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Senso Comum e Filosofia

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Filosofia
O senso comum e a filosofia
O que é senso comum?
Mas, o que é senso comum? Podemos defini-lo como um modo genérico que a maior parte das pessoas utiliza para ponderar as coisas – daí a ideia de comum – que acontecem em seus respectivos cotidianos. Valendo-se de noções muitas vezes rústicas e superficiais, o senso comum é o conhecimento que adquirimos ao observar e experimentar esse mundão em que vivemos.
Tem um outro campo de conhecimento que também se apoia na experiência para entender o mundo, a ciência. Chamamos isso de empirismo. Aliás, empirismo é uma “parada” bem comum na Filosofia.
Ora, então o que difere então o senso comum da ciência ou da filosofia? É a questão do método. O senso comum acumula conhecimento através da vivência das pessoas, sendo o conhecimento passado entre as gerações. Já a ciência utiliza algo chamado método científico.
O senso comum e a filosofia
Note que o senso comum também não pode ser filosofia, pois ele é composto por um conhecimento não refletido, isto é, livre de um senso crítico. E, se você já entende bem sobre o que é filosofia, sabe que ela está fortemente baseada na ideia de reflexão crítica acerca do mundo.
Dessa maneira, os filósofos acabam utilizando o termo senso comum para procurar explicar as interpretações que a galera tem sobre a realidade à sua volta. Ele serve, principalmente, para orientar as pessoas e não as deixar malograr como no passado.
Com o fim da filosofia do renascimento, o senso comum, enquanto fonte válida de conhecimento, entrou em declínio. Lá nos meados do século VII, a filosofia racionalista começou a ganhar muito destaque. Nesse âmbito, uma obra corroborou enormemente com o declínio do senso comum, o Discurso do Método de René Descartes.
Concomitantemente, a ciência e seus métodos científicos também ganharam bastante espaço no campo do conhecimento. Essas novas abordagens fizeram com que o senso comum parecesse algo arcaico e caracterizado como carente de rigor metodológico.
Por que é importante separar senso comum de filosofia?
A importância dessa distinção vem de uma época há muito passada, quando as pessoas acreditavam nas coisas sem uma base argumentativa e racional sólida. Isso gerou, por exemplo, uma crença em diversos deuses e outros engôdos que foram se proliferando geração após geração.
Imagine que na Antiguidade, ou até mesmo antes disso, as explicações de mundo careciam de metodologias ou quaisquer tipos de formalização do pensamento. Assim, afirmar algo como verdadeiro era demasiadamente simples. Grandes oradores possivelmente se dariam muito bem, bastando-lhes apenas o carisma para edificar o conhecimento!
É fácil entender como as explicações de mundo de outrora, apesar de simples e muitas vezes equivocadas, ganharam tanto respaldo. Ao que parece, nós temos a tendência de colocar a vida no piloto automático depois de um tempo.
A gente fica tão exausto de nossas rotinas de trabalho, estudo, e outras atividades que acaba não ponderando sobre vários acontecimentos à nossa volta. Afinal, tudo está funcionando, está tudo tão rotineiro, não há uma necessidade emergente de mudança.
A importância da reflexão
Mas olha só, conforme o tempo vai passando e a barba vai crescendo, algumas situações tendem a mudar. Isso porque as pessoas acabam, ocasionalmente, se chocando com a realidade. Isto é, há um espanto que tende a acontecer ao nos confrontarmos com algo que rompa com a normalidade das nossas vidas, algo que geralmente quebra nossa rotina.
Assim, num dia qualquer, começou a nascer a necessidade de um outro olhar sobre a realidade. Fenômenos antes facilmente explicáveis tendem a não se encaixar mais nos moldes das nossas explicações, abrindo caminho então para novas possibilidades de explicação. Aqui, então, podemos pontuar a cisão do que era senso comum para algo novo, incomum. Cara, e a Filosofia é bem isso aí, o incomum.
Analisada pelo viés da filosofia, essa cisão pode ser encarada como a revolução que pôs fim ao mito, originando a própria Filosofia. Assim sendo, nós, pessoas ordinárias, acabamos por sair do piloto automático e, desestabilizados, procuramos edificar novas bases para solidificar a realidade à nossa volta. Isso porque a normalidade passa a nos incomodar e a quebra de rotina nos causa angustia.
Os perigos do senso comum
Dentre os vários tipos de informação que vem do senso comum e circulam em nosso cotidiano, algumas são tão absurdas que demoramos a acreditar que há quem as considere verdadeiras. Essas informações, em sua maioria, são consideradas superstições. Por exemplo: gato preto dá azar, cortar o cabelo na lua crescente para crescer mais rápido, e o número 13 dá sorte ou azar.
Todavia, existem aquelas que insistem em assumir-se como algo além das superstições e tendem a galgar um status de conhecimento legitimo. Um exemplo muito bom disso é a crescente ascensão dos autointitulados “coachs”, principalmente, daqueles com discursos quânticos e outras trends que flutuam no mainstream da internet.
A maioria dessas informações apresentadas por essa galera não possuem nenhum tipo de embasamento filosófico, quiçá científico, e se mascara como se fosse filosofia ou ciência. Mas, não se engane, é a boa e velha charlatanice em uma nova roupagem, mas ainda movida pelo que os romanos chamavam de auri sacra fames, a fome de dinheiro!
Informações falsas
Talvez hoje a maior preocupação em relação à não reflexão da realidade à nossa volta seja o fenômeno mundial chamado fake news. Nada define tão bem o malogro do senso comum na atualidade como a desinformação que tomou conta das redes sociais.
A não reflexão e a fácil aceitação dos discursos carismáticos que dialogam com o sujeito comum tem gerado um nível alarmante de pessoas alheias à realidade. Elas vão de analfabetos políticos a terraplanistas que teimam em serem detentores da verdade, mesmo sem um método ou qualquer rigor nos discursos.
Por fim, embora dotado de uma utilidade prática e carregado de conhecimentos válidos a respeito do mundo, o senso comum, enquanto forma de conhecimento do mundo, pode ter desdobramentos nefastos. Isso porque diferente da filosofia e da ciência, não lhe é necessário qualquer crivo metodológico para afirmar algo. Por conta disso tudo, o senso comum passou a não satisfazer mais a galera. Carecíamos de descobrir outra maneira de abordar os problemas causados pela realidade e então fomos levados a refletir.
Exercícios:
1- FGV – 2013
Analise os fragmentos a seguir.
Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos, desejamos, aceitamos ou recusamos coisas, pessoas, situações (??). [Achamos] óbvio que todos os seres humanos seguem regras e normas de conduta, possuem valores morais, religiosos, políticos, artísticos (?).
(CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1999, p. 9, 111)
O que se costuma solicitar à Filosofia é que ilumine o sentido teórico e prático daquilo que pensamos e fazemos, (?) que nos diga alguma coisa sobre nós mesmos, que nos ajude a compreender como, por que, para quem, por quem, contra quem ou contra o que as ideias e e os valores forram elaborados e o que fazer deles.
(CHAUÍ, Marilena. A Reforma do ensino. Refazendo a Memória. 1987, p. 1559.)
Com base nos fragmentos acima, assinale a alternativa que distingue corretamente o ” filosofar” espontâneo, próprio do senso comum, do ” filosofar” propriamente dito.
a) A filosofia e o senso comum consideram o conhecimento como crença verdadeira justificada.
b) A filosofia é uma experiência do pensamento que supera os limites da experiência imediata.
c) A filosofia e o senso comum são sistemas teóricos que demonstram o que é a realidade ou o mundo.
d) O senso comum estabelece juízos e raciocínios a respeito do mundo que têm validade necessária e universal.
e) A filosofia e o senso comum produzem inferências que desnaturalizam a realidade.
1- B
O que a Filosofia estuda?
Nos primórdios da civilização ocidental, surgiu lá na Grécia essa tal de Filosofia, cujo foco era desvendar os mistérios do mundo. Através da Filosofia, os primeiros filósofos tentavam desvinculara mitologia da razão.
Sendo assim, a Filosofia surge como uma linha de pensamento que busca compreender o mundo. Ora, os problemas mundanos são parte desse mundo. Logo, todo problema mundano pode, essencialmente, ser um problema filosófico. Contudo, reserva-se à Filosofia os problemas mais requintados.
Metafísica
Lá no século VI a.C., a principal preocupação dos estudos filosóficos dizia respeito à cosmologia. Essa área da Filosofia se interessava principalmente em estudar o que é o universo, preocupando-se com a sua origem e com sua evolução.
Aqueles a quem hoje chamamos de primeiros filósofos eram fissurados em descobrir a essência do nosso universo. Eles se perguntavam: do que é feito esse mundo em que vivemos? E as propostas deles para explicar o mundo iam desde as mais rudimentares, como os elementos (água, ar, fogo, etc) até as mais sofisticadas. Um exemplo é a elaboração dos filósofos Leucipo e Demócrito. Há aproximadamente 2400 anos, eles disseram que tudo é feito de umas partículas indivisíveis, chamadas átomos.
Esses caras, a quem chamamos de pré-socráticos, tentaram durante um bom tempo resolver os problemas da cosmologia. Assim, na medida do possível, tudo ia bem na Grécia. Até chegar um tal de Sócrates. Com esse grande filósofo, as perguntas (e as respostas) mudaram de foco.
Da cosmologia à ontologia
Nos diálogos platônicos, é possível ver Sócrates utilizar o método maiêutico para buscar respostas dos problemas que assolavam a vida dos cidadãos da polis. Nesse momento, começou, ainda que lentamente, uma troca do foco das investigações filosóficas. A cosmologia passou ser, aos poucos, deixada de lado em detrimento a ontologia.
Entendemos por ontologia a parte da Filosofia que estuda as propriedades mais gerais do ser. Isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum, que é inerente a todos e a cada um dos seres objetos de seu estudo.
Essas duas áreas fundadoras da filosofia são parte de uma macro área que conhecemos como metafísica. Podemos entende-la como a parte da filosofia que se ocupa em investigar a natureza fundamental das coisas, seja o ser (ontologia) ou o Universo (cosmologia).
Apesar de essas serem as raízes da Filosofia na antiguidade, nem só de metafísica vive a Filosofia. Nomes como Platão e Aristóteles ficaram famosos também pelos seus escritos sobre política, estética, ética, teoria do conhecimento e muitos mais. Mas, vamos focar no primeiro da lista.
Dos problemas políticos da polis ao problema dos políticos
É isso aí, camarada! Os problemas envolvendo política já eram algo presente na antiguidade. Tanto é que o radical da palavra política vem de polis. Ou seja, a palavra política é derivada da palavra grega politeia, que indicava todos os procedimentos relativos à polis, ou cidade-Estado grega.
Platão, por exemplo, em sua obra “A República” escreveu sobre a sociedade ideal. Para Platão, na cidade ideal os filósofos seriam os governantes e as pessoas seriam valorizadas pelas suas competências, livres de preconceitos sexuais ou raciais.
Sendo assim, desde Platão e sua proposta política, os filósofos vêm estudando essa área tão complexa. De lá para cá, muito mudou. Abolimos a escravidão, criamos o sufrágio universal , campos de concentração foram erguidos e depois caíram, ditadores tombaram e outros tomaram seus lugares. Tudo isso tem sido estudado pela Filosofia. E seus arautos, os filósofos, tentam incessantemente achar uma maneira para que algumas das atrocidades do passado causadas pela política não se repitam.
A política e a educação
Peguemos como exemplo disso o filosofo Theodor Adorno. Esse filósofo escreveu um texto fantástico chamado “Educação após Auschwitz” em que ele denuncia como a formação de pessoas com grande capacitação técnica e quase nenhuma formação humana é danosa à sociedade.
Esse problema investigado a fundo por ele fica claro numa passagem na qual um engenheiro constrói uma estrada de ferro. Esse maravilhoso projeto da engenharia auxilia os militares nazistas a transportar com máxima eficiência os vagões.
Todavia, o engenheiro esquece, ou talvez se faz esquecer, que nestes vagões estão sendo transportados milhares de judeus que seriam torturados em campos de concentração (também projetados por engenheiros) e viveriam nesses campos em condições sub-humanas até que fossem exterminados em um processo super eficiente (do ponto de vista técnico) nas câmaras de gás.
Ética
Na tangente da política, outra problemática filosófica de grande importância é a ética. Também de origem grega (novidade, né?) ela surgiu inicialmente em uma obra chamada “Ética a Nicomaco”, escrita pelo grande filosofo Aristóteles.
Os problemas abordados pela ética talvez sejam os mais próximos ao nosso cotidiano. Isso porque ela lida com as relações entre as pessoas, refletindo acerca de quão viável, válida ou justa determinada ação foi, é ou será.
Para além do bem e do mal, a ética busca uma reflexão racional acerca dos problemas que que nos assolam de forma a resolvê-los – dentro de um conjunto de valores – da maneira mais justa possível.
Kant e a ética
São vários os problemas que se tornaram famosos a partir das reflexões dos filósofos sobre o tema. Temos por exemplo o filósofo Immanuel Kant com o problema da mentira. Segundo Kant, a mentira, qualquer que seja a sua motivação, nunca seria algo que serviria à ética. Através do chamado imperativo categórico, ele explica que jamais devemos mentir e nos dá bons argumentos do porquê.
Mas daí, para tacar lenha na fogueira, digo para ilustrar melhor, um tal político francês Benjamin Constant (1767-1830) propôs mais ou menos o seguinte: imagine que um assassino vai na sua casa e educadamente bate na porta. Você está amedrontado e ouve sua mãe indo atender a porta, então o assassino pergunta se você está em casa. O que sua mãe deveria responder?
Segundo Kant, sua mãe deveria dizer a pessoa que atende a porta a verdade, pois jamais a mentira seria algo bom. Entretanto, o imperativo categórico não priva nenhuma pessoa de mentir, basta deixar claro que essa não foi uma ação moral.
Essas “tretas” polêmicas, tipo aquela do avião que foi abatido em 11 de setembro durante os atentados terroristas que derrubaram as torres gêmeas do World Trade Center, são a praia da ética. Aliás, é bem fácil achar problemas éticos em nosso cotidiano citando alguns temas como: aborto, Estado laico, eutanásia, legalização de entorpecentes e muitos mais.
A arte do belo
Para além das polêmicas da ética está a estética, um ramo da Filosofia que tem por objetivo o estudo da natureza, da beleza e dos fundamentos da arte. Há muito tempo os filósofos se dedicam a teorizar sobre a arte, embora, entender a beleza seja algo bastante complexo dado a subjetividade de certos conceitos. Analisar os problemas da estética produziu uma vastidão de conhecimento sobre o assunto.
Depois dos gregos, muitos foram os filósofos que se preocuparam com os problemas da estética – que aqui não tem nada a ver com manicures ou cabeleireiros – como Santo Agostinho e sua visão de inspiração aristotélica, Immanuel Kant com sua “Crítica da Faculdade do Juízo”, além de muitos outros nomes como Hegel, Baudelaire e Nietzsche.
Teoria do conhecimento
Agora, por trás de tudo isso que acabamos de ver, existe mais uma problemática famigerada na Filosofia, a teoria do conhecimento. Em geral, quase todos os filósofos que alcançaram grande destaque perante a academia têm algo a dizer sobre essa área.
Ela engloba os demais problemas que vimos até agora, já que essa parte da Filosofia se pergunta acerca do que podemos conhecer. Isto é, quais são os limites do nosso conhecimento e como posso saber se este conhecimento está correto?
Exercícios sobre o que a Filosofia estuda:
1- (Enem/2017)
Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: não é proibidoe contrário ao dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá.
KANT, l. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo. Abril Cultural, 1980
De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” representada no texto
a) Assegura que a ação seja aceita por todos a partir livre discussão participativa.
b) Garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na terra.
c) Opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma universal.
d) Materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar os meios.
e) Permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas envolvidas.
1. B
O ceticismo filosófico e a vida comum
Pirro de Élis
Lá na Grécia, berço da filosofia, há muito tempo atrás, um cara chamado Pirro foi o responsável pela criação da escola cética. Pirro era um cara comum que tentou se tornar pintor. Entretanto, não obteve muito sucesso nessa empreitada. Decidiu, então, se juntar a uma expedição organizada por Alexandre, o grande, aquele que se tornou o soberano do império Macedônio e ajudou a difundir a cultura helênica pelo mundo. 
Conta-se que nessa expedição, Pirro conheceu diversos sábios da Pérsia e também da Índia, absorvendo muito de seu conhecimento. A partir desse choque de culturas, o fundador do ceticismo cresceu muito como filósofo e passou a dedicar-se com afinco à filosofia.
Retornando à Grécia, Pirro fundou o que veio a ser conhecido como ceticismo. Podemos caracterizar essa escola principalmente pela sua obstinada recusa aos dogmas, isto é, os céticos (filósofos da escola de Pirro) eram contrários a qualquer doutrina de caráter indiscutível.
Fundamentos do ceticismo
Existem algumas ideias que fundamentam a filosofia dos céticos, a começar pela impossibilidade de conhecermos a natureza do mundo a nossa volta. Essa incapacidade foi chamada de acatalepsia. A palavra nasce da oposição ao pensamento de outra escola da época, os estoicos, que afirmavam ser possível compreender o mundo a nosso redor, o que chamaram de catalepsia.
Ademais, era de extrema importância para os céticos manter uma suspensão dos juízos. Isto é, se existem diversas afirmações acerca do mundo, nenhuma delas é passível de ser conhecida em sua real natureza. Logo, nenhuma delas é melhor que a outra. Assim sendo, aos céticos é fundamental essa despreocupação acerca do mundo, algo que foi chamado de ataraxia, conceito comum também aos estoicos e epicuristas.
Bom, então nossa impossibilidade de conhecer esse mundão que nos cerca deve, segundo os céticos, nos levar a uma vida mais despreocupada. Está aí um bom argumento para a gente “ficar de boas”, não é? Afinal, debater sobre o mundo é debater sobre coisas imaginárias, já que não podemos conhecer realmente a natureza dessas coisas. 
O ceticismo no cotidiano
Talvez o mais importante legado do ceticismo para nossa vida cotidiana seja o antidogmatismo, ou seja, não aceitar o mundo como algo cheio de verdades absolutas incontestáveis.
O dogma é uma parada fundamentada na nossa aceitação da verdade, sem qualquer tipo de questionamento sobre a sua veracidade. Um argumento dogmático deve ser tido como verdade absoluta. Assim sendo, fica evidente a antítese do ceticismo ao dogmatismo.
Trazendo isso para nosso cotidiano, o ceticismo nos desperta do sono dogmático, assim como foi com Kant, e nos dá uma nova alternativa para enxergar o mundo. Você pode não ser um cético, mas mesmo assim adotar uma postura cética em relação as adversidades da vida.
Problemas complexos tais como legalização de entorpecentes, a dissolução da polícia ou mesmo a laicidade do Estado, devem ser analisados com um olhar mais cético. Dessa maneira, nos livramos dos preconceitos tolos e dos dogmas que aprisionam nosso intelecto.
Aliás, o preconceito é algo inadmissível do ponto de vista cético. Observe que o prefixo da palavra advém de uma concepção prévia de algo. Ou seja, antes mesmo de conhecer algo, você já emite um juízo acerca dele.
Essas ideias absurdas, como racismo, xenofobia e o machismo – para citar só alguns dos vários preconceitos existentes – são fundamentadas em dogmas que não fazem, do ponto de vista racional, sentido algum. Daí a importância dessa postura cética, não aceitar esses absurdos só porque dizem conhecer a real natureza deles. Além do que, muitas das origens dessas besteiras se perderam num passado remoto.
Do Mito e da Filosofia
o Mito é uma narrativa sobre a origem ou forma de alguma coisa.
No começo, a transmissão dessa mitologia acontecia de maneira oral, geração após geração. Mas, com o passar do tempo, passou a se dar pela escrita. Ainda hoje há diversos fragmentos dessas histórias a serem estudados.
Como você pode ver, o conhecimento de mundo se dava a partir dessas histórias. Mas, talvez você esteja se perguntando: quem contava essas histórias? Na Antiga Grécia existiam uns “malucos” que saiam caminhando pelas estradas, cantando sobre o mundo.
Estes eram os chamados Aedos, que na antiguidade transmitiam o conhecimento sobre a origem do mundo, dos homens, dos animais, do bem e do mal, das doenças, da morte e tudo mais. Loucura, né?
O mais famoso deles, Homero, narrou a história da guerra de Troia, bem como a jornada épica de Odisseu, que tentou voltar para casa após a guerra, mas sofreu a fúria dos deuses. Ah! Falando em deuses, eles são outro aspecto importante dos mitos.
Para dar mais credibilidade às histórias, adicionou-se à elas um caráter divino (ou você acreditaria numa boa na existência de um animal meio leão, meio bode e meio serpente que ainda por cima soltava fogo pelas ventas?). O nosso contador de história (Aedo) então se utilizava de uma garantia divina para atribuir ao Mito o caráter de incontestabilidade, pois os deuses eram (e ainda são) inquestionáveis.
Ora, o Mito nasce com a finalidade de ajudar a humanidade a se livrar das dúvidas e das incertezas da sua existência. Nesse sentido, nada é mais aconchegante do que uma boa e velha explicação fantasiosa sobre o mundo.
Dessas que nos fazem sentir alheios aos acontecimentos a nossa volta, retirando de nós o peso da responsabilidade e a ansiedade e o desespero da existência. Em todo caso, foi assim que, dentre cavalos carnívoros, mulheres com cauda de serpente e homens chifrudos (literalmente) a Grécia prosperou.
Mas como nada é perfeito, veio um sujeito reclamar. Depois de anos acreditando em Sátiros, Harpias, Centauros e Górgonas, surge na Grécia uma galera que passa a desconfiar dessas explicações. Em especial, um camarada chamado Tales de Mileto. Ele deu início a toda uma geração de pensadores que passou a desconfiar da existência dos próprios deuses!
Foi assim que a partir do século VI a.C. com a orientação de Tales e de outros filósofos, o Mito passa a ser combatido pela mais nova invenção da época. Aquilo que fez Sócrates morrer, Aristóteles caminhar e Diógenes morar num barril: a Filosofia!
O Mito e a Filosofia possuem essencialmente a mesma finalidade: explicar o mundo a nossa volta. Todavia, a maneira como o fazem diverge. Logo, é possível notarmos um certo antagonismo entre os dois.
Enquanto a Filosofia se baseia na razão e na observação do mundo para produzir enunciados possivelmente verdadeiros. O Mito produz explicações baseado em uma narrativa fantasiosa que tem seu respaldo nos deuses, tornando-o assim incontestável.
	MITO
	FILOSOFIA
	Inquestionável
	Questionável
	Sobrenatural
	Real
	Incoerente
	Racional
	Ilógico
	Lógico
	Suposição
	Verdade
 
Entretanto, se por algum motivo um Mito é rebatido, a gente encara aquela “parada” chamada tabu, ou seja, uma espécie de proibição por conta da violação da pressuposta “norma”. Inclusive, teve um cara que curtiu bastante essa ideia em uma época mais recente, um tal de Comte. Esse cara aí contestou o pensamento mítico quando atribuiu à ciência o único modo para de chegar à verdade.Mas, não precisamos avançar tanto no tempo. A transição entre o pensamento mítico e o pensamento racional progrediu ainda na Grécia. Houve uma certa polarização à medida que a população ia se aproximando da Filosofia e se distanciando do Mito. Inclusive, foi nesse cenário que Sócrates foi acusado de corromper a juventude com a sua Filosofia pois negava os deuses e combatia o Mito.
Sócrates tentava despertar as pessoas para realidade, tal como fez Morpheus em Matrix, ele mostrava aos habitantes de Atenas as portas para a verdade (a Filosofia). Contudo, não são todas as pessoas que querem sair do aconchego das explicações fantasiosas pois a alternativa ao Mito (a Filosofia) é amarga e cobra um preço alto, de maneira que nem todos estão dispostos a pagar.
Com o passar do tempo, o Mito se configurou como inimigo da Filosofia. Todavia, as pessoas que, dotadas de razão, deveriam combater o Mito acabaram por fazer parte de sua propagação. Isso porque a maioria dessas pessoas não está pronta para despertar da ilusão criada pelo Mito. Aliás, muitas estão tão inertes e dependentes do Mito que irão lutar para protegê-lo.
O Mito explicava as paradas através das “tretas” ou alianças entre deuses e outros “paranauês” sobrenaturais. Já a Filosofia, explica tudo baseado em causas naturais, que podem ser observadas ou racionalmente deduzidas.
O Mito falava que as coisas tiveram origem em um passado imemorial, se usando disso para criar todo um conto de fadas de como as coisas eram antes de serem como são. Já a Filosofia quer dar o papo reto, explicando o como e o porquê das coisas do mundo, sejam elas no passado, no presente e no futuro.
Enfim, embora a mitologia grega não passe de uma fonte de inspiração para livros adolescentes, heróis e heroínas da moda e filmes de Hollywood. O Mito como forma de interpretação de mundo ainda se faz presente no cotidiano do século XXI. Cabe a Filosofia continuar sendo a porta para livrar as pessoas dessa falácia. Entretanto, a Filosofia é só a porta. 
Exercícios 
Questão 01 – (UEG GO/2014)    
A filosofia surge na Grécia aproximadamente no século VII a.C. e procura formular questões e respondê-las apenas com auxílio da razão, voltando-se contra o mito, os preconceitos e o senso comum. Nessa busca pelo conhecimento do mundo e do homem, ela se constitui, em sua origem, como uma cosmologia racional de tendência monista. Isso significa que a filosofia surge
a) como um conhecimento alimentado pela codificação mítica e procura elucidar os mistérios dos tempos primordiais por meio de uma verdade revelada.
b) propondo uma concepção racional da ordem cósmica e buscando um princípio único originário.
c) como diálogo da razão com ela mesma, não se interessando inicialmente por questões referentes ao cosmo, sendo sua preocupação primordial o mundo humano.
d) reforçando o testemunho dos sentidos; portanto, afirma a multiplicidade e a transitoriedade de todos as coisas.
 1. B
Filósofos da natureza, buscando a Arché
Como disse anteriormente, antes desses filósofos os acontecimentos do mundo eram atribuídos aos caprichos volúveis dos deuses e não aos fenômenos naturais.
Essa mudança marcou o nascimento da filosofia, e como seu pioneiro, temos ele, o queridinho de Mileto – cidade grega situada na atual Turquia – criador do teorema que leva o seu nome, o sempre hidratado, Tales! Este pioneiro, fazendo uso da razão para investigar a natureza do universo, impulsionou outros a fazerem o mesmo.
Com o passar do tempo, a principal preocupação dos filósofos da natureza – os primeiros filósofos – era encontrar a arché. Isto é, o principal questionamento desses pensadores convergia na pergunta formulada por Tales: “do que é feito o mundo? ”
A esse elemento, que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas do mundo, damos o nome de arché.
A resposta obtida por Tales de Mileto dá origem a toda uma complexa linha de raciocínio que parte dos filósofos da natureza até os cientistas de hoje! Mas afinal, o que concluiu Tales ao se questionar sobre a matéria prima básica do universo? Para ele, o universo deveria ser composto de:
Algo a partir do qual tudo possa ser formado;
Essencial à vida;
Capaz de se mover;
Capaz de mudar.
Então, se a substância fundamental do universo é algo a partir do qual tudo possa ser formado, essencial à vida, capaz de se mover, capaz de mudar…. Logo, Tales concluiu que tudo é feito de ÁGUA! Isso mesmo, a fantástica conclusão de Tales é que o mundo é feito de água.
Embora, essa concepção possa parecer ridícula atualmente, ao enunciarem que tudo é feito de água os filósofos da natureza estavam dizendo algo sobre a origem das coisas e fazendo isso sem a ajuda de fabulações ou religião. E ainda nesta ideia, mesmo que de maneira rudimentar, eles construíram um famoso pensamento que perdura até hoje em algumas concepções de mundo: “tudo é um”.
Assim sendo, tudo aquilo que existe vai ter uma causa anterior, de tal maneira que exista um vínculo originador entre os “paranauês” naturais. Melhor dizendo, todos os acontecimentos do mundo vêm de uma causa, que vêm de outra causa, que têm origem em uma nova causa, que é efeito de uma causa anterior… e por aí vai. Infinitamente!
Todavia, não podemos explicar o mundo assim. Afinal, essa sequência que acabei de explicar poderia ser usada como explicação racional e acadêmica? Claro que não.
Dessa maneira, para impedir que a explicação seja tão sem sentido ou embasamento quanto as explicações religiosas de antes, os filósofos da natureza vão tentar constituir uma causa primeira. Essa causa primeira seria um primeiro princípio ou conjunto de princípios que servissem como ponto de partida para todo o processo racional.
É aí que encontramos a arché. Por essas razões, é que consideramos Tales o primeiro filósofo.
– Anaxímenes (588-524 a.c.) vai afirmar que tudo vem do ar e que tudo volta ao ar. Ele concluiu que as substâncias, por rarefação e condensação, vão se alterando de maneira tal que se transfiguram em fogo, depois vento, depois nuvem para assim se tornam água.
A água, por sua vez irá se transformar em terra e pedras que por fim se tornarão as coisas que emanam destas. Percebeu que ele busca uma causa fundamental (arché), um elemento essencial que constitui todas as coisas para assim explicar racionalmente o mistério da causalidade?
– Heráclito (435-475 a.c.) por sua vez irá postular que tudo é movimento. Pois, afinal, nada pode permanecer estático, certo? A isso ele chamou de Panta Rei, isto é, “tudo flui”. Contrariando Tales que afirma que a arché é imutável, a mudança que Heráclito afirma incide em tudo.
Suas ideias vão ficando mais interessantes à medida que essas mudanças invariavelmente incidem em uma oscilação entre opostos. O mundo é bem antagônico para ele, veja: o dia anoitece e a noite amanhece, assim sendo, não existiria dia sem noite, nem claro sem escuro, nem Sonic sem mola ou Ash sem pokébola. Sacou? O mundo ocorre na mudança, ou seja, nos opostos se alternando!
– Pitágoras (580 – 500 a.c.), que você provavelmente deve conhecer por conta do teorema, vai falar o seguinte: o princípio fundamental que forma todas as coisas é o número. Ah! Essa galera das exatas! Eles consideram o número como o elo entre os elementos. Enxergam as ligações numéricas entre as formas, as leis da natureza e as substâncias. A partir daí, para Pitágoras, tudo que existe pode ser concebido como números.
– Parmênides (510-470 a.c.) alegava que o mundo poderia ser entendido a partir da imutabilidade do ser, ou seja, a arché de Parmênides está apoiada na ideia de que as coisas são eternas e imutáveis, além de não serem geradas.
Em conclusão, a origem do universo ainda permanece um mistério para nós mortais. Não sabemos quase nada a respeito de onde viemos, contudo, a ideia de buscar um elemento fundamental ainda se faz presente na filosofia e nas ciências.
Exercícios:
1. (UEL 2003) “Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas queexistem, sustentando que esse princípio é a água. Essa proposta é importantíssima… podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar civilização ocidental.”
(REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados pré-socráticos. De acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal problema por eles investigado.
a) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.
b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.
c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.
d) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.
e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação.
1.D
Condições históricas para o surgimento da filosofia ocidental
As sociedades estabelecidas na península balcânica eram baseadas em histórias míticas acerca do mundo. Por isso, a organização social dessas cidades era muito influenciada por lendas e costumes religiosos, que poderiam variar de cidade para cidade.
Como o solo da região não era muito fértil, o comércio foi umas das maneiras encontradas pelas cidades de suprirem suas necessidades. Ao passo que os poetas narravam a existência de feras míticas nos confins do mundo, a crescente necessidade de alimento e outros insumos fazia com que os habitantes das pólis viajassem cada vez mais longe em busca desses suprimentos.
Com o passar do tempo, houve a descrença nas histórias mitológicas, visto que comerciantes viajavam por toda a região e não encontravam nada fora do ordinário (nem cachorros de três cabeças, nem mulheres com serpentes nos cabelos e tampouco unicórnios saltitantes). Esse lance fez com que os maiores sábios colocassem em xeque tudo o que sabiam sobre o mundo.
A consternação pela desmistificação do mundo está entre as principais condições para o surgimento da filosofia, que, por sua vez nasceu contrapondo-se ao mito.
Da abstração do real
Juntamente com a desmistificação do mundo, outro fator crucial para o surgimento da filosofia foi a ideia de abstração. Os gregos faziam o uso da moeda para realizar as barganhas mercantis. Ou seja, em vez do escambo, na Grécia já rolava dinheiro. O uso dessa grana vem do fato de agregar valor aos produtos negociados, o que requer uma capacidade de abstração e uma noção do conceito de valor, ambos capitais para a filosofia.
Além da grana, a constituição do calendário deu competência para os habitantes das pólis medirem tempo. Embora ainda de maneira arcaica se compararmos com a nossa vida hoje em dia, essa habilidade fez com que o tempo deixasse de ser uma força divina e passasse a fazer parte dos domínios mortais. Em outras palavras, ao criar um calendário, os gregos refinaram suas noções de abstração do pensamento.
Somado ao calendário e à moeda, a escrita e o desenvolvimento de um alfabeto revelaram o potencial da capacidade de abstração dos habitantes da península balcânica. Diferente dos hieróglifos utilizados pelos egípcios, o alfabeto grego não representava uma imagem da coisa a que se refere, mas a ideia da coisa. Assim, o que pensamos a respeito de algo passava a ser transcrito, condição fundamental para o surgimento da filosofia.
Do crescimento da pólis ao florescer da política
A outra parte da receita que possibilitou o surgimento da filosofia foi a política. Conforme as cidades-estados cresciam, novas necessidades emergiam e, muitas vezes, tornavam as deliberações administrativas de outrora obsoletas. Assim sendo, uma crescente ânsia por novas leis que atendessem a demanda de crescimento se tornou imperativa.
Bom, a gente falou antes sobre a organização da pólis vir de uma concepção mitológica, lembra? Aquela “parada” de sacerdote, aedo, adivinho ou qualquer outra via de contato com o divino que recebia um WhatsApp dos deuses dizendo aos homens (a mulher não fazia parte dessas deliberações até então) quais eram as leis e as deliberações administrativas que eles deveriam obedecer, já não estava mais colando.
Ora, isso levou ao gradual abandono da mitologia e cada cidadão passou a emitir seu juízo acerca da administração da pólis publicamente. Essa aí foi a origem daquelas discussões sobre política no bar, algo tão comum hoje em dia. Discutir com os demais cidadãos e convence-los a concordar com sua visão sobre assuntos políticos fez emergir a ideia de discurso.
As discussões racionais e compartilhadas que deliberavam sobre a vida na pólis foram umas das bases para o surgimento da filosofia. Isso porque a política instiga uma reflexão crítica que busca compartilhar com todos os demais cidadãos a busca por uma 
Por fim, quando juntamos esses ingredientes: desmitificação do mundo, capacidade de abstração, criação de uma linguagem escrita, rigor lógico argumentativo e uma discussão racional compartilhada temos as condições históricas para o surgimento da filosofia ocidental.
Exercícios 
1- (UNESPAR, 2018)
De forma geral, admitimos que a filosofia ocidental surgiu na Grécia antiga, no período que compreende do século VI ao século V a.C., e que uma série de fatores contribuiu para esse surgimento. Mesmo considerando que a diversidade dos fatores que promoveram o início da reflexão filosófica nos leva à conclusão de que seria muito difícil apontar o que exatamente determina o início da filosofia, podemos afirmar que:
a) Os primeiros filósofos se preocuparam inicialmente em negar a existência de Deus;
b) As primeiras especulações se dirigiam às questões de ordem natural, especialmente em relação ao cosmos;
c) Os primeiros filósofos optaram por escrever em forma de poema por entender que seria a escrita mais científica disponível na época;
d) A ética foi o primeiro grande tema da filosofia a ser abordado;
e) Sócrates foi o primeiro filósofo de que se tem notícia, seguido por Platão, seu discípulo.
1- B
Interpretações da realidade: o uno, o múltiplo e o movimento
Nesse momento, você deve estar cercado de várias coisas, como pessoas, animais, eletrônicos, etc. Todas essas coisas possuem diferentes formatos, são feitas de diferentes matérias, possuem as mais variadas cores. Ora, há diversos arquétipos de coisas reais ou ao menos que aparentam ser reais.
Caso a realidade transcenda essas várias paradas singulares, indo além daquilo que nos cerca, podemos entendê-la como una. Dessa maneira, cada elemento no cosmos é uma parte de algo maior, um aspecto de algo que os ultrapassa.
Todavia, é possível pensarmos que a realidade dos elementos do cosmos está em cada um desses elementos. Ou seja, não existe um todo maior que é composto por esses elementos. Se assim for, a realidade é então chamada de múltipla.
Logo, nós, na condição de filósofos, acabamos perguntando: seria a realidade reduzida a cada um desses objetos, ou na verdade eles estão contidos dentro de uma realidade muito mais ampla? Indo mais além, seria a nossa realidade completamente perceptível ou existem coisas a nossa volta que não conseguimos ver?
Pensando nisso, separei para você esse vídeo de uma galera que levou essa discussão bem longe e propõe até uma quarta dimensão! Confere aí o vídeo do Carl Sagan explicando:
Pluralismo e movimento
Juntamente com essa discussão existe uma “treta” entre o movimento e o imobilismo (ausência de movimento), representados na Antiguidade principalmente pelos pensamentos de Heráclito e Parmênides
Conta-se que um tal de Zenão, junto com seu mestre Parmênides, fizeram uma profunda reflexão para contra-argumentar as ideias daqueles que defendiam a existência do movimento, como Heráclito. E também defendiam a existência de mais de um elemento primordial. Isto é, o cosmos seria composto de um múltiplo número de elementos em vez de um único elemento.
Paradoxos de Zenão
Para tentar invalidar os argumentos de seus opositores, Zenão criou uma série de paradoxos (cerca de uns 40!). Dentre eles, destacam-se:
O paradoxo de Aquiles: Imagine uma corrida entre um atleta velocista (Aquiles)e uma tartaruga. Suponhamos que é dada para a tartaruga uma vantagem inicial em distância. Aquiles jamais a alcançará, porque quando ele chegar ao ponto de onde a tartaruga partiu, ela já terá percorrido uma nova distância. Quando ele atingir essa nova distância, a tartaruga já terá percorrido uma outra nova distância, e assim, ao infinito.
O paradoxo da flecha imóvel: Uma flecha em voo está a qualquer instante em repouso. Ora, se um objeto está em repouso quando ocupa um espaço igual às suas próprias dimensões, e se a flecha em voo sempre ocupa espaço igual às suas próprias dimensões, logo, a flecha em voo está em repouso.
Os filósofos que defendiam o imobilismo (Parmênides, Zenão e cia) criaram um impasse ao tentar explicar as mudanças que ocorrem no mundo. Em suma, eles diziam que a ocorrência do movimento era uma ilusão dos sentidos. Como essa conclusão não era satisfatória, começou um movimento contrário que acreditava na existência de vários princípios formadores do universo.
Essa oposição era formada por filósofos como Demócrito, o cara do átomo, Anaxágoras, que dizia que a realidade era composta por partículas minúsculas, e um sujeito chamado Empédocles que afirmava que a realidade era composta por terra, água, fogo e ar.
O que unia todas essas visões de mundo era a ideia de que o cosmos não era formado por um único elemento, como diziam Parmenides e Zenão. Mas, na verdade, consistia em vários elementos que, ao se movimentarem, davam vida a uma pluralidade de coisas. É daí o nome múltiplo.
Monismo
Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros a postular argumentos sobre o uno. Isso se iniciou quando eles, procurando uma explicação de mundo que atendesse às suas demandas, afirmaram que existia uma substância fundamental na criação do cosmos, a arché.
Boa parte dessa galera pré-socrática compõe a turma dos chamados Monistas. Os filósofos que mais ficaram conhecidos falando sobre isso foram Heráclito e Parmênides, Zenão de Eleia e, é claro, Tales de Mileto.
Saindo um pouco da Antiguidade, também encontramos a ideia do Monismo em outras épocas ao longo da história. Um exemplo da modernidade é de Baruch Espinoza, que defendeu que devíamos estimar a existência de uma única coisa, a substância.
Por fim, a busca pela realidade última das coisas está no âmago da filosofia, como nos disse Nietzsche ao afirmar que: “quando a ideia tudo é um foi proposta, ela fez de Tales o primeiro filósofo”. Assim, a discussão entre tudo ser uno ou múltiplo é parte vital da Filosofia.
Exercícios:
 (Enem 2016 adaptado)
Texto I
Fragmento B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal alcançar duas vezes a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança, dispersa e de novo reúne.
HERÁCLITO. Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996 (adaptado).
 Texto II
Fragmento B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Como poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se?
PARMÊNIDES. Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).
Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma oposição que se insere no campo das
a) investigações do pensamento sistemático.
b) preocupações do período mitológico.
c) discussões de base metafísica.
d) habilidades da retórica sofística.
e) verdades do mundo sensível.
 C
Filósofos Pré-Socráticos
Os Pré-Socráticos tinham uma fixação em entender a realidade a sua volta, eram pessoas que estudavam a natureza ao seu redor. Por essa razão chamamos alguns deles de filósofos da natureza. Esses são, sem dúvida, os mais famosos filósofos da antiguidade.
Por buscarem entender a organização racional do universo, de maneira diferente do pensamento mítico, os Pré-Socráticos eram vidrados na cosmologia, ou seja, o estudo do cosmos. Isso porque eles se utilizam de princípios e leis que o regem o próprio universo para explicar tudo ao seu redor.
Esses filósofos tentavam encontrar uma relação de causalidade entre os fenômenos da natureza, isto é, buscavam explicar o porquê as coisas acontecem. Ademais, todos buscavam um princípio ou elemento primordial a partir do qual explicariam os fenômenos naturais, a este elemento chamamos Arché.
Principais escolas pré-Socráticas
Podemos dividir os Pré-Socráticos em Escolas a partir do foco e o local de desenvolvimento da Filosofia. As principais Escolas do período Pré-Socrático são:
A Escola Jônica
Foi em Mileto, na Jônia, que esta escola se desenvolveu. Os Pré-Socráticos desta Escola Filosófica procuravam investigar o problema cosmológico.
O que diferencia a Escola Jônica das demais escolas dos Pré-Socráticos é a sua concepção de um tempo unitário e pluralista do universo. (Ahn?) Em outras palavras, essa Escola acreditava em uma substância única deu origem a toda a variedade do cosmos. Foi Tales de Mileto quem “fundou” essa escola e inspirou os outros filósofos Pré-Socráticos a pensarem de maneira contraria ao pensamento mítico. Além de Tales de Mileto, tivemos outros filósofos famosos na Escola Jônica, como Anaximandro, Anaxímenes, Anaxágoras, Arquelau e finalmente Heráclito.
A Escola Pitagórica
A Escola Pitagórica se desenvolveu no sul da Itália. O filósofo principal desta Escola foi Pitágoras de Samos. Esse camarada aí (para tristeza do pessoal de humanas) afirmou serem os números as essências das coisas. Suas investigações da física e matemática eram misturadas com misticismo. (Parece até contradição existir um filósofo místico, não é?)
A Escola Eleática
A Escola Eleática tem o seu nome derivado da cidade de Eleia, lugar de origem de seus principais pensadores: Parmênides, Zenão e Melisso. Os Pré-Socráticos dessa escola divergem dos demais pois não procuraram uma explicação da realidade baseada na natureza. Suas preocupações eram mais abstratas e apresentaram o primeiro sopro de uma lógica e de uma metafísica.
Como você pode ver, essa escola tinha ideias contrárias à Escola Jônica. Na Escola Jônica, Heráclito defendia a ideia de um mundo contínuo, enquanto na Escola Eleática, Parmênides definia um ser único, um ser imóvel.
Nessa treta sobre a origem das coisas, Heráclito apresentava o movimento e a mudança, enquanto Parmênides apresenta a estabilidade e imutabilidade como princípios fundantes. Ao criarem esse debate, eles deixam evidente à Filosofia conceitos importantes como o “ser, o não-ser” e o “devir”.
Esses caras aí também ajudaram na construção do pensamento de outros filósofos. Como, por exemplo, Platão, que a partir destes dois pensamentos criou uma teoria que consistia em dois mundos: um inteligível e outro sensível.
De um lado os Pré-Socráticos de Eleia defendiam a existência de uma realidade única, por isso ficaram conhecidos também como monistas. A realidade para eles era única, imóvel, eterna e imutável. Do outro os Pré-Socráticos de Mileto pensavam o mundo como algo em movimento, a água que congela e evapora, o ápeiron que não pode ser determinado e não é estático, o ar nada palpável e o fogo que está sempre em movimento e transformando o que queima.
A Escola Atomista
Seu fundador foi Leucipo, lá nos idos do século V a.C. Dos Pré-Socráticos dessa Escola destaca-se Demócrito. Esse filósofo propunha que todo objeto físico é composto por átomos e vácuo que se organizavam em diferentes formas. É isso mesmo que você entendeu! Esse cara, no século V antes de Cristo, já estava pensando em Átomo! Inclusive, o termo foi usado por ele pela primeira vez.
Essa Escola atomista acreditava que os átomos eram partículas extremamente pequenas (que não podiam ser separadas ao meio) e possuíam diferentes tamanhos, formas, movimentos, arranjos e posições. Além disso, Demócrito dizia que quando colocados juntos, os átomos criavam tudo o que está no mundo visível.
Por fim, ainda que vários destes filósofos falaram outras paradas que não a natureza das coisas, como é o caso de Demócrito, que escreveu também sobre ética, é o questionar-se sobre a natureza das coisas que os une. Vale lembrar que, nesteperíodo a ideia do ser humano como objeto da Filosofia só vai aparecer com Sócrates. 
Exercícios:
1. (UEL_2003) – “Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a água. Essa proposta é importantíssima… podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar civilização ocidental. ” (REALE, Giovanni. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados pré-socráticos. De acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal problema por eles investigado.
A) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.
B) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.
C) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.
D) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.
E) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação. 
D
A filosofia de Sócrates 
Sócrates se parecia com os sábios professores gregos, embora não “vendesse” seus ensinamentos. Ficava na praça pública (ágora, do grego), desenvolvendo seu saber junto aos mais jovens, mostrando que era preciso a concretude do pensamento, unir o saber e o fazer, consciência intelectual à prática.
O filósofo grego abandona a tradição dos pré-socráticos, de explicação do mundo a partir dos elementos da natureza e concentra-se na problemática do ser humano. Por isso, o autoconhecimento era um dos pontos básicos da filosofia socrática. “Conhece-te a ti mesmo”, frase escrita no Oráculo (local para escutar a resposta de uma divindade), foi uma fala repetida inúmeras vezes por Sócrates para seus discípulos.
Acusado de corromper a juventude e de renegar os deuses atenienses (devido à crença remanescente do período dos mitos), foi condenado a morte por ingestão de um veneno chamado cicuta.
Sócrates e a Dialética
A filosofia de Sócrates era toda baseada em diálogos críticos (dialética) com seus interlocutores, fazendo isso com um método muito claro.
Imagine Sócrates, naquela época, saindo por aí chamando os sofistas para o debate. Eles, diferentemente de certas figuras públicas, não fugiam do debate, e começavam a trocar ideia com Sócrates tentando convencê-lo. Para dar início ao processo dialético, Sócrates fazia uso da ironia ao iniciar sua jornada de rumo à verdade. 
O uso da ironia como método consistia em perguntar sobre algo que seria objeto do debate, negando os pré-conceitos e concepções acerca do assunto em questão. Aliás, ironia vem da palavra eirein. Em uma tradução livre seria algo como perguntar, ou o ato de perguntar fingindo não saber. 
A ironia, enquanto método, se dá pela elaboração de diversas perguntas feitas ao interlocutor visando expor que seu ponto de vista é apenas uma opinião e não uma verdade absoluta e universal. Assim, quando Sócrates começava os seus diálogos, o fazia sempre indagando sobre algo que seu interlocutor tinha como certo para demonstrar que aquilo era somente uma visão parcial do assunto. 
Maiêutica
Dando sequência ao debate, Sócrates continuava fazendo perguntas. Todavia, a finalidade agora era outra. Ao invés de livrar o interlocutor dos preconceitos e opiniões infames, Sócrates queria que o interlocutor conseguisse definir algum conceito a respeito de algo.  
Essas novas perguntas tinham por objetivo conduzir o debate até que alguma nova perspectiva se formasse. Chamamos isso de maiêutica. O termo faz referência à mãe de Sócrates, que era parteira. Por conta disso, a Maiêutica é entendida como a arte auxiliar a dar à luz as ideias. 
Você deve ter reparado que foi dito que a maiêutica auxilia no nascimento das ideias e não que ela gera as ideias, certo? Isso porque Sócrates pensava que nós já possuímos as ideias em nosso espírito. Ele pressupunha que as pessoas tinham uma espécie de alma imortal, sendo necessário apenas encontrar o caminho para que essa ideia viesse ao mundo. 
Sacou como na visão de Sócrates perguntar é a maneira de mostrar o caminho da verdade? Para Sócrates, não é possível que uma pessoa ensine algo a outra, visto que nossos espíritos já sabem das coisas, é necessário apenas lembrá-las.  
Entendemos, então, Filosofia como a arte da reflexão, pois só a partir da reflexão conhecemos o mundo. Assim sendo, ao utilizar a Maiêutica partimos de preposições simples e vamos, pergunta após pergunta, aprimorando nosso conhecimento e nos lembrando daquilo que nossos espíritos aparentemente se esqueceram. 
Por fim, os usos da ironia e da maiêutica alicerçam a Dialética de Sócrates. Começa-se por descontruir os conceitos dúbios gerando um estado de aporia e em seguida busca-se sair desse estado com a maiêutica procurando, assim, o caminho para a verdade.  
Exercícios:
1- (FCC)
Sócrates nada deixou escrito. Suas ideias foram divulgadas por seus discípulos Platão e Xenofonte. Nas conversas com seus discípulos, privilegia as questões morais.Aprendemos de Sócrates que o conhecimento resulta de uma busca contínua, enriquecida pelo diálogo, que corresponde ao filosofar. Sócrates é responsável por um método dialógico que se compõe de dois momentos. 
As etapas do método socrático são: 
a) a dialética e a argumentação. 
b) a ironia e a maiêutica. 
c) o juízo e o raciocínio. 
d) a proposição e a discussão. 
e) a tese e a antítese. 
1- B
O julgamento de Sócrates
Na visão socrática é dever do filósofo opor-se ao misticismo, pois ele obscurece o conhecimento. O misticismo lança suas sombras sobre o mundo e impede as pessoas de desvendarem os mistérios do cosmo. Em outras palavras, filósofo é aquele que se opõe ao mito, buscando de maneira aguerrida a verdade para libertar o mundo das correntes da tirania e do misticismo.
Sócrates levava bem a sério essa “parada” de se opor ao mito. Ele passava seus dias torrando a paciência da galera que achava saber das coisas, mas que na visão socrática era apenas iludida.
Ora, diferente de quem posta “hashtag” nas redes sociais como forma de manifestação política, Sócrates era um cara da ação. Ele ia para a rua, ocupava os espaços públicos e debatia com seus opositores. Combatia os discursos falaciosos ao enfrentar os supostos messias, pessoas que diziam deter o conhecimento, mas tudo que possuíam era um discurso frágil de apelo popular.
Conhecimento x opinião
É justamente na ideia de deter o conhecimento que Sócrates fazia sua maçante filosofia. Segundo o filósofo, é descabido pensar que algo possa ser conhecido de maneira absoluta. Logo, tudo aquilo que constituísse uma definição absoluta das coisas era uma doxa, ou seja, uma reles opinião acerca de algo.
Vamos deliberar aqui, então, que quando você não tem certeza absoluta de algo, chamaremos isso de doxa. Isto é, uma visão de mundo sua que mais parece uma crença do que uma teoria, pois não possui uma comprovação ou uma investigação séria acerca do assunto.
Por exemplo: achar que a Terra é plana, que vacinas fazem mal, que aquecimento global é mentira por que hoje está frio ou até que mesmo acreditar que são os ricos que geram a riqueza. Tudo ilustra o quão absurdo um discurso construído a partir de uma doxa pode ser.
Antagonizando tudo isso existe o verdadeiro conhecimento chamado de episteme. Vale ressaltar que o termo aqui difere em significado daquele empregado por Aristóteles. Então, fique atento, a episteme socrática é uma definição absoluta de algo.
Sendo assim, para Sócrates, chegar a definição absoluta das coisas é uma “parada” importante, pois livra os discursos das ambiguidades deixando mais fácil o entendimento do que está sendo discutido. Do contrário ficaríamos naquela situação “tosca” em que uma das pessoas acha que está discutindo o assunto em questão, mas está falando uma “parada” completamente aleatória. Aposto que já fizeram isso com você!
A condenação da democracia
Nessa jornada em busca da episteme, Sócrates acabou irritando bastante gente,principalmente por conta das “tretas” que acabaram por envolver a organização política da pólis. Se liga no contexto da coisa: Sócrates vivia em Atenas, local onde se teve origem o regime político denominado democracia.
Nesse regime, após a chamada era de ouro ateniense – na qual destaco Péricles, figura importante e maior ícone da época –, começou a decadência da democracia e de suas instituições. É justamente nesse declínio que viveu Sócrates, na crise da democracia grega.
Bom, como era de costume nas manhãs atenienses, o sol brilhava no céu, o vento soprava e Sócrates discutia com os sofistas. Sócrates costumeiramente discutia com os sofistas por conta das divergências de ambos.
Em um desses debates, entre ele e o sofista Glauco, Sócrates usa uma metáfora sobre um navio, indagando sobre quem seria a pessoa ideal para guiar a embarcação. Seria um sujeito admirado pela tribulação, queridinho dos tripulantes, ou alguém versado nas artes marítimas, sujeito estudado e conhecedor de embarcações?
A metáfora deixa evidente a visão antidemocrática de Sócrates, uma vez que os cidadãos atenienses acabam sempre optando por algum sujeito carismático para guiar sua nação em vez de escolher alguém realmente preparado e versado nos estudos políticos.
O voto na visão de Sócrates
A fim de resolver esse problema, Sócrates começou a defender publicamente que o voto é algo que deve ser ensinado. Ou seja, não podemos dar a qualquer pessoa o direito de escolha pois não é qualquer pessoa que está apta a escolher.
Esta visão, embora considerada elitista em algumas panelinhas de filósofos posteriores, foi adotada em certa medida por importantes filósofos da época, como Platão e Aristóteles. Mas vale ressaltar que as histórias que sabemos a respeito de Sócrates foram, em grande parte, narradas pelo próprio Platão.
A proposta socrática, que implicava em um acompanhamento educacional na qual o votante seria versado nas artes da Filosofia para aprender a votar. Com base nessa premissa,  é fácil concluir que ela se aproxima bastante daquela proposta por Platão sobre o rei filósofo, narrada na obra “A República”.
Ao defender que o direito ao voto precisaria ser conquistado após muito se estudar filosofia, Sócrates estava desafiando abertamente o poder vigente em Atenas. Concomitante a isso, como bom filósofo que era, Sócrates fazia, como mencionado, oposição ao mito.
O julgamento de Sócrates
Ao opor-se ao mito, o filósofo ateniense consequentemente acabava se opondo ao panteão grego, isto é, ele negava os deuses e deusas que o estado tinha como verdadeiros.
Imagina só, um sujeito que estava ficando bastante popular ao fazer oposição aos sofistas – que, diga-se de passagem, eram professores dos ricos – em debates públicos. Sujeito esse que era contrário às explicações fantasiosas que a religião e o Estado forneciam ao povo. Inclusive, opunha-se ao regime democrático de Atenas.
E para deixar a lenda mais legal ainda, além disso tudo, Sócrates dizia que a única coisa que ele sabia era que não sabia de nada! Gente, como não amar essa fofura de filósofo?
Como era de se esperar, toda essa irreverência e rebeldia de Sócrates teve um preço. O filósofo incomodou bastante gente poderosa, uma vez que o povo passou a se questionar acerca do mundo e de como as coisas são da maneira que são.
Aí já sabe: um povo crítico e esclarecido é algo que o governo definitivamente não quer! Para os poderosos é preferível que o povo se porte feito gado enquanto são conduzidos para o abatedouro e não como filósofos questionadores do status quo.
Por conta de toda essa parada, Sócrates de Atenas, considerado a pessoa mais sábia da Grécia, foi acusado de corromper a juventude com sua filosofia, bem como, de negar os deuses e até criar novos. Tais acusações foram levadas ao tribunal, no qual se deu o julgamento de Sócrates.
A argumentação no julgamento
No tribunal, constituído por 501 cidadãos, os acusadores Ânito, Meleto e Lícon, difamavam Sócrates em frente os cidadãos. Ânito, que era um político influente da democracia ateniense – e também rico, curtidor de peles e influente orador –, dizia que seu filho se tornou discípulo de Sócrates, que ria dos deuses e se voltava contra o Estado.
Na obra “Apologia a Sócrates”, é relatado que Sócrates refutou as acusações que pendiam sobre ele. Disse que sua ocupação era justamente mostrar aos cidadãos que a verdadeira virtude não vinha da riqueza, tampouco dos bens materiais.
Nas palavras de Platão, Sócrates teria dito em julgamento:
“Não tenho outra ocupação senão a de vos persuadir a todos, tanto velhos como novos, de que cuideis menos de vossos corpos e de vossos bens do que da perfeição de vossas almas, e a vos dizer que a virtude não provém da riqueza, mas sim que é a virtude que traz a riqueza ou qualquer outra coisa útil aos homens, quer na vida pública quer na vida privada. Se, dizendo isso, eu estou a corromper a juventude, tanto pior; mas, se alguém afirmar que digo outra coisa, mente”.
Daí julgamento vai, julgamento vem, e Sócrates vai “trolando” geral, lacrando os acusadores que, por vezes, acabavam por não saber ao certo do que estavam acusando Sócrates. Quando foi dado um veredito, em uma votação de margem apertada, o destino de Sócrates não poderia ser outro que não de culpado.
Condenação de Sócrates
O julgamento de Sócrates terminou com o acusador Meleto pediu a pena de morte. Entretanto, como a margem tinha sido apertada e Sócrates tinha muita moral em Atenas – afinal de contas, o cara lutara bravamente na guerra por sua cidade e por seu povo – a pena poderia ser convertida em outra coisa, geralmente algo financeiro. Era só pagar uns trocados que ele poderia sair dali.
Todavia, aceitar uma pena qualquer que fosse, era, para Sócrates, aceitar ser culpado. Então, o filósofo acabou por argumentar com seus algozes e escolheu a morte. Juntando seus camaradas, decidiu por beber cicuta (veneno) e selar seu destino. Assim se foi Sócrates.
Por fim, sua morte deixaria em evidência como ele estava correto em sua crítica a democracia, pois, por uma votação, Sócrates foi injustiçado. E a injustiça do julgamento de Sócrates foi cometida por cidadãos de bem que foram levados ao caminho errado pelos discursos dos poderosos que visavam interesses próprios, diferente de Sócrates, que permaneceu correto até o fim, um pináculo da virtude.
Exercícios sobre o julgamento de Sócrates:
1- (Fac. Cultura Inglesa SP)
Sócrates foi julgado e condenado à morte pelo tribunal da cidade de Atenas por volta do ano de 399 a.C. O filósofo fez a sua defesa no tribunal ateniense, procurando refutar seus acusadores:
Cidadãos atenienses, eu vos respeito e vos amo, mas enquanto eu respirar e estiver na posse de minhas faculdades, não deixarei de filosofar e de vos exortar ou de instruir cada um, dizendo-lhe, como é meu costume: – Ótimo homem, tu que és cidadão de Atenas, da cidade maior e mais famosa pelo saber e pelo poder, não te envergonhas de fazer caso das riquezas, para guardares quanto mais puderes e da glória e das honrarias, e de não fazer caso da sabedoria, da verdade e da alma?
(Platão. Apologia de Sócrates, 1969. Adaptado.)
O sentido que Sócrates dava à razão pode ser relacionado, no aspecto político, com a implantação, em Atenas, da
a) Oligarquia.
b) Teocracia.
c) Tirania.
d) Democracia.
e) Talassocracia.
D
Os Sofistas
Os Sofistas eram uma espécie de tutores ambulantes que percorriam as cidades ensinando a arte da retórica às pessoas interessadas. Porém, isso era feito mediante pagamento (eram “empreendedores”). Eles se ocupavam de ensinar o que os gregos chamavam de Arete, isto é, a virtude. A principal finalidade de seus ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política.
Todavia, só nos restou desses de seus ensinamentos alguns poucos fragmentos e tampouco algumas citações. Assim sendo, fica complicado entender certinho como esses caras pensavam. Ainda que, saibamos coisas importantes sobre a Filosofia dos Sofistas, a maior parte do conhecimento que temos sobre eles vem Platão e Aristóteles. Que, diga-se passagem, foramopositores dos Sofistas.
Por essa razão, antes de nos aprofundarmos nos Sofistas, vamos trocar uma ideia sobre o contexto histórico que estava rolando naquela época.
Contexto histórico
Athenas durante o século V a.C teve como governante um homem chamado Péricles. Durante seu regime, tivemos o auge da democracia ateniense.
O exercício da Democracia ateniense acontecia na Ágora. A Ágora era uma espécie de praça pública, onde se fazia a política por meio da argumentação e da retórica. Essas duas artes eram muitos populares (ainda são) pois, a partir delas era possível convencer os outros de suas opiniões e ideias por mais estranhas, nefastas ou mentirosas que fossem. 
As pessoas apelavam para os Sofistas na intenção de aprimorarem sua retórica para as dificuldades que enfrentariam na vida pública. Por isso os Sofistas não eram bem uma escola filosófica, era mais como uma “prática”.
Embora a democracia exista até hoje, vale lembrar que a democracia ateniense diverge bastante do conceito atual de democracia. Na Grécia, faziam parte da vida política apenas os cidadãos, isto é, os homens, maiores de idade possuidores de bens. Ser cidadão na Grécia era ser “playboy”, cheio da grana e do prestigio.
Pois bem, temos aqui uma “treta”, muito atual por sinal. Veja só: toda essa necessidade de uma boa argumentação e o dinheiro envolvido, vai ser o cenário perfeito para a ascensão dos Sofistas. Contudo, como você já sabe, só quem tem a grana era capaz de contratá-los. Portanto, somente os mais ricos tinham acesso a esse conhecimento.
As ideias Sofistas
Mas afinal, o que eles ensinavam que deixava todo mundo bom de oratória e retórica? Os Sofistas propagavam a ideia de que o conhecimento é relativo, isto é, só será verdade aquilo que for útil para ação humana.
Com isso, eles alastram a ideia de que nós só conseguimos expressar opiniões a respeito de qualquer tema se tivermos capacidade de argumentar. Ou seja, os Sofistas não estavam interessados na procura pela verdade e sim no refinamento da retórica, a arte de vencer discussões. Para eles, a verdade era relativa de acordo com o lugar e o tempo em que o homem está inserido.
Principais Sofistas
Temos entre os principais Sofistas: Protágoras, Górgias, Pródico, Hípias, Trasímaco, Antifonte e Crátilo. Vale então falar um pouco de Protágoras, um dos mais conhecidos Sofistas, uma vez que Platão mencionou ele em uma de suas obras.
No diálogo Teeteto, Platão dá voz ao pensamento de Protágoras:
“O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são e das que não são como não são”.
Isso significa, em outras palavras, que se uma pessoa pensa que uma coisa é verdade, tal coisa é a verdade para ela.
Sócrates e os Sofistas
Toda essa conversa de relativismo vai irritar alguns filósofos, em especial um cara chamado Sócrates. Esse camarada aí ensinava a galera, mas não curtia a ideia de cobrar pelas aulas. Sócrates acreditava que o ensino não era uma mercadoria que podia ser comprado, mas uma parada que era construída.
Descordando dos Sofistas, Sócrates pensava que a opinião é uma expressão individual, todavia o conceito é universal, ou seja, você até pode ter uma opinião, mas não significa que ela seja válida.
De um lado os Sofistas ensinavam (mediante pagamento) a retórica para que seus alunos pudessem convencer os outros que sua opinião é a melhor. Do outro lado, Sócrates ensinava (de graça) à dialética contrapondo argumentos (por meio da maiêutica).
Sócrates dizia que não sabia de nada para levar seus interlocutores a duvidar do próprio conhecimento e com isso chegar a um conhecimento seguro pois, estava preocupado com a verdade.
Exercicos 
Questão 01 – (UEA AM/2014)    
O sofista é um diálogo de Platão do qual participam Sócrates, um estrangeiro e outros personagens. Logo no início do diálogo, Sócrates pergunta ao estrangeiro, a que método ele gostaria de recorrer para definir o que é um sofista.
Sócrates: – Mas dize-nos [se] preferes desenvolver toda a tese que queres demonstrar, numa longa exposição ou empregar o método interrogativo?
Estrangeiro: – Com um parceiro assim agradável e dócil, Sócrates, o método mais fácil é esse mesmo; com um interlocutor. Do contrário, valeria mais a pena argumentar apenas para si mesmo.
(Platão. O sofista, 1970. Adaptado.)
É correto afirmar que o interlocutor de Sócrates escolheu, do ponto de vista metodológico, adotar
a) a maiêutica, que pressupõe a contraposição dos argumentos.
b) a dialética, que une numa síntese final as teses dos contendores.
c) o empirismo, que acredita ser possível chegar ao saber por meio dos sentidos.
d) o apriorismo, que funda a eficácia da razão humana na prova de existência de Deus.
e) o dualismo, que resulta no ceticismo sobre a possibilidade do saber humano.
1. A, 
Sócrates e os Sofistas
Na Grécia Antiga, na parte baixa de uma cidade (em Atenas, como no exemplo) situava-se a ágora ou praça pública. Esse espaço tinha uma relevância gigante porque ali se discutia os rumos da cidade, tomavam-se as decisões e discutiam-se as ideias filosóficas.
E, na ágora, estavam os sofistas (palavra derivada do grego que significa “grande mestre ou sábio” ou “super sábios”). Estes filósofos residiam nas periferias gregas, muito embora não tivessem um local específico ou uma residência, porque eram como que professores viajantes vendendo seus conhecimentos, principalmente a arte da retórica, do falar bem.
Se utilizavam do areté (do grego, significa “excelência” ou “virtude”), para ensinar as artes gregas que eram muito valorizadas na época (esportes, política e matemática, por exemplo). O momento histórico desse tempo favorecia essas relações de aprendizado. Devido às assembleias democráticas, os cidadãos sentiam a necessidade de aprender a falar em público e, na discussão de ideias, persuadir as pessoas e fazer prevalecer os interesses individuais ou de seu grupo social.
No decorrer do tempo, os sofistas foram ganhando uma conotação não muito boa: a de enganadores ou ladrões do saber. Principalmente pelas críticas de Sócrates e Platão, como veremos daqui pra frente. A arte dos sofistas ou a sofística, começou a ser alvo de críticas pelos filósofos antigos, uma vez que, segundo eles, não buscava a verdade (a aletheia, do grego), mas sim, buscava manipular, iludir e produzir falsos conhecimentos. Para os pensadores antigos, a busca pela verdade era o principal foco do ensinamento e da busca filosófica, assim como afirma Sócrates: “uma vida que não tem busca, não merece ser vivida”.
A crítica dos filósofos clássicos, como assim são conhecidos Sócrates, Platão e Aristóteles, vem de encontro ao tipo dos ensinamentos dado pelos sofistas, principalmente o da retórica e o bom uso do Areté. E por que a ideia de excelência e virtude retornam logo aqui? Para Sócrates, essencialmente, você ensinar ou indicar o caminho das virtudes para as pessoas era um dever, uma missão para com o ideal do conhecimento e a sua busca necessária. Não algo a ser vendido como faziam os Sofistas.
Portanto, a crítica por parte de Sócrates e de outros filósofos é o da instrumentalização do ideal de excelência e virtude (o Areté), demonstrando que a forma de ensinamento dos sofistas parte de pressupostos e olhares que não eram o da justiça, do bem comum ou também do autoconhecimento (foco da reflexão socrática).
Dentre alguns sofistas que caminhavam pela Grécia, ficaram mais conhecidos: Protágoras de Abdera (séc V a.C) que afirmava que “o homem é a medida de todas as coisas”, ou seja, o mundo é relativo a cada um, suas vivências e percepções da realidade. Protágoras embasava suas reflexões no subjetivismo. O outro sofista conhecido é Górgias de Leontini (séc V a.C), que foi um grande orador e os documentos históricos afirmam que, ele falava tão bem que era capaz de convencer qualquer pessoa sobre qualquer coisa.
Embora Sócrates fosse confundido com os sofistas, justamente por estar em grande parte nos mesmos espaços, ele travou grandes polêmicas com os “sábios” sofistas. O filósofo procurava respostas para perguntas essenciais para a caminhada humana: oque é o bem? O que é a virtude? O que é a justiça? Sócrates afirmava que os sofistas não procuravam as respostas mais profundas para essas realidades, porque eles se preocupavam com a ilusão do conhecimento ou não o desejavam de toda vontade.
A Filosofia de Platão e o Mundo das Ideias
Os pré-Socráticos
Dentre as várias ideias que surgiram na Grécia na tentativa de explicar o mundo e seu funcionamento, duas delas foram imprescindíveis para que Platão desenvolvesse essa parada de Mundo das Ideias.
Os autores dessas ideias foram Heráclito e Parmênides. Filósofos de correntes de pensamento diferentes que tentavam explicar o mundo a partir de pontos de vistas antagônicos.
Na vulgata filosófica, Heráclito é o pensador do panta rei “tudo flui” e do fogo, que seria o elemento do qual deriva tudo o que nos circunda. Sintetizando a ideia de um mundo em movimento perpétuo.
O Heráclito, vulgo Skoteinós, algo como “O Obscuro” em grego antigo, era um cara que entendia o mundo de maneira mais caótica. Muitos o consideravam contraditório pelo fato de suas ideias parecerem muitas vezes sem sentido.
Heráclito falou sobre um mundo que é contínuo pois, está sempre em constante movimento. Esse movimento era importante de maneira tal que coisa nenhuma é idêntica tampouco imutável, ao contrário, transforma-se.
Deixa-me exemplificar as ideias desse nosso filósofo obscuro. Pense em quando você olha para a chama de uma vela. Parece meio óbvio que a chama ardendo é sempre igual, embora tremule e crepite, parece sempre a mesma. Mas não é. Na realidade, o que estamos vendo é um processo de transformação!
A vela está numa constante transformação: a cera da vela é transformada em fogo, o fogo em fumaça e a fumaça em ar. Louco, né? Tudo isso acontecendo num mesmo instante em um eterno caos de transformações.
É nesse caos de transformações que Heráclito desenvolve suas ideias. Isso vai de encontro ao que pensa a outra personagem desse post, nosso querido Parmênides. Ele dizia que o ser é imutável, infinito e imóvel, assim ele não se transforma mas permanece sempre idêntico a si mesmo.
É importante entender que nas ideias de Parmênides a aparência sensível do mundo não existe. Isto é, as coisas irão sempre parecer em movimento, mas isso não passa de ilusão.
Vamos olhar uma vela de novo para entender melhor. É possível perceber a luz vinda da vela e em decorrência disso a escuridão. Para Parmênides a escuridão não passa de uma negação da luz, uma não-luz. Sabendo disso já dá para você olhar aquela famosa citação “O Ser é e o Não-Ser Não é” além do tom de obviedade!
Platão analisou que enquanto a unidade de Parmênides é idêntica e imutável, a de Heráclito está entre dois polos. Isto é, mesmo que o “Ser e o Não-Ser” sejam parte e coabitem o mesmo, não podem ser descartados como simples ilusões.
A partir dessas ideias, Platão elaborou uma teoria metafísica dualista, ou seja, ele dividiu o mundo em duas categorias: o Mundo das Ideias e das Formas e o mundo sensível.
Mundo das Ideias e o Mundo Sensível
Esse tal de Mundo das Ideias é o local onde estaria a essência de tudo, sejam conceitos ou coisas. No Mundo das Ideias encontramos as Ideias fixas e imutáveis (olha o Parmênides aqui) que geram essencialmente cada coisa que existe seja ela ser ou objeto.
Ora, o tal do Mundo Sensível, em oposição ao Mundo das Ideias, é a realidade do dia a dia, esse cotidiano que vive se transformando (olha o Heráclito aqui) e que experienciamos através de nossos sentidos (daí o nome sensível).
Para Platão o mundo sensível é uma realidade “fake”. A realidade não passa de uma ilusão e, como toda fakenews, nos leva ao erro. Portanto, por percebemos o mundo com nossos sentidos, enxergamos as aparências das coisas do mundo e não sua essência. Essa essência aí estaria em outro mundo, o das Ideias.
O mundo das Ideias está relacionado com a chamada teoria da alma. Num livro chamado a Republica, Platão vai afirmar que as pessoas possuem corpo e alma.
O corpo, como você sabe, é uma parada que se transforma (espera só a puberdade que você vai ver), mas a alma é imutável. (Ah! Agora ficou ainda mais fácil entender a inspiração dialética de Heráclito e Parmênides).
Veja Platão e o Mito da Caverna:
Podemos ver essa teoria de Platão ao longo de todas as suas obras. Essa ideia é pioneira no estabelecimento do conceito de idealismo pois, quando Platão criou seu Mundo das Ideias passamos a nos questionar a respeito da verdadeira essência em sua forma ideal, o que seria a verdade absoluta e imutável.
Por fim, segundo nosso camarada Platão, o que conhecemos por meio de nossos sentidos seriam apenas ilusões, por conseguinte, são apenas imitações da verdade. O verdadeiro conhecimento se encontra no Mundo das Ideais.
Exercícios 
1 – Universidade Estadual Paulista (UNESP) 2009
O que é terrível na escrita é sua semelhança com a pintura. As produções da pintura apresentam-se como seres vivos, mas se lhes perguntarmos algo, mantêm o mais solene silêncio.
O mesmo ocorre com os escritos: poderíamos imaginar que falam como se pensassem, mas se os interrogarmos sobre o que dizem (…) dão a entender somente uma coisa, sempre a mesma (…) E quando são maltratados e insultados, injustamente, têm sempre a necessidade do auxílio de seu autor porque são incapazes de se defenderem, de assistirem a si mesmos.
Platão, Fedro ou Da beleza. São Paulo; Guimarães, 1998
Nesse fragmento, Platão compara o texto escrito com a pintura, contrapondo-os à sua concepção de filosofia.
Assinale a alternativa que permite concluir, com apoio do fragmento apresentado, uma das principais características do platonismo.
a) A forma de exposição da filosofia platônica é o diálogo, e o conhecimento funda-se no rigor interno das argumentações, produzido e comprovado pela confrontação dos discursos
b) O platonismo se vale da oratória política, sem compromisso filosófico com a busca da verdade, mas dirigida ao convencimento dos governantes das Cidades
c) Platão constrói o conhecimento filosófico por meio de pequenas sentenças com sentido completo, as quais, no seu entender, esgotam o conhecimento acerca do mundo
d) O discurso platônico tem a mesma natureza do discurso religioso, pois o conhecimento filosófico modifica-se segundo as habilidades e a argúcia dos filósofos
e) A poesia rimada é o veículo de difusão das ideias platônicas, sendo a filosofia uma sabedoria alcançada na velhice e ensinada pelos mestres aos discípulos
 1.A
A filosofia de Platão
A Academia de Platão
Platão deu este nome à sua escola filosófica em homenagem a um legendário herói grego chamado de Academo. Até hoje usamos o termo Academia para as Universidades – veja: as matérias são chamadas de disciplinas acadêmicas e os estudantes são chamados de acadêmicos.
Além de propagar sua própria linha de pensamento com a demarcação entre o mundo das ideias, onde a perfeição seria possível, e o mundo dos sentidos, onde impera a percepção da realidade, a obra de Platão resgata o pensamento de Sócrates.
O mundo das ideias
Platão acreditava que por de trás de nossa realidade material existe uma realidade abstrata.
Vamos exemplificar: quando você vai à padaria e encontra um monte de pães parecidos, já se perguntou por que estes pães ficam quase do mesmo tamanho e do mesmo formato? Se estiveres pensando que é por causa da forma, acertou.
A forma, como o nome já diz, dá o formado parecido de todos os pães. Para Platão, todas as coisas do mundo são como os pães da padaria, ou seja, por trás de tudo que existe, há uma forma.
No mundo das ideias, existem todas as ideias primordiais, sendo que essas ideias são perfeitas e eternas – as formas. Uma cadeira, por exemplo, pode mudar o formado (redonda, quadrada, 3 ou 4 pés), mas a “ideia cadeira” sempre será a mesma: um objeto para sentar.
Segundo Platão, só podemos alcançar essa realidade – o mundo das ideias – por meio da razão.
O mundo dos sentidos
O mundo dos sentidos para Platão é o mundo que habitamos – o mundo material. Este mundo é uma cópia do mundo das ideias. No entanto, por ser uma cópia, ela está sujeito ao erro

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