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Lei Maria da Penha

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institucional@iejur.com.br ./iejur .@iejur .(61)99643-0807 
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LEI MARIA DA PENHA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Sumário 
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 3 
2. ÂMBITO DE APLICAÇÃO E CONCEITO DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ............ 6 
3. QUEM É A VÍTIMA? ......................................................................................................... 8 
4. O RISCO DA BANALIZAÇÃO ........................................................................................ 10 
5. O HOMEM TAMBÉM TEM PROTEÇÃO. ........................................................................ 12 
6. MEDIDAS DE PROTEÇÃO. ............................................................................................ 13 
6.1 LEGITIMIDADE PARA FIXAÇÃO DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO DIANTE DA 
ALTERAÇÃO PROMOVIDA PELA LEI N. 13.827/19. ........................................................ 14 
7. CRIMES DA LEI. ............................................................................................................. 16 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 18 
 
 
 
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1. INTRODUÇÃO 
 
Como Ação Afirmativa a Lei n. 11.340/06 visa garantir os direitos de determinado 
bloco social, sujeito com maior intensidade a desigualdades, discriminação e 
vitimização. Ações Afirmativas, portanto, são políticas públicas de caráter temporário 
destinado a eliminar desigualdades históricas e compensar as perdas provocadas por 
essa experiência. Portanto, somente surge após muita luta e desrespeito aos direitos 
que se espera ver garantidos. 
A compreensão decorrente deste conceito jurídico surge da evolução do 
pensamento relacionado aos direitos humanos e da percepção da possibilidade de 
mudança social nesse sentido. Materializado, sobretudo, com o surgimento do 
Sistema Interamericano de Direitos Humanos. 
Assim, criada pelo Pacto San Jose de Costa Rica (Convenção Americana de 
Direitos Humanos - 1969), emerge a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, 
com função pré-jurisdicional, no sentido de promover a observância e a defesa de 
direitos humanos no continente americano. 
Muitos anos depois da criação da Comissão, o Brasil foi protagonista em relevante 
tema levado a efeito perante o organismo internacional, fazendo surgir a Convenção 
Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, conhecida 
como Convenção Belém do Pará, em alusão ao local em que foi aprovada, aos 9 de 
junho de 1994. 
É neste cenário que surge o “Caso Maria da Penha”, após análise do Caso n. 
12.051, com Relatório 54/10, de 04 de abril de 2001, que envolveu violência doméstica 
contra mulher e foi o primeiro caso de aplicação da Convenção de Belém do Pará. 
A denúncia do citado caso indica Maria da Penha Maia Fernandes, brasileira, 
casada com o colombiano Marco Antonio Heredia Viveros, residentes em Fortaleza, 
Ceará, vitimada em tentativa de homicídio aos 29 de maio de 1983, tendo como algoz, 
seu marido. Enquanto dormia, Maria da Penha foi alvejada por um disparo de arma 
de fogo, que lhe casou lesões permanentes, terminando por conduzi-la ao estado de 
paraplegia. Duas semanas após retornar do hospital, e ainda em fase de repouso pela 
lesão sofrida, Maria da Penha sofreu uma tentativa de eletrocussão, perpetrada, 
igualmente, por Heredia, o que serviu de gota d’água para separação judicial. 
Assim, diante das conclusões da investigação policial, o Ministério Público ajuizou 
ação penal contra Heredia em 28 de setembro de 1984, em que se pretendia imputar 
 
 
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ao denunciado os crimes de agressão e tentativa de homicídio doloso, contra sua 
esposa. A ação penal, que tramitou por quase 7 anos, resultou na condenação de 
Heredia a 15 anos de prisão, em 04 de maio de 1991, da qual houve recurso capaz 
de anular a decisão do júri. 
O segundo júri ocorreu em 15 de março de 1996, tendo Heredia sido novamente 
condenado, porém, a apenas 10 anos e seis meses de prisão. Irresignada, a defesa 
apresentou novo recurso, que não foi julgada antes de o caso ser lavado à análise da 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em 20 de agosto de 1998, após 15 
anos do fato. 
A petição foi apresentada pela vítima Maria da Penha e pelo Centro pela Justiça e 
pelo Direito Internacional (CEJIL) e Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos 
da Mulher (CLADEM), tendo resultado na imputação ao Estado brasileiro da violação 
de obrigações assumidas quando da assinatura da Convenção Americana de Direitos 
Humanos (Pacto San Jose), Declaração Americana dos Direitos e Deveres do 
Homem, bem como à Convenção Belém do Pará. 
Diante da omissão do Estado brasileiro em apresentar qualquer resposta, a 
Comissão dispensou o requisito de esgotamento das vias internas para discussões 
jurídicas e, tendo como fundamento o fato de o Brasil ter tolerado a situação de 
impunidade em relação à violência doméstica, emitiu cinco recomendações ao país, 
vejamos: 
“RELATÓRIO ANUAL 2000. RELATÓRIO N° 54/01. CASO 12.051. MARIA DA 
PENHA MAIA FERNANDES. BRASIL. 4 de abril de 2001. VIII. 
RECOMENDAÇÕES: 61. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos 
reitera ao Estado Brasileiro as seguintes recomendações: 
1. Completar rápida e efetivamente o processamento penal do responsável da 
agressão e tentativa de homicídio em prejuízo da Senhora Maria da Penha 
Fernandes Maia. 
2. Proceder a uma investigação séria, imparcial e exaustiva a fim de determinar 
a responsabilidade pelas irregularidades e atrasos injustificados que 
impediram o processamento rápido e efetivo do responsável, bem como tomar 
as medidas administrativas, legislativas e judiciárias correspondentes. 
3. Adotar, sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra o 
responsável civil da agressão, as medidas necessárias para que o Estado 
assegure à vítima adequada reparação simbólica e material pelas violações 
aqui estabelecidas, particularmente por sua falha em oferecer um recurso 
rápido e efetivo; por manter o caso na impunidade por mais de quinze anos; e 
 
 
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por impedir com esse atraso a possibilidade oportuna de ação de reparação e 
indenização civil. 
4. Prosseguir e intensificar o processo de reforma que evite a tolerância estatal 
e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra 
mulheres no Brasil. A Comissão recomenda particularmente o seguinte: a) 
Medidas de capacitação e sensibilização dos funcionários judiciais e policiais 
especializados para que compreendam a importância de não tolerar a violência 
doméstica; b) Simplificar os procedimentos judiciais penais a fim de que possa 
ser reduzido o tempo processual, sem afetar os direitos e garantias de devido 
processo; c) O estabelecimento de formas alternativas às judiciais, rápidas e 
efetivas de solução de conflitos intrafamiliares, bem como de sensibilização 
com respeito à sua gravidade e às consequências penais que gera; d) 
Multiplicar o número de delegacias policiais especiais para a defesa dos 
direitos da mulher e dotá-las dos recursos especiais necessários à efetiva 
tramitação e investigação de todas as denúncias de violência doméstica, bem 
como prestar apoio ao Ministério Público na preparação de seus informes 
judiciais. e) Incluir em seus planos pedagógicos unidades curriculares 
destinadas à compreensão da importância do respeito à mulher e aseus 
direitos reconhecidos na Convenção de Belém do Pará, bem como ao manejo 
dos conflitos intrafamiliares. 
5. Apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, dentro do 
prazo de 60 dias a partir da transmissão deste relatório ao Estado, um relatório 
sobre o cumprimento destas recomendações para os efeitos previstos no artigo 
51(1) da Convenção Americana.”. 
(https://www.cidh.oas.org/annualrep/2000port/12051.htm) 
 Esse foi o primeiro caso de aplicação da Convenção que teve como palco o 
Estado brasileiro, seria um grande orgulho, caso não fosse a vítima, uma nacional. 
Por fim, diante da pressão do órgão internacional, Heredia Viveros foi preso em 
outubro de 2002, poucos meses antes da prescrição do delito e quase vinte anos após 
o fato. 
 O Caso Maria da Penha e a atuação do órgão internacional, no entanto, 
resultaram em importante avanço em nossa nação, diante da conformação legislativa 
materializada na Lei Federal n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, que levou à criação 
de mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, 
simplificando procedimentos, diminuindo benefícios despenalizadores, tipificando 
condutas e aumentando penas. 
https://www.cidh.oas.org/annualrep/2000port/12051.htm
 
 
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2. ÂMBITO DE APLICAÇÃO E CONCEITO DE VIOLÊNCIA CONTRA 
A MULHER 
 
A Lei Maria da Penha trouxe grandes mudanças no jeito de ser do brasileiro e 
por isso é um campo fértil para discussões jurídicas proliferadoras de julgados sobre 
o tema. 
Certo é que a premissa basilar para o entendimento do conceito é a 
caracterização da violência gênero, manifestada pela razão de condição do sexo 
feminino, com objetalização da mulher, que é vitimada somente por ser mulher e, 
portanto, passa a ser tratada como objeto. 
A lei traz as formas de violência doméstica e familiar contra mulher, em rol 
exemplificativo do artigo 7º, considerando-se como tal a violência física, psicológica, 
sexual, patrimonial e moral. Portanto, não existe um “crime de maria da penha”, mas 
formas de violência gênero que, aliás, nem precisam ser tipificadas como crime. 
Assim, o “machão” que quebra objetos dele próprio não pratica crime de dano, 
diante do bem jurídico disponível que danifica, mas ao fazer isso no contexto familiar 
contra a mulher, utilizando desta forma de conduta para praticar violência psicológica, 
assustando e oprimindo a mulher, estará passível dos rigores da lei, podendo ser 
afastado do lar e convívio com a então companheira e sua prole. 
No mesmo sentido, o sujeito que se dispõe a atribuir adjetivos depreciadores à 
companheira, como ao dizer que não sente nenhum desejo sexual por ela, por ser 
gorda ou magra, “a” ou “b”, “isso” ou “aquilo”, que somente ele a tolera e, caso resolva 
se separar, permanecerá sozinha por sua vida, estará, igualmente, sujeito aos rigores 
da lei, sem que tenha praticado, em tese, uma conduta criminal. 
Aliado ao contexto de objetalização, discutiu-se por um tempo se seria 
necessária a presença das características de hipossuficiência e vulnerabilidade da 
mulher para configuração da violência gênero, tendo o tema sido levado à discussão 
perante os Tribunais Superiores pátrios. 
Em análise pelo Tribunal Cidadão, como também é conhecido o Superior 
Tribunal de Justiça, a partir da 5ª Turma, no Agravo Regimental no Recurso Especial 
n. 620.058/DF – 2017, e também pela 6ª Turma, no AgRg no RHC 74.107/SP – 2016, 
a Corte chegou à conclusão no sentido “de que hipossuficiência e a vulnerabilidade, 
necessárias à caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher, são 
 
 
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presumidas pela Lei (...) devido à própria natureza de fragilidade da mulher por 
questões de gênero e na relação de poder decorrente do convívio com o agressor”. 
Igualmente, a Suprema Corte analisou o tema e exarou entendimento no 
sentido de que “Tratando-se de proteção legal em razão da condição de mulher em 
relação familiar, de afeto ou de coabitação, dispensável é na Lei n. 11.340/06 a 
constatação concreta de vulnerabilidade (física, financeira ou social) da vítima ante o 
agressor”. 
A conclusão é um tanto óbvia, já que não é incomum, diante da sociedade 
machista em que vivemos, acontecimentos ligados ao contexto em estudo no qual 
figuram como vítimas mulheres com alta representatividade social, como atrizes 
famosas, jornalistas, magistradas, promotoras, delegadas de polícia e tantas outras. 
Assim, poderá não haver vulnerabilidade, diante de vítima autônoma, e nem 
mesmo hipossuficiência econômica, frente a vítimas possuidoras de bens, direitos ou 
valores relevantes, podendo o comportamento nem ser tipificado como crime. Estando 
no âmbito de proteção da lei, sofrerá o agente as previsões decorrentes da ação 
afirmativa. 
Superada a análise sobre o conceito de violência gênero, caracterizadora de 
“violência doméstica e familiar contra a mulher”, indispensável a análise do artigo 5º 
da lei, que traz o âmbito de proteção da mulher vítima de qualquer ação ou omissão 
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou 
psicológico e dano moral ou patrimonial, assim: 
Lei n. 11.340/06. Artigo 5º. 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio 
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as 
esporadicamente agregadas; 
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por 
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, 
por afinidade ou por vontade expressa; 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha 
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. 
No primeiro inciso o legislador indica o âmbito de unidade doméstica, exigindo-
se que seja um espaço de convívio permanente, portanto, estão fora da disposição 
as visitas periódicas e estadia de temporada. Porém, isso não nos leva à conclusão 
quanto aos laços familiares. Ao utilizar a expressão “sem vínculo familiar”, a lei 
pretendeu abranger mulheres em regime de tutela, como a empregada doméstica que 
 
 
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reside na casa da família. Não se aplicando, porém, à diarista, já que não há convívio 
permanente. 
O inciso II, em seu turno, exige parentesco, não só biológico, mas também por 
afinidade ou consanguinidade, diante da admissão expressa de indivíduos que são 
ou se consideram aparentados por laços naturais, por afinidade ou por vontade 
expressa, como em relações conjugais, casos de cunhada, prima, sogra, enteada etc. 
Diferente do inciso I, aqui não há exigência de convivência. Portanto, o irmão pode 
ver a irmã uma vez por mês e, ainda assim, sofrerá os rigores da lei. 
O inciso IIII é mais criticado por ter, em tese, desvirtuado o que dispôs a 
Convenção Belém do Pará, que considera como violência contra a mulher aquela “que 
tenha ocorrido dentro da família ou unidade doméstica ou e qualquer outra relação 
interpessoal, em que o agressor conviva ou haja convivido no mesmo domicílio que a 
mulher (art. 2º, “a”)”. 
Nesse sentido, Guilherme de Souza Nucci, citado por Renato Brasileiro de 
Lima, aduz que “se o agressor e vítima não são da mesma família e nunca viveram 
juntos, não se pode falar em violência doméstica e familiar. Daí emerge a 
inaplicabilidade do disposto no inc. III”. 
No entanto, o que prevalece é o dispositivo legal, já que mais abrangente, 
cumprindo, assim, o princípio do “pro homne”, que determina a interpretação de 
normas relacionadas aos direitos humanos de modo mais abrangente, buscando 
sempre a maior garantia de direitos. 
Por fim, mas não menos relevante, emerge o parágrafo único do artigo 5º, que 
ampliaainda mais ao dispor que as relações pessoais enunciadas no artigo 
independem de orientação sexual, sendo possível, assim, aplicar a relações 
homoafetivas entre mulheres, e ainda, como veremos, aos transgêneros e 
transexuais. 
3. QUEM É A VÍTIMA? 
 
Aqui surge, certamente, o maior cenário de decisões judiciais tendo como 
parâmetro a Lei Maria da Penha, a qual não enumerou quem são as vítimas, como 
não poderia deixar de ser, já que visa garantir direito de gênero, e não de determinado 
sexo, assim, a abrangência fica a cargo dos tribunais diante de casos concretos que 
surgiram e ainda irão aparecer no decorrer do tempo. 
 
 
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Nesse sentido, se colaciona organograma feito pelo autor, vejamos: 
a) Violência de filho contra a mãe: possibilidade (HC 290.650/MS), já que a Lei Maria da 
Penha se aplica também nas relações de parentesco, mesmo não havendo coabitação entre 
agressor e vítima; 
b) Violência de filha contra a mãe: possibilidade (HC 277.561/AL), pois não há nenhum 
dispositivo na lei que impeça que o agressor seja mulher; 
c) Violência de pai contra a filha: possibilidade (HC 178.751/RS), por força do inciso II do 
art. 5º da Lei, mesmo que autor e vítima não residam no mesmo lar; 
d) Violência de irmão contra irmã: possibilidade (HC 175.816/RS), por força do inciso II 
do art. 5º da Lei, mesmo que autor e vítima não residam no mesmo lar; 
e) Violência de genro contra sogra: possibilidade (RHC 50.847/BA), por força do inciso II 
do art. 5º da Lei, já que há relação de parentesco por laços de afinidade; 
f) Violência de nora contra a sogra: possibilidade (HC 175.816/RS), desde que estejam 
presentes os requisitos de relação intima de afeto, motivação de gênero e situação de 
vulnerabilidade, caso contrário, não haverá enquadramento; 
g) Violência de companheiro da mãe contra a enteada: possibilidade (RHC 42.092/RJ); 
h) Violência de tia contra sobrinha: possibilidade (HC 250.435/RJ). No caso em questão a 
tia tinha a guarda da sobrinha, de quatro anos. 
i) Violência de ex-namorado contra ex-namorada: possibilidade (HC 182.411/RS). No 
entanto o STJ entende também que não pode ser qualquer namoro que se enquadra na Lei, 
mas sim o duradouro, caso contrário, se for efêmero, fugaz, esporádico (“ficar”) ou 
passageiro, não há que se falar em proteção da Lei Maria da Penha (CC 91.979/MG); 
j) Violência de filho contra pai idoso: IMPOSSIBILIDADE (RHC 51.418/SC), tendo em 
vista que o sujeito passivo tem que ser mulher, em obediência ao art. 1º e ao caput do art. 
5º da Lei Maria da Penha; 
k) Violência contra travesti: IMPOSSIBILIDADE (HC 178.751/RS - 2010), Pessoas 
travestidas não são mulheres. Não se aplica no caso delas a lei nova (sim, as disposições 
legais outras do CP e do CPP). Pondere-se, porém, que no caso de cirurgia transexual, desde 
que a pessoa tenha passado documentalmente a ser identificada como mulher (Roberta 
Close, por exemplo), terá incidência a lei nova. Mas, a título de conhecimento, já se percebe 
a mudança neste raciocínio, uma vez que há decisões isoladas da Justiça Estadual 
permitindo a aplicação da Lei a pessoas travestidas, v.g. Processo nº 0018790-
25.2017.8.19.0004, da Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de São 
Gonçalo (RJ), julgado em 26/06/2017. Dec. Juiz André Luiz Nicolitt. 
l) Atriz famosa que é agredida pelo namorado é protegida pela Lei Maria da Penha. A 
situação de vulnerabilidade e fragilidade da mulher, envolvida em relacionamento íntimo 
de afeto, se revela ipso facto (presumida pela lei). Com efeito, a presunção de 
hipossuficiência da mulher, a implicar a necessidade de o Estado oferecer proteção 
especial para reequilibrar a desproporcionalidade existente, constitui-se em pressuposto 
 
 
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de validade da própria lei. Vale ressaltar que, em nenhum momento, o legislador 
condicionou esse tratamento diferenciado à demonstração dessa presunção, que, aliás, é 
ínsita à condição da mulher na sociedade hodierna (REsp 1416580/RJ, Rel. Ministra 
LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 01/04/2014, DJe 15/04/2014). 
Naturalmente, ainda não há casos concretos em tribunais superiores 
envolvendo todas as possíveis hipóteses de vítimas, o que não quer dizer que tais 
situações não serão abrangidas, já que o conjunto de decisões emanados até aqui 
nos permite concluir, com clareza solar, a pretensa acepção ampla do conceito de 
“mulher” vítima de violência doméstica e familiar ao se considerar o gênero da pessoa 
humana ali presente. 
Assim, podemos concluir que sendo a vítima do gênero feminino, a abranger, 
a nosso ver, transexuais, transgêneros ou travestis, desde que assumam a condição 
plena de pessoa do gênero feminino e mantenham relação íntima de afeto ou esteja 
no âmbito da unidade doméstica ou familiar, deve haver pronta atuação estatal 
destinada à garantia de direitos e cumprimento das disposições legais. 
4. O RISCO DA BANALIZAÇÃO 
 
Como ação afirmativa que é, a Lei Maria da Penha representa política pública 
aplicável ao bloco social composto por mulheres vitimadas em contexto familiar ou 
doméstico ou em relações íntimas de afeto. 
Nesse sentido, parece-nos indispensável que operadores do Direito, em todos 
os quadrantes de atuação do sistema de justiça considerem os estandartes que 
servem de parâmetro vinculante para a adequada subsunção fática ao conceito 
jurídico indeterminado relacionado à violência gênero. 
É de conhecimento notório a insuficiência da estrutura do Estado brasileiro apta 
a salvaguardar todas as possíveis relações de afeto. Assim, o acionamento de órgãos 
do Estado ou aceitação por parte destes de fatos que, conforme os ditames da lei, 
não seriam considerados no âmbito de proteção desta, como sendo dessa natureza, 
prejudica os que realmente precisam. 
Assim, a inflação de pedidos de medidas protetivas sem pressupostos 
mínimos, certamente ocuparão espaço que poderia ser destinado a vítimas reais. 
 
 
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Banalizar o conceito jurídico construído pela Lei Maria da Penha é esquecer sua 
própria origem, em que a condição do sexo feminino foi o motivador da ação delituosa. 
Não é incomum perceber na prática situações em que nem mesmo a mulher 
entende se é ou não é vítima. Citarei dois casos que chegaram até mim no plantão 
policial em que atuava enquanto Delegado de Polícia. 
No primeiro deles, uma mulher, a quem daremos o nome de Ana, 
extremamente vitimizada, em contexto no qual seu companheiro não permitia que ela 
trabalhasse ou saísse de casa, fazia excessivo uso de drogas lícitas e ilícitas, forçava 
relações sexuais, mas, segundo acreditava e dizia, cuidava e ajudava muito ela, 
pagava tudo em casa, era o pai do filho recém-nascido, e como não era da região, 
não teria ninguém que faria isso por ela. 
Podemos perceber que a realidade era de violência gênero, em que o Estado 
deve ter pronta atuação, assumindo sua função de regulador da vida social e intervir 
naquele lar. Não era possível deixar que eles voltassem para casa juntos, pois o 
contexto se repetiria e, potencialmente, se agravaria. O homem foi preso, a mulher 
encaminhada à “Casa Abrigo”, órgão de assistência social existente no DF, mas longe 
da realidade da maior parte do Brasil. 
Já parou para pensar quantas “Anas” temos no Brasil? O número é assustador, 
e mais assustador ainda, saber que a atuação obrigatória do Estado em casos como 
este, na maior parte das vezes e regiões desta nação, se limita à prisão do autor e 
seu afastamento do lar. Em análise prática, isso pode significar um prejuízo 
imensurável à vítima, apto a gerar um paradoxo, qual seja: “a mulher está em condição 
de maior vulnerabilidade com ou sem o agressor?”.Certamente é uma pergunta de difícil resposta, mas que deixamos aqui, para 
que cada leitor, em futuro próximo, como operador do Direito, se esforce, o quanto 
puder, para ter empatia e se colocar no lugar de Ana. 
Aproveite, nobre leitor e leitora, se coloque também no lugar de Beatriz, 
protagonista do segundo caso prático vivenciado por mim, em ocasião na qual, o 
homem, ex-companheiro e pai da filha do casal, mantinha boas relações familiares, 
continuava a frequentar a residência de Beatriz, onde também mora a filha do casal 
e, em determinada noite, durante um jantar entre eles, a filha de Beatriz, com 13 anos, 
em fase de rebeldia, avançou sobre o pai, que logo a reprimiu. A mãe “tomou as dores” 
da filha, embora sem razão, a nosso ver, e teve início uma discussão e a Polícia Militar 
foi acionada. 
 
 
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Logo os envolvidos chegaram à delegacia, cujo plantão era de minha 
responsabilidade. Beatriz já chegou dizendo: “quero medida protetiva, esse homem 
xingou minha filha e não quero ele na minha casa mais”. Imediatamente demos pronta 
atenção a ela e sua filha, bem como ao conduzido, que foi encaminhado à cela de 
contenção. Ao entender o contexto, restou claro que o caso não era de aplicação da 
Lei Maria da Penha, já que não havia contexto de violência gênero. 
A atuação do Estado na vida privada deve ser cirúrgica e somente ter lugar 
quando e se necessária. Em caso de dúvida, naturalmente, quem se julga nesta 
condição deve procurar meios adequados, como ir à Delegacia, Defensoria ou 
Ministério Público, além de órgãos e entidades locais de proteção aos direitos da 
mulher e da família. 
5. O HOMEM TAMBÉM TEM PROTEÇÃO. 
 
Quando dos primeiros efeitos práticos da Lei Maria da Penha, muito se levantou 
quanto ao fato de ela não se aplicar ao homem vítima de violência doméstica. No 
entanto, tal raciocínio não é correto, a nosso ver. 
Inicialmente, o artigo 44, da Lei n. 11.340/06, alterou o artigo 129, § 9º, do Código 
Penal, que trazia pena ligeiramente maior ao delito de lesão leve simples, quando 
ocorrido em contexto de violência doméstica. Assim, para lesão leve simples o “caput” 
do artigo mencionado traz, ainda hoje, pena de detenção de três meses a um ano, 
enquanto a antiga redação do parágrafo nono do mesmo artigo, que prevê a lesão 
qualificada pela prática em ambiente doméstico, apenava em oito meses a um ano de 
detenção, portanto, sem nenhuma diferença prática. 
Já que nos dois casos a providência de polícia judiciária seria o Termo 
Circunstanciado de Ocorrência e a pronta liberação do indiciado preso em flagrante 
diante da assunção de compromisso de comparecer ao juízo competente para 
processar a ação decorrente. 
Evoluindo na proteção dos membros da família em contexto de violência 
doméstica a lei aumentou a pena, atualmente em 3 meses a 3 anos de detenção, a 
desafiar, portanto, Auto de Prisão em Flagrante, mantendo-se preso o agente. 
Este artigo aplica-se às vítimas mulheres, com as observações feitas até aqui em 
relação ao conceito de gênero, mas também se aplica a homens, vítimas neste 
cenário. Isso não nos permite chegar à conclusão de que as medidas de proteção 
 
 
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também lhe possam favorecer, as quais permanecem como destinatária somente 
mulheres vítimas, mas não deixa de representar avanços nesse sentido. 
Fato é que, embora exista agressões de mulheres contra homens em contexto de 
violência gênero, estatisticamente, as mulheres é que são as grandes vítimas, sendo, 
na maior parte dos casos, homem o agressor. 
Na prática, não é incomum a mulher começar uma briga, com agressões físicas 
contra o homem, o qual, pensando estar no direito de legítima defesa, desfere um 
golpe no rosto da mulher, extrapolando, claramente, a necessária moderação na 
reação, passando a ser o autor de crime que era vítima. 
Assim, a recomendação que deixamos ao homem vitimado é buscar a saída mais 
cômoda, exercendo o “commodus discessus”, e se manter inerte, não reagir de 
qualquer modo, por palavras ou gestos, e se dirigir imediatamente à uma delegacia 
de polícia a fim de registrar o fato, enquanto vítima, e não na condição de autor. 
6. MEDIDAS DE PROTEÇÃO. 
 
Não obstante a Lei Maria da Penha materialize ação afirmativa de proteção às 
mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, o diploma legal traz medidas de 
proteção que obrigam as duas partes na relação, atingindo o homem e a mulher, de 
forma alternada ou concomitante. 
O artigo 18 traz o prazo limite para que o juiz decida a respeito da medida de 
proteção, tendo 48 horas para deferir ou indeferir o requerimento da vítima, sendo 
este prazo aplicável às medidas que obrigam o homem e também a mulher. 
Nesse sentido, o artigo 22 da Lei n. 11.340/06, traz a possibilidade de o juiz 
decretar ao agressor que se afaste do lar ou local de convivência com a ofendida; que 
se abstenha da prática de determinadas condutas, como aproximação e contato com 
a vítima; pode ainda, restringir direito de visitas a dependentes menores e determinar 
a obrigação de prestação de alimentos provisórios. 
Neste último caso é possível, inclusive, que as dívidas deem ensejo à prisão civil 
do agressor que não cumpra a obrigação pecuniária. Por fim, o inciso I traz a 
possibilidade de o juiz suspender a posse de arma de fogo ou restringir seu porte. 
Os artigos 23 e 24, em seu turno, trazem medidas protetivas de urgência que 
obrigam a ofendida, que poderá ser encaminhada a programas comunitários ou 
 
 
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oficiais de proteção e apoio, sua recondução ao lar após afastamento do agressor ou 
a separação de corpos. 
Notem a medida contra intuitiva que encontra permissão expressa no art. 23, III, a 
admitir o afastamento da ofendida de seu lar, naturalmente, sem prejuízo dos direitos 
relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos. 
Visando, ainda, a proteção patrimonial da vítima, o artigo 24 traz medidas de 
natureza civil, garantindo à vítima a restituição de bens subtraídos pelo agressor, bem 
como a proibição deste celebrar atos e contratos de compra, venda e locação de 
propriedade em comum, ressalvada a possibilidade de expressa autorização judicial. 
Prevê, ainda, a suspensão de procuração conferida pela ofendida ao agressor e a 
prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos 
materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a ofendida. 
6.1 LEGITIMIDADE PARA FIXAÇÃO DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO 
DIANTE DA ALTERAÇÃO PROMOVIDA PELA LEI N. 13.827/19. 
 
Desde sua entrada em vigor a Lei Maria da Penha promoveu diversas 
repercussões positivas na sociedade brasileira, porém, à medida em que casos 
concretos foram surgindo e materializando a aplicação da ação afirmativa, percebeu-
se grande desafio a ser enfrentado pelo Estado, relacionado à estrutura física e 
humana apta a cumprir os objetivos da Lei. 
 Nesse sentido, o número de situações envolvendo violência doméstica e 
familiar logo deixou claro que, além de uma lei, seria necessário estruturar os órgãos 
relacionados à sua aplicação, abrangendo as Polícias Militares e Civis, promotorias e 
varas especializadas, grupos de apoio e assistência psicossocial etc, o que, aliás, não 
foi cumprido até os dias atuais. 
 Aliado a isso, conforme números publicados pelo Fórum Brasileiro de 
Segurança Pública, em 2017 foram registrados mais de 60 mil casos de violência 
doméstica, cerca de 606 casos por dia, sendo que mais de 1,2 milhão de casos ainda 
estavam pendentes de julgamento nos tribunais do Brasil. 
 Logo se presume a dificuldade enfrentada pelas maiores vítimas deste tipo de 
comportamento, já que, em sua maioria, sãomulheres pobres, do interior, que vivem 
distante de centros de poder, tornando a espera por medidas de proteção longa o 
 
 
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suficiente para ser inútil, diante da configuração do crime mais grave, ceifador da vida 
da ofendida. 
 A Lei n. 13.827/19, portanto, pretendeu pôr fim à ineficácia decorrente da 
demora por parte do Poder Judiciário em decretar medidas de proteção 
contemporânea à sua necessidade. Aliás, ineficácia esta existente em razão, 
sobretudo, do grandioso número de casos a serem atendidos em contraponto ao 
número insuficiente de fóruns ou juízes de plantão aptos a darem uma solução rápida 
e eficaz. 
 Neste sentido, atendendo a antigo clamor social e de autoridades públicas 
sensíveis à realidade enfrentada por “Marias” da Penha Brasil à fora, a lei em comento 
ampliou os legitimados a decretar medidas de proteção, embora a normativa seja alvo 
de ação declaratória de inconstitucionalidade, proposta pela Associação dos 
Magistrados do Brasil. 
 Nesse sentido, foi incluído o artigo 12-C, que permite ao Delegado de Polícia, 
quando o Município não for sede de comarca, ou pelo policial, quando o Município 
não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia. 
 Em busca da “mens legis”, é possível concluir que o “policial” mencionado na 
novel legislação se refere aos Agentes, Escrivães e demais policiais militares, em 
todas as patentes. A norma vem em momento ainda oportuno, e deve gerar boa 
repercussão, já que não é incomum percebermos municípios brasileiros em que não 
existe Fórum ou mesmo Delegacia de Polícia em funcionamento. 
 Como forma de controle jurisdicional posterior, o § 1º, do referido artigo 12-C, 
determina que o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 horas e decidirá, em 
igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar 
ciência ao Ministério Público concomitantemente. 
 A novel norma trouxe, ainda, o artigo 38-A, que cria um banco de dados 
nacional relacionado às medidas de proteção, ao determinar que o juiz providencie o 
registro da medida protetiva de urgência decretada, em semelhança ao que já ocorre 
com os mandados de prisão a partir da criação do BNMP, em 2011. 
 Não poderíamos deixar de nos manifestar em relação à ação direta de 
inconstitucionalidade ajuizada pela AMB, em que se pretende convencer o STF sobre 
a afronta ao princípio da reserva de jurisdição diante da nova lei, que permite a outras 
autoridades públicas a fixação pronta e imediata, de maneira subsidiária, de medidas 
protetivas urgentes. 
 
 
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 Movido por ego social ou desconhecimento proposital, a pretensão da 
associação despreza a existência de diferentes aspectos relacionados ao princípio da 
reserva de jurisdição. 
 Isso porque, como ensina o magistério de Ruchester Marreiros, “A Constituição 
(...) adotou um sistema de reserva absoluta e relativa da jurisdição”. Nesta esteira, na 
investigação criminal existem atos que devem ser decididos exclusivamente pelo 
Estado-juiz, hipótese de reserva absoluta, e outras medidas decididas pelo Estado-
investigador, hipótese de reserva relativa, que passa, igualmente, por controle por 
parte do Estado-juiz, porém, posterior, como deixa claro o artigo 12-C, § 1º, da Lei 
Maria da Penha. 
 Portanto, a nosso ver, acertou o Congresso com a novel legislação e 
esperamos ver acertada decisão judicial manifestada pelo Supremo Tribunal Federal, 
no bojo da ADI, para que seja sepultada eventual entendimento contrário à garantia e 
proteção dos direitos das mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. 
7. CRIMES DA LEI. 
 
Em sua redação original e por não ser uma lei exclusivamente penal, a Lei 
Maria da Penha não tipificou crimes relacionados ao contexto doméstico e familiar, 
mas normas de processamento de casos que envolvam este cenário. 
 Portanto, não há que se falar em “crime de Maria da Penha”, o crime será o 
mesmo do Código Penal ou de Leis Especiais, a exemplo dos delitos de Lesão 
Corporal e Injúria, porém, processados conforme os ditames da Lei n. 11.340/06. 
 Com exceção, portanto, da previsão do art. 22, § 2º, aplicável ao superior 
imediato do agressor que integre órgãos para os quais se permite o porte de arma 
funcional e deixe de cumprir a determinação judicial de restrição ao porte de arma, a 
quem será imputado o delito de desobediência ou prevaricação, a depender do caso 
concreto. A única tipificação penal decorrente da Lei e aplicável ao agressor é aquela 
advinda da Lei n. 13.641, de 3 de abril de 2018. 
 Nesses termos, foi incluído o artigo 24-A, aplicável ao agressor que descumpra 
decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas na Lei Maria da 
Penha. 
 
 
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 Há vozes que se levantaram e ainda se levantarão quanto à possibilidade de 
se aplicar tal tipificação também à mulher que aceita o agressor de volta em seu lar, 
sugerindo, assim, o descumprimento por parte da própria beneficiária da medida. 
 Tal entendimento não nos parece razoável, tendo em vista o bem jurídico 
tutelado, que não deve ser visto primariamente como o normal funcionamento da 
Administração da Justiça, mas sim e, essencialmente, a liberdade pessoal e a 
segurança da vítima, violadas pelo descumprimento da ordem judicial de proteção. 
 Na medida em que a própria vítima admite e incentiva a não observância da 
ordem de proteção esta perde seu objeto, tendo, a nosso ver, por esgotada sua força 
obrigacional. 
 Nesse sentido, sustentamos ser inaplicável a tipificação do art. 24-A à ofendida 
que admite o agressor de volta em seu lar, buscando recompor o ambiente familiar, a 
família, base da sociedade, conforme se depreende do art. 226, da Constituição da 
República. 
 Por fim, prevê o § 2º, do artigo 24-A, que na hipótese de prisão em flagrante 
decorrente da prática do delito em estudo, apenas a autoridade judicial poderá 
conceder fiança. A nosso ver, uma previsão desnecessária, já que, conforme o artigo 
324, IV, do CPP, não caberá fiança se existem, no momento do flagrante, os motivos 
que autorizam a decretação da prisão preventiva. 
 Não vejo oportunidade mais clara em que se é necessário garantir a ordem 
pública, como exige o artigo 312, do CPP, já que repetida a prática delitiva contra a 
mesma vítima, diante de indícios suficientes de autoria e prova da materialidade 
delitiva da conduta do agente do artigo 24-A, quando o caso envolve violência 
doméstica e familiar contra a mulher, a fim de garantir a execução das medidas 
protetivas de urgência, conforme se depreende do art. 313, III, do CPP. 
 Ademais, a vedação abstrata de se fixar fiança já foi debatida pelo STF no 
contexto da Lei n. 10.826/03, na ADI 3112-1, na qual se entendeu pela 
inconstitucionalidade de tal proibição, o que nos aparenta, será rediscutido na Corte 
em breve. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
https://www.conjur.com.br/2015-dez-08/academia-policia-delegado-possui-funcao-imanente-
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http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Anuario-2019-FINAL-v3.pdf 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm 
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http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Anuario-2019-FINAL-v3.pdf
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm

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