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Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato PANCITOPENIA A pancitopenia é uma redução do número de eritrócitos, leucócitos e plaquetas no sangue periférico. É a combinação de anemia, leucopenia e trombocitopenia. A pancitopenia pode resultar de uma redução das células sanguíneas, falência da MO, destruição mediada de células sanguíneas ou sequestro não imunologicamente mediado na periferia. APLASIA MEDULAR A anemia aplástica (AA) ou aplasia de medula óssea é uma doença rara e heterogênea, mas é a mais frequente das síndromes de falência medular, caracterizada por: A biópsia de medula será intensamente hipocelular, substituída por gordura, e no mielograma serão vistos escassos linfócitos, plasmócitos e fibroblastos. 1° - EPIDEMIOLOGIA: A incidência varia de 1,5 a 6 casos/106 habitantes por ano, sendo a maior prevalência no Sudeste Asiático provavelmente associada à exposição exacerbada de toxinas e vírus. → Na América Latina observou-se a ocorrência de 1,6 casos/106 habitantes por ano, enquanto o Brasil, apresenta o índice de 2,1. → Não há diferença significativa entre os sexos, com distribuição bifásica da faixa etária, com picos entre 15 a 25 anos, e acima de 60 anos de idade. 2° - ETIOLOGIA: Em 60 a 75% dos casos, não há evidência de um agente causal, sendo então denominada de anemia aplástica idiopática. CAUSAS DE ANEMIA APLÁSTICA ADQUIRIDA Radiação ionizante Agentes químicos e drogas Agentes virais EBV; Hepatite não A, B, C, D, E, F, G; AIDS Doenças imunes Fascite osinofílica, timoma, doença do enxerto contra hospedeiro Hemoglobinúria paroxística noturna Gestação Mecanismo por vírus: → Infecta células da medula óssea → Induzindo dano, por lesão celular direta ou indiretamente por mecanismo imune. → Apresenta um período de latência de 6 – 8 semanas entre o “evento” inicial e o início da pancitopenia. AGENTES QUÍMICOS E DROGAS MAIS ASSOCIADAS AGENTES COMUNS QUE PRODUZEM ↓ MEDULAR → Agentes citostáticos (alquilantes, antimetabólicos, antimitóticos e antibióticos) → Benzeno e seus derivados RISCO BAIXO → Anticonvulsivantes, inseticidas, antiprotozoários, AINES → Ouro, arsênico, bismuto e mercúrio RARAMENTE ASSOCIADOS → Antibióticos (mebendazol, ampicilina, tetraciclina, etc) → Anti-histamínicos, metildopa, lítio, quinidina, etc. Mecanismo que agentes químicos causam anemia aplástica: → Não é bem definido. → O benzeno é o agente químico que mais comumente induzem a pancitopenia. Essas substâncias podem levar à lesão celular. Pancitopenia moderada a grave no sangue periférico Hipocelularidade acentuada na MO Sem evidência de neoplasia, mieloproliferação ou fibrose. Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato 3° - FISIOPATOLOGIA: Os mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento da anemia aplástica adquirida não são totalmente conhecidos, mas incluem: → Lesão intrínseca da célula progenitora hematopoética; → Participação imune no desencadeamento e manutenção das citopenias; → Perturbações do microambiente da medula óssea; → Mutações no gene da telomerase e encurtamento telomérico. MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS 4° - CLASSIFICAÇÃO: A anemia aplástica pode ser adquirida ou constitucional. ADQUIRIDA → Quando não há fator predisponente para o seu desenvolvimento → Deve-se definir o grau de gravidade para determinar a terapêutica e o prognóstico CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE MODERADA → Incluem combinações não muito relevantes SEVERA (AAS) Presentes pelo menos 2 dos achados: → Neutrófilos < 500/uL → Plaquetas < 20.000/uL → Reticulócitos corrigidos < 1% na presença de anemia → Celularidade da MO < 30% (moderadamente hipocelular) OU 20% (intensamente hipocelular) MUITO SEVERA (MS) → Neutrófilos < 200/uL CONSTITUCIONAL: → Quando há associação a determinadas doenças congênitas, genéticas ou familiares. → Devem ser cuidadosamente investigadas, especialmente a anemia de Fanconi, pois a estratégia terapêutica é diferente das adquiridas. Células mononucleares do sangue ou da MO de pacientes c/ anemia aplástica Inibem a formação de colônias hematopoiéticas da MO Ao remover células T: ↑ Formação de colônias Isso, pois células T são inibidores de colônias hematopoiéticas, por produzirem INF-g e TNF O paciente também tem ↑ de linfócitos citotóxicos ativados TNF e INF-g suprimem hematopoiese por efeito no ciclo mitótico e determinam morte celular Apoptose inicia por expressão do fator FAS nas células CD34 +ativação do receptor por seus ligantes Células hematopoiéticas do paciente expressa receptor FAS, e a MO apresenta ↑ das células apoptóticas Há o gene telomerase TERC e TERT (evita senescência replicativa e morte celular) Quando mutado estão associados a formas congênitas Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato Todos os pacientes portadores de anemia aplástica < 30 anos devem ser submetidos a estudo citogenético sensibilizado com agentes clastogênicos para excluir a presença da anemia de Fanconi em pacientes sem defeitos somáticos evidentes. 5° - MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A maioria dos pacientes procura auxílio médico devido aos sintomas resultantes da queda dos valores hematimétricos. Eritrócitos, neutrófilos e plaquetas podem estar ↓, porém a intensidade pode diferir, por isso, a sintomatologia pode variar. A aplasia medular não apresenta sintomas e sinais específicos, sendo semelhantes aos de outras doenças e proporcionais ao grau de pancitopenia apresentada. O início da anemia aplástica adquirida pode ser abrupto ou gradual. Muitas vezes, os sintomas se restringirem ao sistema hematopoiético, não interferindo muito com a qualidade de vida do doente. SINTOMAS E SINAIS DE ANEMIA → Ataxia → Insuficiência respiratória → Tonturas → Cefaleias → Palidez da pele e membranas mucosas, entre outros. Mesmo na presença de anemia de intensidade moderada ou intensa, o paciente poderá ser assintomático. HEMORRAGIAS SECUNDÁRIAS À TROMBOCITOPENIA São as mais alarmantes e geralmente o primeiro sintoma observado pelo paciente: → Petéquias na pele → Sangramento de gengivas → Epistaxe → Metrorragia nas mulheres → Gengivorragia → Hematomas Sangramento volumoso pode ser a causa de óbito, principalmente quando ocorre no sistema nervoso central e no pulmão. Numa fase posterior da doença, pequenas hemorragias no sistema nervoso central podem originar hemorragia intracraniana. INFECÇÃO → Menos comum no início da doença, aparece na sua evolução → Resultado da neutropenia ou granulocitopenia → Principalmente na forma muito grave da doença ou quando a neutropenia é mais duradoura. Origem bacteriana é a mais comum, seguida pelas infecções fúngicas em casos de neutropenia prolongada e pode se tornar complicação grave, porém a detecção precoce e antifúngicos de maior espectro ajudam a controlar. MANIFESTAÇÕES SUGESTIVAS DE AA HEREDITÁRIA / CONGÊNITA → Pigmentação atípica da pele → Distrofias nos dedos e unhas das mãos e dos pés → Disqueratoses → Sinais de fibrose pulmonar → Sinais de cirrose hepática. Outros sinais que afastam a hipótese de AA adquirida são: → Linfadenopatias → Hepatomegalia → Esplenomegalia O que reforça a importância do diagnóstico diferencial imagiológico. 6° - DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE PANCITOPENIA Infiltração medular Mielofibrose, mieloesclerose, leucemia aguda, linfomas, mieloma múltiplo, mielodisplasia, carcinoma metastático, etc. Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN) Hiperesplenismo Esplenomegalia congestiva, desordens de acúmulo de lipídios, calazar, sarcoidose. Infecções Tuberculose disseminada, infecção fúngica disseminada, septicemia. Anemias megaloblásticasCoagulopatias de consumo 7° - DIAGNÓSTICO: A pancitopenia é o achado invariável na anemia aplástica, podendo o número absoluto de linfócitos ser normal. O diagnóstico deve ser questionado se as três séries hematopoéticas não estiverem diminuídas. São os achados: → Hemácias normocrômicas e moderadamente macrocíticas → Reticulocitopenia → A neutropenia absoluta • Quando a contagem é > 200 neutrófilos/μL, é alto o risco de complicações infecciosas graves. → Monocitopenia → Produção de linfócitos pode estar normal. → ↓ Plaquetas, mas qualitativamente normais. Durante as remissões espontâneas, a trombopoese costuma ser a última a normalizar, e muitos pacientes persistem durante anos com trombocitopenia residual. → Ferritina plasmática estará ↑ no início, • Devido à ↓ utilização do ferro, e os pacientes maciçamente transfundidos terão níveis de ferritina muito elevados. → ↑ Eritropoetina • Resultante do estímulo induzido pela anemia persistente. A MO deve ser examinada por aspirado e biópsia, ajudando a afastar outras doenças infiltrativas (mielofibrose, tricoleucemia, leucemias agudas e metástases). Aspirado de medula irá revelar: → Espículas ósseas substituídas por material gorduroso e poucas células hematopoéticas. → Celularidade se concentra apenas em células do estroma, → Macrófagos contendo pigmento férrico, linfócitos, plasmócitos → Raríssimos elementos das linhagens granulocítica, eritroide e megacariocítica. Estudo citogenético → Usualmente normal A avaliação de quebras cromossômicas, após a exposição a substâncias clastogênicas (diepoxibutano, mitomicina, cisplatina) de verá ser realizada em: → Pacientes < 30 anos ou nos casos suspeitos, para se afastar a anemia de Fanconi. → Deve avaliar CD55 e CD59 por citometria de fluxo • Sua baixa expressão ou ausência é observada na hemoglobinúria paroxística noturna. 8° - TRATAMENTO: CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Serão incluídos pacientes que, na ausência de doenças primárias possivelmente causadoras do quadro anteriormente descrito, apresentem: → Anemia aplástica adquirida grave (inclusive se muito grave) OU → Anemia aplástica adquirida moderada e que necessitem de transfusão significativa (todo paciente que se torne dependente de transfusão de hemácias ou plaquetas com uso de repetidas transfusões para manter o nível de hemoglobina > 7 g/dL ou plaquetas > 10.000/mm3) OU Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato → Uso frequente de antibióticos devido a episódios de neutropenia febril + → Medula óssea hipocelular, com ↓ de todos os elementos hematopoiéticos e seus precursores, na ausência de células estranhas à medula óssea, fibrose ou hematofagocitose. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Serão excluídos pacientes com qualquer uma das seguintes condições: Pancitopenia secundária a outras doenças, como doenças reumatológicas em atividade (LES, artrite reumatoide) e infecções virais ativas (HIV, VHB, VHC). → ↓ De ácido fólico ou de vitamina B12; → Uso de medicamentos mielotóxicos (metotrexato, cloroquina, entre outros) nos últimos 30 dias; → Exposição a agentes físicos ou químicos mielotóxicos nos últimos 30 dias; → Invasão medular por células estranhas à medula óssea, como metástases de neoplasias malignas; → Neoplasias hematológicas identificadas por imunofenotipagem de MO ou hemoglobinúria paroxística noturna (HPN); → Síndrome mielodisplásica diagnosticada na MO por punção e exame citológico (mielograma/medulograma), biópsia e exame histopatológico e cariotipagem. TRATAMENTO DA ANEMIA APLÁSTICA Visa regenerar a hematopoese deficiente e reduzir os riscos determinados pelas citopenias por meio de medidas de suporte. A resposta ao tratamento de AA pode demorar até 16 semanas, não signifi cando falha terapêutica. A restauração da hematopoese pode ser alcançada por: → Tratamento imunossupressor → Transplante de medula óssea Segundo as Diretrizes Brasileiras em Transplante de Células Tronco Hematopoéticas para Anemia Aplástica Adquirida, são determinantes na escolha entre o transplante e o tratamento imunossupressor → Idade maior ou menor do que quarenta anos (estendida até cinquenta anos de idade, dependendo do estado clínico e do índice de comorbidades) → Presença de um doador aparentado na anemia aplástica severa. Os imunossupressores comprovadamente eficazes são: → Globulina Antilinfocítica (GAL) → Antitimocítica → Ciclosporina A (CSA) → Corticosteroides para prevenção da doença do soro induzida pela GAL. A associação de GAL+CSA atinge os melhores resultados, pois mais de 70% dos pacientes com AAS apresentam uma resposta parcial ou completa. Quando recaída pós imunossupressor, aconselha um 2° ciclo de imunossupressão. Alguns pacientes necessitam manter a CSA por longo tempo. Números de granulócitos < 200/μL, de plaquetas < 15.000/μL e reticulócitos < 0,5% estiveram associados a maior mortalidade precoce, menor sobrevida ESQUEMAS DE ADMINISTRAÇÃO IMUNOGLOBULINA ANTITIMÓCITO (GAT) Administrar via cateter venoso central, em um esquema de 5 dias, sendo infundida em 12 h no primeiro dia e em 6-12 h nos dias subsequentes. A dose recomendada de GAT de coelho é 2,5 mg/kg/dia. CICLOSPORINA Administrar 5-6 mg/kg/dia, VO, com ajuste da dose de acordo com o nível sérico, no 1° dia de uso de GAT. Pelo risco de recidiva da doença se tratamento suspenso de forma abrupta, recomenda-se que a dose seja reduzida progressivamente após 1 ano de tratamento em dose plena. PREDNISONA Iniciar com 2 mg/kg/dia, VO, reduzindo para 1 mg/kg/dia a partir da 3° semana de tratamento conforme a resposta terapêutica. Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato TEMPO DE RASTREAMENTO → Não há tempo definido de tratamento para AA. → Recomenda-se aguardar 3-4 meses entre um curso e outro de GAT e pelo menos 2 meses para avaliação da reposta ao tratamento com ciclosporina e prednisona. → Indica-se uma periodicidade inicial de 1 semana até a obtenção de nível sérico adequado de ciclosporina e, após, de 2 semanas para as consultas com o médico assistente. TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA → Empregado nos pacientes com anemia aplástica severa, → Tendo < 50 anos → Que possuam doadores aparentados HLA-idênticos. O número de transfusões prévias ao transplante e o intervalo entre o diagnóstico e o procedimento são fatores que interferem nos resultados. Tem os melhores resultados: → Pacientes submetidos a menos de 15 transfusões → Cuja doença tem duração < 2 meses Principais complicações do transplante: → Infecções imediatamente prévias ao TMO → Rejeição • A rejeição tardia costuma ser revertida pela reintrodução da imunossupressão ou pelo retransplante, enquanto a rejeição precoce é habitualmente resistente às mesmas medidas. → Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro (DECH) TRATAMENTO DE SUPORTE A transfusão de concentrado de hemácias deverá ser baseada nos sintomas anêmicos. Fundamenta-se na: → Reposição de plaquetas e hemácias → Prevenção e controle das infecções. → Pacientes com indicação de TMO • Devem-se usar critérios rigorosos para a indicação de transfusões sanguíneas. Reposição de hemácias será feita quando: → Hemoglobina < 6,0 g/dL → Plaquetas nas situações de sangramento ativo ou febre < 20.000/uL → Ou plaquetas < 10.000/μL Aconselha-se que os componentes sanguíneos a serem transfundidos sejam previamente irradiados, ou seja, utilizados filtros no momento da infusão com o objetivo de reduzir o índice de rejeição nos pacientes transplantados. TRATAMENTO DAS INFECÇÕES Risco de infecções bacterianas e fúngicas aumentados em casos de: → Neutropenia < 500/μL → Mais preocupante quando a contagem de neutrófilos < 200/μL. Forma de tratamento: → Precocidade em iniciar a terapêutica antimicrobiana específica → Identificação domicrorganismo → Tratamento de suporte • Para corrigir as alterações hemodinâmicas e hidroeletrolíticas constituem medidas básicas para o controle das infecções. MONITORIZAÇÃO Resposta ao tratamento A definição de resposta ao tratamento deve ser realizada com 2 hemogramas com plaquetas, com 4 semanas de intervalo, e pode ser classificada em: → Para resposta da doença grave e muito grave: • Nenhuma: Quando não muda o quadro inicial, o paciente persiste pancitopênico; • Parcial: Suspensão da necessidade transfusional, pois não apresenta mais critérios de doença grave; Módulo: Anemias e perdas sanguíneas | Samille Donato • Completa: Quando apresenta níveis de hemoglobina normais para suaidade, neutrófilos > 1.500mm3 e plaquetas > 150.000mm3 . → Para resposta da doença moderada: • Nenhuma: Quando não há mudança do quadro hematológico inicial; • Parcial: Quando ocorre suspensão da necessidade transfusional, duplicação das contagens iniciais ou normalização de uma linhagem celular, ou ↑ de hemoglobina em mais de 3 g/dL se inicialmente < 6 g/dL, ou nos neutrófilos > 500/mm3 se inicialmente < 500/mm3 e nos de plaquetas > 20.000/mm3 se inicialmente com valores menores; • Completa: quando apresenta níveis de hemoglobina considerados normais para idade, neutrófilos > 1.500/mm3 e plaquetas > 150.000/mm³. REFERÊNCIAS: - Tratado de Hematologia - Zago - Manual de Hematologia – Victor Hoffbrand - Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas: Anemia aplástica adquirida – MS – 2013 - Monografia – Anemia aplástica adquirida – Catarina Cruz Vaz – Universidade Porto – Portugal, 2016.
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