) ou BRCA2 (localizado na banda cromossômica 13q12-13). Esses genes codificam proteínas grandes e complexas que não apresentam homologia próxima umas às outras ou a outras proteínas. Embora a base molecular para a sua forte associação ao risco de câncer de mama ainda esteja sendo elucidada, acredita-se que tanto o BRCA1 quanto o BRCA2 funcionem em uma via comum de reparo do DNA. Geneticamente, BRCA1 e BRCA2 são genes supressores tumorais clássicos, pois o câncer surge apenas quando ambos os alelos são inativados ou defeituosos — no primeiro, lesão genética causada por uma mutação germinativa; no segundo, por uma mutação somática subsequente. Os testes genéticos estão disponíveis, mas sua utilidade é complicada pela existência de centenas de alelos mutantes diferentes, sendo que apenas alguns deles conferem suscetibilidade ao câncer. O grau de penetração, idade no início do câncer e suscetibilidade a outros tipos de câncer diferem entre as mutações específicas. A maioria das portadoras, no entanto, desenvolve câncer de mama na idade de 70 anos, em comparação com apenas 7% das mulheres que não carregam uma mutação. O papel desses genes no câncer de mama não hereditário esporádico é menos claro, pois as mutações que afetam BRCA1 e BRCA2 são infrequentes em tumores esporádicos. Doenças genéticas menos comuns associadas ao câncer de mama são a síndrome de Li-Fraumeni (causada por mutações em TP53), a síndrome de Cowden (causada por mutações germinais no PTEN) e as dos portadores do gene ataxia-telangiectasia. Influências Hormonais. O excesso de estrogênio endógeno ou, mais precisamente, o desequilíbrio hormonal, tem claramente um papel significativo. Muitos dos fatores de risco mencionados (longa duração de vida reprodutiva, nuliparidade e idade avançada no nascimento do primeiro filho) envolvem aumento da exposição ao estrogênio sem oposição da progesterona. Tumores ovarianos funcionais que elaboram estrogênios estão associados ao câncer de mama em mulheres pós-menopáusicas. Os estrogênios estimulam a produção de fatores de crescimento, como fator de crescimento transformador, o fator de crescimento derivado de plaquetas, o fator de crescimento de fibroblastos e outros, que podem promover o desenvolvimento do tumor através de mecanismos parácrinos e autócrinos. Variáveis Ambientais. As influências ambientais são sugeridas pela incidência variável de câncer de mama em grupos geneticamente homogêneos e as diferenças geográficas na prevalência, como discutido anteriormente. 13 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP MORFOLOGIA DO CÂNCER DE MAMA A localização mais comum do tumor dentro da mama é no quadrante superior externo (50%), seguido pela porção central (20%). Cerca de 4% das mulheres com câncer de mama têm tumores primários bilaterais ou lesões sequenciais na mesma mama. Os cânceres de mama são classificados conforme sua penetração ou não na membrana basal limitante: aqueles que permanecem dentro desse limite são chamados carcinomas in situ; aqueles que se espalharam para além dele são designados carcinoma invasivo ou infiltrativo. Nessa classificação, as principais formas de carcinoma da mama são como se segue: A. Não invasivo: 1. Carcinoma ductal in situ (CDIS); 2. Carcinoma lobular in situ (CLIS). B. Invasivo (infiltrante): 1. Carcinoma ductal invasivo (“não especificado em outros aspectos”), o subtipo mais comum de carcinoma invasivo; 2. Carcinoma lobular invasivo; 3. Carcinoma medular; 4. Carcinoma coloide (carcinoma mucinoso); 5. Carcinoma tubular; 6. Outros tipos. Carcinoma (in Situ) Não Invasivo: Existem dois tipos de carcinoma de mama não invasivo: CDIS e CLIS. Estudos morfológicos mostram que ambos os tipos surgem normalmente a partir de células na unidade lobular do ducto terminal. O CDIS tende a preencher e distorcer os espaços semelhantes a ductos. Por outro lado, o CLIS geralmente se expande, mas não altera os ácinos dos lóbulos. Ambos são restritos por uma membrana basal e não invadem o estroma ou os canais Linfo Vasculares. O CDIS tem grande variedade de aparências histológicas. Padrões arquitetônicos muitas vezes são misturados e incluem tipos sólido, comedo, cribriforme, papilar, micropapilar e “agregado”. Pode haver presença de necrose em qualquer um desses tipos. A aparência nuclear tende a ser uniforme em determinado caso e varia de branda e monótona (grau nuclear baixo) até pleomórfica (grau nuclear alto). O subtipo comedo é distintivo e caracterizado por células com núcleos de alto grau com necrose central extensa (Fig. 18-28). O nome deriva do tecido necrótico do tipo creme dental que extrusa dos ductos seccionados com aplicação de pressão suave. As calcificações frequentemente estão associadas ao CDIS, originando-se como detritos necróticos calcificados ou material de secreção calcificado. A proporção dos cânceres da mama que são diagnosticados no estágio CDIS é de apenas 5% em populações não examinadas, mas de até 40% nas populações que passaram por triagem, em grande parte devido à capacidade da mamografia de detectar calcificações. O CDIS só raramente se manifesta como massa palpável ou radiologicamente detectável. O prognóstico para CDIS é excelente, com mais de 97% de sobrevida de longo prazo após mastectomia simples. Em algumas mulheres, metástase distante se desenvolve sem recidiva local; esses pacientes geralmente têm CDIS extenso de alto grau nuclear, 14 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP provavelmente com pequenas áreas de invasão não detectadas. Pelo menos 33% das mulheres com pequenas áreas de CDIS não tratados de baixo grau nuclear acabarão por desenvolver carcinoma invasivo. Quando o câncer invasivo chega a se desenvolver, geralmente é na mesma mama e quadrante que o CDIS anterior. Estratégias atuais de tratamento tentam erradicar o CDIS com cirurgia e irradiação. O tratamento com agentes antiestrogênicos, como tamoxifeno e aromatase, também podem diminuir o risco de recorrência. A doença de Paget do mamilo é causada pela extensão do CDIS até os ductos lactíferos e para dentro da pele contígua do mamilo, produzindo um exsudado crostoso unilateral sobre o mamilo e a pele areolar. Em quase todos os casos, um carcinoma subjacente está presente, e em aproximadamente 50% das vezes esse carcinoma é invasivo. O prognóstico é baseado no carcinoma subjacente e não é afetado pela presença da doença de Paget. O CLIS tem aparência uniforme. As células são monomórficas, com núcleos suaves e esféricos, e ocorrem em aglomerados fracamente coesivos dentro dos lóbulos (Fig. 18-29). Vacúolos de mucina intracelular (às vezes formando células em anel de sinete) são comuns. O CLIS é quase sempre um achado incidental porque, ao contrário do CDIS, apenas raramente está associado a calcificações. Portanto, a incidência de CLIS manteve-se inalterada em populações avaliadas via mamografia. Aproximadamente 33% das mulheres com CLIS acabarão por desenvolver carcinoma invasivo. Ao contrário do CDIS, carcinomas invasivos subsequentes podem surgir em qualquer mama. A maioria desses cânceres é de carcinomas lobulares invasivos; no entanto, carcinomas ductais invasivos também surgem de CLIS. Assim, o CLIS é tanto um marcador do aumento de risco do carcinoma em ambas as mamas quanto um precursor direto de alguns cânceres. O tratamento atual envolve a quimioprevenção com tamoxifeno junto com avaliação de acompanhamento clínico e radiológico ou, menos comumente, a mastectomia profilática bilateral. Carcinoma (Infiltrante) Invasivo: Os padrões histológicos distintos dos subtipos de carcinoma invasivo são descritos em primeiro lugar, seguidos pelas características totais comuns a todos. Carcinoma ductal invasivo é uma expressão usada para todos os carcinomas que não podem ser subclassificados em um dos tipos especializados descritos adiante. A maioria dos cânceres (70-80%) pertence a esse grupo. Esse tipo de câncer normalmente está associado ao CDIS e, raramente, ao CLIS. Muitos carcinomas ductais produzem uma resposta desmoplásica que substitui a gordura da mama normal (resultando em densidade mamográfica) e forma uma massa dura e palpável (Fig. 18-30). 15 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP O aspecto microscópico é bastante heterogêneo, variando de tumores com formação de túbulos bem desenvolvidos e núcleos de baixo grau a tumores constituídos por lâminas de células anaplásicas (Fig. 18-31). As margens do tumor são geralmente irregulares. A invasão dos espaços linfovasculares pode ser observada. Cerca de 66% expressam receptores de estrogênio ou progesterona, e cerca de 33% superexpressam HER2/NEU. O carcinoma lobular invasivo é constituído por células morfologicamente idênticas às células do CLIS. Sessenta e seis por cento dos casos estão associados ao CLIS adjacente. As células invadem individualmente o estroma e, muitas vezes, são alinhadas em cordões ou correntes de “células isoladas”. Esse padrão de crescimento correlaciona-se com a presença de mutações que anularão a função da E-caderina, uma proteína de superfície que contribui para a coesão das células normais epiteliais da mama. Embora a maior parte se manifeste como massas palpáveis ou como densidades mamográficas, um subgrupo significativo pode apresentar um padrão difusamente invasivo sem resposta desmoplásica e pode ser clinicamente oculto. Carcinomas lobulares têm um padrão único de metástase entre os cânceres de mama; mais frequentemente, eles se espalham para o líquido cerebrospinal, superfícies serosas, trato gastrointestinal, ovário, útero e medula óssea. Os carcinomas lobulares também são mais frequentemente multicêntricos e bilaterais (10-20% dos casos). Quase todos esses carcinomas expressam receptores hormonais, enquanto a superexpressão HER2/NEU é rara. Esses tumores compreendem menos de 20% de todos os carcinomas mamários. O carcinoma inflamatório é definido pela apresentação clínica de mama ampliada, entumescida e eritematosa, geralmente sem massa palpável. O carcinoma subjacente geralmente é pouco diferenciado e difusamente infiltrativo. Caracteristicamente, o carcinoma envolve espaços linfáticos dérmicos. O bloqueio resultante desses canais leva a edema, resultando na característica aparência clínica “inflamada”; a inflamação verdadeira é mínima a ausente. Muitos desses tumores sofrem metástases para locais distantes; a sobrevida total de cinco anos é inferior a 50% e compreensivelmente ainda mais baixa nas pacientes com a doença metastática no momento do diagnóstico. O carcinoma medular é um subtipo raro de carcinoma, representando menos de 1% dos cânceres de mama. Esses cânceres são constituídos por lâminas de grandes células anaplásicas com limites bem circunscritos e “comprimidos” (Fig. 18-32, A). Clinicamente, podem ser confundidos com fibroadenomas. Há sempre um infiltrado linfoplasmocítico pronunciado. O CDIS geralmente está ausente ou é mínimo. Carcinomas medulares ocorrem com maior frequência em mulheres com mutações no BRCA1, embora a maioria das mulheres com carcinoma medular não seja portadora. Esses carcinomas uniformemente não possuem receptores de estrogênio e progesterona, e não superexpressam HER2/ NEU (uma combinação que muitas vezes é referida como triplo negativo). 16 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP O carcinoma coloide (mucinoso) também é um subtipo raro. As células tumorais produzem quantidade abundante de mucina extracelular, que disseca para dentro do estroma circundante (Fig. 18-32, B). Como os carcinomas medulares, eles muitas vezes se apresentam como massas bem circunscritas e podem ser confundidos com fibroadenomas. Na avaliação macroscópica, os tumores geralmente são moles e gelatinosos. A maioria expressa receptores hormonais, mas não superexpressa HER2/NEU. Os carcinomas tubulares raramente se apresentam como massas palpáveis, mas respondem por 10% dos carcinomas invasivos menores que 1 cm encontrados com exame mamográfico. Geralmente são detectados como densidades mamográficas irregulares. No exame microscópico, os carcinomas são constituídos por túbulos bem formados com núcleos de grau baixo. Metástases linfonodais são raras, e o prognóstico é excelente. Praticamente todos os carcinomas tubulares expressam receptores hormonais e não apresentam superexpressão de HER2/NEU. Características Comuns dos Cânceres Invasivos Em todas as formas de câncer de mama, a progressão da doença leva a achados físicos semelhantes. Os cânceres invasivos tendem a se tornar aderentes e fixos nos músculos peitorais ou fáscia profunda da parede do tórax e da pele sobrejacente, com consequente retração ou depressões na pele ou no mamilo. Estas últimas são um sinal importante porque podem ser a primeira indicação de malignidade. Os envolvimentos das vias linfáticas podem resultar em linfedema localizado. Nesses casos, a pele fica espessa em torno de folículos pilosos exagerados, dando a aparência conhecida como casca de laranja. CURSO CLÍNICO O câncer de mama muitas vezes é descoberto pelo paciente ou seu médico como massa enganosamente distinta, solitária, indolor e móvel. No momento da detecção clínica, o carcinoma tipicamente tem 2-3 cm de tamanho, e o envolvimento dos linfonodos linfáticos regionais (mais frequentemente axilares) já está presente em cerca de 50% das pacientes. Com exame mamográfico, os carcinomas frequentemente são detectados antes mesmo de se tornarem palpáveis. A média do carcinoma invasivo encontrado por exame mamográfico é de cerca de 1 cm de tamanho, e apenas 15% deles produziram metástases nodais. Além disso, muitas vezes o CDIS é detectado antes do desenvolvimento de carcinoma invasivo durante o exame. À medida que a mulher envelhece, o tecido fibroso da mama é substituído por gordura, e o exame torna-se mais sensível, como resultado do aumento da radioluscência da mama e do aumento da incidência de malignidade. A polêmica atual sobre o melhor momento para se começar o exame mamográfico surge dos esforços para equilibrar os benefícios da detecção precoce do câncer em algumas mulheres com riscos de exposição à radiação e a morbidade e despesa associada aos achados clínicos de lesões benignas da mama (falsos positivos). A ressonância magnética está sendo estudada como um adjuvante do exame mamográfico em pacientes jovens de alto risco, com mamas densas, que são difíceis de examinar através da mamografia. A propagação do câncer de mama ocorre através dos canais linfáticos e hematogênicos. As lesões de localização central e do quadrante exterior tipicamente se espalham primeiro para os linfonodos axilares. Aquelas nos quadrantesmediais internos muitas vezes vão primeiramente para os linfonodos ao longo das artérias mamárias internas. A disseminação mais distante eventualmente se segue e pode envolver praticamente qualquer 17 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP órgão ou tecido do corpo. Os locais preferidos são pulmões, esqueleto, fígado, glândulas suprarrenais e (menos frequentemente) o cérebro, mas nenhum local está isento. As metástases podem chegar à atenção clínica muitos anos após o controle terapêutico aparente da lesão primária, às vezes até 15 anos mais tarde. Não obstante, a cada ano que passa sem recidiva da doença aumenta a probabilidade de cura. O prognóstico dos cânceres de mama é influenciado pelas seguintes variáveis, sendo que as três primeiras são componentes da classificação de estadiamento do tumor-nódulo-metástase (TNM): Invasão e tamanho tumoral. Carcinomas in situ apresentam excelente prognóstico (taxa de sobrevida de cinco anos superior a 90%), assim como os carcinomas invasivos menores que 2 cm (taxa de sobrevida de cinco anos de 87%). Grau de envolvimento dos linfonodos linfáticos. Sem o envolvimento do linfonodo axilar, a taxa de sobrevida de cinco anos é de cerca de 80%. A sobrevida está inversamente relacionada com o número de linfonodos envolvidos e é inferior a 50% com 16 ou mais nódulos envolvidos. A biópsia de linfonodo sentinela é atualmente o esteio para o estadiamento da axila. Esse procedimento identifica o(s) linfonodo(s) primário(s) que drena(m) o parênquima da mama, usando corante ou um marcador radioativo (às vezes, ambos). Uma vez identificados, os linfonodos sentinela são removidos e examinados microscopicamente. Um linfonodo sentinela livre de carcinoma (“linfonodo negativo”) é altamente preditivo de ausência de carcinoma metastático nos linfonodos restantes. Um “linfonodo positivo”, por outro lado, é indicação para dissecção axilar completa, que é usada para estadiar a doença do paciente. Metástases distantes. Os pacientes que desenvolvem disseminação hematogênica raramente são curáveis, embora a quimioterapia possa prolongar a sobrevida (a taxa de sobrevida de cinco anos é de aproximadamente 15%). Grau histológico. O sistema de classificação mais comum de câncer de mama avalia a formação de túbulos, grau nuclear e índice mitótico. Carcinomas bem diferenciados estão associados a prognóstico significativamente melhor do que os carcinomas pouco diferenciados. Carcinomas moderadamente diferenciados inicialmente têm bom prognóstico, mas a sobrevida de 20 anos aproxima-se da sobrevida dos carcinomas pouco diferenciados. Tipo histológico do carcinoma. Todos os tipos especializados de carcinoma da mama (tubular, medular e mucinoso) estão associados a prognóstico um pouco melhor do que os carcinomas de nenhum tipo especial (carcinomas ductais). A grande exceção é o carcinoma inflamatório, que tem prognóstico sombrio. Presença ou ausência de receptores de estrogênio ou de progesterona. A presença de receptores hormonais confere prognóstico ligeiramente melhor. No entanto, a razão prática para a determinação da sua presença é prever a resposta à terapia. A maior taxa de resposta (aproximadamente 80%) para terapia antiestrogênica (ooforectomia ou tamoxifeno) é observada em mulheres cujas células tumorais expressam receptores de estrogênio e progesterona. Menores taxas de resposta (25-45%) são observadas se apenas o receptor de estrogênio está presente. Se ambos estão ausentes, muito poucas pacientes (menos de 10%) respondem. Superexpressão de HER2/NEU. A superexpressão dessa proteína ligada à membrana é quase sempre causada por amplificação do gene e pode ser determinada por imuno-histoquímica (que avalia os níveis da proteína) ou por hibridação in situ fluorescente (que avalia o número de cópias do gene). A superexpressão está associada a pior prognóstico. No entanto, a importância clínica de avaliar HER2/NEU reside na previsão da resposta ao trastuzumabe (Herceptin®), um anticorpo monoclonal que se liga à função de HER2/NEU e a inibe. Essa continua a ser um dos exemplos mais bem caracterizados de terapia eficaz dirigida contra uma lesão molecular específica de tumor. A razão para alguns tipos de câncer reaparecerem depois do tratamento pós-operatório e outros não permanece um mistério. Como mencionado anteriormente, o perfil da expressão gênica dos cânceres de mama em microarrays (chips de genes) definiu várias classes moleculares do câncer de mama e 18 MARC 12 – Heloísa Paraíso 6ºP também foi usado para desenvolver testes comerciais que podem prever a resposta do tumor de uma paciente individual para a quimioterapia. Atualmente não há dados suficientes sobre o valor prognóstico desses testes.
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