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Apostila - Culto e Liturgia (1)

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Prévia do material em texto

Dr. Marcos Orison Nunes de Almeida
Agosto/ 2019
Professor/autor: Dr. Marcos Orison Nunes de Almeida
Projeto Gráfico e Capa: Mauro Rota - Departamento de desenvolvimento 
institucional
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por:
Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR
86055-670 Tel.: (43) 3371.0200
3Culto e Liturgia | FTSA | 
SUMÁRIO
Bíblia II - Introdução ao Antigo Testamento
Unidade I - Teologia litúrgica e adoração
Introdução..............................................................................................................................04
1. O culto evangélico hoje.....................................................................................................05
2. Teologia da adoração.......................................................................................................12
3. Adoração e culto...............................................................................................................21
Unidade II - Fundamentação bíblica do culto no Antigo Testamento
Introdução..............................................................................................................................35
1. As expressões de culto na história de Israel......................................................................35
2. Os calendários litúrgicos de Israel.....................................................................................52
3. As festas do Antigo Testamento.......................................................................................59
Unidade III - O culto no Novo Testamento e na história da igreja
1. O culto no Novo Testamento...............................................................................................68
2. O calendário litúrgico e as festas do Novo Testamento...................................................87
3. O culto na história da Igreja...............................................................................................93
Unidade IV - Os livros proféticos
1. O movimento profético..................................................................................................108
2. Panorama teológico dos profetas..............................................................................119
3. Estrutura literária do oráculo profético.....................................................................132
Resultado dos exercícios....................................................................................................147
| Culto e Liturgia | FTSA4
Introdução
A disciplina de Culto e Liturgia do curso de Graduação em Teologia da 
FTSA tem por objetivo introduzir o estudante no estudo do culto cristão. 
Trata-se de um campo de estudos muito rico dentro da teologia, pois 
vai desde a teologia da adoração até as questões práticas do culto, 
seu passo a passo. Pensar em culto e liturgia é observar a teologia, os 
símbolos, os momentos do culto, os rituais, entre outros aspectos, os 
quais consistem na manifestação visível daquilo que se crê.
Na matriz curricular da FTSA, Culto e Liturgia é uma disciplina do eixo 
teórico-prático e da área de teologia prática. Por isso, apesar do estudo 
teológico do culto ao longo da história, a proposta da disciplina é auxiliar 
o(a) estudante na prática cúltica em suas comunidades, a partir da 
observação da tradição e dos princípios observados na palavra de Deus. 
Entretanto, você verá que a espontaneidade não é algo abolido pela Bíblia, 
principalmente por ser uma atitude genuína de quem adora a Deus.
Esta disciplina assume uma metodologia ativa dividida em três etapas: 
observar, interpretar e agir, divisão facilmente observada neste material: o 
início da apostila traz a observação da realidade, como está o culto hoje; 
da metade da unidade 1 até o fi nal da unidade 3, tem-se a interpretação, 
a saber, o estudo teológico e histórico do culto; e na quarta unidade a 
prática (agir), falando da comunicação litúrgica, da relação da adoração 
com a ética e apresentando alguns modelos de liturgia para ocasiões 
específi cas.
Por fi m, o desejo da FTSA e meu, professor responsável pela disciplina, 
é que você desfrute do conteúdo apresentado, com espírito crítico, 
questionando o próprio conteúdo e, também, seu entorno, sua realidade. 
Para que o aprendido aqui não seja um fi m em si mesmo. Ao contrário 
disto, que este conteúdo possa, ao menos, instigá-lo a buscar mais 
conhecimento e a aperfeiçoar-se a cada dia.
Bons estudos!
5Culto e Liturgia | FTSA | 
Unidade 1 - Teologia litúrgica e adoração
O grande tema desta disciplina é o culto cristão. Como objetivo geral 
o que intencionamos é conhecer os fundamentos teológicos e bíblicos 
daquilo que tem sido central na vivência religiosa dos cristãos, o culto. 
Entendemos que é por meio do culto, principalmente, que expressamos 
a nossa fé. É inegável que o culto, que ocorre no domingo ou em outro 
dia da semana, dependendo da tradição denominacional, tornou-se o 
mais importante momento na vida comunitária da igreja. Há igrejas que 
não oferecem qualquer outra forma de atividade para os participantes. 
Mais ainda, é por aquilo que acontece no culto que as pessoas recebem 
a maior parte das informações teológicas sobre Deus e a fé cristã. Daí, 
entendemos a importância de investigarmos mais a fundo esse tema.
Dadas as características do curso, a questão prática do culto será abordada 
pela observação e análise daquilo que ocorre regularmente nas diversas 
igrejas, quer pela vivência particular de cada aluno em suas próprias 
comunidades, quer pela investigação daquilo que é público e acessível por 
meio de visitas a outras comunidades, vídeos ou outros recursos.
Como parte integrante do estudo teológico do culto, abordaremos o tema 
da adoração que parece ser o mais difundido, ou lembrado de imediato, 
quando pensamos no ato de cultuar a Deus. Mais recentemente, por 
causa dos movimentos de avivamento e dos movimentos pentecostais, 
a adoração, o louvor e as expressões de emoção relacionadas ao 
culto receberam uma grande atenção das pessoas. Nosso primeiro 
passo, no entanto, não será tratarmos de assuntos específi cos, e sim 
iniciarmos refl etindo sobre o fazer teológico sobre o culto, suas fontes 
de conhecimento e caminhos de entendimento daquilo que parece ser 
quase instintivo; como defi ne a primeira pergunta do Catecismo Maior de 
Fé de Westminster:
Qual é o fi m supremo e principal do homem? O fi m 
supremo e principal do homem e glorifi car a Deus e 
gozá-lo para sempre (Ref. Rom. 11:36; 1 Cor. 10:31; Sal. 
73:24-26; João 17:22-24).
| Culto e Liturgia | FTSA6
1. O culto evangélico hoje
Falar de culto evangélico hoje é aparentemente fácil, porque, visto de 
longe, a maioria das igrejas chamadas evangélicas parecem ter uma 
única forma de culto, mesmo com a diversidade de denominações 
existentes e espalhadas por todos os cantos do Brasil. Por um lado, 
mesmo observando somente a forma, há diferenças que merecem nota 
quando se trata de estilos de culto diferentes. Por outro lado, há muita 
semelhança e isso também merece menção.
De forma generalista, pode-se dividir entre culto histórico (luterano, 
anglicano, presbiteriano, metodista, batista, etc.), pentecostal 
(Assembléia de Deus, Congregação Cristã, etc.) e neopentecostal (Igreja 
Universal, Renascer, etc.).
As igrejas históricas sofreram a infl uência do movimento pentecostal e, 
podemos dizer, que passam por um momento de transição, concluído 
em alguns lugares, mas em fase inicial ou intermediária em outros. Isto, 
porque algumas igrejas persistem em manter a sua tradição litúrgica 
e resistem à infl uencia externa. Elas conseguém manter uma liturgia 
relativamente fi el ao seu passado, assim estruturada: prelúdio, cânticos 
(hinários), momento de contrição, leitura bíblica, pregação, poslúdio e 
bênção apostólica. Algumas igrejas já hibridizam essa liturgia com o que 
é mais comum em outras igrejas e, assim, o culto apresenta: abertura, 
louvor oferta, pregação,avisos, oração fi nal e bênção. O chamado 
momento de louvor tem sido utilizado em blocos longos, tomando a maior 
parte do culto, em estilo contemporâneo. Às vezes, hinos dos antigos 
hinários são cantados com novos arranjos, porém, os hinários em geral 
perderam espaço para os cânticos contemporâneos. A mudança nos 
cultos tradicionais é mais visível nas igrejas que, inclusive, apresentam 
hibridização em suas doutrinas, isto é, igrejas tradicionais que assimilaram 
a teologia e prática de outros segmentos, principalmente pentecostais. 
Nessas igrejas, a liturgia modifi ca-se ainda mais, pois, conforme será 
elaborado mais adiante, a teologia é refl etida diretamente no culto.
7Culto e Liturgia | FTSA | 
O culto pentecostal é muito diverso, mas alguns seguem uma ordem simples, 
com abertura, louvor, oferta, pregação e encerramento, incluindo momento 
de apresentação de música solo e de testemunhos, quando possível. A 
maior representante deste segmento, a Igreja Evangélica Assembleia de 
Deus, possui um culto com liturgia marcante por ser muito participativo, 
uma vez que os diversos grupos de pessoas pertencentes a igreja atuam no 
culto. Há participação de crianças, adolescentes, jovens, mulheres, homens, 
canto comunitário, solo, coral, além dos momentos tradicionais comum 
às outras tradições como pregação e orações. Ainda há a apresentação 
dos visitantes e, normalmente no início do culto, a tradicional orquestra. De 
forma geral, o culto pentecostal é muito participativo, não fi cando focado 
apenas no momento de louvor e na ministração da palavra. A participação 
é, possivelmente, a maior de suas marcas depois da grande liberdade de 
manifestação das pessoas, que dizem em alta voz expressões como 
“glória”, “aleluia”, etc. Também, procuram expressar a manifestação dos 
dons espirituais, sentimentos, choro, riso, etc.
Quanto às comunidades denominacionalmente independetes, é difícil 
identifi car uma forma litúrgica comum. Normalmente elas se assemelham 
à sua tradição de origem, histórica ou pentecostal, porém o culto possui 
uma litugia mais simples com tendências contemporâneas. É importante 
considerar que os motivos que levaram ao surgimento dessas comunidades, 
principalmente se forem por divergências teológicas, acabam refl etidos na 
liturgia. Muitas comunidades surgem de igrejas históricas quando estas 
recebem infl uência de outros movimentos. Este contato, normalmente não 
é assimilado por todos os membros, levando à divisão. Quando a nova 
comunidade surge, ela carrega consigo muito do modelo de sua igreja 
de origem, mas a infl uencia da nova teologia irá aparecer em seu culto. 
Algumas vezes, a causa da divisão é justamente a divergência na forma 
de culto, quer seja por expectativas pessoais ou por infl uência daquilo que 
esses outros movimentos oferecem como novidade.
Todavia é importante uma ressalva. A diferença no culto da nova 
comunidade muitas vezes está na atitude: um louvor mais longo, 
liberdade para manifestação de dons e de entrega de “profecias”, entre 
| Culto e Liturgia | FTSA8
outras coisas. Mas a estrutura litúrgica em si não se modifi ca muito, ou 
seja, o culto continua tendo a mesma estrutura: abertura, louvor, ofertório, 
pregação, avisos, oração e bênção.
De fato, ainda há diferenças grandes nas liturgias de algumas 
denominações quando comparadas. Para constatar isso, basta fazer um 
breve exercício de comparação entre um culto luterano e um pentecostal, 
por exemplo — ambos são facilmente localizados na internet. Mas é 
preciso observar a grande uniformização dos cultos de maneira geral, 
principalmente em sua forma. O porquê disso talvez seja a infl uência de 
movimentos vindo do exterior, o chamado gospel, os quais invadiram 
as igrejas brasileiras. De toda forma, não é difícil entender que o grande 
crescimento do mercado evangélico está na base desta uniformização.
1.1. Mercado e espetáculo
Um dos aspectos visíveis da infl uência do mercado evangélico pode ser 
percebido na música. Observa-se que as mesmas músicas utilizadas no 
momento de louvor de uma igreja histórica são tocadas no culto de uma 
comunidade pentecostal. Essas músicas, por sua vez, podem ter vindo 
de qualquer uma das tradições, levando consigo sua forma de culto e 
sua teologia, infl uenciando a igreja que a canta, pois a mensagem de 
qualquer música contém um pressuposto teológico.
A ênfase musical talvez seja a maior característica dos cultos atuais. Isso 
porque a música ocupa a maior parte do tempo de culto, diferentemente 
das liturgias tradicionais, nas quais o sermão era o centro. Não nos 
importa agora fazer juízo de valor, principalmente porque devemos 
considerar as transformações culturais do nosso contexto. Hoje, as 
pessoas, principalmente das novas gerações, não conseguem se 
concentrar em discursos muito longos, por isso, na maioria dos casos, 
sermões de, no máximo, trinta minutos são mais atrativos. Contudo, 
também é importante considerar que as músicas mexem com o emocial 
das pessoas dando a elas uma sensação de prazer de estarem naquele 
9Culto e Liturgia | FTSA | 
ambiente. Também, podemos perceber que alguns cultos têm a aparência 
de um espetáculo, no qual as pessoas apreciam um bom ambiente, boa 
música e, também, uma boa palestra.
O apelo emocial é, por esse e por outros motivos, um ponto muito 
explorado nos cultos atuais, inclusive as pessoas os frequentam para 
terem experiências sobrenaturais pessoais com Deus. Obviamente que 
ter experiência com Deus é algo bom e algumas tradições dão mais 
valor a este aspecto do que outras. Todavia, há cultos em que o foco é a 
promoção de uma experiência de troca ou, em outras palavras, visando 
receber algo de Deus mais do que adorar. Além disso, a dimensão de 
comunhão com as pessoas também é desprezada.
Essas questões levaram os cultos evangelicos à dimensão do 
espectáculo, o que não é novo, mas com certa intensifi cação pelo uso 
mídia. Alguns cultos assimilaram aspectos midiáticos, os quais acabaram 
infl uenciando os cultos que não estão na mídia, isto é, das pequenas e 
médias igrejas. Todavia, para abordar esta questão, é preciso considerar 
aspectos da comunicação e da sociologia. A partir dessas teorias, duas 
questões fazem sentido para uma breve análise, uma delas é o culto 
como espetáculo, a outra o culto como teatro, ou a teatralização do culto.
Sobre o culto como espetáculo, o pesquisador Alberto Klein escreve:
Assim é que os cultos e missas tornam-se mais 
televisivos e, portanto, mais espetaculares. Nada é 
sutil aos sentidos da visão e da audição: os gestos e 
a movimentação corporal devem ser bastante visíveis, 
o louvor nos cânticos deve-se render necessariamente 
em decibéis elevados, a voz do pregador se eleva, 
retumba, repercute tactilmente em nossa pele. A ela 
as vozes da platéia reagem, gritam, falam a língua dos 
anjos, assobiam, choram, braços se erguem, o corpo 
inteiro entra em êxtase espiritual. No palco um corpo 
explora todo o espaço possível, pula, movimenta-se, 
| Culto e Liturgia | FTSA10
dança, anima o público. Tudo se agiganta aos olhos e 
ouvidos (2006, p. 176).
As palavras de Klein, que não é um teólogo, mas um pequisador da área 
de Comunicação Social, podem soar como uma crítica a alguns cultos 
como são feitos hoje, principalmente aqueles que, de fato, procuram por 
um aspecto espetaculoso. Todavia, é importante observar a constatação do 
autor, verificar o que realmente é um traço de muitos cultos atuais e usar a 
autocrítica, a fi m de fazer um julgamento da realidade evangélica brasileira.
Conforme Klein, tudo no culto midiático é abundante, por isso há grande 
apelo sensorial. Com este propósito, a iluminação é trabalhada, o som 
é forte e alto, muito bem preparado e trabalho, os gestos dos ministros 
de louvor e do pregador são abundantes, entre outras coisas. O grande 
objetivo é atrair e manter o público frequente e empolgado, para isso, as 
pessoas precisam gostar do que veem.
As constatações de Klein são facilmente observadasnas igrejas de hoje 
em dia. Afi nal, os palcos estão cada vez mais repletos de instrumentos 
musicais de última geração, de iluminação digna de shows, de músicos 
profi ssionais — muitas vezes contratados para aquela função —, de corpo 
de dança, etc. O ministro ou ministra de louvor conduz o público com 
palavras de ordem, palmas, gestos, choros, etc. Muitas vezes o conteúdo 
do que se fala ou canta parece indicar falta preparo ou formação 
teológica O culto, muitas vezes, parece um grande show, ou um programa 
de auditório de televisão, com animadores e condutores de plateia, um 
verdadeiro “show da fé”.
Na mesma direção, as percepções de Leonildo Silveira Campos são 
interessantes. Este autor, em seu famoso livro Teatro, templo e mercado, 
de 1997, afi rma que uma das possíveis formas de observar a relação 
entre os seres humanos e seus entes invisíveis (entidades religiosas, 
deus, deuses) é por meio da dramatização, do rito, o qual “exprime o ritmo 
da vida social, na medida em que as pessoas se reúnem em sociedade 
para reavivar as percepções e sentimentos que têm de si mesmas” 
11Culto e Liturgia | FTSA | 
(Campos, 1997, p. 62). Para o autor, este é um processo de teatralização, 
uma metáfora social, o qual permite visualizar as maneiras pelas quais 
as forças sociais atuam, possibilitando o entendimento das relações dos 
seres humanos com o sagrado.
Tratando sobre o teatro em si, Campos explica que o teatro, em seu 
ideal grego, tornava “presente algo ausente, interpretanto, encenando 
e apresentando, sob outras formas, uma realidade invisível aos olhos, 
aprendida por meio da imaginação e ativada pelas palavras, música, 
gestos e ação dos intérpretes” (1997, p. 65), ou seja, a encenação faz 
do invisível algo visível, palpável a quem vê. Isso acontece em todas 
as representações teatrais, pois o teatro é capaz de encenar as mais 
diversas esferas da vida, tornando-as reais sobre o palco. A encenação, 
então, exerce um forte poder sobre os sentimentos e imaginário das 
pessoas, levando-as à mudança de mente muitas vezes.
Campos (1997, p. 65) deixa claro que o teatro não é uma invensão recente, 
pois nasceu nos templos e nas liturgias religiosas antigas para fazer a 
representação do intangível. Mas ele foi afastado da religião cristã ao 
longo da história por diversas questões de ordem doutrinária, voltando 
à tona no neopentecostalismo. Todavia, nesta breve explanação, a 
teatralização não é vista apenas como existente no meio neopentecostal, 
afi nal, atualmente, as práticas teatrais também estão presentes nos 
cultos de diversas outras igrejas. Os motivos para isso não são muito 
claros, talvez seja o fato dos líderes verem o grande avanço numérico 
do neopentecostalismo, ou mesmo pela necessidade de representação 
visível que as pessoas têm: o ser humano quer ver, imaginar não 
é o sufi ciente. Este fato é mais um que mostra que a identidade 
denominacional no culto se perdeu em muitos lugares, por isso há muita 
semelhança entre um culto de uma igreja de tradição histórica atual e um 
culto de uma comunidade independente pentecostal ou neopentecostal. 
Neles vemos a inserção de elementos para simbolizar ou conduzir as 
pessoas a algo, à teatralização.
Observar o culto como um espetáculo teatralizado é olhar para aquilo 
que é encenado com o objetivo de tornar visível o invisível. Todavia, 
| Culto e Liturgia | FTSA12
em princípio, não há problema nos elementos que representam a fé, 
inclusive, esta disciplina falará de elementos e símbolos litúrgicos. Por 
ora, a intenção é mostrar que o culto, em geral, está em outro momento 
histórico, fruto de um longo processo, no qual o sentir, o ver e o gostar 
são muito importantes para o público, inclusive determinando se o crente 
irá ou não permanecer em determinada igreja.
Por fi m, é preciso dizer que a visualização e o sentimento não são 
necessariamente ruins, afi nal: 1) as pessoas precisam dos elementos 
sensoriais e do emociais; 2) Deus toca as pessoas em suas emoções e fala 
com elas a partir disso; 3) o visível torna a fé mais compreensível. Devido a 
esses motivos e a muitos outros, é necessário estudar o culto e a forma de 
fazê-lo, ou ainda, sobre a adoração e a teologia que sustenta esses temas.
Exercício de aplicação
Pensando em culto como espetáculo, vemos esta realidade nas 
igrejas atuais nas seguintes situações:
a. Quando louvamos a Deus, a partir da direção de uma banda 
profi ssional.
b. Quando o pregador ocupa um lugar de destaque durante sua 
fala.
c. Quando o culto é um momento de entretenimento e diversão 
antes de ser o momento de adoração.
2. Teologia da adoração
Antes de pensarmos na adoração, como talvez estejamos acostumados 
quando falamos de culto, como resultado daquilo que aprendemos e 
repetimos no cotidiano das igrejas, na vivência da nossa fé em Cristo, 
13Culto e Liturgia | FTSA | 
gostaria que déssemos um passo atrás na tentativa de nos abstrair 
desse hábito adquirido e fi zéssemos uma observação mais isenta, mais 
livre dos sentimentos e pressupostos que nos aproximam da prática do 
culto, a partir de algo que é considerado um fenômeno humano comum 
a todos os povos.
Podemos pensar nos atos de adoração como uma manifestação quase 
que instintiva do ser humano frente a percepção da divindade. A dimensão 
divina ou aquilo que transcende o ser humano é representado das mais 
diferentes formas pelas muitas culturas, quer seja pelos astros, animais, 
imagens, forças da natureza, mitologias, etc. Tanto a arqueologia quanto 
a história são ricas em mostrar essa característica da religiosidade 
humana nas muitas sociedades que existiram em todos os continentes 
desde os seus primórdios.
No caso judaico-cristão, Deus se apresenta, ou se revela, principalmente, 
por meio da Bíblia e, nesse sentido, se diferencia da maioria d a s 
representações das outras religiões. Aliás, em sua revelação, ele 
propositalmente se auto diferencia das representações chamadas pagãs. 
Ele não se permite representar por imagens e ídolos que tenham aparência 
de coisas da natureza. Sua maior manifestação, no entanto, acaba por ser 
um ser vivo, encarnado, na pessoa de Jesus Cristo, o nazareno.
Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do 
Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses 
diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, 
nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, 
nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. 
Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o 
SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade 
dos pais nos fi lhos até à terceira e quarta geração 
daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil 
gerações daqueles que me amam e guardam os meus 
mandamentos (Êxodo 20:1-6)
| Culto e Liturgia | FTSA14
Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas 
maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, 
nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de 
todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, 
que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu 
Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu 
poder, depois de ter feito a purifi cação dos pecados, 
assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-
se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais 
excelente nome do que eles (Hebreus 1:1-4)
Mas todas as culturas humanas possuem expressões religiosas de 
adoração a algum tipo de divindade. Dessa forma, a adoração ou a religião 
se torna um fenômeno humano estudado pela Antropologia, Sociologia e 
outras ciências afi ns.
A motivação para a adoração de uma divindade pode ser temor ou medo, 
barganha, respeito, reconhecimento, agradecimento, etc. Por exemplo, 
há culturas que fazem oferendas a deuses que, em seu entendimento, 
controlam os ventos, as chuvas, rios, mares, sol e lua, para que estes, 
por um lado, não castiguem o povo com intempéries e, por outro lado, 
proporcionem boas colheitas, pesca e segurança aos rebanhos e à sua 
própria vida. Há também culturas que veneram o próprioser humano 
ou seus arquétipos, tidos como divinos, enaltecendo sua sabedoria, 
autocontrole e estado de alma elevado.
As manifestações de adoração nas religiões, normalmente, se dão por 
rituais que incluem atos como a oração, leitura, meditação, sacrifício, 
oferenda, música, canto, dança, magia, uso de objetos, etc. A expressão 
ritual é a manifestação visível da crença que se dá de maneira individual, 
mas, principalmente, coletiva. Ela, portanto, não abrange todo o espectro 
da adoração que considera também o elemento da fé e devoção pessoal 
de cunho íntimo. Uma pessoa pode expressar a sua adoração de 
diversas formas, mas é através dos rituais comunitários, já estabelecidos 
culturalmente, que ocorre o fortalecimento da religião na comunicação 
de seus elementos comuns.
15Culto e Liturgia | FTSA | 
Pensando na adoração cristã, ou antes disso, na adoração hebraica 
presente no Antigo Testamento observamos que ela tem pontos em 
comum com as outras religiosidades de sua época. Um exemplo disso são 
os sacrifícios de animais e as oferendas. Observamos também a presença 
de sacerdotes, roupas cultuais e rituais detalhados ricos de simbolismo. 
Podemos dizer que o temor é a característica mais marcante desse tipo 
de adoração. Os sacrifícios de animais carregam em si esse entendimento 
de apaziguamento da ira divina que pode afetar de maneira negativa a vida 
humana. Já as formas que a adoração cristã assume, ou seja, após Jesus 
Cristo, por outro lado, se comparadas com a hebraica, da qual é herdeira 
histórica, são muito mais simples em seus rituais e artefatos.
Quando pensamos, então, em uma Teologia da Adoração o que 
pretendemos é investigar, a partir da revelação bíblica, qual é a natureza 
da adoração a Deus, entendido como Javé pela revelação do Antigo 
Testamento, e sua manifestação encarnada em Jesus Cristo. Nos 
interessamos em buscar as origens, os propósitos, motivação, conteúdos 
que lhe são próprios e ao mesmo tempo que se diferenciam dos outros 
tipos de adoração presentes nas culturas humanas.
2.1. Liturgia como teologia
Comentamos que a adoração envolve um sentimento individual, mas que 
principalmente se expressa de maneira coletiva. Para que a adoração 
coletiva seja possível é preciso haver um entendimento comum daqueles 
que a promovem. O termo chave aqui é “comum”. Em outras palavras, 
estamos nos referindo à “comunicação da comunhão comunitária”. 
Embora redundante, essa frase procura expressar a ideia que está por 
trás da adoração que prestamos comunitariamente.
Aquilo que chamamos de culto é a organização dos atos que procuram 
comunicar alguma coisa. Antes mesmo de ser uma tentativa de conexão 
com o ser divino, o culto é um acordo coletivo sobre a forma pela qual 
comunicamos algo. É nele que os valores compartilhados por um grupo 
são expressos e, nesse sentido, o culto se torna restrito à cultura, uma 
| Culto e Liturgia | FTSA16
vez que esta é a estrutura na qual a língua, os costumes e os hábitos 
estão elaborados.
A tentativa de organizar os passos de uma manifestação de adoração, ou 
seja, seus ritos, é chamada de liturgia. A outra signifi cação para liturgia é 
ordem de culto. Originalmente, a palavra liturgia (do grego leiturgueo) 
signifi ca “o trabalho do povo” ou “trabalho em favor do povo”. A liturgia é um 
serviço voltado para a comunidade. O sentido original foi sofrendo, ao longo 
da história, nova interpretação vindo a signifi car, então, ordem de culto.
Quando pensamos na Teologia como ciência, via de regra, vêm à nossa 
mente as refl exões e elaborações sistematizadas, em formulações 
dogmáticas sobre o conteúdo da crença. Por outro lado, observando as 
expressões de adoração podemos perceber que há um claro divórcio 
entre as formulações teóricas da Teologia e a prática cultual das pessoas. 
Aquilo que muitas vezes é expresso pela dogmatização ofi cial da igreja 
não é necessariamente aquilo que as pessoas praticam na adoração, 
ainda que falemos sobre Deus, com ele e para ele.
De alguma forma, antes da Teologia surgir como ciência a adoração já 
existia. O impulso da adoração é anterior às formulações teológicas. Na 
verdade, a adoração é uma forma de expressar uma teologia que se crê e se 
vive. Alguns estudiosos defendem, então, o argumento de que a liturgia, 
ou o culto, é a theologia prima, ou seja, a teologia primária. Isso signifi ca 
que podemos pensar em fazer teologia a partir da liturgia. Observando 
as ações cultuais de um grupo podemos formular as suas crenças. Aliás, 
esse é o caminho que a Antropologia muitas vezes utiliza para falar de 
uma religião. Entretanto, no momento em que passamos a sistematizar o 
discurso da liturgia, transformamo-la em teologia secundária.
A experiência primária é vivida na prática, mas ela pode vir a ser 
enriquecida pelo exercício da análise e refl exão de si mesma, ou 
seja, pela teologia secundária. Podemos até dizer que isso é feito 
naturalmente, ainda que nem sempre a sistematização apareça na forma 
de um compêndio escrito. Na verdade, a interpretação se dá quando nos 
17Culto e Liturgia | FTSA | 
envolvemos com uma vida litúrgica comunitária. Primeiro tomamos parte 
dos atos litúrgicos, a seguir conversamos uns com os outros sobre essa 
experiência, algumas vezes nos informamos sobre o assunto e, depois, 
nos lembramos de algo sobre ela, ou seja, a experiência passa a fazer 
parte da nossa vida fora daquele momento vivido. O ciclo reinicia quando 
novamente participamos de um ato litúrgico. Enfi m, todos os passos 
seguintes à prática litúrgica, de alguma forma, se tornam uma maneira 
de fazer teologia secundária.
Mas o culto envolve certo mistério transformador. A simples prática 
ou participação afeta a nossa vida, fé e compreensão da divindade. Ao 
mesmo tempo em que somos os atores do culto, os que fazem e participam 
daquele momento, também somos espectadores e receptores de seus 
efeitos. Participamos em atos-sinais que manifestam e incorporam a 
presença de Deus e que nos transformam. Quando questionamos, então, 
qual a fonte geradora e expressão básica da nossa crença podemos ser 
direcionados à liturgia e não às formulações teológicas dogmáticas. 
Nossa antecipação, expectativa e memória do culto nos faz diferentes, 
individualmente e corporativamente, e tudo isso comporá a nossa 
teologia primária.
Algumas vezes as refl exões não são para serem equacionadas com o 
ato litúrgico em si. Por exemplo, a leitura de uma receita de bolo não 
substitui a experiência de se cozinhar. Por outro lado, não podemos fi car 
restritos apenas à nossa experiência primária pela simples razão do 
próprio Deus ter optado pela sistematização, se assim podemos dizer, 
do culto. Experiências primárias são fundamentais e insubstituíveis, mas 
não conseguiríamos adorar a Deus plenamente sem considerarmos que 
ele se revelou. O próprio Deus decidiu se mostrar e comunicar quem ele 
é por meio do texto bíblico.
Assim, a teologia secundária será o nosso alvo sem desprezar a experiência 
pessoal e coletiva que temos em nossas práticas de adoração. Nossa 
intenção é entendermos a teologia, o discurso que nos mostra Deus, a 
partir dos princípios litúrgicos apresentados, principalmente, na Bíblia. 
| Culto e Liturgia | FTSA18
Também recorreremos à história como referência dos entendimentos 
que a igreja teve desses processos.
Exercício de fi xação
1- Qual a defi nição correta de liturgia?
a. É o serviço que prestamos a Deus por causa da nossa intenção 
de adorá-lo.
b. É o estudo teológico da adoração e do culto.
c. É a organização dos rituais em nossa intenção de prestar 
adoração de forma comunitária.
2.2. Teologia Litúrgica 
Ainda que possamos investigar o que é a adoração e explicá-la 
teologicamente, os recursos que temos disponíveis, praticamente, nos 
limitam ao texto bíblico. Ao mesmo tempo, os textos bíblicos são mais 
claros e numerosos quando tratam da prática do culto em si e não do 
conceito de adoração. Isso signifi ca dizer que tenderemos a construir 
uma Teologiada Adoração a partir da Teologia Litúrgica, ou seja, o 
entendimento da adoração se dará pela observação da participação do 
culto e não como algo pré-defi nido de maneira independente.
Uma metodologia que podemos aplicar pode ser a de investigarmos a 
liturgia pela ótica das diversas áreas teológicas: eclesiologia, cristologia, 
soteriologia, etc. A maior difi culdade, no entanto, é que o conteúdo dos 
textos bíblicos que tratam da liturgia do culto é muitas vezes elementar, 
superficial e com vários simbolismos de difícil i n t e r p r e t a ç ã o . 
Querendo elucidar o signifi cado teológico por trás dos ritos litúrgicos 
teremos que procurar defi nir conceitos e categorias que sejam capazes de 
expressar o mais completo possível a natureza essencial da experiência 
litúrgica na Bíblia e sua aplicação na igreja. Um passo posterior seria 
19Culto e Liturgia | FTSA | 
conectar essas ideias a um sistema de conceitos que a teologia use para 
expor a fé e doutrina da igreja.
Como forma de ampliarmos e aprofundarmos a nossa investigação 
também podemos recorrer às ciências de apoio. Uma análise fi losófi ca 
poderia se interessar em perguntar como os rituais litúrgicos codifi cam 
e descrevem o mundo para os seus participantes. Em uma perspectiva 
mais antropológica poderíamos tentar nos abster de nossa crença e 
tentar observar a liturgia com os olhos de uma pessoa estranha àquele 
ambiente. Nesse exercício, perguntaríamos o porquê por trás dos 
rituais propondo explanações além das afi rmações verbais presentes 
no ato, procurando verifi car o que os comportamentos são capazes de 
imediatamente oferecer.
A princípio podemos pensar em três posições no que se refere à teologia 
presente na liturgia:
A liturgia é a fonte das afi rmações teológicas e tem 
prioridade sobre esta;
A teologia tem prioridade sobre a liturgia e deve julgá-la 
e adequá-la;
A liturgia e a teologia se afetam e fundamentam 
mutuamente subsistindo numa relação criativa e 
simbiótica
A primeira posição prioriza a experiência e os eventos do culto no processo 
de conhecimento e produção do discurso e conceito teológico. Nesse 
caso, o estudo e refl exão das doutrinas e textos bíblicos têm um caráter 
secundário para a realidade teológica. A segunda posição entende que 
o estudo e refl exão formal das doutrinas de origem bíblica devem ser 
sobrepostos a qualquer experiência que ocorra no culto ou nos rituais de 
adoração. As experiências só são consideradas válidas se avaliadas pelo 
resultado da produção teológica, por assim dizer, intelectual. A terceira 
posição procura adequar a importância tanto da experiência quanto da 
| Culto e Liturgia | FTSA20
refl exão, em um processo dialético, em que uma complementa a outra.
De maneira bem genérica, podemos considerar que a igreja primitiva ou 
do período patrístico adotou a primeira opção. A mesma opção parece ser 
priorizada pelas igrejas pentecostais. Já a segunda posição parece ser 
adotada pelas igrejas históricas reformadas. A terceira é mais difícil de ser 
identifi cada em grupos ou movimentos na história da igreja, mas podemos 
sugerir, por exemplo, o movimento metodista liderado por John Wesley.
Creio ser ainda importante uma refl exão complementar ao tema em 
questão. Na verdade, ela poderia ter sido feita na introdução, mas 
preferi deixá-la para esse momento propondo refl etir sobre aquilo que 
pretendemos manter em mente ao longo do estudo que se inicia.
Toda teologia deveria ter por objetivo o louvor e reconhecimento a Deus, 
em outras palavras, a sua glória (doxa). Toda teologia, então, ainda que 
seja um discurso humano, deveria ser uma doxologia, uma vez que toda 
ação humana deve buscar a glória de Deus, conforme indica o apóstolo 
Paulo: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, 
fazei tudo para a glória de Deus” (1Coríntios 10:31). 
Pensando no culto, devido a sua natureza celebrativa, as manifestações 
parecem carregar um pouco mais desse aspecto de engrandecimento de 
Deus. Don Saliers apresenta a seguinte observação:
Nossa tarefa é buscar caminhos que permitam que a 
doxa de Deus dê forma às nossas práticas doxológicas. 
Porque apenas assim a arte indicativa da nossa 
teologia terá resiliência sufi ciente e será enraizada e 
fundada em seu verdadeiro objeto. Consequentemente, 
todas as afeições — gratidão, esperança, lamento, dor 
moral, arrependimento, amor e compaixão — todas 
essas afeições que a liturgia em seu tempo nos 
convida a transformá-las em direção a Deus — acharão 
sua essência quando a glória for mostrada em carne 
humana (1994, p. 42).
21Culto e Liturgia | FTSA | 
Poderíamos até considerar, baseado nessa argumentação, que a 
fi nalidade principal da participação na adoração litúrgica não é receber 
algo de Deus, e sim o contrário. A liturgia não deveria ser vista como algo 
utilitário para benefício próprio. O culto não deveria ter como objetivo 
primeiro satisfazer as pessoas ou simplesmente dar vazão à nossa 
criatividade, habilidades e gostos. Os ritos não deveriam ser elaborados 
como um estilo de vida para dar lugar à nostalgia, para prover descanso, 
oferecer enlevo moral ou para suprir experiências estéticas. Também não 
visam prioritariamente transferir um estilo denominacional ou se tornar 
um ambiente de atualização da vida eclesiástica.
Enquanto um ou todos esses resultados podem vir a acontecer a um 
indivíduo ou a toda a comunidade como consequência da participação 
litúrgica, eles não constituem em todo ou em parte o motivo da 
participação. A celebração da glória de Deus é que continua sendo a sua 
fi nalidade. A relação dos crentes com a liturgia está na celebração, na 
festa em si. A teologia litúrgica, então, é um empreendimento festivo, 
3. Adoração e culto
Até aqui procuramos entender o papel da Teologia como ciência ao 
dialogar com a temática do culto, da liturgia, ou daquilo que circunscreve 
a manifestação comunitária da adoração cristã. Nossa intenção agora é 
investigar a natureza da adoração, seu signifi cado, sua motivação, enfi m, 
sua relação com a manifestação cultual.
O que torna interessante esta investigação é o fato da adoração ser 
um tema contemporâneo de grande atratividade para as pessoas. 
Com os recentes movimentos históricos de avivamento e renovação, 
impulsionados pelo pentecostalismo, a ideia de adoração ganhou espaço 
na igreja.
Embora interessante, talvez o que torne esse tema um pouco difícil 
de ser abordado é a aproximação que todos, de certa forma, possuem 
| Culto e Liturgia | FTSA22
do assunto. A adoração é um conceito que as pessoas parecem 
dominar ao mesmo tempo em que demonstram difi culdade para defi nir 
teologicamente. A apreensão da ideia de adoração parece permear o 
lado afetivo e emocional, quase subconsciente, da experiência de fé, 
deixando um vácuo entre essa realidade e a sua construção doutrinária. 
É exatamente visando preencher esse vácuo que tentaremos construir 
uma fundamentação bíblico-teológica da adoração.
A Confi ssão de Fé de Westminster, de 1643, uma das mais antigas 
confi ssões da Reforma Protestante, afi rma em seu capítulo XXI o 
seguinte:
I. A luz da natureza mostra que há um Deus que tem 
domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem 
a todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, 
louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, 
de toda a alma e de toda a força; mas o modo aceitável 
de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo 
e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve 
ser adorado segundo as imaginações e invenções dos 
homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer 
representação visível ou de qualquer outro modo não 
prescrito nas Santas Escrituras (Ref. Rom. 1:20; Sal. 
119:68, e 31:33; At. 14:17; Deut. 12:32; Mat. I5:9, e 4:9, 
10; João 4:3, 24; Exo. 20:4-6).
O texto da Confi ssão é uma tentativa de sintetizar diversas passagens 
bíblicas que tanto indicam certa obrigatoriedade na adoração, demandada 
por Deus, quanto uma disposição de coração voluntáriapor parte do ser 
humano. Esse paradoxo que apresenta um ato obrigatório associado a um 
ato livre torna-se um ponto fundamental de refl exão sobre o culto cristão.
Se entendermos a adoração como o resultado de um relacionamento 
amoroso entre o ser humano e Deus ela jamais poderá ser algo imposto. 
Caso haja uma imposição da parte de Deus para que ele seja adorado, a 
dimensão do relacionamento em amor será afetada. O amor perfeito não 
23Culto e Liturgia | FTSA | 
pode ser expresso por força de imposição. Ninguém pode ser obrigado a 
amar outra pessoa, ainda que possa aprender a fazê-lo ou a desenvolvê-
lo, porém, sempre de maneira livre.
Por outro lado, o reconhecimento da existência de Deus é algo que parece 
ser exigido, como observamos em Romamos 1:18-23:
A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade 
e perversão dos homens que detêm a verdade pela 
injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer 
é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. 
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu 
eterno poder, como também a sua própria divindade, 
claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, 
sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. 
Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, 
tendo conhecimento de Deus, não o glorifi caram como 
Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos 
em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o 
coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-
se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em 
semelhança da imagem de homem corruptível, bem 
como de aves, quadrúpedes e répteis.
No texto em questão, a adoração, em certo sentido, também parece ser 
exigida como consequência do simples reconhecimento da existência 
de Deus. Pela argumentação de Paulo, o dar glória e graças a Deus, ou 
em outras palavras, valorizar e ter gratidão por Deus, seria uma atitude 
natural daquele que reconhece a sua existência como tal. Entretanto, por 
causa do pecado, o ser humano passa a glorifi car deuses fabricados 
por ele mesmo. Certamente os atos de glorifi car e dar graças estão 
envolvidos na adoração, mas a abordagem do apóstolo não tem como 
foco principal a adoração voluntária resultante de um relacionamento de 
| Culto e Liturgia | FTSA24
amor. Seu foco está na condição humana geral, submetida a um estado 
de pecado, de incapacidade de reconhecer a Deus e adorá-lo. O texto 
elabora mais o aspecto amplo daquilo que é estabelecido pela queda 
causando tanto a chamada ira divina quanto a condição de insanidade 
do ser humano diante do seu criador, tornando-o, por isso indesculpável 
ou passível de morte.
Um texto mais claro para entendermos a adoração como um ato de 
liberdade, dentro de uma relação, e não como uma obrigação é o que 
está em Gênesis 3:3-7:
Aconteceu que no fi m de uns tempos trouxe Caim do 
fruto da terra uma oferta ao SENHOR. Abel, por sua vez, 
trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. 
Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo 
que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se, 
pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante. 
Então, lhe disse o SENHOR: Por que andas irado, e por 
que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não 
é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, 
eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, 
mas a ti cumpre dominá-lo.
O livro de Hebreus procura explicar o que está registrado nessa passagem 
de Gênesis:
Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do 
que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo 
a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, 
também mesmo depois de morto, ainda fala (Hb 11:4).
O culto em si não é um ato vazio, rotineiro e ritualístico para cumprir 
uma imposição divina. Também não é um ato para satisfazer um Deus 
narcisista que necessita da adulação humana. A adoração surge como 
uma resposta da fé, ou seja, da relação entre alguém que crê e reconhece 
em Deus o alvo do seu amor e confi ança.
25Culto e Liturgia | FTSA | 
Tendo esse primeiro conceito desenvolvimento, passaremos a buscar 
uma maior fundamentação bíblica para a adoração.
3.1. Fundamentação bíblica da adoração
Em um livro dedicado ao tema da adoração, Russel Shedd apresenta 
diversos termos bíblicos, em hebraico e grego, que são traduzidos pela 
palavra adoração ou por seus sinônimos correlatos. Um dos termos 
principais é proskuneo, assim explicado:
Originalmente signifi cava “beijar”. Entre os gregos era 
um termo técnico que signifi cava “adorar os deuses”, 
dobrando os joelhos ou prostrando-se. Beijar a terra 
ou a imagem, em sinal de adoração, acompanhava o 
ato de prostrar-se no chão. Colocar-se nessa posição 
comunicava a idéia básica de submissão (1987, p. 16).
Segundo o mesmo autor, essa foi a palavra grega usada para traduzir 
o termo hebraico shacha cujo signifi cado é o mesmo, de curvar-se ou 
prostrar-se. Com isso, obtemos o primeiro conceito por trás da adoração 
que é o de reconhecer alguém que é maior que nós a quem reverenciamos. 
O ato simbólico de curvar-se ou prostrar-se é praticado por várias culturas 
em situações diversas e embora seja demonstrado fi sicamente, no caso 
da adoração a Deus, ele se torna secundário frente à intenção do coração 
ou à motivação da pessoa.
O entendimento de quem Deus é e do relacionamento que ele intenciona 
ter conosco é mais importante do que os ritos cultuais externos. De 
maneira simplifi cada poderíamos dizer que a adoração é uma atitude 
interna e o culto uma manifestação externa. Dois textos bíblicos, pelo 
menos, parecem apontar para essa ideia:
Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, 
dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. 
Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora 
vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém 
| Culto e Liturgia | FTSA26
adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós 
adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem 
dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os 
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e 
em verdade; porque são estes que o Pai procura para 
seus adoradores. Mas vem a hora e já chegou, em que 
os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito 
e em verdade; porque são estes que o Pai procura para 
seus adoradores (João 4:20-23).
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo 
ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários 
feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos 
humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois 
ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo 
mais (Atos 17:24-25).
O questionamento que a mulher samaritana faz a Jesus no capítulo 4 
do evangelho de João se concentra em uma rixa histórica entre o seu 
povo e o povo judeu. Desde que os hebreus samaritanos perderam a 
condição de pureza de raça, após os exílios assírio e babilônico, e com a 
destruição do templo em Jerusalém, estes passaram a adotar um novo 
local para cultuar a Deus. A dúvida daquela mulher era legítima uma vez 
que o povo samaritano postulava adorar o mesmo Deus dos judeus cujos 
patriarcas ancestrais eram comuns aos dois povos. No relato, porém, 
Jesus afi rma haver um desconhecimento por parte do povo samaritano 
sobre a revelação da salvação oferecida pelo Messias judeu que haveria 
de ser ele próprio.
A centralidade religiosa do povo judeu, no entanto, na cidade de Jerusalém 
causava dúvidas quanto à validade da adoração que se prestava pelo povo 
samaritano. Observe que Jesus não rejeitou a adoração daquele povo e ao 
mesmo tempo relativizou a manifestação cultual judaica. Jesus apresenta 
uma quebra de paradigma muito importante ao dizer que não é o lugar onde 
27Culto e Liturgia | FTSA | 
se adora e, por consequência, não são os atos litúrgicos que importam. O 
que importa é uma adoração que nasça de uma consciência interna e seja 
expressão de uma relação verdadeira e não ritualística.
A quebra de paradigma trazida por Jesus afeta uma prática histórica 
secular e difícil deser imediatamente aceita. Por muitos anos a 
religiosidade do povo de Israel foi construída em torno do Templo de 
Jerusalém. Por isso mesmo, essa perspectiva de Jesus incomodou 
a casta religiosa dominadora representada por fariseus, saduceus e 
escribas. Pelo menos em duas passagens Jesus afronta diretamente 
essa relação da religiosidade do Templo: Mateus 21:12 e João 2:19. Ele 
nos ajuda a confrontar as religiosidades que criamos com o princípio do 
relacionamento pessoal genuíno com Deus.
Voltando agora a nossa atenção ao texto de Atos 17:24-25, vemos que 
ele registra o discurso do apóstolo Paulo em Atenas que segue um 
raciocínio semelhante ao de João ao afi rmar a falta de associação direta 
entre Deus e os santuários, ou templos, bem como da sua independência 
com relação à oferta ou não de adoração por parte dos seres humanos. 
A ideia por trás da expressão traduzida como “nem é servido por mãos 
humanas” é a de que está fora da capacidade humana fazer algo que 
venha a mudar quem Deus é. Ele é sufi ciente em si mesmo e não é a 
adoração humana que irá completá-lo de alguma forma.
Novamente o que temos aqui é uma quebra de paradigma que já deveria ter 
sido vencida desde o tempo de Jesus ou Paulo. A centralidade do templo na 
adoração cristã não faz sentido. Mas, a priori, não é isso que observamos 
na vivência da igreja. A grande maioria das expressões de culto que os 
cristãos prestam está diretamente associada aos templos. Não que haja 
algo errado em se prestar culto em um espaço específi co que reúna as 
pessoas. O equívoco está na centralização e restrição da adoração quase 
que exclusivamente a esse tipo de espaço e a um tipo de liturgia.
O culto também pode ser entendido como um ato de serviço (leitourgeo) 
a Deus que demonstra de maneira externa e coletiva o reconhecimento, a 
| Culto e Liturgia | FTSA28
reverência, a confi ança, a esperança, enfi m, o relacionamento que há entre 
ele e as pessoas. Se por um lado não temos como defender a centralidade 
da liturgia do templo, por outro, vemos na afi rmação da Confi ssão de Fé, 
apresentada no início desse texto, que nem todas as formas de culto 
são aceitáveis. Se por um lado temos como condição primordial para 
a adoração uma atitude interior adequada, por outro, temos princípios 
norteadores das manifestações cultuais que pretendemos prestar.
3.2. Atitude interna e motivação da adoração
Ao nos propormos investigar os princípios bíblicos norteadores do tipo de 
atitude que deve estar presente em nossa adoração encontramos alguma 
difi culdade para apontar instruções explícitas sobre o tema. Começando 
com o Antigo Testamento, precisamos levar em consideração que a 
religiosidade do povo de Israel era expressa de maneira muito concreta 
com atos cultuais detalhadamente elaborados, mas com pouca alusão 
aos sentimentos e às atitudes internas. Isso não signifi ca dizer que tais 
atitudes eram desconsideradas ou possuíam importância secundária. Os 
salmos, nesse sentido, são ricos no que se refere aos sentimentos, mas 
se a nossa busca se concentrar em textos de outros livros bíblicos, na 
tentativa de encontrar instruções ou doutrinas, teremos muita difi culdade 
em sistematizá-las.
Um dos textos fundamentais para toda a teologia do AT, citado na 
Confi ssão de Fé1, que pode indicar os princípios que buscamos é o de 
Deuteronômio 6:4,5: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único 
SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de 
toda a tua alma e de toda a tua força”.
A ideia do texto em hebraico é um pouco diferente da que talvez venhamos 
a ter lendo-a já na tradução em português. O texto instrui o povo de Israel 
a amar a Deus, que é único, com a totalidade do lebab (coração), com a 
totalidade da nephesh (alma), com grande intensidade. Vale 
esclarecer que a expressão “força”, no texto original, não faz qualquer 
alusão a algum aspecto físico ou corporal. A ideia é de magnitude, de 
1 Ver Unidade 3.
29Culto e Liturgia | FTSA | 
excesso, ou seja, ela adjetiva a ação de amar trazendo uma noção de que 
a mesma deve ser feita com bastante intensidade. No fundo, todo o verso 
está, num certo sentido, no superlativo: amar com todo o coração, toda a 
alma e com muita intensidade.
Esclarecendo um pouco o signifi cado de lebab, traduzido como coração, 
observamos uma restrição naquilo que o termo expressa na cultura 
hebraica. Nossa cultura atribui ao coração apenas os sentimentos ou as 
emoções. Para a cultura hebraica o coração tem uma abrangência maior 
conforme nos explica Hans Wolff:
Na grande maioria dos casos, predicam-se do coração 
funções intelectuais, racionais, logo exatamente aquilo 
que nós atribuímos à cabeça ou mais exatamente ao 
cérebro; cf. 1 Sam 25,37... Deve-se evitar a impressão 
falsa de que o homem bíblico seja determinado mais 
pelo sentimento do que pela razão. Esta orientação 
antropológica errônea se origina com facilidade 
demasiada numa tradução indiferenciada de l. A Bíblia 
põe o homem perante claras alternativas que devem 
ser conhecidas. É sumamente característico que l. se 
encontre de longe com maior freqüência na literatura 
sapiencial: só nos Provérbios 99 vezes e no Eclesiastes 
42 vezes; no Deuteronômio, acentuadamente doutrinal, 
51 vezes (1975, p. 70).
Com base na explicação acima, o amor a Deus não se restringe a 
“sentirmos” algo em relação a ele e sim intencionalmente, numa 
manifestação consciente, inteligente e racional da vontade, n o s 
relacionarmos com ele considerando a sua unicidade e status divino. Esta 
mesma ideia é defendida pelo apóstolo Paulo no Novo Testamento em 
1 Coríntios 14:15 ensinando que o nosso culto a Deus é eminentemente 
racional: “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com 
a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente”.
| Culto e Liturgia | FTSA30
Complementando o princípio ensinado no texto de Deuteronômio, vemos 
a referência a uma disposição de integralidade da nephesh (alma) na 
relação com Deus. Mais uma vez, temos aqui um provável entendimento 
equivocado sobre o signifi cado do termo hebraico utilizado. Por causa 
da tradução de nephesh como alma e dado o uso que fazemos do termo 
como denotando a dimensão interna do ser humano que identifi ca a 
personalidade, podemos pensar que o texto está aludindo a alguma 
postura interior. No entanto, nephesh tem um sentido um pouco 
diferente. Novamente, Wolff nos explica: “[Nephesh] deve ser olhado 
aqui em conjunto com a fi gura total do homem e especialmente com a 
sua respiração; por isso, o homem não tem n. [nephesh] mas é n., vive 
como n.” (1975, p. 22). Um texto que podemos usar para esclarecer o 
signifi cado de nephesh é o de Gênesis 2:7. Ali temos a ideia da totalidade 
do ser humano como um organismo que vive ou que respira e não 
simplesmente o âmbito da interioridade.
Resumindo o ensino de Dt 6:4-5 e aplicando-o à nossa atitude quanto 
à adoração, podemos traduzir o texto da seguinte forma: Adorarás 
intensamente a Deus com toda a tua vontade, razão, emoção e com toda 
a vida que há em ti.
Voltando agora a nossa atenção ao Novo Testamento e retomando o texto 
de João 4:23-24, encontramos a afi rmação de que Deus requer que seus 
adoradores o adorem em espírito e em verdade. Esta passagem está em 
direta relação com o capítulo 3 quando Jesus dialoga com Nicodemus 
e explica a nova condição daqueles que nascem, de novo, do Espírito. 
Assim, a adoração que Deus espera é aquela que é consequência de uma 
nova relação, especial, que não tem mais a ver com a questão étnica 
judaica, nem tampouco com a religiosidade cultural praticada por aquele 
povo. Não se trata mais de uma simples prática ritualística e sim de uma 
atitude consciente da relação de carinho e proximidade estabelecida 
a partir do nascimento para uma nova realidade. Por isso mesmo, a 
adoração deve ser verdadeira, não falsa, não hipócrita. A acusação de 
31Culto e Liturgia | FTSA | 
hipocrisia talvez seja a maior que Jesus faz à religiosidade dos escribase fariseus, os pretensos guardiães da adoração correta segundo os 
princípios cultuais da tradição judaica.
Exercício de fi xação
Qual a ideia central ensinada no texto de Dt 6:4-5 no que se refere à 
atitude interna ou motivação para a adoração a Deus?
a. A adoração deve ser feita em espírito e em verdade;
b. A adoração é uma atitude de amor que envolve sentimentos e 
razão;
c. A adoração é uma atitude de amor que vem da alma;
3.3. Atitude externa e expressão de adoração
Pensemos agora em algumas atitudes externas ou, em outras palavras, 
em formas de adoração que encontramos na Bíblia. A sugestão é a 
de que mantenhamos em mente a atitude que Deus requer de seus 
adoradores, elaborada no item anterior, à medida que vasculhamos os 
textos que seguem.
No Antigo Testamento encontramos um princípio interessante sobre a 
expressão de adoração a Deus que rejeita as fórmulas pagãs do tempo 
de Moisés. No decálogo a adoração politeísta e de imagens é rechaçada 
(Êxodo 20:3-6). O que este texto nos apresenta não é uma simples 
rejeição a elementos simbólicos visuais, mas a impossibilidade de se 
representar o Deus único e criador do universo por meio de qualquer 
representação humana como a realizada pelas diversas religiosidades 
do Antigo Oriente. Se o que estivesse sendo prescrito fosse a completa 
ausência de elementos simbólicos, não teríamos a possibilidade de 
aceitar toda a orientação para a realização do culto no Tabernáculo, 
registrado nos capítulos 25 a 31 do livro de Êxodo e, posteriormente, no 
Templo de Jerusalém.
| Culto e Liturgia | FTSA32
Outro dado importante do decálogo é que o tema explícito do culto está 
em franca relação com o comportamento e atitude ética na vida diária. 
Os Dez Mandamentos confi rmam a nossa tese de que a adoração requer 
uma atitude interna e de vida ética igualmente relevante. Não se pode 
dissociar estes dois aspectos.
Não voltaremos a nossa atenção aos textos que descrevem o culto 
sacrifi cial do AT uma vez que esse culto foi superado no NT com o 
sacrifício vicário de Cristo. A outra razão para não entrarmos em detalhe 
nesses textos é que o esforço de investigação exigiria uma maior 
profundidade de estudo antropológico e histórico fugindo da abordagem 
proposta. Gostaria, no entanto, de observar outros textos que confrontam 
exatamente o rigor estabelecido pelo tipo de culto praticado em torno do 
Tabernáculo e Templo numa tentativa de encontrar os princípios mais 
importantes para a adoração a Deus.
A primeira e interessante expressão de adoração que gostaria de abordar 
é a de Ana em 1 Samuel 1:9-14. Primeiramente, devemos nos abstrair 
daquilo que já conhecemos ou nos acostumamos a ver nas formas de 
adoração que encontramos nas igrejas nos dias de hoje. O que se passa 
com Ana nesse texto não era normal nem “aprovado” pela religiosidade 
da época. Podemos perceber isso pela reação do sacerdote, ou se assim 
preferir, do pastor da igreja, Eli. Ana orava profunda e intensamente com 
lágrimas e balbucios numa demonstração de confi ança e liberdade em 
Deus, sem estereótipos sem rituais elaborados. Todos sabemos que a 
adoração e oração de Ana foram aceitas.
Outra expressão de adoração que quebra os padrões pré-estabelecidos 
e esperados dentro da cultura religiosa judaica é a de Davi registrada em 
2 Samuel 6:12-16. O que Davi faz é, de certa forma, ridículo e impróprio 
segundo a ótica de sua esposa. Não me parece que a questão estivesse 
na dança em si e sim na participação comum do rei naquele desfi le. Davi 
expressava a sua adoração de maneira sincera e, talvez, até mesmo 
exagerada, mas para alguns, aquilo poderia ser visto como impróprio.
33Culto e Liturgia | FTSA | 
Já no NT, dentro desta mesma intenção de verifi carmos expressões 
que fogem aos padrões instituídos, mas que traduzem uma adoração 
genuína e sincera vemos o que Simeão faz, dentro do Templo, quando se 
encontra com o menino Jesus (Lucas 2:25-35). Temos ainda o registro 
de Hebreus 5:7-9 falando de uma forma de culto oferecida pelo próprio 
Jesus. Ou ainda, a parábola de Lucas 18:9-14 que contrapõe a adoração 
do fariseu e do publicano. A do primeiro é religiosamente perfeita, porém, 
vazia de signifi cado para Deus. A do segundo é sincera e atinge o seu 
objetivo.
Estas passagens bíblicas apontam para uma certa relativização das 
formas de culto que prestamos em nossa intenção de expressar a atitude 
e motivação que temos ao adorar a Deus. Ao investigarmos a teologia e 
prática do culto devemos sempre nos lembrar destes princípios ainda que 
parte de nossa intenção seja a de organizar, de alguma maneira, os atos 
litúrgicos tendo como objetivo a comunicação da experiência de fé comum.
Exercício de reflexão
O texto deste último tópico afi rma que existe uma certa relativização 
das formas de culto, relacionando a adoração a intenção de 
expressar-se a Deus. Atualmente, muitas expressões de adoração 
surgiram, muitas delas aparentemente estranhas e irreverentes. 
Com base em seu conhecimento sobre as formas de adoração 
(vistas em sua comunidade ou em outras), refl ita sobre a validade 
das expressões atuais de adoração, isto é, se elas se encaixam em 
atitudes autênticas ou se fogem à reverência devida a Deus.
Exercício de reflexão
O texto deste último tópico afi rma que existe uma certa relativização 
das formas de culto, relacionando a adoração a intenção de 
expressar-se a Deus. Atualmente, muitas expressões de adoração 
surgiram, muitas delas aparentemente estranhas e irreverentes. 
Com base em seu conhecimento sobre as formas de adoração 
(vistas em sua comunidade ou em outras), refl ita sobre a validade 
das expressões atuais de adoração, isto é, se elas se encaixam em 
atitudes autênticas ou se fogem à reverência devida a Deus.
| Culto e Liturgia | FTSA34
Bibliografi a
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. Arquivo disponível em www.
executivaipb.com.br/arquivos/confi ssao_de_westminster.pdf. Acesso 
em 27 de junho de 2019.
CAMPOS, Leonildo Silveira. Templo, teatro e mercado: organização e 
marketing de um empreendimento neopentecostal. Petrópolis, RJ: Vozes; 
São Paulo: Simpósio Editora e Universidade Metodista de São Paulo, 
1997.
KLEIN, Alberto. Imagens de culto e imagens da mídia: interferências 
midiáticas no cenário religioso. Porto Alegre: Sulina, 2006.
SALIERS, Don E. Worship as theology: forestate of glory divine. Nashville: 
Abingdon Press, 1994. 255 p.
SHEDD, Russel. Adoração bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1987.
WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: 
Loyola, 1975. p.70.
35Culto e Liturgia | FTSA | 
Unidade 2 - Fundamentação bíblica do culto no Antigo 
Testamento
Após uma série de temas introdutórios, queremos focar nossa 
atenção na formulação de uma fundamentação bíblica para o culto. A 
investigação se dará a partir da observação do processo histórico de 
desenvolvimento do povo de Israel e sua cultura conforme registrado nas 
Escrituras. Após apontarmos as características do culto ao longo das 
diversas fases históricas e de compreensão teológica por parte do povo 
de Israel, apresentaremos algumas conclusões na tentativa de aplicação 
de princípios à realidade contextual contemporânea.
Devemos ter um cuidado adicional ao lidar com textos bíblicos, 
principalmente os do Antigo Testamento. Muitas vezes, por já conhecermos 
toda a revelação bíblica, de Gênesis a Apocalipse, que considera o 
fundamental e central aspecto da pessoa e obra de Jesus Cristo, temos 
a tendência de ler alguns textos a partir desse conhecimento. Para a 
abordagem a que nos propomos, devemos nos abstrair desse prévio 
conhecimento, que já adquirimos, e tentarmos elaborar os conceitos a 
partir do contexto no qual e para o qual o texto bíblico foi escrito. Isso 
signifi ca que ao olharmos para o desenvolvimento do culto no Antigo 
Testamento, devemos nos ater apenas ao contexto no qual o texto foi 
escrito e em seu passado histórico produtor.
1. As expressões de culto na história de Israel
1.1. O culto na época dos patriarcasA primeira observação que podemos fazer acerca do culto a Deus no 
período patriarcal é que este se assemelhava muito aos cultos pagãos do 
Oriente Antigo. Os cultos dos povos que habitavam a região onde viveram 
os patriarcas de Israel, de maneira geral, eram feitos em altares ou lugares 
sagrados, com o uso de ofertas, sacrifícios de animais e orações. Roland 
de Vaux nos informa que
| Culto e Liturgia | FTSA36
[...] A religião naturalista de Canaã reconhecia 
uma manifestação da presença ou da ação divina 
nas fontes que fecundam a terra, nos poços que 
abeberam os rebanhos, nas árvores que testemunha 
essa fecundidade, nas alturas que se reúnem as 
nuvens de onde vem a chuva benfazeja. Os israelitas 
e seus ancestrais, que foram pastores e agricultores, 
partilhavam dessa concepção (2003, p. 315).
Observe os relatos de alguns textos do livro de Gênesis:
• Gn 12:7-8 – Apareceu o SENHOR a Abrão e lhe disse: Darei à tua 
descendência esta terra. Ali edifi cou Abrão um altar ao SENHOR, que 
lhe aparecera. Passando dali para o monte ao oriente de Betel, armou 
a sua tenda, fi cando Betel ao ocidente e Ai ao oriente; ali edifi cou um 
altar ao SENHOR e invocou o nome do SENHOR.
• Gn 15:7-10 – Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR que te tirei de Ur dos 
caldeus, para dar-te por herança esta terra. Perguntou-lhe Abrão: 
SENHOR Deus, como saberei que hei de possuí-la? Respondeu-lhe: 
Toma-me uma novilha, uma cabra e um cordeiro, cada qual de três 
anos, uma rola e um pombinho. Ele, tomando todos estes animais, 
partiu-os pelo meio e lhes pôs em ordem as metades, umas defronte 
das outras; e não partiu as aves.
• Gn 16:13-14 – Então, ela [Hagar] invocou o nome do SENHOR, que 
lhe falava: Tu és Deus que vê; pois disse ela: Não olhei eu neste lugar 
para aquele que me vê? Por isso, aquele poço se chama Beer-Laai-
Roi; está entre Cades e Berede.;
• Gn 17:9-11 – Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu 
e a tua descendência no decurso das suas gerações. Esta é a minha 
aliança, que guardareis entre mim e vós e a tua descendência: todo 
macho entre vós será circuncidado. Circuncidareis a carne do vosso 
prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós.
37Culto e Liturgia | FTSA | 
• Gn 21:33 – Plantou Abraão tamargueiras em Berseba e invocou ali o 
nome do SENHOR, Deus Eterno.
• Gn 26:23-25 – Dali subiu para Berseba. Na mesma noite, lhe 
apareceu o SENHOR e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu pai. Não 
temas, porque eu sou contigo; abençoar-te-ei e multiplicarei a tua 
descendência por amor de Abraão, meu servo. Então, levantou ali um 
altar e, tendo invocado o nome do SENHOR, armou a sua tenda; e os 
servos de Isaque abriram ali um poço.
• Gn 28:18-22 – Tendo-se levantado Jacó, cedo, de madrugada, tomou 
a pedra que havia posto por travesseiro e a erigiu em coluna, sobre 
cujo topo entornou azeite. E ao lugar, cidade que outrora se chamava 
Luz, deu o nome de Betel. Fez também Jacó um voto, dizendo: Se 
Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me 
der pão para comer e roupa que me vista, de maneira que eu volte em 
paz para a casa de meu pai, então, o SENHOR será o meu Deus; e a 
pedra, que erigi por coluna, será a Casa de Deus; e, de tudo quanto me 
concederes, certamente eu te darei o dízimo.
• Gn 33:20 – Voltando de Padã-Arã, chegou Jacó são e salvo à cidade 
de Siquém, que está na terra de Canaã; e armou a sua tenda junto da 
cidade. A parte do campo, onde armara a sua tenda, ele a comprou 
dos fi lhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de dinheiro. E 
levantou ali um altar e lhe chamou Deus, o Deus de Israel.
Os textos mostram diferentes expressões de culto: construção de 
altares, sacrifício de animais, construção de poço, mutilação humana 
(circuncisão), plantação de árvores, construção de coluna, unção com 
óleo (azeite) e entrega de oferta (dízimo). Nenhum dos relatos segue 
qualquer lógica ou ordem específi ca. Na realidade, as expressões de 
culto relatadas são idênticas às feitas pelas diversas religiosidades dos 
povos que habitavam o Oriente Antigo.
Outro elemento curioso é que Deus possuía diferentes adjetivações 
associadas à raiz hebraica genérica El que é traduzida como Deus. Os 
| Culto e Liturgia | FTSA38
textos que tratam dos patriarcas são anteriores ao monoteísmo iniciado 
com a tradição de Moisés que atribuiu a Deus o nome de Javé (Yahweh). 
Assim, vemos nos textos originais em hebraico várias expressões 
associadas a essa raiz:
• Gn 17:1 – Quando Abrão estava com noventa e nove anos de idade 
o SENHOR (Yahweh) lhe apareceu e disse: “Eu sou o Deus todo-
poderoso (El Shadday); ande segundo a minha vontade e seja íntegro;
• Gn 21:33 – Abraão, por sua vez, plantou uma tamargueira em Berseba 
e ali invocou o nome do SENHOR (Yahweh), o Deus Eterno (El Olam);
• Gn 31:13 – Sou o Deus de Betel (El Betel), onde você ungiu uma coluna 
e me fez um voto. Saia agora desta terra e volte para a sua terra natal; 
• Gn 33:20 – Ali edifi cou um altar e lhe chamou El Elohe Israel (Deus 
de Israel).
Com base nos textos desse primeiro período não encontramos uma 
direção litúrgica clara quer seja na forma de orientação doutrinária 
quer seja na forma de ordenança. O que observamos é uma grande 
semelhança entre a prática pagã e a prática dos patriarcas, porém, estas 
tendo como alvo específi co o Deus do clã de Abraão, que vai sendo 
perpetuado em sua família. É assim que vemos a repetição da expressão 
o Deus de Abraão, o Deus de Isaque (Gn 28:13) e o Deus de Jacó (Ex 3:6).
Ainda que a proibição de se tentar expressar a pessoa de Deus por meio 
de imagens tenha sido prescrita apenas a partir dos Dez Mandamentos, 
os relatos do tempo dos patriarcas apontam para uma contínua tentativa 
de expressão simbólica concreta por meio de colunas de pedra, árvores, 
poços, etc. Ainda não havia o Tabernáculo ou o Templo, mas havia lugares 
considerados sagrados (Betel, Berseba, Siquém, etc.) e o uso altares.
Muito importantes eram os eventos ou ações atribuídas a Deus que 
geravam os cultos de adoração: vitória em batalhas, sonhos, nascimento 
de fi lho, boa colheita, etc. Da mesma forma entendemos a importância 
39Culto e Liturgia | FTSA | 
dada às teofanias2 como geradoras de cultos. Em todos os relatos desse 
período os cultos aparecem como algo simples, sem liturgias complexas.
Exercício de Fixação
A contextualização do culto e das práticas litúrgicas dos patriarcas 
é importante para compreensão da narrativa bíblica, pois detalhes 
são melhores compreendidos frentes às práticas dos cultos 
pagãos do Oriente Antigo. Sobre o culto no tempo dos patriarcas 
é correto afi rmar que: 
a) Eram feitos sem mandamento ou orientação litúrgica;
b) Eram feitos em tendas prefi gurando o Tabernáculo;
c) Eram feitos de maneiras diversas em lugares diversos por meio 
de sacerdotes;
d) Eram feitos com elementos pagãos proibidos;
e) Eram feitos em templos espalhados por todo o território nômade.
1.2. O culto no deserto e ocupação de Canaã
Voltamos agora a nossa observação para o culto praticado quando 
da peregrinação do povo de Israel pelo deserto e sua fi xação na terra 
prometida de Canaã após a saída do Egito. Os livros bíblicos que nos 
informam sobre esse período são os compreendidos entre Êxodo e 1 
Samuel, pertencentes a diferentes tradições editoriais.
Basicamente este é o tempo histórico em que se instituiu o culto a Javé 
(Yahweh) em um templo móvel, ou tenda, que se denominou Tabernáculo 
e que posteriormente foi transferido para o Templo de Salomão no período 
monárquico. Seu desenvolvimento e descrição se encontram na tradição 
do Sinai e do deserto. Os textos do Pentateuco são particularmente 
2 Teofania é uma expressão de origem grega que signifi ca a revelação ou manifestação 
sensível de Deus em algum lugar, coisa ou pessoa, ou através de um anjo, ou fenômenos 
impressionantes da natureza.
| Culto e Liturgia | FTSA40
atenciosos aos acontecimentos que ocorreram em função do Tabernáculo, 
assim como às normas religiosas e cultuaisassociadas a ele. Uma 
explicação mais detalhada nos é dada por Roland de Vaux:
Antes disso, deve-se estudar um outro grupo de 
tradições, relacionados aos princípios do culto de 
Iahvé. É dito que no deserto os israelitas tinham como 
santuário uma tenda, que se tornou, por infl uência da 
Vulgata, o Tabernáculo da literatura cristã. Esta Tenda é 
chamada em hebraico ’ohel mo‘ed, a Tenda da Reunião, 
ou do Encontro, ou da Assembleia. Ela é de fato o lugar 
onde Iahvé conversava com Moisés “face a face”, Êx 
33.11, lhe falava “boca a boca”, Nm 12.8. Esses textos 
pertencem à tradição mais antiga, que insiste na função 
da Tenda nos oráculos: quem queria “consultar a Iahvé” 
ia à Tenda, onde Moisés servia de intermediário junto a 
Deus, Êx 33.7. A tradição sacerdotal manteve o mesmo 
nome, com o mesmo sentido: a Tenda da Reunião é 
o lugar de “encontro” com Moisés e o povo de Israel, 
Êx 29.42-43, 30.36. Mas essa tradição prefere chama-
la a Habitação, mishkan, um termo que parece ter 
designado primeiramente a habitação temporária do 
nômade, cf. o antiquíssimo texto de Nm 24.5 e o verbo 
correspondente em Jz 8.11, cf. também II Sm 7.6, 
logo, um sinônimo de “tenda”. Os relatos sacerdotais 
escolheram essa palavra arcaica para exprimir o modo 
de habitação terrena do Deus que reside no céu [...] 
Sobre o aspecto dessa Tenda, sua estrutura e sua 
mobília, as passagens mais antigas não dão nenhuma 
explicação. Por outro lado, a tradição sacerdotal dá uma 
longa descrição da Habitação, tal qual Iahvé ordenou 
que fosse construída, Êx 26, e que Moisés executou, Êx 
36.8-38. Essa descrição é difícil de interpretar e não se 
vê bem como se combinam os vários elementos que 
ela apresenta (2003, pp. 332-333).
41Culto e Liturgia | FTSA | 
Uma maneira simplista de entender a ideia por trás da Tenda/Habitação 
de Deus é pensar naquilo que ocorria na cultura dos povos nômades da 
região. Em suas peregrinações, os nômades se abrigavam em tendas que 
eram montadas e desmontadas à medida que se deslocavam pelas regiões 
que faziam parte de suas migrações em busca de pasto, água, segurança e 
comercialização de seus produtos pastoris. Na prática de sua religiosidade, 
uma tenda especial era dedicada à divindade ou às divindades em que 
criam, servindo de santuário e local de oferta e culto. No caso do povo de 
Israel, de forma semelhante, enquanto se moviam e habitavam no deserto 
próximo à Canaã, uma tenda era dedicada ao culto a Javé.
Uma tentativa de representar aquilo que é descrito sobre o Tabernáculo 
no livro de Êxodo pode ser vista na fi gura a seguir.
Reprodução em maquete do Tabernáculo
(http://www.albanymissionarybaptist.org/tabernacle-lesson-1/)
Os detalhes de como ocorria esse serviço religioso não nos são 
informados. Se primeiro levarmos em conta a ideia da Tenda como um 
| Culto e Liturgia | FTSA42
lugar onde o líder e profeta Moisés consultava a Deus para saber os seus 
oráculos e recebia o povo para aconselha-lo, podemos imaginar um rito 
simples. Se, no entanto, tomarmos o processo posterior, desenvolvido em 
função de uma Tenda maior com sacrifícios ofi cializados pelos sacerdotes, 
temos aquilo que encontramos especifi cado, principalmente, nos livros 
de Êxodo e Levíticos, em torno de toda a arquitetura, mobília, utensílios e 
liturgia sacrifi cial e de oferta. Um dado importante a ser ressaltado, sobre 
esse culto sacrifi cial e intermediado pelos sacerdotes, é que ele não prevê 
a participação comunitária em seus ritos. Se lermos com atenção os textos 
bíblicos, vemos que a responsabilidade do povo é apenas de levar os animais 
e ofertas até a entrada da Tenda, entregando-os aos sacerdotes. Esses sim, 
são os que prestarão, por assim dizer, o culto a Javé.
Na transição do deserto para o assentamento e posse da terra de Canaã, 
nossa expectativa poderia ser de vermos que o culto instituído em torno 
do Tabernáculo seria único, porém, se observarmos os textos daquele 
período com cuidado veremos que não foi isso o que aconteceu nessa 
fase histórica. Mesmo a interessante descrição do Tabernáculo que 
se movia com o povo no deserto sob o comando de Deus, por meio da 
coluna de nuvem de dia e de fogo à noite, desaparece quando as tribos 
se fi xam em Canaã, cada uma em uma região diferente da outra. Não há 
uma indicação clara sobre o que teria ocorrido com o Tabernáculo a não 
ser relatos soltos que apontam para uma possível fi xação em Siló desde 
a travessia do Jordão e repartição das terras (Js 18:1) até que o rei Davi 
o levasse para Jerusalém (2Sm 6). O texto de 1 Samuel 1:24 indica estar 
naquela cidade a Casa do Senhor e o texto de Juízes 21:19 destaca um 
culto festivo anual. Vejamos os textos
• Js 18:1 – Toda a comunidade dos israelitas reuniu-se em Siló e ali 
armou a Tenda do Encontro. A terra foi dominada por eles;
• 1Sm 1:24 – Depois de desmamá-lo, levou o menino, ainda pequeno, à 
casa do Senhor, em Siló, com um novilho de três anos de idade, uma 
arroba de farinha e uma vasilha de couro cheia de vinho;
43Culto e Liturgia | FTSA | 
• Jz 21:19 – Há, porém, a festa anual do Senhor em Siló, ao norte de 
Betel, a leste da estrada que vai de Betel a Siquém, e ao sul de Lebona
• 2Sm 6:1-2 – Ele e todos os que o acompanhavam partiram para Baalá, 
em Judá, para buscar a arca de Deus, arca sobre a qual é invocado o 
Nome, o nome do Senhor dos Exércitos, que tem o seu trono entre os 
querubins acima dela.
No entanto, alguns textos do livro de 1 Samuel apontam Mispa e Gilgal:
• 1Sm 7:5 – E Samuel prosseguiu: “Reúnam todo o Israel em Mispá, e 
eu intercederei ao Senhor a favor de vocês”;
• 1Sm 10:8 – “Vá na minha frente até Gilgal. Depois eu irei também, 
para oferecer holocaustos e sacrifícios de comunhão, mas você deve 
esperar sete dias, até que eu chegue e diga a você o que fazer”;
Também é difícil identifi car toda a multiplicidade de cultos presentes 
no meio do povo de Israel que sofreu a constante infl uência dos povos 
canaanitas. A chamada idolatria pagã foi uma constante ao longo da 
história de Israel mesmo durante o período monárquico. Podemos 
considerar a seguinte polarização: o culto organizado e institucionalizado 
que acontece no Tabernáculo e os vários cultos que utilizavam altares, 
árvores, sacrifícios e festas agrárias que aconteciam em todo o território. 
O culto do Tabernáculo, na verdade, tinha um caráter unifi cador da fé 
javista entre o povo. Ele possuía um cunho militarista também já que este 
é um período de constante disputa pela terra. Em outras palavras, apesar 
de existirem outras manifestações cultuais aceitas, é no Tabernáculo 
que encontramos um culto comunitário de liturgia bastante elaborada, 
basicamente girando em torno dos sacrifícios de animais e ofertas dos 
produtos da atividade agrícola e pastoril (Êx 17:15; 20:24-26; 24:4; 25-31; 
Lv 1-8). Vários utensílios simbólicos são utilizados, além da especifi cação 
de espaços e lugares especiais. Também é fundamental a participação 
dos levitas na função sacerdotal de intermediários entre o povo e Deus 
na realização do culto.
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1.3. O culto no período monárquico
A partir do reinado de Davi ocorre uma ação específi ca de ofi cializar o 
culto javista do Tabernáculo em detrimento de todas as outras práticas. 
Há aqui um elemento importante a se considerar que é a legitimação 
do poder político por meio da religião. Vale ressaltar que essa relação 
dialética entre religião e política é percebida em quase todas as culturas 
mesmo nos dias de hoje.
Trazendo a Arca da Aliança, o maior símbolo da presença de Deus entre o 
povo, para a nova capital política Jerusalém e trocando a estrutura móvel 
do Tabernáculo pela estrutura fi xa do Templo, conseguiu-se instituir o 
culto javista como o único aceito pela liderança do povo. O palácio real 
estrategicamente construído ao lado do Templo, ao mesmo tempo, divinizava 
o rei e fortalecia a casta sacerdotal profi ssional responsável pelos serviços 
religiosos. Embora o projeto tenha sido iniciado por Davi,

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