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Disciplina: Introdução à Lógica Aula 5: Cálculo proposicional I Apresentação Nesta aula daremos continuidade aos estudos iniciados na aula anterior. Cientes das características e particularidades que envolvem a forma lógica, poderemos dar o passo seguinte, que consiste em estudar o cálculo proposicional: uma operação através da qual verificamos a validade de um argumento. Porém, antes de aprendermos a fazer um cálculo proposicional, necessitamos conhecer algumas ferramentas. Estes são os operadores proposicionais e verofuncionais, que têm como finalidade unir duas ou mais proposições formando uma premissa. Isso leva a formas lógicas mais complexas, que exigem maior rigor na análise dos argumentos. Veremos que a construção de tabelas de verdade é de extrema importância para determinar a validade dos argumentos unidos pelos operadores lógicos. Desse modo, construiremos as tabelas de verdade de cada um dos operadores verofuncionais, para que você compreenda seu papel e aplicação na análise lógica dos argumentos. Objetivos Explicar a natureza do cálculo proposicional; Identificar os operadores verofuncionais; Analisar a tabela de verdade e o problema da condicional. Operadores proposicionais Como vimos na aula passada no tópico sobre Validade Formal, caso troquemos a palavra “e” pela palavra “ou”, obteremos uma forma lógica inválida: P ou Q. Logo, P. 1. Por que essa forma lógica é inválida? Vamos fazer uma análise desse tipo de argumento: Maradona é brasileiro ou Maradona é argentino. Premissa Logo, Maradona é brasileiro. Conclusão Estamos diante de um argumento inválido, pois sua premissa é verdadeira e sua conclusão é falsa. O que podemos concluir dessa constatação? Que a palavra “ou” e a palavra “e” cumprem uma função capital na forma lógica. Isso porque a simples substituição de uma pela outra leva à passagem de uma forma lógica válida para uma forma lógica inválida. Lembra-se que o título da nossa aula é “Operadores Proposicionais”? Pois é, tanto a palavra “e” quanto a palavra “ou” são operadores proposicionais. Podemos definir operador proposicional como toda palavra ou expressão que, ao ser acrescentada a uma ou mais proposições, leva à formação de novas proposições. Suponha que quiséssemos acrescentar o operador “e” à proposição “Maradona é brasileiro” ou “Maradona é argentino”. O resultado seria uma nova proposição: Maradona é brasileiro e Maradona é argentino. Geralmente encontramos esse tipo de proposição abreviada da seguinte maneira: “Maradona é brasileiro e argentino”. Atenção No caso do exemplo acima, o argumento é válido, pois a premissa é falsa e a conclusão é falsa. Existem inúmeros operadores proposicionais, “e” e “ou” são apenas alguns deles. Veja outros exemplos: Operadores proposicionais Penso que Tenho medo que Não Se Então Tenha sempre isso em mente, pois é fundamental saber que alguns operadores proposicionais se aplicam a apenas uma proposição, enquanto outros se aplicam a mais de uma. O operador “e”, por exemplo, só pode ser aplicado em duas ou mais proposições. Contudo, para aplicar operador “penso que” precisamos de apenas uma proposição. Devido ao nome, você já deve ter associado que os operadores proposicionais são aplicados apenas a proposições. Logo, às “partes de proposições” não se aplicam os “operadores”, como, por exemplo, em “é lindo”. “É grande e pesado”, embora haja o operador “e”, não é uma proposição. Evidentemente, em nosso cotidiano, usamos esse tipo de expressão o tempo todo, pois estamos fazendo abreviações. Essa construção pode ser a abreviação para “o lutador é grande e pesado”, por exemplo. Operadores verofuncionais Operadores verofuncionais, também conhecidos como conectivos proposicionais, são aqueles cujo valor de verdade da proposição com o operador é completamente determinado pelo valor de verdade da proposição sem o operador. São exemplos de operadores verofuncionais: ou Disjunção e Conjunção Os operadores lógicos têm a função de ligar duas ou mais proposições. No caso dos operadores verofuncionais, partimos de duas proposições, P e Q, conectadas pelo operador “ou”, por exemplo, cujo valor de verdade de “P ou Q” passaremos a saber no momento em que conhecermos o valor de verdade das proposições P e Q. Exemplo Veja o seguinte exemplo: Caso saibamos que Maria não está no cinema, mas, sim, na casa dos pais, então sabemos que a proposição “Maria está no cinema ou na casa dos pais” é verdadeira, assim como sabemos que a proposição “Maria está no cinema e na casa dos pais.” é falsa. Contudo, mesmo que tenhamos o conhecimento de que Maria está na casa dos pais, não podemos saber se “Rubem pensa que Maria está na casa dos pais” é verdadeira ou falsa. Podemos concluir, portanto, que “e” e “ou” são operadores verofuncionais porque os valores de verdade de “Maria está no cinema” e “Maria está na casa dos pais” determinam completamente o valor de verdade de “Maria está no cinema ou na casa dos pais”. Porém, “Rubem pensa que Maria está na casa dos pais” não é um operador verofuncional uma vez que o valor de verdade “Maria está na casa dos pais” não é o bastante para determinar o valor de verdade de “Rubem pensa que Maria está na casa dos pais”. Tabela de verdade Devemos estar atentos às especificidades dos operadores verofuncionais. Isso porque ocorre algo interessante ao estabelecermos as condições de verdade de proposições formadas a partir desse tipo de operador lógico. Caso não saibamos se Maria está na casa dos pais, ou se está no cinema, ou se está na praia ou em qualquer outro lugar, sabemos ao menos isto: Proposição Maria está no cinema ou na casa dos pais. Falsa Se Maria não estiver na casa dos pais nem no cinema. Verdadeira Se Maria estiver na casa dos pais ou no cinema. Isso ocorre com toda e qualquer proposição que apresenta a forma lógica “P ou Q”. As proposições que apresentam essa forma lógica só serão falsas no caso de P e Q serem ambas falsas. Caso contrário, serão sempre verdadeiras. Isso pode ser especificado graficamente construindo a tabela que se segue: P Q P ou Q V V V V F V F V V F F F A tabela de verdade é um instrumento importante, pois nos auxilia na análise lógica dos argumentos na medida em que exibe as condições de verdade de uma forma proposicional que nos seja apresentada. Não é demais lembrar que as condições de verdade das proposições são determinadas pelas circunstâncias que fazem com que a proposição seja verdadeira ou falsa. Perceba que cada coluna da tabela expressa as condições de verdade da proposição gerada pelo operador “ou”. Passemos, então, à interpretação desta tabela: 1 A forma lógica “P ou Q” possui apenas quatro condições de verdades resultantes da combinação dos dois valores de verdades possíveis de P e Q. 2 As proposições P e Q podem ser ambas verdadeiras ou ambas falsas, bem como pode ocorrer de uma ser a verdadeira e a outra falsa ou vice-versa. 3 Essas condições de verdade estão expressas nas colunas que formam nossa tabela de verdade. A tabela deve apresentar todas as condições de verdade da proposição analisada. 4 Está claro que tanto faz que P seja verdadeira e Q falsa quanto o contrário. Isso porque em ambos os casos o resultado será V (verdadeiro). Contudo, mesmo assim, é preciso representar essas duas condições de verdade. Os cinco operadores verofuncionais No que se refere à lógica proposicional clássica, temos cinco operadores verofuncionais responsáveis pelo estudo da argumentação e da validade dos argumentos. Esses cinco operadores verofuncionais originam cinco formas proposicionais, são elas: Disjunção inclusiva: P ou Q A disjunção apresenta uma peculiaridade: possui dois tipos. Por hora, veremos a disjunção inclusiva. Disjunção inclusiva é toda proposição representada pela forma “P ou Q” e disjuntas a P e a Q. Essa é sua tabela de verdade que já vimos aqui: P Q P ou Q V V V V F V F V V F F F Conjunção: P e Q Chamamos de conjunção toda ligação entre proposições feita através da letra “e”,que pode ser indicada pelo símbolo “ʌ” ou pelo símbolo do ponto “.”. Considerando a relação estabelecida por uma conjunção, o valor de verdade será representado por esta tabela de verdade: P Q P ˄ Q V V V V F F F V F F F F Negação: não P A negação é bem simples: será uma negação qualquer proposição da forma “não P”. Existem outras duas maneiras de representar essa forma proposicional: “~P” e “¬P”. Podemos resumir da seguinte maneira: a negação de todo enunciado verdadeiro é falsa e a negação de todo enunciado falso é verdadeira. A tabela de verdade da negação é bem simples: P Q ¬P V F F V Veja um exemplo: “Pelé é brasileiro” (“P” é verdadeira). Essa afirmação é verdadeira, portanto sua negação, “Pelé não é brasileiro”, é falsa (“~P” é falsa). Condicional: se P, então Q Condicional é aquela proposição que apresenta a forma “Se P, então Q”. Ela se chama antecedente a P e consequente a Q. Em um enunciado condicional, uma sentença implica outra sentença. Precisamos estar atentos ao fato de que um enunciado condicional verdadeiro não pode ocorrer de um antecedente ser verdadeiro e o consequente falso. Analise este exemplo: “Se o presidente da república sofreu um golpe, então ele não cumpriu o seu mandato”. Quer dizer que, do enunciado “O presidente da república sofreu um golpe.”, conclui-se da proposição que “ele não cumpriu seu mandato”. O sinal de implicação (“se”..., “então”) é representado pela flecha “→”. Veja como fica a tabela de verdade para o enunciado condicional: P Q P → Q V V V V F F F V V F F V Cabe dizer que os enunciados condicionais são importantes no que diz respeito à reflexão acerca das condições suficientes e necessárias que ligam as sentenças. Observe: “Se Rafael é soteropolitano, então Rafael é baiano.” (P → Q) Isso é o mesmo que dizer que ser soteropolitano é condição suficiente para ser baiano. Em outras palavras: “da verdade de P segue-se a verdade de Q”, ou seja, P é, por definição, condição suficiente de Q. Analise outro exemplo: “Se Guilherme é casado, então ele já foi solteiro.” (R → S) R só será verdadeira se S também for verdadeira, já que S é condição necessária de R: não é casado quem nunca foi solteiro. Bicondicional: P se, e só se, Q Vimos que as sentenças condicionais colocam uma relação de único sentido. Já a relação de equivalência estabelece uma bicondicionalidade, ou seja, se dá em dois sentidos. Trata-se, portanto, da conjunção de duas condicionais: “Se P, então Q, e se Q, então P”. Por exemplo: “O presidente terminaria seu mandato se e somente se não tivesse sofrido um golpe político”. Veja agora as condições de verdade da bicondicional. Como o nome indica, trata-se da conjunção de duas condicionais: “Se P, então Q, e se Q, então P”. P Q P ↔ Q V V V V F F F V F F F V Analise este exemplo: “O destino só é possível se, e somente se, o universo for determinado por Deus.” Essa bicondicional será verdadeira somente em duas situações: Quando o destino é possível e o universo determinado; Quando o destino não é possível e o universo não é determinado. Atividade 2. Das opções a seguir, qual é uma proposição condicional? a) O senador não renunciou. b) Se o senador renunciou, então não cumpriu seu mandato. c) O senador renunciou, se e somente se não permaneceu no cargo até o final de seu mandato. d) O senador renunciou e cumpriu o seu mandato. e) O senador renunciou ou não renunciou ao seu mandato. Constantes lógicas Podemos usar símbolos que representem os operadores verofuncionais. Desse modo, ao invés de escrevermos “P ou Q” para uma disjunção, escrevemos apenas “P ˅ Q”. Os símbolos usados para expressar os operadores verofuncionais são: ¬P Não P Negação P ˄ Q P e Q Conjunção P ˅ Q P ou Q Disjunção (inclusiva) P → Q Se P, então Q Implicação ou condicional P ↔ Q P se, e só se, Q Bicondicional ou equivalência Atenção Esses símbolos recebem o nome de constantes lógicas. Os símbolos P, Q etc. são variáveis proposicionais, não confundam. P, por exemplo, é uma variável pelo fato de simbolizar qualquer proposição. Já as constantes simbolizam apenas as expressões referentes aos operadores verofuncionais. Disjunção inclusiva x exclusiva Como vimos, a disjunção inclusiva é toda proposição representada pela forma “P ou Q” e disjuntas a P e a Q. Já a disjunção exclusiva é o tipo de disjunção que só é verdadeira no caso de apenas uma das proposições disjuntas ser verdadeira. Veja como fica a tabela de verdade da disjunção exclusiva: P Q P ou Q V V F V F V F V V F F F Note que essa tabela é bem diferente daquela em que estava representada a disjunção inclusiva. Aqui “P ou Q” só é verdadeira na segunda e terceira linha. Isso quer dizer que a palavra “ou” é ambígua entre dois significados verofuncionais muito distintos. Em muitos casos, repetimos a palavra “ou” a fim de ressaltar a exclusividade da disjunção. Isso ocorre neste tipo de proposição: “Ou Maradona nasceu na Argentina ou no Brasil”. Nesse caso, sempre se uma for verdadeira a outra será falsa. Perceba a diferença quando estamos diante de uma disjunção inclusiva. “Ou Rafael foi ao cinema ou Marcus foi ao cinema”. Nesse caso, a repetição do “ou” é apenas para dar ênfase à frase. Trata-se de uma disjunção inclusiva pelo fato de uma delas ser verdadeira e não fazer com que a outra seja falsa. Atividade 3. Correlacione a tabela de verdade referente a cada um dos operadores verofuncionais estudados nesta aula. a) P ¬P V F F V b) P Q P ʌ Q V V V V F F F V F F F F c) P Q P → Q V V V V F F F V V F F V d) P Q P ˅ Q V V F V F V F V V F F F e) P Q P ↔ Q V V V V F F F V F F F V Referências ALVES, Alaôr Café. Lógica: pensamento formal e argumentação. São Paulo: Quartier Latin, 2005. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000. COPI, Irving M. Introdução à Lógica. 2. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1978. KELLER, Vicente. Aprendendo Lógica. Petrópolis: Vozes, 2008. MORTARI, Cezar. A. Introdução à Lógica. São Paulo: UNESP, 2001. SMULLYAN, R. M. Lógica de Primeira Ordem. São Paulo: UNESP, 2009. Próximos Passos Condições necessárias e suficientes; Valoração; Uso da tabela de verdade no cálculo proposicional; Tautologia, contradição e contingência; Formalização e âmbito; Formas proposicionais simples e complexas. Explore mais Assista ao vídeo sobre lógica proposicional <https://www.youtube.com/watch?v=bKef0ZvQyLs> que trata em particular dos operadores lógicos, condição de verdade e tabelas de verdade. https://www.youtube.com/watch?v=bKef0ZvQyLs
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