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Acredita-se que as origens do Império do Mali, um dos mais importantes da savana ocidental, remetam ao século XI. Situado no alto do Rio Níger, foi inicialmente habitado por povos de língua mandê, conhecidos como malinquês, que viviam em um kafu – conjunto de aldeias cercadas por terras cultivadas, que formavam pequenos estados – e eram governados por donos de terras descendentes dos primeiros habitantes da região, conhecidos como famas. 182IMPERIO DO MALI Módulos 34 E 35 Aos poucos, conseguiram expandir seus domínios até as regiões florestais e desérticas, conquistando províncias e vassalos semi-independentes. No entanto, até o século XIII, o Império do Mali era apenas uma região subordinada ao poderoso Império de Gana, composto por doze pequenos reinos habitados por populações do povo malinques. Os malinquês conseguiram sua independência após o Império de Gana ter sido enfraquecido por guerras travadas contra os almorávidas, durante o século XI, e contra os sossos, no século XII. Em 1235, os malinquês, liderados por Sundiata Keita, travaram a batalha de Kirina contra o rei sosso Sumanguro (ou Soumaoro Kantê), conhecido como um poderoso ferreiro e feiticeiro. Após a vitória, os malinquês conseguiram incorporar aos seus domínios as terras do antigo Império de Gana, os territórios sossos, as minas de ouro de Buré e Bambuk e as terras próximas aos Rios Gâmbia, Senegal e o alto Níger, unificando as possessões do poderoso Império do Mali. Após a vitória, Keita recebeu o título de mansa, que significa imperador, e o reino passou a se dedicar à extração de ouro e ao controle das rotas comerciais anteriormente utilizadas pelos ganeses O império, cuja capital era a cidade de Niani, abrangia importantes territórios comerciais e vastas regiões agropecuárias que envolviam o deserto do Saara, o vale do Rio Níger, Sahel e Jenné. A população do Império do Mali era, portanto, composta por vários povos, tais como os malinquês (a principal delas), os sereres, os jalofos, os bambaras, os fulas, os soninquês, entre outros. Na segunda metade do século XIII, o filho de Sundiata Keita, chamado Uli, sucedeu-o como mansa do Império do Mali. Sob o comando de Uli, foram conquistadas estratégicas regiões do Sahel, como as cidades de Tombuctu e Jenné. Tombuctu, situada a noroeste do Níger, era um importante ponto de comércio controlado pelos povos tuaregues islamizados. Jenné, próxima ao Rio Bani, era um grande centro comercial e agropecuário, cujos habitantes plantavam sorgo e arroz, além de criarem gado e produzirem artigos em couro, cobre, ferro, madeira e ouro. No século XIV, quem assumiu o comando do Império do Mali foi o mansa Musa, considerado por alguns estudiosos um dos homens mais ricos de todos os tempos. Fortuna do imperador do Mali é inestimável, mas passa dos trilhões de dólares, de acordo com cálculos de especialistas Muitos especialistas acreditam que mansa Musa (1280 1337), rei de Tombuctu, foi a pessoa mais rica da história. De acordo com o professor de história Richard Smith, o reino da África Ocidental de Musa (atual Mali) provavelmente era o maior produtor de ouro do mundo em um momento em que esse material passava por um período de alta demanda. Historiadores e economistas ainda não conseguiram estimar quantos trilhões de dólares a fortuna do governante valeria hoje. Trilhões, sim. Em uma lista da Time de 2015, o Imperador Augusto César aparece em segundo lugar com US$ 4,6 trilhões. [...] Musa assumiu o poder em 1312 e expandiu as fronteiras de seu império em cerca de 3 mil quilômetros. Quando foi para a cidade sagrada de Meca, em 1324, levou uma caravana tão grande que "cronistas descrevem uma comitiva de dezenas de milhares de soldados, civis e escravos, 500 mensageiros vestidos com sedas finas e ouro, e muitos camelos e cavalos carregados de barras de ouro", explica Smith. Para se ter noção, quando passou pelo Cairo, no Egito, Musa doou tanto ouro para os pobres que a economia local sofreu com inflação e crise financeira por anos. Durante seu reinado, o “homem mais rico de todos os tempos” criou escolas, mesquitas e até uma universidade. Entre seus feitos, está a famosa Mesquita de Djinguereber, em Tombuctu. Entre os séculos XIV e XVI, as regiões de Jenné e Tombuctu integraram-se economicamente ainda mais: de Tombuctu, partiam embarcações conhecidas como almadias (feitas com um só tronco) rumo à Jenné, abastecidas com sal. Chegando ao seu destino, o sal era trocado por ouro, extraído da região dos povos acãs e de Lobi. Além do sal e do ouro, circulavam nas redes comerciais do Império do Mali produtos como tecidos, grãos, instrumentos de metal, peles e plumas, trocados em regiões ao sul do Marrocos. Os malinquês controlavam rigorosamente suas fronteiras e definiam as leis por meio de uma assembleia chamada Gbara, composta por representantes dos diversos povos do império. Apesar de serem dirigidas por conselhos de anciãos, as várias aldeias e reinos sob a influência do Império do Mali deveriam pagar tributos ao mansa. A sociedade estava dividida de forma hierárquica: no topo, estava o mansa, que poderia indicar tanto filhos quanto irmãos para a sucessão real. Abaixo dele, estavam as linhagens reais de cada nação, que possuíam seus próprios nobres. Nas camadas intermediárias, estavam os homens livres, os mestres de ofícios tradicionais (carpinteiros, ferreiros, tecelões etc.), os servos e, na base da sociedade, os escravizados, utilizados em variadas funções (agricultura, exército, administração, entre outras). O islamismo foi a religião adotada pelo Império do Mali. Isso ocorreu porque o período de consolidação do império coincidiu com o período de expansão islâmica no norte da África. No início do século XI, um dos chefes locais teria se convertido ao islamismo e dominado os súditos com o auxílio dos almorávidas. Segundo os relatos muçulmanos, o chefe local (keita) realizou uma peregrinação até a cidade sagrada de Meca, na atual Arábia Saudita, em 1050, recebendo o título de sultão. Aos poucos, a religião islâmica espalhou-se pelo Império do Mali. Na cidade de Tombuctu, havia uma importante universidade, que difundia tanto a cultura muçulmana da época quanto as traduções de textos gregos clássicos. Apesar da conversão ao islamismo, ainda hoje são mantidas nas regiões do antigo Império do Mali algumas práticas, visões de mundo e crenças religiosas anteriores à chegada dos árabes, tais como a feitiçaria e o animismo O Império do Mali entrou em declínio a partir do século XIV, enfraquecido por disputas internas pelo poder e pelas invasões dos tuaregues, que chegaram a tomar a cidade de Tombuctu, essencial para a arrecadação de impostos e para o comércio de longa distância. No século XV, o império foi conquistado pelos songhais, até então um povo dominado pelos malinquês. Quando os portugueses atingiram a região do Mali, o império já estava decadente. O então mansa Mamadou II pediu aos portugueses auxílio militar para que pudesse resistir aos inimigos, mas não foi atendido. O antigo Império do Mali, correspondente ao atual país Mali, passou, então, por um longo processo de declínio, sobrevivendo como reino menor até o século XVIII.