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CARTOGRAFIA Prof. Me. Thiago César Frediani Sant’Ana Prof. Me. Estevão Pastori Garbin GRADUAÇÃO Unicesumar Acesse o seu livro também disponível na versão digital. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/754 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SANT’ANA, Thiago César Frediani; GARBIN, Estevão Pastori. Cartografia. Thiago César Frediani Sant’Ana; Estevão Pastori Garbin. . Reimpressão, 2021.Maringá-Pr.: Unicesumar, 2020 200 p. “Graduação - EaD”. 1. Cartografia. 2. Geografia . 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1910-0 CDD - 22 ed. 912 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo Coordenador de Conteúdo Priscilla Campiolo Manesco Paixão Designer Educacional Lilian Vespa Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Juliana Duenha Qualidade Textual Meyre Barbosa Ilustração Rodrigo Barbosa Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian- do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi- ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complemen- tando sua formação profissional, desenvolvendo com- petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe- cimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fó- runs e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra dis- ponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. CU RR ÍC U LO Prof. Me. Thiago Cesar Frediani Sant’Ana Possui graduação em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá - UEM, Maringá-PR (2008). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá - UEM (2009-2011), na área de Análise Ambiental. Atualmente, é doutorando em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá. Atua como professor no ensino superior nos cursos de Geografia, Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Cartografia Básica. http://lattes.cnpq.br/3767642326547587 Prof. Me. Estevão Pastori Garbin Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (2016), com pesquisa na área de Cartografia e Semiótica. Graduado em Geografia (bacharelado e licenciatura) pela Universidade Estadual de Maringá (2013), com estágio na Universidade Técnica de Lisboa em Gestão Urbanística e Planejamento Urbano e Territorial (2012-2013). Atualmente, é aluno do curso de doutorado em Geografia, pela UEM, e professor do curso de Geografia da Unicesumar. Tem experiência nas áreas de ensino de cartografia, semiótica peirceana e avaliação de livros paradidáticos. http://lattes.cnpq.br/7882921634824099j SEJA BEM-VINDO(A)! Caro(a) acadêmico(a), é com grande satisfação que apresentamos esta nova edição do livro da disciplina de Cartografia, revista e ampliada. Nesta obra, sintetizamos e aprimo- ramos os conteúdos fundamentais na formação dos professores de Geografia, de forma alinhada com as principais obras da cartografia nacional e internacional. Na primeira unidade, discutiremos como o saber cartográfico e os mapas estavam pre- sentes nas sociedades antes mesmo da invenção da escrita. Aprenderemos que os ma- pas são formas de comunicação particulares de cada povo, sendo influenciados, dire- tamente, pelo contexto social, cultural e econômico da época. Discutiremos, também, o processo de sistematização da Cartografia em uma ciência autônoma da Geografia, salientando os principais paradigmas que estruturam a agenda de pesquisa dessa ciên- cia nos últimos cinquenta anos. Na segunda unidade, discutiremos os principais produtos cartográficos utilizados na Ge- ografia, as finalidades e características. A partir desses produtos, analisaremos, também, os processos e as etapas que constituem a produção de uma informação cartográfica, salientando a grande influência que o autor de mapas possui na representação espacial. Por fim, estudaremos como esses processos de construção da informação cartográfica são influenciados pela escala cartográfica, discutindo os meios para a realização do seu cálculo e as especificidades da escala gráfica e numérica.Na terceira unidade, estudaremos o processo histórico de determinação da verdadeira forma da Terra. Neste capítulo, verificaremos como os povos antigos realizavam suas in- vestigações para trabalhar com os indícios da esfericidade do nosso planeta e as princi- pais teorias desses pensadores. Aprenderemos, também, como podemos nos orientar no espaço a partir de instrumentos, como a bússola, bem como calcular, de maneira exata, os ângulos para nossa orientação. Por fim, trabalharemos o cálculo das coordenadas geográ- ficas como um meio para realizarmos a localização em qualquer ponto do planeta Terra. Na quarta unidade, discutiremos os desafios envolvidos na construção e escolha das projeções cartográficas. Estudaremos, também, os principais meios no levantamento de dados da paisagem e as formas mais empregadas na representação do relevo, com ênfase nas cartas topográficas. Na última unidade, discutiremos o princípio organizador dos fusos horários, bem como os meios de calcularmos a diferença dos horários entre várias localidades. Encerraremos nossos estudos discutindo os impactos que as novas tecnologias causaram na Cartogra- fia com o desenvolvimento e a popularização dos Sistemas de Informação Geográfica. Esperamos que este livro seja seu companheiro nesta sua trajetória de formação profis- sional. Bons estudos! Prof. Estevão Pastori Garbin Prof. Thiago Cesar Frediani Sant’Ana APRESENTAÇÃO CARTOGRAFIA SUMÁRIO 08 UNIDADE I CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE 15 Introdução 16 O Mapa na História da Humanidade 28 A Ciência Cartográfica 38 As Relações Entre a Cartografia e a Geografia 43 Considerações Finais UNIDADE II ELEMENTOS E PROCESSOS FUNDAMENTAIS PARA A COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA 55 Introdução 56 Os Produtos Cartográficos Básicos 68 As Etapas do Projeto Cartográfico 87 Escala Cartográfica 97 Considerações Finais SUMÁRIO 09 UNIDADE III OS DESAFIOS DA CARTOGRAFIA NA REPRESENTAÇÃO DA FORMA DA TERRA 109 Introdução 110 A Forma da Terra 118 Estratégias de Orientação no Espaço 128 As Coordenadas Geográficas 133 Considerações Finais UNIDADE IV PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS E REPRESENTAÇÃO DO RELEVO 143 Introdução 144 As Projeções Cartográficas 155 Conhecendo os Principais Métodos para a Realização de Levantamentos Planialtimétricos 159 Representação e Leitura do Relevo na Cartografia 167 Considerações Finais SUMÁRIO 10 UNIDADE V FUSOS HORÁRIOS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA 177 Introdução 178 Fusos Horários 186 O Papel dos Sistemas de Informação Geográfica (Sig) 194 Considerações Finais U N ID A D E I Prof. Me. Estevão Pastori Garbin Prof. Me. Thiago César Frediani Sant’Ana CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar a relação histórica da Cartografia com as diferentes sociedades. ■ Refletir sobre o processo de sistematização da ciência cartográfica. ■ Apresentar as relações entre a Cartografia e a Geografia. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ O mapa na história da humanidade ■ A ciência cartográfica ■ As relações entre a Cartografia e a Geografia INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a), iniciaremos nossos estudos sobre a Cartografia discutindo o seu papel ao longo da história da humanidade. Como será visto, embora a prática de mapear o espaço seja anterior à escrita, a sistematização da Cartografia como ciência autônoma é muito recente, remontando-se ao período que sucede a Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido, abordaremos a Cartografia em dois momentos distintos, porém complemen- tares: a Cartografia enquanto prática humana inerente à necessidade de compreensão e exploração do espaço; e enquanto ciência autônoma, com paradigmas e linhas de pes- quisa sistematizadas por um amplo corpo de pesquisadores. Este percurso deve estar intimamente desenvolvido na consciência do(a) professor(a) de Geografia, pois a evolução da Cartografia remete a própria com- preensão do espaço. O mapa, muito além de um registro estático da realidade, revela visões de mundo e estratégias cognitivas de compreensão do espaço pelos seres humanos. A Cartografia não deve ser reduzida a um catálogo de conteú- dos a ser transmitido pelo(a) professor(a), mas trabalhada como um saber que será desenvolvido a um só tempo com toda a trajetória do aluno de Geografia. Todavia, como construir uma visão integrada da Cartografia ao conhecimento geográfico? Este é um desafio cotidiano e permanente, tanto do professor quanto do aluno. Nosso objetivo, nesta unidade, é demonstrar como o conhecimento humano na representação do espaço evoluiu e se transformou em um corpo sistematizado de conhecimento, que é a ciência cartográfica. Para tanto, assinalaremos o papel histórico dos mapas como signos do seu tempo e sua valorização com o advento do capitalismo. Em um segundo momento, discutiremos o contexto da transfor- mação da Cartografia em uma ciência autônoma da Geografia e quais foram os principais esforços na construção de uma agenda de pesquisas para essa ciência. Esperamos que essas discussões permitam que você desenvolva uma leitura mais ampla e integrada do papel da Cartografia em nossa sociedade, bem como dos caminhos que essa ciência percorreu até os dias atuais. Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 13 CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E14 O MAPA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE Caro(a) aluno(a), você já pensou como seria difícil desenvolver suas ativida- des cotidianas sem conhecer o seu espaço? Desconhecer os principais trajetos da cidade, a disposição das avenidas centrais ou até mesmo a direção correta do nosso destino tornaria a nossa rotina muito mais difícil. É por essa razão prática que o saber geográfico constitui, desde os primórdios da humanidade, uma con- dição para a sobrevivência humana. É por meio desse saber que os seres humanos se orientam e se deslocam no espaço, criam territórios e elaboram estratégias essenciais para a manutenção de sua vida, sendo, o mapa, um importante ins- trumento que auxilia os seres humanos antes mesmo do surgimento da escrita. Segundo Matias (1996), na pré-história, o conhecimento do meio era trans- mitido de forma oral e gestual, e seu registro era realizado por meio de inscrições gráficas em rochas nos interiores das cavernas. O conhecimento era restrito a sua vivência mais imediata e estava associado as atividades essenciais para a manutenção do grupo, tais como a pesca, a caça e a moradia. O gesto, a pintura e a produção de sons, por exemplo, tornam possível que os seres humanos produzam e manipulem elementos mentais que denominaremos representações ou signos. De acordo com Santaella (2012), signo é tudo aquilo que, independente do seu material constituinte O Mapa na História da Humanidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 ou da sua forma, representa algum aspecto de algo para alguém. Podemos afirmar, portanto, que as palavras que falamos no nosso dia a dia, os gestos que fazemos no trabalho ou as ideias vagas que temos quando assistimos uma aula são signos, embora o modo com que funcionem sejam diferenciados. O mapa, neste sentido, também pode ser considerado um signo, ou melhor, um complexo sistema de signos que comunica algum aspecto do espaço para outra(s) pessoa(s) ou para nós mesmos. Vale notar que o desenvolvimento de novas técnicas torna possível que os seres humanos criem signos mais elabo- rados, com mais possibilidades de uso – e isso, naturalmente, é válido também para os mapas. Basta imaginarmos como é muito mais fácil identificarmos, hoje, a orientação geográficade um fenômeno a partir do Google Maps se comparar- mos, por exemplo, a um mapa do século XIII. Com o desenvolvimento da técnica, o homem tornou-se capaz de realizar ativi- dades mais complexas e de criar um meio cada vez menos restrito às possibilidades ofertadas pela natureza: o desenvolvimento da agricultura permitiu, aos homens, a sedentarização (e demandou conhecimento de áreas mais próprias para o cultivo), as caravelas permitiram que novos territórios além-mar fossem conquistados (e tornou urgente a confecção de mapas para a navegação), enquanto as Revoluções Industriais criaram novas demandas de recursos energéticos (e o entendimento de sua distribui- ção e localização). Representar o espaço, portanto, sempre foi uma necessidade para o desenvolvimento dos povos. Contudo, assim como afirmamos, toda representação é parcial e limitada na sua função de representar os fenômenos: qual seria o aspecto limitado que os mapas deveriam representar do espaço? Sabemos que a localização é uma preocupação recorrente dos mapas, mas será que é a última? Caro(a) aluno(a), vejamos uma descoberta emblemática que pode nos aju- dar a responder esta questão. Em 1963, durante as escavações arqueológicas em Çatal Höyük, na região centro-ocidental da Turquia, uma equipe de arqueólogos descobriu o que seria o mapa autêntico mais antigo já encontrado, elaborado, apro- ximadamente, 6.000 a.C. Embora este mapa primitivo apresente certas similitudes com as plantas cartográficas modernas, sua utilização era voltada para a realização de um ritual sagrado, muito diferente dos usos dos mapas atuais (HARLEY, 1991). Como você pode notar pela reconstituição do mapa na Figura 1, é possível identifi- carmos o traçado de um povoado neolítico e, ao fundo, o vulcão Hasan Dag em erupção: CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 Figura 1 - Reconstituição do mapa de Çatal Höyük, Turquia Fonte: Pour la science (2014, on-line)¹. Figura 2 - Imagens da escavação onde o mapa foi encontrado Fonte: Ancient Wisdom ([2019], on-line)². O reconhecimento de um espectro mais amplo de representações espaciais, como mapas, é um fenômeno recente, resultado da adoção de uma visão menos eurocêntrica e mais universal de como as sociedades humanas entendem e O Mapa na História da Humanidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 representam seus espaços. John Brian Harley (1932 - 1991), um dos principais pesquisadores da história da Cartografia, ressalta que os produtos cartográficos que não seguiam os padrões da Cartografia Europeia de exatidão passaram a ser considerados mapas apenas há algumas décadas. Anteriormente, eram tratados apenas como “curiosidades cartográficas” (HARLEY, 1991, p. 5). É esse tipo de mudança de pensamento que tornou possível que, hoje, as representações antigas as quais eram confeccionadas em tiras vegetais, conchas ou até mesmo madeira sejam consideradas mapas antigos. Figura 3 - Mapa indígena das Ilhas Marshall Descrição da imagem: mapa indígena das Ilhas Marshall, construído em tiras vegetais e conchas. O mapa consiste em uma quadrícula ortogonal feita em tiras vegetais representando o mar livre e as tiras vegetais curvas as frentes das ondas próximas às ilhas, representadas pelas conchas. Fonte: Raisz (1969, p. 7). CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 Figura 4 - Mapa de Ga-Sur Descrição da imagem: o mapa de Ga-Sur foi confeccionado em uma pequena placa de barro, que representa o rio Eufrates com montanhas em cada lado. Data de, aproximadamente, 2500 a.C. Fonte: Raisz (1969, p. 9). As características selecionadas do espaço para sua representação cartográfica são variáveis, não estando restrita unicamente à localização exata dos fenôme- nos. Ao longo da história da humanidade, os mapas foram empregados para: localizar os fenômenos e para fins ritualísticos; demarcar fronteiras; mapear recursos naturais; expressar visões da organização do próprio mundo e dentre muitos outros papéis. Hoje, a Cartografia é reconhecida como uma linguagem mais universal e mais antiga do que se pensava, e não estamos nos referindo ao termo Cartografia, neste momento, como uma ciência exata, mas como um conjunto de saberes envolvidos na produção de representações do espaço que cada povo desenvol- veu de acordo com suas necessidades. Isso significa que seria um reducionismo irresponsável definir que o conhecimento humano, na construção de mapas, ocor- reu de maneira linear e de acordo com a nossa visão moderna da Cartografia. Vários povos antigos, como os chineses, indianos, gregos e indígenas, por exem- plo, desenvolveram suas cartografias, mas cada um com suas particularidades. O Mapa na História da Humanidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 Os gregos são reconhecidos como importantes contribuintes para a formu- lação da Cartografia por diversos motivos: pelo estudo da forma da Terra, pelo emprego da geometria na obtenção das dimensões do nosso planeta, pelo desen- volvimento do princípio do sistema de coordenadas geográficas e, inclusive, pelas discussões sobre as projeções cartográficas. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a ideia da esfericidade da Terra, no mundo grego, não tem origem nas observações astronômicas, mas em argumentos filosóficos: Hecateu (500 a.C.), um geógrafo jônico, considerava que o planeta tinha um formato de disco no qual, ao redor, corriam as águas dos oceanos. Entretanto, a filosofia grega considerava que a esfera era a forma geométrica mais perfeita, o que justificaria que o nosso planeta assumisse uma forma esferoidal, e não plana, justamente por acreditarem que nosso planeta fosse uma obra-prima dos deuses. A hipótese da esfericidade da Terra foi comprovada, posteriormente, pelo povo grego, por meio de observações em campo, além do estabelecimento de conceitos ainda hoje usados como Equador, Polos, Trópicos, Zonas Tórridas, Temperadas e Frias (RAISZ, 1969). Erastótenes de Cirene (276 a 196 a.C.) é um dos grandes nomes da Antiguidade que contribuiu, sobremaneira, na Cartografia. Responsável pela Biblioteca de Alexandria, realizou a medição da Terra a partir de um poço, na cidade de Siena, durante o solstí- cio de verão, e calculou que a sua circunferência era de 46 mil quilômetros, um valor apenas 16% distante do valor real. Além disso, construiu um mapa-múndi do mundo habitado, que contava com paralelos e meridianos para a localização. Outro importante personagem grego foi Cláudio Ptolomeu (90 a 168 d.C.), que desenvolveu um sistema de representação da Terra baseado na utilização de uma grade quadriculada de coordenadas baseadas na posição dos corpos celes- tes (CROSBY, 1999). Sua principal obra é intitulada Geografia, que consistia em oito volumes descrevendo os princípios teóricos empregados nas projeções carto- gráficas e nos mapas presentes em sua coletânea. Embora a base de dados usada por Ptolomeu era oriunda de mapas antigos e relatos de viajantes, seu conjunto de mapas é considerado o primeiro Atlas Universal (RAISZ, 1969). CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 Figura 5 - Mapa-múndi gravado por Johannes Schnitzer (1482), a partir da obra de Ptolomeu Fonte: Open Culture (2017, on-line)³. A evolução dos mapas, no entanto, nem sempre apresentou um desenvolvi- mento progressivo e pautado na exatidão das medidas da superfície terrestre. A cartografia romana, por exemplo, não priorizava o aprimoramento do sistema de latitudes e longitudes, as mediçõesastronômicas e as projeções. Seus objeti- vos eram mais práticos, para fins militares e administrativos, o que resultou no resgate de representações mais simples que, assim como os geógrafos jônicos, adotavam mapas que representavam a Terra em formato de disco. Durante a Idade Média, período que se estendeu, na Europa, do século V ao século XV, predominou a visão teológica do universo sob forte influência da Igreja Católica, que estabeleceu um domínio cultural e social no velho continente por dez séculos. O comércio perdeu a importância conquistada na Antiguidade, o que afetou diretamente as estratégias e estilos empregados na confecção de mapas deste período, e um mapa muito representativo da Idade Média é o mapa T-O. Ele demarca uma visão esquemática do mundo, compatível com os preceitos bíblicos de que o mundo era cercado por um grande oceano e entrecortado por três massas continentais que representavam a Europa, Ásia e África, com Jerusalém ocupando, geralmente, o centro. A letra “T”, localizada dentro do círculo, que lembra a letra O Mapa na História da Humanidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 “O”, corresponde a três corpos d`água: o rio Nilo, o rio Dom e, na parte inferior, o mar Mediterrâneo, como você pode conferir na Figura 6: Figura 6 - Um típico Mapa T-O Fonte: Raisz (1969). Este mapa é ilustrativo, porque demonstra uma característica que, por vezes, é invi- sível quando olhamos os produtos cartográficos contemporâneos: todo mapa é uma construção social criada a partir de visões de mundo que podem ser muito distin- tas entre os povos ao longo do tempo. Isso não significa que devemos considerar que os mapas são mentirosos ou dispensáveis, ao contrário, este aspecto da parcia- lidade e relatividade do seu conteúdo é inerente a qualquer outra prática humana. Acontece que, com as mudanças das necessidades de uma sociedade, alteram-se suas produções intelectuais, inclusive os mapas. A visão teológica dominante na Idade Média, por exemplo, era insuficiente para outros propósitos, como a nave- gação, o que acabou por impulsionar, no século XIII, o desenvolvimento de um novo estilo de mapa voltado para os navegadores: os mapas portulanos. Como o nome sugere, os mapas portulanos priorizavam a representação mais CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 exata dos portos e dos trajetos para o deslocamento nos mares e oceanos. Nesse sentido, elementos familiares, como a rosa-dos-ventos, voltaram a ser emprega- dos na Cartografia, assim como uma crescente preocupação em representar com detalhes os acidentes geográficos litorâneos, embora contassem com pouquíssimas informações das áreas do interior dos continentes. Os portulanos foram conce- bidos para águas cercadas ou quase-cercadas por terras, como o Mediterrâneo, e estiveram associados ao uso da bússola, o que gerava certa independência dos navegadores em relação à visibilidade dos astros celestes para determinar sua orientação (CROSBY, 1999). O problema é que, para a navegação em grandes dis- tâncias, suas distorções eram muito significativas, o que levou a um esforço dos cartógrafos em desenvolver mapas mais precisos e funcionais para a navegação. Figura 7 - Mapa Portulano do século XVII Descrição da imagem: os mapas portulanos eram compostos por um sistema de várias rosa-dos-ventos e rumos para a navegação com a bússola. Eram, geralmente, confeccionados em peles de animais. Fonte: Wikimedia Commons ([2019], on-line)4. A descoberta de um exemplar da obra Geografia, de Ptolomeu, no ano de 1440, em Florença, contribuiu significativamente na transformação da percepção espacial do Ocidente. No século XV, as técnicas de representação cartográfica a O Mapa na História da Humanidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 partir do uso de uma grade de coordenadas empregadas por Ptolomeu já esta- vam integradas nas práticas dos cartógrafos europeus. Além disso, a Terra era, frequentemente, representada numa esfera com latitudes e longitudes: sem dúvida, foi uma transformação importante, sobretudo, quando comparamos com os mapas medievais. Com o fim da Idade Média, a Cartografia volta a ganhar importância, espe- cialmente para a delimitação de rotas comerciais, para o registro de novas terras e para o planejamento de estratégias para a expansão dos territórios. Raisz (1969) identifica três principais motivos para a rápida transformação que a Cartografia presenciou neste período, quais sejam: a) a redescoberta e a correção da obra de Ptolomeu, que continha informações exageradas sobre alguns aspectos terrestres; b) o desenvolvimento da imprensa e o consequente aumento na difusão de mapas mais acessíveis, economicamente, ao público; e c) os Grandes Descobrimentos, que geraram novas informações e uma demanda crescente de novos mapas mais precisos. Tudo isso pode ser comprovado por Harvey (2009, p. 221), o qual sus- tenta que “o saber geográfico se tornou uma mercadoria valiosa numa sociedade que assumia uma consciência cada vez maior de lucro”. Ao longo dos séculos XVI e XVII, a Cartografia foi desenvolvida e aprimo- rada por diversas sociedades que a enxergavam como um meio necessário para o crescimento econômico e a conquista de novas terras e mercados. Além dos portugueses, espanhóis e italianos, os holandeses vivenciaram um período de grande destaque na Cartografia, com destaque para Gerhard Kremer, também conhecido por seu nome latinizado, Geraldo Mercator (1512 - 1594). Além do desenvolvimento da projeção cartográfica que leva seu nome, Mercator teve o mérito de revisar os estudos de Ptolomeu sobre Geografia, Astronomia, História Natural e das Ciências Naturais, baseado em relatos de navegantes mais confiáveis e a partir de dados de viagens empreendidas por ele mesmo. Entretanto, havia alguns problemas significativos que assolavam os mapas desse período: em áreas com pouca informação disponível, era comum que fossem preenchidos os espaços em branco dos mapas com informações fic- tícias ou exageradas, para se tornarem mais atrativos comercialmente (RAISZ, 1969), assim como exemplifica a Figura 8: CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 Figura 8 - Caspar Plautius (1621): um exemplo de mapa com informações fictícias Fonte: Dreyer-Eimbcke (1996). No século XVIII, a França vivencia um período de forte desenvolvimento cul- tural baseado nos ideais iluministas, o que resultou na produção de mapas que buscassem retratar, de maneira minuciosa e exata, as informações conhecidas dos territórios. Foi a partir desse século que surgiram os Serviços Geográficos Nacionais, responsáveis por realizar o levantamento topográfico dos seus terri- tórios, geralmente empreendido pelo exército. A palavra “atlas”, que hoje utilizamos para designar publicações que reúnem um conjunto de mapas, também nos foi legada por Mercator. Como con- sequência de um trabalho de muitos anos, foram reunidos vários mapas para resultar numa publicação, a qual Mercator chamou de Atlas. Devemos lembrar, entretanto, que a edição só ocorreu em 1595, quatro meses após a morte de Mercator, por iniciativa de seu filho Rumold. O motivo que levou à escolha da palavra atlas, entretanto, ainda gera discussões. Para alguns, foi escolhida como uma homenagem ao rei Atlas (da Mauritânia), para ou- tros, teria sido uma referência à divindade grega Atlas, que, de acordo com a mitologia, tendo tomado o partido dos gigantes contra os deuses e preten- dendo derrubar o céu, fora condenado por Zeus a sustentá-lo nos próprios ombros. Fonte: Duarte (2002). O Mapa na Históriada Humanidade Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 No Renascimento, há uma aproximação muito significativa entre as ativida- des de geógrafos e cartógrafos, isto é, na compreensão e na representação do espaço, porque ainda não havia instrumentos suficientes para a determinação das longitudes, o que exigia que os geógrafos trabalhassem com o levantamento das latitudes a partir da Astronomia e a aproximação das longitudes a partir da interpretação crítica dos relatos de viagens. Esse cenário transformou-se signi- ficativamente com o desenvolvimento do cronômetro marinho e tornou a tarefa de produção de mapas um conhecimento mais familiar aos engenheiros cartó- grafos do que aos geógrafos. Assim como lembra Claval (2009), essa mudança levou os geógrafos a perderem metade de seu campo de atuação para os cartógra- fos, buscando especializar-se nas formas de descrição e interpretação do espaço, ao contrário dos engenheiros cartógrafos, que se especializaram na representa- ção geométrica e na coleta de dados. Embora essa transformação tenha se intensificado a partir do século XVIII, a Cartografia só foi considerada ciência autônoma, com paradigmas e teorias pró- prias, no período que sucede a Segunda Guerra Mundial. Caro(a) aluno(a), vamos compreender o contexto e as implicações dessa institucionalização? A cartografia une o objetivo ao subjetivo, a prática aos valores, o mito ao fato comprovado, a precisão à aproximação. Você consegue identificar esses aspectos aparentemente contraditórios nos mapas que você usa? CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 A CIÊNCIA CARTOGRÁFICA Se existe um momento em que o conhecimento do território é uma questão, literalmente, de vida ou morte, este momento é durante uma guerra: com o desenrolar das Primeira e Segunda Guerras Mundiais, no século XX, mapear o território inimigo tornou-se fundamental. Contudo, como criar mapas confi- áveis, eficazes em representar o espaço e de rápido entendimento? Essas eram questões que, durante a Segunda Guerra Mundial, eram urgentes e desafiavam Arthur Robinson, o responsável pela Divisão de Mapas do Escritório de Assuntos Estratégicos dos Estados Unidos da América (MONTELLO, 2002). Robinson amadureceu um repertório de experiências muito significativas durante a guerra, o que motivou a sintetizar suas lições apreendidas em um livro denominado The Look of Maps: an examination of cartographic design, em algo como A aparência dos mapas: um exame do desenho cartográfico, publicado em 1952. A grande inovação desse material foi a apresentação de um estudo siste- mático de como elaborar, adequadamente, um projeto cartográfico, isto é, as diretrizes que deveriam guiar a construção de um mapa cuja chave estaria no entendimento das limitações da percepção visual humana. De acordo com Robinson (1952), a essência da Cartografia é tornar uma infor- mação inteligível para o leitor. Mais do que simplesmente desenhar, a Cartografia A Ciência Cartográfica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 deve pensar em métodos adequados para selecionar, generalizar e representar as informações do espaço para algum usuário de mapas. Nessa obra, Robinson construiu uma aproximação entre a Psicologia e a Cartografia, mais especificamente em um modelo de análise estímulo-resposta conhecido como psicofísico. Basicamente, esse modelo comparava as respostas que os usuários de mapas relatavam na percepção do tamanho e das cores empre- gadas nos símbolos cartográficos, embora não fizesse parte desse programa de pesquisas uma preocupação em entender o porquê determinada sequência de cores, por exemplo, era mais bem avaliada que outra (SANTIL; SLUTER, 2011). Mesmo que não fosse o primeiro a sugerir que a Cartografia deveria se aproxi- mar da Psicologia para compreender como os mapas, efetivamente, funcionavam, Robinson foi o primeiro a publicar um estudo sistemático de mapas que seguiu essa estratégia metodológica (MONTELLO, 2002). The Look of Maps foi responsável por semear um princípio que transformaria a Cartografia nas décadas seguintes: de que os usuários de mapas deveriam ser considerados na definição das proposições do projeto cartográfico, pois o mapa serve como um canal de comunicação entre dois entes: o autor de mapas e o usuário. No caso, se o mapa é um canal de comunicação, sua eficácia só poderia ser avaliada se o destinatário final fosse considerado nessa equação. Essa “cons- trução de princípios” deveria estar alicerçada na pesquisa empírica, com testes laboratoriais, o que, de certa forma, afastou a ideia da Cartografia como uma prática artística e a aproximou de uma prática científica, sistematizada. Evidentemente, separar a ciência da arte e etiquetar um mapa como pertencente apenas a uma dessas categorias é um reducionismo perigoso. Assim, esperamos que nossa breve apresentação da história dos mapas no início deste capítulo tenha deixado claro que essa questão é muito mais complexa. Entretanto, o que gosta- ríamos de pontuar é que foi a partir da publicação da obra de Arthur Robinson que a Cartografia passou a ser abordada como uma ciência que necessitava de testes empíricos para sua evolução, e não apenas impressões estéticas individuais dos seus autores. Didaticamente, podemos dizer que a Cartografia era pensada a partir de um novo paradigma, que denominaremos Comunicação Cartográfica. CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 O PARADIGMA DA COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA Quando afirmamos que uma ciência constrói um paradigma, estamos dizendo que um grupo de pesquisadores compartilham alguns princípios para a inves- tigação e para o entendimento do seu objeto de estudo. De acordo com Correa (2011, p. 60), um paradigma é um “conjunto de ações intelectuais que possibi- litam estabelecer uma dada inteligibilidade à realidade, com base em conexões de ideais de natureza descritiva, explicativa, normativa, preditiva ou compreen- siva”. No caso da ciência cartográfica, o primeiro paradigma que orientou o maior número de programas de pesquisa é denominado comunicação cartográfica O primeiro e principal aspecto desse paradigma foi considerar que todo mapa é constituído por “mensagens” pré-definidas pelo seu autor, de tal modo que a grande tarefa da Cartografia seria investigar quais são as estratégias mais otimi- zadas para se transmitir estas mensagens para um usuário (MACEACHREN, 1995). Essa tentativa de compreender o processo de comunicação entre o autor, o mapa e o usuário deu origem a uma série de modelos esquemáticos para tornar mais inteligível o processo de comunicação cartográfica, sendo o principal deles aprimorado e publicado por Koláčný, em 1969, assim como ilustra a Figura 9: REALIDADE REALIDADE DO CARTÓGRAFO REALIDADE DO USUÁRIO Sobreposição de Realidades Necessidades Objetivas Tarefas Objetivas Conhecimento Experiência Conhecimento Experiência Processos psicológicos Processos psicológicos Efeito da informação cartográ�ca concretizada Concretização da informação cartográ�ca Habilidades Habilidades Conteúdo da mente do Cartógrafo Conteúdo da mente do Usuário Linguagem Cartográ�ca Linguagem Cartográ�ca Ação baseada na leitura da informação cartográ�ca Ob se rva çã o e se leç ão da re ali da de MAPA Figura 9 - Modelo da comunicação cartográfica Descrição de imagem: modelo de comunicação da informação cartográfica proposto por Koláčný em 1969. O modelo se constitui como um fluxo informativo que tem, como origem, a mente do cartógrafo, que se materializa no mapa e é direcionado para o usuário. Acomunicação seria bem-sucedida quando uma parcela da realidade do cartógrafo correspondesse ao repertório da realidade do usuário. Fonte: adaptado de MacEachren (1995). A Ciência Cartográfica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 Basicamente, o modelo da comunicação da informação cartográfica se constitui no reconhecimento de que a transmissão de uma informação é sempre relativa ao universo do autor de mapas, que propõe uma mensagem a ser transmitida. Os signos que representam as ideias da mente do cartógrafo e tornam possível a comunicação são materializados na linguagem cartográfica, e a eficácia das escolhas feitas pelo autor dependem de vários fatores, tais como: a experiência profissional de quem produz o mapa, as particularidades dos seus processos psi- cológicos, os meios técnicos para a confecção do produto cartográfico, dentre outros. O mapa, portanto, é apenas um momento de uma cadeia comunicativa de ideias e sua eficácia em transmiti-las depende do esforço dos cartógrafos em realizar a máxima diminuição de ruídos possíveis. Então, o que é um ruído? Vamos imaginar uma situação hipotética, em que estamos conversando por meio de uma ligação telefônica. De repente, um cami- nhão passa ao lado de um dos falantes, impedindo que o ouvinte escute com clareza a mensagem transmitida na conversa. Pode ser, ainda, que um dos tele- fones empregados na conversa tenha um defeito no microfone, o que impede a captação adequada do áudio, ou, ainda, que um dos interlocutores utilize uma expressão verbal desconhecida pelo ouvinte. Temos três exemplos de ruídos que impedem uma comunicação eficaz. No mapa, são considerados ruídos quaisquer elementos que dificultem sua leitura, como a confecção de símbolos muito pequenos, o uso de contraste de cores muito exageradas, a presença de informações irrelevantes que causem distrações no lei- tor ou até mesmo a qualidade gráfica insuficiente da impressão. Nesse sentido, o autor de mapas deve identificar e corrigir os ruídos do mapa, para que a comu- nicação da informação cartográfica seja a mais direta possível (GARBIN, 2016). O segundo domínio do esquema de comunicação cartográfica proposto por Koláčný é relativo ao repertório de conhecimentos pertencentes ao usuário de mapas. É nele que os conteúdos representados pelo mapa serão extraídos e essa tarefa exige que o leitor conheça minimamente as convenções e as caracterís- ticas que estruturam a linguagem cartográfica, bem como tenha as condições ambientais e cognitivas mínimas para que a mensagem obtida seja interpretada. O terceiro aspecto que chama a atenção desse esquema é a sobreposição das realidades do autor de mapas e do usuário. Essa área sobreposta significa que deve CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 existir um ponto de contato entre o repertório de conhecimento da linguagem cartográfica entre o emissor e o receptor para que a mensagem seja devidamente compreendida. O mapa, portanto, deve ser construído tendo em vista que pon- tos de contato são esses e a maneira de descobri-los é investigando o perfil do usuário para o qual o mapa se destina. O problema é que, nesse paradigma, os usuários de mapas são considerados meras “caixas pretas” que respondem ao estímulo do mapa, desconsiderando a criatividade, a inventividade, a influência da cultura, o contexto e a subjetividade dos seres humanos na interpretação de um produto cartográfico (KENT, 2018; MACEACHREN, 1995). Embora seja um princípio importante, na prática, os mapas, poucas vezes, apresentam a característica de ter uma mensagem específica construída pelo cartógrafo ou geógrafo. Que tal explorarmos algumas situações para compre- endermos as limitações desse princípio? Considere uma carta topográfica, um dos produtos mais conhecidos da Cartografia: qual é a mensagem que essa carta comunica? Será que é a localização exata das cotas de altitude do terreno? A posi- ção relativa dos cursos d’água? Ou o tamanho das cidades? Figura 10 - Fragmento de uma carta topográfica Fonte: Wikimedia Commons ([2019], on-line)5. A Ciência Cartográfica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 Mesmo se considerarmos que a localização dos fenômenos da paisagem seja a mensagem principal desse produto, essa visão seria ainda incompleta, pois um geólogo poderia encontrar novas informações ou mensagens mais específicas da dinâmica da paisagem se compararmos com a leitura realizada por um engenheiro civil, por exemplo. Além disso, será que quem faz o mapa tem todo o controle e conhecimento das informações que um mapa pode conter? Há, ainda, novos complicadores que não existiam no momento de adoção desse paradigma: será que a disseminação de computadores, que transformam o mapa de maneira ins- tantânea, torna útil esse tipo de modelo de comunicação? Como você, caro(a) aluno(a), pôde perceber, as perguntas são diversas. Para construirmos uma resposta satisfatória, é necessário introduzirmos novos con- ceitos nesta linha do tempo da Cartografia, tratando de uma ação mental que todos nós realizamos e que a ciência cartográfica começou a integrar em suas discussões teóricas: a visualização. A VISUALIZAÇÃO CARTOGRÁFICA Assim como percebemos, a tarefa primordial do paradigma da comunicação car- tográfica foi a de encontrar mapas otimizados e funcionais para a realização de tarefas específicas para cada tipo de usuário. Acontece que, ao longo da década de 80 e 90, a disseminação de computadores para o grande público forçou os car- tógrafos a se depararem com um cenário totalmente novo: pessoas comuns, sem qualquer formação especializada em mapas, tinham acesso a programas computa- cionais cada vez mais amigáveis, o que tornava a produção de mapas uma tarefa cada vez mais corriqueira e não restrita à especialistas e pesquisadores das geociências. Além disso, com a facilidade em compartilhar informações via Internet, um número cada vez maior de usuários tinha acesso a mapas que não necessaria- mente eram voltados para o seu perfil. Será que esses novos usuários que não apenas consumiam, mas produziam seus próprios mapas, buscavam uma for- mação complementar para produzir os seus mapas no dia a dia? Não – e isso levou a comunidade de pesquisadores em Cartografia a repensar alguns princí- pios até então amplamente aceitos. CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 O primeiro ponto que gostaríamos de enfatizar é que, independentemente do tipo de uso que os usuários fazem dos mapas, todos eles envolvem uma ação cognitiva que consiste em gerar imagens mentais que denominamos visualiza- ção. Em termos gerais, visualizar significa tornar visível para a mente alguma coisa, o que não, necessariamente, significa restringir essa “imagem mental” ao domínio da visão, mas compreendê-las como signos especiais que facilitam um melhor entendimento da realidade por parte dos seres humanos. A visualização científica refere-se às ações de visualização voltadas a explorar a realidade a par- tir do método científico e, nesse sentido, a Cartografia começou a se debruçar sobre o estudo das diferentes formas de visualizar o espaço – não só entender melhor suas características físicas, mas sociais, econômicas, sanitárias, cultu- rais, dentre outras. O termo empregado para se referir aos modos de visualizar o espaço para a Cartografia é visualização cartográfica ou, ainda, visualização geográfica (ou geovisualização). Para que um mapa gere visualizações, espera-se que seja capaz de facili- tar o entendimento de algum aspecto do espaço - embora isso, de certa forma, seja uma tarefarealizada por qualquer bom mapa. A questão que é posta como desafiadora é que os computadores permitiram que fossem desenvolvidos sof- twares, como os Sistemas de Informação Geográfica (SIGs), que permitem maior interação e, consequentemente, uma transformação do produto cartográfico sem- pre que o usuário precisar. Por exemplo: a possibilidade de escolher, no Google Maps, entre uma camada sombreada do relevo, das vias de circulação ou da ima- gem de satélite permite que o usuário visualize um mesmo espaço da maneira que mais lhe convém. Esse era um cenário inimaginável no contexto anterior à Cartografia digital, pois os mapas eram “congelados” no papel e sua atualização poderia ser custosa e demorada. Para que essas novas características da Cartografia fossem ressaltadas, novos esquemas foram formulados pela comunidade científica, cada qual valorizando um novo cenário das pesquisas sobre mapas. Vejamos dois dos principais modelos: A Ciência Cartográfica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 PENSAMENTO VISUAL COMUNICAÇÃO VISUAL Exploração Con�rmação Síntese Apresentação DOMÍNIO PRIVADO DOMÍNIO PÚBLICO Figura 11 - Os quatro “momentos” do uso do mapa: exploração, confirmação, síntese e apresentação Fonte: adaptada de MacEachren (1995). O primeiro modelo proposto por DiBiase (1990) enfoca os diferentes momentos no uso dos mapas e agrupam seus usuários em duas grandes classes: os especia- listas (domínio privado) e os não-especialistas (domínio público). O domínio privado é composto por pesquisadores ou usuário avançados que utilizam o mapa para gerar um novo conhecimento ou, ainda, confirmar hipóteses explo- ratórias. No caso, os mapas gerados para esse domínio voltado para a exploração e confirmação de hipóteses científicas pode não necessitar de mapas que sigam, rigorosamente, todas as convenções cartográficas, e sua aparência final pode ser, até mesmo, considerada pouco amigável por usuários não-especialistas. Por outro lado, usuários não-especialistas, pertencentes do domínio público, usam mapas em um nível mais elementar para a realização de tarefas mais sim- ples e cotidianas. Basicamente, esses usuários decodificam uma informação já explorada e tratada por algum pesquisador, o que exige que o mapa seja pen- sado – inclusive, esteticamente – para ser amigável a um número maior e menos CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 restrito de usuários. Nesse sentido, o paradigma da comunicação cartográfica é mais evidente nesse domínio marcado pela comunicação visual, ao contrário do domínio privado, que é marcado pelo pensamento visual. É fundamental lembrarmos que essas quatro etapas e esses dois domínios não são excludentes, mas predominantes. O que o autor de mapas deve considerar é em qual momento no processo de investigação científica – de exploração, confirmação, síntese ou de apresentação – o mapa em questão será empregado. A capacidade de transformação e adaptação de um mapa ou de um SIG em alterar as formas com que um fenômeno pode ser representado para que novas informações sobre o espaço estudado sejam exploradas ou confirmadas é denominado interatividade. Dentre as características que um produto cartográfico pode oferecer, pode- mos elencar a mudança nos níveis ou camadas de informações, alteração rápida no modo de implantação e representação dos dados, representação de fenômenos em movimento ou, ainda, alteração da escala cartográfica de maneira automá- tica. Essa propriedade de interatividade deve ser sempre considerada de maneira relativa, isto é, os produtos carto- gráficos podem apresentar baixa ou alta interatividade na represen- tação dos fenômenos e não deve ser vista como uma propriedade ou presente ou ausente de um mapa. Essa propriedade, que pode, ou não, favorecer a visualização, é assinalada no esquema desen- volvido por MacEachren (1995) e comumente denominada carto- grafia ao cubo: Co m un ic aç ão Vi su al iz aç ão Público Privado Apresentar o conhecido Revelar o desconhecido Alta interatividade Baixa interatividade Figura 12 - O modelo “cartografia ao cubo” ou “cubo cartográfico” Fonte: adaptada de MacEachren (1995). A Ciência Cartográfica Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 Esse modelo conceitual demonstra a presença de três parâmetros que caracteri- zam o mapa: o tipo de público atendido, o grau de interatividade do produto e o tipo de função que desempenha. Os vértices opostos, formado nos polos con- trários dos três parâmetros apresentados, indicam a atividade predominante que um produto cartográfico pode desempenhar: produtos com alta interatividade, usados por usuários do domínio privado para explorar novos conhecimentos, priorizam a ação da visualização. Por outro lado, os usuários do domínio público, com acesso aos produtos de baixa interatividade e que usam os mapas para deco- dificar informações já confirmadas cientificamente estão inseridos nas atividades típicas da comunicação cartográfica. Caro(a) aluno(a), para ver, na prática, como o modelo da cartografia ao cubo funciona, acesse o QR Code a seguir: Quais atividades podem ser propostas aos alunos da Educação Básica para que se aprenda as diferentes funções desempenhadas pelos mapas em um processo investigativo? Para ter mais informações sobre o conteúdo cartografia ao cubo, consulte nosso QR Code por meio da sua plataforma. http:// CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 AS RELAÇÕES ENTRE A CARTOGRAFIA E A GEOGRAFIA Assim como apresentamos no início deste capítulo, existe uma relação muito próxima entre o desenvolvimento do conhecimento geográfico dos povos e o desen- volvimento de uma cartografia própria. A partir do estabelecimento da ciência como forma prioritária de entender a realidade nos séculos XVIII e XIX, ocu- pando o lugar da visão religiosa que vigorou na Idade Média, tanto a Geografia quanto a Cartografia passaram a apresentar forte reciprocidade. Esta, auxiliando o desenvolvimento do conhecimento geográfico sistematizado, e aquela, por sua vez, promovendo o desenvolvimento de novas formas de representações espaciais. É válido relembrar que há grande variedade de geografias reveladas pela história do pensamento geográfico, cada qual com períodos que valorizavam abordagens, problemas e paradigmas próprios do seu tempo. Da mesma forma, não há apenas uma cartografia, mas várias, assim como veremos nas linhas seguintes. A Cartografia é, atualmente, definida pela Associação Cartográfica Internacional como uma disciplina que envolve a arte, a ciência e a tecnologia na produção de mapas (DENT, 1985). Por mapa, entendemos uma imagem grá- fica que mostra a localização de classes ou categorias de fenômenos no espaço a partir de uma projeção ortogonal (KEATES, 1989). Além dos aspectos mais As Relações Entre a Cartografia e a Geografia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 imediatamente tangíveis, a produção de mapas envolve a coleta de dados, seu tra- tamento, sua generalização e sua simbolização. Logo, os desafios da Cartografia não envolvem apenas as preocupações mais materiais, mas também cognitivas no processo de produção e leitura dos produtos cartográficos. De maneira geral, encontramos, na literatura cartográfica, uma classifica- ção básica para os mapas em dois grandes grupos: mapas de referência e mapas temáticos. Caro(a) aluno(a), assim como veremos ao longo deste livro, essa não é a única forma de classificarmos os mapas,mas será o nosso ponto de partida. Podemos definir os mapas de referência (ainda conhecidos como mapas gerais ou mapas de base) como as representações cartográficas que priorizam um alto grau de exatidão na localização dos fenômenos do espaço, tanto naturais quanto culturais. Geralmente, esses mapas são os primeiros gerados pelos Estados para o conhecimento dos recursos naturais dos territórios e para o planejamento, sendo comumente executados pelos exércitos. As escalas cartográficas desses mapas são variadas - entre 1:10.000 e 1:100.000 - e representam os recursos hídricos, as vias de circulação do território, as curvas de nível, o arruamento das cidades, as fronteiras e limites administrativos e outros ele- mentos da paisagem que se encontram ali de maneira permanente. O título desses mapas remete sempre ao nome da localidade principal inserida no recorte espacial feito pelo autor de mapas. Até a metade do século XVIII, este era o tipo de mapa domi- nante, sendo a carta topográfica o seu produto típico (JOLY, 1990; KEATES, 1989). A segunda grande categoria de mapas são os mapas temáticos (também denominados mapas especiais), que têm como objetivo demonstrar a distri- buição espacial de algum fenômeno geográfico específico. O desenvolvimento dos mapas temáticos é posterior ao dos mapas de base, remontando ao século XVIII. Seu surgimento ocorre pela necessidade de novas abordagens científicas do espaço, pois a mera catalogação exaustiva dos aspectos visíveis da paisagem presente na cartografia sistemática tornava-se cada vez menos suficiente para entender os fenômenos e processos naturais “invisíveis”, como a dinâmica da pres- são atmosférica, das chuvas, da temperatura ou até mesmo de algumas doenças. Passava-se, portanto, do estabelecimento de classes eminentemente visuais para categorias mentais dos fenômenos, geralmente, ressaltando sua estrutura (DENT, 1985; MARTINELLI, 2009). Os mapas temáticos podem ter inumeráveis temas, CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 mas, geralmente, são divididos em dois subgrupos: os qualitativos (que mostram a distribuição ou localização de algum fenômeno) e os quantitativos (que mostram os aspectos numéricos dos fenômenos especializados). Por desenvolver e dispor de novas técnicas para a representação de uma gama cada vez maior de fenômenos, a Cartografia passou a ganhar um papel cada vez mais relevante na exploração, confirmação, síntese e apresentação do conhecimento geográfico sistematizado. Voltemos à nossa questão inicial: como a Cartografia responde às mudanças de paradigmas da Geografia no estudo do espaço? Seria possível identificarmos tipos privilegiados de mapas nas correntes do pensamento geográfico? Mais do que determinarmos os tipos de mapas que cada momento histórico da Geografia prioriza, devemos entender quais são as maneiras que os geógrafos utilizam os mapas para subsidiar suas investigações. Na Geografia Clássica, por exemplo, que priorizava a catalogação e descrição do espaço, os mapas eram ferramentas usa- das para a indicação da localização dos cursos d’água, a extensão da vegetação ou mesmo das cidades. Na Geografia Regional, os mapas eram empregados para a regionalização e a identificação das particularidades de um determinado recorte espacial tanto para fins acadêmicos quanto para o planejamento do território. No contexto da Nova Geografia, que propõe estudar as organizações espa- ciais por meio do emprego de teorias, modelos e técnicas matemáticas, o mapa passa a ser entendido como um modelo da realidade: É relativamente fácil visualizar os mapas como modelos representativos do mundo real, mas é importante compreender que eles são também modelos conceituais que contêm a essência de generalizações da realidade. Nessa perspectiva, mapas são instrumentos analíticos úteis que ajudam os inves- tigadores a verem o mudo real sob uma nova luz ou até proporcionar-lhes uma visão inteiramente nova da realidade (BOARD, 1975, p. 140). De maneira mais imediata, não há nenhum problema em tratarmos os mapas como modelos quando temos a consciência da sua insuficiência em esgotar toda a dinâ- mica e a complexidade do espaço geográfico. O problema maior, que gerou uma série de críticas a essa Geografia Quantitativa, foi a adoção de técnicas estatísticas para a geração de dados sem um questionamento sobre o significado histórico dos processos que produziram as características do espaço investigado. É válido lem- brar que o mapa nunca pode ser visto como um produto com um fim em si mesmo, isto é, sem um uso que envolva o entendimento de algum aspecto do espaço. As Relações Entre a Cartografia e a Geografia Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 No período de renovação da Geografia, surgiu uma corrente que, segundo Christofoletti (1982), tem como foco centralizar a experiência individual ou do grupo, na busca da compreensão do comportamento e da percepção das pessoas em relação aos seus lugares. Esse movimento utiliza a fenomenologia existencial para delimitar a noção de espaço como o espaço presente, permeado de senti- mentos, imaginação e subjetividades. Nesse movimento, a Cartografia centra-se nos estudos da percepção do espaço pelo indivíduo e na influência dos elemen- tos cartográficos na percepção das pessoas. Contudo, de que forma? De acordo com Claval (2011), no início dos anos 60, os geógrafos ficaram fascinados com os estudos desenvolvidos por Kevin Lynch sobre a imagem que as pessoas construíam em relação às cidades que habitavam, pedindo para que estas desenhassem, em folhas em branco, mapas espontâneos, também denomi- nados de mapas mentais, que podem ser considerados: Imagens espaciais que as pessoas têm de lugares conhecidos, direta ou indiretamente. As representações espaciais mentais podem ser do es- paço vivido no cotidiano, como por exemplo, os lugares construídos do presente ou do passado; de localidades espaciais distantes, ou ainda, formadas a partir de acontecimentos sociais, culturais, históricos e eco- nômicos, divulgados nos meios de comunicação (ARCHELA; GRA- TÃO; TROSTDORF, 2004, p. 127). Figura 13 - Exemplo de mapa mental desenhado por um adolescente de 14 anos Fonte: Archela, Gratão e Trostdorf (2004). CARTOGRAFIA: PRÁTICA ANTIGA, CIÊNCIA RECENTE Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 O mapa mental é um elemento intangível, presente na memória dos seres huma- nos, utilizado para a localização, orientação e julgamentos espaciais. Entretanto, esse termo é frequentemente adotado para nomear os desenhos espontâneos, esquemáticos e pouco rigorosos, do ponto de vista matemático, que os seres humanos produzem, geralmente, em folhas de papel. No ensino de Geografia, esse tipo de recurso é muito utilizado nas séries iniciais como recurso para o diagnóstico de apreensões gerais dos alunos e como ponto de partida para ama- durecer uma alfabetização cartográfica. No ensino de Geografia, a Cartografia é considerada uma linguagem impor- tante na promoção do entendimento do espaço geográfico, cujo interesse tem-se mostrado crescente entre os professores desde a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia, na década de 1990. Esse aspecto, todavia, será aprofundado nos próximos capítulos, pois a alfabetização cartográfica exige a adoção de estratégias especiais pelo professor de Geografia. CONSIDERAÇÕES FINAIS Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), a Cartografia é um conhecimento que sempre esteve presente nas sociedade. Além de ser uma ferramenta para localização e deslocamento dos grupos,os mapas se constituem como formas de ver e entender a realidade, característica cada vez mais valorizada pela Cartografia Histórica. É evidente que, dada a grande variedade de culturas e demandas, seus aspectos são diversos quando olhamos os mapas dos povos antigos, mas todos indicam a necessidade de os seres humanos conhecerem o seu espaço. Embora seja um saber antigo, a sistematização da Cartografia enquanto ciência autônoma é recente, datando após a Segunda Guerra Mundial. Em um primeiro momento, o paradigma vigente na ciência cartográfica considerava o mapa como um canal de informação de uma mensagem pré-determinada, mas esse paradigma mostrou-se insuficiente, pois os mapas não possuem, necessa- riamente, uma quantidade de informação controlada pelo seu autor. O conceito de visualização cartográfica emerge, então, considerando o mapa em sua função mais ampla, de gerar imagens mentais do espaço, o que abriu novas perspec- tivas para que as modernizações tecnológicas – inclusive, a Cartografia Digital – encontrasse um arcabouço teórico consistente. Estabelecer a especificidade do perfil do provável usuário de mapas, embora seja um dado importantíssimo no estabelecimento das diretrizes do projeto car- tográfico, é uma tarefa que exige um cuidado, por parte do autor, ainda maior. Isso ocorre, porque os computadores, dispositivos móveis e a Internet torna- ram as geoinformações mais acessíveis para um número muito maior e diverso de usuários. Podemos afirmar que o saber cartográfico e geográfico, mesmo se concen- trando em campos distintos – o primeiro tendo interesse em representar o espaço, enquanto o segundo preocupa-se em compreendê-lo – estão conectados desde antes da invenção da escrita. Hoje, a Cartografia auxilia a Geografia na geração de visualizações para exploração, confirmação, síntese e apresentação de novos conhecimentos, sendo uma ferramenta importantíssima para o ensino de geo- grafia nas escolas. 42 1. Embora a Cartografia seja uma prática milenar, sua sistematização em uma ci- ência autônoma aconteceu somente após a Segunda Guerra Mundial. Assinale a alternativa que corresponde à principal característica desse reconhecimento: a) O surgimento de uma nova categoria de mapas denominada mapas temáti- cos que reflete o desenvolvimento tecnológico e as novas formas de coletas de dados. b) A adoção de um paradigma científico denominado comunicação cartográfi- ca que orientou as pesquisas em Cartografia. c) O desenvolvimento tecnológico dos computadores e dos mapas digitais. d) O começo da utilização de mapas para a reconstrução das regiões destruí- das pela guerra. e) O amadurecimento da geovisualização como conceito estruturador do pro- jeto cartográfico. 2. A visão moderna da história da Cartografia reconhece um espectro mais am- plo de representações espaciais como mapas legítimos. Um dos motivos dessa mudança de perspectiva é o abandono da visão eurocêntrica como parâmetro único de visão correta do mundo. Considerando essa tendência, analise as afir- mações seguintes: I. A moderna história da Cartografia considera os aspectos cartométricos como balizadores na diferenciação entre um mapa e um desenho qualquer. II. O conceito de visualização cartográfica pode ser empregado na problemati- zação dos mapas pré-históricos. III. Um dos aspectos que diferencia os mapas antigos dos atuais é que estes possuem a preocupação de serem compreendidos pelo maior número de pessoas possível. IV. Até mesmo os povos sem escrita desenvolveram mapas para a realização de itinerários pelo território. É correto o que se afirma em: a) I e II, apenas. b) II e III, apenas. c) IV, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. 43 3. Considerando os mapas apresentados na figura a seguir, julgue as afirmações a seguir com (V) para as Verdadeiras e (F) para as Falsas: Fonte: https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html ( ) A capacidade do usuário de alterar as formas de visualização de um fenôme- no representado é um exemplo de interatividade. ( ) É possível afirmarmos que os dois mapas cumprem, de maneira satisfatória, o mesmo objetivo. ( ) Predominantemente, os usuários que utilizam os dois mapas pertencem ao domínio privado ( ) A vertente psicofísica dos estudos em Cartografia fornece estudos para jus- tificar a escolha do melhor trajeto definido nos mapas. A sequência correta é: a) V, F, F, F. b) V, V, F, F. c) F, V, V, V. d) F, F, F, V. e) V, V, V, F. https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html https://enterprise.google.com.br/intl/pt-BR/maps/products/mapsapi.html 44 4. Todo mapa cumpre uma função, isto é, não pode ser compreendido como um produto isolado com um fim em si mesmo Considerando o primeiro paradig- ma da Cartografia, qual é o papel que o usuário de mapas passa a ter na elabo- ração do projeto cartográfico? 5. O conceito de visualização cartográfica considera que um produto cartográfi- co pode cumprir diferentes papéis na construção do conhecimento científico. Identifique quais papéis são esses e forneça exemplos que poderiam ser leva- dos para os alunos da Educação Básica. 45 Desconstruindo o mapa No final da década de 1980 e início da década de 1990, principalmente na literatura anglo-saxônica, ampliou-se a discussão sobre natureza subjetiva e retórica do mapa. Um dos precursores dessa discussão foi J. Brian Harley, com seu artigo Deconstructing the map, publicado na revista Cartographica em 1989. Harley (1989) propõe uma leitura da natureza da Cartografia a partir da concepção do mapa como uma construção social. Com base principalmente nas obras de Derrida e Foucault, o autor propõe a descons- trução do mapa por meio da análise de sua textualidade e de sua natureza retórica e metafórica. Harley afirma que as análises conceituais usuais da história da Cartografia se baseavam em fundamentos filosóficos que estabeleciam uma leitura pré-moderna ou então moderna do tema e, por isso, era necessário desenvolver uma análise a par- tir de fundamentações filosóficas que permitissem uma leitura pós-moderna. Para isso, Harley afirma que a estratégia de desconstrução seria a chave. O autor apresenta a des- construção como “tática para romper a ligação entre realidade e representação que tem dominado o pensamento cartográfico. [...] o objetivo é sugerir que uma epistemologia alternativa, baseada mais na teoria social do que no positivismo científico, é mais apropria- da para a história da Cartografia (p. 02, grifo do autor). Da teoria de Foucault, Harley (1989) utiliza, para o processo de desconstrução do pensa- mentocartográfico, a ideia da “onipresença do poder em todo o conhecimento, mesmo sendo o poder invisível ou implícito, incluindo o conhecimento particular codificado nos mapas e atlas”. Das ideias de Derrida, ele toma a presença de retórica em todos os textos, o que “demanda uma busca por metáfora e retórica em mapas que antes os pes- quisadores encontravam somente medidas e topografia” (p. 03). Nesse sentido, o mapa é visto como um texto a partir da compreensão de que “‘o que constitui um texto não é a presença de elementos de linguística, mas o ato de construção’, sendo assim os ma- pas, como ‘construções que empregam um sistema de signos convencional’, tornam-se texto” (p. 07). Os mapas são artefatos culturais. A partir desses princípios, o autor propõe que a desconstrução do mapa é uma forma de leitura que Nos leva a ler nas entrelinhas do mapa – “nas margens do texto” – e, atra- vés de suas figurações, a descobrir os silêncios e as contradições que de- safiam a aparente honestidade da imagem. Começamos a aprender que os fatos cartográficos somente são fatos dentro de uma perspectiva cul- tural específica. Começamos a entender como os mapas, assim como a arte, longe de serem “uma abertura transparente para o mundo”, são, no entanto “uma maneira particular do homem... olhar o mundo” (HARLEY, 1989, p. 03, grifo do autor). Neste contexto, a Cartografia é conceituada pelo autor como “um discurso – um sistema que dispõe de um conjunto de regras para a representação do conhecimento intrínseco às imagens que definimos como mapas e atlas” (p. 12). O autor apresenta duas formas de poder na Cartografia: a externa e a interna. Por poder externo, ele entende o poder exercido por alguém sobre o mapeamento; não é o poder intrínseco ao mapa e ao ma- 46 peador, mas sim o poder que é fruto da demanda do contratante para quem o mapa é elaborado. Já o poder interno é o poder próprio do mapa, exercido a partir da seleção e hierarquização dos elementos representados (HARLEY, 1989). Podemos concluir que esses dois poderes são indissociáveis, pois só a partir do poder interno é que o poder externo pode existir, já que é o tratamento das técnicas e dos elementos representados que possibilita diversas expressões de um mesmo espaço. Fonte: adaptado de Girardi ([2019], on-line)⁶. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR O descobrimento da Terra: História e histórias da aventura cartográfica Oswald Dreyer-Eimbcke Editora: Melhoramentos e Edusp Sinopse: este livro mostra que o descobrimento da Terra não foi somente obra de um empreendimento planejado e executado pelas potências marítimas da Europa. Ao contrário: o acaso, mitos, enganos e preconceitos também levaram a muitas descobertas curiosas e originaram surpreendentes representação cartográficas. Baseado na documentação de um grande número de mapas e cartas geográficas, o autor narra a história e as histórias empolgantes do descobrimento da Terra. O site da competição de mapas feitos por crianças em homenagem à Barbara Petchenik mostra uma série de mapas criados por jovens do mundo todo. Eles expressam visões, desejos e medos de centenas de crianças! Web: https://childrensmaps.library.carleton.ca/. REFERÊNCIAS ARCHELA, R. S.; GRATÃO, L. H. B.; TROSTDORF, M. A. S. O lugar dos mapas mentais na representação do lugar Geografia, v. 13, n. 1, p. 127-141, 2004. BOARD, C. Os mapas como modelos. In: HAGGETT, P.; CHORLEY, R. J. (org.). Modelos físicos e de informação em Geografia. Rio de Janeiro: Editora da Universidade de São Paulo, 1975. p. 139-184. CHRISTOFOLETTI, A. As perspectivas dos estudos geográficos. In: CHRISTOFOLETTI, A. Perspectivas da Geografia. São Paulo: Difel, 1982. CLAVAL, P. A revolução pós-funcionalista e as concepções atuais da Geografia. In: MENDONÇA, F.; KOZEL, S. (org.). Elementos de epistemologia da geografia con- temporânea. Curitiba: Editora da UFPR, 2009. p. 11-46. CLAVAL, P. Epistemologia da Geografia. Florianópolis: Editora UFSC, 2011. CORREA, R. L. Reflexões sobre Paradigma, Geografia e Contemporaneidade. Revista da Anpege, v. 7, n. 1, p. 59-65, 2011. CROSBY, A. W. A mensuração da realidade. São Paulo: Editora Unesp, 1999. DENT, B. D. Principles of thematic map design. Massachussetts: Addison-Wesley, 1985. DIBIASE, D. Visualization in the Earth Sciences. Earth and Mineral Science, v. 59, n. 2, p. 13-18, 1990. DUARTE, P. A. Fundamentos de Cartografia. 2. ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2002. DREYER-EIMBCKE, O. O descobrimento da Terra. São Paulo: Melhoramentos/Edusp, 1996. GARBIN, E. P. 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Na exploração, o professor po- deria levar rabiscos iniciais de mapas, explorando a relação entre a presença de água contaminada e cólera, por exemplo. Na confirmação, os alunos poderiam ser levados para a sala de informática e confirmarem que existe uma relação entre áreas com relevo acidentado e escorregamentos. Na fase da síntese, os alunos poderiam elaborar um mapa de áreas de risco de tsunamis. Por fim, na apresentação, o professor poderia levar um
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