Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Complementação Pedagógica Coordenação Pedagógica – IBRA DISCIPLINA CARTOGRAFIA SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 03 1 CARTOGRAFIA ............................................................................................ 05 1.1 Conceitos básicos ...................................................................................... 06 1.2 Divisão da Cartografia ................................................................................ 08 1.3 Os grandes componentes da Cartografia................................................... 11 1.4 História da Cartografia................................................................................ 17 2 GEOMORFOLOGIA...................................................................................... 21 2.1 Geotecnologias .......................................................................................... 24 3 BIOGEOGRAFIA .......................................................................................... 30 REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS.......................................... 33 3 INTRODUÇÃO Nos esforçamos para oferecer um material coerente procurando referências atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso. As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e provado pelos pesquisadores. Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar nosso trabalho. Ao estudar a Geografia, o aluno tem oportunidade de compreender e intervir na realidade social. Para tanto, ele precisa adquirir conhecimentos, dominar categorias, conceitos e procedimentos básicos operados por este campo do saber. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para esta área, a Geografia trabalha com imagens, recorrendo a diferentes linguagens na busca de informações e como forma de expressar suas interpretações, hipóteses e conceitos. O estudo da linguagem cartográfica, por sua vez, tem cada vez mais reafirmado sua importância, desde o início da escolaridade. Contribui não apenas para que os alunos venham a compreender e utilizar uma ferramenta básica da " 4 Geografia, os mapas, como também para desenvolver capacidades relativas à representação do espaço. A cartografia é um conhecimento que vem se desenvolvendo desde a pré-história até os dias de hoje. Por intermédio dessa linguagem é possível sintetizar informações, expressar conhecimentos, estudar situações, entre outras coisas — sempre envolvendo a ideia da produção do espaço: sua organização e distribuição. Completando os estudos sobre a Cartografia, passaremos pela geomorfologia, geotecnologia e biogeografia. Trata-se de uma reunião do pensamento de vários autores que entendemos serem os mais importantes para a disciplina. Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico. Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar os conhecimentos. " 5 1 CARTOGRAFIA Para introduzirmos as subáreas e os conceitos geográficos necessários ao estudante desse século XXI, vamos tomar por base a fala de Rosa (1999, p. 52) a qual nos diz que ensinar os alunos a ler e obter informações em diferentes tipos de mapas é uma forma de promover a construção de procedimentos que lhes permitem localizar objetos e lugares para se deslocarem com sucesso. Esses procedimentos também lhes possibilitam utilizar os mapas enquanto fontes de pesquisa que sintetizam informações sobre lugares, regiões e territórios e diferentes partes do Brasil e do mundo. Aprender a ler mapas, bem como saber utilizá-los como uma representação do espaço que segue as regras dos vários sistemas de projeção e tem uma linguagem específica, é essencial para a formação do cidadão autônomo. Portanto, para contribuir com o desenvolvimento da cidadania, torna-se importante que os professores possam auxiliar as crianças desde as séries iniciais a desenvolver habilidades com destaque para o estudo do lugar, espaço próximo e vivido dos alunos. A compreensão da experiência dos indivíduos em relação à leitura da realidade espacial, para Francischett (2002) dá-se pelo entendimento das representações existentes entre os elementos do espaço e a simbologia representativa da cartografia. Essa constatação, porém, é muito importante para que o conteúdo das aulas de Geografia e Cartografia seja trabalhado de forma que os alunos construam sua própria cidadania e percebam seu cotidiano de forma crítica. O processo de alfabetização cartográfica possibilitará as crianças conhecer o espaço vivido (local). Frente a isso, alfabetizar no conteúdo do mundo é, do ponto de vista da Geografia, identificar na natureza tecnicamente produzida as contradições, em que estamos inseridos, procurando desvendar as ações necessárias a construção de um novo mundo, de uma nova natureza, na qual o ato humano tenha identidade de sua humanidade (PEREZ, 2001, p.107). " 6 Esse espaço deve ser conhecido através da compreensão e da experiência dos indivíduos, extrapolando para espaços mais distantes, através da percepção visual que pode fornecer importantes elementos cartográficos para entender a construção da realidade. Nessa ótica, o processo de ensino-aprendizagem com participação da cartografia, assume uma importância singular, pois prepara o professor e o aluno para reconhecer a história do meio em que vivem garantindo uma relação direta com a realidade local e as explicações gerais de um espaço mais distante. As constantes transformações na esfera política, cultural, econômica e social fazem com que os estudos de cunho geográfico e cartográfico tornem-se cada vez mais relevantes e próximos das múltiplas realidades produzidas na dinâmica contemporânea. A Geografia e a Cartografia contribuem de maneira significativa para a interpretação das diferentes formas de organização na sociedade, possibilitando a integração entre as escolas. Diante dessa dinâmica, a escola torna- se, cada vez mais, uma instituição voltada para atender as características que a sociedade moderna lhe impõe, precisando acrescentar novos padrões de ensino. A necessidade de estudos relacionados à alfabetização cartográfica e de sua compreensão são inquestionáveis, pois o professor necessita desenvolver um trabalho com a criança em relação ao espaço perceptivo, espaço cognitivo e espaço do desenho que varia de acordo com cada indivíduo (SANTOS E ROSA, 2009). 1.1 Conceitos básicos Anderson, Ribeiro e Monmonier (1982) num primeiro contato ou momento definem Cartografia em duas palavras: ―comunicação‖ e ―análise‖. Cartografia como ―análise‖ é mais ligada a Cartografia Geográfica, que concentra no estudo espacial dos fenômenos a serem mapeados. Assim, antecede o mapa, ou utiliza cartas para determinar o conteúdo de outras cartas novas. Cartografia como ―comunicação‖ concentra mais na carta existente: como foi feita ecomo pode ser lida e interpretada. Não é a única forma de comunicação. É uma forma especializada que dá ênfase ao visual (Existem também outras formas " 7 de comunicação visual, tais como através de fotografia, diagramas e gráficos, filmes ou mesmo gesticulação com as mãos tal como na linguagem de sinais usadas pelas pessoas mudas). Não existe uma diferença rígida entre os conceitos de mapa e carta. É, portanto, difícil estabelecer uma separação definitiva entre os significados dessas designações. A palavra mapa teve origem na Idade Média, quando era empregada exclusivamente para designar as representações terrestres. Depois do século XIV, os mapas marítimos passaram a ser denominadas cartas, como, por exemplo, as chamadas ―cartas de marear‖ dos Portugueses. Posteriormente, o uso da palavra carta generalizou-se e passou a designar não só as cartas marítimas, mas também, uma série de outras modalidades de representação da superfície da Terra, causando uma certa confusão. Didaticamente há certa preferência pelo uso da palavra mapa, mas na realidade, o mapa é apenas uma representação ilustrativa e pode perfeitamente incluir o caso particular da carta, dentre os povos de língua inglesa. Entretanto, entre os engenheiros cartógrafos brasileiros observa-se o contrário, isto é, o predomínio do emprego da palavra carta. Apesar dessas diferenças, quase todos concordam com as definições formais existentes: MAPA (pela definição simples) é a representação dos aspetos geográficos - naturais ou artificiais da Terra destinada a fins culturais, ilustrativos ou científicos. No Dicionário Cartográfico, mapa é a representação gráfica, em geral uma superfície plana e numa determinada escala, com a representação de acidentes físicos e culturais da superfície da Terra, ou de um planeta ou satélite. As posições dos acidentes devem ser precisas, de acordo, geralmente, com um sistema de coordenadas. Serve igualmente para denominar parte ou toda a superfície da esfera celeste. O mapa, portanto, pode ou não ter caráter científico especializado e é frequentemente, construído em escala pequena, cobrindo um território mais ou menos extenso. " 8 CARTA (pela definição simples) é a representação precisa da Terra, permitindo a medição de distâncias, direções e a localização de pontos. No Dicionário Cartográfico Carta é a representação dos aspetos naturais e artificiais da Terra, destinada a fins práticos da atividade humana, principalmente a avaliação precisa das distâncias, direções e a localização geográfica de pontos, áreas e detalhes; representação plana, geralmente em média ou grande escala, de uma superfície da Terra, subdividida em folhas, de forma sistemática, obedecendo um plano nacional ou internacional (OLIVEIRA, 1980). De todo modo a carta é comumente considerada como uma representação similar ao mapa, mas de caráter especializado construído com uma finalidade específica e geralmente em escala média ou grande; de 1:1.000.000 ou maior. Com relação a outros gráficos, três atributos são imprescindíveis para distinguir o mapa: 1. Escala; 2. Projeção e, 3. Simbolização. Todas as vantagens e limitações dos mapas derivam do grau pelo qual os mapas (1) reduzem e generalizam a realidade, (2) comprimem ou expandem formas e distâncias por projeção e (3) apresentam fenômenos selecionados através de sinais que, sem necessariamente possuírem semelhanças com a realidade, comunicam as características visíveis ou invisíveis da paisagem (ANDERSON, RIBEIRO E MONMONIER, 1982). 1.2 Divisão da Cartografia Existem muitas classificações e subdivisões dos produtos cartográficos, sejam eles cartas ou mapas. Uma delas é a que os divide em especiais e sistemáticos. Os especiais são mapas avulsos ou de uma pequena série, como os de um atlas, e, geralmente, de escalas pequenas. Os sistemáticos são os que, de " 9 forma séria e organizada, cobrem um país ou uma região através de dezenas ou até milhares de cartas produzidas. As cartas sistemáticas podem ser subdivididas em topográficas (as mais conhecidas e usadas) e temáticas. Os mapas temáticos apresentam temas como a geologia, as rotas de navegação, a vegetação, etc., de uma forma sistematizada, frequentemente através do uso das cartas topográficas como a base cartográfica. Contudo, essa classificação não é aceita por todos, daí, existe muita confusão. Por exemplo, nos países aonde se fala a língua inglesa, a palavra ―temática‖ é usada no lugar de ―especial‖. Para os povos desses países, as cartas estão divididas em topográficas, sistemáticas, e temáticas. No Brasil, a divisão mais comum é em cartas topográficas, temáticas e especiais; porém, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) elaborou a seguinte listagem que utiliza um outro critério de classificação. 1. Cartas Geográficas: (topográficas e planimétricas) 2. Topográficas: São aquelas confeccionadas mediante um levantamento topográfico regular ou compiladas de cartas topográficas existentes e que incluem os acidentes naturais e artificiais, permitindo facilmente a determinação de altitudes. 3. Planimétricas (temática em produção sistemática) a. É o mesmo que cartas topográficas, entretanto não faz parte das suas características fundamentais a representação das altitudes, podendo até omiti-las. b. Cadastrais: (temática) São aquelas, geralmente de escala grande, usadas para mostrar limites verdadeiros e usos das propriedades, podendo omitir elevações e detalhes naturais ou artificiais desnecessários. c. Aeronáuticas: (temática) São aquelas que representam a superfície da Terra em seus aspetos culturais de relevo, de maneira a satisfazer, especificamente as necessidades da navegação aérea. d. Cartas náuticas: (temática) " 10 São aquelas que resultam dos levantamentos dos mares, rios, canais e lagoas navegáveis e que se destinam à segurança da navegação. e. Cartas especiais: (temática) São as cartas, os mapas ou as plantas que em qualquer escala são geralmente preparadas para fins específicos: 4. Cartas geológicas: (temática) São aquelas que representam as características e a distribuição geográfica dos componentes e da estrutura da crosta terrestre. 5. Cartas geomorfológicas: (temática) São aquelas que representam as formas do relevo terrestre. 6. Cartas Meteorológicas: (temática) São aquelas que mostram: (a) as classificações climáticas, (b) os dados meteorológicos observados através de medições contínuas, diárias e sistemáticas, e (c) as alterações progressivas nas condições de tempo. 7. Cartas de solo: (temática) São aquelas que identificam e classificam os diversos tipos de solo e a sua distribuição geográfica. 8. Cartas de vegetação: (temática) São aquelas que representam as características e a distribuição da cobertura vegetal. 9. Cartas de uso da Terra: (temática) São aquelas que representam a classificação e distribuição geográfica dos diversos usos a que está sujeita a superfície da Terra. 10. Cartas Geofísicas (temática) São aquelas que representam a classificação e distribuição geográfica dos fenômenos geofísicos que ocorrem na Terra. 11. Globos (especial) É a representação da superfície da Terra numa esfera de tamanho reduzido. " 11 12. Mapa - Mundi A carta geográfica quando representa todas as superfícies da Terra é denominada mapa mundi ou planisfério. A cartografia é, ao mesmo tempo, ciência e arte. A arte é evidente nos mapas de alta qualidade, especialmente em velhos mapas históricos, nos quais o desenhista preenchia os oceanos com Figuras de dragões, velhos barcos a vela, e outros tipos de desenhos. A arte na cartografiainclui o ―lay-out‖ ou esquema de desenho, que influi na aparência estética do mapa como um todo. Também inclui o desenho técnico de cada linha e cada ponto que, em conjunto formarão a mensagem para o leitor. A cartografia como ciência vem do conhecimento de como comunicar, com quais instrumentos e técnicas, para que a realidade representada fique bem mais exata. É o conhecimento de quais símbolos no mapa e quais itens omitir. É o conhecimento da projeção usada no mapa e de como os mapas são produzidos. Também, a ciência na cartografia permite o uso de técnicas avançadas que proporcionam a produção de mapas através de computadores, de imagens de satélites, ou fotografias aéreas. Esta cartografia avançada é um ramo bem complexo, o qual às vezes envolve muita matemática. 1.3 Os grandes componentes da Cartografia A cartografia pode ser subdividida de muitas maneiras. Existe uma lista dos 17 principais componentes da cartografia como pode ser visto na figura abaixo e que inclui todos seus aspectos. Esses componentes são também os mais importantes aspectos que o cartógrafo precisa entender e aprender. Não são mutuamente exclusivos, isto é, eles se sobrepõem de muitas maneiras. Por exemplo, a sobreposição é muito comum onde técnicas, tal como desenho técnico, são usados em conjunto com aspetos mais teóricos, como a simbolização e conteúdo de mapas. " 12 17 principais componentes da cartografia O iniciante na cartografia, deve familiarizar-se com esses componentes principais num sentido bem geral, pois isto permite ao aluno de cartografia um melhor entendimento na totalidade do processo cartográfico. 1. Visão Integrada e O Ensino de Cartografia - Este elemento é o primeiro passo do estudo do processo cartográfico completo, sem o qual ninguém pode considerar-se um cartógrafo. Visa o entendimento da cartografia como disciplina unificada, porém com subdivisões. A visão integrada está intimamente ligada ao ensino da cartografia, que deve ser amplamente variado para servir os diversos fins de vários cursos e níveis de ensino. 2. História da Cartografia - A história da cartografia é um aspeto que nos ajuda a entender como ciência e a arte se desenvolveram na cartografia e porque " 13 ela existe com a atual estrutura. A história também nos ajuda a entender que direção poderá tomar a cartografia. Ligada a história cartografia está a cartografia histórica, no qual os velhos mapas e as cartas são estudados para que se possa entender melhor o passado. 3. Escala - A representação de uma área em um mapa é feita num tamanho reduzido. Esta redução de escala para um tamanho adequado, de acordo com as finalidades do mapa, é a base de muitos usos qualitativos das cartas. Assim, a escala é tão fundamental que é considerada um dos três atributos imprescindíveis de um mapa ou carta juntamente com a projeção e simbolização. 4. Projeção - Um aspeto fundamental da cartografia é de entender e tentar corrigir os problemas relacionados com a transformação da superfície esférica (a Terra) uma superfície plana (o papel). Isto é chamado de projeção. Existe uma variedade de maneiras diferentes de representar uma esfera num pedaço de papel, porém deve-se ter conhecimento desde o início do que uma esfera pode somente ser produzida sem deformações numa outra esfera. Sendo assim, todas as projeções têm deformações, imperfeições e problemas. Acomodar estes problemas é um dos afazeres do cartógrafo e uma das melhores maneiras de distinguir um cartógrafo de um desenhista técnico. 5. Simbolização e Conteúdo de Mapas - O cartógrafo está constantemente preocupado com o conteúdo dos seus mapas. Um mapa não pode mostrar tudo que existe numa qualquer realidade. Tampouco pode conter todos os detalhes que existem numa fotografia aérea. Mas o mapa difere de uma fotografia no sentido que ele pode ser seletivo e fazer sobressair dois ou três temas, os quais sejam o seu objetivo. Um mapa pode ainda mostrar coisas que não são visíveis em fotografias, tais como divisões políticas, densidade demográficas, ou formações geológicas subterrâneas. Por entender o que deve aparecer no mapa, isto é, o conteúdo do mapa, o cartógrafo se dispõe a selecionar os símbolos necessários para fazer a sua mensagem tão comunicativa quanto for possível. Existem quatro tipos principais de símbolos e quatro diferentes níveis de símbolos que podem ser aplicados a cada tipo de trabalho cartográfico. " 14 6. A Terceira Dimensão - O tipo de mapa mais comum é aquele chamado topográfico. Esse mostra a terceira dimensão no contexto espacial, isto é, mostra o relevo e a altitude bem como as direções leste-oeste e norte-sul. A técnica mais em uso é a de representação de curvas de nível, mas há uma variedade de outros métodos para representar a terceira dimensão. A terceira dimensão é também usada em algumas outras formas de representação de mapas especializados, como diagramas em bloco, mapas de tendência de superfície (trend surface), e mapas de pressão barométrica. 7. Topografia, Geodésica e Trabalho de Campo - A topografia é, frequentemente ensinada separadamente das matérias de cartografia básica. É sobre uma base topográfica que muitos dos mapas básicos são feitos. A topografia é um elemento muito importante, porque é uma medida de campo, isto é, uma medida da realidade física que é representada na carta. Quando são incluídos tópicos como curvatura do planeta, o magnetismo terrestre, etc., trata-se de geodésica. 8. Fotogrametria e Imagens de Fotointerpretação - O uso das fotografias aéreas de satélites tem contribuído imensamente com a cartografia. Com instrumentos apropriados, é possível desenhar mapas com uma qualidade excepcional baseados em fotografias tiradas de aviões voando a vários milhares de metros acima da superfície da terra. Fotogrametria e fotointerpretação são também frequentemente ensinadas separadamente. 9. Técnicas de desenho - O produto final do trabalho cartográfico (o mapa) é uma obra de arte, feita num certo padrão de desenho. O cartógrafo deve saber trabalhar com computadores, com caneta e tinta sobre o papel vegetal, plástico ou noutro material, e usar outras técnicas como a gravação, letras e tonalidades autocolantes. Assim, o cartógrafo pode produzir mapas ou supervisionar um desenho técnico. 10.Composição de Mapas - O plano e esboço de composição de um mapa é mais do que simplesmente desenho técnico. Envolve balanço de cores e tonalidades, atração estética visual, e o conhecimento dos padrões estabelecidos num certo sentido. A escolha adequada de cores, tons e sombreamento é uma chave para a comunicação efetiva através dos mapas. " 15 A cartografia é verdadeiramente uma ciência com arte que segue certas escolas de pensamento. O estudo detalhado do planejamento de mapas exige certa compreensão de psicologia e também um entendimento da percepção daqueles que irão ler e usar estes mapas. 11.Reprodução e Impressão - Uma vez que um mapa original tenha sido feito, é frequentemente necessário produzir várias ou, às vezes, milhares de cópias através de técnicas fotográficas ou impressão. O cartógrafo precisa entender estes métodos, suas possibilidades e limitações, para estar apto a fazer uso ou provar erros. 12.Aspetos Financeiros e Administrativos - Um tópico muito poucas vezes discutido em livros – textos é o do aspeto econômico-financeiro da cartografia. Isto é importante, dado que a cartografia como negócio é financeiramente viável através de lucro auferido com a venda ou concessão de mapas, ou ainda através dos subsídios governamentais. Este aspecto está, naturalmente, a nível muito avançado e de interessesomente de minoria selecionada de indivíduos. 13.Cartografia Automática - A cartografia esta avançando rapidamente usando computadores para produzir mapas, isto elimina muita perda de tempo e muito trabalho monótono. Um dos grandes futuros da cartografia é automatização. Contudo, isto não quer dizer que o estudante de cartografia não precisa entender os vários tópicos e estágios da produção cartográfica. Ele precisa entender de tópicos de composição, símbolos, mapas temáticos, maneiras de representar relevo, projeções, etc. Todos estes tópicos são importantes e a cartografia automatizada não elimina a necessidade que o cartógrafo tem de entendê-los. A cartografia automatizada é especialmente aplicável a trabalhos cartográficos muito repetitivos, incluindo quando os mapas são de série. A cartografia automatizada está associada à computação. O cartógrafo que leva seu trabalho a sério deve considerar um treinamento em uso de computadores. 14.Mapas temáticos 15.Mapas especiais – A variedade de mapas especiais e temáticos é virtualmente ilimitada. Um mapa pode ser feito para representar quase " 16 qualquer tipo de fenômeno que tenha um elemento especial ou de distribuição. Estes tipos de cartografia envolvem todos os grandes componentes apresentados e mais especialmente as técnicas de desenho, composição de mapas, símbolos, e conteúdos dos mapas. A elaboração de mapas temáticos e especiais é uma das principais áreas de crescimento da cartografia. 16.Leitura e Interpretação de Mapas - O objetivo fundamental da cartografia é comunicar através dos mapas. Para ajudar o leitor a entender o que apresenta o mapa, alguns padrões cartográficos têm sido estabelecidos por vários séculos. A leitura dos mapas é uma habilidade básica da comunicação e é utilizada por pessoas de muitas disciplinas, não somente da cartografia. Por isso, é importante que o cartógrafo entenda da leitura dos mapas, para com isto estar capacitado a mostrar e comunicar as informações que ele deseja ter nos mapas por ele produzidos, os quais poderão ter leitores de outras disciplinas. 17.Assunto Especiais - Como todas as disciplinas, a cartografia continua crescendo, e alguns assuntos especiais podem se transformar em novos grandes componentes da cartografia. Também existem pequenos itens, tais como: coleção de mapas, métodos de preservação de mapas, bibliografias concernente a cartografia, comentários referentes à cobertura de mapas em várias partes do mundo, e quaisquer outros tópicos que sejam dignos de menção, pelo menos em um parágrafo curto. Também incluem os apêndices que são essencialmente constituídos de tabelas e itens menores os quais são de grande uso pelo cartógrafo. Obviamente, os principais aspectos da cartografia acima mencionados se sobrepõem. Por exemplo, precisamos entender algumas coisas sobre projeções para ler os mapas. Precisamos saber ler os mapas topográficos antes de tentar produzi-los. 1.4 História da Cartografia " 17 O desenvolvimento da Cartografia, desde épocas remotas até os dias atuais tem acompanhado o próprio progresso da civilização. A cartografia apareceu no seu estágio mais elementar sob a forma de mapas itinerários feitos pelas populações nômades da antiguidade. Posteriormente, com o advento do comércio entre os países (há mais de 4000 anos atrás) e com o consequente aparecimento dos primeiros exploradores e navegadores que descobriram novas terras e novas riquezas e ampliaram o horizonte geográfico conhecido, o homem sentiu necessidade de se localizar sobre a superfície da Terra. Estabeleceu-se, portanto, o marco inicial da cartografia como ciência. A evolução da cartografia foi incrementada pelas guerras, pelas descobertas científicas, pelo desenvolvimento das artes e ciências, e pelos movimentos históricos que possibilitaram e exigiram maior precisão na representação gráfica da superfície da Terra. Na Grécia Antiga os primeiros fundamentos da ciência cartográfica foram lançados quando Hiparco (160-120 A.C.) utilizou, pela primeira vez, métodos astronômicos para a determinação de posições na superfície da Terra e deu a primeira solução ao problema relativo ao desenvolvimento da superfície da Terra sobre um plano, idealizando a projeção cônica. Os gregos legaram também as concepções da esfericidade da Terra, dos polos, equador e trópicos, que foram as primeiras medidas geométricas, a idealização do primeiros sistemas de projeção, e a introdução das noções de longitude e latitude. Todo o conhecimento geográfico e cartográfico da Grécia Antiga está idealizado na obra ―Geografia‖ do astrônomo, geógrafo e cartógrafo grego Cláudio Ptolomeu de Alexandria (90-168 D.C.). Sua extraordinária obra, em oito volumes, ensina os princípios da Cartografia Matemática, das projeções e os métodos de observação astronômica. Essa monumental contribuição da Grécia Antiga a ciência cartográfica foi, no entanto, ignorada durante toda a Idade Média, somente aparecendo no século XV, quando então exerceu grande influência sobre o pensamento geográfico da época, com o chamado Renascimento de Ptolomeu. " 18 Durante o longo período entre a contribuição original de Ptolomeu e o surgimento de sua obra e aproveitamento do seu saber, a cartografia atravessou fases de estagnação e, às vezes, de retrocesso. A cartografia romana não aproveitou os conhecimentos matemáticos dos gregos, mas eles foram absorvidos pelos árabes. Estes aperfeiçoaram tais conhecimentos, calcularam o valor do comprimento do grau, construíram esferas celestes, estudaram os sistemas de projeção e organizaram tábuas de latitudes, e longitudes. Enquanto os árabes conservavam estes antecedentes científicos, a civilização latino - germânica cultuava na Idade Média um misticismo religioso que causou o desaparecimento dos conhecimentos geográficos gregos. Por essa época, os contatos verificados entre as civilizações cristã e árabe ocorrem através das cruzadas, da expansão árabe na península Ibérica e principalmente, do comércio entre os povos mediterrâneos. Houve um intercâmbio de conhecimentos, o que de certa forma, resultou em progresso para a cartografia. Mas este progresso não se realizou no campo matemático teórico propriamente dito, porém em instrumentos. Para atender as exigências náuticas, motivadas pelo desenvolvimento da navegação com a introdução da agulha magnética, a cartografia assumiu um aspeto funcional (RIBEIRO E ANDERSON, 1982). Os astecas eram hábeis na confecção de representações geográficas, como o ―Mapa de Tecciztlán‖ que contêm dados como a fauna da região retratada, e o ―Códice Tepetlaoztoc‖, todo colorido e que traz rotas terrestres e fluviais. Os egípcios e chineses também dominaram a técnica da cartografia há muito tempo. Estima-se que os chineses usam a representação gráfica de regiões desde o século IV a.C. Para eles, os mapas serviam não só para se orientar, mas também, para fins bélicos e para demarcar regiões garantindo, assim, que os impostos fossem pagos. Os egípcios também os usavam como ferramenta administrativa, para cobrar impostos e demarcar a terra. Mas, mais do que isso, foram eles que desenvolveram o método da Triangulação para determinar distâncias baseados na matemática, e o " 19 ―nível‖, instrumento em forma de ―A‖ com um pêndulo no meio usado para medir áreas. Os egípcios faziam, ainda, registros cadastrais das terras em documentos considerados cartas geográficas. Seus túmulos e alguns papiros representavam o mundo dos mortos. Como se fossem um mapa do outro mundo eles serviam para guiar as almas e, frequentemente, representavam o rio Nilo e planícies férteis. Mas, bons mesmona cartografia foram os gregos. O sistema cartográfico contemporâneo nasceu nas escolas de Alexandria e Atenas. A primeira tentativa de representar o mundo foi babilônica, mas sua concepção de mundo era limitada à região entre os rios Eufrates e Tigre, o que não diminui a importância do feito. Entretanto, os gregos se destacam porque foram os primeiros a usar uma base científica e a observação. Usando-se da trigonometria, Erastótenes (276-194 a.C.) mediu a circunferência da terra chegando bem perto dos 40.076 km reais (segundo ele eram 45.000 km). Anaximandro de Mileto (610-546 a.C.) representava o mundo como um círculo achatado onde estavam Europa, Ásia e África circundadas por um oceano. Foi ele quem primeiro sugeriu que a terra, por estar à igual distância dos demais astros, flutuava no espaço sem nenhum tipo de suporte ou apoio. Mais tarde, Pitágoras defendeu que a terra era esférica de acordo com suas observações práticas e filosóficas (para ele a forma esférica era a mais perfeita) que só seriam aceitas no meio científico, anos depois, pela influência de Aristóteles. Findo o período clássico, como dissemos anteriormente, a cartografia passou por um período de pouco desenvolvimento durante o início da Idade Média quando a Igreja teve forte influência sobre a confecção dos mapas que eram feitos de tal forma a perderem a exatidão. Nessa época, os árabes foram os principais responsáveis por qualquer desenvolvimento na área e foram, inclusive, responsáveis por trazer a bússola para o ocidente propiciando os mecanismos para o desenvolvimento de mais um tipo de carta pelos genoveses, as Cartas Portulanas, utilizadas para navegação. Logo em seguida a esse período, no final da Idade Média, todo o conhecimento em torno da cartografia que estava esquecido no ocidente, mas que vinha sendo preservado pelos árabes, voltou à tona atingindo seu apogeu na época das Grandes Navegações quando se inicia a Idade Moderna. " 20 Com a descoberta do continente americano a cartografia toma mais um fôlego e iniciam os trabalhos para mapear o novo continente. Juan De La Cosa faz então, o primeiro mapa-múndi a conter o novo mundo em 1500. Foi nessa época (Séc. XVI), após o descobrimento da América, que o holandês Gerard Mercator, utilizando-se de todo o conhecimento produzido até a época, produziu o mapa- múndi que levaria seu nome e que representava grandes rotas em linhas retas. Mas foi só a partir do século XVII que os países começam a se preocupar mais com o rigor científico dos mapas. É realizado então, o primeiro levantamento topográfico oficial na França, em 1744, chefiado por César – François Cassini (1744 – 1784) que seriam os precursores dos mapas modernos. Do século em diante, com o desenvolvimento das técnicas cartográficas, o aperfeiçoamento da fotografia a aviação e a informática, a cartografia dá um salto. Atualmente são utilizadas fotos áreas e de satélites para a realização de mapas e cartas que cada vez mais são utilizados eletronicamente, descartando a necessidade de impressão e tornando-os interativos (FARIA, 2008). 2 GEOMORFOLOGIA A geomorfologia é uma das ciências que compõe o amplo campo de estudos da Geografia, estando, seus conteúdos presentes no cotidiano de todas as sociedades. Antes de atentar para o desenvolvimento de estudos que abordem diretamente a questão do ensino de geomorfologia, é preciso que se conheça qual é a sua finalidade e em especial o seu objeto de estudo, visto que o desconhecimento de tal objeto pode acabar por estender os conteúdos desta disciplina a outras áreas de estudo da geografia, tornando complexo o entendimento por parte daqueles que se propõem a dedicar-se a esta área. A geomorfologia é a ciência que se ocupa em estudar as formas do relevo presentes em nosso planeta, e pode ser datada ainda do século XVIII, com os estudos de profissionais de outras áreas que passaram a analisar a natureza de uma maneira mais focada (CASETTI, 2001) " 21 Sendo assim a geomorfologia surge enquanto ciência no século XIX. Porém sabe-se que este processo foi longo e passou por várias transformações de acordo com os estudos realizados por diversos pesquisadores, entre os quais podemos citar James Hutton ainda no século XVIII e William Morris Davis, sendo este último responsável pela consolidação da geomorfologia como ciência no início do século XIX, dentro de princípios anglo-americanos. A partir do relevo como objeto de estudo, a Geomorfologia se ocupa de entender os vários enfoques que podem ser dados a este, como por exemplo, o que é este relevo, qual a origem deste, o seu tempo geológico, como este se formou e os diversos processos envolvidos nesta formação, estando diretamente relacionada à morfoestrutura e morfoescultura das paisagens descrevendo-as, classificando-as e explicando-as (CASETTI, 2001, p.12) Cabe então a geomorfologia, caracterizar-se de uma maneira mais clara, ou seja, antes de se considerar como uma ciência autônoma é preciso que se esclareçam todos os tipos de relações que ela pode apresentar com os vários outros ramos da ciência geográfica, que assim como a geomorfologia necessitam de um intercambio de informações entre as várias áreas para que se realize um trabalho mais completo não deixando de contemplar fatos importantes simplesmente por estes não serem do domínio de tal área. Os estudos geomorfológicos segundo Ab’ Saber (apud CASETTI, 2001, p.12) devem ser divididos em três níveis de abordagem: O primeiro seria a compartimentação morfológica que oferece informações sobre áreas separando os tipos de paisagens; O segundo, a estrutura superficial que são os materiais acumulados em determinadas condições climáticas dando origem às formas e, O terceiro, a fisiologia da paisagem, quando o homem passa a modificar o relevo e onde é possível notar a composição do mesmo. A geomorfologia apresenta uma inter-relação grande com as demais áreas da geografia. Surge no berço da geologia, entretanto não está presa somente a fatos geológicos, abordando a esfera antrópica, climatológica, hidrológica, etc (TORRES, SANTANA, 2009). " 22 Essas relações com outras áreas da geografia e as quais se refletem diretamente no nosso meio através dos vários elementos que compõem uma paisagem podem ser explicadas e entendidas quando se coloca que: As formas de relevo podem transmitir a falsa ideia de que são componentes independentes na paisagem. Na verdade, elas e os demais componentes do ambiente estão interligados, promovendo ações, muitas vezes induzidas por influências mútuas, que, em maior ou menor intensidade, agem no sentido de criar uma fisionomia que, reflete, no todo ambiental ou em suas partes, um ou mais ajuste alcançados. Assim, a criação e evolução das formas de relevo não são dissociadas da presença e participação dos demais componentes do ambiente e sobre eles exercem sua influência (MARQUES, 2001, p.27). Sendo assim, é preciso que se analise o ambiente de uma forma mais ampla para que se percebam todos os componentes que estão envolvidos nesta dinâmica de produção de paisagens e os quais compõem o meio por nós percebidos dando a ele este modelado que encontramos no nosso dia-a-dia, e que, muitas vezes, se desconhece qual a verdadeira origem do mesmo (TORRES, SANTANA, 2009). Para realização de estudos geomorfológicos que dizem respeito ao relevo, o estabelecimento de relações entre fatos ocorridos, são percebidos mediante métodos que se interligam até que se chegue aos objetos desejados. Existem, porém, uma série de métodos, a começar pela abordagem teórica do problema direcionando-se para a observação de campo, experimentos, método empírico quantitativo, métodos geométricos que dizem respeito agráficos, mapas e tabelas; métodos sedimentológicos, análise granulométrica e geocronologia, a qual pode ser relativa com análises em métodos estratigráficos que são base de todas as ciências geológicas; análise polínica como método de datação indireta que relaciona cobertura vegetal com oscilações climáticas; e dados da pré-história que são apropriados ao estudo do Quaternário. Por fim, temos a geocronologia absoluta que fornece dados mais precisos do tempo a partir do estudo dos varvos glaciais que são depósitos folhados de sedimentação rítmica formados em lagos de fronte de geleiras, e métodos radioativos que permitem remontar até o período Pré-Cambriano, com a utilização do C14 (carbono quatorze), por exemplo (PENTADO, 1983, p.3-5). " 23 A geomorfologia ao estabelecer relações com várias outras disciplinas como a geologia, sedimentologia, pedologia, paleontologia, biogeografia, etc., abrange seu campo de estudos, sendo considerada uma ciência ponte, a qual é analítica e sintética e disso resulta uma consequência importante: seus conceitos de base são, às vezes, modificados fundamentalmente, em função dos progressos das disciplinas estritamente analíticas, que têm por objetivos fatos que se passam nos dois extremos da ponte (PENTEADO, 1983, p.6) Os fatos geomorfológicos foram ainda divididos segundo uma escala de grandeza: grandezas de escala macro que dizem respeito a acontecimentos de escala global, as meso de escala continental e de país, e as micro relacionadas a cidades ou mesmo sendo pontuais. Estas mesmas são ainda divididas de acordo com sua ordem em oito grandezas, sendo a 1ª global, 2ª continental, 3ª dezenas de milhares de quilômetros, 4ª centena de quilômetros, 5ª alguns quilômetros quadrados, 6ª centenas de metros quadrados, 7ª microformas/decímetro ao metro e 8ª milímetro ao micro (PENTEADO, 1983, p.8-9). Considerar a geomorfologia de forma isolada para explicação dos fenômenos do globo é algo ousado, pois de uma forma ou de outra ela sempre acabará se apropriando de conceitos advindos de outras disciplinas e ainda podemos considerar que essa posição de independência é, entretanto, insuficiente para encobrir os profundos laços de origem que ligam à Geografia e à Geologia. Dentro delas, a Geomorfologia constituiu uma especialização, inserida em campo de trabalho comum a ambas. As abordagens utilizadas na produção geomorfológica, quase sempre de modo claro, mostram seus vínculos com as perspectivas e propósitos inerentes à Geografia ou à Geologia (MARQUES, 2001, p.23). A relação da geomorfologia com a geografia vai mais longe do que se pode imaginar, o ser humano com o passar do tempo conseguiu perceber estas relações de maneira discreta em produtos resultantes da ação das forças que modificam nosso relevo, dando grande importância a estas observações e conseguindo estabelecer uma relação entre as causas geradoras de certos tipos de relevo e os produtos finais que encontramos hoje em nossa superfície. Esta relação, entretanto, é quase impossível de ser estabelecida se estudada somente a partir de perspectivas geomorfológicas, pois quase sempre estão envolvidos nestes processos fatores relacionados ao clima do local, a hidrologia, a geologia, a " 24 paleontologia, etc. e, ainda, à ação antrópica como fatores sociais e culturais, todos ligados a áreas pertencentes ao campo da geografia e, as quais, só se realizam e mostram resultados mais completos, estabelecendo um intercâmbio de informações entre todos os campos que se direcionam ao estudo de fatos geográficos. Se analisarmos a geomorfologia de uma maneira mais próxima de nossa realidade podemos perceber que os estudos geomorfológicos no Brasil tiveram grande expansão nos últimos 50 anos, a partir de sua aplicação a questões ambientais que têm sido trabalhadas com grande afinco. A história da geomorfologia no Brasil deve- se a pesquisadores como Christofoletti e Ab’Saber e mais atualmente, Margarida Penteado (TORRES E SANTANA, 2009). 2.1 Geotecnologias Segundo Freire e Valente (2001), o uso da tecnologia com finalidade pedagógica visa principalmente à integração dos alunos e professores, buscando compreender e interpretar fenômenos socioculturais bem como o envolvimento em atividades sociais relevantes. Importante ressaltar que o uso tecnológico no processo de ensino e aprendizagem já vem sendo discutido nos Parâmetros Nacionais Curriculares, de forma a acrescentar e esclarecer algumas dúvidas quanto à sua utilização. Nesse sentido os processos tecnológicos aqui referidos diferem de produtos da ciência aplicada, prontos e acabados, como é o caso do conjunto de máquinas e aparelhos elétricos e eletroeletrônicos da atualidade. Portanto, são considerados no sentido de apreender a interferência que exercem em tais processos. De tal forma que as tecnologias na área das Ciências Humanas e suas Tecnologias são compreendidas para além de resultados das ciências, como também dinamizadoras dos campos científicos à medida em que geram novas questões a serem desvendadas por pesquisas científicas de produção do conhecimento (BRASIL, 2007, p. 4). É baseada nesse contexto que a tecnologia deve ser inserida nas escolas, não sendo vista como um fim, acabado, imposto e inalterável, mas como um meio, que visa desvendar, incrementar, analisar e vivenciar a prática do professor em sala " 25 de aula, com um único objetivo, o de fornecer e despertar o interesse do aluno pelo conhecimento científico. A inserção da tecnologia na sociedade é algo diagnosticado por muitos estudiosos, porém sabemos que essa inserção não se dá de forma homogênea, inclusive os Parâmetros Nacionais Curriculares já discutem essa temática. As tecnologias encontram-se tão incorporadas aos atuais modos de vida que quando nos defrontamos com menções à sociedade tecnológica quase que imediatamente somos remetidos ao computador, à Internet, aos robôs. Este mundo, entretanto, ainda é compartilhado por poucos e específicos segmentos da população (BRASIL, 2007, p. 3). Para se tratar da Geotecnologia, faz-se necessário apresentar o seu significado em função dos avanços tecnológicos nos últimos anos. A literatura assinala que a Geotecnologia é a utilização da informação para a análise do espaço geográfico, realizada por meio da tecnologia. [...] geotecnologias, estas entendidas como sendo as novas tecnologias ligadas às geociências e às outras correlatas. As geotecnologias trazem, no seu bojo, avanços significativos no desenvolvimento de pesquisas, em ações de planejamento, em processos de gestão e em tantos outros aspectos à questão espacial (FITZ, 2005, p. 3). Faalr em geotecnologias automaticamente nos leva a pensar em dados geográficos, sistema de informações geográficas, análise espacial, geoprocessamento. Geoprocessamento é o tratamento das informações geográficas, ou de dados georreferenciados, por meio de softwares específicos e cálculos. Ou, ainda, o conjunto de técnicas relacionadas ao tratamento da informação espacial. Durante toda a história as civilizações se ocuparam em estudar e registrar através de mapas ou cartas dados sobre o relevo, fauna, flora, rotas comerciais, limites políticos, e etc. Mas, com o avanço da informática surgiu a possibilidade de se integrar vários dados e mapas e analisá-los em conjunto, possibilitando, através de análises complexas e a criação de bancos de dados georreferenciados, o desenvolvimento de diversas áreas como a cartografia, principalmente, o " 26 planejamento urbano, comunicações, transportes e até a análise de recursos naturais. A históriado geoprocessamento se iniciou com os EUA e a Inglaterra na década de 1950 com o intuito de otimizar a produção e manutenção de mapas. Entretanto, devido ao fato da informática estar ainda pouco desenvolvida, a atividade era muito cara e restrita e ainda nem existia o conceito de GIS (Geographic Information System, ou Sistemas de Informações Geográficas - SIG, em português) que só viria a ser empregado na década de 1970. Contudo, a partir da década de 1980, concomitantemente ao desenvolvimento da tecnologia dos computadores e softwares, o geoprocessamento deu um salto, principalmente após a fundação da NCGIA (National Centre for Geographical Information and Analysis), em 1989, quando o geoprocessamento passou a ser reconhecido oficialmente como uma disciplina científica. Nos últimos anos temos presenciado a massificação do geoprocessamento. Com o lançamento de ferramentas como o Google Earth, qualquer pessoa mesmo que não entenda nada de geoprocessamento pode ter acesso a mapas de qualquer região do mundo que aliam imagens de satélite, GPS e modelos em 3D. Atualmente, o geoprocessamento consiste nas seguintes etapas: coleta, armazenamento, tratamento e análise de dados e uso integrado das informações. Algumas ferramentas de geoprocessamento são: O GPS (Global Position System) que é uma ferramenta básica muito utilizada para coleta de dados georreferenciados; O Oracle que é um sistema gerenciador de banco de dados usado para armazenar as informações; O SPRING que é um sistema de informações geográficas (ferramenta que possibilita o uso integrado) com funções de processamento de imagens, análise espacial, modelagem numérica de terreno e consulta a bando de dados espaciais (FARIA, 2008). " 27 No contexto do Geoprocessamento, a criação e desenvolvimentos dos chamados Banco de Dados Geográficos (BDG) tem sido cada vez mais explorada, em vista de sua ampla potencialidade de aplicação. Em certo sentido, todo local, físico ou virtual onde são armazenados dados pode ser considerado um banco de dados. O próprio site que você está acessando pode ser considerado, sob este ângulo, um banco de dados. Já nos casos onde dados são armazenados (em meio digital) na forma de tabelas relacionáveis entre si através de campos chaves, temos o que é chamado de banco ou base de dados relacional. Este tipo de banco de dados convencional é hoje utilizado pelos mais diversos ramos de atividade. Para gerenciar banco de dados convencionais faz-se uso de softwares chamados Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados (SGBD). São exemplos de programas desse tipo: PostgreSQL, MySQL, Access e Oracle (MEDEIROS, 2010). Hoje é comum se ouvir falar em Sistemas de Informação (SI) em diversas áreas do conhecimento. No campo das Geotecnologias a utilização dos Sistemas de Informações Geográficas (SIG) ampliou o leque de ferramentas para compreensão e análise do mundo em nossa volta. Uma das características marcantes que diferenciam os SIG dos SI convencionais é a capacidade de realizar análise espacial. Estas funções com base nos atributos espaciais e não espaciais da base de dados, procuram gerar simulações sobre os fenômenos do mundo real. Assim, a análise espacial permite compreensão da distribuição dos dados advindos de fenômenos ocorridos em certa região geográfica, o que é de grande utilidade para a solução de importantes questões nas mais diversas áreas. Um caso simples que ilustra isso e que é amplamente comentado na literatura da área esta relacionado com um fato ocorrido em Londres, Inglaterra, em 1854. Onde o médico John Snow, de forma intuitiva realizou uma verdadeira análise espacial. Na época a cidade estava sofrendo com uma epidemia de cólera. Ele indicou em um mapa da cidade a localização dos casos de óbitos por cólera e os poços de água que abasteciam a cidade (uma das formas de transmissão da cólera " 28 é por meio da ingestão de água contaminada). A figura abaixo ilustra o resultado do trabalho do médico (MEDEIROS, 2009). A partir da espacialização destas informações notou-se que a maiorias dos casos de morte registradas se situavam em torno de um determinado poço localizado na Broad Street, o qual foi interditado. Exames realizados posteriormente confirmaram a hipótese de Snow. Há diversos tipos de funções ou operações espaciais relacionadas com esse tipo de atividade dos softwares de SIG. A seguir, detalhamos apenas algumas destas técnicas. Funções de Medida As funções de medida têm aplicações no cálculo dos parâmetros mensuráveis dos objetos espaciais, o que faz com esta operação de análise espacial seja de grande importância em um SIG. Dentre as principais funções de medida podem ser citadas as medidas de comprimento, área e volume. " 29 Funções de Sobreposição As funções de sobreposição também são conhecidas como operações de overlay, sendo uma das técnicas mais utilizadas para análise espacial. Nestas operações são utilizados, por exemplo, operadores lógicos e aritméticos. Em termos simples o uso de overlay consiste no cruzamento de diversas camadas de informação. " 30 3 BIOGEOGRAFIA Biogeografia é a ciência dedicada ao estudo da distribuição geográfica dos seres vivos no espaço através do tempo buscando entender os padrões de organização espacial e os processos que levaram a tais disposições biológicas. Esta ciência tem um aspecto multifacetado, englobando conhecimentos de diversas outras ciências como biologia, climatologia, geografia, geologia, ecologia e ciência da evolução. O tema central de estudos da biogeografia gira em torno do estudo da evolução das espécies e o modo como as diversas condições ambientais possíveis influem no desenvolvimento da vida. Combinar as diferentes variáveis responsáveis pela ocorrência de vida e traçar uma receita para a existência da mesma em um determinado ambiente são os objetivos principais dos estudiosos dedicados à biogeografia. As origens desta ciência encontram-se nos estudos de Alfred Russel Wallace no arquipélago malaio. Ele descreveu inúmeras espécies desse arquipélago e notou que a norte, em determinada área, as espécies eram relacionadas com espécies do continente asiático enquanto que, nas ilhas mais ao sul, as espécies tinham ligação com as espécies do continente australiano. Esta conclusão levou a uma posterior delimitação e mapeamento das áreas estudadas por Wallace, sendo que tais áreas receberam mais tarde a denominação de ―Linha de Wallace‖. " 31 Seguindo o espírito deste estudo inicial, as diversas regiões do planeta foram sendo gradualmente mapeadas, pesquisadas e catalogadas. As principais divisões receberam o nome de ―divisões biogeográficas―, a saber: Região Paleártica: Compreende todo o continente europeu, norte da África até o deserto do Saara, o norte da Península Arábica e toda Ásia ao norte do Himalaia, incluindo China e Japão. México. Região Neoártica: Toda a América do Norte, indo até a fronteira sul do Região Neotropical: Estende-se do centro do México até o extremo sul da América do Sul. Região afro-tropical ou etiópica: compreende a África sub-saariana e os dois terços mais ao sul da península arábica. Região indo-malaia: composta pelo subcontinente indiano, sul da China, Indochina, Filipinas e a metade Ocidental da Indonésia. Região australiana: o restante mais a leste da Indonésia, ilha de Nova Guiné, Austrália e Nova Zelândia. Região oceânica: as demais ilhas do oceano Pacífico. nome Regiãoantártica: correspondente ao continente e ao oceano com o mesmo " 32 Chamamos de região holártica (ou holártico) o conjunto resultante das regiões paleártica e neoártica. A classificação acima aplica-se a seres viventes em terra firme ou seca. Em relação aos oceanos temos as ―regiões biogeográficas marinhas―, que são definidas por meio das correntes oceânicas ou ainda pelas zonas climáticas, limites mais ou menos exatos para os seres vivos marinhos. Modernamente temos a definição de ecossistema marinho como a unidade de estudo dessas grandes regiões biogeográficas (SANTIAGO, 2010). " 33 REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS ANDERSON, Paul S.; RIBEIRO, Antonio Jorge; MONMONIER, Mark S. A natureza da Cartografia. In: ANDERSON, Paul S. (org). Princípios de Cartografia básica. Rio de Janeiro: DSG/FIBGE, 1982. BITAR, Omar Yazbek; IYOMASA, Wilson Shoji; CABRAL JR, Marsis. Geotecnologia: tendências e desafios. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n3/9775.pdf Acesso em: 12 jan. 2011. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília, 2007 CASETTI, Valter. Elementos de Geomorfologia. Ed.: UFG, 2001. CORREA, Márcio Greyck Guimarães; FERNANDES, Raphael Rodrigues; PAINI, Leonor Dias. Os avanços tecnológicos na educação: o uso das geotecnologias no ensino de geografia, os desafios e a realidade escolar. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences. Maringá, v. 32, n. 1 p. 91-96, 2010. DRUCK, S.; ET al. (eds) Análise Espacial de Dados Geográficos. Brasília, EMBRAPA, 2004 Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/analise/>. Acesso em 15 de jan. 2011. FARIA, Caroline. Geoprocessamento. Disponível em: http://www.infoescola.com/cartografia/geoprocessamento/Acesso em: 08 jan. 2011. FITZ, P. R. Novas tecnologias e os caminhos da Ciência Geográfica. Diálogo Tecnologia, v. 6, p. 35-48, 2005. FRANCISCHETT, M. N. A Cartografia no ensino da geografia: construindo os caminhos do cotidiano. Rio de Janeiro: Litteris Kroart, 2002. FREIRE, F. M. P.; VALENTE, J. A. Aprendendo para a vida: os computadores na sala de aula. São Paulo: Cortez, 2001. MARQUES, Jorge Soares. Ciência Geomorfológica. In: Guerra e Cunha. et al. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. MEDEIROS, Antonio Maciel Lima Análise Espacial (2009). Disponível em: http://www.infoescola.com/geotecnologias/analise-espacial/ Acesso em: 04 jan. 2011. NOGUEIRA, Ruth Emilia. A CARTOGRAFIA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA: DO SABER UNIVERSITÁRIO AO SABER A SER ENSINADO NA ESCOLA (2008). Disponível em: http://www.labtate.ufsc.br/images/A1.pdf. Acesso em:14 jan. 2011. " http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n3/9775.pdf http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/analise/ http://www.infoescola.com/cartografia/geoprocessamento/Acesso http://www.infoescola.com/geotecnologias/analise-espacial/ http://www.labtate.ufsc.br/images/A1.pdf 34 PENTEADO, M. M. Fundamentos de Geomorfologia. Rio de Janeiro: IBGE, 1983. PEREZ. C. l. V. Leituras do Mundo/Leituras do Espaço: Um diálogo entre Paulo Freire e Milton Santos. In: GARCIA, R. L. Novos Olhares sobre a alfabetização. São Paulo. Cortez, 2001. RIBEIRO, Antonio Jorge; ANDERSON, Paul S. História da Cartografia Mundial e Brasileira. In: ANDERSON, Paul S. (org). Princípios de Cartografia básica. Rio de Janeiro: DSG/FIBGE, 1982. ROSA, O. A Cartografia na Escola Rural – Ações e Proposições para 5ª série: um estudo de caso. Dissertação de Mestrado. Presidente Prudente: USP, 1999. RUFINO, I. A. SIG e Modelagem de Dados. Disponível em: < http://www.hidro.ufcg.edu.br/twiki/pub/IanaRufino/CursosLatoSensu/SIGeMod_IIIa.p pt >. Acesso em 15 de jan. 2011. SANTIAGO, Emerson. Biogeografia. Disponível em: http://www.infoescola.com/geografia/Acesso em: 08 jan. 2011. SANTOS, Juliana de Jesus; ROSA, Odelfa. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA: CONTRIBUIÇÕES DE UMA EXPERIÊNCIA VIVIDA Revista Geografar Disponível em: www.ser.ufpr.br/geografar Curitiba, v.4, n.2, p.164-182, jul./dez. 2009. TORRES, Eloiza Cristiane; SANTANA, Cristiane Daniela. GEOMORFOLOGIA NO ENSINO FUNDAMENTAL: CONTEÚDOS GEOGRÁFICOS E INSTRUMENTOS LÚDICO-PEDAGÓGICOS. Geografia - v. 18, n. 1, jan./jun. 2009 – Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Geociências http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/geografia Acesso em 15 de jan. 2011. http://www.hidro.ufcg.edu.br/twiki/pub/IanaRufino/CursosLatoSensu/SIGeMod_IIIa.p http://www.hidro.ufcg.edu.br/twiki/pub/IanaRufino/CursosLatoSensu/SIGeMod_IIIa.p http://www.infoescola.com/geografia/Acesso http://www.ser.ufpr.br/geografar http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/geografia
Compartilhar