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As verminoses21CAPÍT U L O ESQUISTOSSOMOSE: UMA DOENÇA NEGLIGENCIADA As doenças negligenciadas são [enfermidades] cujo tratamento é inexistente, precário ou desatualizado. Essas doenças prevalecem apenas sob condições de pobreza, como também contribuem para a manutenção do quadro de desigualdade, já que representam forte entrave ao desenvolvimento dos países. Doenças negligenciadas matam um milhão de pessoas por ano, no mundo, além de causar impacto na produtividade dos trabalhadores e manutenção de países de baixa renda em situação de pobreza. A esquistossomose é considerada uma doença negligenciada por ser endêmica em populações de baixa renda, não obstante contar com medida preventiva e tratamento conhecidos. Os avanços terapêuticos são de baixo interes- se econômico, dado o reduzido potencial de retorno lucrativo para a indústria farmacêutica. [...] [A] esquistossomose está entre as parasitoses mais importantes a afetar o [ser humano], além de ser a segunda doença parasitária mais disseminada no mundo, atrás apenas da malária. Em 2004, a Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio do indicador DALY (Disability-Adjusted Life Years, ou Anos de Vida Perdidos Ajustados por Incapacidade), estimou que a esquistossomose causasse a perda da vida saudável ou a morte de aproximadamente 1,7 milhões de pessoas por ano, em todo o mundo. Contudo, levantamen- to realizado por King mostra que esses dados se encontram subestimados, podendo alcançar entre 25 e 28 milhões de DALY. No Brasil, estima-se que 30 milhões de pessoas estejam expostas ao risco de contrair a esquistossomose; entre elas, quatro a seis milhões podem estar infectadas pelo Schistosoma mansoni. [...] SAUCHA et al. Condições de saneamento básico em áreas hiperendêmicas para esquistossomose no estado de Pernambuco em 2012. Epidemiol. Serv. Saœde, Brasília, 24(3):497-506, jul-set 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ress/v24n3/2237-9622-ress-24-03-00497.pdf>. Acesso em: fev. 2016. 1. Conforme o texto, “doenças negligenciadas são [enfermidades] cujo tratamento é inexistente, precário ou desatualizado”. Procure o verbo negligenciar no dicionário e, em seguida, repro- duza o trecho desse mesmo artigo que, na sua opinião, indique a razão pela qual existem doenças negligenciadas. 2. Pesquise sobre as doenças negligenciadas e comente a res- peito de pelo menos mais dois casos. Trace elementos em comum entre eles, como por exemplo: vetores da doença, causas envolvidas na negligência, situação econômica e social dos doentes. EXPLORANDO AS IDEIAS DO TEXTO NÃO ESCREVA NO LIVRO Moradores de uma comunidade ribeirinha lavando roupas e utensílios domésticos à margem de um rio. As larvas do verme Schistosoma mansoni vivem em água doce contaminada e podem penetrar na pele de pessoas que eventualmente entrem em contato com essa água. JO SÉ B A SS IT /P U LS A R IM A G EN S Optamos por omitir a identificação da localidade da fotografia por retratar pessoas expostas ao risco de contágio de doenças. Rio Santo Antônio, em Lençóis (BA), 2013. 242 As respostas das questões dissertativas estão nas Orientações Didáticas, ao final deste volume. 04_UN4_CAP21_BIOLOGIA3-CSC_242a253.indd 242 5/9/16 5:47 PM DIMORFISMO SEXUAL NO Schistosoma mansoni INTRODUÇÃO Em termos científicos, a palavra “verme” não tem um significado específico: refere-se a animais invertebrados de corpo alongado, mole, sem membros locomotores e sem esqueleto ou concha. Em geral, aplica-se esse nome gené- rico a animais pertencentes a vários filos, dentre eles o dos platelmintos (vermes achatados dorsoventralmente), o dos nemátodos (vermes cilíndricos e não segmentados) e o dos anelídeos (vermes cilíndricos e segmentados). Na concepção popular do termo, porém, a palavra “verme” logo nos leva a pensar em animais que provocam doenças no ser humano, como a lombriga e a tênia. De fato, muitas espécies de vermes são parasitas de outros organismos, incluindo o ser humano. No Brasil, são comuns certas endemias causadas por vermes (verminoses), que ocorrem, principalmente, por causa de condições higiênicas precárias nas moradias e no modo de vida das pessoas. Essas condições estão intimamente relacionadas ao baixo padrão socioeconômico de grande parte da população, em especial daquela que habita o meio rural. Trata-se de um problema complexo e que exige medidas em vários níveis — desde precauções de natureza individual até providências de saúde pública. Neste capítulo, serão estudadas as principais verminoses humanas provocadas por platelmintos e nemátodos. Lembre-se de que também há parasitas humanos entre os anelídeos: são as sanguessugas. Porém, como elas são ectoparasitas, sua relação com o hospedeiro humano é relativamente rápida e sem consequências a longo prazo para a saúde. Por esse motivo, as sanguessugas não serão abordadas aqui. Do filo dos platelmintos, merecem destaque o esquistossomo (Schistosoma mansoni, da classe dos tremátodos) e as tênias (Taenia solium e Taenia saginata, da classe dos céstodos). No filo dos nemátodos há vários parasitas importantes devido à alta incidência na população brasileira, especialmente a lombriga (Ascaris lumbricoides) e o ancilóstomo (Ancylostoma duodenale), causador da ancilostomose, doença conhecida como amarelão. A maioria das verminoses humanas é causada por nemátodos. Alguns deles apresentam apenas milímetros de comprimento (como o oxiúro, um parasita intestinal), outros têm cerca de 20 cm (como a lombriga, também intes- tinal), enquanto alguns podem chegar a mais de 1 m (como as finas e longas filárias-de-medina, que vivem enro- ladas em abscessos na pele da perna e afetam seres humanos e outros animais na África e na Ásia, não ocorrendo no Brasil). PARASITOSES HUMANAS CAUSADAS POR PLATELMINTOS O Schistosoma mansoni (esquistossomo) O esquistossomo é um animal pequeno, com 10 a 15 mm de comprimento e 1 a 2 mm de espessura. Esse verme apresenta dimorfismo sexual, sendo os machos e as fêmeas facilmente reconhecidos pela morfologia externa: os machos têm um canal ginecóforo externo, na região ventral, onde se aloja a fêmea, que é mais longa e fina. Na região anterior, tanto os machos como as fêmeas apresentam duas ventosas, que são órgãos especiais de fixação no corpo do hospedeiro. Além das ventosas, outra característica marcante é a presença de uma cutícula protetora lisa nas fêmeas e de uma cutícula rugosa e com espículas nos machos. Fotografia ao microscópio eletrônico de varredura (cores artificiais) e ilustrações evidenciando o dimorfismo sexual em Schistosoma mansoni (schisto 5 fenda; soma 5 corpo). (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) Aumento de 35 vezes. N IB SC /S PL /L AT IN ST O CK Secção da cauda Canal ginecóforoCanal ginecóforo FêmeaFêmea Ventosas Macho Macho JU RA N D IR R IB EI RO As verminoses • CAPÍTULO 21 243 São evidentes, ao longo de todo este capítulo, as várias oportunidades de contextualização do assunto com a vivência dos estudantes. Pode-se solicitar a eles, por exemplo, que pesquisem sobre a incidência, no Brasil, de cada uma das verminoses analisadas aqui e que discutam sobre as variadas medidas necessárias à prevenção e à erradicação dessas doenças, tanto no nível pessoal quanto no nível de saúde pública. 04_UN4_CAP21_BIOLOGIA3-CSC_242a253.indd 243 5/9/16 5:47 PM Circulação Mesentério N o s e r h u m a n o N a á g u a N o ca ra m u jo Veias Vermes adultos Postura de ovos Saem com as fezes Penetração na pele Miracídio EsporocistoEsporocisto Intestino Ovo Cercária ■ O ciclo de vida do Schistosoma mansoni Os esquistossomos adultos vivem acasalados no interior das veias do fígado e das veias da parede intestinal do ser humano (hos- pedeiro definitivo). Após a fecundação, as fêmeas liberam ovos em vasos sanguíneos próximos à luz intestinal. Cada ovo apresenta um grande espinho lateral que provoca ulceração na mucosa intestinal, comsangramento e inflamação. Por meio das fezes da pessoa parasitada, esses ovos são lança- dos ao meio ambiente, podendo chegar a lagoas, tanques, reservató- rios e charcos. Cada ovo origina uma larva ciliada, o miracídio, que se locomove ativamente e pode penetrar no corpo de um caramujo (hospedeiro intermediário) da família dos planorbídeos. Nas vísceras do caramujo, o miracídio transforma-se em uma peque- na cápsula, o esporocisto (primário), dentro do qual surgem novos esporocistos (secundários). Estes, por sua vez, dão origem a milhares de novas larvas: as cercárias. Após deixarem o caramujo, as cercárias permanecem vivas e com poder de infestação por cerca de 60 horas. Elas apresentam uma longa cauda muscular bifurcada, que lhes permite locomover-se na água. Durante esse período, as larvas podem penetrar na pele humana. Quando isso acontece, ocorre uma forte irrita- ção local com coceira (dermatite cercariana). Por isso, as águas infesta- das por cercárias são chamadas de “lagoas de coceira” e devem ser evitadas para qualquer uso (como banho, lavagem de roupa e plantio). Da pele humana, as cercárias chegam aos capilares e migram para os vasos sanguíneos das vísceras. Finalmente, machos e fêmeas se acasalam e, cerca de 40 dias após a penetração no corpo humano, as fêmeas adultas começam a depositar seus ovos. A profilaxia da esquistossomose implica construir redes de água e esgoto, exterminar o caramujo hospedeiro e evitar o contato com águas contaminadas por cercárias. Esquema representando o ciclo de vida do Schistosoma mansoni. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) Cercária (0,5 mm de comprimento), a larva do Schistosoma mansoni, ao microscópio de luz. (Cores artificiais.) Caramujo planorbídeo (Biomphalaria glabrata, até 4 cm de diâmetro), transmissor da esquistossomose. Fonte: RUPPERT, E. E.; FOX, R. S. & BARNES, R. D. Zoologia dos Invertebrados. 7. ed. São Paulo: Roca, 2005. CICLO DE VIDA DO Schistosoma mansoni FA B IO C O LO M B IN I E . R . D EG G IN G E R /P H O TO R E S E A R C H E R S /L A TI N S TO C K C R IS A LE N C A R UNIDADE 4 • SAòDE HUMANA244244244 04_UN4_CAP21_BIOLOGIA3-CSC_242a253.indd 244 5/9/16 5:47 PM ■ A esquistossomose A esquistossomose é uma das mais difundidas verminoses do mundo, com milhões de casos registrados no Brasil. As cinco espécies de esquistossomo conheci- das são: Schistosoma mansoni (África e Américas Central e do Sul); S. haematobium (África e Oriente Médio); S. japonicum (Japão, parte da China e Indonésia); S. mekongi (Laos e Camboja); e S. intercalatum (partes da África). No Brasil só ocorre a esquistossomose mansônica (ou intestinal), causada pelo S. mansoni. Trata-se de uma doença grave e debilitante, que contribui bastante para a redução da expectativa de vida dos indivíduos de populações afetadas. A esquistossomose mansônica tem uma fase inicial aguda, que provoca mal- -estar, cansaço, problemas gastrointestinais e dores de cabeça. Ela é seguida por uma fase intestinal, em que ocorrem graves distúrbios digestivos, cólicas e fezes com muco e sangue. Já a fase crônica é caracterizada por inflamação do fígado e do baço, além da típica ascite (ou barriga-d’água), em que o ventre se torna muito volumoso. A barriga-d’água é uma característica marcante dessa doença. As tênias As tênias adultas vivem na luz intestinal de muitos hospedeiros mamíferos, incluindo o ser humano. Elas não têm sistema digestório e, pela grande superfície de seu corpo, absorvem os produtos finais dos alimentos digeridos pelas enzimas do hospedeiro. O corpo das tênias é, em geral, uma longa fita achatada e pode atingir metros de comprimento. A cabeça (ou escólex) é pequena, tem quatro ventosas e dela sai um grande número (até milhares) de proglotes (ou segmentos). As proglotes têm cerca de 0,5 cm de comprimento cada uma e, na região terminal do corpo, apresen- tam um grande útero ramificado que contém milhares de ovos (são as proglotes grávidas). Por causa do tamanho elevado e da competição entre elas, geralmente apenas uma tênia adulta permanece fixa na mucosa intestinal de uma pessoa parasitada (daí provém o nome solitária). No intestino, o crescimento da tênia é contínuo, graças à produção constante de proglotes na região do colo, junto ao escólex. Se todo o corpo do parasita fosse removido do hospedeiro, permanecendo apenas o escólex, ele ainda poderia se regenerar e tornar-se um adulto completo. As larvas das tênias se alojam na musculatura, nas vísceras e no sistema nervoso de vários hospedeiros intermediários, como mamíferos e peixes. As duas espécies mais comuns que parasitam o ser humano são a Taenia solium (tênia porcina) e a Taenia saginata (tênia bovina), cujos hospedeiros intermediários são, respectivamente, o porco e o boi. Ambas são facilmente diferenciadas, pois ape- nas a T. solium apresenta uma coroa de ganchos no escólex. ■ O ciclo de vida da Taenia solium Em cada proglote da tênia, há um complexo sistema reprodutor hermafrodita. Como a tênia permanece enrolada, as aberturas geni- tais (uma por proglote) podem entrar em contato umas com as outras. Assim, torna-se possível a troca de espermatozoides, a fecundação e a formação de milhares de ovos, que são armazena- dos em úteros hipertrofiados. As proglotes terminais e maduras destacam-se continuamente do corpo da tênia. Por ruptura das proglotes, os ovos são liberados e saem com as fezes humanas, podendo, então, ser ingeridos por porcos. No estômago desses animais, a casca do ovo é digerida, ocorrendo liberação de uma larva microscópica com seis espinhos, a oncosfera (ou hexacanto). Fotografia de escólex e proglotes da Taenia solium ao microscópio eletrônico de varredura. (Cores artificiais.) Aumento de 20 vezes. Proglotes Ventosas Ganchos A N D RE W S YR ED /S CI EN CE S O U RC E/ LA TI N ST O CK As verminoses • CAPÍTULO 21 245 04_UN4_CAP21_BIOLOGIA3-CSC_242a253.indd 245 5/9/16 5:47 PM No intestino do porco, a oncosfera perfura a mucosa e atinge, por meio da circu- lação, principalmente a musculatura estriada e o sistema nervoso do animal, onde se transforma em cisticerco. O cisticerco tem o aspecto de um grão de canjica, é fibroso e duro, mede de 0,5 a 1 cm de diâmetro e tem um escólex invertido em seu interior. Quando a carne de porco é ingerida crua ou malcozida, o escólex pode se desenvol- ver e formar um verme adulto ao atingir o intestino humano. Parede intestinal Escólex em evaginação do cisticerco (no intestino humano) Ganchos Ventosa Colo Proglotes jovens Espinhos Casca Ingestão Desenvolve-se Cisticerco (na musculatura do porco) Larva oncosfera (no intestino do porco) Ovo (sai com as fezes humanas) Útero com ovos Verme adulto Proglote madura No ser Humano No porco No meio Ambiente CICLO DE VIDA DA Taenia solium ■ A teníase e a cisticercose A teníase é causada por tênias adultas, que são parasitas intestinais do ser huma- no, e provoca vários distúrbios digestivos, como enjoo, vômito, diarreia, alterações no apetite e dores abdominais. Além disso, também pode ocorrer desnutrição. No entanto, mais grave que a teníase é a cisticercose humana. Essa doença é causada pelos cisticercos que, com frequência, podem se alojar no cérebro, provo- cando graves problemas neurológicos e até mesmo a morte. Para adquirir cisticerco- se, é preciso que a pessoa (que normalmente é o hospedeiro definitivo) ingira ovos da tênia. Dessa maneira, o mesmo ciclo que aconteceria no porco efetua-se na própria pessoa infectada, que passa a atuar como hospedeiro intermediário (isto é, portador da fase larvária da tênia). Pessoas que já têm teníase, especialmente crian- ças, também correm o risco de adquirir cisticercose. Em situações de falta de higiene pessoal, os ovos de tênia presentes nas fezes poderiam ser ingeridos, ocorrendo, assim, uma autoinfestação. ■ Ahidatidose A espécie Echinococcus granulosus é uma pequena tênia de alguns milímetros de comprimento, encontrada em grande número no intestino de cães. Quando adulta, apresenta proglotes grávidas cheias de ovos, que são eliminados com as fezes dos Fonte: RUPPERT, E. E.; FOX, R. S. & BARNES, R. D. Zoologia dos Invertebrados. 7. ed. São Paulo: Roca, 2005. In ge st ão p el o po rc o ou p el o se r h um an o (c is tic er co se ) Vermes adultos Cisticercos Oncosferas Ovos In ge st ão Fezes hum anas Circulação Hospedeiro intermediário (porco) Hospedeiro definitivo (ser humano) Esquema resumindo o ciclo de vida da tênia. CICLO DE VIDA DA TæNIA Esquema representando o ciclo de vida da Taenia solium. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) C R IS A LE N C A R B IS UNIDADE 4 • SAÚDE HUMANA246246246 04_UN4_CAP21_BIOLOGIA3-CSC_242a253.indd 246 5/9/16 5:47 PM cães. Uma vez no solo, em contato com gramíneas dos pastos, os ovos podem ser ingeridos por carneiros, os hospedeiros intermediá rios. Nas vísceras desses animais, os ovos se desenvolvem em grandes e complexos cistos esféricos, os cistos hidáticos, que apresentam milhares de pequenos escólex em seu interior. Com a morte do carneiro parasitado, suas vísceras podem ser comidas por cães. Por fim, os escólex podem se desenvolver em vermes adultos no intestino dos cães. Como os ovos podem ficar na pelagem do cão ou dis- persos no ambiente caseiro, há o risco de o ser humano ser contaminado pelos ovos. Assim, grandes cistos hidáti- cos podem se formar nas vísceras humanas, especialmen- te no fígado, no pâncreas e nos pulmões, caracterizando a grave hidatidose. Caso os cistos não sejam extraídos por cirurgia, com frequência levam à morte. O quadro abaixo apresenta as informações mais rele- vantes sobre as principais verminoses humanas provoca- das por platelmintos. Principais platelmintos parasitas do ser humano Espécie e tamanho máximo Doença(s) Sintomas Transmissão Profilaxia Taenia saginata (tênia do boi – 5 a 25 m) Teníase Distúrbios gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarreia ou prisão de ventre); dores abdominais; alterações no apetite; fraqueza; irritabilidade; insônia. Ingestão de larvas (cisticercos) que podem estar presentes na carne bovina ingerida crua ou malcozida. Evitar a ingestão de carne bovina crua ou malcozida. Só comer carnes e seus derivados que tenham sido submetidos à fiscalização sanitária. Taenia solium (tênia do porco – 2 a 7 m) Teníase e cisticercose Teníase: distúrbios gastrointestinais; dores abdominais; alterações no apetite; fraqueza; irritabilidade; insônia. Cisticercose: dores de cabeça; convulsões; dificuldade para andar. Teníase: ingestão de larvas (cisticercos) que podem estar na carne suína ingerida crua ou malcozida. Cisticercose: via oral, pela ingestão de ovos de T. solium. Teníase: evitar a ingestão de carne suína crua ou malcozida. Só comer carnes e seus derivados que tenham sido submetidos à fiscalização sanitária. Cisticercose: beber somente água filtrada ou fervida; lavar bem verduras e legumes crus antes de ingeri-los. Higiene pessoal e uso de sanitários. Hymenolepis nana (15 a 40 mm) Himenolepíase Frequentemente assintomática. Podem ocorrer distúrbios gastrointestinais, dor e desconforto abdominal. Por via oral, pela ingestão de ovos. O ser humano é o único hospedeiro. Beber somente água filtrada ou fervida. Lavar bem verduras e legumes crus antes de ingeri-los. Higiene pessoal e uso de sanitários. Diphyllobothrium latum* (tênia do peixe – 10 m) Difilobotríase Distúrbios gastrointestinais; dores abdominais; alterações no apetite; anemia. Ingestão de larvas (cisticercos) que podem estar na carne de peixe ingerida crua ou malcozida. Evitar a ingestão de carne de peixe crua ou malcozida. Echinococcus granulosus** (3 a 6 mm) Hidatidose Dor e desconforto abdominais; fraqueza; perda de peso. Ingestão de ovos do parasita, que são liberados no ambiente pelas fezes de cães contaminados. Beber somente água filtrada ou fervida. Lavar bem verduras e legumes crus antes de ingeri-los. Higiene pessoal e uso de sanitários. Fasciola hepatica*** (até 30 mm) Fasciolose Dores abdominais; vômitos; hepatomegalia (aumento do volume do fígado). Por via oral, pela ingestão de formas larvais do parasita, cujos vermes adultos infestam mamíferos ruminantes. Beber somente água filtrada ou fervida. Lavar bem verduras e legumes crus antes de ingeri-los. * Na cidade de São Paulo, entre 2004 e 2005, alguns poucos casos foram registrados, por causa do consumo de peixe importado do Chile, onde a doença tem maior prevalência. ** No Brasil, esta infecção é pouco comum, sendo mais frequente no Rio Grande do Sul, onde há uma expressiva criação de ovinos. O ser humano é um hospedeiro acidental do verme. *** Infecção pouco comum em humanos. No Brasil, é mais frequente nas regiões Sul e Sudeste, onde há criações de espécies bovinas, caprinas, ovinas e equinas. Esquemas do corpo (A) e do cisto hidático (B) do Echinococcus granulosus. (Representações fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) Escólex Verme adulto Ventosa Proglote jovem Proglote grávida A B. Cisto hidático (em corte) Escólex B Echinococcus granulosus JU R A N D IR R IB E IR O As verminoses • CAPÍTULO 21 247 04_UN4_CAP21_BIOLOGIA3-CSC_242a253.indd 247 5/9/16 5:47 PM CICLO DE VIDA DO Ascaris lumbricoides PARASITOSES HUMANAS CAUSADAS POR NEMÁTODOS O Ascaris lumbricoides Esse verme apresenta um marcante dimorfismo sexual, pois machos e fêmeas são bem diferentes quanto ao tamanho, à forma da cauda e à presença de pequenas espículas copuladoras (presentes apenas na região posterior dos machos, junto ao poro genital). Os vermes adultos medem de 15 a 20 cm de comprimento e vivem livres no intestino humano. Esquema simplificado representando o ciclo de vida do Ascaris lumbricoides. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) Esquema de macho e de fêmea de Ascaris lumbricoides evidenciando o dimorfismo sexual. (Elementos fora de escala de tamanho. Cores fantasia.) DIMORFISMO SEXUAL NO Ascaris lumbricoides Em casos de infestação maciça (com dezenas de indivíduos), podem ocorrer gra- ves problemas. Em crianças parasitadas, por exemplo, há o risco de morte por asfixia, pois os vermes podem chegar à faringe e causar sua obstrução. A verminose causada pelo A. lumbricoides é a ascaridíase (ou ascaridiose), que se caracteriza pelos seguintes distúrbios digestivos: cólicas, vômitos, enjoo, desnutrição, crises convulsi- vas e até mesmo obstrução intestinal (que necessita de intervenção cirúrgica). ■ O ciclo de vida do Ascaris lumbricoides Acompanhe a descrição do ciclo na figura ao lado. Os ovos do Ascaris lumbricoides são expelidos nas fezes de um indivíduo infectado pelo parasita e podem permanecer vivos e embrionados durante anos no solo. Ao serem ingeridos (1 e 2), liberam larvas micros- cópicas no intestino do novo hospedeiro. As larvas (rabditoides) perfuram a mucosa intestinal, atingem a circulação (3) e, em sequência, o coração e os pulmões (4). Posteriormente, perfuram os alvéolos, sobem pelos brônquios e pela traqueia e chegam à faringe (5), onde são deglutidas com a saliva. Retornando ao tubo digestório (6, 7 e 8), transformam-se rapidamente em vermes adultos. Em todos os locais por onde passam, as larvas em migração provocam sintomas diversos, tais como: bronquites, infecções pulmonares, irritação nas mucosas faríngea, traqueal e nasal, tosse seca e coceira na garganta. Fonte: NEVES, D. P. et al. Parasitologia humana. 12. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. Boca Pulmões Coração Estômago Intestino Ânus Fezes Ovo fértil Ovo com larva IngestãoFaringe 1 5 6 4 3 2 7 8 JU R A N D IR R IB E IR O JU R A N D IR R IB E IR O Poro excretor Poro genital Ânus Boca Poro genital e ânus Cauda enrolada com espículas copuladoras UNIDADE 4 • SAÚDE HUMANA248248248 04_UN4_CAP21_BIOLOGIA3-CSC_242a253.indd 248 5/9/16 5:47 PM Penetração ativa de larvas por meio da pele Vermes adultos no intestino delgado Ovo no solo Larva livre no solo 2 11 2 3 4 Ancilostomose (ou amarel‹o) No organismo humano, a ancilostomose (ou amarelão) é provocada pelos vermes Ancylostoma duodenale e Necator americanus. Enquanto em A. duodenale a boca é provida de ganchos (do grego ancylos 5 gancho; stoma 5 boca), em N. americanus a boca apresenta lâminas cortantes (do grego necator 5 matador). Tal como a lom- briga, esses vermes vivem no intestino humano, porém, fixam-se à mucosa intestinal e se alimentam dos tecidos e do sangue que flui das lesões que provocam. A contínua perda de sangue (causada pela alimentação dos vermes e pelas hemorragias decor- rentes das lesões) leva o indivíduo afetado a um estado de profunda anemia. Dessa forma, o doente passa a apresentar palidez, ficando com a pele amarelada — de onde provém o nome popular amarelão. Esses parasitas apresentam um ciclo de vida muito semelhante ao da lombriga, pois também migram por vários órgãos humanos antes de se fixarem como adultos no intestino. Entretanto, na ancilostomose a infestação se dá pela penetração ativa de larvas do parasita (rabditoides) através da pele. As larvas provêm de ovos eliminados pelas fezes de uma pessoa doente e pas- sam a ocorrer livremente no solo. Quando um ser humano sadio entra em contato com essas larvas, elas penetram através da pele fina (em geral dos pés, se a pessoa estiver descalça ao pisar no local infestado) e, posteriormente, chegam à corrente sanguínea. As medidas de combate à doença incluem saneamento básico, tratamento dos doentes e uso de calçados. O personagem Jeca Tatu, criado pelo escritor Monteiro Lobato (1882-1948) no início do século passado, foi usado em campanhas a favor do saneamento. Esse personagem reflete as precárias condições de vida do brasileiro da zona rural da época, que não tinha acesso a medidas de higiene básica e não usava calçados. De acordo com a história, Jeca Tatu vivia desanimado e sem forças nem vontade para nada. Mais tarde, ao ser examinado pelos médicos, descobriu-se que ele sofria de anemia profunda, como resultado do amarelão. Detalhe da cabeça de Ancylostoma duodenale ao microscópio eletrônico de varredura evidenciando os ganchos da boca. (Cores artificiais.) Ganchos Aumento de 143 vezes. Fonte: RUPPERT, E. E.; FOX, R. S. & BARNES, R. D. Zoologia dos Invertebrados. 7. ed. São Paulo: Roca, 2005. Esquema simplificado representando o ciclo de vida do parasita causador da ancilostomose. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) 1. As larvas penetram ativamente através da pele fina, atingem a circulação e migram por vários órgãos, até chegar aos alvéolos pulmonares. 2. Perfurando a parede dos alvéolos, sobem até a faringe; em seguida, seguem pelo esôfago, estômago e, finalmente, intestino delgado, onde se transformam em vermes adultos. 3. Após o acasalamento no intestino, as fêmeas iniciam a postura dos ovos, que, misturados às fezes, chegam ao ambiente. Se depositados em solo úmido e sombroso, os ovos eclodem e liberam larvas. Após algumas mudas, as larvas se tornam infectantes. 4. As larvas podem permanecer vivas no solo por vários dias. Se houver oportunidade, infectam um novo hospedeiro, penetrando através da pele e reiniciando o ciclo. CICLO DA ANCILOSTOMOSE LU IS M O U R A D A V ID S C H A R F/ S C IE N C E FA C TI O N /G E TT Y IM A G E S As verminoses • CAPÍTULO 21 249 04_UN4_CAP21_BIOLOGIA3-CSC_242a253.indd 249 5/9/16 5:48 PM Os parasitas e seus ciclos de vida Note que o ciclo vital da lombriga e o do ancilóstomo se completam em apenas um hospedeiro: nesse caso, os parasitas são chamados de monoxenos. Já o ciclo vital das tênias (do porco e do boi) e do esquis- tossomo inclui dois hospedeiros; trata-se, portanto, de parasitas heteroxenos. O quadro a seguir apresenta algumas informações sobre as principais verminoses causadas no ser humano por nemátodos. Principais nemátodos parasitas do ser humano Espécie e tamanho máximo Doença Sintomas Transmissão Profilaxia Ascaris lumbricoides (lombriga – até 30 cm) Ascaridíase (infestação por lombrigas ou “bichas”) Frequentemente assintomática. No caso de infecção maciça, podem ocorrer distúrbios gastrointestinais, dor e desconforto abdominal, bronquite e outras complicações pulmonares. Via oral, pela ingestão de ovos presentes na água ou alimentos contaminados por fezes humanas. Beber somente água filtrada ou fervida. Lavar bem verduras e legumes crus antes de ingeri-los. Higiene pessoal e uso de sanitários. Ancylostoma duodenale (15 mm) e Necator americanus (15 mm) Ancilostomose (opilação ou amarelão) Ulcerações intestinais; diarreia; anemia; enfraquecimento; geofagia (hábito de comer terra). Penetração ativa de larvas através da pele. Uso de calçados e de sanitários. Estágios larvais de Ancylostoma braziliense e Ancylostoma caninum Dermatite serpiginosa (bicho- -geográfico) Coceiras e lesões nos locais do corpo onde ocorreu a penetração das larvas. Penetração ativa de larvas através da pele (larva migrans cutânea). As larvas se desenvolvem de ovos presentes em fezes de cães e gatos contaminados com o parasita. Evitar o contato com areia ou terra contaminadas com fezes de animais domésticos. Wuchereria bancrofti (filária – 10 cm) Filariose (elefantíase) Linfangite, linforragia e edema nas pernas, nos seios e no escroto. Picada do pernilongo Culex fatigans. Combate ao inseto. Enterobius vermicularis (2 cm) Oxyurus vermicularis (2 cm) Enterobiose Oxiurose Forte irritação e prurido anal, além de distúrbios intestinais. Ingestão de ovos. Higiene pessoal. Strongyloides stercoralis (2,5 mm) Estrongiloidose Distúrbios gastrointestinais, anemia e lesões pulmonares. As larvas filariformes penetram pela pele. Higiene pessoal e uso de sanitários. Trichuris trichiura (4 cm) Tricuríase Frequentemente assintomática. No caso de infecção maciça, pode haver dor e desconforto abdominal, diarreia, perda de peso e fadiga. Via oral, pela ingestão de ovos presentes na água ou nos alimentos contaminados por fezes humanas. Beber somente água filtrada ou fervida. Lavar bem verduras e legumes crus antes de ingeri-los. Higiene pessoal e uso de sanitários. Onchocerca volvulus Oncocercose (cegueira dos rios) Inflamações na pele e lesões nos olhos, podendo levar à cegueira. Picada de borrachudo (Simulium sp.) contaminado com o patógeno. Combate ao inseto. A área endêmica está restrita ao Parque Indígena Yanomami, no norte do Brasil (estados do Amazonas e Roraima), na fronteira com a Venezuela. UNIDADE 4 • SAÚDE HUMANA250250250 04_UN4_CAP21_BIOLOGIA3-CSC_242a253.indd 250 5/9/16 5:48 PM
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