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Literatura portuguesa II
Kellyane Pereira de Sousa
Alves & Cia
 Compreender a produção queirosiana é compreender, também, a cultura portuguesa, a sua tradição e seu legado histórico. Eça de Queiroz leva ao público o resultado de uma observação crítica e apurada dessa sociedade. Seja nos romances ou periódicos, o escritor constrói um panorama no qual compõe a cada escrita diversas críticas à sociedade burguesa de Portugal do século XIX. 
   Em Alves e Cia, novela publicada no início do século XX, Eça de Queiros constrói uma narrativa comum ao melodrama. O enredo da obra é centrado no adultério, tema recorrente nos livros do autor.  Para configurar a narrativa de modo a convencer o leitor, o autor, atem-se a efeitos cênicos que regem conflito central da história. O narrador descreve a cena do possível adultério mostrando as atitudes, os olhares e gestos que revelam a alma e a dor do personagem em uma riqueza de detalhes que impõem à trama uma verossimilhança que leva o leitor a crê verdadeiramente nos fatos.  
 Eça de Queirós cria em sua obra um triângulo amoroso clássico, porém rico em desdobramentos dramáticos e morais mostrados satiricamente de diversas maneiras sob olhares e interpretações variadas. Ele é um dos maiores expoentes do realismo português, passara grande parte de sua trajetória literária a desvelar para uma sociedade alienada e tolhida de perspectiva crítica as mazelas que a constituem como tal, realizando um ato reflexivo em que, partindo do lapso espaço-temporal em que vivera, lança novos olhares acerca da sociedade e intenta galgar transformações reais e concretas que representasse novas oportunidades para o povo em geral.
Particularmente, na obra “Alves e Cia”, Eça de Queiroz utiliza-se da trama ficcional para efetuar uma mimesis com a realidade portuguesa, onde a sociedade da época pudesse identificar e correlacionar à representação apresentada pelo autor com o dia a dia, com o convívio real das pessoas reais, em contraponto ao ideal metafísico e longínquo apregoado pelos românticos. Na novela em questão o autor apresenta um exemplar família portuguesa do séc. XIX constituída por Godofredo Alves e Ludovina, burguesa, próspera e de conduta ilibada, sendo que esta prosperidade é proveniente da sociedade comercial que a família estabelece com o jovem astuto e intrépido, denominado de Machado. A narrativa explora exatamente o contraste entre o mundo particular do Alves frente à inserção de exterioridades compostas precipuamente pelo outro, encarnado aqui pela figura de Machado, que demoniza e desconstrói a harmonia da família.
Percebe-se na obra que o autor, através da representação, transcende o microcosmo da família para a cosmovisão da sociedade portuguesa como um todo, demonstrando a falência dos ideais frente a um mundo cada vez mais rápido e árduo. Era neste mundo que um Portugal do final do sec. XIX, pautado nas grandes navegações e no colonialismo, ainda não conseguira sobressair-se, motivo pelo qual, Eça de Queirós e a Geração de 70, pretendiam, através de sua arte e de sua política, promover a atualização da mentalidade portuguesa.
 
	
	Alberto Caeiro
O escritor Fernando Pessoa é hoje um dos principais nomes da literatura portuguesa. Pessoa ficou famoso por criar diversos heterônimos, ou seja, o autor criou e assumiu outras personalidades literárias para assinar diferentes obras. 
Segundo Fernando Pessoa, Alberto Caeiro foi o desencadeador de seu processo poético. Era um camponês sem estudos, mas classificado como um mestre por Pessoa e por todos os outros heterônimos. Tinha um estilo direto e simples, mas de compreensão complexa. Além disso, ele colocava suas reflexões nas poesias, já que não achava possível falar sobre a realidade nas prosas. Caeiro acreditava que mais importante que pensar, era sentir. Em suas obras, demonstra o seu gosto pela natureza na simplicidade das palavras e o seu conhecimento na experiência sensorial. Um dos seus escritos mais conhecidos é “O Guardador de Rebanhos”, constituído de 49 poemas. 
IX
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos  
E os meus pensamentos são todas sensações. 
Penso com os olhos e com os ouvidos  
E com as mãos e os pés 
E com o nariz e a boca.  
Pensar uma flor é vêla e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido 
Por isso quando num dia de calor 
Me sinto triste de gozálo tanto. 
E me deito ao comprido na erva,  
E fecho os olhos quentes, 
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, 
Sei a verdade e sou feliz. (p. 49)
Os poemas  de  Caeiro apresentam uma certa  redundância no tratamento do conflito corpo x alma, conflito esse que se faz presente através do embate entre o ver e o pensar. Seus 103 poemas  questionam o logos ocidental e valorizam as  certezas  objetais  provindas  dos  órgãos  dos  sentidos.  A verdade, para Caeiro,  transcende  toda  e qualquer elucubração filosófica, pois, a natureza humana, no afã de enxergar além das coisas, fica cega e acaba por não enxergar a verdade única, a realidade fornecida pelos sentidos.
O poema estrutura-se em três partes lógicas, que correspondem às três estrofes nele presentes:
· A primeira estrofe apresenta-se com a introdução, na qual o sujeito poético se afirma como aquele que vive apenas pelas sensações;
· A segunda estrofe apresenta-se como justificação do significado que ele atribui ao ato de pensar: pensar é sentir;
· A última estrofe tem valor conclusivo e, nela, o sujeito poético apresenta um exemplo de carácter pessoal sobre a experiencia de sentir.
É através das sensações (dos cinco sentidos referidos nos v.v 4,5 e 6) que o sujeito poético estabelece a relação com a realidade, seja ela uma flor, um fruto ou um dia de calor; e essa forma de relação sensacionalista com a realidade é que lhe basta, pois é a única que lhe fez saber a verdade e ser feliz (último verso).
Ao afirmar a sensação como fonte única do conhecimento real, o sujeito poético nega completamente o pensamento, submetendo-o a sensação. Ele consegue, de certo modo, realizar algo que no ortónimo era impossível: unir o pensar ao sentir, quando, por exemplo, afirma “pensar uma flor é vê-la e cheirá-la”.

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