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pancitopenias Definição: pancitopenia refere-se a diminuições em todas as linhagens de sangue periférico e é considerada presente quando todas as três linhas celulares estão abaixo do intervalo de referência normal. Muitos distúrbios que causam pancitopenia também podem causar bicitopenia (ou seja, diminuições em apenas duas linhas celulares); assim, na maioria dos casos, a avaliação da bicitopenia é semelhante à apresentada aqui. A pancitopenia pode estar associada a vários estados de doença, alguns dos quais com risco de vida. Uma história cuidadosa e um exame físico, juntamente com estudos laboratoriais focados, são necessários para estabelecer um diagnóstico e selecionar o tratamento adequado. Na maioria dos casos de pancitopenia, o encaminhamento a um hematologista será importante. Células vermelhas: <12 g / dL para mulheres não grávidas e <13 g / dL para homens Glóbulos brancos: Como os neutrófilos constituem a maioria dos leucócitos no sangue periférico e na medula óssea, quase todos os casos de leucócitos baixos (leucopenia) se manifestam como neutropenia. Plaquetas: contagem de plaquetas <150.000 / microL A!! A pancitopenia pode cursar de basicamente duas formas: com a medula HIPOcelular ou NORMOcelular/HIPERcelular. → HIPOCELULAR: Anemia aplástica, Leucemia aguda hipocelular, Síndromes mielodisplásicas. → HIPER/NORMOCELULAR: Leucemia aguda, Mielodisplasia, Mielofibrose, LES, Anemia megaloblástica, SEPSE, HIV, Infecção viral. CAUSAS: → Produção prejudicada - Anemia aplástica: caracteriza-se por uma hipofunção da medula. É uma - Infiltração da medula óssea (metástase, mielofibrose, doença granulomatosa e metabólica). - Deficiência nutricional (vit. B12, ácido fólico, cobre, ferro) - Síndromes mielodisplásicas - Leucemia aguda hipocelular → Destruição periférica - Sequestro esplênico - Pancitopenia hemolítica autoimune → As duas combinadas (produção prejudicada + destruição periférica) Fisiopatologia A hematopoiese (produção de células sanguíneas) no adulto saudável ocorre na medula óssea, de onde as células sanguíneas maduras migram para a circulação, baço e outros locais. A medula óssea é um órgão dinâmico e um reservatório hematopoiético que responde às necessidades contínuas de produção de células sanguíneas. Um equilíbrio entre a produção de células sanguíneas, distribuição em outros órgãos e destruição celular contínua (por exemplo, células brancas do sangue lutando contra infecções, consumo de plaquetas em coágulos sanguíneos, senescência celular) determina os níveis de células sanguíneas circulantes. A pancitopenia pode ser por: 1. Infiltração/substituição da medula óssea: esses distúrbios incluem malignidades hematológicas como leucemia, mieloma, síndromes mielodisplásicas, câncer metastáticos, câncer, mielofibrose e doenças infecciosas como TB miliar ou infecções fúngicas. 2. Aplasia da medula óssea: distúrbios nutricionais (por exemplo, deficiências de vitamina B12 ou folato), anemia aplástica, doenças infecciosas (por exemplo, HIV, hepatite viral, parvovírus B19), destruição imunológica e medicamentos estão entre as causas da aplasia da medula. 3. Destruição ou sequestro de células sanguíneas: a destruição excessiva de células sanguíneas ocorre na coagulação intravascular disseminada, púrpura trombocitopênica trombótica e hematopoiese ineficaz (por exemplo, síndromes mielodisplásicas, distúrbios megaloblásticos), enquanto o sequestro excessivo pode ser devido a hiperesplenismo (por exemplo, de doenças do fígado, armazenamento, linfoma ou doenças auto-imunes). Algumas doenças podem causar pancitopenia por múltiplos mecanismos. Por exemplo, um linfoma pode infiltrar a medula óssea, causar hiperesplenismo, induzir destruição imunológica de células sanguíneas e exigir tratamento com agentes citotóxicos. Da mesma forma, a doença de Crohn pode prejudicar a absorção de ferro, folato e vitamina B12; induzem um estado inflamatório que agrava a anemia; requerem ressecção intestinal parcial que afeta a absorção de nutrientes e calorias; e requerem tratamento com agentes mielossupressores. Etiologia Exemplos de causas de pancitopenia são categorizados na tabela pelo (s) mecanismo (s) predominante (s) de citopenia. É importante lembrar que algumas doenças agem por mais de um mecanismo. As prováveis causas da pancitopenia são influenciadas pela geografia, condições socioeconômicas e doenças endêmicas. Como exemplos, a probabilidade de causas infecciosas (por exemplo, malária, tuberculose, leishmaniose) ou nutricionais (por exemplo, deficiência de folato) de pancitopenia pode ser aumentada em alguns ambientes com recursos limitados. Da mesma forma, a prevalência da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e o uso de álcool podem influenciar as prováveis causas da pancitopenia. A grande maioria da pancitopenia em adultos é causada por distúrbios adquiridos; raramente, um erro inato previamente não reconhecido pode ser responsável por citopenias que são detectadas pela primeira vez na idade adulta. ● Anemia aplásica Caracterizada por hipofunção da medula, ou seja, as células tronco hematopoiéticas são incapazes de se proliferar, diferenciar e dar origem às células maduras ou aos seus precursores, acarretando pancitopenia. Essa deficiência ocorre do efeito citotóxico e imunossupressor das células T do paciente. Sua origem pode ser hereditária ou adquirida (+ comum pela exposição a drogas como anticonvulsivantes, anti bacterianos e anti diabéticos, benzeno, solventes, radiação e vírus), porém, a maioria acaba sendo idiopática. Pode ser classificada de acordo com o grau da pancitopenia, o que vai ser diretamente ligado ao prognóstico e ao tipo de tratamento a ser implementado: ○ Moderada: valores maiores ○ Grave: < 500 neutrófilos, < 20000 plaquetas e < 20000 reticulócitos. ○ Muito grave: < 200 neutrófilos, < 20000 plaquetas e < 20000 reticulócitos. QC: Apresenta como sinais e sintomas clínicos: febre, sangramento (petéquias, equimose e epistaxe), fadiga, cefaléia, palidez, anemia, trombocitopenia e neutropenia. LAB: anemia normocítica e normocrômica, trombocitopenia, plaquetopenia e ausência de células anormais. Baixa nos reticulócitos DIAG: biópsia de medula a qual apresenta-se com espaços gordurosos vazios e hipocelular, fazendo-se estudo morfológico e citogenético (diferencia anemia aplásica de mielodisplasia) TRATAMENTO: objetiva regenerar a hematopoese e reduzir os riscos pelas citopenias, devendo ser feito rapido e agressivamente. Contudo, depende de idade e presença de doadores imuncompatíveis. Se for grave, o transplante de medula é recomendado em jovens com irmão HLA compatível, além de terapia imunossupressora e de suporte. Para os pacientes com mais de 40 anos o transplante não é tão recomendado por causa dos maiores riscos. Os pacientes que tem a forma moderada sem melhora espontânea são conduzidos para observação, terapia imunossupressora e suporte. ● Síndrome mielodisplásica Consiste em um clone defeituoso das células com maturação defeituosa. Consistem em crescimento displásico de progenitores hematopoiéticos, medula normo ou hipercelular com citopenias periféricas, além do potencial de evoluir para LMA. Pode ser genética ou adquirida e tem fatores de riscos como: exposição a agentes químicos solventes, pesticidas e mielotóxicos, transplantes e radioterapias. Pode ser classificada em: a. Médio risco b. Baixo risco: anemia assintomática e/ou neutrófilos >1.000 ou plaquetas >40.000. Tratamento → acompanhamento. c. Alto risco QC: anemia agressiva, leucopenia, trombocitopenia (pancitopenia agressiva), fadiga, sangramentos, sinais e sintomas de infecção. A evolução depende se há ou não comorbidades e o comprometimento das linhagens. DIAG: feito com base no esfregaço sanguíneo, onde podem estar granulócitos hipossegmentados ou hipogranulares, hemáceas hipocrômicas com policromasia, macrocitose moderada e VCM na faixa de 100 a 110, plaquetas grandes e fragmentos de megacariócitos. Mas, para uma melhor avaliação diagnóstica é necessário o aspiradoe a biópsia de medula, onde serão avaliados celularidade, número, distribuição e morfologia dos megacariócitos, presença de fibrose e nódulos linfóides e foco de blastos. !! Importante pesquisar distúrbio congênito, deficiência de vitaminas, toxicidade a drogas e outros. TRATAMENTO: pode consistir em apenas acompanhamento de acordo com a classificação do caso. Porém, pacientes que apresentam anemia sintomática e eritropoetina sérica <500 se beneficiam do uso de altas doses de eritropoetina. Outros tratamentos podem ser: transfusão, transplante alogênico (indicado para pacientes com mais de 65 anos), antibioticoterapia, imunossupressores e fatores estimuladores de colônia. ● Leucemias agudas A leucemia decorre de evento maligno causado por precursores hematopoéticos, no qual as células não se diferenciam mas proliferam-se. Por isso, há ocupação da medula pelas células jovens o que promove supressão do desenvolvimento normal de outras linhagens e por isso cursa com pancitopenia. Isso promove redução da proteção do sistema imune, imunodepressão e consequente óbito por infecções. Na maioria é idiopático, mas fatores importantes são radiação, vírus, agentes químicos e drogas. A LMA prevalece em adultos e homens e a LLA dá-se mais em crianças, com pico entre 2-3 anos. Existem diversos tipos de classificação das leucemias - de acordo com a morfologia: 1. Leucemia mieloide aguda: é dividida em M0 e suas células tem cromatina nuclear discreta, nucléolos múltiplos e citoplasma com grânulos azurófilos. Além disso, a presença de corpúsculos de Auer → → são características patognomônicas. 2. Leucemia linfóide aguda: costuma ter células menores que os blastos e não possuem grânulos. É subdividida em: L1, L2, L3. A!! Além da supressão da medula, as células podem infiltrar diversos órgãos - LLA costuma infiltrar mais que a LMA. QC: fadiga, prostração, palidez, cefaleia, causados pela anemia, infecções, trombocitopenia, sangramentos, hepatoesplenomegalia e linfadenopatia, perda ponderal e dor óssea. Costumam ter início rápido. DIAG: há anormalidade da contagem nos exames laboratoriais. No qual, anemia está presente e pode ou não haver trombocitopenia e na grande maioria há blastos. O aspirado e a biópsia da medula estabelecem diagnóstico com contagem de células blásticas > 20%. TRATAMENTO: medida de suporte, ATB, transfusão e quimioterapia. Além disso, há um tratamento específico com indução da remissão e terapia pós remissão, sendo realizado com quimio específica. ● Mieloma Consiste na infiltração da medula óssea por células plasmáticas com alterações citogenéticas responsáveis pela produção de imunoglobulina monoclonal. Sua etiologia é pouco estabelecida e tem fatores de risco como: radiação, benzeno, solventes orgânicos, herbicidas e inseticidas. No mieloma as células TCD4 + estão reduzidas e as IL-6 estão aumentadas e a proteína inflamatória de macrófago alfa são aumentadas. QC: dores ósseas, palidez, fraqueza, fadiga, anemia, sinais e sintomas de insuficiência renal, hipercalemia e síndrome nefrótica. DIAG: é comum achado de anemia normocítica e normocrômica, presença de proteína M no soro e urina, 10% ou mais de células plasmáticas no exame de medula óssea. Nas radiografias há anormalidades como lesões líticas, osteoporose ou fraturas. TRATAMENTO: transplante, medidas de cuidado geral ou quimioterápicos de acordo com estágio clínico e elegibilidade para transplante. ● Drogas e radiação Toxinas como benzeno, drogas quimioterápicas, AINEs, antiepiléptico drogas, esteróides e cloranfenicol são comumente conhecidos por causar Anemia Aplástica. O mecanismo da aplasia pode ser por efeito tóxico direto nas células ou de mecanismos autoimunes. A atividade reduzida da glicoproteína P pode causar acúmulo de drogas no citoplasma com níveis tóxicos. Exemplo disso é o uso de cloranfenicol que pode ter efeitos irreversíveis na medula óssea. O abuso de álcool pode causar toxicidade hematológica, tanto por dano direto quanto por aumento da absorção de ferro no TGI que causa sobrecarga e assim contribui para hepatite e cirrose. ● Infecções O parvovírus B19 pode atacar diretamente proeritroblastos. A pancitopenia causada por vírus são geralmente transitórios e reversíveis com resolução da infecção. Em uma consulta de hematologia para pancitopenia, se um vírus infecção é suspeitada, então os agentes comuns que deveriam ser avaliados incluem hepatite infecciosa (hepatite A, B e C), citomegalovírus (CMV), Vírus Epstein-Barr (EBV), Herpes Vírus 6 (HHV-6), Parvovírus B19, e HIV Emergências A estabilização clínica é a maior prioridade para o paciente com pancitopenia clinicamente instável. A hospitalização imediata pode ser necessária para controlar infecções com risco de vida, fornecer suporte para hemoderivados e/ou gerenciar outras emergências médicas. Condições que demandam hospitalização ou encaminhamento para hematologista: - NEUTROPENIA: < 1000/microl com febre ou outra evidência de infecção e novo diagnóstico de neutropenia moderada ou grave - ANEMIA SINTOMÁTICA: isquemia miocárdica ou hipotensão - TROMBOCITOPENIA: achado de plaquetas <10.000 / microL ou sangramento clinicamente significativo com plaquetas <50.000 / microL. - SUSPEITA DE: coagulação intravascular disseminada, púrpura trombocitopênica, síndrome hemolítico-urêmica. - SUSPEITA DE LEUCEMIA AGUDA: interna em casa de novo diagnóstico, síndrome de lise tumoral ou DIC de leucemia promielocítica aguda. - SUSPEITA DE ANEMIA APLÁSTICA GRAVE - SUSPEITA DE LINO-HISTIOCITOSE HEMOFAGOCÍTICA - HIPERCALEMIA COM SINTOMAS (delírio, dor abdominal, desidratação) - INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA (hipercalemia, desidratação, sobrecarga de fluidos) - HIPERURICEMIA COM INSUFICIÊNCIA RENAL ASSOCIADA Avaliação inicial ● HISTÓRIA 1. Decurso de tempo e gravidade: resultados anteriores e gravidade e duração dos sintomas devem ser avaliados 2. Sintomas associados: a. Infecções recorrentes graves ou incomuns b. Fadiga, dispneia, dor no peito, instabilidade hemodinâmica ou claudicação devido à anemia c. Sangramento ou hematomas devido a trombocitopenia ou CIVD d. Febre, suores noturnos ou perda de peso e. Náusea, vômito ou ictericia que pode associar-se com doença hepática A!! Dor no peito, instabilidade hemodinâmica, sangramento grave, infecções com risco de vida e outras emergências médicas podem exigir hospitalização imediata para estabilização clínica. 3. Tratamentos anteriores: determinar se o paciente teve tratamento com transfusões anteriores, distúrbios hematológicos, hematínicos (por exemplo, vitamina B12, folato, ferro) ou outros tratamentos (por exemplo, aférese, plasmaférese). 4. Outras condições: qualquer condição comórbida ou procedimento cirúrgico pode exacerbar citopenias. Ex: Doença de Crohn é relevante por conta da inflamação intestinal ou cirurgias anteriores que podem afetar o estado nutricional do paciente e impedir absorção de ferro, ácido fólico e vit B12. 5. Medicações problemáticas: muitas medicações vão causar ou contribuir para o aparecimento de citopenias. A relação entre o começo da administração de medicamentos deve ser definida rapidamente. ALguns medicamentos como agentes citotóxicos ou imunossupressores, podem causar diminuições nos hemogramas, que geralmente vão ser reversíveis com a suspensão da medicação. Outros medicamentos que não são comumente associados a citopenias relacionadas à dose podem causar reações idiossincráticas levando a citopenias graves. 6. Exposições pessoais e ocupacionais: certos hábitos, como o consumo de álcool e dieta, histórico de infecção, exposição a agentes tóxicos e histórico de viagens também podem ser relevantes. ● EXAME FÍSICO O exame físico pode fornecer várias pistas sobre a etiologia subjacente. As pistas podem ser: 1. Erupções cutâneas: relacionadas a reações a medicamentos, distúrbios reumatológicos, infecções e doenças malignas. 2. Lesões orais: como exemplos, o sapinho sugere comprometimento imunológico; úlceras orais podem ser vistas em doenças como lúpus eritematoso sistêmico 3.Linfadenopatia e / ou esplenomegalia 4. Icterícia e estigmas de doença hepática ● ESTUDOS LABORATORIAIS A avaliação laboratorial deve incluir: 1. Hemograma completo (CBC) com contagem diferencial de leucócitos e índices de glóbulos vermelhos, 2. Exame do esfregaço de sangue periférico: pode ver anormalidades que não seriam detectadas por métodos automatizados 3. Contagem de reticulócitos: uma contagem absoluta de reticulócitos <20.000 indica uma diminuição acentuada na produção de glóbulos vermelhos e sugere uma condição hipoproliferativa. 4. Tempo de protrombina e tempo de tromboplastina parcial (PTT): requerem encaminhamento imediato 5. Testes de química sérica como eletrólitos, função renal, hepática, LDH (lactato desidrogenase), cálcio e ácido úrico 6. Tipo de sangue 7. PCR e VHS ● AVALIAÇÃO SUBSEQUENTE Solicita-se: cobre, zinco, teste de coobs, vit B12, plaquetas reticuladas, haptoglobina, folatos, HIV, sorologia para hepatites, anticorpos antinucleares, usg do baço.
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