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04 - Renascer de uma paixão - Os Sutões - Alexandra Sellers

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1
O Renascer de uma Paixão 
Título original: The Playboy Sheikh 
Alexandra Sellers 
 
[FILHOS DO DESERTO – OS SULTÕES] – 04 
 
(The Playboy Sheik - 2002 - Silhouette) 
 
Momentos Íntimos 147 
 
Lisbet queria ser livre e não conseguiria isso ao lado de Jafar. Ele a aprisionava com aquele amor 
possessivo. Então, ela acabou com o caso dos dois. Anos mais tarde, ela teve que viajar à Barakat 
para ser a protagonista de um filme. E lá estava Jafar, perto demais, sedutor demais, encantador 
demais. Lisbet não queria ceder, mas era difícil resistirao sheik playboy... E ela não sabia, mas eles 
estavam envolvidos em algo muito maior... e perigoso. 
 
 
 
 
 2
Prólogo 
 
Um par de olhos verdes invadiu a tela, lançando um desafio 
para dentro da sala. O sheik sentiu um frio no estômago ao prender 
a respiração. 
_ Desta vez é ela _ Comentou alguém atrás dele. 
_ Eu sei que sim – disse Jafar al Hamzeh. Sua voz saiu firme e 
controlada, observando a imagem. 
Aqueles olhos se dirigiram direto para ele, invadindo-lhe a 
alma. 
A íris eram verde-claras com delicados traços verde-escuros, 
envolvidas por um suave e fino círculo esmeralda. O branco dos 
olhos era puro e cristalino, emoldurados por um par de suaves 
sombrancelhas. 
Jafar já os vira muito próximos. Eles haviam preenchido todo 
seu mundo. Fora quando ela estivera deitada sobre ele, entre seus 
braços, ao se sentirem dominados por um prazer extremo que 
parecia quer aniquilá-los. Ou a tudo ao redor. Jafar não sabia qual 
dos dois. Nem se preocupara com aquilo. 
Naquela ocasião, vira aqueles olhos, tal como agora. Percebeu 
que um profundo e intenso sentimento de ciúme perpassou seu 
pensamento, uma vez que todos os que se encontravam naquela sala 
poderiam vê-los também. Se pudesse, pediria que saíssem. 
 A câmera se afastou um pouco, revelando as faces rosadas e 
seu nariz reto. Revelou também a boca determinada esboçando um 
sorriso desafiador. Os espessos cabelos loiros caíam numa 
luxuriante curva sobre seu ombro e braço. 
 Jafar já passara as mãos por entre aqueles fios sedosos e 
agora rememorava a textura indescritível que eles possuíam. Pôde 
sentir, até o perfume que ela usava. Cerrou as pálpebras e ouvia os 
comentários: 
- Uma beleza extraordinária. 
- Uma personalidade. 
 3
No monitor, após falar qualquer coisa, ela se virou e saiu do 
foco da câmera. Usava um vestido curto que destacava suas formas 
e suas esbeltas pernas. A entonação era baixa e ressonante, como 
sempre, e lembrava-lhe a última vez em que a ouvira. Falava por 
sobre o ombro, com um sorriso maroto, e então balançou a cabeça 
de tal forma que sua cabeleira se espalhou sobre as costas. 
Pareceu a Jafar que o tocara. Suas entranhas pareceram 
pegar fogo. 
A Porta se abriu e se fechou, e a linda jovem desapareceu. Do 
mesmo modo como saíra de sua vida. Um sorriso, um meneio de 
cabeça e o som de uma porta batendo. 
Jafar rememorou a dor que sentira, implorando para que a 
porta tornasse a se abrir e ela voltasse para dizer-lhe que havia 
mudado de idéia. 
- Aqui há mais uma – falou alguém. 
Lisbet estava lá outra vez, agora na praia, usando uma tanga. 
Parecia concentrada num sorvete, enquanto os homens a seu redor a 
admiravam, esquecendo a realidade. 
Um barco virou, e seus passageiros acenaram e gritaram, 
despertando a atenção do salva-vidas, mas foi para a garota que o 
rapaz olhou. Um jogo de voleibol foi interrompido assim que ela 
apareceu na praia, os cabelos esvoaçando, evidenciando seu corpo 
cheio de curvas femininas. Um vendedor de cachorro-quente deixou 
o carrinho cair dentro da água. 
“Ela é minha!”, Jafar pensou como se estivesse dizendo para 
todos. 
- Fantástico! 
Jafar nada comentou a respeito dessa exclamação. Continuou 
olhando para a tela, e a viu tirando a areia com uma expressão 
sensual. Já vira isso antes, mas naquela ocasião não fizera nenhum 
gesto como aquele. Estava certo disso. 
O nome do fabricante de sorvete apareceu na tela e se fixou 
no rosto dela. 
 4
- Bem, acredito que não poderíamos encontrar nada melhor 
para nosso harém, não é? – disse alguém, como se pudesse haver 
outra escolha e como se não fosse uma conclusão predeterminada. 
- Acredito que a moça seria uma jóia que daria prazer a 
qualquer sultão. Não é assim, Jafar? 
Ele sorriu, assentindo, acatando aquela sugestão com ar de 
pouco-caso. 
A jovem sorrira para ele antes de partir, num tom de deboche 
e desafio. “Faça o pior”, dissera-lhe. 
Ela veria o que ele poderia fazer de pior. Primeiro, um 
presente para o sultão. Mas no final, teria aquela beldade para si. 
Apenas para si. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I 
 
Tomada de desespero, Lisbet Raine tratava de se manter na 
superfície, enquanto uma nova onda se aproximava, quebrando sobre 
ela. Assim que pôde, aspirou mais ar. 
 5
A sua frente, via a linha da praia. Atrás, milhas de um 
ofuscante mar esverdeado. 
O sol se encontrava a pino. O sal fustigava seus olhos. Os 
cabelos flutuavam a sua volta e grudavam em sua face. Seu longo 
vestido fora aberto para liberar as pernas, acompanhando-a por 
entre as ondas, verde sobre verde. Seus pés se mexiam procurando 
o fundo do mar. Como se ele fosse um apaixonado e impaciente 
amante, uma nova onda apareceu e a envolveu com carinho. 
Perto dali, oculto pelas rochas e montado num cavalo branco, 
ele a observava. Um terrível ciúme o queimava, como se a visse 
fazendo amor com outro homem. 
Naquele momento , os pés dela alcançaram o fundo, e Lisbet 
se endireitou, o que lhe permitiu iniciar a tentativa de voltar para a 
beira da praia, acompanhando a maré. 
Ao tentar quebrar as ondas, elas mostravam querer trazê-la 
de volta para seu seio. Lisbet hesitou por um momento, como se 
dando por vencida, mas a água parou por um instante, deixando que 
se recuperasse. 
Jafar continuava observando, imóvel, como se aguardasse por 
um sinal. 
A espuma a envolvia enquanto se movia, arrastando seu vestido 
para a frente e para trás, revelando suas pernas, para depois, com 
ansiedade, escondê-las. 
As águas dançavam ao redor dela, ora revelando os quadris, 
ora os joelhos. O vestido escondia e revelava aleatoriamente partes 
do corpo escultural. 
Lembrava um erótico e provocante strip-tease. Jafar estava 
atormentado por imaginar que suas mãos, sua boca e seu corpo 
poderiam envolvê-la, como fizeram as ondas do oceano, deixando-a 
tão ofegante quanto ele um dia. 
Com lânguido gesto, Lisbet ergueu os cabelos, empurrando-os 
por sobre as costas. Os seios firmes moldados pelo vestido 
 6
molhado e os braços bem torneados destacavam-lhe a feminilidade 
por entre o tecido verde. 
O cavalo relinchava, chacoalhando-se , assim que Jafar pousou 
a mão sobre seu pescoço. 
- Aguarde um pouco – murmurou para o obediente animal. 
 
Já quase saindo da água, Lisbet parou um instante, levantou as 
graciosas mãos para o céu e, com um triunfante grito, ajoelhou-se, 
como num gesto de agradecimento. Então, se atirou para trás, 
abrindo os braços para receber o sol, o ar e a vida. 
Uma onda se aproximou dela, envolvendo-a na espuma e 
revelando, mais uma vez, suas pernas e um pouco de seus joelhos. 
Jafar se ressentia com a necessidade de beijá-la, tal como o 
mar acabara de fazer. 
O garanhão reagiu de imediato a seu toque e partiu em galope. 
O sheik e seu cavalo pareciam um ser único. 
Ao chegarem à beira-mar, a luz do sol parecia transformar os 
respingos d’água em ricos diamantes. 
Lisbet deveria Ter sentido o movimento atrás de si, mas, como 
se estivesse cansada demais, não esboçou o menor movimento. 
Jafar estava quase ao seu lado. Parou o cavalo, e ela virou-se para 
olhar. 
Ao vê-lo, ficou boquiaberta. Tratou de sentar-se, sem demora. 
Desorientada, gritou: 
- O que está fazendo aqui?! 
- Este é meu país. – Jafar esboçou um sorriso sem graça. 
- Seu país? – Ela o encarou, parecendo zombar dele. 
- Eu disse que no final você seria minha. 
 
- O quê, afinal, está acontecendo aqui? – questionou Masoud al 
Badi, sem sedirigir a ninguém em especial. – De onde apareceu esse 
cavalo branco? Onde está o negro? O que Adnam está pretendendo? 
 7
O assistente ergueu a cabeça do roteiro e esboçou um 
expressiva resposta: 
-Acabei de repassar a filmagem com ele, e o cavalo era negro. 
O diretor tornou a olhar para o casal na praia. 
- Quer dizer que não é Adnam que está ali com ela! Quem é 
então? Onde está Adnam? 
- Estou aqui. – Ele saia de um trailer. – Quem está com Lisbet 
é Jafar al Hamzeh. Desculpe-me senhor al Badi. 
- Jafar?! Ele emlouqueceu?! – O diretor, naquele momento, viu 
Lisbet correndo, desesperada, pela praia, deixando atrás de si um 
rastro sobre a areia úmida. – Alá, Jafar a deixou em pânico! Ela vai 
se machucar! 
 
Um murmúrio percorreu o set de filmagem, assim que se ouviu 
o nome do sheik. Todos se puseram de prontidão, como se alguém 
tivesse tocado um varinha mágica. 
Jafar al Hamzeh, companheiro da Irmandade do Cálice do 
Príncipe Karim, não apenas era rico e bonito como ele só, mas 
também o playboy favorito da imprensa. 
Tudo ficava mais interessante com a presença de Jafar al 
Hamzeh. E se ele estivesse interessado na estrela do filme... Bem, a 
situação poderia ficar bem mais excitante. 
Na praia, o cavaleiro permaneceu montado no cavalo numa 
postura arrogante, como um predador que estivesse deixando sua 
presa se afastar um pouco para tornar a caça mais interessante. 
Masoud paralisado, olhava a garota de vestido verde em 
desabalada carreira pela areia. Agarrou o megafone e começou a 
berrar, mas eles estavam afastados demais. Sua voz se perderia no 
meio do mar. 
Voltou-se para buscar alguma inspiração. Dirigiu-se para o 
ator em vestes brancas e gesticulou para ele, ordenando: 
- Adnam, pegue seu cavalo e... 
- Meu Deus! – murmurou alguém. 
 8
Masoud al Badi mais uma vez se voltou. 
Enfim, Jafar colocara a montaria em ação. O animal em poucos 
instantes, estava próximo de Lisbet. Jafar não diminuiu a 
velocidade. 
Todos soltaram um suspiro assim que o cavaleiro soltou as 
rédeas sobre o garanhão. Inclinou-se, então, sobre os joelhos, como 
num espetáculo de circo, enquanto o animal corria lado a lado com 
Lisbet. 
- Será que ele está tentando derrubá-la?! – berrou 
Masoud, furioso. 
Lisbet disse qualquer coisa, mas Jafar a segurou firme e a 
colocou sobre a sela. De repente, ela estava sentada na frente dele, 
presa pelos braços fortes. 
 
- Coloque-me no chão! Está querendo me matar?! O que 
acha que está fazendo?! 
- Você me desafiou, Lisbet. Quando uma mulher desafia 
um homem de raça, é porque quer provocá-lo a tomar uma atitude. 
Mas é preciso Ter cuidado. A reação pode ser bem diferente do que 
ela imaginara... 
 
Lisbet emgoliu em seco. 
- Acha que eu queria que você... Como chegou aqui, Jafar? 
Como sabia onde nós estávamos? 
Ele sorriu. 
- Acredita que sou um covarde que espera que as 
ircunstâncias o favoreçam? Você não é o tão ingênua assim! 
 
Lisbet sentiu o coração disparar... e teve medo. 
- O que está querendo me dizer? 
Jafar encorajou o cavalo, forçando Lisbet a se apoiar nele. O 
animal galopava com elegância na água. 
 9
- O que quer dizer quando diz que as circunstâncias o 
favoreçam? – Lisbet insistiu. 
- Você entenderá. 
 
Tinham sido amantes, mas fora muito tempo atrás. 
Encontraram-se fazia um ano, cheios de desconfianças e dúvidas 
sobre o amor. As lembranças voltaram agora, muito vívidas, à 
memória de Lisbet. 
O envolvimento sexual foi inevitável, pois a atração foi 
imediata e avassaladora. Mas logo compreenderam que o prazer não 
era tudo de que necessitavam. 
Jafar queria dominá-la. Quando começou a ficar exigente, 
Lisbet o advertiu: 
- Não faça planos a meu respeito. Não me olhe como a 
futura mãe dos seus bebês. Não quero isso para mim. 
- Venha comigo para Barakat, Lisbet. Apenas para uma 
visita. Veja se consegue viver lá. Ficaremos lá só durante uma parte 
do ano. É um país maravilhoso, posso garantir. 
Ela sorriu de uma forma que o enfureceu: indiferente e 
intocável. 
- Tenho certeza de que é. Anna adora Barakat. 
Anna era uma querida amiga Lisbet, que se casara com o irmão 
de Jafar. Uma vez que o amor a conquistara, como necessário. 
- Talvez eu também venha a amar seu país. Mas esse não é o 
objetivo, não é? Não se trata de Barakat contra a Inglaterra, mas 
sim de casamento versus liberdade. E eu lhe avisei, Jafar. Desde o 
começo. 
- Liberdade! Que liberdade, Lisbet? De ficar velha e sozinha? 
De não ter filhos para confortá-la? 
Ela o encarou de um modo que ele não conseguiu decifrar. 
- Isso mesmo. Quero ser livre para envelhecer só. Sem filhos 
para me consolar. Estamos discutindo algo impossível, Jafar. Se 
você apenas olhasse pelo lado mais simples... 
 10
Ele a agarrou pelo pescoço, para fazê-la se calar. 
- Não estou enganado, Lisbet. Conseguimos encontrar aquilo 
com que os demais apenas sonham. 
-Não me referi a nossa compatibilidade sexual – brincou. 
Jafar a encarou. 
- Sexo é apenas uma parte de tudo o que nos une. Acha que 
não sei o quanto tem lutado para se afastar de mim? Será que não 
entende que não precisa fugir de mim, Lisbet? 
Ela empinou o queixo. 
- Jafar, você está imaginando coisas. 
Ele, porém, sabia que não era assim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO II 
 
 11
Lisbet se remexia inutilmente. Sentada de lado na sela, 
sentia-se desprotegida, apesar de Jafar segurá-la, mantendo-a 
firme. 
- Para onde pensa que vai me levar, Jafar?! 
- Até minha casa, que fica a alguns quilômetros daqui. 
- Sua casa?! Ficou maluco? Leve-me agora mesmo de volta para 
o ... 
- Não fale comigo nesse tom, Lisbet. 
Ela hesitou por um momento, mas logo recobrou a coragem. 
- Estou no meio de um filmagem, Jafar, e você acabou de 
interromper uma cena que estava sendo rodada! Leve-me de volta 
até o set da filmagem! 
- Assim que eu acertar tudo com você. 
Aquilo a irritou mais ainda. 
- Como se atreve?! O que está planejando, Jafar. Rapto? 
Deixe-me ir e embora! 
Ele sorriu. 
- Acha que entre nós seria possível um rapto? Quanto tempo 
já se passou, Lisbet? Contou os dias? 
- Não, não contei. 
- As semanas? 
- Pare este cavalo! 
Lisbet procurou as rédeas, uma das mãos ainda apoiada no 
tórax de Jafar, mas ele a estreitou ainda mais. 
- Os meses? – Desafiou-a – Lisbet, eu quero saber. 
- Mais de seis meses, e eu não estava com... 
- Quanto mais? – inquiriu ele, ressentido. 
- Não tenho idéia! 
- Quanto? 
- Sete meses e três semanas, e não ligo a mínima! 
- E quanto aos dias? 
- Por que supõe que eu deveria saber? 
- Você sabe. 
 12
- Não sei! 
- Então, vou lhe dizer. Quatro dias. Já se passaram sete 
meses, três semanas e quatro dias desde que me pediu para fazer o 
pior, Lisbet. Será que seu instinto não lhe avisou que seria muito 
perigoso para você vir até meu país num espaço tão curto? 
- Você está dizendo que oito meses é muito cedo, Jafar? Até 
acreditei que já havia esquecido meu nome. 
- Será que ficou desapontada por eu não tê-la procurado? – 
perguntou, com suavidade. – Ah, Lisbet, se eu soubesse... 
 Ela enrijeceu ao sentir a forma inusitada como a estava 
envlolvendo. 
- Não, não me desapontei! Depois de toda sua fanfarronice, me 
senti aliviada. 
- Mentirosa! 
- Não fale comigo desse jeito, Jafar! 
 Ele achou graça. 
- Quase me esqueci de nossas deliciosas discussões quentes. 
Mas novas oportunidades não faltarão para aprendermos tudo de 
novo. 
 À frente deles, um grupo de rochas que invadia o mar 
cortava-lhes o caminho. 
Jafar manteve o cavalo caminhando, e se esgueiraram pela 
sombra daquele saliente espinhaço. Lisbet colocou suas duas mãos 
sobre as dele, que seguravam as rédeas, e fez o animal parar. 
- De uma forma ou de outra, voltarei para a filmagem, Jafar. 
O sheik contraiu as mandíbulas com a mesma ferocidade que a 
fizera correr na primeira vez. 
- Nenhum momento para dividir com seu ex-amante? 
- Enquanto estou trabalhando? Jafar, sou uma profissional! 
Não me peça para ficar impressionada com sua forma 
descomplicadade playboy de encarar a vida. 
As pupilas deles cintilaram. 
- Ah... quer dizer que não me esqueceu por completo... 
 13
- É um pouco difícil esquecê-lo por completo. Afinal, costuma 
aparecer na imprensa todas as semanas. 
- Esse é dos benefícios da fama que eu não poderia prever. 
Lisbet se aborreceu em pensar que ele concluiria que estava 
acompanhando seus passos pelos jornais. Teria sido melhor admitir 
que não sabia nada sobre seu mau-caráter favorito da mídia. 
Mas não conseguia. 
- Você tem um inebriante estilo de viver, Jafar. Fiquei muito 
impressionada com a limusine banhada a ouro, sabia? 
Ele deu de ombros, fazendo um gesto de pouco-caso. 
- Não vale a pena discutir isso agora, querida. 
- Nem agora, nem nunca. Tenho um trabalho a fazer. 
Lisbet fez o cavalo dar uma guinada de cento e oitenta graus. 
Jafar o permitiu e, quando ela procurou fazer o garanhão correr, 
ele estacou. 
Lisbet ficou assustada ao perceber quão longe haviam 
chegado. Esperava ver, a distância, o conjunto de trailers, 
equipamentos, guarda-chuvas e pessoal, que dermacavam o set de 
filmagem, mas não via nada, além de areia. Ali, só eles dois e o 
cavalo. 
Uma pontada de medo a perpassou. Estava por inteiro à mercê 
dele, naquela paisagem inóspita. 
 Justo o que ela sempre temera. 
- Droga! – E instigou o animal. 
O cavalo, porém, parecia petrificado. 
- Vamos, ande! O que você fez com este bicho, Jafar? 
Ele sorri, mostrando seus dentes alvos. 
- Firouz e eu estamos juntos faz seis anos. Se você me 
compreendesse tanto quanto esse rapazinho é capaz... 
Lisbet rangeu os dentes. 
- Teria sido melhor que você me entendesse, Jafar. E agora? 
Fará este turrão voltar para o set ou terei de voltar a pé? 
 14
Seria uma longa caminha naquele calor e, se ela não se 
perdesse, ficaria queimada. Ou, no mínimo, teria um insolação. 
Sentia as picadas do sal ressecando sua pele e sabia que o mar não 
poderia protegê-la. 
- Não pode caminhar sob esse sol, Lisbet. Minha casa é muito 
arejada. Fica no meio de árvores, uma plantação de tâmaras. 
- Leve-me de volta. – Seu olhar perscrutava o horizonte, à 
procura de qualquer sinal de que estivesse sendo procurada. – A 
esta altura eles já devem ter chamado a polícia. Devem pensar que 
você é um seqüestrador. 
- Mas é isso o que sou. 
- O que fez com Adnam? 
- Sua imaginação é muito fértil, e talvez própria para uma 
atriz. Não fiz nada com Adnam Amani, exceto aumentar sua conta 
bancária. 
- Você fez chantagem com ele para ocupar seu lugar?! 
- Teria gostado que o tivesse golpeado e amarrado? A 
violência deveria ser o último recurso, caríssima. 
- Lógico que não teria gostado! – Lisbet suspirou – Leve-
me para o set, Jafar. 
- Sob uma condição. 
- Não dou a mínima para sua condição! 
- Você deverá jantar comigo esta noite. 
- Se é só isso o que quer, por que não vai esta noite à casa de 
Gazi e Anna. Deve saber que estou hospedada lá. 
 Tendo chegado ao emirado de Barakat na última semana, para 
a filmagem, era muito natural que Lisbet se hospedasse com Gazi e 
Anna. Seria muito normal que Jafar os visitasse nesse período, mas 
ele não o fez, bem como nenhum gesto nessa direção. 
- Você sentiu minha falta? 
- Não esperava revê-lo. Por que resolveu me procurar agora? 
- O que eu tenho para lhe dizer não é para consumo público. 
 15
Lisbet estremeceu. Tinha medo dele. Lembrava-se de como 
fora difícil tirá-lo de sua vida. Precisa usar de uma imensa 
determinação. 
- Não estou interessada, Jafar. 
- Não concorda em vir? 
- Terminamos há meses. Acabou, e não começará de novo. 
Ele parecia não Ter saído do lugar, mas o cavalo começou uma 
leve caminhada, pé ante pé, em direção às rochas, e para o mar. 
- Minha casa fica ali atrás. É muito bem protegida. Uma vez lá, 
ninguém poderá alcançá-la, a menos que tenha minha permissão. 
- Solte-me! 
Mais uma vez, Lisbet lutou, mas o sheik a segurava com 
firmeza. O animal se movia mais depressa. Ela não poderia arriscar 
um salto, ainda mais porque não conhecia a superfície da água. Se 
caísse sobre alguma rocha, ou se o garanhão lhe desse um coice... 
- Agora ou hoje à noite, Lisbet? De uma forma ou de outra 
você irá me ver. 
O cavalo continuava dentro da água, dando a volta nas 
rochas. 
Lisbet podia sentir determinação nele. Seus pés estavam 
agora dentro do mar. Seu corpo indicava um nervosa expectativa. 
Depois de meses de silêncio, ela começara a achar que Jafar a 
tivesse esquecido, bem como a todas suas juras de amor. Durante a 
última semana de espera e ansiedade por encontrá-lo no jantar, 
convencera-se disso. E agora, ali estava ele, irado, rancoroso e 
exigente. 
Sentiu-se desorientada e, de repente, percebeu que não o 
conhecia. Estava em seu próprio país, em seu território, 
conduzindo-a para o desconhecido. Lisbet era uma estrangeira, e 
ele, um pessoa influente. 
- Muito bem! – Lisbet estava brava consigo mesma por sua 
capitulação. 
O cavalo estacou. 
 16
- Irá jantar comigo hoje?? 
- Sim, Jafar. Jantarei com você, mas não em sua csa. Iremos a 
um restaurante, e é só. E se pretende qualquer coisa além disso, 
esqueça! 
Jafar assentiu com um elegante meneio, fazendo-a sentir-se 
como uma rude camponesa. 
- Mas é lógico. O que mais poderia ser? 
Firouz deu meia-volta e começou a caminhar de volta com a 
precisão de um cavalo amestrado. 
- Quero deixar bem claro que não haverá sexo como 
sobremesa – Lisbet o desafiou. 
- Pergunto: você sabe disso? 
 
No retorno, cruzaram com dois buggies. Jafar sorriu e puxou 
as rédeas. 
- Seus salvadores chegaram um pouco atrasados – disse ele. 
- Lisbet você está bem? – Masoud a fitava, aturdido. – Está 
tudo em ordem? 
Ela se desvencilhou das mãos de Jafar. O rosto dele tinha uma 
expressão estranha ao olhar para a saia dela, que ao desmontar 
revelara boa parte das pernas incríveis. 
- Não, nem tudo está bem, Masoud. Conhece este homem? Não 
continuarei trabalhando enquanto ele estiver por aqui. – E entrou 
em um dos carros. 
Lisbet esperava por uma discussão, certa de que Jafar iria 
perdê-la. Mas ela deveria conhecê-lo melhor. Não deu mais que dois 
passos, quando ouviu o som de patas se afastando. Jafar al Hamzeh, 
ereto sobre seu cavalo branco, com suas esvoaçantes roupas 
brancas, retornava pelo caminho pelo qual vieram. 
Passados alguns minutos, Lisbet bateu a porta de seu trailer, 
que tinha um irregular aparelho de ar condicionado. Tina, sua 
camareira, boquiaberta e cheia de curiosidade, ocupava-se dos 
botões de seu vestido. 
 17
- Esteve exposta ao sol por muito tempo! Seu nariz está 
queimado? Eu falei sobre isso com Masoud, há meia hora. 
Precisamos reaplicar o bloqueador. 
Lisbet se sentia exausta. Seu encontro com Jafar parecia ter 
lhe sugado as energias. 
- Não se preocupe com isso, Tina. Preciso tomar uma ducha. – 
E despiu-se. 
Em segundos, enfiou-se embaixo do jato de água fria, embora 
tivesse sido advertida pelo pessoal da filmagem a usá-la com 
moderação, desejando que toda sua aflição escoasse também pelo 
raio. 
 
Lisbet conheceu Jafar al Hamzeh quando solicitara sua ajuda 
para socorrer sua melhor amiga, Anna Lamb, estava em apuros. 
Houve um interesse imediato entre os dois. 
Jafar não fez segredo algum de sua atração por ela. Naquela 
ocasião, após ter auxiliado Anna, Lisbet dirigira-se ao estúdio de 
tevê para uma filmagem externa, em Hampstead Heath. Jafar a 
conduzira até lá e então ficara por ali para continuar sem sua 
companhia... por toda a noite. 
Lisbet jamais se esqueceria da eletricidade que 
experimentaram. Sentados sob a luz dos flashes, eles ficaram se 
entreolhando. Falando sobre tudo e sobre nada. Cada vez que ela se 
dirigia ao set para uma cena, tivera receio de que Jafar não mais se 
encontra-se lá quando voltasse, mas ele permanecia lá, aguardando. 
Havia uma conexão entre eles, como uma corda muito esticada, 
tensa, e à medida que os acontecimentos se desenrolavam, a 
atração se tornara mais e mais intensa. 
Jafar a levara de volta para casa em sua limosine, eLisbet o 
convidara para tomar um café. Assim que entraram no apartamento 
ele a beijou de repente, faminto, como se tivesse perdido o 
autodomínio. Aquele foi seu primeiro beijo, que explodiu em seus 
 18
lábios com um ardente carinho. Pensar nisso, mesmo agora, a 
arrepiava toda. 
Lisbet jamais esqueceria esse primeiro encontro, fazendo 
amor com jafar enquanto o sol atravessava a neblina de Londres. 
Nem que se passassem cem anos. 
Depois disso, preocupara-se com o fato de que ele, sendo de 
uma cultura diferente, a achasse muito fácil, a menosprezasse por 
ter sido seduzida tão rápido. 
O sheik a deixou pela manhã com um apaixonante beijo, 
dizendo-lhe que a procuraria logo, mas seu temor era que não 
passasse daquela noite. 
Porém, a limusine a aguardava junto ao meio-fio, quando Lisbet 
deixou o estúdio, naquela noite. Seu coração bateu tão forte que a 
deixou tonta. O Rolls Royce a levou até o Dorchester Hotel. 
Ninguém , no Dorchester Hotel, estranhou vê-la chegando 
numa despojada roupa de trabalho, com os cabelos desarrumados e 
um lenço que dava três voltas em trono do seu pescoço. 
-Você deveria ter me prevenido! – ela protestou, assim que 
Jafar abriu a porta de sua cobertura. 
-Do que eu deveria tê-la prevenido? – Estendeu a mão e a 
conduziu para dentro, e, antes que ela pudesse responder, beijou-a, 
exigente. 
Mais tarde, ao descansarem, entrelaçados, Jafar acariciava-
lhe os quadris, as costas, as coxas. Sobre eles, um céu estrelado. 
Seu abraço era suave, todavia protetor e envolvente. Lisbet jamais 
se sentira tão segura. 
Olharam as estrelas e compararam sua palidez quando 
confrontadas com o firmamento de Barakat. 
- Certa vez, quando mais jovem, eu estava com meu avô, 
quando ele examinava um lote de diamantes. Ainda posso ver essa 
pedras caindo sobre a almofada de veludo negro, sobre a qual meu 
avô se sentara. Os diamantes soltavam chispas, ofuscando minha 
visão. 
 19
- Hum... 
- Me lembro que queria tocá-los. Então meu avô os colocou na 
palma de minha mão. Aquele momento foi de suprema alegria. 
Lisbet sorriu, imaginando-o como um menininho, tremendo de 
felicidade. 
- Gostaria de saber por que você ficou tão impressionado. 
- Porque achei que estava tocando as estrelas, Lisbet. É assim 
que parecem as estrelas do meu país: diamantes. Acreditava que 
vovô havia trazido as estrelas e um pedaço do céu. Foi um momento 
mágico, de puro êxtase. 
Lisbet se emocionou por aquela imagem. Virou-se e olhou para 
o firmamento londrino. 
- Jamais senti algo semelhante até hoje – sussurrou ele, 
acariciando-a. – Até este instante, não tinha conseguido tocar as 
estrelas novamente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 20
 
CAPÍTULO III 
 
 
- Ele está aqui! – disse, ofegante, a camareira de Lisbet, ao 
entrar no trailer. Tina tratou de ocultar a excitação, mais ainda 
assim, seu tom de voz irritara Lisbet. 
- Você parece uma aposentada que vai tomar chá com a rainha. 
- É muito engraçado que me diga isso, pois, aos doze anos, 
conheci a princesa Diana. Foi o momento mais fantástico de minha 
vida. – Tina sorriu. – Desde então, conheci um grande número de 
celebridades, mas, neste tipo de negócio, o brilho é temporário. 
Nada até então teve o impacto necessário. Até hoje! 
Lisbet sabia que Tina brincava, mas não pôde conter uma leve 
repreensão: 
- O que há de tão fabuloso em relação a Jafar al Hamzeh? 
- Bem , você é aquela que irá jantar com ele esta noite... 
Lisbet deu de ombros. Ninguém entre os presentes sabiam de 
seu relacionamento anterior com Jafar, e ela não tinha intenção 
alguma de revelá-lo. 
- Sabia que Jafar al Hamzeh é um dos confrades da 
Irmandade do Cálice do Príncipe Karim, Lisbet? 
- Sim, sabia. 
- Seu irmão, Gazi, também é. Além de todo o brilho das 
estrelas, eles também mantêm relações com o poder. Rashid, um 
dos elos, contou-me que a tradição da Irmandade do Cálice à era 
pré-islâmica, mas que, naquela época, se restringia tão-só a 
acompanhar o rei em seus momentos de lazer. Não podiam 
participar de forma nenhuma das decisões políticas do gabinete 
real. Agora, todos fazem parte do gabinete do príncipe e participam 
de suas decisões. Cada um deles tem responsabilidades específicas, 
bem como grande influência, que ultrapassa os limites do país. E são 
muitíssimo leais entre si e com os princípes. 
 21
Lisbet queria pedir à camareira que se calasse, entretanto 
estava concentrada em seu batom e não queria borrar a pintura. 
- Ele também é muito rico, Lisbet. Milionário desde a morte do 
pai, de acordo com os boatos que correm pelo estúdio. E também 
comenta-se que é muito generoso. E parece-me que perdulário. 
Todas aquelas histórias veiculadas pela imprensa não é mero 
falatório. Jafar esbanja sua herança tal como água descendo pelas 
cataratas. Algumas noites atrás pereu meio milhão de barakatis no 
cassino, e levantou-se da cadeira como se nada tivesse acontecido. 
Se você agir com esperteza, terá seu futuro garantido. 
Tina fez uma pausa, mas Lisbet continuava delineando os 
lábios com um tom cor-de-rosa. Tina arqueo as sombrancelhas. Com 
aquele contorno, os lábios dela deveriam estar com vermelho-
intenso. 
- E, além de tudo isso, que homem sexy! O que achou daquele 
galope na filmagem, atrás de você? Meu Deus! Quase desfalecemos! 
E quando Jafar a agarrou, quase voando... juro que senti um fogo 
dentro de mim. E o que ele lhe disse, enquanto a mantinha sobre o 
cvalo? 
- Nada muito importante. – Lisbet terminou de pintar os lábios 
e examinou o resultado. 
Tina não podia crer naquela indiferença. 
- Bem, se Jafar quisesse fazer isso comigo, estaria disposta a 
qualquer hora. Disseram-lhe que ele pertenceu ao time olímpico de 
1966 dos Emirados de Barakat como cavaleiro, e que ganhou uma 
medalha e ouro? E que, na adolescência, enquanto estudava nos 
Estados Unidos, passava suas férias num circo e em rodeios? 
Lisbet estava a par de tudo isso, mas não iria confessá-lo, sob 
pena de que todos descobrissem o que houvera entre ambos. 
- Um rodeio seria o lugar certo para ele. Estou surpresa por 
Jafar não ter continuado lá. 
- Só pode estar brincando, Lisbet! O homem transpira 
sensualidade! Lembra-me daqueles antigos galãs franceses. 
 22
Belmondo. Delon. Je te aime, moi non plus. Oh! Como teria gostado 
se fosse eu a escolhida... Que bom seria! 
- Ela não quer nada comigo! – Irritada, Lisbet terminou de se 
arrumar e apanhou a bolsa. 
Os comentários de Tina a deixaram ainda mais nervosa. 
Perguntava-se por que capitulara àquele ultimato. Talvez não 
tivesse resistido àquela chance de vê-lo pela última vez. 
- Bobagem minha. Achei que ele estivesse interessado em você 
– corrigiu-se Tina, com extrema ironia. – Jafar apenas não queria 
que você invadisse suas terras, não foi isso? Sabia que ele é o dono 
de toda a praia e que, portanto, estamos em sua propriedade? 
Lisbet se concentrava em sua aparência. Seus sapatos e a 
bolsa combinavam com o vestido de seda creme, e seus longos 
cabelos estavam presos por uma fita da mesma cor. Escolhera com 
cuidado o traje, por sua discreta e formal elegância. Era o mais 
impessoal possível, e não deixava entrever nada de sexy. 
Os brincos eram de ouro, acompanhados por uma corrente de 
ouro, e no dedo anular, um grande anel de pérola. 
- Você está linda! – Tina esperava vê-la mais animada. Teria 
preferido que Lisbet soltasse as mechas ou que se vestisse com 
uma roupa mais exuberante. 
Qualquer um diria que ela estava escondendo sua 
sensualidade, e Tina não conseguia compreender essa atitude. 
Deveria ser o nervosismo, pois Lisbet sabia muito bem, tal 
como a camareira, o que melhor lhe servia. Tinha o dom de definir-
se por detalhes que a transformavam numa excitante estrela. 
Enquanto Lisbet se dirigia para a saída, Tina deu-lhe mais uma 
olhada. Lisbet devia saber o que fazia. Supunha que os árabes 
fossem tão suscetíveis ao mito da Mulher de Gelo como os demais 
homens e, talvez, a sugestão de seus corpo por baixo da seda 
pudesse levá-losa loucura. 
 
 23
 Num primeiro momento, meses antes, entregaram-se à 
paixão que os consumia. Juntos, tiveram momentos devastadores e 
tormentosos. Lisbet nunca se sentira assim antes. Às vezes parecia 
embriagada, tanto que parecia cambalear. Outras ocasiões, chegava 
a crer que Jafar segurava seu coração nas mãos. Apenas uma 
palavra ou um olhar carregava tanta força que a tirava do prumo. 
Lisbet se amedrontava com isso tudo. Não só pelo poder de 
Jafar, mas por sua resposta a tudo aquilo. E ela possuía diversas 
razões para sentir-se temerosa de que alguém tomasse conta de 
sua vida. 
Jafar, sem saber, tocara numa ferida antiga de Lisbet. 
Não fora só por amor que seu pai, de propósito, engravidara 
sua mãe. Essa foi a forma que ele encontrou para interromper a 
promissora carreira da mãe de Lisbet e mantê-la junto a si. 
Isso acontecera quando a moralidade dos incríveis anos 
sessenta chegara àquela cidadezinha da Escócia, onde os jovens 
amantes moravam. 
Gillian Raine ganhara um bolsa na escola de teatro e estava 
esperando o fim do verão, para partir para Londres e começar sua 
carreira. Seu amante, Edward MacArthur, fizera o que todos os 
homens daquela vila fariam: começou a trabalhar nas minas de 
carvão. 
A frustação de Gillian fora inculcada em Lisbet desde a 
infância. De como seu pai implorara para que sua mãe ficasse na vila 
e se casasse com ele. De como tivera de se render assim que soube 
de sua gravidez... “Jamais abram mão de seus sonhos, meninas”, a 
mãe costumava prevenir as filhas. 
Assim que se tornaram jovens, a história se tornaria mais 
clara foi então que Gillian lhes falou a respeito da gravidez que 
mudara seu destino. Contou-lhes a respeito da fatídica noite na qual 
Edward lhe pedira que ficassee ali, casasse com ele e abandonasse a 
escola de teatro. 
 24
Gillian resistira a todos os argumentos de Edward, e, quando 
ele se deu por vencido, começou a beijá-la. 
- Papai a estrupou?! – perguntaram-lhe as filhas, de acordo 
com os novos conceitos de educação vigentes no mundo. 
Gillian sorrira, impaciente. 
- Não. Será que não estão entendendo o que quero lhes dizer? 
Edward era um fogoso amante, e ele... bem, crianças, Edward me 
beijou até que... – Suspirou – Até então sempre fomos muito 
prevenidos. Aquela noite, porém, ele não levara nenhuma proteção. 
Mas era tão apaixonante que esqueci de tudo. Eu o desejava, e nada 
me importava. Só me preocupei semanas mais tarde. Quando lhe 
informei que estava grávida, entendi que era essa sua intenção. 
Gillian abrira mãos de seus sonhos, casou-se com seu amante e 
passoaa adedicar-se ao casamento com Edward, vindo gerar uma 
série de filhos. 
E passara seus dias se arrependendo por ter sido tão tola. 
Lisbet prestara muita atenção a essas advertências. Não 
queria um futuro igual ao de sua mãe, cheio de arrependimento. “Se 
não fosse por minha sina, seria eu a representar ali”, diria ela, cada 
vez que assistia a uma novela. 
Todavia, as coisas não foram tão ruins, até o fechamento das 
minas. Edward, embora exausto e coberto de pó, mantinha o brilho 
nos olhos, o que faziam sua mãe tão feliz. 
Lisbet mal chegara à juventude quando grande greve dos 
mineiros estourou e o primeiro-ministro mandara dar um fim àquilo. 
Assim que a poeira de sangue e carvão se assentaram, as minas 
tinham acabado, bem como a alegria de seu pai. 
Mais do que o fim das minas, mais do que o seu trabalho, 
extinguira-se sua fé na justiça britânica. Sua personalidade se 
aniquilara. 
Edward jamais voltara a trabalhar, a não ser em pequenos 
serviços aqui e ali. Gillian passara a ganhar o sustento da casa, e 
 25
nada poderia haver de mais vergonhoso do que isso para um homem 
daquele tipo. 
Ele odiara isso, e perdera toda a vontade de lutar. Sentia-se 
com o orgulho ferido, o que o arrasara. Aí, começou a beber. 
A única coisa boa de tudo aquilo era que os irmãos de Lisbet 
não precisariam mais trabalhar nas minas. A escolha seria 
diferente: partir ou morrer. 
Os MacArthur eram bastante inteligentes. Todos chegaram à 
universidade num momento em que crianças pobres só conseguiam 
estudar se obtivessem bolsas de estudo. Todos deram o melhor de 
si, e agora, com muito esforço, estavam bem empregados. 
Mas Lisbet seria sempre especial. Herdara a beleza da mãe, 
assim como seu gosto pelo teatro. Freqüentara uma famosa escola 
teatral em Londres, com o peso do sonho de ambas sobre os 
ombros. Deixara de lado seu sotaque regional e o sobrenome do pai. 
Escolhera o sobrenome de solteira da mãe, e Elizabeth Raine 
MacArthur se transformou em Lisbet Raine. 
Por ocasião de sua formatura, recebera o cobiçado prêmio 
Olivier Medal. Desde então, trabalhara sem parar, sobretudo para a 
televisão, papéis cada vez mais importantes. 
Lisbet sempre soubera que a segurança era responsabilidade 
da própria pessoa. Não do casamento ou de outro ser humano. 
Apenas as realizações pessoais contavam. Gillian era a prova viva de 
que só se pode contar consigo mesmo. 
Para uma mulher, o amor era cheio de armadilhas. Assim que 
seu romance com Jafar teve início, Lisbet começou a pensar sobre 
sua independência. Não queria nenhum mal-entendido a respeito de 
suas expectativas, ou as de Jafar. 
Na época de seu aniversário, Jafar lhe deu um maravilhoso 
bracelete de ouro cravejado de diamantes e rubis. Lisbet ficou 
excitada e sorriu para ele. 
- Ele será de muita valia enquanto aguardo um novo trabalho – 
disse ela, sorrindo. 
 26
Ele, indignado, comentou que se Lisbet um dia ficasse sem 
dinheiro, poderia procurá-lo. 
- Oh, sem dúvida... E, depois de conseguir ultrapassar seus 
assistentes e de sua secretária me perguntar quem sou, posso 
contar-lhe o que há entre nós? 
- Eu jamais a esquecerei. – Jafar a beijara com paixão. – Não 
esqueci nem por um momento, desde o nosso primeiro encontro. 
Ela pensou estar diante do homem mais incrível da face da 
terra. Todavia, isso só aumentava seu risco. 
- Suas mentiras são um mel para meus ouvidos, Jafar. Tão 
doces, tão deliciosas... 
- Não acredita no que digo, porque não quer. E assim evita 
qualquer compromisso por achar que não sou sério, Lisbet. Não 
consegue crer que um homem rico e influente poderia amá-la, e 
ignora o fato de que sua amiga Anna e meu irmão se casaram! 
De certa forma era verdade. Aquele casamento a espantara. 
Lisbet não nascera para casar, e quase desfalecera ao ficar ao lado 
da amiga durante a festa. 
Talvez tivesse sentido, pela primeira vez, que seu romance 
com Jafar pudesse se transformar numa relação muito perigosa, e 
que, por isso, teria de terminar. 
 
Assim que abriu a porta do trailer, a primeira coisa que Lisbet 
viu foi um Rolls Royce. O chofer trajava uma camisa pólo e lustrava 
a imaculada pintura, mordiscando um palito nos dentes. 
A impecável limusine era branca. Os pára-choques e as 
maçanetas eram de ouro, bem como todos os demais detalhes, que 
costumavam ser cromados. 
Então era verdade o que os jornais diziam. Lisbet não 
acreditara no que lera. Não era aquele o Jafar que conhecera. 
Um grande número de pessoas que trabalhavam na filmagem, e 
que fingiam estar por ali fazendo alguma coisa, a observavam. 
 27
Lisbet deu de ombros e meneou a cabeça, inconformada, quando 
percebeu que pretendiam testemunhar seu encontro com Jafar. 
O pequeno drama da tarde estimulara a imaginação de todos. 
Masoud conversava com alguém em seu trailer. O interlocutor 
estava de costas para Lisbet, e trajava um cafetã preto e um 
turbante. O tipo de vestimenta que qualquer homem usaria nos 
Emirados de Barakat, de garçom a príncipe. 
Lisbet parou por um instante para observá-lo. Jamais vira 
Jafar al Hamzeh em roupas típicas, a menos que levasse e 
consideração sua aparição daquela tarde. Mas sentiu que era ele. 
Jafar foi ao encontro dela e o chofer abriu-lhes a porta do 
carro, ainda mascando, resoluto, seu palito. 
O elegante emblema do Rolls Royce fora substituído por uma 
grotesca figura em ouro de uma mulher nua que se transformavanum cisne de costas reclinadas e longos cabelos. 
Bem, Lisbet o vira em fotos, mas achara ser uma montagem. 
- E alguns dizem que os árabes não tem bom gosto! 
- Por aqui, isto mais parece um automóvel comum, Lisbet. 
- É o que estou venso... – Ela olhava para dentro do veículo. 
Assentos em couro branco, guarnições de madeira, tapetes 
persas e mais detalhes em ouro. 
- Quantos botões! Para que servem? 
- Só posso dizer que é melhor não mexer neles sem avisar. 
Lisbet não conseguira deixar de sorrir com esse comentário. 
- Entre, Lisbet. 
Ela o obedeceu. 
Assim que partiram, Jafar segurou-lhe o pulso. Lisbet se 
assustou com aquele gesto. 
- O que é isto?! - Jafar ergueu-lhe o braço. Acabara de ver 
seu anel na mão direita. 
- Pode ver por si mesmo. É uma pérola cercada de brilhantes. 
É um anel de noivado, Jafar. 
 28
Ele não se mexeu, o que a deixou nervosa. Os olhos de Jafar 
se tornaram escuros, de uma forma que ela bem conhecia. 
Jafar acionou um botão, abrindo o vidro. 
Lisbet o fitava perplexa. 
Jafar arrancou-lhe o anel do dedo e o arremessou para fora 
da limusine. 
Não dissera uma única palavra, e, com um toque no painel, 
tornou a fechar o vidro. 
O coração de Lisbet parou por instantes. Uma raiva imensa 
explodiu dentro dela. 
- Como se atreve?! 
- Nem sequer era verdadeiro. Será que o homem era idiota? 
Ou você? 
Lisbet mordeu o lábio. Pedira o anel emprestado à responsável 
pelo guarda-roupa, fazia menos de uma hora. Pareceu-lhe muito 
bonito, mas deveria ter sabido que Jafar notaria que era falso com 
um simples olhar. 
- Eu sabia que era imitação, Jafar, mas ambos passávamos, 
naquela altura, por certas dificuldades. Contudo, ele não queria que 
eu viesse para o país do sheik sem uma prova de seus direitos sobre 
mim. 
Jafar se mostrou tão confuso que ela caiu na risada. Lisbet 
estava fazendo o melhor naquelas circunstâncias, mas teve de 
concordar que se tratava de uma história inverossímil. 
- E quem é esse ingênuo que acredita que, com um anel de 
bijuteria, pode deter os direitos sobre uma mulher como você? 
- Seu nome é Roger. 
- Roger de quê? 
Ela o encarou como os lábios apertados. 
- Há seis meses, você não parecia ser uma garota que se 
interessasse por casamento. 
- As pessoas mudam. 
- E como isso aconteceu com você, Lisbet? 
 29
Aquele anel fora um estratégia de última hora para provocá-lo. 
Ela deveria saber que Jafar não o deixaria passar em branco. 
Mas Lisbet não sabia representar o papel de noiva apaixonada. 
- Poderíamos mudar de assunto? 
- Não gosta de falar sobre ele? 
- Não com você. 
- Será que Roger sabe que estará se casando com uma mulher 
insensível? Será que ele abriu mão de ter filhos em nome de sua 
vontade? 
- Roger e eu sabemos muito bem o que queremos para nosso 
futuro, e agradeço por sua preocupação. Muito obrigada! 
Jafar esboçou um sorriso sem humor. 
- Pobre de você... 
- O que quer dizer com isso? 
- Que jamais será feliz com um sujeito que aceita imposições 
sem discutir. 
- Roger não é assim! 
- Então é um idiota. Um camarada que não quer filhos é bobo 
ou, então, um mentiroso. 
Lisbet se lembrou de seu pai. 
- Nem todos são tão intratáveis como você, Jafar. 
- Tome cuidado, Lisbet. Poderia me fazer crer que está 
falando mais de seus desejos que de suas observações. 
- Estou sendo objeto de alguma ameaça? 
Jafar tomou-lhe uma mecha e enrolou-a no dedo indicador, 
sorriu e respondeu: 
- Só disse o que você já deveria saber, querida. 
Lisbet rangeu os dentes. Que tola tinha sido ao acreditar que 
estaria protegida, usando um anel de bijuteria! Deu um tapa na mão 
dele. 
- Esta me confundindo com outra pessoa, Jafar. 
- Posso provar que não estou. 
- Não, você não poderá! 
 30
- Tão leal com Roger que não pode alimentar uma velha chama? 
- Evidente! 
- Você lhe falou a meu respeito? 
- De passagem, como tantos outros. 
- Seu noivo sabia que nos encontraríamos esta noite? 
Lisbet hesitou, mas respondeu: 
- Sim. 
Jafar meneou a cabeça, como se falasse sozinho. 
- Então planejou tudo, Lisbet? Está comprometida com outro 
e, mesmo assim, arriscou-se a vir... O que pensou? Que poderia me 
enganar com uma bijuteria comprada num bazar por um noivo sem 
rosto? Mas não, você é mais esperta que isso. O que se passa em 
sua cabecinha? Quer Ter mais uma aventura rápida? Foi isso que 
planejou ao decidir vir para cá? Um caso sem conseqüência com um 
bárbaro antes de se casar com um homem normal, de sua própria 
cultura? Achou que eu estaria louco por migalhas que poderia ter? 
enganou-se a meu respeito, garota! 
Um sorriso aflorou nos lábios dele. Mas os olhos negros a 
dominaram. Faziam-no assemelhar-se a um lobo à espreita de sua 
presa. 
- Ainda crê que a desejo, Lisbet? Acha impossível matar um 
amor como o meu? Ou pensa que agora consigo conviver com um 
amor sem compaixão como o seu? 
O discurso fora mais longo do que ela poderia esperar. Com um 
nó na garganta, estendeu os braços para ele, querendo agredi-lo. 
Contudo, Jafar era um esportista olímpico, com ótimos 
reflexos. Agarrou-lhe os pulsos no meio do caminho, e em segundos 
tudo mudou. 
- Não tente fazer muita força, Lisbet. 
Ela conseguia sentir seu inconfundível perfume, a maciez se 
sua pele, levando-a a recordar aqueles momentos de prazer 
indescritíveis. 
- Deixe-me, Jafar! 
 31
- Uma mulher tão preocupada com sua liberdade deveria ter 
mais cuidado antes de provocar um homem. 
- Muito bem, perdoe-me. Agora, deixe-me ir embora! 
Como resposta, Jafar juntou-lhe as mãos e, com vagar, 
trouxe-a para junto de si, prendendo-a num abraço. 
-Deixá-la partir? – Seus lábios já roçavam os dela, enquanto 
murmurava, enchendo-a de vontade pelas promessas de futuro 
deleite. – Mas eu a deixei partir, Lisbet. Se não queria me ver, por 
que veio até meu país? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 32
CAPÍTULO IV 
 
Lisbet não saberia dizer como aconteceu, mas, quando se deu 
conta, a boca de Jafar tomara a sua, com ansiedade. Seu coração 
palpitava, seu sangue subia e descia em alta velocidade. Um calor 
abrasador percorreu sua pele, sedenta pelo bálsamo daquele toque 
que a incendiava. 
As mãos dele pareciam transfomar a seda de seu vestido em 
chamas, queimando-a mais e mais. Seus lábios eram implacáveis, sua 
língua, faminta e exigente. Seu abraço a estreitava, e, ao mesmo 
tempo, a protegia. 
Tudo parecia muito contraditório, exceto em relação ao 
prazer da fome mitigada. Por isso, Lisbet não conseguia recuar, nem 
lutar. Seria como pedir ao homem que está perdido no deserto que 
não matasse a sede. À mulher no escuro que não olhasse para a luz. 
A um prisioneiro que escapara do cárcere para não dançar de 
felicidade. 
Jafar afastou-se um pouco, para tomar alento. Livre daquele 
punitivo e tormentoso beijo, ela conseguiu retomar o autodomínio. 
Empurrou-o de leve. Sentiu lágrimas quentes no rosto, sem 
entender o que as provocara. 
- Isso foi uma espécie de punição?! 
Os olhos de Jafar escureceram, perigosamente. 
- Punição?! Meu beijo significa isso? Responda! O toque de 
minha boca não lhe agradou? 
Mentir-lhe seria impossível. 
- Que diferença faz? 
- Duvido que tenha mudado tanto, Lisbet. Tenho ainda em 
meus ouvidos seus suspiros e gemidos de amor. Ouço-os em meus 
sonhos, mesmo hoje. E houve ocasiões em que acordei chorando, ao 
constatar que você não estava ao meu lado. Quer mesmo que eu 
acredite que, para você, meu carinho é flagelo? 
 33
- Eu não disse... – começou, mas não encontrou mais palavras 
para continuar. 
Jafar, sentado ali, com os braços abertos, fitava-a como um 
juiz, pronto para impor-lhe a sentença. 
Tratou de virar-se para olhar pelo vidro. 
Os últimos raios de sol deixavam as nuvens com um tom róseo 
e transformavam as dunas num local mágico. O céu, escurecendo, 
adquiria a tonalidade violeta. 
Jafar dissera-lhe que o deserto era apaixonante. 
- Era nisso que queria que eu acreditasse quando me mandou 
isto, Lisbet? – Jafar abriu o cafetã, tirando dele um envelope 
escuro e tirou algunspapéis de dentro. 
Com um movimento da mão, mostrou-os para ela. 
Lisbet ergueu um, esforçando-se para vê-lo, em meio à 
escuridão. Depois, mais um. 
Eram todos iguais: cheques pessoais emitidos por Lisbet Raine 
MacArthur em favor do sheik Jafar al Hamzeh. E issso a remeteu a 
meses atrás, quando se dera o começo do fim. 
 
Jafar disse que queria comprar-lhe um apartamento. Aos 
poucos, pedaço por pedaço, ele provara ser tão possessivo quanto 
apaixonante. Naquele momento, queria ser o proprietário do lugar 
onde Lisbet morava. Permitir isso seria um forma de admitir que lhe 
pertencia. E que o sheik sempre teria a última palavra. 
Lisbet morava em uma agradável corbetura no norte de 
Londres. Embora um pouco afastada do centro, compensava pelo 
valor do aluguel. Todos os amigos de Lisbet concordavam com isso. 
Mas logo recebeu a notícia de que o imóvel fora vendido e, 
como o novo proprietário queria reformá-lo, ela deveria deixá-lo. 
Assim, Lisbet se viu obrigada a procurar um novo lar. 
O mercado estava em alta, porém, e logo Lisbet se viu em 
dificuldades. Evidente que não iria perdir ajuda a Jafar. Por tê-la 
 34
sempre rejeitado, ele parara de oferecê-la. Lisbet se arrependeu 
tarde demais disso. 
Após várias semanas de depressão na inútil busca de uma nova 
moradia, Lisbet chegou a conclusão de que a melhor opção seria 
dividir o aluguel com alguém. Até encontrara um local agradável, 
numa área da cidade eu adorava, Primrose Hill. 
Para o proprietário, não passava de um apartamento térreo. 
Morava ali uma advogada que passava a maior parte do tempo em 
Hong Kong e queria dividi-lo com alguém. Procurava um colega 
responsável, que tomaria conta de suas plantas e seus maravilhosos 
móveis e obras de arte. 
Lisbet quase não acreditou em sua sorte quando o achou. Claro 
que exigiria alguns sacrifícios. Era o melhor que poderia conseguir 
naquele momento, e o seu quarto era o menor cômodo disponível. 
Entretanto, o apartamento em si era um sonho, finalmente 
decorado, com muita luminosidade e um terraço cheio de plantas. 
Jafar não gostara. 
- Como iremos fazer amor numa cama tão estreita, Lisbet? É 
menor do que a que tinha na cobertura. Não consigo entender como 
pode gostar daqui. Nem mesmo conhece a pessoa com quem dividirá 
a moradia. 
- Você é muito mimado. Não sabe como gente comum vive. 
Ficarei muito bem aqui, mesmo tendo de cuidar da faxina. Ficarei 
pelo menos três semanas sozinha, todos os meses, Jafar! Mesmo 
que não goste da moça, poderei conviver com isso uma semana por 
mês. 
O sheik a ajudou na mudança, sem reclamar. Lisbet fora 
obrigada a vender a maior parte de seus móveis, pois guardá-los 
num depósito significaria pagar dois aluguéis, o que seria inviável. 
Em cinco dias, Jafar lhe apresentou a escritura de 
transferência do apartamento para seu nome. 
Fora tudo uma armação, um jogo para manipulá-la e fazê-la 
vender os móveis, fazer a mudança e deixá-la sem saída. 
 35
Mas se Jafar achava que iria agradecer-lhe de joelhos, 
enganara-se. Seu efeito fora o inverso do que com certeza 
planejara. Talvez tivesse querido o melhor para ela, mas Lisbet 
ficara furiosa com essa interferência. Jafar não tinha o direito de 
decidir nada em seu lugar. 
Assim sendo, a primeira coisa que Lisbet fez, assim que ele lhe 
trouxera a escritura de propriedade, foi mostrar-lhe a porta da 
rua. 
 
Lisbet piscou e voltou à realidade. Juntou todos os cheques, 
segurando-os, sem olhar para Jafar. 
- O que você quis me dizer com isto, Lisbet? 
- Referem-se ao valor do aluguel que acertei com o senhorio, 
enquanto eu morasse lá. 
- Então? 
Naquele instante, naquele contexto, sua atitude lhe parecia 
mesquinha e avarenta. Mas não vira dessa forma em Londres. 
- Não importa em nome de quem está passada a escritura, 
Jafar, pois o apartamento é seu. Fui usada, antes de mudar, para 
que você fechasse o negócio. 
- Sabe muito bem que não preciso disso. 
- Você não tinha o direito de fazer o que fez! Como acha que 
me senti?! 
- Sentiu-se tão mal a ponto de recusar meu presente? Sim, 
agora percebi. Quando conheceu Roger? 
- Ro... – Lisbet ficou confusa e engasgou. Sua máscara caíra. – 
Não vou responder a isso. 
- Ele fez amor com você na cama que eu comprei? Nos mesmo 
lençóis? Ou beijou-a no travesseiro no qual descansamos nossas 
cabeças? É por isso que me pagou o aluguel? Para aplacar sua crise 
de consciência? 
 36
- Essa conversa é reveladora. – Encarou-o, radiante. – Apenas 
prova quem estava com a razão, não é? Você me levou até aquele 
imóvel só para me controlar! 
- Não comprei aquele apartamento para controlá-la! 
- Mas, por tê-lo comprado, ficou zangado por não ter atingido 
seu objetivo, não é? 
- Não se faça de boba! 
-Entretanto, aqui você tem se divertido, jogando nos cassinos 
e passeando em seu Rolls Royce folheado a ouro. Conhece aquela 
canção que diz “Você não me quer, mas quer que eu continue a 
querê-lo”? Por favor, deposite os cheques, Jafar, pois não me sinto 
bem com essa situação. Sinto-me comprada. 
 Jafar rasgou-os, jogando fora os pedacinhos para serem 
levados pelo vento para o meio do deserto. 
- Se me mandar novos cheques, Lisbet, farei um depósito de 
dois milhões de de dólares em sua conta bancária. Aí então sentirá 
o que é uma mulher comprada. 
 
Aproximavam-se de uma pequena cidade, na qual despontavam, 
protegidos pelas palmeiras, pitorescos telhados. A limusine diminuiu 
a velocidade e saiu da estrada principal, tomando uma rua sem 
pavimentação. 
Depois de rodar uma curta distância, entraram pelo jardim de 
um edifício. Acima da porta, uma inscrição em árabe. 
- É aqui que jantaremos? – Lisbet estava surpresa. 
Imaginara que o sheik a levaria para um hotel caro, como 
aquele onde o produtor do filme a levara em sua primeira noite no 
país. 
- A comida daqui é excelente – afirmou Jafar. 
A recepção era minúscula, e o salão que adentraram estava à 
meia-luz. A iluminação ficava por conta dos lampiões a querosene 
sobre as mesas, e havia alguns de maior porte, suspensos sobre 
cada entalhe do teto. 
 37
Lembrava uma quieta e misteriosa tenda nômade. Lisbet sorriu 
assim que uma mulher de cabelos escuros, com uma exclamação de 
prazer, apareceu de trás de uma cortina. 
- Marhaba! – disse ela, aproximando-se de Jafar com braços 
abertos, batendo palmas e balançando a cabeça para dar-lhes as 
boas-vindas. – Assalaamu aleikum! 
- Waleikum assalaam, Umm Maryam. 
Conversaram por um certo tempo como velhos amigos, e logo 
depois a recepcionista virou-se para Lisbet. 
- Assalaamu aleikum. Ahlan wa sahlan! 
- Salaam aleikum – respondeu Lisbet, sorrindente, tratando de 
utilizar o pouco árabe que sabia. 
Umm Maryam os conduziu, então, pelo restaurante, onde 
várias pessoas jantavam, e paravam de fazê-lo para acompanhá-los 
com os olhares. Os três foram em direção a uma plataforma mais 
elevada no final do salão. Umm Maryam abriu uma porta que os levou 
a uma sala com intrincadis arabescos em madeira. 
Lisbet estendeu a mão para tocar os pássaros e flores 
entalhados com admirável beleza. 
Aquela área tinha apenas duas mesas. Com o teto mais 
rebaixado, parecia aconchegante e privativa. Suspenso no alto, um 
lampião oferecia uma luz suave. 
Lisbet e Jafar sentaram-se. 
Nesse meio tempo, Umm Maryam acendeu um candeeiro, que 
transformou aquele espaço em algo particular para o casal. 
Lisbet percebeu que ali estariam muito à vontade. 
- Eles não têm um menu impresso – murmurou Jafar, assim que 
a recepcionista desapareceu. – Você confiaria em minha escolha? 
- Sim, claro. 
- Muito bem. 
A proximidade dele a excitava. Lisbet podia sentir seu 
perfume, e bastaria fechar seus olhos para trazer à memória todos 
 38
aqueles momentos em que se derretera como uma cela numa 
fornalha. 
Empinou o queixo e mordeu o lábio, para manter os olhos 
abertos e sua guarda fechada. 
O sheik a fitou como se fosse dizer algo, mas Umm Maryam 
reapareceu trazendo um bandeja com dois generosos cálices cheios 
de um líquidoque lembrava rum. 
Lisbet sorveu um gole e surpreendeu-se com o sabor. 
- Que bebida é esta? 
- Suco de tâmara s com pinha. – Jafar tomou um pouco de seu 
cálice. 
Lisbet bebeu mais um gole, sorrindo e gesticulando para a 
recepcionista, indicando que estava apreciando o suco. 
Enquanto isso, Jafar e Umm Maryam discutiam o cardápio 
daquela noite. Lisbet, um pouco distante, ouvia as duras consoantes 
de seu idioma. 
- Você aprecia cordeiro, Lisbet? 
- Desde que não venha inteiro, posso gostar, sim. 
- Trata-se de um bife enrolado e grelhado sobre brasas, 
recheado com frutas secas e especiarias. É uma das especialidades 
da casa, como também um iguaria barakati. Ninguém a prepara 
melhor do que a mãe de Umm Maryam. 
- A mãe dela? 
- Sim, este é um restaurante familiar. Umm Maryam é a 
terceira geração. Tudo começou com sua avó. 
Umm Maryam, percebendo que estava sendo objeto da 
conversa, esboçou um lindo sorriso para Lisbet. Após um momento, 
chegaram a um acordo sobre os pratos. A recepcionista fez uma 
série de sugestões que logo foram aceitas por Jafar, e, com uma 
reverência, saiu. 
O silêncio e a paz reinantes os envolvia, e Lisbet sentiu um 
mudança em seu estado de espírito. Jafar parecia mais calmo, e seu 
olhar perdera aquele lampejo de irritação. 
 39
- Costuma vir aqui com freqüência? 
- Preferia que tivéssemos ido a um lugar mais agitado? 
- De modo algum. Apenas me surpreendi. 
- Espero jamais perder o Dom de surpreendê-la, Lisbet – falou 
bem próximo a seu ouvido. 
Aquela voz trazia à tona muitas lembranças. Jafar lhe dissera 
aquilo antes. Quando estava deitada a seu lado, trêmula de prazer. 
Ele se recusara a parar até vê-la extenuada. 
- Hoje você me surpreendeu, posso garantir. Que confusão 
provocou! 
Jafar arregalou os olhos. 
- Ora, ora, o que fiz? Era apenas uma cena, Lisbet. 
- Era a parte mais importante das filmagens. Por que tomou 
uma atitude tão desmedida? 
Uma jovem senhora entrou para servir o primeiro prato. Fez 
alguns rápidos comentários e, antes de sair, sorriu para Lisbet. 
- Eu queria vê-la, Lisbet. – E Jafar serviu-se, concentrando-se 
na deliciosa comida a sua disposição. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 40
CAPÍTULO V 
 
- Não precisava fazer tanto estardalhaço, Jafar. Você 
interrompeu um dia de filmagem. Não sei quanto tudo isso irá 
custar. E o que foi perdido é irrecuperável. Deveria saber as 
conseqüências que haveria. 
Jafar mostrou um sorriso sem humor. 
- Então não sabia que sou mau caráter e perigoso, e me 
conhecer é comprometedor? 
Ele fora assim definido algumas semanas atrás pela imprensa 
mundial. 
- Por quê? – Lisbet serviu-se de salada. 
Jafar a ensinara a comer verduras frescas e pão logo no início 
do namoro, em Londres. Lisbet se surpreendeu com a aguda 
memória daquele sabor impregnando seu paladar. 
- Decerto porque fiquei tão louco por amor por você, Lisbet. 
- Não é isso o que corre por aí, Jafar. Dizem que foi sua 
herança que o enlouqueceu. 
- É isso que falam? Quem disse isso? 
- É melhor perguntar quem não o diz. 
- São todos uns bobos, que nunca amaram – respondeu ele, 
dissimulado. 
- Por que está cortejando a imprensa? 
Ele deu de ombros. 
-Nenhum companheiro da irmandade precisa adular a mídia, e 
você sabe disso. Somos uma fonte natural. 
Era verdade. Mas, mesmo assim, Jafar soubera somo evitar 
que falassem sobre eles enquanto estavam em Londres. Nada fora 
noticiado. Jafar mudara da água para o vinho. 
- Você não precisava, mas hoje tudo mudou. 
- Não causarei nenhum prejuízo ao produtor do filme, Lisbet. 
Assim que Masoud se acalmar, perceberá que minha atitude trará 
muitos benefícios e será utilizada como pré-publicidade. 
 41
E de repente passaram a discutir sobre o filme, o que fez 
arrefecer a animosidade. Pareceu-lhes estar de novo em Londres, 
quando Jafar sempre demonstrara muito interesse pelo que Lisbet 
fazia. 
Ela estava contente por trabalhar com Masoud al Badi, um 
diretor cujo último filme fora premiado com a Palma de Ouro em 
Cannes, entre outros prestigiosos prêmios. Esse trabalho tinha um 
orçamento um tanto baixo, mas não seria problema, segundo Lisbet. 
O tema era bom, tinha bons atores e não precisaria de efeitos 
especiais ou grandes estrelas. 
E seu papel era brilhante, uma grande oportunidade para 
revelar seu talento. Lisbet ficava ora assustada, ora excitada com o 
desafio que encarava. 
- Por que você estava no meio do mar? Qual é a explicação? 
- Não conhece a história de Rose Dumont, a bandoleira? 
- Conte-me. 
Jafar já o pedira antes, por diversas vezes, pois adorava 
histórias. Afinal, nascera num país de contadores de fábulas, e 
Lisbet adquirira o hábito de relatar-lhe todos os argumentos que 
lia. 
- Parte do roteiro está baseada em suas memórias. Rose 
Dumont era a irresponsável filha de um rico mercador londrino. Não 
fez sucesso em sua primeira apresentação para a sociedade, ao 
redor de 1860, porque era muito independente e contestadora. As 
bajulações não a agradavam. E se recusou a apresentar-se um 
Segunda vez para a sociedade. Dessa forma, sua família a mandou 
para a Índia, onde talvez encontrasse um marido. 
- E ela não pensou que se tratava de uma aventura? 
- Foi o que pensou. Em seu diário, escreveu que ficou tentada a 
se fazer passar por um homem durante a viagem. Mas, sendo vigiada 
de muito perto, não conseguiu pôr essa vontade em prática. Todavia, 
sabia que qualquer coisa poderia acontecer, e estava certa. Jamais 
chegaria à Índia, pois, assim que alcançaram a costa dos Emirados 
 42
de Barakat, como era comum naquela época, seu barco foi atacado 
por piratas. Durante a batalha, Rose caiu no mar, e salvou-se graças 
aos escombros do navio. 
Jafar a tudo ouvia com muita atenção. 
- Rose chegou até a costa, tal como na cena que você hoje 
interrompeu, e foi de imediato capturada por um nômade de uma 
tribo do deserto. Mas ofereceu tanta resistência que o homem 
pensou que ela fosse uma djim. Como você sabe bem, os djins são 
entidades de poderes superiores aos dos humanos, mas inferiores 
aos dos anjos. Assim sendo, em vez de torná-la sua mulher, deu-a de 
presente ao rei. 
Jafar tornou a servir-se. Jamais poderia ter pensado nisso. 
- Sem perda de tempo, o nômade resolveu levá-la até o palácio 
para apresentá-la ao soberano, informando-o de que não a tocara. O 
rei, aceitando o oferecimento, mandou-a para o harém. Rose foi 
deixada ali para que definhasse junto com as outras mulheres. Ela 
sempre odiara restri’~oes e abominava a idéia de não poder conviver 
com homens. Escreveu que a vida no harém era tão escravizante 
quanto a Inglaterra vitoriana e, como não tinha nada para fazer, 
passou os dias aprendendo árabe, que logo dominou. A maioria das 
mulheres do harém não tinha educação alguma. Mas, dentre elas, 
havia algumas, como Rose, bem-educadas e preparadas, e que, sendo 
estrangeiras, fizeram uma aliança. E começaram a planejar a fuga. 
Jafar arqueou as sombrancelhas. 
- Aonde imaginaram que poderiam chegar? 
- Subornaram um dos eunucos, que concordou em ajudá-las. 
Peça por peça, ele vendeu as jóias delas no mercado. Assim que 
pudessem, comprariam um barco e contratariam um capitão. Iriam 
tentar a sorte em alto-mar. 
- Muito corajosas! – Jafar achava cada vez mais interessante 
o relato. 
- Porém, alguma coisa aconteceu que mudou o rumo dos 
acontecimentos. Passados quase dois anos, o rei, de repente, se 
 43
lembrou do presente que recebera daquele homem do deserto, 
aquela estrangeira com uma estranha cor, e mandou buscá-la no 
harém. 
- Que rei afortunado... É bom ter tanto poder. 
- Rose, embora não quisesse revelá-lo abertamente, deu a 
entender que aprendera algumas habilidades com os eunucos. 
Escreveu que tomara a rainha Esther como sua guia. Talvez você 
saiba que ela aprendeu com os eunucos alguns truques que lhe 
permitiram impressionar Assuero, rei dos persas, quando, enfim, foi 
obrigada a se deitar com ele. 
- Nunca ouvi falar disso. 
- Consta da Bíblia, Jafar. E Assuero é conhecido,nos livros de 
história, como Artaxerxes. Todavia, qualquer coisa que Esther 
tenha feito naquela primeira noite, e nas subseqüentes, seduziu o 
rei, deixando-o apaixonadíssimo. 
- Claro. 
Lisbet pressionou os lábios e resistiu em responder àquele 
comentário. 
- Quer ouvir ou não sobre Rose Dumont? 
Jafar franziu o cenho. 
- O que estou fazendo de errado? 
- Não importa. Mas, por favor, não me interrompa tanto. 
Jafar fechou a boca, mas continuou com um olhar matreiro. 
- Rose viu-se, de uma hora para outra, na posição de favorita 
do rei, e sua vida no harém experimentou uma grande mudança. 
Adquirira poder. Uma nova moradia. Deu à luz um filho, o que lhe 
conferiu ainda mais honras. Começou a ganhar presentes de pessoas 
que queriam sua intercessão junto ao rei. Isto a ajudaria a 
continuar com seu plano de fuga. E foi aí, quando seu plano tomava 
corpo, que percebeu que era mais feliz do que jamais fora antes. 
Lisbet suspirou. 
- Apaixonara-se pelo rei. Passavam noite adentro acordados, 
discutindo desde negócios de Estado até astronomia. Ele a 
 44
consultava e seguia seus conselhos. Ela jamais encontrara um 
homem com tanto preparo intelectual. E tinham um adorável filho. 
Rose aproveitava a vida como nunca. Mas as outras mulheres 
continuavam desesperadas para fugir. E assim, Rose viu-se diante 
de um dilema. 
Lisbet fez uma pausa, enquanto Jafar balançava a cabeça. 
- Do que está falando? Como poderia haver algum dilema? Rose 
tinha um marido e um filho. O que poderia ser mais importante do 
que isto? 
Lisbet o fitou. 
- Ele não era seu marido, mas seu dono. E a alternativa era a 
liberdade. – Notou fúria nos olhos de Jafar. 
Naquele momento, Umm Maryam serviu o prato principal, a 
carne de cordeiro, que exalava um delicioso aroma. A boca de Lisbet 
se encheu de água, fazendo-a perder o fio da narrativa. 
- Que cheiro delicioso! – ela exclamou. 
A carne se desfazia a um toque do garfo, e o aroma de 
especiarias era qualquer coisa do outro mundo. 
Comeram em silêncio, pois nos Emirados de Barakat esse era o 
costume: concentrar-se na comida. Assim que reiniciaram a 
conversação, seria sobre culinária, e assim que terminaram a 
refeição, retomaram o assunto do filme. 
- Você estava falando a respeito de Rose Dumont. 
- Certo. Bem, depois de muita hesitação, Rose resolveu fugir 
junto com as outras. Ela sabia que a qualquer momento poderia cair 
em desgraça. Sua felicidade estava nas mãos do rei, e não queria 
que dependesse de ninguém. Precisava ser dona de seu próprio 
destino. E achou que não deveria desapontar as amigas, que 
planejaram a fuga durante tanto tempo. Por fim, chegou o dia em 
que o eunuco lhe informou que o barco e o capitão estavam prontos. 
Ele marcou o dia para quando a maré estivesse baixa, cedo pela 
manhã, e assim todas elas poderiam escapar à noite e embarcar. 
Lisbet tomou um gole de chá. 
 45
- Na ocasião indicada, todas as mulheres se reuniram nos 
aposentos de Rose, onde se vestiram com roupas masculinas. Assim 
que todos no palácio adormeceram, elas beijaram seus filhos, que 
dormiam, e se preparam para a fuga. 
- Não levaram seus filhos? 
- Não poderiam. Seria muito arriscado. Rose escreveu que 
fraquejou ao beijar seu menino pela última vez. 
- Isso é inacreditável. Você crê nisso, Lisbet? Que uma mulher 
abandone o filho por esse motivo? Seria capaz de fazer uma coisa 
dessas? 
- Elas estavam numa situação que as obrigava a agir contra a 
sua vontade. Não era sua própria decisão ficar no harém, ou será 
que era? Nenhuma delas se deitou com o rei por seu próprio desejo. 
- Exceto Rose. 
Lisbet ignorou o comentário e retomou a narração: 
- O eunuco levou-as para a saída do harém e depois, por 
caminhos secretos, para fora do palácio, em direção à cidade. Todas 
caminharam para a praia, mas assim que lá chegaram, o eunuco 
desapareceu sem deixar rastro. 
- Ah... 
- Sim. O capitão que lhes fora indicado pelo eunuco negou 
saber algo. Tinham sido traídas. Rosa jamais descobriu se foi o 
eunuco, ou se ele foi capturado pelo capitão e assassinado assim que 
lá chegaram. Mas o dia estava amanhecendo, e não teriam muito 
tempo para tomar uma decisão. Assim que soasse o alarme no 
palácio, seriam descobertas e executadas. Com as últimas jóias que 
Rose trouxera consigo, compraram cavalos e armas. E, em vez de 
fugir pelo mar, foram para o interior, para o deserto. Talvez 
pudessem encontrar um oásis. 
Jafar incrédulo, a encarou. 
- E conseguiram sobreviver? 
 46
- Viraram bandoleiras, rivalizando com o famoso Abu Tariq, 
que controlava um grande pedaço do deserto. Ele seria, por acaso, o 
avô de Selim, que foi o avô do ex-príncipe Jalal. 
As sombrancelhas dele subiram até seus cabelos. 
- E como Rose se arranjou para sobreviver num deserto 
controlado pelo grande Abu Tariq? 
- Ela informa que, após uma escaramuça com Abu Tariq, ele 
resolveu dar-lhes autorização para ficar com um pequeno território. 
Rose não explica como chegaram a esse acordo, e talvez seja 
possível que tenha usado os mesmos recursos que usara com o rei. 
Alguns historiadores chegam a afirmar que Rose deu à luz o homem 
que seria, mais tarde, o pai de Selim. 
Jafar sorriu. 
- E essa história é considerada como verdadeira? 
Lisbet acreditava, em grande parte, nela. 
- Isso foi publicado nas memórias de Rose. Alguns estudiosos 
debocharam dela, mas, em 1985, algumas pesquisas levadas a efeito 
em Barakat confirmaram que houve naquela época, no deserto, um 
grupo de bandoleiras reconhecidas por sua ferocidade. Os livros 
indicam que dominaram um certa área e um segmento das rotas das 
caravanas. Como seriam mais sanguinárias do que o bando de Abu 
Tariq, todos os mercadores dobravam a guarda assim que por lá 
passavam. E há uma informação de que foram varridas de lá por 
volta de 1890, ano em que Rose indica aquele em que voltou à 
Inglaterra. 
- Ela retornou?! 
- Rose ficou com saudade de casa assim que chegou à meia-
idade. Passou a liderança do bando para as mais jovens e foi até o 
porto com um acompanhante. Viu um homem europeu e o assaltou. 
Assim, se fez passar por um turista inglês. Como tinha bastante 
dinheiro e objetos caros, fruto de seus assaltos, conseguiu comprar 
a passagem de volta. Suas memórias são fascinantes, mas não 
chegam aos detalhes que gostaria de saber. O livro foi muito 
 47
popular por uma década ou mais, e ela era uma heroína, mas a 
história foi recheada de bobagens. Havia muita discrepâncias. 
- E assim que chegou à Inglaterra, o que aconteceu? 
- Rose abraçou as causas feministas, lógico! – Lisbet sorriu. – 
Serviu, já bem idosa, como enfermeira na Primeira Guerra Mundial 
e morreu em 1919, numa epidemia de gripe. 
- Sozinha e sem filhos. 
- Sim, mas o filme não termina aí. 
- Como acaba? 
- Em seu leito de morte, Rose rememora um momento especial 
de sua vida de bandoleira. Não faz parte de suas memórias e foi 
alterada para entrar no enredo. Ela e as comparsas encontraram um 
jovem que se distanciou de sua turma de caçada. Ele se defendeu 
tão bem que resolveram aprisioná-lo. Foi então que perceberam que 
se tratava do príncipe herdeiro, pois o rei e seus companheiros 
saíram a sua procura. Rose, de repente, se deu conta de que se 
tratava de seu próprio filho. A cena é muito pungente, pois o rapaz 
a faz pensar no que poderia ter sido seu futuro. Rose viria a ser, um 
dia, a mãe do príncipe herdeiro, talvez a mãe do rei. Sem se 
identificar, ela exigiu a espada do príncipe como resgate, soltou-o, 
e partiu com suas companheiras. 
- E o monarca as deixou partir? 
- Ele não a reconheceu. 
Jafar meneou a cabeça. 
- Impossível, Lisbet. 
- Por quê? 
- Como poderia ter esquecido a mulher que amava? 
- Haviam se passado mais de quinze anos. 
- Mesmo que tivessem sido cem, não seriam suficientes para 
fazê-lo esquecer o tom de sua voz, seu cheiro e a forma como seus 
olhos mudavam de acordo com seu estado de espírito. Um homem 
pode parar de amar, mas jamais esquecerá aquela que amou. 
 
 48
“O Sheik Jafare Seu Novo Filme. 
Jafar al Hamzeh, o menino mau da Irmandade do Cálice do 
Príncipe Karim, pretende ser ator de cinema e encontrou um forma 
infalível. Na tarde de ontem, invadiu o set de filmagem do novo 
fime de Masoud al Badi enquanto uma cena estava sendo rodada e 
arrebatou, com seu cavalio, Lisbet Raine, a estrela inglesa... 
 
 
Lisbet atirou longe o jornal, sem continuar sua leitura. Estava 
tomando seu desjejum. 
Encontrava-se hospedada na maravilhosa casa de sua amiga 
Anna, que, após sua mãe, fora a primeira pessoa a quem informou 
que seria a estrela do novo filme que Masoud al Badi iria produzir 
em Barakat. 
- Claro que você ficará conosco. Será uma grande alegria 
privarmos de sua companhia – dissera-lhe Anna. 
Lisbet estava emocionada por ser hóspede na nova residência 
de Anna, com um misto de angústia e prazer. Ver que a amiga e o 
marido eram muito felizes, planejando seu futuro, era adorável. 
Mas lhe trazia à lembrança algo que poderia estar acontecendo com 
ela, se apenas... 
Mas fizera a coisa certa, se não por razões certas. Jafar não 
era Gazi, como os jornais gostavam de indicar. Ele não tinha o 
equilíbrio do irmão. A vida com Jafar seria tão insegura quanto a 
convivência com seu próprio pai. Ela o comprovara na véspera. 
- Bom dia! – ouviu Anna dizendo do alto de um balcão, 
preparando-se para descer uma escada de pedras centenárias. – O 
que Jafar anda aprontando? 
- Ainda não ouviu falar o que ele fez depois do jantar? 
Lisbet chegara muito tarde na noite anterior, e todos já 
estava dormindo. 
- Sei que telefonou ontem para Gazi e que o deixou em 
polvorosa. 
 49
- Será que o sheik queria proibir a publicação da história? 
Tempo perdido. 
- Gazi tem a capacidade de conduzir as notícias a serem 
publicadas, mas, quando se refere a Jafar, é quase impossível, pois 
eles adoram noticiar suas façanhas. – Lisbet tomou um gole de café. 
– E nas filmagens sempre aparece algum curioso com telefone 
celular. Não precisa mais de meia hora para que todos os jornalistas 
do país soubessem que Jafar invadiu o set. 
- É incrível como ele programou a façanha com tanta precisão, 
para que tudo fosse publicado, à exaustão, nas colunas de Domingo. 
Anna ficou estarrecida ao ler o jornal. 
- Ele invadiu com seu cavalo, o set de filmagens? 
- Sim. Interrompendo os trabalhos no meio, caçou-me pela 
praia, me agarrou e me colocou na sua frente, sobre a sela, o que 
poderia Ter provocado um acidente fatal. Mais parecia uma caçada 
humana. 
Anna ficou de queixo caído. 
- O que... como? Mal consigo acreditar! – ela exclamou, 
voltando-se para o periódico. 
- não me diga que irá confirmar minha história no Sunday 
Mirror? – reclamou Lisbet. – Eu sou a vítima, não se esqueça! 
Mas Anna não conseguia parar de ler a matéria, que fora 
enriquecida com a foto de um homem montado num garanhão. 
Poderia ser, ou não, uma imagem congelada da filmagem do dia 
anterior. 
- Estou curiosa para saber a reação de Gazi! Todo o mundo 
sabe que o príncipe Karim já pediu a Jafar que parasse de dar 
motivos para a imprensa. Se ele for destituído de seu título, 
envergonhará a família. 
- Será que isso pode acontecer? 
Anna deu de ombros. 
- Não se trata de uma ofensa mortal, não é? – comentou 
Lisbet. – Agora que esfriei a cabeça, começo a ver que não foi tão 
 50
prejudicial assim. Estou certa de que poucos filmes receberam um 
pré-publicidade tão boa quanto essa. 
Anna achou graça. 
- Talvez, se tivesse casado com ele, hoje você fosse famosa. 
- Agradeço, mas prefiro consegui-lo com meu próprio esforço. 
- Sem dúvida, querida, você chegará lá. É verdade que não 
continuará filmando enquanto Jafar estiver por perto? 
-Eu estava muito aborrecida quando disse isso. 
- “A estrela estava, de fato, expulsando o poderoso sheik de 
seu próprio país. Os produtores do filme podem se dar por felizes 
por ele não ter devolvido na mesma moeda. A locação foi arrendada, 
por um valor simbólico, por um membro da Irmandade do Cálice e 
amante das artes.” 
O mordomo entrou. 
- O que gostaria de comer Lisbet? 
- Algo muito leve, Anna, pois não estou em um de meus 
melhores dias. 
Anna deu instruções ao criado e saiu em busca dos jornais 
europeus que estavam sobre a mesa. Apanhou um deles. 
- Poucos têm colocado estas notícias na primeira página. Estão 
mais preocupados com o tráfego de drogas. – Segurando o Times, 
leu a manchete: - “A conexão de Heroína Barakati Confunde a 
Scotland Yard.” 
Em seguida, pegou o Sunday Times. 
- Mas este ainda é pior – disse ela, escondendo-o embaixo da 
pilha. - Para que Gazi não o veja em primeiro lugar. Deixemos que 
se concentre na heroína. 
- Aliás, Jafar me trouxe aqui ontem à noite e dormiu em um 
dos quartos de hóspedes, dizendo que era muito tarde para dirigir. 
- Sim, eu sei. Ele está agora no escritório com Gazi. 
- Seu marido está preocupado com ele? 
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- Não fala muito sobre isso, para ser franca. Lê tudo o que 
aparece na imprensa, mas quando lhe peço que me conte algo... – 
Anna deu de ombros. 
- Gazi falou com Jafar a esse respeito? 
- Não em minha frente. Nem sei sobre o que estão 
conversando agora. Como vê, faz tempo que Jafar não passava por 
aqui. Devo admitir que fiquei um pouco surpresa por ele não ter 
vindo antes. Achei que viria assim que soubesse que você estava 
conosco. 
- Eu lhe avisei que Jafar não faria isso, Anna. 
Mesmo assim, passara uma semana em grande expectativa. 
Talvez por isso tivesse ficado tão aturdida com a aparição dele 
durante a filmagem na praia. Algum motivo existiria para ter ficado 
tão transtornada com a atitude dele, assim que viu seu rosto. 
- Às vezes me pergunto se isso teria acontecido se tivesse se 
casado com ele, Lisbet. – Anna exalou um suspiro. – Tudo começou 
depois que ele voltou para cá, assim que vocês se separaram. Às 
vezes gostaria... 
Lisbet fez um gesto com a mão, pedindo a amiga que parasse. 
- Anna, não me deseje isso. Não quero ser a muleta de 
ninguém. E se você visse o que aconteceu depois do jantar... 
- Como foi seu encontro? 
- Ótimo. Refiro-me ao que aconteceu depois, no jogo. Fomos 
até o Shalimar Gardens. 
O Shalimar Gardens, de acordo com o que Lisbet vira, era um 
cassino de alto luxo recém-inaugurado, para atender clientes muito 
ricos. Fora planejada para ser o primeiro entre os pares. 
- Por favor, Lisbet, não conte nada para Gazi. O que houve? 
- Jafar jogou, estouro champanhe, distribuiu gorjetas 
incríveis e perdeu muito. 
- Quanto? 
- Não imagino. Uma fortuna. Era uma outra pessoa. Grotesca. 
E odiei todo o cenário. 
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-Psiu! Eles estão chegando! 
Lisbet virou a cabeça. Os dois irmãos eram fortes e 
corpulentos, com pernas musculosas e tornozelos ossudos. 
Jafar ria de algum comentário de Gazi. O sol lhes iluminava os 
cabelos negros e a pele bronzeada. 
- Diga, não formam um belo par? 
- Claro que sim, Lisbet. 
Jafar, ao se aproximar, resolveu desafiar Lisbet: 
- Então, Roger já está informado de que você já encontrou 
com seu ex-amante? 
Anna se espantou com o que ouviu. Olhou para os dois, mas o 
olhar de advertência de Lisbet impediu-a de perguntar o que queria. 
Lisbet não saberia dizer se Jafar entendeu ou não aquela atitude. 
- Acabei de acordar – disse ela. 
Jafar sorriu. 
- nesse caso, por que não guardar a confissão para depois 
desta noite? Talvez consiga passar gato por lebre. Deixe-me levá-la 
mais tarde para conhecer a cidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CAPÍTULO VI 
 
Barakat era um país maravilhoso, confirmando o que Jafar 
dissera. Ele levou Lisbet ao Jardim da Felicidade, uma ampla área 
verde, murada, cheia de canais e fontes, com uma infindável 
variedade de árvores e pássaros. Era um local que transmitia paz. 
- Eles sabem como aliviar o estresse, não é mesmo? 
- Este parque foi doado há mais de sessenta anos pelo rei 
Daud, em comemoração a seu primeiro casamento com aquela 
maravilhosa estrangeira – contou-lhe Jafar, assim que passaram por 
uma pequena queda d’água - , e levou vinte

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