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História_da_infância tema 3

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DESCRIÇÃO
Abordaremos a construção social do conceito de infância por meio de uma contextualização
histórica. Para isso, destacaremos as suas especificidades no Brasil, país permeado por
desigualdades sociais que influenciam na caracterização dela em suas diferentes nuances. Por
fim, discutiremos os marcos legais para a constituição da infância no país.
PROPÓSITO
Conhecer a história da infância significa apontar questões que definem a construção da nossa
sociedade. Isso favorece um entendimento das modificações ocorridas ao longo do tempo
sobre esse tópico, além de ampliar a visão da criança em seu papel social. Esse conhecimento
também favorece a compreensão dos avanços na legislação e a problematização de possíveis
afastamentos e aproximações entre diferentes períodos históricos, destacando as diferenças
que ainda permeiam a diversidade de infâncias no contexto brasileiro.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Explicar a construção social do conceito de infância ao longo do tempo no Brasil
MÓDULO 2
Identificar as diferenças históricas sobre a ideia de criança no Brasil
MÓDULO 3
Reconhecer marcos legais importantes na construção histórica da ideia de infância no Brasil
MÓDULO 1
 Explicar a construção social do conceito de infância ao longo do tempo no Brasil
Flavia Miguel é historiadora e atua a 15 anos na formação de professores no ensino superior.
Ela faz uma apresentação sobre a História da Infância permitindo que você entenda um pouco
mais os caminhos que passa a trilhar.
A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CONCEITO DE
INFÂNCIA
Quando pensamos na palavra história, comumente a atrelamos à ideia de um passado
distante. Rememoramos, portanto, momentos que marcaram nossa jornada ou que nos
impactaram de alguma maneira, concorda?
Em alguns casos, recordamos situações que aconteceram: sentindo cheiros e sabores,
fazemos comparações entre a ideia de uma “era que já se foi” e “tempo de hoje”.
QUANDO ENTRAMOS EM CONTATO COM A PALAVRA
INFÂNCIA, ESMIUÇAMOS UM POUCO MAIS AS
LEMBRANÇAS DE NOSSAS HISTÓRIAS, ALUDINDO A
UM PERÍODO ESPECÍFICO DE NOSSAS VIDAS
DELIMITADO PELA IDADE (DESDE O NASCIMENTO
ATÉ O QUE CHAMAMOS DE ADOLESCÊNCIA).
Esse movimento de refazer caminhos da memória, estabelecendo conexões entre passado e
presente (ou da infância à vida adulta), nem sempre foi tão simples assim. A infância, da
maneira que a idealizamos ou discutimos hoje em dia, nem sempre existiu.
Nesse ínterim, destaca-se o trabalho e o papel da História: ao recuperar imagens e
informações, você poderá perceber que o entendimento e a vivência sobre o que é chamado
de infância foi, ao longo do tempo, constituído de elementos bem diversos.
MAS VOCÊ SABIA QUE A IDEIA DE INFÂNCIA MUDA
COM O TEMPO, O ESPAÇO E AS TRADIÇÕES
FAMILIARES?
VAMOS FAZER UM EXERCÍCIO DE
RECONHECIMENTO.
Busque registros fotográficos de seus antepassados (pais, avós ou bisavós) quando eram mais
novos. Repare em suas vestimentas, procurando saber sobre suas vivências na infância e
como era a relação deles com os adultos. Reuna as informações coletadas, comparando-as
com o presente.
 SAIBA MAIS
As diferenças não se limitam às mudanças nos costumes e nas roupas: antigamente, a própria
visão sobre a criança também era diferente. Em determinados contextos, ela aparecia como
um "miniadulto". Essa visão permeava os contextos sociais da época, forjando uma noção de
infância modificada ao longo dos anos. Você, por exemplo, pode ter ouvido histórias de
algumas cujo passado foi maravilhoso, sendo protegido e vivenciado de uma forma especial.
Crianças que tinham uma verdadeira rede de proteção social e um quadro de projeção de
futuro e investimento familiar. No entanto, também irá conhecer histórias tristes sobre outras
que trabalhavam efetivamente ou viviam processos migratórios, sofrendo com isso. Ainda há
aquelas cuja infância foi negada ou destruída pelos motivos mais diversos. O que você vai
descobrir, a partir de agora, é que o estudo sobre a infância é algo muito mais complexo.
MINIADULTO
De caráter histórico, esta imagem do miniadulto ainda está muito presente no chamado senso
comum. Em sociedades tradicionais, as crianças comumente não eram vistas de maneira
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específica; afinal, um infante precisava ser preparado para a sua inserção no mundo adulto.
Dessa forma, nos antigos e primeiros manuais de educação, havia constantemente a seguinte
apresentação: até os oito anos, a criança estava sob a responsabilidade da mãe –
especialmente em sociedades ocidentais –, momento em que deveria aprender os “modos”, ou
seja, como comer, obedecer, se vestir e se alimentar. Depois disso, meninos passavam a sofrer
uma influência masculina: vestidos como o pai, tinham de reproduzir o que ele fazia até
aprender isso. Se não estivessem com ele, ficavam com os outros meninos para crescer e se
desenvolver. Já as meninas estavam restritas aos afazeres domésticos: preparadas para o
casamento, elas, futuras esposas, deviam cuidar das crianças mais novas.
Os estudos desenvolvidos a partir do século XX articulavam campos, como, por exemplo, a
Sociologia, a Filosofia, a História, a Antropologia e a Psicologia.
O QUE ISSO SIGNIFICA?
TAIS ESTUDOS AJUDARAM A DESENVOLVER UMA
NOÇÃO DE INFÂNCIA QUE NÃO SE LIMITA APENAS À
IDADE, MAS TAMBÉM A UM CONTEXTO HISTÓRICO E
SOCIAL QUE CIRCUNDA A VIDA DAS CRIANÇAS
MENORES. ELES DEFENDEM, ENFIM, QUE ESSES
CONTEXTOS CONSTITUEM E FORJAM UMA
IDENTIDADE PARA ELAS. CONTUDO, TAL CONQUISTA
AINDA É RECENTE. O APROFUNDAMENTO DESSES
ESTUDOS PERMITIU QUE A VISÃO DA CRIANÇA
COMO UM SUJEITO DE DIREITOS FOSSE DISCUTIDA E
CADA VEZ MAIS CORROBORADA.
Neste vídeo, temos uma roda de conversa entre os professores Allan Rodrigues, Camila
Machado e Simone Berle. Eles estabelecem como a multidisciplinaridade adiciona novas
camadas e ressignifica o entendimento sobre a infância e o próprio conceito de criança.
NA DÉCADA DE 1970, OS ESTUDOS DE PHILIPPE
ARIÈS EMBASARAM, NA AMÉRICA E NA EUROPA, AS
DISCUSSÕES SOBRE A INFÂNCIA A PARTIR DE SEU
CONTEXTO SOCIAL E HISTÓRICO.
MAS, AFINAL, O QUE ISSO QUERIA DIZER?
 Philippe Ariès
Especialmente na obra História social da criança e da família, de 1981, Ariès evidenciou a
importância de observarmos as necessidades específicas referentes à idade das crianças, um
dos fatos mais importantes para consolidar ideia de infância.
Relacionar algumas especificidades a um determinado momento da vida não era algo tão
natural naquela época; por isso, o autor foi considerado um dos precursores da discussão.
ARIÈS AINDA ANALISOU ALGUMAS IMAGENS DE
FAMÍLIAS EUROPEIAS NA IDADE MÉDIA,
DESTACANDO MODIFICAÇÕES EVIDENCIADAS AO
LONGO DO TEMPO. AFINAL, COMO PODEMOS VER
NAS DUAS IMAGENS A SEGUIR, A PASSAGEM DELE
DEMONSTRA COMO A RELAÇÃO COM A CRIANÇA SE
MODIFICOU.
HISTÓRIA SOCIAL DA CRIANÇA E DA FAMÍLIA
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Em História social da criança e da família, Ariès mostra como a sociedade muda quando as
atitudes daqueles que a compõem se modificam. Seu argumento baseia-se na ideia de que, a
partir do século XVIII, o compromisso dos pais com seus filhos, antes que a criança se
tornasse adulta, nasceu com o controle da natalidade e o declínio da fecundidade. A alta
mortalidade incentivava uma excessiva atenção materna e paterna.
Na sociedade medieval, destaca Philippe Áries, o conceito de infância sequer existia, porém
isso não significa que suas crianças eram negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. Esse
conceito não deve ser confundido com a atenção aos filhos; na verdade, ele corresponde a
uma tomada de consciência – até então inexistente – da criança em particular. O autor aborda
a importância das brincadeiras, as pequenas escolas, o ensino diferenciado e a "invenção" da
infância a partir do momento em que as mulheres passam a ter menos filhos, tendo eles uma
sobrevida maior em relação a épocas anteriores. A criança, portanto, é primordialmente um ser
distinto do adulto, possuindo valores próprios, como fantasia, ingenuidade e ludicidade.
 Livro Históriasocial da criança e da família.
 ATENÇÃO
Estudos como o de Ariès ajudaram a criar uma nova dinâmica de entendimento sobre o
conceito de criança. Nota-se que a passagem dos anos cristalizou tais mudanças na própria
percepção dos pais, da sociedade e do sistema educacional sobre o que é uma criança. Por
isso, seus estudos foram tão importantes para essa abordagem.
Com isso, começam a ser debatidos números:
ATÉ QUE IDADE DURA A INFÂNCIA E QUANDO
COMEÇA A ADOLESCÊNCIA? QUANDO UM ADULTO
SE TORNA SENHOR DE SI?
Atualmente, isso pode parecer natural para você; afinal, todos sabemos a idade necessária
para abrir uma conta, atingir a maioridade penal ou poder participar de cada série escolar. Isso
definitivamente está cristalizado em nossa mente, mas tais visões surgiram apenas nas
décadas de 1960 e 1970.
Vamos percorrer os caminhos delineados por Ariès:
Seus estudos sobre a infância buscavam perceber, pela análise de determinadas imagens,
alguns elementos específicos, como o fato de as crianças estarem vestidas como adultos.
O AUTOR COMPREENDIA QUE ISSO, ALÉM DE
OUTROS FATORES, SIMBOLIZAVA UMA AUSÊNCIA DO
“SENTIMENTO DE INFÂNCIA”.
A partir de seus estudos, podemos conceber um contexto histórico em que diferentes
conceitos de infância foram desenvolvidos. Mesmo sendo modificados pelo tempo, eles são
vitais para a concepção de uma sociedade.
CONTEXTO HISTÓRICO
O conceito de infância pode ser considerado historicamente recente. Os estudos sobre a sua
história podem abarcar três concepções:
Criança Adulto
Criança Institucional
Criança Social
Vamos entender cada uma delas de forma mais detalhada.
CRIANÇA ADULTO
Nesta concepção, que tem origem na Idade Média, a criança era vista como um “miniadulto”.
As necessidades específicas da faixa etária sequer eram pensadas.
ELA ERA TRATADA SOMENTE COMO UM PEQUENO
SER QUE LOGO SE DESENVOLVERIA PARA EXERCER
SUAS FUNÇÕES NA SOCIEDADE.
O sentimento de infância, como conhecemos atualmente, não existia naquele momento. Às
crianças, eram ensinados saberes necessários para que elas se tornassem adultos civilizados.
SER CONSIDERADO UM “MINIADULTO” SIGNIFICA
NÃO RECEBER NENHUM TIPO ESPECÍFICO DE
ATENÇÃO. AS CRIANÇAS, PORTANTO, TINHAM O
MESMO TRATAMENTO CONFERIDO AOS ADULTOS,
PARTICIPANDO DA VIDA SOCIAL AO LADO DELES.
ELAS SÓ EXIGIAM ALGUNS CUIDADOS ATÉ O
MOMENTO EM QUE CONSEGUISSEM REALIZAR SUAS
ATIVIDADES POR CONTA PRÓPRIA.
TRATAMENTO CONFERIDO AOS ADULTOS
À exceção dos recém-nascidos, que eram responsabilidade absoluta da mãe e cuja morte
normalmente lhe gerava uma penalidade, as crianças que superavam a chamada primeira
infância (até os três anos de idade) não recebiam nenhum favor em termos de cuidado e
educação; logo, elas não estavam poupadas de castigos físicos, assim como não eram
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incomuns iniciações sexuais e abusos tremendamente precoces. Normalmente criticados pela
Igreja, eles eram considerados uma manifestação de práticas rústicas.
O reflexo disso pode ser percebido nas histórias de muitos idosos; segundo seus relatos,
desde muito pequenos eles eram responsáveis por cuidar da casa e de seus irmãos mais
novos, assim como iniciavam no mercado de trabalho ainda crianças.
Na Idade Média, era muito comum o infanticídio; desse modo, a alta taxa de mortalidade de
crianças era uma questão marcante. As famílias encaravam a perda dos filhos como algo
natural, pois logo eles poderiam ser substituídos por outros.
INFANTICÍDIO
O termo refere-se à morte de crianças – em geral, as recém-nascidas. São entendidas como
formas de infanticídio as mortes daquelas que nasciam com defeitos, fracas ou com marcas,
cujas mães reagiam com depressão ou tinham dificuldade de fornecer leite, além de outras
ações que poderiam ser evitadas. Ainda havia situações mais corriqueiras que podiam ser
fatais, como baixa de temperatura, falta de higiene, intoxicação, pequenos ferimentos etc.
CRIANÇA INSTITUCIONAL
Na segunda concepção, a criança passa a ser compreendida como um indivíduo institucional
que necessita de cuidados específicos para cada faixa etária que são essenciais para seu
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desenvolvimento.
NESTE PERÍODO, ELA PASSA A SER CONCEBIDA
COMO FILHO(A) E ALUNO(A), PASSANDO A SER
TRATADA COMO CRIANÇA DE FATO.
Regressemos um pouco mais na história para compreendermos como tal sentimento foi se
desenvolvendo. Na França do século XVII, a inocência e a fragilidade são adjetivos que
passam a acompanhar essa ideia, forjando, desse modo, o que viria a ser entendido como
“sentimento de infância”. No período, por exemplo, passam a ser produzidas vestimentas
específicas para o público infantil.
SEGUNDA CONCEPÇÃO
Temporalmente percebida na pesquisa de Philippe Ariès sobre a segunda metade do século
XVI, esta concepção perpetuou-se ao longo dos séculos seguintes. Muitos autores posteriores
chamam este período de momento da formação da família moderna, cujos núcleos menores e
segmentados em casas diversas justificam a adoção de cômodos específicos para adultos e
crianças. Ariès também destaca que este modelo não invalida a existência do anterior,
constituindo um fenômeno de tentativa de transposição das famílias burguesas para modelos e
costumes da corte.
A ideia de amor materno e da importância dos sujeitos por si só – e não por suas funções
sociais desempenhadas – é uma questão cujo desenvolvimento foi operado na sociedade ao
longo do tempo. No final do século XVIII, por exemplo, o cuidado com os filhos já é uma
realidade em muitos lares. A partir de sua ligação com a mulher, a maternidade coloca as
crianças em evidência. O ato de cuidar, até então função das “amas de leite”, agora constitui
uma tarefa pertinente às mães de cada criança.
A dependência dos adultos surge aí como mote para a construção da criança como centro de
atenção das famílias. Ela é entendida como um sujeito que requer esforços de terceiros para
poder se tornar um adulto considerado civilizado.
EMBORA RECONHECIDA INSTITUCIONALMENTE EM
SUAS ESPECIFICIDADES, A CRIANÇA AINDA É
CONSIDERADA O SUJEITO DA “FALTA”; AFINAL,
PARA ELA SE TORNAR UM CIDADÃO, FALTA-LHE
CONHECIMENTO SOBRE O MUNDO E AS SUAS
REGRAS. POR ISSO, A ESCOLARIZAÇÃO É
VALORIZADA.
Nesta concepção, a família moderna, núcleo institucional que acolhe essas crianças, evoca
questões sobre o controle da população e as relações de poder que reverberam um ideal de
criança – e, desse modo, as relações estabelecidas para e com elas. Entendidos como seres
irracionais que precisavam ser “preenchidos” e moldados de acordo com as exigências da
sociedade, os infantes passaram a desenvolver um papel que constituía um ideal de futuro; por
isso, sua vida precisava ser preservada, acentuando um olhar agora mais atento para as
questões ligadas à saúde e à educação.
 SAIBA MAIS
Para aprofundar seus conhecimentos, leia a resenha “Família na contemporaneidade:
mudanças e permanências”, de Carolina M. B. de Souza (2008).
O estudo específico desta etapa trouxe à tona a preocupação com a escolarização dos
menores. Um ideal de universalização do ensino começava a ser traçado em consonância com
a (já citada) construção de um cidadão. Consequentemente, as crianças foram se afastando
cada vez mais de seus papéis ocupados nos postos de trabalho, embora saibamos que
infelizmente o trabalho infantil ainda é uma realidade em nosso país.
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O SENTIMENTO DE INFÂNCIA ENTÃO PASSOU A SER
COMPREENDIDO COMO UMA CARACTERÍSTICA
ESPECÍFICA QUE ENVOLVIA TANTO AS RELAÇÕES
ENTRE FAMÍLIA E CRIANÇA QUANTO A VISÃO DELA
COMO ALGUÉM QUE DIFERE DOS ADULTOS,
EXIGINDO, PORTANTO, CUIDADOS ESPECÍFICOS E
ATENÇÃO PARA DETERMINADOS ASPECTOS EM
DETRIMENTO DE OUTROS.
CRIANÇA SOCIAL
A partir do século XIX, surge uma terceira maneira de conceber a criança: percebida como um
sujeito de direitos, ela se torna um ser social.
Para isso, é preciso garantir seu desenvolvimento integral por intermédio de legislações que
conferem ao Estado a responsabilidade deoferecer a escolarização. Passam a ser
consideradas as potencialidades das crianças, que devem ser ativas, participativas e
comunicativas, se desenvolvendo em sua relação com o mundo.
Traçaremos um pequeno histórico sobre essa transformação para ilustrar o aparecimento da
criança social. Nota-se que, no século XIX, havia múltiplas visões sobre ela.
Destaca-se a criança:
TRABALHADORA REPRESENTADA NAS CIDADES NO
DIA A DIA
DOS SEIOS DAS FAMÍLIAS DE CLASSE MÉDIA
QUE SE TORNA OBJETO DA PSICOLOGIA
CUJA EDUCAÇÃO É VISTA COMO UMA CIÊNCIA QUE
TENTA PERCEBER A FORMA COMO ELA APRENDE
DA ELITE, PREPARADA E DIRECIONADA PARA SE
TORNAR UM GRANDE LÍDER
Diante desses casos, ela deixa de ser um elemento auxiliar e passa a figurar nas discussões
da ordem do dia, justificando, pouco a pouco, estudos, percepções, direitos e proposições na
construção desses “seres”.
É POR ISSO QUE PASSAMOS A ENTENDER A
EXISTÊNCIA DE UM UNIVERSO INFANTIL PRÓPRIO,
AINDA QUE NÃO SISTEMATIZADO. A PERCEPÇÃO
SOBRE ESSAS PESQUISAS E AS TRANSFORMAÇÕES
VIVIDAS É UM DOS MÉRITOS DA PESQUISA DE ARIÈS.
A criança social é fruto de uma percepção importante de mundo. O século XX é denominado
século da infância pela maneira como ela passa a ser trabalhada e vivenciada. A criança (ou
infância) social indica a visão sobre esse período da vida como um meio próprio para ela estar
no mundo.
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labore et dolore magna aliqua.
TENDÊNCIA
Exercitemos um pouco nosso pensamento:
VOCÊ CONSEGUE PERCEBER RESQUÍCIOS E
ELEMENTOS DESSAS FORMAS DE TRATAR A
INFÂNCIA NO SEU DIA A DIA?
Vamos pensar na educação dos meninos e na maneira como, via de regra, suas querelas
devem ser solucionadas.
Quem já viu ou ouviu alguém reproduzir diante de uma criança a expressão: Homem não
chora? Ou ainda algo mais grosseiro e violento, como se você apanhar na rua, vai apanhar
novamente quando chegar a casa.
Para muitos, isso pode parecer uma realidade distante; no entanto, ainda é muito recorrente,
evidenciando um traço de nossa sociedade.
VOCÊ CONSEGUE FAZER UM LINK DESSA FORMA DE
“EDUCARMOS” NOSSOS MENINOS COM A HISTÓRIA
DA INFÂNCIA?
O processo de “adultização” tão discutido e presente – ainda que detentor de uma concepção
bastante tóxica sobre o que é ser homem – é a chave desta resposta.
VOCÊ ENTENDE OS DEBATES SOBRE A
CONDENAÇÃO DE UMA CRIANÇA POR SEUS
CRIMES? CONHECE A CRÍTICA QUE O ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) RECEBE POR
NÃO PERMITIR QUE OS PAIS TOMEM DETERMINADOS
COMPORTAMENTOS?
Estes são alguns exemplos pertinentes para perceber que estudar história é notar o quanto
suas camadas não jazem em um passado longínquo; em vez disso, elas dialogam com o nosso
cotidiano.
Estes são alguns exemplos pertinentes para perceber que estudar história é notar o quanto
suas camadas não jazem em um passado longínquo; em vez disso, elas dialogam com o nosso
cotidiano.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Identificar as diferenças históricas sobre a ideia de criança no Brasil
AS CRIANÇAS DO BRASIL
Ao estudar o desenvolvimento da ideia de criança e infância no Brasil, precisamos estar
atentos a algumas especificidades ocorridas em nosso país.
Há diferentes maneiras de vivenciar as infâncias. Realidade em vários países, no Brasil ela não
se justifica apenas por questões históricas e culturais. Em nosso território, ela opera de acordo
com a classe social e etnia, dado o grande número de crianças negras e indígenas cujos
antepassados foram escravizados.
Uma parte de nossa sociedade é composta por classes menos privilegiadas que frequentam
meios urbanos. Estudando em escolas públicas ou particulares de baixo custo, seus filhos
acabam tendo acesso limitado aos bens de consumo por condições financeiras.
Mesmo influenciados por elementos da cultura popular, outros segmentos sociais vivem em
uma realidade absolutamente inimaginável para a maior parte da população.
A gama de marginalização brasileira constitui um traço fundamental de nossa sociedade.
Nossas crianças são impactadas pela completa falta de suporte e saneamento, além de um
campo marcado por conflitos e desigualdades sociais.
As escolhas para nossa exposição são teórico-metodológicas. Para isso, nos basearemos na
perspectiva da educação decolonial, já que ela busca lidar com as nossas mazelas. Nosso
objetivo é indicar maneiras de se reconhecer as características desse passado colonial,
observando como elas nos marcam e reestruturam a nossa formação.
A CONCEPÇÃO SOBRE A CRIANÇA NO BRASIL É
MUITO INFLUENCIADA POR TAIS PERSPECTIVAS;
AFINAL, FOMOS COLONIZADOS POLÍTICA, SOCIAL E
ECONOMICAMENTE PELOS EUROPEUS.
Vista como adulto, o infante inserido no mercado de trabalho é o centro de atenção das
famílias. Negros e indígenas compõem as múltiplas facetas dessa noção de criança que ainda
carrega as marcas das diferenças que sempre permearam a história da infância. Embora
devamos levar em consideração o fato de que, no Brasil, tal história se assemelha muito à da
Europa em termos teóricos e conceituais, a perspectiva de desnaturalização do sujeito e a
exploração escravista acabam por merecer alguns destaques e um olhar mais atento.
UM DOS ASPECTOS IMPORTANTES NESSA
DISCUSSÃO É A DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS TERMOS
“INFÂNCIA” E “CRIANÇA”.
Segundo Sarmento (2005):
"APESAR DE, NA MAIORIA DAS VEZES, SEREM
APRESENTADAS COMO SINÔNIMOS, A SOCIOLOGIA
DA INFÂNCIA COMPREENDE A INFÂNCIA COMO
CATEGORIA SOCIAL E CRIANÇA, COMO O SUJEITO
PERTENCENTE A ELA."
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CATEGORIA SOCIAL
Trata-se de um conjunto de agentes que, a despeito das diferentes origens de classe, é capaz
de atuar politicamente como uma unidade e de maneira relativamente autônoma, respeitando
os interesses das classes das eles quais se originam.
Desse modo, podemos destacar as múltiplas infâncias que constituíram a história no Brasil,
salientando as especificidades que abarcavam (e ainda abarcam) as inúmeras que faziam
parte daqueles grupos.
Desse modo, podemos destacar as múltiplas infâncias que constituíram a história no Brasil,
salientando as especificidades que abarcavam (e ainda abarcam) as inúmeras que faziam
parte daqueles grupos.
No Brasil, não existe um modelo de criança, e sim dezenas de modelagens estruturais de
crianças. Podemos, contudo, identificar um traço comum segundo o entendimento das
propostas que aproximam a história desse conjunto.
Se, no entanto, tendo em vista uma perspectiva decolonial, desejarmos refletir sobre uma
história da criança no Brasil, deveremos trilhar o caminho oposto, nos concentrando em uma
concepção genérica. A música infantil, aliás, lida com essa mazela.
MÚSICA INFANTIL
O cunho educativo da música voltada para o público infantil tem reforçado essa visão. O grupo
Palavra Encantada, por exemplo, expressa tal viés em músicas como Criança não trabalha
(PauloTatit / Arnaldo Antunes).
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Para entendermos um pouco mais sobre a relação entre a história do Brasil e a questão da
infância, vamos assistir a mais um pouco da conversa entre os professores Allan Rodrigues,
Camila Machado e Simone Berle.
EXPLORAÇÃO E TRABALHO INFANTIL
Discutir sobre a criança no Brasil é falar sobre a naturalização do trabalho infantil. No período
de colonização, a exploração de crianças negras e indígenas era comum.
A QUESTÃO RELIGIOSA TRAZIDA PARA O PAÍS
IMPACTOU NÃO SÓ A VIDA DOS ADULTOS, MAS A
DOS INFANTES TAMBÉM.
É POSSÍVEL QUE VOCÊ ESTEJA SE PERGUNTANDO:
DE QUE MANEIRA ISSO OCORREU?
Entre 1500 e 1800, as crianças passaram pelo processo de catequização realizado pelos
jesuítas por serem consideradas mais acessíveis que os adultos, especialmente em termos de
doutrinação religiosa.
Atividades que envolviam o trabalho com as crianças eram predominantemente comandadas
pela Companhia de Jesus. No intuito de preservar a vida dos filhos, alguns pais aceitavam a
relação estabelecida entre eles e os jesuítas, o que, no caso, não impedia a sua escravização.COMPANHIA DE JESUS
Espécie de organização que apresentava um discurso de “salvação da alma” das crianças por
meio da catequese.
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 SAIBA MAIS
Para adensar a discussão, apresentando um contraponto a esse conteúdo, indicamos a leitura
da dissertação intitulada “O olhar dos jesuítas sobre a cultura indígena no Brasil – Século XVI”,
de Flávia Emília Zanini (2014).
Ignorando aspectos culturais das crianças indígenas, os colonizadores consideravam
atrasados todos os outros povos que habitavam o país, não demonstrando interesse em
preservar suas tradições culturais ou lhes oferecer educação e assistência. Desse modo, a
ausência de escolas e o trabalho escravo eram justificados por um discurso que colocava
essas pessoas à margem da sociedade estabelecida na época.
Dentro dela, a exploração infantil ocorria da seguinte forma:
CRIANÇAS NATIVAS
Novamente compreendidas sob uma visão servil, as crianças nativas tinham sua força de
trabalho utilizada por senhores de escravos (órfãos ou não).
CRIANÇAS DO CONTINENTE AFRICANO
Juntamente com os indígenas, as crianças vindas do continente africano eram comercializadas
e, na maioria das vezes, separadas de seus familiares. A relação entre infância, adolescência e
vida adulta era subvertida pela lógica da utilidade de sua força de trabalho.
CRIANÇAS DE FAMÍLIAS MAIS ABASTADAS
Estas crianças vivenciavam outra realidade. Para as meninas, predominava a preocupação
com o ensino de tarefas domésticas. Já para os meninos, prevalecia o trato com escravos –
assunto “de homem”, que envolvia gerenciamento das questões do engenho. A adultização era
um mecanismo evidente em ambos os gêneros.
Nesse contexto, com a necessidade de estabelecer vínculos na tentativa de proteger tais
sujeitos, a ideia de “apadrinhamento” surgiu a fim de manter a relação e garantir a permanência
entre aqueles pares, ainda que isso não implicasse o impedimento do trabalho escravo.
CRIANÇAS NASCIDAS EM CLASSES MENOS
FAVORECIDAS NO PAÍS
Estas crianças, que não eram denominadas indígenas ou africanas, também não recebiam
tratamento diferenciado. Assim, reiterava-se nos diferentes contextos a ausência do sentimento
de infância sobre o qual se havia discutido em séculos anteriores. Quanto às diferenças de
gênero estabelecidas na época, aos meninos majoritariamente era atribuída a carreira militar,
bem como o trabalho em fábricas ou oficinas. Já para as meninas, predominavam as tarefas
domésticas.
A questão da violência também era um aspecto importante no período. Os altos índices de
criminalidade serviam de justificativa para a ideia de que o combate às “sementes do mal”
desde a infância os reduziriam significativamente (PRIORE, 2004, p. 215). A disciplina de
menores envolvidos em crimes era uma preocupação que foi sendo acentuada ao longo do
século XX. Para combater uma população infantil considerada perigosa, os jovens acusados de
crimes e delitos, ao se tornarem maiores de 14 anos, eram presos ou recebiam como punição
determinado trabalho a ser realizado.
TENDÊNCIA
Como vimos, existe um componente histórico e sociológico na relação das crianças com a
própria infância. Realidades sociais como pobreza e escravidão são componentes que
exercem influência na questão, não podendo ser ignorados. Observar o paradigma da criança
no Brasil é definitivamente uma tarefa difícil.
VOCÊ RECONHECE ESTE DISCURSO RECORRENTE?
Ouve-se constantemente:
A marginalidade aumentou porque as crianças não podem trabalhar;
A maioridade tinha de diminuir;
Esta criança faz assim por falta de castigo físico (tradição que herdamos de nossa
história).
Ou ainda:
Está assim porque as crianças não têm a mãe em casa, é a ausência do modelo
tradicional que leva a esse quadro confuso em que nós vivemos.
Recente em nossa história, a análise sobre a forma de se lidar com a criança e o adolescente
será objeto do próximo módulo, mas a conexão entre os problemas deste e do próximo pode
ser sistematizada e provocada a partir das ações políticas pensadas.
VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DO ESTATUTO DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE NO BRASIL (ECA)?
Vamos ver o que um especialista tem a nos dizer sobre a sua história nas terras do Brasil.
“CONSTITUI-SE NO PAÍS UMA NOÇÃO PARTICULAR
DE INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA QUE PROTELA
POLÍTICAS SOCIAIS DE ATENDIMENTO À CRIANÇA E
AO ADOLESCENTE COMO DIREITOS DE CIDADANIA
ATÉ A DÉCADA DE 1980. A PROCLAMAÇÃO DA
CONSTITUIÇÃO CIDADÃ (BRASIL, 1988) E DA
APROVAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE – ECA (BRASIL, 1990A), UM
CONJUNTO DE DIREITOS CIVIS, SOCIAIS,
ECONÔMICOS E CULTURAIS DE PROMOÇÃO E
PROTEÇÃO – ALTERARAM ESSE PARADIGMA.
ATUALMENTE, O ECA DEMANDA DO ESTADO
BRASILEIRO E DA SOCIEDADE POLÍTICA E CIVIL
ESFORÇOS E CONTINUIDADE NAS AÇÕES, VISANDO,
POR UM LADO, À FORMULAÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO,
MONITORAMENTO E CONTROLE SOCIAL DE
POLÍTICAS CONSTITUCIONAIS E ESTATUTÁRIAS, E,
POR OUTRO, A AÇÕES MOBILIZADORAS E SOCIETAIS
CAPAZES DE RESSIGNIFICAR A CONCEPÇÃO
ARCAICA DE INFÂNCIA E JUVENTUDE PRESENTE NO
IMAGINÁRIO SOCIAL DA POPULAÇÃO ”.
(PEREZ; PASSONE, 2010).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Reconhecer marcos legais importantes na construção histórica da ideia de infância
no Brasil
Como nosso objetivo é pensar a relação entre as leis no Brasil e a infância, vamos ouvir três
especialistas com olhares diferentes sobre o tópico. Desse modo, podemos perceber uma
história que precisa ser contada em diversos prismas. Para isso, vamos ouvir a historiadora
Flavia Miguel, o advogado Adriano Pinto e a pedagoga Wilma Mello.
AS PRIMEIRAS LEGISLAÇÕES SOBRE A
INFÂNCIA NO BRASIL
UMA DAS PRIMEIRAS LEIS QUE VISAVA A GARANTIR
O DIREITO DAS CRIANÇAS, A LEI Nº 2040,
CONHECIDA COMO “LEI DO VENTRE LIVRE”, FOI
PROMULGADA EM 1871 PARA GARANTIR QUE AS
CRIANÇAS NASCESSEM LIVRES, ALÉM DE VETAR A
COMPRA E VENDA DAQUELAS MENORES DE 12
ANOS.
Esta lei constitui um dos grandes avanços do período escravocrata; embora não impedisse o
trabalho infantil, ela foi um marco precursor para a produção de outras leis e políticas que
tratavam da proteção das crianças.
A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E A INFÂNCIA
NO BRASIL
A educação passa a ser reconhecida como direito social somente a partir da Constituição
Federal de 1988, quando o Estado assume a obrigação legal de oferecer para todos uma que
seja de qualidade.
Antes disso, a educação pública já existia, mas era compreendida como uma assistência aos
que não podiam pagar, enquanto o ingresso nas escolas não era facilitado para as classes
mais populares, havendo pouca oferta de vagas e acesso limitado à informação.
A obrigatoriedade do Estado na oferta de vagas em creches e pré-escolas ao declarar como
direito dos trabalhadores a assistência gratuita de seus filhos e dependentes até os cinco anos
de idade. No entanto, seu caráter assistencialista ainda persiste, sendo uma das questões mais
discutidas no campo da educação infantil.
O ECA, DE 1990, É CONSIDERADO UM MARCO PARA
OS DIREITOS DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES.
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS ENUNCIADOS PELO
ECA TÊM COMO OBJETIVO ASSEGURAR O
DESENVOLVIMENTO:
O documento não se limita a anunciar direitos, representando um grande avanço ao nomear os
responsáveis por seu cumprimento.
A família, o poder público e a sociedade, em geral, possuem deveres com as crianças e os
adolescentes do país. Portanto, mais que o direito à educação, esse público deve estar
matriculado na escola – e isso se trata de uma obrigação legal.
 ATENÇÃO
O poder público não pode se negar à oferta de educação, assim como os familiares e a
comunidade não podem deixar de cumprir tal obrigação.
A Lei nº 9.394/1996 – denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) –
amplia a discussão sobre a educação infantil para além de um caráter assistencialista até
então apresentado nas políticas púbicas. Para isso, a LDB a reafirma como primeira etapa da
educação básica, cuja finalidade é o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos
físico, psicológico, intelectual e social.Ela constitui, portanto, um complemento da ação da
família e da comunidade.
A LDB ainda regulamenta as seguintes questões de acesso. Vejamos:
No ano de 2013, foi promulgada a Lei nº 12.796/2013, que altera a LDB para incluir a
obrigatoriedade de matrícula das crianças de quatro anos na educação infantil.
A FREQUÊNCIA PASSA ENTÃO A SER EXIGIDA EM
CONSONÂNCIA COM A CARGA HORÁRIA
ESTABELECIDA DE 200 DIAS LETIVOS. O QUE ANTES
ERA FACULTATIVO AOS PAIS, PASSA AGORA A SER
UM DEVER.
De acordo com a Unicef, o Brasil é um dos países com legislação mais avançada no mundo no
que diz respeito à infância e à adolescência. Entretanto, a legislação ainda não conseguiu
superar suas desigualdades sociais, geográficas e étnicas.
 SAIBA MAIS
Veja a contextualização histórica do atendimento à infância no Brasil (1889-1985).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história da infância é construída, ao longo do tempo, de acordo com seu contexto social e
sua época. A concepção de infância, entre outras diferenças registradas, é por vezes
modificada, suscitando tanto concepções de um sujeito com características próprias, segundo
as quais se constroem possibilidades de um futuro, quanto a noção de criança como um
miniadulto.
Conforme os estudos na área foram se aprofundando, houve a modificação desses conceitos e
foi dado um destaque às diferentes infâncias vivenciadas no Brasil. A diferença entre negros,
indígenas, meninos e meninas traçava a visão de um sujeito à margem da sociedade em que o
único tipo educação acessível era a cristã (por parte dos jesuítas). Entretanto, o trato com
crianças brancas e provenientes de famílias mais abastadas já oferecia um olhar diferenciado
em relação à educação, ainda que a adultização das crianças ainda fosse um fator presente
em suas diferentes formas.
Com o avanço dos estudos na área e a necessidade de garantir direitos para esses sujeitos,
surgia uma série de políticas públicas construídas em prol dos pequenos: a Lei do Ventre Livre,
que garantia, desde o nascimento, a não escravização das crianças de outra etnia ou as
menos favorecidas; a Constituição Federal de 1988, que tornava obrigação legal do Estado o
amparo à educação delas; o ECA, que se apresentava como mecanismo de garantia da
proteção e dos direitos das crianças e dos adolescentes; e, por fim, a LDB, que impõe a
obrigatoriedade de matrícula delas em creches e escolas. Elas constituem, nesse âmbito, os
principais marcos alcançados.
Pudemos então perceber os avanços e as modificações que circundam a história da infância e
das crianças, identificando os principais pontos que a compõem. Consideramos que este
assunto continua produzindo sentidos constantemente, além de abarcar questões de diferença,
conquista de espaço e legitimação de um período marcado por suas especificidades.
 PODCAST
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981.
BARBOSA, A. A.; MAGALHÃES, M.G.D. A concepção de infância na visão de Philippe Ariès e
sua relação com as políticas públicas para a infância. In: Revista eletrônica de Ciências
Sociais, História e Relações Internacionais, v. 1, n.1, 2008.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
BRASIL. Lei nº 8.069/90, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências.
BRASIL. Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. altera a Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de
1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para dispor sobre a
formação dos profissionais da educação e dá outras providências. Brasília, 2013.
BRASIL. Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Brasília, 1996.
PEREZ, J. R. R.; PASSONE, E. F. Políticas Sociais de Atendimento às Crianças e aos
Adolescentes no Brasil. In: Cadernos de Pesquisa, v.40, n.140, maio/ago. 2010
PRIORE, M. (Org.). História das crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2004.
SARMENTO, M. J. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. In:
Revista Educação e Sociedade. v. 26. n. 91. Campinas, 2005. p. 361-378.
EXPLORE+
Assista ao vídeo: Concepções de infância na história.
Leia o texto: A concepção de infância na visão de Philippe Ariès e sua relação com
as políticas públicas para a infância.
Leia o texto “Situação das crianças e dos adolescentes no Brasil” para se
aprofundar no assunto.
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