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Saúde humana U N I D A D E 4 C E FU TC H E R /I S TO C K P H O TO /G E TT Y IM A G ES A saúde humana depende de diversos fatores, como a prática de atividades físicas e boa qualidade de vida. 219219 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 219 5/9/16 5:44 PM Parasitas do ser humano20CAPÍT U L O CD C- PA LM ER /P H A N IE /K EY ST O N E B RA SI L A HISTÓRIA DA DISSEMINAÇÃO DOS MICRORGANISMOS [...] O período de industrialização europeia fez emergir vários agentes infecciosos, até então esparsos na humanidade. Os séculos XVIII e XIX conheceram o período da Revolução Industrial. Milhares de camponeses migraram para cidades europeias e americanas em busca de empregos nas fábricas. Um exército de pessoas depauperadas1 ficou vulnerável aos microrganismos. Crianças e mulheres submetidas a longas jornadas de trabalho exaus- tivo expunham sua imunidade minada às bactérias e aos vírus. [...]. Os séculos XVIII e XIX foram dominados por tuberculose, coqueluche, difteria e escarlati- na. Mais da metade das crianças não ultrapassava os cinco anos de idade. As cidades indus- triais forneciam um caldeirão produtor de microrganismos. [...] Bactérias e vírus transmitidos por alimentos e água contaminados [...] reinaram na Europa e na América industriais. As cidades não dispunham de oferta de água tratada e limpa. Latrinas e sistemas de esgoto eram ausentes nesses redutos industriais. Lixo e dejetos acumulavam-se em fossas, tonéis ou terrenos. Todos os caminhos levavam esses dejetos para os rios que, por sua vez, em muitos casos, eram os fornecedores da água ingerida pela população. As epidemias de diarreias também reinaram nesses séculos com um agravante: a globalização da bactéria da cólera propiciada apenas com a Revolução Industrial. A cólera [saiu] do local de sua origem nas proximidades da Índia [...] com as embarcações a vapor surgidas com a Revolução Industrial [...]. A doença aportou na Europa e disseminou- -se pelas cidades industriais, repletas de moradores sem saneamento básico. Atravessou o Atlântico e aportou na América. Chegou ao Brasil na década de 1850 [...]. No último quarto do século XIX, a ciência descobriu que as doenças infecciosas eram cau- sadas por bactérias, parasitas, fungos e vírus. Tentávamos conter o avanço dessas doenças e sua disseminação. Porém, o século XX permaneceu globalizando doenças infecciosas [...]. UJVARI, Stefan Cunha. A história da disseminação dos microrganismos. Revista Estudos Avançados (IEA-USP), v. 22, n. 64, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v22n64/a11v2264.pdf>. Acesso em: fev. 2016. Vírus influenza (causadores da gripe) vistos ao microscópio eletrônico de transmissão. (Ampliação desconhecida. Cores artificiais.) 1. Depauperado: sem recursos financeiros, abatido, esgotado. 1. O texto afirma que “As cidades industriais forneciam um caldeirão produtor de microrganismos”. Que fatores, apon- tados no texto, confirmam o que é dito nessa sentença? 2. O que você entende por “globalização” de doenças infeccio- sas? Na sua opinião, existe algum caso recente que exemplifi- que esse fenômeno? Dê exemplos e justifique sua escolha. EXPLORANDO AS IDEIAS DO TEXTO NÃO ESCREVA NO LIVRO 220 As respostas das questões dissertativas estão nas Orientações Didáticas, ao final deste volume. 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 220 5/9/16 5:44 PM O QUE É PARASITISMO Em todos os ecossistemas, há populações de diferentes espécies que vivem em relação de interdependência – seja ela direta ou indireta. Tais relações podem estar baseadas na alimentação, na reprodução, na proteção, na ocupação do espaço, e podem implicar benefício ou prejuízo para os indivíduos associados. Genericamente, essas associações são chamadas de simbioses e incluem o parasitismo – que, se não é a relação mais difundida entre as espécies, pelo menos é a mais estudada. De fato, praticamente não existem seres vivos que não tenham parasitas. Até as bacté- rias podem ser atacadas por vírus, os bacteriófagos. O parasitismo é uma associação entre seres de espécies diferentes, na qual há benefício unilateral: um dos seres, o parasita, abriga-se e alimenta-se à custa de outro, o hospedeiro. Parasitas e hospedeiros se adaptam um ao outro, processo que pode ocorrer até em curto período de tempo, quando determinado parasita se torna resisten- te a uma nova defesa desenvolvida pelo hospedeiro. Esse é o caso dos vírus, como o da gripe, que sofrem mutações genéticas relativamente rápidas e originam linhagens mutantes resistentes a anticorpos específicos produzidos pelos hospedeiros. Os principais parasitas Estatuetas, múmias e peças esqueléticas de civilizações huma- nas do Egito, Peru, México, países da Europa, China, entre outros, revelam várias marcas de doenças parasitárias causadas tanto por microrganismos como por vermes. Assim, foram encontrados indí- cios de doenças como a varíola, a tuberculose óssea, a elefantíase, a esquistossomose e a leishmaniose. Apesar de bastante comuns, as parasitoses só começaram a ser identificadas e estudadas com o surgimento da Microbiologia, o que foi marcado pelo uso do microscópio, inventado por Anton van Leeuwenhoek no século XVII. Na época, além de se desconhe- cer a existência dos microrganismos, a aceitação de que eles eram a causa de muitas doenças não foi rápida. O pesquisador francês Louis Pasteur (1822-1895), com o desenvolvimento da vacina antirrábica (contra a raiva, uma virose), e o médico alemão Robert Koch (1843-1910), com a descoberta do bacilo da tuberculose, foram os pioneiros nos estudos de doenças causadas por microrganismos, ao final do século XIX. Além dos microrganismos parasitas, pertencentes a diferentes grupos — vírus, bactérias, protozoários e fungos —, há muitos vermes e artrópodes parasitas. Neste e no próximo capítulo, serão estudados os principais parasitas humanos no Brasil. Termos relacionados ao parasitismo A esquistossomose é uma doença causada por um verme (Schistosoma mansoni), cujo ciclo veremos em detalhe no próximo capítulo. Aqui, resumiremos o ciclo do esquistossomo apenas para introduzir a nomenclatura usada no estudo das parasito- ses em geral. O verme adulto vive em vasos sanguíneos do mesentério2 e seus ovos são expe- lidos com as fezes humanas. Na água, as larvas que eclodem dos ovos penetram em um caramujo. Dentro dele, reproduzem-se e geram novas larvas, que saem e permanecem livres em meio aquático por certo tempo. Essas larvas perfuram a pele humana e atingem a circulação, onde crescem, se desenvolvem e dão origem a novos vermes. Nesta múmia do faraó Ramsés II, que reinou no Egito entre 1279 e 1213 a.C., os cientistas identificaram marcas de varíola (cicatrizes e saliências), doença atualmente erradicada. 2. Mesentério: estrutura que faz a adesão das pregas intestinais à parede da cavidade abdominal. R O G E R W O O D /C O R B IS /F O TO A R E N A Parasitas do ser humano • CAPÍTULO 20 221 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 221 5/9/16 5:44 PM Apresentamos, a seguir, termos comumente empregados quando tratamos das parasitoses. • Agente etiológico: o parasita causador da doença. • Hospedeiro definitivo: o organismo que apresen- ta o parasita na sua fase adulta, capaz de efetuar a reprodução sexuada. • Hospedeiro intermediário: o organismo que abri- ga a fase larvária do parasita. • Ectoparasita: aquele que se fixa externamente ao corpo do hospedeiro. • Endoparasita: aquele que se aloja em órgãos internos do hospedeiro. • Parasita monoxeno: aquele que efetua o ciclo em apenas um hospedeiro. • Parasita heteroxeno: aquele que efetua o ciclo obrigatoriamente em dois ou mais hospedeiros. • Vetor: o organismo que transmite o parasita de um hospedeiro para outro. • Profilaxia: o conjunto de medidas que previnem o parasitismo. • Contaminação: o contato do parasita com o corpo do hospedeiroou com seus alimentos, objetos, roupas, entre outros itens. • Incidência: a frequência com que ocorrem novos casos da parasitose em determinado período. • Incubação: o tempo decorrido entre a infestação e a manifestação dos primeiros sintomas da doença. • Endemia: a ocorrência da parasitose em certa área, com um número mais ou menos constante de casos, durante longos períodos. • Epidemia: a ocorrência brusca de um grande número de casos de parasitose em uma região com poucos ou nenhum caso anterior. • Pandemia: uma epidemia de âmbito mundial. A AÇÃO DOS PARASITAS SOBRE OS HOSPEDEIROS O corpo dos hospedeiros sofre inúmeros efeitos prejudiciais em função da infestação e do desenvolvimento do ciclo vital dos parasitas. Esses efeitos podem ser desde um simples incômodo a problemas mais graves que podem ser até letais. Os parasitas podem provocar: obstruções intestinais (lombriga) e linfáti- cas (filárias); perfurações na pele e em órgãos internos (esquistossomo e ancilóstomo); ulcerações (ameba e leishmania); necrose de tecidos por ação enzimática; irritação de mucosas; prurido na região perianal (larvas da lom- briga e do oxiúro); ação tóxica (lombriga e bactérias); espoliação, com enfra- quecimento e anemia (ancilóstomo e plasmódio, causador da malária); febre (bactérias, vírus e plasmódio); e infecções locais ou generalizadas (bactérias e fungos). As adaptações dos parasitas Os parasitas são organismos adaptados anatômica, fisiológica e bioquimicamen- te para obter alimentos e ser capaz de se reproduzir em seu respectivo hospedeiro. Não à toa, é possível observar que, em geral, estabelece-se uma grande especificida- de entre o parasita e o hospedeiro. As suas adaptações são basicamente de dois tipos: as reduções (simplificações de órgãos e até de sistemas inteiros) e as acentuações (maior desenvolvimento de determinadas estruturas). Muitos parasitas não têm órgãos locomotores e alguns não apresentam sistema digestório (como as tênias). Em compensação, desenvolveram aparelhos bucais de perfuração e corte (como os ancilóstomos) e de sucção de san- gue (como as sanguessugas e certos insetos), além de ganchos e ventosas de fixação (como as tênias e os esquistossomos). M E N D IL /B S IP /K E YS TO N E B R A S IL Fotografia de lesões na pele do pé causadas pelo bicho- -geográfico, nome dado à fase larval de um nemátodo parasita. Lesão UNIDADE 4 • SAÚDE HUMANA222222222 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 222 5/9/16 5:44 PM Há, também, parasitas capazes de resistir às enzimas digestivas e ao ácido clorídrico do estômago dos hospedeiros. As lombrigas, por sua vez, são vermes que vivem na luz intestinal, pobre em oxigênio, e que têm um tipo de hemoglobina mais eficiente que a nossa na captação desse gás para a respiração. São marcantes, ainda, a grande produção de ovos, que chega a milhares por dia em muitos vermes, e o sincronismo com os ritmos vitais dos hospedeiros. Nas filárias (causadoras da elefantíase), por exemplo, as larvas migram em massa para a circulação periférica nas horas do dia em que os insetos transmissores costumam picar. Já o verme oxiúro migra do reto para a região anal provocando aí coceira, o que pode levar à contaminação dos dedos com os ovos, facilitando a transmissão. As adaptações dos hospedeiros Adaptações nos hospedeiros os tornaram capazes de equilibrar e até reduzir a ação parasitária. Nos casos mais simples, como o de muitos ectoparasitas, os hospe- deiros podem simplesmente efetuar movimentos para eliminá-los. Lembre-se dos tremores da musculatura da pele e o balançar da cauda executados pelo gado para afastar insetos. Outros hospedeiros desenvolveram estruturas protetoras e impermeabilizantes da pele ou comportamentos que dificultam a infestação. Grandes mamíferos africa- nos, como os hipopótamos e os elefantes, por exemplo, enlameiam-se e deixam secar sobre a pele uma camada de lama que os protege do ataque de artrópodes parasitas. Mais importante, especialmente em relação aos microrganismos parasitas, foi o desenvolvimento de um eficiente mecanismo de proteção representado pelo sistema imunitário (caracterizado pela produção de anticorpos e pela fagocitose). Outro exemplo de mecanismo protetor implica a produção de cápsulas fibrosas e calcárias para isolar e bloquear o parasita que se fixa no interior de alguns órgãos, como as larvas das tênias. OS MICRORGANISMOS PARASITAS Os vírus Vamos recordar algumas das características gerais dos vírus: a) todos os vírus são endoparasitas celulares e dependem de subs- tâncias das células parasitadas para sua reprodução (replicação); b) os vírus têm uma cápsula proteica que protege o material genético, o DNA ou o RNA; c) os vírus apresentam certa especificidade para organismos e para determinados tecidos ou órgãos em um mesmo organismo; d) a profilaxia das viroses é feita pela vacinação, uma imunização artifi- cial realizada por meio da inoculação de vírus mortos ou inativados ou apenas de seus antígenos; e) o tratamento de algumas viroses, como a Aids, o herpes, a hepatite e a gripe, é feito com o auxílio de medicamentos antivirais. Em termos gerais, essas drogas inibem a replicação do vírus – por exemplo, dificultando a sua penetração nas células hospedeiras, evitando a duplicação de seu material genético ou impedindo a síntese de novas cápsulas virais. f) os antibióticos não combatem os vírus. Os antibióticos são substân- cias capazes de alterar o metabolismo celular em algum aspecto essencial ou, até mesmo, inibi-lo totalmente. Assim, bactérias pato- gênicas podem ser combatidas com o uso de antibióticos; por outro lado, isso não se aplica aos vírus, já que estes são organismos acelulares. Fotografia ao microscópio eletrônico de varredura de escólex (cabeça) de tênia (Taenia solium), um parasita. (Cores artificiais.) Aumento de 40 vezes. Ganchos Ventosa Envelope externo (lipoproteico) Capsídeo RNA (duas fitas idênticas) Transcriptase reversa Glicoproteínas Esquema representando a estrutura do vírus HIV. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) VÍRUS HIV D E N N IS K U N K E L/ P H O TO TA K E /E A S Y P IX C O N C E IT O G R A F Parasitas do ser humano • CAPÍTULO 20 223 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 223 5/9/16 5:44 PM A tabela a seguir fornece algumas informações sobre as principais viroses humanas. Ela deve ser usada como fonte de consulta rápida sempre que se desejar esclarecer alguma dúvida referente às viroses. Não há necessidade de memorizá-la. Principais viroses humanas Doença Transmissão Sintomas Observações Sarampo Contato direto e gotículas de secreção nasal. Tosse seca, fotofobia e manchas vermelhas na pele (exantema). Há vacina. Rubéola Contato direto e secreções nasobucais. Febre, dor de cabeça, dores articulares, linfonodos inchados e exantema. Malformações em fetos (como surdez e catarata). Há vacina. Caxumba Contato direto e saliva. Febre, dor de cabeça e inflamação das glândulas parótidas (salivares). Complicação: orquite (inflamação dos testículos). Há vacina. Catapora (varicela) Contato direto e secreção nasal. Febre, fraqueza, linfonodos inchados, manchas vermelhas na pele e coceira. As manchas se tornam vesículas com líquido. Há vacina. Gripe (vírus influenza) Contato direto e gotículas de saliva. Febre, tosse, dor de cabeça e dores musculares. Epidemias. Há vacina. Poliomielite Fecal-oral. Afeta os neurônios motores, causando paralisias muscular e respiratória. Vacinas Salk e Sabin. Erradicada no Brasil. Hidrofobia (raiva) Mordida (saliva) de animais como cão, gato e morcego. Febre, espasmos musculares, deglutição difícil, paralisia e coma. Há vacina. Herpes Saliva e relação sexual. Lesões labiais (herpes labial) e genitais (herpes genital). Não há vacina. Recorrente por trauma, estresse e luzsolar. Ebola Contato direto com secreções corporais. Febre, dores no corpo, fadiga, hemorragias. Não há vacina. Febre amarela Picada do mosquito Aedes aegypti. Febre, dores musculares, dor de cabeça, icterícia, fotofobia e prostração. Há vacina que protege por até 10 anos. Dengue Picada do mosquito Aedes aegypti. Mesmos sintomas da febre amarela. Na segunda infecção, pode ocorrer a grave dengue hemorrágica. Não há vacina. Zika Picada do mosquito Aedes aegypti. Estão sendo estudadas outras formas de transmissão. Sintomas semelhantes aos da febre amarela, além da ocorrência de manchas no corpo. Não há vacina. Chikunguny a Picada do mosquito Aedes aegypti. Sintomas semelhantes aos da febre amarela, com destaque para as dores articulares. Não há vacina. Papiloma (HPV) Contato de pele e genital. Verrugas na pele, papiloma (HPV1 a 4) e verrugas genitais (HPV6 e 11). O HPV16 causa câncer uterino. Há vacina. Hepatite A Fecal-oral. Maioria assintomática. Às vezes, febre, vômito, icterícia e náuseas. Há vacina. Hepatite B Sangue e relação sexual. Icterícia. A forma crônica causa cirrose. Há vacina. Hepatite C Sangue e relação sexual. Febre, vômito e icterícia. A forma crônica predispõe ao câncer hepático. Não há vacina. Aids (HIV) Relações sexuais, transfusão de sangue e uso de seringas contaminadas. Exantema, aftas, inchaço dos nódulos linfáticos, febre, tosse, mal-estar e diarreia. Não há vacina. Varíola Provocou graves epidemias no passado. Hoje está mundialmente erradicada e o último caso foi registrado na Somália, em 1977. O vírus está armazenado em laboratório. UNIDADE 4 • SAÚDE HUMANA224224224 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 224 5/9/16 5:44 PM 3. CD4: refere-se às moléculas receptoras da membrana, existentes na superfície desse tipo de linfócito. ■ HIV: um RNA-vírus O vírus causador da Aids é um retrovírus bem conhecido. Ele tem alta especificidade e ataca apenas linfócitos T do tipo CD43, células diretamente relacionadas à defesa imunológica. O HIV tem forma esférica, com envelope externo lipoproteico. Nesse envelope, existem várias moléculas de glicopro- teínas, que se ligam a receptores específicos da membrana plasmática do linfócito, permitindo que o HIV se fixe e penetre nessa célula. Internamente, o vírus apresenta ainda outra capa proteica (capsídeo), material genético (RNA) e enzimas indis- pensáveis, relacionadas à sua reprodução, como a já citada transcriptase reversa. Pelo fato de se tratar de um retrovírus, o ciclo vital do HIV nos linfócitos é mais complexo do que o já estudado para os bacteriófagos, que têm DNA. A novidade aqui é a existência de uma transcriptase reversa, que dá início à transcrição do RNA viral. O esquema a seguir mostra as principais etapas do ciclo desse vírus em um linfócito. Repare que no esquema não estão mostrados os receptores da membrana plasmática do linfócito. Esses recep- tores permitem a ligação das glicoproteínas do vírus e sua penetração na célula. Acompanhe, pelo texto e pelo esquema, o ciclo do vírus no interior do linfócito: 1. O material genético do vírus, envolvido pelo capsídeo, penetra no linfócito. As proteínas do capsídeo são dige- ridas enzimaticamente. 2. A transcriptase reversa permite a síntese de uma fita de DNA complementar ao RNA viral. 3. Uma segunda fita de DNA, complementar à pri- meira, é sintetizada. 4. A dupla-hélice de DNA é integrada, então, ao DNA do linfócito, sob a forma de um provírus, com a ajuda de outra enzima do vírus, a integrase. 5. O provírus incorporado produz moléculas de RNA. 6. Essas moléculas de RNA sintetizam, no citoplasma do linfócito, todas as proteínas virais necessárias à construção de um novo vírus: as do capsídeo, a transcriptase reversa e as glicoproteínas do envelo- pe. Esse mesmo RNA servirá, também, como mate- rial genético para a próxima geração de vírus. 7. Ao redor das moléculas de RNA e da transcriptase, juntam-se as moléculas de proteína do capsídeo. 8. Novos HIVs “brotam” da membrana plasmática do linfócito, como pequenas gemas, destacam-se e estão prontos para parasitar outras células. O tratamento contínuo com o chamado coquetel de antivirais não cura a doença, mas garante uma relativa melhora na qualidade de vida. As drogas desse coquetel inibem as proteases dos vírus e a sua replicação, dimi- nuindo ou, pelo menos, impedindo o aumento da carga viral no organismo. ■ A dengue A dengue é uma virose transmitida por mosquitos do gênero Aedes (A. aegypti e A. albopictus) e pode se manifestar de duas formas: a clássica e a hemorrágica. Os sintomas da dengue clássica são semelhantes aos de uma gripe e duram, em geral, uma semana: febre súbita, dores musculares e nas articulações, dor de cabeça, prostração, perda de apetite, vômito e diarreia. A dengue hemorrágica afeta as pessoas que já tiveram a dengue comum (clássica) e que estão, portanto, sensibilizadas para a doença. Essa forma é bem mais grave, pois pode provocar hemorragias no sistema digestório e problemas circulatórios. Além disso, apre- senta alto índice de letalidade. Mosquito Aedes albopictus (0,5 cm de comprimento) picando a pele humana. Esquema representando as principais etapas do ciclo do HIV em um linfócito. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) HIV penetrando no linfócito RNA viral Transcriptase reversa DNA cromossômico Provírus RNA Estrutura central do HIV RNA/DNA híbrido DNA Proteínas virais Membrana plasmática do linfócito Novo HIV 1 2 3 4 5 8 6 7 CICLO DO HIV LU IS M O U R A G E R S O N G E R LO FF Parasitas do ser humano • CAPÍTULO 20 225 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 225 5/9/16 5:44 PM Ao contrário da febre amarela, ainda não há vacina para a dengue. Por conta disso, a arma mais eficaz na luta contra a dengue é a profilaxia, que consiste, basicamente, no extermínio do mosquito vetor e na eliminação de todos os possíveis focos de criação de suas larvas. As pessoas com os sintomas da dengue devem procurar atendimento médico, especialmente se já tiveram a doença. Além disso, não devem tomar medicamentos que contenham substâncias anticoagulantes, como o ácido acetilsalicílico, o que aumentaria o risco de hemorragias fatais. Aedes aegypti O Aedes aegypti é um inseto díptero, vetor de alguns vírus responsáveis por graves epidemias no Brasil, casos da dengue, da chikungunya e da zika. O inseto já era bem conhecido por transmitir o vírus da febre amarela, que atualmente tem baixa incidência pelo fato de já existir uma vacina específica (disponível gratui- tamente nas unidades básicas de saúde para todos aqueles que vivem ou viajem para regiões de risco). Para as três viroses anteriormente citadas ainda não existem vacinas. Assim, para evitar a proliferação dos vírus, é de fundamental importância a profilaxia de combate ao inseto, especialmente na fase larvária, que ocorre em meio aquático. Portanto, devem ser vistoriados quaisquer locais ou objetos que podem acumular água e servir de criadouro para as larvas. É o caso de regiões sem saneamento básico, com córregos e lixo a céu aberto. E de vasilhames, pneus, caixas-d’água sem tampas, pratos de vasos de plantas, calhas obstruídas, lajes, piscinas abandonadas que acumulam água das chuvas. E também depósitos de materiais recicláveis sem cobertura e até algumas plantas armazenam água entre suas folhas, como é o caso das bromélias, por exemplo. Para combater o mosquito, órgãos públicos designam equipes especializadas na pulverização de insetici- das em locais públicos nas regiões de maior incidência. É, então, de suma importância que todos procurem divulgar tais cuidados em casa, na escola, no trabalho e na comunidade, pois não bastam as ações governamentais e de outras instituições para que possamos erradicar ou pelo menos diminuir a incidência dessas viroses. Observe no esquema a seguir alguns dados a respeito.Sintomas Dengue Chikungunya Zika Febre Muito alta Alta Branda Dor de cabeça Sim Pode ocorrer Sim Dor nas órbitas Sim - Sim Dor muscular Muito intensa Pode ocorrer - Dor nas articulações Sim Muito intensa (pés e mãos, além de dedos, tornozelos e pulsos) Sim Manchas no corpo Podem ocorrer Podem ocorrer Sim Hemorragia Pode ocorrer (dengue hemorrágica) - - Fonte de pesquisa: GOVERNO FEDERAL. Portal Prevenção e combate – dengue, zika e chikungunya. Disponível em: <http://combateaedes.saude.gov.br/>. Acesso em: mar. 2016. O Ministério da Saúde disponibiliza na internet a lista de municípios com recomendação para vacinação contra febre amarela (Brasília: Ministério da Saúde, 2016). Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/novembro/19/Lista-de-Municipios-ACRV-Febre-Amarela-Set-2015.pdf>. Acesso em: fev. 2016. Ovos (0,4 cm de comprimento). Larva (até 0,4 cm de comprimento). Mosquito Aedes aegypti (0,5 cm de comprimento). Febre amarela Período de incubação média: uma semana DEMO TIX LI VE N EW S/ D EM O TI X/ CO RB IS/ LATI NSTOCK NA TU RE’ S IM AGES/LATINSTOCK JA CK K. CL ARK /AGSTOC KUSA/SPL/LATINSTOCK UNIDADE 4 • SAÚDE HUMANA226226226 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 226 5/9/16 5:44 PM ■ A febre amarela A febre amarela é provocada por um vírus pertencente à mesma família do vírus da dengue. Em ambiente urbano, ela também é transmitida por meio da picada de mosquitos Aedes aegypti. Em ambiente silvestre, a transmissão se dá por mosquitos do gênero Haemagogus, principalmente. Para que a transmissão ocorra, o mosquito deve estar contaminado com o vírus previamente adquirido de um indivíduo doente ou de reservatórios naturais da doença (macacos). A febre amarela não é transmitida de uma pessoa para outra pelo simples contato ou proximidade. O período de incubação é de três a sete dias após a picada. Os sintomas iniciais são: febre alta de início súbito, mal- -estar, dores musculares, dor de cabeça, cansaço e, eventualmente, náusea e diarreia. Se não for tratada a tempo, a doença pode evoluir para um quadro mais grave e levar à morte. No Brasil, a efetiva erradicação do vetor (A. aegypti) na década de 1930 e as campanhas de vacinação bem- -sucedidas haviam conseguido eliminar a doença em áreas urbanas (o último caso foi registrado em 1942, no estado do Acre). No entanto, durante as décadas de 1970 e 1980 ocorreu a reintrodução do mosquito em território brasileiro e, nas duas últimas décadas, assis- tiu-se a um grande aumento da população desse vetor. Ao mesmo tempo, a expansão das fronteiras agrícolas em vários pontos do país pode ter favorecido a adap- tação do transmissor silvestre às novas condições (lavouras e moradias próximas a matas, por exemplo), possibilitando a transmissão da doença também em ambiente rural. A vacinação é indicada para todas as pessoas que vivem em áreas de risco de transmissão da doença ou pretendem viajar para lá. Essas áreas são caracteriza- das pelo registro de casos da doença em humanos e/ ou pela circulação do vírus entre animais (macacos). Elas compreendem as regiões Norte e Centro-Oeste, o estado do Maranhão e parte dos seguintes estados: Piauí, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A vacina deve ser aplica- da com pelo menos dez dias de antecedência em rela- ção à viagem e confere imunidade por um período de dez anos. ■ A gripe Assim como outras infecções respiratórias, a gripe é mais propagada em ambien- tes com circulação do ar reduzida. Também é grande a possibilidade de contamina- ção por meio das mãos, ao colocá-las em contato com os olhos, a boca ou o nariz. Por isso são muito importantes os hábitos de higiene, a fim de evitar a transmissão da doença. Os sintomas da gripe são: febre alta, dor de cabeça, dores musculares, calafrios, mal-estar generalizado, dor de garganta, obstrução nasal e tosse. Também podem ocorrer complicações resultantes de infecções bacterianas oportunistas, como a pneumonia. Embora a gripe seja provocada por um único tipo de vírus (o influenza), este sofre mutações constantes em seu material genético. Desse modo, fica difícil para o organismo humano reconhecê-lo, pois os anticorpos (proteínas de defesa) produzidos contra uma Mosquito do gênero Haemagogus (0,5 cm de comprimento). O mosquito H. janthinomys é considerado o principal vetor de febre amarela no Brasil. EQUADOR OCEANO ATLÂNTICO TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO 60° O 40° O 0 625 km N Com recomendação da vacina Sem recomendação da vacina 1. Nas áreas verdes, a vacina contra febre amarela está disponível nas salas de vacina, indicada na rotina para toda a população residente a partir dos 9 meses de idade. 2. Nas áreas em amarelo, a vacina contra febre amarela está disponível nas salas de vacina, indicada para as pessoas que se deslocarem para a área com recomendação de vacina. Boa Vista Manaus Rio Branco Porto Velho Cuiabá Campo Grande Curitiba Florianópolis Porto Alegre São Paulo Belo Horizonte Goiânia Brasília Palmas Salvador Aracaju Maceió Recife Natal Fortaleza Teresina São Luís Belém Macapá João Pessoa Vitória Rio de Janeiro REGIÕES DE RECOMENDAÇÃO DE VACINA CONTRA FEBRE AMARELA Fonte: Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/viajante/pdf/Areas_com_recomendacao_ para_vacinacao_contra_febre_amarela.pdf>. Acesso em: jun. 2015. PO RT A L D O S M A PA S Em áreas urbanas, mosquitos da espécie Aedes albopictus, que sabidamente é um dos transmissores da dengue, podem também estar envolvidos na propagação da febre amarela. D R. N ÍC O LA S D ÉG A LL IE R Parasitas do ser humano • CAPÍTULO 20 227 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 227 5/9/16 5:44 PM linhagem específica do vírus já não são capazes de proteger o corpo contra uma linhagem mutante. Ainda assim, existe uma vacina que protege contra a gripe sazonal (quer dizer, a gripe “comum”, que se propaga pela população todos os anos, em geral no inverno). Essa vacina é reelaborada a cada ano, de modo a adequar-se às novas linhagens do vírus que vão surgindo em todo o mundo. O influenza é um vírus de RNA e envelopado, isto é, apresenta um envoltório derivado da mem- brana plasmática da célula hospedeira da qual se originou. Dois tipos de glicoproteínas são sinteti- zados pelo vírus e adicionados a esse envelope, de onde se projetam como se fossem “espinhos”. Um deles é a hemaglutinina, essencial para a adesão do vírus à célula hospedeira. O outro é a neuraminidase, envolvida na facilitação da libe- ração de novas partículas virais a partir da célula infectada. Há, nos vírus da gripe, pelo menos 16 tipos distintos de hemaglutininas (usualmente indicadas pelos símbolos H1, H2, H3...) e 9 tipos de neuraminidases (N1, N2, N3...). Em termos genéticos, existem dois grupos de vírus influenza: A e B. Os vírus do tipo A são encontrados em aves e em outros mamíferos, além dos humanos. Os do tipo B, aparentemente, só infectam seres humanos e focas. Presume-se que esse número limitado de hospedeiros, aliado a uma menor taxa de mutação, explica o fato de os vírus do tipo B não provocarem pandemias de gripe entre seres humanos, enquanto os do tipo A o fazem. Vírus da gripe humana Vírus da gripe aviária Vírus da gripe suína Genes COMO SURGE UMA NOVA CEPA4 Fonte: O Estado de S. Paulo. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/images/especiais/A5/BC/C1/ A5BCC12349AC4885818473E35C816E1A.swf>. Acesso em: fev. 2016. Uma nova cepa • Surge então uma nova cepa que reúne genes dos vários tipos de vírus. • O novo vírus pode infectar seres humanos e não ser reconhecido pelo sistema imunológico. Diferentes cepas de vírus que infectam humanos, aves e porcos podem realizar contágios simultâneos em suínos. Quando isso acontece, o material genético se mistura nas células dosporcos. Esquema do surgimento de uma nova cepa. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) Neuraminidase (glicoproteína) Hemaglutinina (glicoproteína) Estrutura do vírus influenza. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia). Capsídeo RNA Envelope INFLUENZA 4. Cepa: linhagem de microrganismos, como vírus ou bactérias. R U B E N S P A IV A LU IS M O U R A UNIDADE 4 • SAÚDE HUMANA228228228 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 228 5/9/16 5:44 PM Fotografia de bacilos (Salmonella typhimurium) ao microscópio eletrônico de varredura. (Cores artificiais.) Aumento de 24 500 vezes. Fotografia de cocos (Nicroccus luteus) ao microscópio eletrônico de varredura. (Cores artificiais.) Aumento de 36 000 vezes. A referência a uma linhagem específica de vírus da gripe é feita por meio de letras e números que identificam as várias possibilidades de combinação dos tipos de hemaglutinina e neuraminidase com os tipos de linhagem. Por exemplo: gripe A(H7N3), gripe A(H5N8), e assim por diante. Algumas linhagens específicas que causaram grandes pandemias de gripe em seres humanos foram: A(H1N1), causadora da “gripe espanhola” (1918) e da pandemia de “gripe suína” (2009); A(H2N2), responsável pela “gripe asiática” de 1956-1958; A(H3N2), associada à “gripe chi- nesa” (1968); e A(H5N1), causadora da “gripe aviária” (2004). Príons: proteínas infecciosas Os intrigantes príons são partículas infecciosas constituídas apenas por proteínas filamentares. Não são seres vivos e não apresentam DNA ou RNA. Além disso, são codificados de genes especiais e não induzem a produção de anticorpos. Pode-se falar, portanto, em proteínas priônicas, que são sintetizadas em quantidades normais nas células infectadas e não infectadas. As proteínas priônicas de células normais são sensíveis à protease, enquanto as de células infectadas são resistentes a essa enzima. As células cerebrais infectadas apresentam príons específicos, relacionados a várias doenças de evolução lenta. São exemplos a doença de Creutzfeldt-Jakob, no ser humano, e a célebre “doen- ça da vaca louca”(encefalopatia espongiforme bovina), no gado. No início dos anos 2000, esta última acar- retou enormes prejuízos à pecuária europeia, com o sacrifício de milhares de animais. As bactérias parasitas Muitas bactérias constituem a flora normal do nosso organismo, vivendo na pele e em órgãos internos de vários sistemas, principalmente nas mucosas gastrointestinal, respiratória, urinária e genital. Entretanto, outras espécies parasitam o ser humano, provocando doenças (bacté- rias patogênicas). Ao invadir o organismo, as bactérias patogênicas causam várias manifestações locais resultantes da reação dos tecidos, como dor, calor e edema. Multiplicando-se ativamente, elas podem migrar para outros órgãos através da pele ou do sangue. Algumas bactérias provocam a formação de pus, o que indica a ação dos leucócitos fagocitários. A esses microrganismos dá-se o nome de bactérias piogênicas. Várias enzimas podem ser liberadas pelas bactérias patogênicas. Um exemplo é a colagenase, que ataca o colágeno da derme, facilitando a disseminação subcutânea da infecção. Outras importantes substâncias bacterianas responsáveis por efei- tos prejudiciais ao organismo são as toxinas. As endotoxinas são componentes das paredes celulares e normalmente provocam febre. Já as exotoxinas são secreções da célula bacteriana. As mais importantes são a diftérica, a botulínica e a tetânica. Esta última tem efeito mortal em doses de apenas frações de miligramas. Por outro lado, quando a exotoxina tetânica é alterada pela ação de calor e de formaldeído, constitui o toxoide, que não apresenta toxicidade. No entanto, o toxoi- de mantém a capacidade de funcionar como antígeno e, por isso, é usado como vacina, induzindo a formação de anticorpos específicos no hospedeiro. P R C O U R TI E U /B S IP /K E YS TO N E B R A S IL C D C /J A N IC E C A R R /K E YS TO N E B R A S IL Parasitas do ser humano • CAPÍTULO 20 229 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 229 5/9/16 5:44 PM O organismo apresenta importantes defesas contra a ação de bactérias patogêni- cas. Podemos citar como exemplos as secreções sebáceas da pele; o pH ácido de algumas mucosas, como a vaginal (ácido lático) e a gástrica (ácido clorídrico); a lisozima das lágrimas; as substâncias produzidas pelo sistema imunitário, como as imunoglobulinas e os interferons5; e a fagocitose. Substâncias como as sulfas e os antibióticos são importantes drogas que auxiliam no tratamento de doenças bacterianas. Elas podem agir de duas maneiras: como bactericidas, matando as bactérias, ou como bacteriostáticas, inibindo a síntese da parede celular, impedindo assim o crescimento e a reprodução desses parasitas. A tabela a seguir fornece algumas informações das principais doenças provoca- das por bactérias no ser humano. Principais doenças bacterianas do ser humano Doença Bactéria Transmissão Sintomas Tétano Clostridium tetani (bacilo) Ferimentos profundos provocados por objetos contaminados. Intoxicação aguda, com enrijecimento muscular. Há vacina. Difteria (crupe) Corynebacterium diphteriae (bacilo) Secreções do nariz e da garganta. Placas de pus na faringe e na laringe. Febre alta. Há vacina. Coqueluche (tosse comprida) Haemophilus pertussis (bacilo) Saliva e secreções da laringe e dos brônquios. Acessos de tosse forte e prolongada. Há vacina. Tuberculose Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch) Saliva e catarro. Tosse, expectoração, inapetência, cansaço e sudorese noturna. Há vacina. Hanseníase Mycobacterium leprae (bacilo de Hansen) Secreções em contato com narinas, boca e pele. Lesões cutâneas, perda da sensibilidade e manchas na pele. Tracoma Chlamydia trachomatis Contato pessoal (secreções) ou através de objetos contaminados (lenços, toalhas) Sensação de haver um corpo estranho (“areia”) alojado nas pálpebras. A inflamação afeta a córnea e a conjuntiva, podendo levar à cegueira. Febre maculosa Rickettsia rickettsii Picada do carrapato-estrela (Amblyomma cajennense), que é também o reservatório natural do patógeno. Esse ácaro tem como hospedeiros preferenciais os equinos, os bovinos, os cães, as capivaras e outros animais, e, incidentalmente ataca também o ser humano, transmitindo-lhe a doença. Manchas (máculas) vermelhas na pele do indivíduo, devido a hemorragias subcutâneas. Cólera Vibrio cholerae (vibrião) Contaminação fecal de água e alimentos. Forte diarreia, com desidratação e prostração. Há vacina. Leptospirose Leptospira ssp. (espiroqueta) Ferimentos e mucosas em contato com água contaminada por urina de rato. Febre, dores musculares e lesão hepática. Pneumonia Diplococcus pneumoniae (diplococo) Secreções nasobucais. Febre alta e fortes dores pulmonares na região dorsal. Meningite meningocócica Neisseria meningitidis (meningococo) Secreções nasobucais. Febre alta, vômito em jato e rigidez da nuca. Há vacina. Gonorreia (blenorragia) Neisseria gonorrhoeae (gonococo) Doença sexualmente transmissível (DST). Uretrite, com corrimento, que se propaga para outros órgãos do sistema genital. Sífilis Treponema pallidum (espiroqueta) Doença sexualmente transmissível (DST). Evolução lenta. Início: lesão primária (cancro duro) e disseminação pelo sangue. Tardiamente: graves lesões no sistema nervoso central. 5. Interferon: substância produzida especialmente por linfócitos durante uma infecção. Ele impede a replicação dos vírus e inibe o crescimento de alguns tipos de célu- las cancerosas. UNIDADE 4 • SAÚDE HUMANA230230230 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 230 5/9/16 5:44 PM As protozooses São as doenças causadas por protozoários, das quais merecem destaque a ame- bíase, a leishmaniose, a doença de Chagas e a malária.As duas últimas são as maio- res e mais graves endemias brasileiras causadas por protozoários. A malária, em particular, representa um grave problema de saúde pública em muitos locais do mundo. No Brasil, o maior número de casos registrados está na região Norte. Observe a tabela a seguir, que fornece as principais informações referentes a algumas protozooses que atingem o ser humano no Brasil. Principais protozooses humanas no Brasil Espécie Grupo Doença Sintomas Transmissão Entamoeba histolytica Rizópode Amebíase Ulcerações intestinais, diarreia e enfraquecimento. Ingestão de cistos eliminados com as fezes humanas. Trypanosoma cruzi Flagelado Doença de Chagas Miocardite e lesões na musculatura do tubo digestório (esôfago). Fezes do inseto Triatoma sp. (barbeiro) por meio de lesões na pele. Leishmania braziliensis Flagelado Leishmaniose tegumentar americana (úlcera de Bauru) Ulcerações no rosto, nos braços e nas pernas e necrose de tecidos conjuntivos. Picada do mosquito- -palha ou birigui (gêneros Lutzomyia ou Phlebotomus). Leishmania chagasi Flagelado Leishmaniose visceral (calazar) Hipertrofia do baço e do fígado, febre e enfraquecimento. Picada de mosquitos dos gêneros Lutzomyia e Phlebotomus. Trichomonas vaginalis Flagelado Tricomoníase Vaginite, uretrite e corrimento. Relação sexual ou toalhas e objetos úmidos contaminados. Giardia lamblia Flagelado Giardíase Colite, com dores intestinais e diarreia. Ingestão de cistos eliminados com as fezes humanas. Plasmodium vivax Apicomplexo Malária (febre terçã) Febre, anemia e lesões no baço, no fígado e na medula óssea. Picada da fêmea do mosquito- -prego (gênero Anopheles). Toxoplasma gondii Apicomplexo Toxoplasmose Cegueira, aborto e problemas neurológicos. Ingestão de cistos expelidos com as fezes de gatos, que ficam em caixas de areia e no lixo. ■ A doença de Chagas (tripanossomíase) A doença é causada por um protozoário flagelado normalmente encontrado no sangue de vários animais, como tatus, tamanduás, gambás, raposas e cutias. Esses animais são reservatórios naturais do tripanossomo. O cientista brasileiro Carlos Chagas iniciou, em 1909, os estudos que o levaram a descobrir os principais fatos relativos ao ciclo biológico do parasita Trypanosoma cruzi (cruzi em homenagem a Oswaldo Cruz). Chagas descobriu não somente o agente causador da doença (agente etiológico), como também o inseto transmissor e os reservatórios naturais desse protozoário. Além disso, descreveu os sintomas da doença no ser humano. O inseto hematófago (que se alimenta de sangue) do gênero Triatoma, popularmen- te conhecido como barbeiro ou chupança, esconde-se em buracos no chão, nas pare- des e entre a palha da cobertura das casas de pau a pique. Durante a noite, ele pica geralmente o rosto das pessoas, onde defeca. Nas suas fezes, são comuns as formas infestantes do T. cruzi, que podem penetrar na pele quando a pessoa coça o local da O percevejo conhecido como barbeiro (gênero Triatoma, entre 2 cm e 3 cm de comprimento) é o principal transmissor da doença de Chagas em seres humanos. FA B IO C O LO M B IN I Parasitas do ser humano • CAPÍTULO 20 231 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 231 5/9/16 5:44 PM picada, causando pequenas escoriações. Nessa região surge um edema característico, o chagoma, indicando a lesão inicial. Ao atingir o sangue, o T. cruzi circula pelo corpo, instalando-se no tecido muscular, especialmente do coração. Na fase crônica, o princi- pal sintoma é a miocardite, que leva a pessoa à morte por insuficiência cardíaca. No interior das fibras musculares, o T. cruzi se apresenta sob a forma esférica, sem flagelo e em ativa reprodução assexuada por cissiparidade. Já com a forma típica, fla- gelada, ele passa em grande número para a circulação periférica do doente. Este, ao ser picado pelo barbeiro, transmite-lhe o parasita, que se reproduz intensamente por cissi- paridade no intestino do inseto. Depois de alguns dias, o barbeiro passa a apresentar nas fezes as formas infestantes do T. cruzi. 1 2 3 6 O barbeiro defeca ao mesmo tempo que pica a pele humana. Nas fezes do inseto estão formas infestantes (flageladas) do T. cruzi, que penetram pela ferida da picada. O T. cruzi se reproduz no intestino do inseto. 5 O doente, ao ser picado pelo barbeiro, transmite-lhe o parasita. 4 O parasita adquire sua forma típica (flagelada) e passa, em grande número, para a circulação periférica do doente. No interior das fibras musculares, o T. cruzi se apresenta sob a forma esférica, sem flagelo e em ativa reprodução assexuada. O parasita atinge o sangue e circula pelo corpo, instalando-se no tecido muscular (especialmente do coração). Esquema da transmissão do Trypanosoma cruzi. (Elementos fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) CICLO DA DOENÇA DE CHAGAS Fonte: ARGOLO, A. M. et. al. Doença de Chagas e seus principais vetores. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. Os indivíduos infectados pelo T. cruzi podem se tornar incapacitados para o tra- balho e ter uma expectativa de vida reduzida, em razão de problemas cardíacos (hipertrofia e insuficiência progressiva do coração). Para esses doentes, a alternativa é o transplante cardíaco, o que, por diversos fatores, nem sempre é possível. Infelizmente, essa parasitose ainda é incurável, embora sua profilaxia seja teori- camente simples, como a construção de casas de alvenaria (em vez de casas de pau a pique) para impedir o refúgio do barbeiro, e a manutenção de programas regulares de pulverização de inseticidas nas casas das regiões endêmicas. A dificuldade de erradicação parece ser, portanto, mais um problema socioeconômico do que propria- mente médico. Doença de Chagas transmitida por via oral Na década de 2000, foram registrados dezenas de casos da doença de Chagas no litoral de Santa Catarina, via transmissão oral, pelo caldo de cana contaminado por barbeiros. Na região da Amazônia, ocorreram muitos casos em razão do consumo de polpa de açaí processada contaminada pelos insetos. C R IS A LE N C A R UNIDADE 4 • SAÚDE HUMANA232232232 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 232 5/9/16 5:44 PM ■ A malária A malária é uma parasitose que afeta centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente em regiões tropicais. É causada por um protozoário do gênero Plasmodium, que pertence ao grupo dos esporozoários. Esse parasita ataca células do sangue (hemácias) e de órgãos como o fígado, o baço e a medu- la óssea vermelha. O Plasmodium vivax é a espécie mais comum e causadora da febre terçã benigna. Além do P. vivax, existem outras duas espécies importantes de plasmódio: o P. malariae, que causa a febre quartã (a cada quatro dias); e o P. falciparum, que causa a febre terçã maligna. A doença provocada por esta última espécie é caracterizada por uma anemia mais severa e alterações na parede dos vasos sanguíneos, podendo provocar lesões graves no cérebro e no coração, e, com frequência, é fatal. A malária, também chamada de maleita ou impaludismo, causa anemia, enfra- quecimento geral, graves lesões no fígado, no baço e na medula óssea, além de estado de prostração durante e após as crises. A profilaxia abrange medidas de sane- amento para a erradicação do inseto (cujas larvas são aquáticas) e o uso preventivo de quinino e derivados (substâncias que interferem no ciclo vital do parasita). A administração dessas substâncias é feita por via oral e indicada a pessoas que vivem em zonas onde, sabidamente, há risco de se contrair a doença e a pessoas que viajam para essas áreas. É importante saber reconhecer o Anopheles sp., que se diferencia dos mosquitos do gênero Culex sp. (grupo que inclui o pernilongo comum) pela posição das larvas na água e pela posição dos adultos quando pousam em um substrato qualquer. Observe essas diferenças nas fotografias. Larvaaquática de Anopheles sp. (6 mm de comprimento) em posição horizontal (paralela à superfície). Larva aquática de Culex sp. (6 mm de comprimento) — em posição vertical (perpendicular à superfície). Adulto (menos de 1 cm de comprimento) em posição inclinada sobre a pele (daí o nome popular “mosquito-prego”). Adulto (6 mm de comprimento) em posição horizontal sobre a pele. RO G ER E RI TJ A /B IO SP H O TO /O TH ER IM A G ES /I SU ZU B IO SP H O TO /O TH ER IM A G ES /I SU ZU A . J . V IS A G E/ PH O TO LI B RA RY /G ET TY IM A G ES FR A N ÇO IS G IL SO N /B IO SP H O TO /D IO M ED IA Parasitas do ser humano • CAPÍTULO 20 233 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 233 5/9/16 5:45 PM No sangue humano Transmissão de esporozoítos pela picada Hemácia Merozoítos Forma sexuada Esporozoíto Parasita Reprodução assexuada (esquizogonia) Esporozoítos nas glândulas salivares Zigoto Reprodução sexuada Fecundação Reprodução assexuada (esquizogonia) Formação dos esporozoítos no interior de cistos Liberação dos esporozoítos Parede gástrica do inseto Gameta Gameta No estômago do mosquito Pele CICLO DA MALÁRIA Esquema do ciclo de vida do Plasmodium vivax. (Representações fora de proporção de tamanho entre si. Cores fantasia.) A transmissão se dá pela picada da fêmea de um mosquito, o Anopheles sp., popularmente conhecido como mosquito-prego. Os parasitas ficam nas glândulas salivares do inseto e são diretamente inoculados na circulação humana, no ato da picada. Os plasmódios (esporozoítos) penetram inicialmente nas células do fígado e do baço, onde se reproduzem assexuadamente (esquizogonia) durante alguns dias, produzindo muitos merozoítos. Em seguida, os merozoítos (agora em grande núme- ro) migram para o sangue circulante e penetram nas hemácias, onde também sofrem esquizogonia. Quando essa fase reprodutiva é completada (no caso do Plasmodium vivax, ela tem duração de 48 horas), as hemácias se rompem e liberam os merozoítos, que então penetram em outras hemácias e recomeçam o ciclo. O rompimento dos glóbu- los vermelhos também libera toxinas no plasma sanguíneo, o que ocasiona sintomas típicos dos ataques de malária: tremores, suor, prostração e febre. Como o intervalo entre os ataques de febre é mais ou menos constante, manifestando-se a cada três dias, a malária também é chamada de febre terçã. Fonte: NEVES, D. P. et al. Parasitologia humana. 12. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. C R IS A LE N C A R SINCLAIR STAM M ERS/N A TU R E P L/FO TO ARENA UNIDADE 4 • SAÚDE HUMANA234234234 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 234 5/9/16 5:45 PM No interior de algumas hemácias originam-se formas sexuadas do parasita, que se diferenciarão em gametas somente se atingirem o estômago do mosquito. Isso acontece quando o inseto suga o sangue de uma pessoa doente. Desse modo, os gametas podem se unir na luz do estômago produzindo o ovo (oocis- to), que se encista na parede estomacal. Cada ovo origina, por reprodução asse- xuada (esporogonia), muitos esporozoítos, dos quais alguns atingem as glându- las salivares do inseto. Assim, no ato da picada, os esporozoítos podem ser ino- culados no ser humano. Em síntese, no ciclo vital do plasmódio ocorrem reproduções assexuadas no fígado e nas hemácias do ser humano e na parede estomacal do inseto. Ocorre, ainda, um tipo de reprodução sexuada na luz estomacal do inseto. ■ A leishmaniose A leishmaniose é uma doença causada por protozoários do gênero Leishmania, um parasita intracelular. Algumas espécies de roe dores, marsupiais e canídeos sil- vestres foram descritas como hospedeiros e possíveis reservatórios naturais desse protozoário. Apesar de haver inúmeros registros de infecção em animais domésti- cos, não há evidências científicas de que esses animais representem reservatórios de espécies de leishmânia. A doença é transmitida por meio da picada de fêmeas de mosquitos flebotomí- deos, principalmente do gênero Lutzomyia (antes classificados no gênero Phlebotomus). Esses insetos são conhecidos popularmente como mosquito-palha, birigui ou cangalhinha. No Brasil, a doença se apresenta sob duas formas distintas: a leishmaniose tegumentar (provocada pela Leishmania braziliensis) e a leishmaniose visceral (causada pela L. chagasi). Esta última reapareceu no mundo de forma preocupante nas décadas de 2000 e 2010. No Brasil, epidemias urbanas de leishmaniose visce- ral foram observadas em várias cidades, e a doença tem sido verificada como infecção oportunista em pacientes com Aids. A leishmaniose pode ser considerada como pertencente ao grupo das chamadas doenças negligenciadas. Essas doenças, por serem típicas de regiões de baixa renda, não despertam o interesse da indústria farmacêutica para o desenvolvimento de novos medicamentos. A leishmaniose tegumentar americana ou cutaneomucosa, como o nome indica, atinge as mucosas do corpo e causa lesões (úlceras) na pele. Ela também é conhecida como úlcera de Bauru, pois foi registrada pela primeira vez na cidade de mesmo nome (no estado de São Paulo). O fato ocorreu em 1909, quando trabalhadores que cons- truíam naquela região a estrada de ferro Noroeste do Brasil manifestaram sintomas da doença, até então des- conhecida em território nacional. A partir daí, vários muni- cípios de todos os estados brasileiros têm apresentado casos dessa patologia. A região Norte apresenta o maior coeficiente, seguida das regiões Centro-Oeste e Nordeste. A leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, é uma doença crônica, sistêmica e caracteriza- da por febre de longa duração, perda de peso, fraqueza e anemia. É fatal em mais de 90% dos casos que não são tratados. Presente em todo o país, a leishmaniose visceral tem avançado rapidamente. Os dados epide- miológicos dos últimos dez anos revelam uma incidên- cia crescente em ambiente urbano, com surtos ocorri- dos em cidades de todas as partes do país, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Araçatuba, Santarém, Três La goas, Campo Grande, entre outras. Mosquito-palha ou birigui (gênero Lutzomyia, 3 mm de comprimento), o flebotomídeo transmissor da leishmaniose. RA Y W IL SO N /A LA M Y/ FO TO A RE N A Parasitas do ser humano • CAPÍTULO 20 235 O Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), disponibiliza na internet o Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral (Brasília: Ministério da Saúde, 2014). Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/ principal/leia-mais-o-ministerio/726-secretaria-svs/vigilancia-de-a-a-z/leishmaniose-visceral-lv/11334-situacao-epidemiologica-dados>. Acesso em: fev. 2016. O Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), disponibiliza na internet o Manual de vigilância e controle da leishmaniose tegumentar (Brasília: Ministério da Saúde, 2014). Disponível em: <http:// portalsaude.saude.gov.br/index. php/o-ministerio/principal/leia- mais-o-ministerio/723-secretaria-svs/ vigilancia-de-a-a-z/leishmaniose- tegumentar-americana-lta/11328- situacao-epidemiologica-dados>. Acesso em: fev. 2016. 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 235 5/9/16 5:45 PM Fungos parasitas Há um grande número de espécies de fungos que parasitam plantas e animais. Nas plantas, as chamadas fitomicoses podem causar grandes prejuízos nas lavou- ras de culturas economicamente importantes, como as de cereais (soja e milho, por exemplo), cacau, batata, café e frutas. Os nomes das fitomicoses são designados de acordo com os sinais visíveis nos órgãos vegetais infestados: ferrugem das folhas do café e da soja, vas- soura-de-bruxa do cacau e mancha ou mangra da bata- ta. Em todos esses casos, a disseminação dos fungos é extensa, ocorrendo por meio da eliminação de um gran- de número de esporos quesão transportados pelo ar, por ferramentas usadas na lavoura e por restos de plan- tas doentes usados como adubo, por exemplo. Também merecem destaque as micoses que afetam os seres humanos, tais como algumas dermatomicoses, que provocam manchas, coceiras e pequenas feridas na pele, e as micoses oportunistas – como o sapinho (can- didíase) –, que atacam a pele e as mucosas genital e oral. As micoses mais graves são as que formam tumores em órgãos internos, como pulmões, cérebro e ossos. A profilaxia dessas micoses envolve, especialmente, bons hábitos de higiene pessoal e cuidados no contato com pessoas infectadas ou objetos contaminados. As micoses de unhas (onicomicoses), por exemplo, podem ser transmiti- das por tesouras e outros objetos usados pelas manicures. O tratamento específico é importante para todos os casos de micose; assim, evitam-se complicações e até mesmo infecções por outros microrganismos. Em muitos tratamentos podem ser usados antimicóticos, sob orientação médica. As manchas claras nas folhas do cafeeiro são sintomas característicos da ferrugem (causada pelo fungo Hemileia vastatrix). Candida albicans, fungo causador da candidíase, ao microscópio eletrônico de varredura. Tinea unguium, fungo causador da micose de unha, ao microscópio eletrônico de varredura. E D S O N G R A N D IS O LI D E N N IS K U N K E L M IC R O S C /P H O TO TA K E /E A S Y P IX B R A S IL S TE V E G S C H M E IS S N E R /S P L/ LA TI N S TO C K DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS (DSTs) As DSTs, anteriormente chamadas de doenças venéreas (palavra derivada do nome da deusa do amor, Vênus), são aquelas transmitidas por diferentes tipos de contato sexual. Essas doenças também podem ser transmitidas de outras formas, via compartilhamento de objetos e roupas e transfusões de sangue. As DSTs representam um sério problema de saúde pública em todo o mundo e continuam em ampla disseminação, apesar dos avanços da Medicina. Aumento de 2 700 vezes. Aumento de 3 857 vezes. UNIDADE 4 • SAÚDE HUMANA236236236 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 236 5/9/16 5:45 PM • Programa nacional de imunizações Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/livro_30_anos_pni.pdf>. • Dengue: pandemia do século XXI Disponível em: <http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1401&sid=8>. • Departamento de DST, Aids e hepatites virais Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pagina/o-departamento>. • Ameaças e defesas numa pandemia Disponível em: <http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/ameacas_e_defesas_numa_pandemia.html>. • A gripe de longe e de perto: comparações entre as pandemias de 1918 e 2009 Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/hcsm/2009nahead/aop0109.pdf>. Acessos em: fev. 2016. RECURSOS NA WEB As DSTs podem ser causadas por vírus, bactérias, protozoários e fungos. As mais importantes são apresentadas na tabela a seguir. Principais DSTs Doença Parasita Sintomas Vírus Aids HIV Febre; prostração; tosse; diarreia; emagrecimento; inflamação nos linfonodos; suor noturno; micoses oportunistas; manchas na pele; pneumonia. Herpes genital HSV-2 (vírus herpes simples-2) Bolhas e ulcerações dolorosas no pênis e no pudendo feminino; ínguas; febre. Condiloma (verrugas venéreas) HPV (papiloma vírus humano) Verrugas genitais simples ou massas irregulares no ânus, no pênis, no escroto, na vagina e no colo uterino. Citomegalovirose CMV (citomegalovírus) Relativamente assintomática. Pode causar defeitos congênitos, como surdez e retardo mental. Bactérias Sífilis (cancro duro) Treponema pallidum Evolução lenta. A lesão primária é uma ulceração dura e indolor, ocorrendo dispersão pelo sangue. Tardiamente podem surgir graves lesões no SNC e distúrbios mentais. Gonorreia (blenorragia) Neisseria gonorrhoeae Uretrite com ardência ao urinar e corrimento; vaginite com corrimento; inflamação pélvica; dor abdominal. Clamidíase Chlamydia trachomatis Sintomas semelhantes aos da gonorreia; corrimento na uretra e na vagina; dor abdominal por infecções internas; lesões que podem levar à esterilidade. Cancro mole Haemophilus ducreyi Múltiplas ulcerações dolorosas e purulentas; íngua. Protozoário Tricomoníase Trichomonas vaginalis Na mulher, vaginite, inflamação pélvica, dor abdominal e corrimento de forte odor. No homem, uretrite com coceira. Fungo Candidíase (monilíase) Candida albicans Lesões em mucosas genitais e no sistema digestório; corrimento vaginal. Parasitas do ser humano • CAPÍTULO 20 237 04_UN4_CAP20_BIOLOGIA3-CSC_219a241.indd 237 5/9/16 5:45 PM
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