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Noções elementares para o cálculo de medicação Para a realização do cálculo de medicação, é primordial que o enfermeiro tenha conhecimento das noções elementares descritas abaixo. • Solução: mistura homogênea composta de duas partes. • Suspensão: mistura heterogênea composta de duas partes. • Concentração: quantidade de soluto em uma proporção definida de solvente. Pode ser expressa em porcentagem (%) ou em g/L. • Um mililitro (1 ml) corresponde a 20 gotas e uma gota corresponde a três microgotas. Assim, 1 ml corresponde a 60 microgotas. • Fórmula para cálculo de gotejamento de medicações endovenosas: Nº de gotas = (Volume)/(Tempo x 3) • ml/h = microgotas/min Exemplo de Cálculos usando a Heparina A heparina, conhecida comercialmente como Heparin®, Liquemine® e Actparin®, é um anticoagulante utilizado na profilaxia e no tratamento de diversos distúrbios tromboembolíticos, como tromboembolismo venoso e arterial, embolia pulmonar e coagulopatias (AME, 2009). O medicamento é apresentado em ampolas com 0,25 ml (5.000 Unidades) e em frasco- ampola com 5 ml (25.000 Unidades) de solução injetável para aplicação sistêmica e, para aplicação tópica, é apresentado na forma de creme, gel e pomada. A prescrição de heparina é de responsabilidade médica, cabendo ao enfermeiro a administração adequada do medicamento, respeitando os preceitos científicos do funcionamento do organismo humano e da ação medicamentosa. A heparina é uma das drogas cuja utilização está associada a elevados índices de complicações e, por isso, ao administrar a medicação, o enfermeiro deve ter os cuidados descritos a seguir (AME, 2009). • Administrar a medicação exatamente conforme prescrição médica. • Informar a toda equipe de saúde e aos familiares que o paciente está recebendo terapia anticoagulante. • Informar aos pacientes as reações adversas mais frequentes da medicação, comunicando a equipe de saúde caso haja reação incomum. • Recomendar ao paciente a utilização de escovas de dente macias e de barbeador elétrico, para evitar o risco de sangramento durante a terapia. • Recomendar ao paciente que informe ao médico o esquema de medicação anterior ao tratamento ou à cirurgia. • Recomendar ao paciente que, durante a terapia, evite o uso concomitante de ácido acetilsalicílico (AAS) e anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), aplicações de injeções IM e de qualquer outra droga sem o conhecimento do médico. • Monitorar o paciente durante a terapia, observando sinais de sangramento ou hemorragia (sangramento de gengivas ou nasal, equimose incomum, fezes de coloração negra, hematúria, diminuição do hematócrito ou da pressão arterial, sangue oculto nas fezes) e reações de hipersensibilidade (calafrios, febre e urticária). Comunicar imediatamente ao médico se houver qualquer uma dessas intercorrências. • Monitorar os exames laboratoriais antes do início e periodicamente durante a terapia, observando tempo de coagulação (TTPa), hematócrito e contagem de plaquetas (a cada 2 ou 3 dias). • Administrar a medicação só por via subcutânea (SC) ou endovenosa (EV) e nunca por via intramuscular (IM). • Verificar a coloração da solução de heparina. Se houver alteração de cor ou a presença de precipitados, não realizar a injeção da solução. As aplicações de heparina por via subcutânea requerem que o enfermeiro a administre profundamente no tecido e alterne diariamente os locais de aplicação. Deve-se introduzir todo o comprimento da agulha em uma prega feita entre os dedos polegar e indicador, mantendo a dobra cutânea até o final da injeção. Não se deve aspirar ou massagear o local de aplicação. Os locais de aplicação devem ser avaliados para detecção de hematoma, equimose ou inflamação. No caso de aplicações de heparina por via endovenosa, a dose de ataque geralmente precede a dose contínua. Em situações de aplicação direta, não é necessário diluir a droga, e a infusão deve ocorrer em tempo superior a 60 segundos. Em situações de aplicação intermitente/contínua, deve-se diluir a heparina em soro fisiológico 0,9% ou glicosado 5% e utilizar bomba de infusão. A mistura adequada de heparina na solução deve ser assegurada pela inversão do recipiente pelo menos 6 vezes no início da terapia e, periodicamente, durante a infusão. O intervalo entre as infusões varia de 4 a 24 horas. É importante que o enfermeiro tome os cuidados na administração de quaisquer medicamentos, considerando os efeitos indesejados, as interações medicamentosas e as reações adversas de cada fármaco, para que possa atuar de modo efetivo na resolução dos problemas de saúde apresentados pelos indivíduos. Em relação ao cálculo da heparina, verifique o exemplo e resolução abaixo: Estão prescritas 12.000 Unidades (UI) de heparina e que, no posto de internação, existe somente o frasco de heparina de 5 ml, contendo 5.000 UI/ml. Quantos ml serão necessários aspirar para se obterem 12.000 UI de heparina? A resolução da questão é feita, basicamente, pelo uso da “regra de três”, uma operação matemática muito utilizada pelo enfermeiro e por sua equipe para o cálculo da dose correta de medicamentos. Trata-se da relação entre grandezas proporcionais que permite estruturar o problema e resolvê-lo. No enunciado, afirma-se que estão prescritas 12.000 Unidades (UI) de heparina e que, no posto de internação, existe somente o frasco de heparina de 5 ml, contendo 5.000 UI/ml. Logo, o profissional deve proceder ao seguinte cálculo (regra de três): 1 ml -------------------- 5.000 UI X ml -------------------- 12.000 UI Em cada 1 ml da solução existem 5.000 UI de heparina. Para se obterem 12.000 UI de heparina, necessitaríamos de quantos ml? Pelos cálculos abaixo, verificaremos que são necessários 2,4 ml. 1 x 12.000 = 5.000 X 12.000 = 5.000 X 12.000_ = X 5.000 X = 2,4 ml Assim, para se obterem 12.000 UI de heparina será necessário aspirar 2,4 ml da solução. Erros de medicação Com o avanço tecnológico da indústria farmacêutica e com a variedade de produtos no mercado, a administração de medicamentos tornou-se uma tarefa complexa, requerendo cada vez mais responsabilidades, habilidades técnicas e conhecimentos farmacológicos, anatômicos e fisiológicos dos profissionais de saúde (CARVALHO E CASSIANI, 2000). A grande variedade de medicamentos, a complexidade das ações farmacológicas e o despreparo dos profissionais de saúde na administração de medicamentos podem acarretar erros de medicação, que agravam o estado de saúde dos pacientes e apresentam relevantes repercussões econômicas e sociais (CARVALHO E CASSIANI, 2000; ANACLETO et al. 2010). Nos últimos anos, o aumento nos estudos relacionados à segurança do paciente confirmou que os erros de medicação devem ser considerados como um problema mundial de saúde pública, por se tratar de ocorrências comuns que podem assumir dimensões clinicamente significativas e impor custos relevantes ao sistema de saúde (ANACLETO et al. 2010). Carvalho e Cassiani (2002) confirmam essas informações ao apresentarem o resultado de uma pesquisa desenvolvida nos Estados Unidos da América que indicou que lesões não intencionais relacionadas à terapia medicamentosa afetam 1,3 milhão de indivíduos por ano no país, gerando custo anual de 76,6 milhões de dólares com a hospitalização desses pacientes. Em um ambiente hospitalar, o ciclo do medicamento envolve três diferentes etapas: a prescrição, a dispensação e a administração dos medicamentos. Cada uma dessas etapas do ciclo é passível de erros em função da complexidade das ações farmacológicas dos medicamentos e dos cuidados essenciais para a sua prescrição e administração. A prescrição, primeira etapa do ciclo de utilização do medicamento, de responsabilidade médica, tem grande influência no problema global de erros de medicação. Estudos científicos internacionais identificaram que a incidência de erros de prescrição varia de 3,13 a 29 erros por mil medicamentos prescritos, indicando, portanto, incidência relativamenteelevada de erros nessa fase (NÉRI, 2004). A dispensação, segunda etapa do ciclo, frequentemente realizada por um farmacêutico, envolve a disponibilização do medicamento para as unidades de internação e também constitui uma etapa passível de erro. A administração do medicamento, terceira fase do ciclo, é de responsabilidade da equipe de enfermagem, que deve ter conhecimentos específicos para exercer com habilidade essa função (CARVALHO E CASSIANI, 2000; NÉRI, 2004). O Instituto para Práticas Seguras no uso de Medicamentos no Brasil (ISMP – Brasil) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) adotam as definições citadas a seguir, relacionadas aos erros de medicação (ANACLETO et al. 2010). • Eventos adversos relacionados a medicamentos: quaisquer lesões ou danos provocados pelo uso ou pela falta do uso do medicamento, incluindo as reações adversas e os erros de medicação, explicados a seguir. • Reação adversa ao medicamento: qualquer resposta nociva ou indesejada ao medicamento, que ocorre na dose normalmente usada para profilaxia, diagnóstico ou tratamento de doença. • Erros de medicação: qualquer evento evitável que, de fato ou potencialmente, pode levar ao uso inadequado de medicamento. Envolvem os erros de prescrição, de dispensação e de administração do medicamento, descritos abaixo. • Erro de prescrição: é o erro de decisão ou de redação, não intencional, que pode reduzir a probabilidade de o tratamento ser efetivo ou pode aumentar o risco de lesão no paciente. • Erro de dispensação: corresponde à discrepância entre a ordem escrita na prescrição médica e o atendimento dessa ordem. São erros cometidos por funcionários da farmácia (farmacêuticos, inclusive) quando realizam a dispensação de medicamentos para as unidades de internação. • Erro de administração: trata-se de qualquer desvio no preparo e na administração de medicamentos mediante prescrição médica, ou de qualquer não observância das recomendações ou guias do hospital ou das instruções técnicas do fabricante do produto. É importante mencionar que diversos aspectos podem desencadear o erro de medicação, entre eles citam-se: a) os fatores relacionados à organização do trabalho, como o acúmulo de atividades, recursos humanos insuficientes e mal qualificados, locais desprovidos de materiais, aparelhos e recursos financeiros; b) fatores relacionados ao ambiente, como planta física inadequada, frequentes interrupções de outros profissionais durante a preparação da medicação pelo profissional da enfermagem, presença de ruídos e luminosidade; c) fatores relacionados ao trabalho, como a sobrecarga de trabalho, a fadiga, o estresse e a desatenção no ambiente de trabalho (CARVALHO e CASSIANI, 2000). O erro de medicação é um dos indicadores da qualidade da assistência prestada aos clientes hospitalizados que envolve a atuação de diversos profissionais de saúde e dos pacientes. Por isso, é necessário que a instituição de saúde propicie um ambiente seguro, com disponibilidade de recursos humanos, físicos e materiais, assim como investimentos em educação (com ênfase em farmacologia) dos profissionais e dos pacientes. O intuito dessas medidas é assegurar aos clientes o direito de que lhe seja prestada assistência livre de danos ou prejuízos decorrentes de erros de medicação e, assim, seja garantida sua segurança durante seu tratamento (FREITAS, 2005). Prevenção de erros de medicação As consequências clínicas e sociais dos erros de medicação podem ser significativas, por isso a introdução de medidas de prevenção desses erros deve abranger todas as etapas que compõem o ciclo do medicamento, que incluem a embalagem, a identificação, o armazenamento, a prescrição, a dispensação, a preparação e a administração (ANACLETO et al. 2010). As medidas de prevenção de erros de medicação devem ser desenvolvidas e implantadas pelas unidades de saúde, sobretudo para os medicamentos potencialmente perigosos, conceituados como os fármacos que aumentam o risco de provocar danos significativos aos clientes em decorrência de falha no processo de utilização (ANACLETO et al. 2010; ISMP, 2012). De acordo com o Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos do Brasil (ISMP - Brasil), organização não governamental criada em 2009 com o objetivo de prevenir os erros de medicação, e conforme as normas adaptadas do programa do governo espanhol para a promoção de práticas seguras no uso de medicamentos de alto risco, a instituição de saúde deve adotar as ações que seguem (ANACLETO et al. 2010; ISMP, 2012). • Estabelecimento e divulgação de uma lista dos medicamentos potencialmente perigosos utilizados na instituição de saúde. • Padronização da prescrição, da dispensação, da preparação, da administração e do armazenamento das medicações. • Utilização de etiquetas auxiliares com cores ou sinais de alerta diferenciados nas embalagens. • Implantação de práticas de dupla checagem na dispensação, no preparo e na administração. • Limitação do número de apresentações e concentrações disponíveis, particularmente anticoagulantes, opiáceos e insulinas. • Retirada, das enfermarias e dos ambulatórios, de soluções concentradas de eletrólitos, particularmente cloreto de potássio injetável. • Estabelecimento e divulgação das doses máximas desses medicamentos a serem administradas. • Melhora no acesso à informação sobre os medicamentos. • Uso de indicadores para o gerenciamento dos erros de medicação. • Incorporação de alertas de segurança nos sistemas informatizados de prescrição e dispensação. Segundo o Boletim ISMP do Brasil, publicado em agosto de 2012, a água estéril é considerada um medicamento potencialmente perigoso. A água estéril ou água para injeção é amplamente utilizada em pequenos volumes como solvente ou diluente de me¬dicamentos compatíveis, ou, ainda, no preparo de soluções para administra¬ção intravenosa. Como se trata de uma substância for¬temente hipotônica (0 mOsm/L), sua administração intravenosa pode causar hiper-hidratação, re¬dução da concentração total sérica de sódio (hiponatremia), proteínas, he¬matócrito e hemoglobina, além de provocar hemólise. Por isso, a água esté¬ril em embalagens com volume igual ou superior a 100 mL foi classificada como potencialmente perigosa e sua administração intra¬venosa deve ser feita com cautela e, exclusivamente, depois da adição do solu¬to adequado, garantindo que a solução final esteja aproximadamente isotônica em relação ao plasma sanguíneo. Assim, o profissional de saúde deve estar atento à prescrição e administração endovenosa dessa substância (Boletim ISMP - Brasil, 2012 - vol. 1, n. 3). O referido texto está disponível em <http://www.boletimismpbrasil.org/boletins/pdfs/boletim_ISMP_10.pdf>. Indicações bibliográficas • AME. Dicionário de administração de medicamentos na enfermagem: 2009/2010. Rio de Janeiro: EPUB, 2009. • ANACLETO, T. A.; ROSA, M.B; NEIVA, H. M.; MARTINS, M. A. P. Farmácia Hospitalar: Erros de Medicação. [online]. Brasília: Conselho Federal de Farmácia - Pharmacia Brasileira, 2010; jan./fev. Disponível em <http://www.sbrafh.org.br/site/index/library/id/53>. Acesso em 17 set. 2016. • BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. MEDEIROS, Carlos Augusto de. Estatística aplicada à educação. Brasília (DF): Universidade de Brasília, 2007. • CARVALHO, V. T; CASSIANI, S. H. B. Erros na medicação e consequências para profissionais de enfermagem e clientes: um estudo exploratório. Rev. 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Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem, Departamento de Farmácia, 2004. • RODRIGUES, A. B.; SILVA, M. R.; OLIVEIRA, P. P.; CHAGAS, S. S. M. O Guia da enfermagem: fundamentos para assistência. São Paulo: Iátria, 2008. • SMELTZER, S. C.; HINKLE, J. L.; BARE, B. G.; CHEEVER K. H. Brunner e Suddarth: Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgico. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
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