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Aulas 44 e 45: Antidepressivos ANSIEDADE X MEDO Mecanismos de defesa com função fisiológica/ adaptativa Ansiedade: ➔ Caráter antecipatório; ➔ Associado a um risco potencial; ➔ Gatilhos internos; Medo: ➔ Ameaça iminente; ➔ Associado a um risco real; ➔ Gatilho externo; Quando se torna patológico → interfere diretamente na produtividade e rotina Manifestações da ansiedade: - sintomas somáticos (autonômicos): taquicardia, insônia, tremores, sudorese, agitação → sintomas associados à liberação grande de adrenalina; - prejuízo cotidiano: redução na concentração e atenção, fadiga e exaustão BASES NEUROQUÍMICAS Desbalanço entre vias que ansiolíticas/ ansiogênicas ➔ Estresse e ansiedade crônicas podem originar depressão - NORADRENALINA (NA): catecolamina - SEROTONINA (5HT) Ambas tem metabolismo mediado pela MAO e apresentam transportadores seletivos para cada uma (SERT e NET) – possíveis alvos de fármacos TRANSTORNOS DE HUMOR Incluem transtornos depressivos e transtorno bipolar: ➔ Humor deprimido, anedonia, negatividade, sentimento de culpa e desvalia; ➔ Redução de atenção, memória e concentração; ➔ Fadiga, perda de energia/ vigor ou libido; ➔ Alteração de peso/ apetite e sono; ➔ Pensamentos de morte ➔ Obs.: depressão é diferente de humor deprimido Depressão ➔ Incidência maior em mulheres do que em homens → fatores genéticos (endógeno) e/ ou ambientais (reativa); ➔ Pode ser secundária (drogas, condições médicas); ➔ Chance de novos episódios aumentam Em geral, uma problemática no tratamento da depressão é que não há melhora total aguda. Leva-se tempo, no mínimo, 3 a 4 semanas para que seja vista alguma melhora → recomenda- se que o tratamento seja feito durante 2 anos → isso afeta a adesão (maiores chances de relapso e recorrência) BASES NEUROANATÔMICAS ➔ Alterações morfológicas e funcionais • Atrofia hipocampal e cortical (perda de neurônios e da glia, podendo ser em número ou arborização); • Aumento de volume ventricular; • Amígdala hiperativa + hipoativação global. BASES NEUROENDÓCRINAS ➔ Desbalanço no eixo HPA (hipotálamo – pituitária – adrenal) causada por estresse crônico: • Aumento de CRH, ACTH, cortisol (neurotoxicidade); • Atrofia de córtex pré-frontal e hipocampo (redução de feedback) Em situação normal: a amigdala é ativada pelo estresse e ativa o eixo HPA; há liberação de cortisol, que age por feedback negativo no eixo HPA e reduz sua ação. Em contraponto a amigdala, temos o hipocampo e o córtex pré- frontal servindo como inibidores do HPA. Na depressão: a amigdala está constantemente induzindo o eixo HPA e há uma alta produção de cortisol sem feedback negativo (receptores dessensibilizados); o hipocampo e o córtex pré- frontal estão inibidos/ hipoativos, portanto, não inibem o eixo HPA. Há uma perda do controle inibitório BASES NEUROFISIOLÓGICAS E SINÁPTICAS a) teoria monoaminérgica (1965) → na depressão existe redução de monoaminas nas sinapses Obs.: os receptores pré-sinápticos, em especial o 5HT1A, tem afinidade maior para serotonina. A serotonina, que já está em menor quantidade na depressão, portanto, se ligaria preferencialmente a este receptor pré- sináptico, o que reduz mais ainda a disponibilidade desse neurotransmissor na fenda sináptica. b) suprarregulação de receptores monoaminérgicos (desbalanço) Quando fazemos uso de antidepressivos, a quantidade de serotonina liberada aumenta em questão de horas, mas mesmo assim o efeito só se dá após semanas. Isso revela que na depressão, o problema não se dá apenas na quantidade de serotonina. Quando um receptor é pouco ativado, a tendencia é que sua expressão aumente, para tentar otimizar a sinalização. Portanto, além da baixa quantidade de serotonina, temos um aumento de expressão de receptores após longos períodos de hipoativação monoaminérgica. Uso de antidepressivo: a curto prazo, temos aumento de monoaminas na sinapse enquanto a quantidade de receptores é extremamente alta. Isso gera uma hipersensibilização de receptores → piora aguda de sintomas (sintomas paradoxais); a longo prazo os receptores são dessensibilizados, voltando a níveis normais → efeito antidepressivo Obs.: as monoaminas aumentam no cérebro de forma global, inclusive em regiões excitatórias (pode aumentar ansiedade no início) Obs.: buspirona como agente ansiolítico ➔ Antagonista/ agonista parcial serotoninérgico 5HT1A ➔ Efeito dual: em presença de pouco 5HT, ele age como agonista; em presença de muita serotonina, ele age como antagonista; ➔ Pouca sedação/ hipnose; ➔ Não prejudica a memória; ➔ Perfil indesejado tolerável; ➔ Latência de 21 dias; ➔ Ansiedade generalizada e ansiedade com depressão; ➔ Náuseas, vômitos, alterações de apetite, diarreia, tontura, cefaleia, fadiga; ➔ Sem tolerância e dependência; ➔ Melhor tolerância que BZDs. Obs.: caiu em desuso BASES NEUROTRÓFICAS De acordo com a teoria neurotrófica, a depressão seria causada pela redução de fatores de crescimento no SNC (principalmente o BDNF), alterando plasticidade e neurogênese: ➔ Causas: estresse, aumento de cortisol e aumento de glutamato; ➔ Monoaminas favorecem efeitos neurotróficos (uso de antidepressivos a longo prazo normaliza a função neurogênica); HÍBRIDO DAS TEORIAS As teorias se completam INTERVENÇÕES E TRATAMENTOS *Farmacoterapia da depressão Fármacos de primeira escolha para: ➔ Transtornos depressivos; ➔ Transtornos de ansiedade; ➔ Transtornos alimentares; ➔ Dor crônica ou neuropática; ➔ Prevenção/ recuperação em AVE; Problemas associados: ➔ Estigmas/ subdiagnóstico/ entraves sociais (menor adesão): • Pacientes refratários; • Severidade e duração dos episódios predizem menor eficácia; • Tratamento deve ser crônico (> 2 anos) ➔ Eficácia e limitação dos antidepressivos: • Eficácia similar em todas as classes; • Agravamento inicial dos sintomas; • Latência para efeito terapêutico (2 a 4 semanas); • Ajuste de dose empírica e sutil; • Maior risco de suicídio a curto prazo (< 25 anos); • 50% mantêm sintomas depressivos; • Síndrome de retirada com tratamento longo (neuroadaptação). Racional farmacológico Aumentar a concentração de monoaminas de maneira crônica, permitindo uma restabilização homeostática no SNC 1. INIBIDORES DA MONOAMINA- OXIDASE (iMAO) Reduzir mecanismos de degradação de monoaminas - a MAO é a principal enzima de degradação de monoaminas e está presente em todos os neurônios pré-sinápticos que ´produzem monoaminas - MAO é o alvo farmacológico - representantes: moclobemida e tranilcipro- mida (pouco usados); - Problema: reação do queijo (interação) → existem vários alimentos que contém substâncias simpatomiméticas (como queijos, vinhos) → entram no neurônio noradrenérgico por meio do recaptador e deslocam a NA pro citosol, estimulando sua liberação → em uso de iMAO, isso geraria uma resposta noradrenérgica, que pode levar a HÁ, aumento de pressão craniana, AVE etc. - isoformas: MAO-A e MAO-B • MAO-A: degrada serotonina e NA; • MAO-B: degrada dopamina • Ambas degradam tiramina → um fármaco seletivo já descarta a reação do queijo; • Seletivos: moclobemida (A); selegilina (B); • Não seletivos: Pargilina, tranilcipromina, isocarboxazida, fenelzina, iproniazida. - efeitos indesejados e particularidades: • Agitação, tremores, convusão; • Efeitos anticolinérgicos (boca seca, disfunção sexual); • Aumento de apetite e peso; • Potencializa simpatomiméticos indiretos; • Crise hipertensiva e hipertermia; • Inibição enzimática; • Hepatotoxicidade; • Mais eficaz em pacientes refratários. 2. ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS (ADTs) - baixo custo e perfil indesejado vasto - principais representantes:Amitriptilina, nortriptilina, climipramina, desipramina, imipramina - mecanismo de ação: inibição NÃO-seletiva da recaptação 5HT/ NA; • Pode ser preferencial; • Depressão psicótica; • Pacientes refratários; • Dor neuropática; Obs.: apenas os com * são tricíclicos - perfil indesejado: • Efeitos anti-histamínicos (sedação, aumento de fome e peso → podem ser explorados); • Efeitos anticolinérgicos (boca seca, disfunção sexual); • Hipotensão (antagonismo alfa1, ação central); • interações potenciais; • reduz limiar convulsivo; • prolongamento QT (arritmia); • rebote colinérgico (abstinência); • janela terapêutica estreita; • sobredose: delírio, mania, coma, arritmia, morte súbita. 3. INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE 5HT - mais seguros e tolerados; - representantes: fluoxetina, sertalina, paroxetina, fluvoxamina, citalopram; - 1ª escolha (ansiedade); - inibição seletiva da recaptação 5HT; - usos, ações adicionais e particularidades • Janela terapêutica ampla; • Tratamento do PTSD – estresse pó traumático (sertralina e paroxetina); • Tratamento do TOC e transtornos alimentares; • Inibição da recaptação DA (sertralina); • Parcela de pacientes refratários; - não necessariamente mais efetivos, porém MAIS SEGUROS - perfil indesejado: • Redução de libido, frigidez, anorgasmia; • Náuseas, vômitos, fome/ anorexia, diarreia, constipação; • Tontura, cefaleia, fadiga, agitação (agressividade); • Inibição enzimática; • Síndrome da interrupção (tontura, parestesias); • Síndrome serotoninérgica (+ISRS/ iMAO): tremor, hipertermia, alterações CV, morte; • Sobredose: arritmias e morte súbita (raro); 4. ANTIDEPRESSIVOS ATÍPICOS - miscelânea de efeitos combinados (+ sujos e menor seletividade); • Inibidores seletivos da recaptação de 5HT/ NA; • Inibidores seletivos da recaptação de NA; • Inibidores seletivos da recaptação de DA; • Antagonistas de receptores monoami- nérgicos; • Agentes monoaminérgicos. - inibidores seletivos da recaptação de 5HT/NA ➔ Preferência 5HT; ➔ Menos seletivos para 5HT; ➔ Mais seguros a) Duloxetina: Depressão; Ansiedade generalizada; Dores crônica e neuropática; Aumento de PA e midríase (aumento de pressão ocular); b) (des)venlafaxina: Espectro de ação dose-dependente; Depressão; Pânico; Ansiedade generalizada e social; Aumenta bastante a PA (hipertensão, menor em liberação controlada); Sobredose (cardiotoxicidade); Redução de sintomas da menopausa/ TPM; - inibidores seletivos da recaptação de DA/NA ➔ Bupropiona; Menos efeitos no TGI/ sexuais; Dependência nicotínica; Controle de peso (+ topiramato); TDAH (off label); Diminui o limiar de convulsão; Interação e potencialização a abstinência a sedativos/ álcool (depressores); Alterações CV. - inibidores seletivos da recaptação de NA ➔ Reboxetina, atomoxetina; menor efeito antidepressivo (TDAH) → 2ª escolha se o paciente não tolera bem os efeitos da ritalina; aumento de FC e PA; - antagonistas de receptores monoaminérgicos (perfil sujo) ➔ mirtazapina: bloqueio alfa2 (receptores presentes na pré-sinapse → quando ativado, reduz liberação de NA) , 5HT2A, 5HT2C, 5HT3, H1; ➔ mianserina: bloqueio alfa1, alfa2, 5HT1C, 5HT2, 5HT3 e H1; aumento de apetite e alta sedação (mais usado em idosos); - inibidores de recaptação de serotonina e antagonistas ➔ trazodona: SERT + bloqueio 5HT2, alfa1 e H1 (favorece ereção); ➔ vilazodona: SERT + agonista parcial 5HT1A; ➔ vortioxetina: SERT + agonista parcial 5HT1A e 5HT1B, bloqueio 5HT1D, 5HT3, 5HT7; → agonista parcial em alguns receptores e antagonista em outros - agonistas de receptores de melatonina (MT1/ MT2) ➔ antagonismo 5HT2B e 5HT2C; ➔ representantes: agomelatina; ➔ tontura, cefaleia, hiperidrose; ➔ hepatotoxicidade; ➔ contraindicada com etanol (pode potencializar efeito sedativo) FARMACOCINÉTICA E SEGURANÇA - metabólitos ativos e meia vida (facilita adesão ao tratamento → dose diária) - biodisponibilidade: todos podem ser usados por via oral, pois a maioria tem boa disponibilidade; - Meia vida: maioria > 20 horas (poucas exceções, como a trazodona); Obs.: em geral, são 5 tempos de meia vida para depurar o fármaco - alguns fármacos têm metabólitos ativos (prolonga a vida do fármaco); - volume de distribuição: quanto maior o volume de distribuição, o fármaco fica mais em tecidos do que no sangue (relação com maior meia vida); - ligação a proteínas plasmáticas: perfil de ligação intensa (são lipofílicos) → exceções apresentam menos capacidade de interação, ou seja, são mais seguros; - interações e risco farmacocinético (fluvoxamina e fluoxetina quase sempre inibem enzimas); ABORDAGENS NÃO FARMACOLÓGICAS Estimulação encefálica ➔ Eletroconvulsoterapia; ➔ Estimulação eletromagnética; - Associado a bloqueadores musculares e anestésicos; - Efetiva em pacientes refratários aos fármacos; - Recomendada de maior severidade e depressão endógena/ familiar; - efeitos a curto prazo/ agudo; rápido; - Perda de memória e confusão (ECV); - alto custo.
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